(...) NÃO VOLTEI, NEM FIQUEI. Sequer permaneci no meio. Tive de estar ausente.
VOCÊ SABE O QUE É ESTAR LÁ E NÃO ESTAR EM PARTE ALGUMA?
(...)
- Não posso. Não posso. ESTOU DENTRO DE UMA CONCHA e só eles poderiam me libertar. (Trecho de diálogo com uma criança Autista)
Nancy Puhlmann – É preciso saber Viver – Cap. 11 - Sibélia é uma ave profundamente triste
(...)
Por que será que algumas Crianças se fecham como numa concha? Como elas se sentem no íntimo? Quais as Causas Espirituais do Autismo? O que a Doutrina Espírita pode fazer para ajudar essas crianças?
Esses e outros pontos nos veremos durante a Palestra.
2. i
Autismo – uma Leitura Espiritual
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................1
2. AUTISMO – UMA LEITURA MATERIAL .....................................................................................2
2.1 O Que É - Considerações Gerais........................................................................................................2
2.2 História do Autismo ...........................................................................................................................4
2.2.1. Aspectos Gerais..........................................................................................................................4
2.2.2. Autismo e sua História .............................................................................................................10
2.2.3. Médicos que mudaram a História do Autismo.........................................................................20
2.2.4. Autismo – o primeiro diagnóstico............................................................................................24
2.2.5. Autismo – Datas e Cores..........................................................................................................28
2.3 Autismo no Brasil – Leis de amparo e suporte.................................................................................29
2.4 Sintomas...........................................................................................................................................31
2.4.1. Considerações Gerais ...............................................................................................................31
2.4.2. Principais peculiaridades Cognitivas........................................................................................33
2.4.3. Mitos x Verdades......................................................................................................................37
2.4.4. Não É........................................................................................................................................41
2.4.5. Dificuldades cotidianas do Estudante com TEA......................................................................42
2.5 O Autismo e a Família - Impactos....................................................................................................44
2.5.1. Impacto do Autismo na Família como um todo .......................................................................45
2.5.2. Impactos no Casal ....................................................................................................................46
2.5.3. Impactos Pais/Filhos.................................................................................................................46
2.5.4. Impactos entre Irmãos ..............................................................................................................46
2.5.5. Estratégias de Enfrentamento (Coping) e Desenvolvimento da Resiliência na Família ..........47
2.5.6. Reestruturação e Desenvolvimento de Crenças........................................................................48
2.5.7. Rede de Suporte........................................................................................................................48
2.5.8. Serviço de Apoio......................................................................................................................49
2.6 Tipos.................................................................................................................................................51
2.6.1. Histórico...................................................................................................................................51
2.6.1.1. O que é Transtorno Global do Desenvolvimento? ...............................................................51
2.6.1.2. Autismo e TGD são a mesma coisa?....................................................................................51
2.6.1.3. Transtorno Global do Desenvolvimento no DSM-4.............................................................51
2.6.1.4. Transtorno Global do Desenvolvimento no DSM-5.............................................................52
2.6.2. Síndrome de Asperger..............................................................................................................53
2.6.3. Transtorno Autista “Clássico”..................................................................................................55
2.6.4. Transtorno Autista “Regressivo” / Desintegrativo da Infância ................................................55
3. ii
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.7 Níveis de Autismo............................................................................................................................56
2.7.1. Nível 1 - Autismo leve .............................................................................................................57
2.7.2. Nível 2 - Autismo moderado....................................................................................................59
2.7.3. Nível 3 - Autismo severo..........................................................................................................60
2.8 Diagnostico.......................................................................................................................................61
2.8.1. Considerações Gerais ...............................................................................................................61
2.8.2. Métodos....................................................................................................................................64
2.8.3. Sinais de Alerta ........................................................................................................................64
2.8.4. Aumento do Número de Casos.................................................................................................66
2.9 Depressão e Suicídio em Autistas ....................................................................................................68
2.10 Causas...............................................................................................................................................70
2.11 Tratamentos Tradicionais.................................................................................................................79
2.12 Tratamentos Não-Tradicionais.........................................................................................................84
2.12.1. Intervenções assistidas por animais..........................................................................................84
2.12.2. Musicoterapia. ..........................................................................................................................84
2.12.3. Yoga/Meditação .......................................................................................................................84
2.12.4. Cromoterapia............................................................................................................................85
2.12.5. Equoterapia...............................................................................................................................86
3. AUTISMO – UMA LEITURA ESPIRITUAL.................................................................................87
3.1 Provas e Expiações – Conceitos e Fundamentos..............................................................................87
3.2 Saúde e Enfermidade - Aspectos Espirituais (origem/processo/obsessão).......................................97
3.2.1 Enfermidades - Origem ....................................................................................................................97
3.2.2 Enfermidades - Processo ..................................................................................................................98
3.2.3 Enfermidades e a Obsessão ............................................................................................................100
3.3 Nossos Filhos são Espíritos – Conceitos e Fundamentos...............................................................101
3.3.1 Os Espíritos – Quem São?..............................................................................................................101
3.3.2 Os Nossos Filhos – Quem São?......................................................................................................105
3.4 Nossos Filhos são Espíritos – Hermínio de Miranda .....................................................................111
3.4.1 O Autor...........................................................................................................................................111
3.4.2 O Livro – Nossos Filhos são Espíritos ...........................................................................................113
3.4.3 Quem são Nossos Filhos ................................................................................................................115
3.5 Nossos Filhos – Coisas a Desaprender...........................................................................................118
3.6 Nossos Filhos – Coisas a Aprender................................................................................................121
3.7 Nossos Filhos – Síntese..................................................................................................................130
3.8 O Autismo e a Lei de Causa e Efeito .............................................................................................133
3.8.1 Considerações Gerais .....................................................................................................................133
3.8.2 O Autista, o Passado Espiritual e a Auto-Obsessão .......................................................................139
4. iii
Autismo – uma Leitura Espiritual
3.8.3 O Autista e as Terapias de Vidas Passadas ....................................................................................145
4. O AUTISMO – CONCEITOS, CAUSAS, PROCESSO, TRATAMENTO – HERMÍNIO DE
MIRANDA ....................................................................................................................................................149
4.1 O que é?..........................................................................................................................................149
4.2 Causas - Qual a causa pelo qual se instala o Autismo?..................................................................151
4.3 Processo - Qual o processo pelo qual se instala o Autismo?..........................................................155
4.4 Tratamento - Qual o tratamento do Autismo?................................................................................161
5. O AUTISMO – ESTUDO DE CASOS............................................................................................168
5.1 Donald Triplett, o primeiro autista diagnosticado no mundo.........................................................168
5.2 Temple Gradin................................................................................................................................171
5.2.1 Biografia.........................................................................................................................................171
5.2.2 Depoimento ....................................................................................................................................174
5.3 Greta Thunberg...............................................................................................................................185
5.4 Adriana Almeida ............................................................................................................................188
5.5 Aderson ..........................................................................................................................................189
5.6 Rafael Soares..................................................................................................................................193
5.7 Nikki Bacharach.............................................................................................................................196
6. A CRIANÇA ESPECIAL – TEMAS RELEVANTES – ARTIGOS – ESPÍRITAS...................202
6.1 Os Deficientes na Família e na Sociedade Espírita – Nancy Puhlmann.........................................202
6.2 O indivíduo com necessidades Educacionais especiais e a Casa Espírita – Marcus Braga............210
6.3 O Bebê atípico e a Cruz – Nancy Puhlmann ..................................................................................217
6.4 A inclusão das Crianças especiais na sala de aula é o maior desafio – Cristina Delous ................220
6.5 A Eternidade e a Criança – Nancy Puhlmann ................................................................................227
6.6 Emoções e Vidas Passadas – Sergio Lopes....................................................................................229
6.7 Os Bebes deficientes – Nancy Puhlmann.......................................................................................231
6.8 O Aborto Espontâneo e o Reencarnes Difíceis – Jaider de Paula ..................................................233
6.9 A Prevenção Necrófila – Nancy Puhlmann....................................................................................235
6.10 A inclusão de portadores de necessidades especiais no Centro Espírita – Xerxes Luna................237
6.11 Crianças Especiais – Mario Frigeri ................................................................................................241
6.12 A Música como terapia para a Saúde – Marta Moura....................................................................247
7. O AUTISMO – TEMAS RELEVANTES – ARTIGOS – ESPÍRITAS .......................................250
7.1 O Autismo – Perguntas & Respostas – MEDINESP 2007 – Carlos Maciel ..................................250
7.2 O Autismo – Passes e Projeções – Ricardo Di Bernardi ................................................................253
7.3 O Autismo – Causas e Consequências – FEEMT – José Magalhães .............................................255
7.4 O Autismo – Os Hemisférios Cerebrais e o Autismo – Hermínio de Miranda ..............................262
7.5 O Autismo – Impacto do Autismo na Família – Aline Abreu e Andrade ......................................263
7.6 O Autismo – A ação da Obsessão no Autismo – Manoel P. de Miranda.......................................267
5. iv
Autismo – uma Leitura Espiritual
7.7 O Autismo – A importância do diagnóstico precoce – Rubens Santini .........................................270
7.8 O Autismo – Os Neurônio-espelho e o Autismo – Carlos Maciel .................................................271
7.9 O Autismo – Níveis Conscienciais e o Autismo – Fabiana Donatel..............................................279
7.10 O Autismo – A Auto-Obsessão e o Autismo – Suely Caldas Schubert..........................................281
7.11 O Autismo – Memorias Conscienciais e o Autismo – Adenáuer de Novaes .................................285
7.12 O Autismo – uma questão de Ectoplasma? – AME/BR – José Tourinho .....................................288
8. O AUTISMO – TEMAS RELEVANTES – ARTIGOS – NÃO ESPÍRITAS ............................291
8.1 Dicas de ensino para crianças e adultos com Autismo – Diretrizes – Temple Gradin...................291
8.2 Um Visão Interior do Autismo – Temple Gradin...........................................................................298
8.3 O Autista – o Caso Temple Grandin sob a ótica da Logoterapia – Bruna Soares Pires.................332
8.4 Os limites do meu Conhecimento são os limites do meu Mundo – Caroline C. N. da Silva .........339
8.5 Autismo – Ainda um enigma – Isabela Fraga ................................................................................343
8.6 Autismo – genética – Abha R Gupta..............................................................................................353
8.7 Musicoterapia e autismo em uma perspectiva comportamental – Sarah da Silva..........................356
8.8 A Criança Especial, a Família e o Profissional, uma relação especial – Maria Lúcia Cortez........358
9. O AUTISMO – UMA LEITURA ESPIRITUAL – SÍNTESE......................................................367
10. O AUTISMO – PALESTRAS/ENTREVISTAS – VÍDEOS ESPÍRITAS...................................375
11. O AUTISMO – PALAVRAS/TERMOS/EXPRESSÕES – GLOSSÁRIO/DEFINIÇÕES........377
12. O AUTISMO – REFERÊNCIAS – ARTIGOS/MENSAGENS/LIVROS ...................................380
6. 1
Autismo – uma Leitura Espiritual
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho está divido basicamente em duas partes: Aspectos Materiais e
Aspectos Espirituais do Autismo, com relevância a esses últimos, considerando que os
ângulos materiais já são extensamente tratados na literatura não espírita.
