1. LUTO, MAL-ESTAR E RESIGNAÇÃO NA
MÍDIA JORNALÍSTICA
Violência criminosa, esfera pública e encapsulamento
da experiência – Francisco Rudiger
Por Cláudia Assis
2. “Especula-se que a experiência da criminalidade
violenta passou por uma mutação de sentido, à
medida que as camadas médias não apenas
foram passando a se incluir cada vez mais entre
suas vítimas, mas esses coletivos sofrem um
processo de desclassificação social e econômica
muito fragilizador neste momento de inserção do
país na economia globalizada.”
3. “Parece que a violência criminosa se aclimatou
no noticiário jornalístico e passou a servir a
uma espécie de trabalho de luto cotidiano dos
sonhos de boa vida da classe média brasileira
num momento de expectativas declinantes e
inserção desvantajosa no processo de
globalização.”
4. Até os anos 80 tínhamos a „fase romântica do
crime‟, em que a tragédia era ao mesmo tempo
fílmica e existencial do personagem. Ex.:
Pixote, Bandidos da Falange (seriado).
A partir de então a grande imprensa passa a
ser veículo natural de divulgação da violência
5. Após os anos 80 “ a violência com que as
camadas populares sempre tiveram de
conviver passou a se colocar em discurso
consumido pela classe média, quanto mais os
crimes ganhavam as ruas do centro de nossas
grandes cidades”.
A televisão é responsável por levar esses
acontecimentos para a classe média.
6. PRIMEIRO TEMPO: MAL-ESTAR E CATARSE
“Aconversão da criminalidade em violência por
parte dos meios de comunicação pertence a
essa época de transição, em que se consolidou
o primado do país moderno sobre a população
atrasada. O pano de fundo do processo é, com
efeito, o confronto do antigo com o moderno,
num meio marcado pela falta de justiça,
fraqueza do policiamento e falta de legitimidade
das instituições estabelecidas”.
7. Duranteos anos 90 “ as comunicações cobrem
o fenômeno por dever de ofício, por que parece
ter se esgotado seu fascínio. A violência
criminosa, brutal no limite, se impôs, ao menos
imediatamente, à sua ratio mercatil.”
“Depois de Realidade entramos na era de
Caras, onde despontam como paradigmas de
realização individual socialites, bailarinas,
modelos, cantores subletrados e jogadores de
futebol.”
8. O „sonho‟ acabou e “desprovidos de
referenciais utópicos que não os que se
escondem nos mais diversos tipos de
consumismos, procuram e , ao contrário do
poeta [Cazuza] logram viver sem ideologia,
mas ao preço de conviver com todo o tipo de
violência.
9. “Oexcedente demográfico acumulado na
periferia de nossas cidades e estruturalmente
mantido à margem do mercado de trabalho
ingressou em outro patamar nos últimos anos,
gerando situações de novas significações.”
10. INTERVALO: MÍDIA E CRIMINALIDADE
“ A prática da indústria cultural não precisa dos
crimes, porque soube sintetizá-lo artificialmente
de maneira a atender o mercado; eles são um
recurso excedente, de que se lança mão
sobretudo devido ao preço vil e à alta
disponibilidade. Os excluídos socialmente,
cada vez mais sem oportunidades e em
processo de perda de suas velhas identidades,
não têm esse privilégio: o crime é uma
estratégia de sobrevivência possível, em que a
força ocupa o lugar da educação e a violência
se tornou meio, senão de ascensão, pelo
menos de projeção societária.”
11. “ A marginalização produziu aí um efeito
negativo ou perverso, que é a visão do crime
como porta da fama dos excluídos. A redenção
individual da marginalidade está em viver as
emoções da vida criminosa e, se possível, ser
notícia nos meios de comunicação”.
12. SEGUNDO TEMPO: LUTO E RESIGNAÇÃO
Com tantas chacinas, linchamentos,
sequestros “atingiu-se o máximo da
ambiguidade para esse tipo de violência
criminosa, com tantas opiniões simpáticas,
tolerantes, de condescendência ou mesmo de
aprovação, quanto as de condenação do
episódio sendo veiculado pelos meios de
comunicação”
13. “A violência oficial revelou-se comparável à
violência do crime organizado, as pessoas de
classe média começaram a se ver como as
camadas populares sempre o fizeram; isto é,
como grupos potencialmente sujeitos a todo
tipo de violência, eventuais vítimas dos mais
diversos tipos de brutalidade”
14. Alguns episódios de violência “manifestam-se
com um espírito ao mesmo tempo de torcida,
revolta e expectativa.” Como é o caso do
ônibus 174 no Rio de Janeiro. Contudo,
“durante eventos como esses, o público oscila
entre as posições da polícia e da vítima, por
que não é um espectador neutro, mas
engajado e interessado.”
15. “As campanhas pela lei e pela ordem, contra a
violência, senão pela pena de morte, ensaiadas
tantas vezes via meios de comunicação,
caíram no vazio com a revelação pública dos
crimes dos guardiões da ordem, das falcatruas
dos fazedores de leis, das tropelias dos que
combatem o crime e dos assassinatos pelas
costas de pessoas estigmatizadas, mas
inocentes. A revelação dos crimes policiais
sustou o processo de estigmatização dos
pobres como responsáveis pela violência. Os
jornais foram obrigados a mostrar os fatos a
partir de outra ótica por força desses fatos...”