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LUTO, MAL-ESTAR E RESIGNAÇÃO NA
MÍDIA JORNALÍSTICA
Violência criminosa, esfera pública e encapsulamento
da experiência – Francisco Rudiger




                                    Por Cláudia Assis
“Especula-se que a experiência da criminalidade
violenta passou por uma mutação de sentido, à
medida que as camadas médias não apenas
foram passando a se incluir cada vez mais entre
suas vítimas, mas esses coletivos sofrem um
processo de desclassificação social e econômica
muito fragilizador neste momento de inserção do
país na economia globalizada.”
 “Parece que a violência criminosa se aclimatou
 no noticiário jornalístico e passou a servir a
 uma espécie de trabalho de luto cotidiano dos
 sonhos de boa vida da classe média brasileira
 num momento de expectativas declinantes e
 inserção desvantajosa no processo de
 globalização.”
 Até os anos 80 tínhamos a „fase romântica do
 crime‟, em que a tragédia era ao mesmo tempo
 fílmica e existencial do personagem. Ex.:
 Pixote, Bandidos da Falange (seriado).

A partir de então a grande imprensa passa a
 ser veículo natural de divulgação da violência
 Após os anos 80 “ a violência com que as
 camadas populares sempre tiveram de
 conviver passou a se colocar em discurso
 consumido pela classe média, quanto mais os
 crimes ganhavam as ruas do centro de nossas
 grandes cidades”.

A  televisão é responsável por levar esses
 acontecimentos para a classe média.
PRIMEIRO TEMPO: MAL-ESTAR E CATARSE
 “Aconversão da criminalidade em violência por
 parte dos meios de comunicação pertence a
 essa época de transição, em que se consolidou
 o primado do país moderno sobre a população
 atrasada. O pano de fundo do processo é, com
 efeito, o confronto do antigo com o moderno,
 num meio marcado pela falta de justiça,
 fraqueza do policiamento e falta de legitimidade
 das instituições estabelecidas”.
 Duranteos anos 90 “ as comunicações cobrem
 o fenômeno por dever de ofício, por que parece
 ter se esgotado seu fascínio. A violência
 criminosa, brutal no limite, se impôs, ao menos
 imediatamente, à sua ratio mercatil.”

 “Depois  de Realidade entramos na era de
 Caras, onde despontam como paradigmas de
 realização individual socialites, bailarinas,
 modelos, cantores subletrados e jogadores de
 futebol.”
O    „sonho‟ acabou e “desprovidos de
 referenciais utópicos que não os que se
 escondem nos mais diversos tipos de
 consumismos, procuram e , ao contrário do
 poeta [Cazuza] logram viver sem ideologia,
 mas ao preço de conviver com todo o tipo de
 violência.
 “Oexcedente demográfico acumulado na
 periferia de nossas cidades e estruturalmente
 mantido à margem do mercado de trabalho
 ingressou em outro patamar nos últimos anos,
 gerando situações de novas significações.”
INTERVALO: MÍDIA E CRIMINALIDADE
“ A prática da indústria cultural não precisa dos
 crimes, porque soube sintetizá-lo artificialmente
 de maneira a atender o mercado; eles são um
 recurso excedente, de que se lança mão
 sobretudo devido ao preço vil e à alta
 disponibilidade. Os excluídos socialmente,
 cada vez mais sem oportunidades e em
 processo de perda de suas velhas identidades,
 não têm esse privilégio: o crime é uma
 estratégia de sobrevivência possível, em que a
 força ocupa o lugar da educação e a violência
 se tornou meio, senão de ascensão, pelo
 menos de projeção societária.”
“  A marginalização produziu aí um efeito
 negativo ou perverso, que é a visão do crime
 como porta da fama dos excluídos. A redenção
 individual da marginalidade está em viver as
 emoções da vida criminosa e, se possível, ser
 notícia nos meios de comunicação”.
SEGUNDO TEMPO: LUTO E RESIGNAÇÃO
 Com     tantas      chacinas, linchamentos,
 sequestros     “atingiu-se   o máximo    da
 ambiguidade para esse tipo de violência
 criminosa, com tantas opiniões simpáticas,
 tolerantes, de condescendência ou mesmo de
 aprovação, quanto as de condenação do
 episódio sendo veiculado pelos meios de
 comunicação”
 “A violência oficial revelou-se comparável à
 violência do crime organizado, as pessoas de
 classe média começaram a se ver como as
 camadas populares sempre o fizeram; isto é,
 como grupos potencialmente sujeitos a todo
 tipo de violência, eventuais vítimas dos mais
 diversos tipos de brutalidade”
 Alguns episódios de violência “manifestam-se
 com um espírito ao mesmo tempo de torcida,
 revolta e expectativa.” Como é o caso do
 ônibus 174 no Rio de Janeiro. Contudo,
 “durante eventos como esses, o público oscila
 entre as posições da polícia e da vítima, por
 que não é um espectador neutro, mas
 engajado e interessado.”
 “As campanhas pela lei e pela ordem, contra a
 violência, senão pela pena de morte, ensaiadas
 tantas vezes via meios de comunicação,
 caíram no vazio com a revelação pública dos
 crimes dos guardiões da ordem, das falcatruas
 dos fazedores de leis, das tropelias dos que
 combatem o crime e dos assassinatos pelas
 costas de pessoas estigmatizadas, mas
 inocentes. A revelação dos crimes policiais
 sustou o processo de estigmatização dos
 pobres como responsáveis pela violência. Os
 jornais foram obrigados a mostrar os fatos a
 partir de outra ótica por força desses fatos...”