Essencialmente a parte concernente aos aspectos materiais está dividida nas
seguintes seções:
• O que é o Autismo
• Classificação / Histórico
• Sintomas Básicos
• Avaliação / Diagnóstico
• Causas Materiais
• Tratamentos – Tradicionais/alternativos
Os aspectos Espirituais, os mais relevantes para esse trabalho, estão divididos nas
seguintes seções:
• Provas e Expiações – definições e diferenças - de forma a se entender
aonde se enquadra o Autismo dentro do amplo espectro de resgates e reajustes espirituais
do ser humano.
• Enfermidades - Origem/Processo/Tipos – para que se possa bem aquilatar
os impactos das questões espirituais dentro do Autismo.
• Nossos Filhos são Espíritos – baseado em considerações de Hermínio de
Miranda que nos apresenta o que os Pais devem aprender ou desaprender em relação aos
Filhos considerando que se deva vê-los como entidades espirituais.
• TEA – e a Lei de Causa e Efeito – o passado espiritual, a auto-obsessão, e
a terapia de vidas passadas.
• TEA – Transtorno do Espectro Autista - Causas/Processo/Tratamento – de
acordo com a ótica espiritual, baseada nos estudos de Hermínio de Miranda
• TEA – Estudo de Casos
Apresenta-se também uma série de Artigos/Mensagens relevantes relacionadas a
Temas, de ângulo espiritual, fundamentais para as Crianças Especiais e em especial as
Crianças com Autismo.
7. 2
Autismo – uma Leitura Espiritual
2. AUTISMO – UMA LEITURA MATERIAL
2.1 O Que É - Considerações Gerais
Distúrbios e enfermidades psíquicas produzem repercussões no corpo físico pelo
processo conhecido como somatizações.
Entre eles encontramos os distúrbios da socialização, comunicação e aprendizado
que, na atualidade, são frequentemente citados na mídia e têm merecido amplo campo
para a pesquisa e o estudo.
Tais distúrbios abrangiam a denominação genérica de Transtorno Global do
Desenvolvimento (TGD) ou Distúrbio Abrangente do Desenvolvimento (PDD, em
inglês) que, segundo mudança proposta pela nova classificação americana para os
transtornos mentais – DSM-5, em vigor desde 2013, foram absorvidos por um único
diagnóstico: Transtornos do Espectro Autista (TEA), englobando o autismo infantil, o
autismo atípico, a síndrome de Asperger e a síndrome de Rett constantes na Classificação
Internacional de Doenças da OMS – CID-10, ainda em vigor no Brasil e na maioria dos
países do mundo.
A mudança observada na nova classificação americana refletiu a visão científica
de que aqueles transtornos são, na verdade, uma mesma condição com gradações em dois
grupos de sintomas: déficit na comunicação e interação social; padrão de
comportamentos, interesses e atividades restritos e repetitivos.1
Os Transtornos do Espectro Autista (TEA), também denominados Desordens do
Espectro Autista (DEA ou ASD, em inglês) ou Condições do Espectro Autista (CEA):
[...] são distúrbios do neurodesenvolvimento caracterizado por deficiente interação e
comunicação social, padrões estereotipados e repetitivos de comportamento e
desenvolvimento intelectual irregular, frequentemente com retardo mental.
Os sintomas começam cedo na infância. Na maioria das crianças, a causa é
desconhecida, embora, em alguns casos, existam evidências de um componente genético
ou uma causa médica [...].2
Marta Antunes Moura - Revista Reformador –Novembro - 2019 - Transtornos do
Espectro Autista
8. 3
Autismo – uma Leitura Espiritual
1 ARAÚJO Álvaro C.; NETO Francisco L. A nova classificação americana para
os transtornos mentais: o DSM-5. In: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva. ISSN 1982-3541 2014, v. XVI, n. 1, 70 e 72.
2 SULKES, Stephen Brian. Transtornos do espectro autista. Golisano Children’s
Hospital at Strong, University of Rochester School of Medicine and Dentistry. Disponível
em:https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/distúrbios-de-
aprendizagem--e-desenvolvimento/transtornos-do-espectro-autista Acesso em: 29 ago.
2019.
9. 4
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.2 História do Autismo
2.2.1. Aspectos Gerais
O termo autismo foi usado pela primeira vez em 1908. Na época, o psiquiatra
suíço Eugene Bleuler descreveu um grupo de sintomas relacionados à esquizofrenia.
Segundo Bleuler, a palavra grega “autós” significava “eu” e a palavra “autismo” foi usada
com a intenção de definir indivíduos com autoadmiração mórbida e retraimento dentro
de si.
Foi somente em 1943 que o autismo passou a ser retratado como uma síndrome
comportamental. Essa mudança ocorreu após a publicação da obra “Distúrbios Autísticos
do Contato Afetivo”, do também psiquiatra Leo Kanner.
No livro, foram citados onze casos de crianças que possuíam algumas
características em comum, como:
− Isolamento;
− Desejo obsessivo pela preservação da mesmice;
− Comportamento estereotipado;
− Resistência a mudanças.
i. O primeiro autista da história
Entre os 11 casos de Kanner, estava o de Donald Grey Tripplett, hoje conhecido
como caso 1, ou seja, a primeira pessoa diagnosticada com autismo no mundo.
De acordo com relatos da família, Donald era uma criança completamente isolada,
que nunca correspondia aos sorrisos da mãe ou quando chamado pelo nome. Sua
linguagem era incomum e ele não brincava com outras crianças, parecendo sempre
distante dos outros.
Por esse motivo, ele foi institucionalizado aos três anos de idade, em 1937, mas
seus pais o levaram de volta para casa um ano depois. Nesse mesmo ano, Donald se
consultou com o psiquiatra austríaco Leo Kanner, quando recebeu o diagnóstico e entrou
para a história. Ainda vivo, Donald atualmente tem 88 anos.
Kanner e as mães-geladeira
Foi também Leo Kanner quem iniciou o mito conhecido como mães-geladeira.
Em sua literatura, ele chegou a definir que “tais mães só seriam capazes de descongelar o
suficiente para produzir uma criança”.
10. 5
Autismo – uma Leitura Espiritual
Esta hipótese foi defendida, durante anos, pelo psicólogo Bruno Bettelheim,
criador do livro “A fortaleza vazia”. Felizmente, os avanços na ciência e medicina
derrubaram esta sustentação falsa.
ii. Síndrome de Asperger
Em 1944, mais um marco para a história do autismo aconteceu. Desta vez, o
austríaco/alemão Hans Asperger publicou suas observações de duzentas crianças por ele
tratadas. Sobre elas, ele descreveu que observou características como:
− Falta de empatia;
− Baixa capacidade de fazer amizades;
− Conversão unilateral;
− Intenso foco em um assunto de interesse especial;
− Movimentos descoordenados.
O trabalho de Asperger só ganhou reconhecimento 37 anos mais tarde, quando a
inglesa Lorna Wing adicionou 31 novos casos ao estudo, e nomeou a condição de
‘Síndrome de Asperger‘.
Anos mais tarde, a nomenclatura foi descontinuada em manuais diagnósticos,
como o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) e a CID
(Classificação Estatística Internacional de Doenças). E em 2018, estudos revelaram que
Hans Asperger foi membro de várias organizações ligadas ao nazismo, durante a Segunda
Guerra Mundial.
DSM e a Associação Americana de Psiquiatria
Em 1952, a Associação Americana de Psiquiatria publicou a primeira edição
do DSM (Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais). O documento é
referência mundial para pesquisadores e clínicos do segmento, e fornece as nomenclaturas
e os critérios padrão para o diagnóstico dos transtornos mentais estabelecidos.
Nesta primeira versão, o autismo estava dentro dos sintomas da esquizofrenia
infantil, depois passou para dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento e hoje
tem uma categoria própria, os Transtornos do Espectro Autista (TEA). Atualmente, o
manual está em sua 5ª edição.
Gabriela Bandeira – Genial Care - Dia Mundial da Conscientização do
Autismo - conheça a história do TEA - Publicado em 02 de abril de 2022 - Atualizado
em 16 de fevereiro de 2023 - https://genialcare.com.br/blog/dia-mundial-da-
conscientizacao-do-autismo/
11. 6
Autismo – uma Leitura Espiritual
Os estudos sobre o autismo foram iniciados em meados da década de 1910,
pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, sob o nome de esquizofrenia infantil, que
caracterizava um grupo de crianças que apresentavam o que ele denominava de
dissociação – eram crianças que estavam fora da realidade e viviam
predominantemente uma vida interiorizada, sem se preocupar com o chamado mundo
externo (Amy, 2001).
Na década de 40, Leo Kanner, um psiquiatra austríaco, dedicou-se ao
estudo e pesquisa de crianças que “apresentavam comportamentos
estranhos e peculiares, caracterizados por estereotipias” (Orrú, 2009, p.18),
além da sua característica marcante, a saber, a grande dificuldade em estabelecer
relações interpessoais.
Em 1943, Kanner publicou “Alterações Autistas do Contato Afetivo”,
onde descrevia o caso das onze crianças por ele estudadas e que apresentavam
características de distúrbio de desenvolvimento, além de outras características
marcantes, como incapacidade para estabelecer relações com as pessoas, um vasto
conjunto de atrasos e alterações na aquisição e uso da linguagem e uma obsessão
em manter o ambiente intacto, acompanhada da tendência a repetir uma sequência
limitada de atividades ritualizadas (Kanner, 1943).
No entanto, a característica que mais chamava a atenção era o alheamento em
que viviam, desde os primeiros anos de vida, como se o mundo não existisse,
conjuntamente com as habilidades especiais e uma memória excepcional.
Simultaneamente aos estudos de Kanner, o médico vienense Hans Asperger
descreveu os casos de diversas crianças atendidas na Clínica Pediátrica Universitária
de Viena, que foram publicados sob o título de “A Psicopatia Autista na Infância”.
Contudo, devido ao período das duas grandes guerras, o seu trabalho só
ficou conhecido em meados da década de 80.
Pode-se considerar que tanto Kanner quanto Asperger descobriram a
Síndrome do Autismo; porém, enquanto Asperger se preocupava mais com
o aspecto educacional, Kanner se preocupava mais com questões clínicas.
12. 7
Autismo – uma Leitura Espiritual
Além disso, tem-se a diferenciação entre os sujeitos das pesquisas, principalmente
no que diz respeito ao desenvolvimento da comunicação e da linguagem: os sujeitos
da pesquisa de Kanner não haviam desenvolvido a linguagem comunicativa,
enquanto que os de Asperger haviam desenvolvido a linguagem, além de que
alguns deles eram também superdotados (Belisário Filho & Cunha, 2010).
As teorias de Kanner e Asperger foram reformuladas muitas vezes e abriram
campo a muitos outros teóricos, que estudaram e escreveram sobre o autismo.
Até a década de 60, sob forte influência da psicanálise, acreditava-se que o
autismo estava relacionado à ausência de afeto dos pais pela criança.
Eram as mães que mais sofriam os estigmas da sociedade, devido à ideia de
que não teriam dado o olhar, o afeto ao recém-nascido.
Daí surgiram muitos nomes estigmatizantes, como “mãe geladeira”
(Belisário Filho & Cunha, 2010, p.12).
Além disso, o fato de que as primeiras descrições sobre o autismo trouxeram
a noção de que qualquer contato social, qualquer interferência no ambiente
era penosa, acabou por reforçar o isolamento destes sujeitos, assim como o
protecionismo (Belisário Filho & Cunha, 2010), o que hoje se sabe que é muito
prejudicial, pois as práticas sociais devem ser incentivadas.
As famílias foram as primeiras a perceber a importância do incentivo das
práticas sociais.
As primeiras escolas voltadas ao atendimento de crianças e adolescentes
autistas surgiram por iniciativa de pais e responsáveis e só depois receberam
apoio de entidades governamentais (Belisário Filho & Cunha, 2010).
A partir da década de 70, com o avanço das pesquisas em psiquiatria e
psicologia, tem-se defendido que o autismo tem etiologia multifatorial, dando-
se destaque às funções neurobiológicas envolvidas.
Pesquisas atuais consideram a influência de fatores pré-natais (como
alterações no sistema dopaminérgico durante a gestação), pré-disposição genética,
além de outras peculiaridades em diversas estruturas cerebrais, como o córtex
cerebral, o corpo caloso, o cerebelo e as amígdalas (Surian, 2010; Orrú, 2009).
Bruna Soares Pires - Revista da Associação Brasileira de Logoterapia e
Análise existencial 3 (1), 57-72, 2014 - A pessoa com autismo - o caso Temple Grandin
sob a ótica da Logoterapia
13. 8
Autismo – uma Leitura Espiritual
O “autismo infantil” foi definido por Kanner, em 1943, sendo inicialmente
denominado “distúrbio autístico do contato afetivo” como uma condição com
características comportamentais bastante específicas, tais como: perturbações das
relações afetivas com o meio, solidão autística extrema, inabilidade no uso da linguagem
para comunicação, presença de boas potencialidades cognitivas, aspecto físico
aparentemente normal, comportamentos ritualísticos, início precoce e incidência
predominante no sexo masculino.
Em 1944, Asperger propôs em seu estudo a definição de um distúrbio que ele
denominou “psicopatia autística”, manifestada por transtorno severo na interação social,
uso pedante da fala, desajeitamento motor e incidência apenas no sexo masculino.
O autor utilizou a descrição de alguns casos clínicos, caracterizando a história
familiar, aspectos físicos e comportamentais, desempenho nos testes de inteligência, além
de enfatizar a preocupação com a abordagem educacional destes indivíduos.
Ambos os trabalhos tiveram impacto na literatura mundial; no entanto, em
momentos distintos.
Em trabalho de 1956, Kanner continua descrevendo o quadro como uma
“psicose”, referindo que todos os exames clínicos e laboratoriais foram incapazes de
fornecer dados consistentes no que se relacionava à sua etiologia, diferenciando-o dos
quadros deficitários sensoriais, como a afasia congênita, e dos quadros ligados às
oligofrenias, novamente considerando-o uma verdadeira psicose.
As primeiras alterações dessa concepção surgem a partir de Ritvo em 1976, que
relaciona o autismo a um déficit cognitivo, considerando-o não uma psicose e sim um
distúrbio do desenvolvimento.
Dessa maneira, a relação autismo-deficiência mental passa a ser cada vez mais
considerada, levando-nos a uma situação díspar entre as classificações francesa,
americana e a da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Cabe lembrar que mesmo a escola francesa, com sua tradição psicodinâmica,
prefere hoje ver o autismo vinculado à questão cognitiva.
Lebovici em 1991, com toda a sua tradição psicanalítica, é textual quando diz que
para os clínicos é uma síndrome relativamente precisa.
14. 9
Autismo – uma Leitura Espiritual
A referência histórica a Kanner faz da síndrome autística uma maneira mais ou
menos específica de estar no mundo e aí formar relações atípicas, caracterizando a
ambiguidade e a diferença das duas abordagens e mesmo da avaliação diversa que permite
enquadrarmos crianças diferentes em um mesmo quadro nosográfico, consistindo em
emprestar ao conceito de psicose um caráter vago.
Leboyer também é textual quando diz que a confrontação das observações clínicas
e dos dados obtidos através da análise dos processos cognitivos e emocionais permite
considerar a descrição de um modelo cognitivo anormal sustentando a patologia dos
autistas.
Assim sendo, são difíceis, na atualidade, autores, por mais diversas que sejam suas
concepções, que não considerem o autismo dentro de uma abordagem cognitiva.
Tais fatos são exaustivamente citados por Gillberg em 1990 quando fala que é
altamente improvável que existam casos de autismo não orgânico, dizendo que o autismo
é uma disfunção orgânica e não um problema dos pais.
O novo modo de ver o autismo é biológico.
Outros autores, como Burack , em 1992, reforçam a ideia do déficit cognitivo,
frisando que o autismo tem sido, nos últimos anos, enfocado sob uma ótica
desenvolvimentista, sendo relacionado à deficiência mental, uma vez que cerca de 60-
70% dos autistas têm alguma deficiência mental.
Glícia Campanharo Malheiros - Benefícios da intervenção precoce na criança
Autista - Revista Científica da FMC - Vol. 12, nº1, Julho de 2017
15. 10
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.2.2. Autismo e sua História
O saber científico acerca do autismo se alicerça na invenção do quadro diagnóstico
do autismo pelo pai psiquiátrico dessa terminologia: Kanner.
A história da conceituação do autismo imbrica a descrição e a categorização
diagnóstica como uma complicação de comportamentos e características que juntos
delimitam um quadro específico, distinto dos que existiam até então.
O diagnóstico psicopatológico do autismo se alicerça nas descrições e
formulações diagnósticas de Kanner acerca de crianças que manifestavam desde a
primeira infância um “[...] desejo muito forte de solidão e ausência de mudança”.
Já na caracterização do designado caso 1, Kanner descrevia uma criança (Donald
T.) de cinco anos que era “[...] extremamente autístico”.
Todavia, “[...] essa constelação de comportamentos [...] não tinha nome” , até que
Leo Kanner os descrevesse e os caracterizasse como um quadro psicopatológico.
Desse modo, com a publicação científica desse material clínico, Donald assim
como as outras crianças descritas por Kanner tornaram-se parte do enredamento oficial
da história do autismo como um quadro psicopatológico de distúrbio autístico do contato
afetivo.
Kanner havia se tornado o psiquiatra infantil mais renomado do país quando a
família Triplett solicita uma avaliação para o filho em 1938.
Antes de encontrar pela primeira vez com Donald, Kanner pede que seus pais
narrem sua história, escrevendo uma carta com sua história detalhada. Então, Kanner -
leu a carta do pai de Donald, Beanon, endereçada a Kanner, contando com uma
quantidade enorme de descrições minuciosas a história daquele sofrimento.
Surge, então, na história do autismo, o relato do pai que descreve “[...] pouco a
pouco aquela que viria a ser a descrição seminal de uma criança com autismo, palavra e
diagnóstico ainda inexistentes”, a partir do Donald retratado por seu pai em carta
endereçada àquele que se tornará o pai da nosografia psiquiátrica do autismo.
Transcorreram semanas de observação de Donald por Kanner e sua equipe
médica, após as quais Kanner não forneceu um diagnóstico, afirmando que Donald era
diferente de todos os quadros que já haviam sido determinados.
16. 11
Autismo – uma Leitura Espiritual
Ele solicitou que os pais fornecessem informações sobre o desenvolvimento de
Donald após o retorno à vida familiar, afirmando a impressão positiva que ficara da mãe
de Donald, como a única pessoa com a qual ele mantinha contato, salientando no
prontuário sua posição ativa de convocação do filho para interagir e brincar com ela.
Nas trocas de cartas com Kanner, a mãe de Donald, Mary, encontra um
interlocutor a quem dirige sua narrativa de sofrimento, e nele encontra um expert que
reconhece sua dedicação e seu esforço, compartilhando com ela o enigma daqueles
comportamentos.