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Violência e Resignação na Mídia

  • 1. LUTO, MAL-ESTAR E RESIGNAÇÃO NA MÍDIA JORNALÍSTICA Violência criminosa, esfera pública e encapsulamento da experiência – Francisco Rudiger Por Cláudia Assis
  • 2. “Especula-se que a experiência da criminalidade violenta passou por uma mutação de sentido, à medida que as camadas médias não apenas foram passando a se incluir cada vez mais entre suas vítimas, mas esses coletivos sofrem um processo de desclassificação social e econômica muito fragilizador neste momento de inserção do país na economia globalizada.”
  • 3.  “Parece que a violência criminosa se aclimatou no noticiário jornalístico e passou a servir a uma espécie de trabalho de luto cotidiano dos sonhos de boa vida da classe média brasileira num momento de expectativas declinantes e inserção desvantajosa no processo de globalização.”
  • 4.  Até os anos 80 tínhamos a „fase romântica do crime‟, em que a tragédia era ao mesmo tempo fílmica e existencial do personagem. Ex.: Pixote, Bandidos da Falange (seriado). A partir de então a grande imprensa passa a ser veículo natural de divulgação da violência
  • 5.  Após os anos 80 “ a violência com que as camadas populares sempre tiveram de conviver passou a se colocar em discurso consumido pela classe média, quanto mais os crimes ganhavam as ruas do centro de nossas grandes cidades”. A televisão é responsável por levar esses acontecimentos para a classe média.
  • 6. PRIMEIRO TEMPO: MAL-ESTAR E CATARSE  “Aconversão da criminalidade em violência por parte dos meios de comunicação pertence a essa época de transição, em que se consolidou o primado do país moderno sobre a população atrasada. O pano de fundo do processo é, com efeito, o confronto do antigo com o moderno, num meio marcado pela falta de justiça, fraqueza do policiamento e falta de legitimidade das instituições estabelecidas”.
  • 7.  Duranteos anos 90 “ as comunicações cobrem o fenômeno por dever de ofício, por que parece ter se esgotado seu fascínio. A violência criminosa, brutal no limite, se impôs, ao menos imediatamente, à sua ratio mercatil.”  “Depois de Realidade entramos na era de Caras, onde despontam como paradigmas de realização individual socialites, bailarinas, modelos, cantores subletrados e jogadores de futebol.”
  • 8. O „sonho‟ acabou e “desprovidos de referenciais utópicos que não os que se escondem nos mais diversos tipos de consumismos, procuram e , ao contrário do poeta [Cazuza] logram viver sem ideologia, mas ao preço de conviver com todo o tipo de violência.
  • 9.  “Oexcedente demográfico acumulado na periferia de nossas cidades e estruturalmente mantido à margem do mercado de trabalho ingressou em outro patamar nos últimos anos, gerando situações de novas significações.”
  • 10. INTERVALO: MÍDIA E CRIMINALIDADE “ A prática da indústria cultural não precisa dos crimes, porque soube sintetizá-lo artificialmente de maneira a atender o mercado; eles são um recurso excedente, de que se lança mão sobretudo devido ao preço vil e à alta disponibilidade. Os excluídos socialmente, cada vez mais sem oportunidades e em processo de perda de suas velhas identidades, não têm esse privilégio: o crime é uma estratégia de sobrevivência possível, em que a força ocupa o lugar da educação e a violência se tornou meio, senão de ascensão, pelo menos de projeção societária.”
  • 11. “ A marginalização produziu aí um efeito negativo ou perverso, que é a visão do crime como porta da fama dos excluídos. A redenção individual da marginalidade está em viver as emoções da vida criminosa e, se possível, ser notícia nos meios de comunicação”.
  • 12. SEGUNDO TEMPO: LUTO E RESIGNAÇÃO  Com tantas chacinas, linchamentos, sequestros “atingiu-se o máximo da ambiguidade para esse tipo de violência criminosa, com tantas opiniões simpáticas, tolerantes, de condescendência ou mesmo de aprovação, quanto as de condenação do episódio sendo veiculado pelos meios de comunicação”
  • 13.  “A violência oficial revelou-se comparável à violência do crime organizado, as pessoas de classe média começaram a se ver como as camadas populares sempre o fizeram; isto é, como grupos potencialmente sujeitos a todo tipo de violência, eventuais vítimas dos mais diversos tipos de brutalidade”
  • 14.  Alguns episódios de violência “manifestam-se com um espírito ao mesmo tempo de torcida, revolta e expectativa.” Como é o caso do ônibus 174 no Rio de Janeiro. Contudo, “durante eventos como esses, o público oscila entre as posições da polícia e da vítima, por que não é um espectador neutro, mas engajado e interessado.”
  • 15.  “As campanhas pela lei e pela ordem, contra a violência, senão pela pena de morte, ensaiadas tantas vezes via meios de comunicação, caíram no vazio com a revelação pública dos crimes dos guardiões da ordem, das falcatruas dos fazedores de leis, das tropelias dos que combatem o crime e dos assassinatos pelas costas de pessoas estigmatizadas, mas inocentes. A revelação dos crimes policiais sustou o processo de estigmatização dos pobres como responsáveis pela violência. Os jornais foram obrigados a mostrar os fatos a partir de outra ótica por força desses fatos...”