Em várias cartas, Kanner se demonstra um parceiro tranquilizador, que escuta o
que ela tem a dizer, designando por ‘heroico’ seu esforço em ajudar o filho, e abrindo a
possibilidade de uma melhora.
Em várias cartas trocadas, prevalecia da parte de Kanner uma postura de
leitura/escuta acolhedora e tranquilizadora, estimuladora e reconhecendo um não saber
sobre o diagnóstico, o advir, o prognóstico e a explicação para os comportamentos e
outras manifestações de Donald.
Então, em uma carta endereçada à Mary, datada de 1942, ele afirma “[...]
reconhecer pela primeira vez um distúrbio que, até agora, não foi descrito pela literatura
psiquiátrica nem por nenhuma outra”, reiterando ter encontrado outras crianças com
problemas similares, de tal modo que “[...] se há um nome a ser aplicado ao problema de
Don e das outras crianças” , poderia designá-lo “[...] distúrbio autista do contato afetivo”
, terminologia esta que seria mantida na posterior publicação científica: “Os distúrbios
autísticos de contato afetivo” (Kanner,2012) que caracteriza a origem psiquiátrica oficial
do quadro psicopatológico.
Por meio das cópias carbono destas cartas trocadas entre Mary e Kanner,
evidenciamos quanto a nomeação do quadro psicopatológico do autismo se ancora em
um endereçamento deste expert a uma mãe, aventando a hipótese de existir um distúrbio
inato que impedia o contato destas crianças com os outros.
Ao contrário da narrativa posterior de inculpação, que será marcante no discurso
de especialistas, inclusive do próprio Kanner, nesse primeiro momento é na parceria entre
pais, especialmente a mãe de Donald, e o maior especialista de psiquiatria infantil da
época que surge esse diagnóstico, imbricando as manifestações descritas minuciosamente
por pais e as explicações aventadas por Kanner.
17. 12
Autismo – uma Leitura Espiritual
No entanto, ainda permanecia a questão do que causaria o autismo.
Então, banhado em um contexto histórico repleto de formulações psicanalíticas
que enfocavam a origem do mal-estar nas falhas de maternagem, emerge a narrativa de
culpabilização dos pais, mas especialmente das mães, como responsáveis pelo autismo
dos filhos.
Este foi um dos enredos do autismo que teve profundas marcas não somente nessa
geração, mas que impactaram reativamente e posteriormente várias manifestações de pais
ressentidos por outrora serem considerados causadores do autismo por terem feito algo
errado, sendo frios ou não amando suficientemente ou da maneira adequada.
Nesta narrativa, predominava “[...] o que diziam os experts: quando ocorria
autismo, era sempre culpa da mãe”, sendo paradigmática uma reportagem de 1948 da
revista Time que descreve as crianças autistas como “[...] esquizoides de fralda [...]” que
ficam “[...] felicíssimos quando estavam sozinhos [...] ”, remetidos a “[...] pais frios [...]”
, citando que essas crianças “[...] ficavam simplesmente guardadas em uma geladeira que
não descongelava” .
Tornaram-se frequentes as designações acerca da mãe geladeira causadora do
autismo, remetendo à etiologia do autismo a uma discussão sobre a culpa materna.
Os autores enfatizam que embora a narrativa do psicanalista Bettelheim acerca do
autismo tenha sido o maior estimulador desta vertente discursiva de culpabilização das
mães, baseada em uma concepção da criança autista vivenciando o mundo como
demasiadamente ameaçador, a terminologia da mãe geladeira como uma metáfora para a
mãe do autista foi criada pelo próprio Kanner, ao descrever características defeituosas nas
mães de autistas, incluindo algumas descrições de situações vividas com a família
Tripplet, por quem tantas vezes descrevera sua admiração, mas que agora eram enfocadas
pelo viés de uma possível rejeição parental: “[...] frieza [...]”, “[...] falta de genuíno
carinho maternal [...]”, dentre outras características nessa vertente de “[...] incapazes de
gostar dos filhos como são” .
No entanto, um apontamento realizado pelos jornalistas Donvan e Zucker merece
ser destacado para elucidar a repercussão desta declaração de atribuição do autismo às
mães geladeiras.
18. 13
Autismo – uma Leitura Espiritual
O autismo somente chamou atenção do grande público a partir do momento em
que se narrou uma relação entre o autismo e a frieza materna.
Até então, os jornalistas salientam que o diagnóstico do autismo era restrito
principalmente aos casos que Kanner e sua equipe diagnosticavam.
Seus artigos científicos tinham recebido pouca atenção e não havia interesse
especial da mídia pela sua descoberta acerca de uma psicopatologia que afetava tão
poucas crianças e que outros médicos não descreviam encontrar nas suas clínicas.
Somente após a formulação kanneriana das mães geladeiras no autismo é que o
autismo como diagnóstico começou a se tornar um diagnóstico mais frequente (ou
podemos mesmo dizer na moda), repercutindo um movimento acusatório dos outros, que
se tornou um movimento auto acusatório de mães fragilizadas que buscavam o que
haviam feito que causara aquilo, tornando prevalente a culpabilização das mães na
narrativa acerca do autismo.
Durante muito tempo, perdurou no tratamento e na abordagem dos autistas uma
leitura culpabilizadora dos pais.
Baseados em diversas entrevistas e documentos da época, Donvan e Zucker
(2017) relatam exemplos de diversas mães de autistas que de modo a terem direito ao
tratamento institucional do autismo, deveriam corroborar com a origem psicogênica do
autismo relacionado a mães patológicas que haviam produzido um trauma emocional nos
seus filhos.
Nesse prisma, mães extremamente dedicadas aos filhos, ao invés de serem
reconhecidas por seu esforço, dedicação, amor, eram facilmente interpretadas pelo crivo
das mães geladeiras; quando se constatava que elas eram mães extremamente dedicadas
com os filhos, podia-se facilmente interpretar que essa dedicação era reativa por culpa
pela má maternagem anterior que havia originado o distúrbio.
Os autistas eram tratados em instituições que formulavam narrativamente que
estavam fornecendo uma “[...] maternidade terapêutica [...]” substituta à deficitária e
patológica oferecida pela família de origem, e as mães deveriam ser excluídas do
tratamento dos filhos para que houvesse a recuperação.
19. 14
Autismo – uma Leitura Espiritual
Nessa narrativa da mãe-geladeira, “[...] a inculpação da mãe era o ponto de
partida”, mas é progressivamente nas instituições de tratamento dos filhos autistas – que
não são mais institucionalizados e retirados da família – que muitas mães começam a
interagir com outras mães e, progressivamente, surge um movimento horizontal de apoio
mútuo.
Começam a surgir pais de autistas que se contrapõem à narrativa de inculpação,
sendo emblemático o exemplo de Ruth Sullivan (1965), mãe de sete crianças e que tinha
somente um com autismo.
Ela se dedica a estudar com afinco todas as publicações científicas sobre o autismo
e, progressivamente, torna-se a representante de um grupo de mulheres que começa a
questionar a narrativa de inculpação do autismo às falhas das mães.
Surge na mídia uma nova narrativa do autismo: os pais são heróis que lutam
diariamente para dar lugar a filhos tão diferentes das outras crianças.
Aos poucos, a forma de se narrar o autismo se aproxima da forma pela qual pais
ativistas narravam seus filhos deficientes, no entanto ainda era predominante a marca da
acusação dos pais pelo autismo dos filhos, ao contrário do que ocorria, por exemplo, no
caso da deficiência física.
Nessa época, com o aumento dos casos diagnosticados de autismo, surgem os
discursos de especialistas que também eram pais de autistas, como Bernard Rimland, cujo
filho fora diagnosticado autista.
Ele representa outra vertente emblemática dos pais com diplomação na área de
psicologia, psiquiatria ou neurologia, e que após o diagnóstico do filho se dedicam a
pesquisar o tema, questionando a narrativa do autismo causado pelos pais.
Rimland analisa os estudos sobre as mães geladeiras, problematizando o que
avaliou ser a baixa cientificidade de todo o material publicado.
No dia a dia ele via a interação da sua esposa com o filho como comprobatório de
que a narrativa culpabilizadora das mães deveria ser colocada em xeque, afirmando ser
“[...] plausível que tais comportamentos, tidos como prova de ‘frieza’, resultassem da
exaustão e da confusão, da aparente indiferença do filho pelas palavras e contatos
amorosos da mãe”.
20. 15
Autismo – uma Leitura Espiritual
Rimland prioriza uma nova concepção do autismo relacionada à etiologia ligada
a causas orgânicas, o que se desdobra na formulação de uma etiologia e de um tratamento
relacionados principalmente a questões nutricionais, implicando em mudanças de
alimentação.
Nessa época também coexistiam formulações de etiologia e tratamento vinculadas
a uma teoria da vacinação à origem do autismo.
Silberman (2016), por exemplo, analisou documentos que demonstram quanto,
com o aumento dos casos diagnósticos de autistas, surgiram rumores de histórias sobre
crianças que após serem vacinadas, tornaram-se autistas, e como isso se transformou em
uma nova narrativa do autismo.
O jornalista aponta que os pais eram pressionados por outros pais de autistas a não
vacinar seus filhos e a seguir mudanças da dieta, apontando para os efeitos em cada um
destes dos vários embates entre os diversos discursos sobre as etiologias e tratamentos do
autismo.
Eyal, Hart, Onculer, Oren e Rossi(2010) sugerem que essa teoria alternativa se
situa em uma gama de medicinas alternativas, de diferentes abordagens do autismo.
Grande parte dos pais misturavam esses vários tratamentos oferecidos - oficiais e
não oficiais. Há uma apropriação do saber científico, que vai sendo modificado e
transmitido por pais que relatam suas estórias de vida para outros pais de autistas.
Apoiados em um especialista - Rimland - que questionava a produção científica
sobre o tema, cada vez mais pais de autistas se dedicaram a estudar o autismo e se sentiram
validados por Rimland para questionar a maneira como se teorizava e tratava os autistas.
Também surgiram mailing-lists integrando as várias descobertas e informativos
dos pais, além dos relatos autobiográficos e livros que circulavam.
A força crescente dos pais se organizando em torno da identidade de ‘pais de
autistas’, que como apontamos está banhado em uma narrativa heroica, alicerça uma nova
rede de tratamento, mais horizontal na relação com a expertise dos profissionais.
Nesse âmbito, Eyal et al. (2010, p. 172) destacam surgir uma “[...] contra-narrativa
[...]” às anteriores baseadas nas expertises profissionais dos especialistas. Mais do que
uma busca de uma validação (oficial) externa, surgiu a disseminação horizontal insider,
dentro dos grupos de pais de autistas.
21. 16
Autismo – uma Leitura Espiritual
Quando o modelo Lovaas de ABA, análise comportamental aplicada aos autistas,
ganha força, Silberman (2016) destaca o impacto de autobiografias de pais de autistas
descrevendo os efeitos obtidos com as mudanças comportamentais efetivadas por meio
deste método de mudança comportamental, realçando quanto a perspectiva de esperança
de uma melhora impactou uma geração que havia sido impregnada por uma narrativa
anterior de incurabilidade, falta de prognóstico positivo e inculpação.
Analisando como se retratava o autismo na mídia, Donvan e Zucker (2017)
sublinham como surge cada vez mais o enredo de que a vida com o autismo era um
pesadelo, o que tornava os lares um inferno, remetido ao discurso da importância de
métodos eficazes, com enfoque em ABA para a modificação dos comportamentos.
Os jornalistas destacam uma reportagem da revista Life de 1965, descrevendo o
destaque progressivo dado a esta nova forma de se narrar o autismo.
Ainda mais famosa é uma edição do jornal New York Times, datada de 1987, na
qual se divulga uma taxa de sucesso de 47% do método Lovaas na modificação de
comportamentos que transformava crianças diagnosticadas autistas em crianças
aparentemente normais.
A partir do novo lugar atribuído aos tratamentos e de uma nova narrativa de pais
lutadores pela melhora dos filhos, começou-se um exercício de lobbying inicialmente nos
EUA, mas que com a internet se propagou rapidamente em escala mundial, exigindo
tratamento e educação adequados aos autistas.
Muitos dos pais demandavam legalmente o direito de os filhos receberem uma
intervenção seguindo ABA, colocando o autismo na esfera jurídica, impulsionada pela
propagada taxa de 47%, o que gerou um apelido de ‘casos Lovaas’ para designar essa
nova narrativa do autismo.
Essa nova narrativa dos autistas impulsiona pais que utilizam essa taxa como “[...]
um mantra próprio que aparecia em fóruns on-line, em discursos nas suas conferências e
em folhetos” (Donvan& Zucker, 2017, p. 262), que afirmava que “A ABA é o único
tratamento com base científica, respaldo médico e comprovada eficácia” (p. 262).
Nesse contexto, podemos corroborar com a afirmação de que a ABA se tornou
“[...] ao mesmo tempo terapia e movimento parental [...]” (p. 262) no autismo.
22. 17
Autismo – uma Leitura Espiritual
Pais de autistas mobilizados em associações de pais criadas em nome da defesa de
crianças autistas, principalmente de baixo funcionamento, desembocava muitas vezes em
um “[...] ativismo parental agressivo” (p. 273), que por sua vez aumentava
vertiginosamente na esfera pública a demanda por ABA.
Nessa época, convergem-se movimentos surgidos globalmente em torno dessa
narrativa do autismo.
No cenário político, por meio do lobbying dos pais, em nome dos autistas e
financiado por modalidades horizontais de financiamento coletivo (crowdfunding), a
nova narrativa de uma possível cura do autismo é imbricada ao discurso preventivo e de
detecção da genética defeituosa ou da causa biomédica à origem do distúrbio.
Há uma distinção, ressaltada por Runswick (2016) e Runswick, Mallet e Timimi
(2016), entre esse modelo biomédico do autismo como uma deficiência, um distúrbio
cognitivo relacionado a uma deficiência biomédica, de uma abordagem contemporânea
do autismo como um modo diferente do cérebro se conectar; diferente, não pior ou
deficitário.
Abarcaremos adiante no texto a questão da neurodiversidade na história recente
do autismo.
Na vertente deficitária, surge uma nova narrativa, calcada no saber científico, que
se dedica a pensar questões cognitivas no autismo, sob uma perspectiva deficitária.
No entanto, a perspectiva de que o autismo seria uma versão deficitária do que
seria a normalidade, que sustenta uma narrativa científica do autismo e que foi apropriada
em várias políticas do autismo enquanto deficiência, começou a encontrar oposição
oriunda originalmente de pessoas diagnosticadas autistas.
Concomitantemente, na área do saber científico, pesquisadores de diferentes
linhas teóricas como o cognitivista Mottron (2004) e o psicanalista Maleval (2017) têm
se dedicado a analisar o material autobiográfico escrito por autistas e detectamos uma
nova voga de revisitação de teorizações científicas, que reconhece que as autobiografias
dos autistas expressam sua “[...] verdade subjetiva” (Mottron, 2004, p. 174).
Enfatiza-se uma subjetividade singular, evitando-se a atribuição negativa ou
deficitária à alteridade, ao diferente, em uma lógica que não seja de dominação, mas uma
lógica de respeito e acolhimento da alteridade, no caso, de um modo de funcionamento
psíquico diverso.
Seria essa verdade subjetiva menos verdadeira do que aquela da ciência, objetiva?
23. 18
Autismo – uma Leitura Espiritual
Na sua área de enfoque, que é o estudo da cognição humana, Mottron (2004)
aponta uma tendência de os pesquisadores adotarem crivos de interpretação
‘normocêntricos’ compreendendo como deficitário o que poderia ser analisado como uma
maneira diferente de funcionamento psíquico, realçando a importância do respeito à
diferença, sem o filtro da normalidade como parâmetro ideal.
Nesse sentido, Mottron é enfático em salientar a importância dos relatos
autobiográficos de autistas para a compreensão da lógica do autismo, tendo destaque
mundial, principalmente, a obra da autista TempleGrandin (Grandin&Scariano, 2014).
A perspectiva de que um autista pode ter o que dizer sobre si, sobre seu tratamento,
sobre o mundo, transbordou as fronteiras científicas, impulsionada pela internet, e pela
divulgação de filmes e blogs produzidos por autistas, o que estimulou a inclusão de
autistas em debates públicos sobre o autismo, embora ainda seja dominante uma tensão
com essa mudança.
Enfim, o autista, ao contrário dos planos da ciência que quer objetivar sua verdade
como deficiência, parece querer que sua verdade seja reconhecida como posição
subjetiva.
Ao contrário da emergência de uma pluralidade de vozes, na mídia oficial
(impressa) brasileira, privilegia-se uma única modalidade de representação do
autista. Ortega, Zorzanelli e Rios (2016, p. 67) reforçam quanto o autismo é uma categoria
nosográfica da psiquiatria que está delimitada por uma “[...] negociação pública de fatores
médicos e não médicos [...]”, afirmando o impacto das narrativas midiáticas na construção
da representação do autismo no Brasil.
Nos últimos anos, eles caracterizam o aumento dos textos impressos, destinados
ao grande público, com a temática do autismo, detectando que vários destes descreviam
estudos científicos, especialmente os de neurociência, relevando o autismo como um
distúrbio cerebral de origem genética.
Observaram que 75,5% dos estudos eram traduções de pesquisas estrangeiras ou
eram publicadas no Brasil, mas sem remeter à especificidade brasileira, mas
internacional, e somente 18,6% dos estudos enfocavam a especificidade brasileira.
Além disso, os pesquisadores apontam que embora estes textos com foco no
público geral se concentrassem na divulgação destas pesquisas estrangeiras, haviam sido
precipitados por alguma questão originada por uma problemática envolvendo a política
ou a prestação de serviço público a um autista.
24. 19
Autismo – uma Leitura Espiritual
Nesse contexto, usualmente o enredo jornalístico era o de um autista que não
estava recebendo a educação ou a saúde que devia ser assegurada pela legislação
brasileira, culminando na “[...] narrativa da insuficiência [...]” (p. 79), que reforçavam
“[...] a percepção de que não há qualquer serviço para a pessoa” (p. 79).
Aponta-se que é tamanha ênfase na falha do serviço, enfocando os autistas como
aqueles sem tratamento e esquecidos pelo Estado, que quase nunca se enfocamos serviços
existentes e o que já é oferecido na atenção pública ao autista.
Os pesquisadores salientam que esta falha é colocada em contraposição à
necessidade urgente desses autistas receberem o tratamento que necessitam. Não somente
é destacada uma insuficiência dos serviços, como dos especialistas que trabalham e
pesquisam no Brasil, principalmente no âmbito público.
Privilegia-se uma visão única do autismo representado como um distúrbio
neurológico, que teria uma única abordagem eficaz, da qual autistas e pais seriam
privados pela insuficiência do governo em assegurar seus direitos de cidadão, e pela
incompetência dos profissionais e pesquisadores brasileiros, defasados em relação à
pesquisa e à prática internacionais eficientes, culminando no aumento das tensões que
desembocaram nas atuais “Guerras do Autismo no Brasil” (Ortega, Zorzanelli, & Rios,
2016, p. 68), abarcando todos os envolvidos.
Marina Bialer Rinaldo Voltolini - Editora da Universidade Estadual de
Maringá - Autismo: história de um quadro e o quadro de uma história -
https://doi.org/10.4025/psicolestud.v27i0.45865
25. 20
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.2.3. Médicos que mudaram a História do Autismo
i. Eugene Bleuler
O psiquiatra suíço Eugene Bleuler foi quem usou pela primeira vez o termo
autismo em pacientes com esquizofrenia para descrever uma fuga da realidade para um
mundo interior.
Ele foi o responsável por nomear a esquizofrenia, que antes era conhecida
como dementia praecox, e entender que a condição não era algo exclusivo de jovens.
Em seus estudos, ele chegou à conclusão de que todas as pessoas afetadas por essa
doença sofriam de um tipo de divisão em seus processos de pensamento, e por isso, fez
uso das palavras “esquizo” (divisão) e “frenia” (mente).
Bleuler continuou sua pesquisa e concluiu que havia diferentes subtipos de
esquizofrenia: paranoide, catatônica e emocional ou hebefrênica.
ii. Leo Kanner
Já o psiquiatra Leo Kanner foi quem dissociou o autismo da esquizofrenia.
Isso aconteceu com sua obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”,
publicada em 1943.
Nela, ele descreve 11 casos de crianças nas quais identificou “um isolamento
extremo desde o começo da vida e com desejo obsessivo de preservação de mesmices. ”
O profissional usou o termo “autismo infantil precoce” e foi o responsável por
diagnosticar a primeira criança autista da história — Donald Triplett.
Conhecido como o “caso 1”, o menino de 5 anos foi descrito com comportamentos
“fora do padrão” para uma criança da mesma idade.
Filho de um advogado e uma professora, ele era uma criança muito isolada e que
nunca correspondia a um sorriso ou reagia à voz da mãe, sempre em uma realidade própria
e uma lógica particular.
Alguns anos depois, o menino foi colocado em uma instituição por ordens médicas
que também pediam para que os pais apagassem seu filho da memória e seguissem com
a vida.
26. 21
Autismo – uma Leitura Espiritual
Depois de algumas visitas, os pais decidiram então levar o filho para uma consulta
com Kanner, que ficou muito frustrado a princípio e não sabia ao certo em qual “padrão”
psiquiátrico Donald poderia se encaixar, surgindo aí o autismo como uma condição que
definiria seus comportamentos.
Porém, mesmo com sua contribuição, Kanner é tido como um dos responsáveis
pela teoria da mãe-geladeira, que diz que a falta de amor materna seria o motivo da criança
desenvolver autismo, um grande mito quando pensamos nas informações sobre TEA.
Mesmo negando ter sido o precursor desta informação que se provou falsa, Kanner
chamou a atenção ao dizer que pessoas autistas teriam sido filhas de mães
emocionalmente distantes, teoria que foi disseminada pelo psicanalista Bruno Bettelheim
mais tarde.
Posteriormente, Kanner disse ter sido mal compreendido e tentou se retratar em
seu livro Em Defesa das Mães.
iii. Hans Asperger
Em 1944 o médico austríaco Hans Asperger foi o primeiro a apontar uma maior
prevalência de diagnósticos de autismo em meninos.
O psiquiatra costumava falar de seus pacientes como “pequenos professores”, por
conta da habilidade de comunicar sobre um determinado tema detalhadamente.
Esse foi um marco para a história do autismo, já que o médico publicou suas
observações de mais de duzentas crianças tratadas por ele, com características comuns
como:
− Baixa capacidade de criar laços sociais;
− Conversação unilateral;
− Falta de empatia;
− Foco intenso em um assunto de interesse;
− Movimentos descoordenados.
27. 22
Autismo – uma Leitura Espiritual
iv. Lorna Wing
37 anos mais tarde, o trabalho de Asperger ganha reconhecimento quando a
inglesa Lorna Wing adiciona 31 novos casos ao estudo e então nomeia a condição como
“Síndrome de Asperger”.
Apesar disso, a nomenclatura foi descontinuada nos manuais diagnósticos, como
a CID 11 e o DSM 5 e hoje é conhecida popularmente como “Autismo leve”.
Ainda sobre Asperger, estudos publicados em 2018, no livro “Crianças de
Aspergers (Asperger’s Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna) pela historiadora
norte-americana Edith Sheffer, mostraram que ele foi membro de várias organizações
nazistas da Segunda Guerra Mundial.
De acordo com a publicação, o médico examinou mais de 200 pacientes, dos quais
35 foram considerados “ineducáveis” e mortos por injeção letal e em câmaras de gás.
Já Lorna Wing se tornou pioneira da visão do autismo como espectro, afirmando
que o transtorno afeta as pessoas em diferentes níveis.
Assim, ela também estabelece uma nova base para o diagnóstico com 6 pontos
básicos:
− Ausência de manifestações convencionais de empatia;
− Comunicação não-verbal inadequada;
− Coordenação motora prejudicada;
− Dificuldade e/ou repetição nas mudanças;
− Interesses limitados e boa memória;
− Verbalização correta, mas estereotipada.
v. B.F. Skinner
Não poderíamos deixar de mencionar o psicólogo Burrhus Frederic Skinner, que
apesar de nunca ter trabalhado diretamente com autismo, é considerado o pai
do behaviorismo radical e um grande nome dentro da Análise do Comportamento
Aplicada (ABA), que hoje é uma das principais terapias para pessoas com autismo.
Essa teoria tem como foco estudar a psicologia através da observação do
comportamento das pessoas ao invés de conceitos subjetivos e teóricos da mente. Entre
os principais conceitos temos os estímulos, reforço e contingência.
28. 23
Autismo – uma Leitura Espiritual
Apesar de vários trabalhos desses médicos que mudaram a história do autismo
terem teorias falhas e informações controversas, essas pesquisas ajudam a criar um
caminho de descobertas para que hoje possamos garantir muito mais qualidade de vida e
autonomia para pessoas autistas e suas famílias.
Heloise Rissato – Genial Care - 5 médicos que mudaram a história do autismo -
Publicado em 27 de junho de 2022 - Atualizado em 16 de fevereiro de 2023 -
https://genialcare.com.br/blog/medicos-na-historia-do-autismo/
29. 24
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.2.4. Autismo – o primeiro diagnóstico
De acordo com Donvan & Zucker (2017), De Paula, et. al. (2017), Schmidt
(2013), Assumpção Jr. (2013), Schwartzman (2011) dentre outros, os primeiros
estudos investigativos datam de 1943 quando Leo Kanner publicou o artigo “Autistic
Disturbances of Affective Contact” (Distúrbio Autista do Contato Afetivo).
Este artigo foi fruto de quatro anos de investigação e registro do quadro clínico de
Donald Triplett, um menino identificado como Donald T., o qual, a partir de dois
anos de idade sofreu marcantes regressos de seu desenvolvimento, como será
descritoa seguir, com base em Donvan & Zucker (2017) e que representa o marco
da história que impulsionou os primeiros estudos acerca do autismo.1
Donald T. tinha comportamentos ‘normais’ até dois anos de idade, quando
começou a chamar a atenção dos seus pais por notável regressão do seu desenvolvimento
como a falta de interesse em pessoas e objetos ao seu redor.
Manifestou agressividade ao ter sua rotina alterada ou atividade interrompida,
bem como, a falta de respostas às tentativas afetivas e crescente isolamento.
Tais condutas despertaram a preocupação de sua família que, em busca de saber
que mal havia acometido seu filho, sua mãe escreve uma carta de confissão
descrevendo Donald como “irremediavelmente louco”.2
É oportuno mencionar que nesse período histórico as famílias de bebês e
crianças “anormais” (termo comum na época) eram incentivadas a “se desfazerem”
delas, sob denominações de aberrações e outros termos, pois eram consideradas como
vergonha, mancha ou castigo àquela família.
E por isso, não só o bebê ou a criança com deficiência ou transtorno era segregada
socialmente, mas a família também.
Mesmo as famílias que demonstravam interesse em cuidar do seu filho, os
médicos eram rígidos ao dizer que Não, pois a recomendação era a institucionalização do
defeituoso3, conforme Donvan & Zucker (2017. p.31) “[...] a classe social e o grau de
instrução eram partes importantes da decisão de institucionalizar.
Quanto mais elevada fosse a posição da família na escala social, tanto mais
lógico era internar o filho”.
30. 25
Autismo – uma Leitura Espiritual
Atualmente, ambos os termos denotam crueldade.
No entanto, para o período histórico ao qual estamos nos referindo, são
termos médicos que foram empregados para determinar o desenvolvimento com
funcionamento normal dos que não funcionavam dentro da normalidade esperada.
Dentre outros termos clínicos comuns à classe médica da época, presentes
no dicionário da deficiência, e que mais tarde foram usados descontextualizados e
com fins depreciativos encontram-se: “mentecapto”, “débil mental”, “demente” (Ibid,
p.29).
Assim, a pessoa com deficiência ou transtorno era separada do seio familiar e
social para interna-la em asilos, hospitais ou outras instituições era prática normal.
Essas instituições seriam as responsáveis pela manutenção de suas vidas.
Vale lembrar ainda que, quanto mais posses a família dispunha, mais
incentivadas eram por médicos e por juízes de direito, a institucionalizar deficientes,
tal como ocorreu com a família de Donald T.
Foram diversas investidas em consultas, médicos e até mesmo internação
longe do seio familiar, no asilo Preventorium,no Mississipi, a fim de saber e curar
aquele quadro clínico.
No entanto, o isolamento familiar, a imposição de novas atitudes, o
distanciamento sentimental agravou o quadro de Donald T., fazendo com que sua
mãe retirasse ele desse ambiente (Ibid, p. 31, 32).
Em meados da década de 1940 a área da psiquiatria incluiu a infância
como importante fase de investigação.
Ainda nesse período, destacou-se Léo Kanner, psiquiatra da infância nos EUA,
com um método de trabalho próprio e diferenciado do comum daquele período
histórico, tinha como importante estratégia diagnóstica a anamnese, que consiste na
valorização da história de vida do paciente e conta com registros de observação
detalhados com vistas ao diagnóstico e tratamento médico (Ibid, p. 47).
A fama do Dr. Kanner leva a família de Donald T., à sua procura.
Logo ao adentrarem no consultório Kanner constata características
peculiares do menino como isolamento social e interesse em si próprio.
Kanner realizou alguns testes, dentre outros, o espetou com alfinete, levando-
o a constatar que Donald T. sentiu a dor, mas não se afastou ou teve medo do médico.
31. 26
Autismo – uma Leitura Espiritual
Donvan & Zucker (2017) esclareceram que não houve relação entre a dor e quem
a causara.
As observações e registros do Dr. Kanner e de sua equipe que monitorava
o menino levou o famoso médico a afirmar que o desenvolvimento de Donald era
potencial, ou seja, tinha possibilidades de avanço, mesmo diante da constatação da
indiferença ao que lhe cercara.
A cerca do diagnóstico de Donald T.,Ibid,( p. 50) relata que em carta
datada de Setembro de 1942, havia confissão de Kanner afirmando que “Não
conseguiu encaixar Donald em nenhum rótulo-padrão conhecido, tampouco podia
prever as chances do menino.
Seus comportamentos constituíam um mistério que ele ainda não tinha sido
capaz de decifrar”.
Por isso, havia necessidade de expandir suas investigações a mais crianças com
claro desenvolvimento comprometido semelhante a Donald.
Assim, supervisionou e examinou mais oito crianças o que permitiu constatar que
“[...]a principal distinção reside na incapacidade dessas crianças, desde a primeira
infância, de se relacionar com outras pessoas” e “com peculiaridade de linguagem
Ibid,( p. 50).
Os resultados das investigações levou Kanner a denominar o quadro clínico
de ‘Distúrbio Autista de Cunho Afetivo’.
O termo autismo remete às ações em torno de si e já tinha sido utilizado por volta
de 1910 por Bleuler ao abordar critérios diagnósticos da esquizofrenia, transtorno
que durante muitas décadas foi atribuído às características autísticas na infância.
Daí, Kanner estabeleceu dois critérios definidores para a síndrome autística:
tendência à solidão e necessidade de rotina.
Kátia Maria de Moura Evêncio; George Pimentel Fernandes - Revista
Multidisciplinar e de Psicologia - 10.14295/idonline.v13i47.1968 - História do
Autismo: Compreensões Iniciais
32. 27
Autismo – uma Leitura Espiritual
Referências
BRITO, Maria Cláudia; MISQUIATTI, Andréa Regina Nunes. Transtornos do
Espectro do Autismo e Fonoaudiologia: atualização profissional em saúde e educação.
In: Autismo: a questão do diagnóstico. 1ª ed. – Curitiba, PR: CRV, 2013 cap. 01. p. 11 a
DONVAN, John; ZUCKER, Caren. Outra Sintonia: a história do autismo
Companhia das Letras, 2017.
PAULA, Cristiane S. de; et. al Conceito do Transtorno do Espectro Autista:
definição e epidemiologia. In: BOSA, Cleonice Alves; TEIXEIRA, Maria Cristina
T.V. Autismo: Avaliação psicológica e neuropsicológica.. 2ª ed. – São Paulo: Hogrefe,
2017. cap. 01. p. 07 – 28.
RODRIGUES, Janine Marta Coelho; SPENCER, Eric. A Criança Autista:
um estudo psicopedagógico. 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015.SCHIMIDT,
Carlo. (org). Autismo, Educação e Transdisciplinaridade. Campinas, SP: Papirus,
2013.
SCHWARTZMAN, José Salomão; ARAÚJO, Ceres Alves. Transtornos dos
Espectro do Autismo. In: SCHWARTZMAN, José Salomão. Transtornos do Espectro
do Autismo: conceitos e generalidades. São Paulo: Memnon, 2011
33. 28
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.2.5. Autismo – Datas e Cores
i. Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Por que 2 de abril é Dia Mundial da Conscientização do Autismo?
O principal objetivo de 2 de abril é divulgar informações sobre o Transtorno do
Espectro Autista (TEA) em nível global.
A data, criada em dezembro de 2007 pela ONU, também é marcada por diversas
ações promovidas por entidades civis e governamentais em busca de derrubar
preconceitos e criar uma sociedade mais inclusiva. Ficando assim, conhecida como Dia
Mundial da Conscientização do Autismo.
ii. A cor Azul e o TEA
Durante as ações promovidas em razão do Dia Mundial da Conscientização do
Autismo, é comum ver prédios e monumentos, como a Estátua da Liberdade e o Cristo
Redentor, iluminados em azul.
A cor azul foi escolhida como um dos símbolos para representar o TEA devido ao
grande número de diagnósticos em meninos – segundo as estatísticas, a proporção era de
4 meninos para cada 1 menina no espectro.
Por isso, especialistas acreditavam que meninos eram mais propensos ao
diagnóstico do que meninas.
Porém, anos mais tarde essa afirmação começou a ser refutada, especialmente
porque começaram a surgir indícios de que meninas poderiam ser menos
diagnosticadas devido ao fato de conseguirem camuflar os sinais de autismo e serem mais
expostas a situações sociais desde cedo.
Gabriela Bandeira – Genial Care - Conheça a história do Autismo -
https://genialcare.com.br/blog/dia-mundial-da-conscientizacao-do-autismo/
34. 29
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.3 Autismo no Brasil – Leis de amparo e suporte
No Brasil, a história do autismo também tem alguns momentos relevantes,
marcados principalmente pela criação de legislações que garantem os direitos de quem
está no espectro e suas famílias.
i. 2012 - Lei Berenice Piana
Aprovada em 2012 pela então presidente Dilma Rousseff, a Lei Nº 12.764 –
conhecida como Lei Berenice Piana – institui a ‘Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista’ e estabelece diretrizes para sua
consecução, assegurando às pessoas com autismo os mesmos benefícios legais das
pessoas com deficiência, que incluem desde a reserva de vagas em empresas com mais
de cem funcionários, até o atendimento preferencial em bancos e repartições públicas,
alterando o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
EMENTA: Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990 - http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2012/lei-12764-27-
dezembro-2012-774838-publicacaooriginal-138466-pl.html.
ii. 2014 - Decreto nº 8.368, de 2 de dezembro de 2014
Regulamenta a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2014/decreto-8368-2-dezembro-014-
779648-publicacaooriginal-145511-pe.html
iii. 2015 - Lei Brasileira de Inclusão
Já a Lei 13.146, de 2015, é um conjunto de normas com o objetivo de assegurar e
promover os direitos das pessoas com deficiência em todo território nacional. Ela também
é conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência.
iv. 2020 - Lei Romeo Mion
Aprovada em 2020 pelo presidente Jair Bolsonaro, a Lei Nº 13.977 – ou Lei
Romeo Mion, em homenagem ao filho do apresentador de TV Marcos Mion, que está no
espectro, estabelece a criação de uma carteira de identificação da pessoa com autismo e
coloca o autismo no novo censo do IBGE.
35. 30
Autismo – uma Leitura Espiritual
v. 2020 - Carteira de Identificação da Pessoa com TEA
A Carteira de Identificação da pessoa com Transtorno do Espectro Autista
(CIPTEA) foi sancionada pela Lei no 13.977/2020 (igualmente conhecida como Lei
Romeo Mion), que alterou a Lei no 12.764/2012 e visa garantir atenção integral, pronto
atendimento e prioridade às pessoas com TEA no atendimento e no acesso aos serviços
públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.
vi. 2022 - CID-11
Uma das conquistas mais recentes da causa autista foi a publicação da nova edição
do manual da CID (Classificação Internacional de Doenças e Transtornos Mentais, da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
O documento entrou em vigor em 2022.
36. 31
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.4 Sintomas
2.4.1. Considerações Gerais
Características do autismo
Existem vários graus de autismo, com diferentes níveis de gravidade, sendo as
características mais marcantes entre os portadores:
− Dificuldade em estabelecer interações sociais,
− Interesse compulsivo por algo,
− Presença de comportamentos repetitivos
Na realidade, a dificuldade em estabelecer interações sociais também se deve
ao fato de o autista ter dificuldades em entender e aplicar as normas sociais, que
normalmente são aprendidas com base na observação e na intuição.
Os autistas ainda podem apresentar distúrbios sensoriais, que fazem com que
tenham uma percepção diferenciada do mundo ao seu redor.
É comum, por exemplo, a elevada sensibilidade auditiva. Isso faz com que eles se
incomodem com ruídos que não perturbariam uma pessoa que não é autista.
Ressalta-se que o autismo não significa “falta de inteligência”, visto que existem
autistas em todos os níveis de QI (alto, médio e baixo).
A principal barreira enfrentada pelo autista é a dificuldade em se comunicar e
expressar o seu modo distinto de interpretar o mundo ao seu redor.
A dificuldade em estabelecer contatos sociais e comportamentos repetitivos são
sintomas mais comuns em todos os graus da doença.
De modo geral, a pessoa autista pode apresentar:
− Falta de contato visual com outras pessoas.
− Irritabilidade.
− Repetição de palavras (sem que haja um sentido).
− Imitação involuntária de movimentos.
− Hiperatividade.
− Dificuldade de aprendizagem.
− Dificuldade em lidar com mudança (de planos, de casa, de horários, de
escola, etc.).
− Atraso na capacidade da fala.
37. 32
Autismo – uma Leitura Espiritual
− Manifestação de emoções extremas (em ocasiões onde não deveriam
acontecer).
− Perda da fala.
− Falta de atenção.
− Interesse intenso em coisas específicas.
− Depressão.
− Falta de empatia.
− Ansiedade.
− Costume de andar na ponta dos pés.
− Tiques e manias nervosas.
Os sintomas podem variar de acordo com o nível do autismo, ou seja, não é
necessário que uma pessoa apresente todos os sintomas para ser considerada autista
38. 33
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.4.2. Principais peculiaridades Cognitivas
O termo autismo caracteriza uma síndrome comportamental descrita inicialmente
em 1943 por Leo Kanner (Kanner, 1943). Nas décadas seguintes, o autismo se fortaleceu
como uma entidade diagnostica e passou a ser estudado por muitos pesquisadores.
Dados recentes apontam para uma prevalência de autismo que vai de 1% da
população pediátrica (Baird, 2006) até 1 para cada 68 nascidos (Cdc, 2016),
demonstrando ser um transtorno bastante frequente.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), como hoje denominado, e
considerado uma desordem neurobiológica de múltiplas etiologias.
Caracteriza-se por uma tríade de prejuízos nas áreas de interação social,
comunicação e padrões repetitivos de comportamentos e interesses (Wing, 1979).
Esses sintomas podem surgir desde os primeiros meses de vida ou após um
período de desenvolvimento normal (com regressão no desenvolvimento).
O grau de severidade dos sintomas descritos acima é variável, o que determina um
grupo muito heterogêneo de pessoas com o mesmo diagnostico.
Em comum, todos os portadores de um diagnóstico de TEA apresentam a tríade
de Wing, sendo o déficit do desenvolvimento social a marca deste transtorno.
Diante deste cenário, e fundamental que se compreenda quais são as principais
peculiaridades cognitivas nos portadores do TEA. Tal entendimento permitirá analisar de
que forma estas especificidades impactam na aprendizagem e quais estratégias poderão
ser utilizadas para melhor incluir e adaptar os portadores de TEA.
Peculiaridades cognitivas presentes no TEA, considerando os sintomas típicos do
TEA, algumas características inerentes a este diagnostico trazem dificuldades na rotina
dos portadores do transtorno.
A dificuldade para mudanças (rigidez), a tendência a hiperfocalização nos
assuntos repetitivos, a falta de motivação para compartilhar socialmente interesses e as
dificuldades de comunicação verbal e não verbal já trazem em si uma grande dificuldade
para o dia a dia escolar.
Somam-se as características descritas acima, algumas peculiaridades que serão
descritas a seguir e que aumentam o desafio para uma inclusão eficiente dos portadores
do TEA.
39. 34
Autismo – uma Leitura Espiritual
Dentre elas podemos destacar:
i. Percepção do rosto humano
Estudos de rastreamento ocular (Van Der Geest et al., 2002) demonstram que os
portadores de autismo apresentam uma tendência a não concentrar o seu olhar na região
dos olhos das pessoas em situações sociais (em comparação com pessoas que não estão
no espectro do autismo) e, com isto, demonstram prejuízo na obtenção de informações
socialmente relevantes.
De forma semelhante, estudos de ressonância magnética de crânio em portadores
de TEA demonstram uma menor ativação das regiões cerebrais relacionadas a
identificação da face humana (Hernandez etal., 2009).
Diante deste fato, e recomendado que seja feito um trabalho de estimulação com
o objetivo de estimular o portador de TEA a se concentrar prioritariamente no rosto
humano, tal como a perceber as emoções envolvidas em cada expressão.
ii. Falhas na Teoria da Mente
Outra característica cognitiva classicamente associada aos quadros de autismo e a
dificuldade para utilizar a Teoria da Mente. Definida como a capacidade de
compreender os estados mentais dos outros (sentimentos, desejos e intenções), a
Teoria da mente é uma característica humana que nos possibilita predizer ações e
comportamentos (Siegiel & Beattie, 1991).
Uma falha desta habilidade prejudica o entendimento do jogo social, das
expectativas com relação a emoções do outro, além do prejuízo no entendimento das
“entrelinhas”. Esta falta de alinhamento com o outro determina um comportamento
frequentemente inadequado e ingênuo.
Por vezes a inadequação social se manifesta como sinceridade excessiva,
respostas muito diretas (e até rudes), mesmo que esta não seja a intenção.
Certamente, e fundamental levar em conta as dificuldades de Teoria da Mente
durante o processo de inclusão escolar e, com isso, encontrar alternativas para explicar e
mediar a interação social dos portadores de TEA com os seus pares.
40. 35
Autismo – uma Leitura Espiritual
iii. Fraca coerência central
Messer (1997) propôs a ideia de que no desenvolvimento típico existiria uma
tendência a compreensão dos objetos como um todo, ao invés das partes dos objetos.
Em 1995, Happe sugeriu que as pessoas portadoras de TEA teriam uma tendência
inversa, isto e, uma tendência a processar as informações a partir da percepção de parte
de objetos (ao invés do todo).
Este fato poderia ser compreendido como um “estilo cognitivo”, mas que traria
prejuízo na leitura social e na Teoria da Mente. Esta falha - perceber parte de objetos ao
invés do todo - foi denominada Fraca Coerência Central (Happe & Frith, 2006).
E fundamental que os profissionais e os pais que lidam com os portadores de TEA
compreendam esta tendência a fixação em detalhes (em detrimento do todo).
Na pratica, uma criança pode se fixar no logotipo do carro que aparece em uma
figura, cuja proposta pedagógica seja elaborar uma narrativa sobre a cena e, com isso,
deixa de compreender e elaborar a tarefa.
De forma semelhante, alguém que entra em um ambiente e se concentra no modelo
do ar refrigerado - ao invés de processar o que está acontecendo naquele momento, perde
a leitura social daquela cena.
Diante destes dados, e importante que o professor se antecipe no sentido de
orientar o aluno a perceber o objeto ou a cena como um todo, entendendo o que e relevante
e qual a informação principal do que estiver sendo tratado.
iv. Transtorno do processamento sensorial
Segundo Hazen (2014), os sintomas relacionados ao processamento de
informação sensorial estão presentes em 69% a 95% dos portadores de TEA.
Estes sintomas podem ser descritos como hiper ou hiposensibilidade sensorial e
podem acometer diferentes modalidades sensoriais (principalmente audição, tato e
olfato).
A inclusão deste tópico nos critérios diagnósticos do DSM-5 (APA,2013)
demonstra a relevância do tema no TEA.
E frequente observarmos, na população com diagnostico de TEA, um desconforto
com sons específicos, como liquidificador, furadeira ou choro de bebes.
Comum também e o desconforto tátil na cabeça (para lavar ou cortar cabelo) ou
com determinadas roupas.
41. 36
Autismo – uma Leitura Espiritual
Em contrapartida, algumas pessoas portadoras de TEA demonstram
hiporesponsividade a estímulos, como por exemplo, uma percepção reduzida de estímulos
dolorosos ou uma busca constante de estímulos proprioceptivos.
Não é difícil imaginar que estas peculiaridades sensoriais possam trazer muitas
consequências negativas no dia a dia.
No ambiente escolar, a criança pode apresentar alteração de humor ou birras
frequentes secundarias ao desconforto sensorial.
Carla Gikovate - Autismo-Caminhos-para-a-Inclusão – Cap. 1 - Transtorno do
Espectro do Autismo: Compreendendo para Melhor Incluir
42. 37
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.4.3. Mitos x Verdades
O autismo tem ganhado muita repercussão mas ainda há vários mitos sobre essa
condição, então veja abaixo alguns frequentes e que vão te esclarecer muitas coisas:
❌Mito: Autismo é uma doença mental.
✅Verdade: Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a forma como
uma pessoa se comunica, interage socialmente e processa informações sensoriais.
❌Mito: Todas as pessoas com autismo têm habilidades especiais.
✅Verdade: Embora algumas pessoas com autismo possam ter habilidades especiais em
áreas específicas, como memória ou matemática, nem todas as pessoas com autismo têm
essas habilidades.
❌Mito: Toda pessoa com autismo é um gênio.
✅Verdade: Existem, sim pessoas com autismo que apresentam habilidades acima da
média, porém são uma minoria, por volta de 10% dos casos. Essas pessoas, apesar destas
habilidades, podem apresentar um déficit grande nas demais áreas.
❌Mito: Pessoas com autismo não têm emoções.
✅Verdade: Pessoas com autismo experimentam emoções como qualquer outra pessoa.
No entanto, eles podem ter dificuldade em expressar suas emoções ou compreender as
emoções dos outros.
❌Mito: Pessoas com autismo não falam e não conseguem entender o que é dito.
✅Verdade: Muitas pessoas com autismo podem não falar, mas não quer dizer que não
entendem o que é dito.
❌Mito: Autismo é causado por vacinas.
✅Verdade: A ideia de que as vacinas causam autismo foi amplamente desacreditada.
A maioria dos especialistas concorda que não há relação entre as vacinas e o autismo.
Diversos trabalhos científicos comprovam que não
43. 38
Autismo – uma Leitura Espiritual
❌Mito: O Autismo é contagioso.
✅Verdade: O autismo não é uma doença e sim uma condição neurológica, dessa forma
não é contagioso.
Uma pessoa não contrai autismo pelo contato.
❌Mito: Há tratamentos capazes de curar o autismo.
✅Verdade: O autismo não tem cura, mas existem tratamentos que podem amenizar os
sintomas e trazer melhor qualidade de vida.
Não existe um medicamento para o autismo, e sim para os possíveis sintomas.
A terapia mais indicada é a comportamental, pela eficácia e comprovação científica.
❌Mito: Pessoas com autismo não querem se relacionar com os outros.
✅Verdade: Embora algumas pessoas com autismo possam ter dificuldade em se
relacionar socialmente, muitas pessoas com autismo desejam ter amigos e interagir com
outras pessoas.
❌Mito: As pessoas com autismo se isolam por falta de afeto dos seus pais.
✅Verdade: O autismo é uma condição neurológica, não tem relação nenhuma com a falta
de afeto. O isolamento ocorre pelas alterações ocasionadas pelo autismo, como à
dificuldade de relacionar-se, dentre outras.
❌Mito: Pessoas com autismo gritam e choram, ou se jogam no chão e apresentam
outros comportamentos similares; isso quer dizer que são mal educadas.
✅Verdade: As pessoas com autismo podem gritar, chorar e se jogar no chão, não por
falta de educação, mas sim por uma sobrecarga sensorial, dificuldade de comunicação e
outros fatores.
❌Mito: Todas as pessoas com autismo apresentam movimentos repetitivos, como
se balançar.
✅Verdade: Esse é um dos comportamentos que mais aparecem nas mídias. Existem
pessoas com autismo que apresentam este comportamento, porém não são todas.
44. 39
Autismo – uma Leitura Espiritual
❌Mito: Pessoas com autismo não tem sentimentos e não gostam de carinho.
✅Verdade: Para algumas pessoas com autismo o contato físico pode ser muito
desconfortável, decorrente de uma hipersensibilidade, aparentando que elas não gostam
de carinho. O autismo não faz com que a pessoa deixe de ter sentimentos, mas pode fazer
com que ela tenha dificuldade para se expressar.
❌Mito: Pessoas com autismo não podem participar de atividades em sociedade.
✅Verdade: A inclusão social é um direito de todos. É fundamental que as pessoas com
autismo estejam inseridas na sociedade, mas com acessibilidade, adaptações do ambiente
e as devidas ferramentas para que possam usufruir dessas vivências. Um maior
conhecimento sobre o assunto pode ser favorável ao convívio, especialmente em sua fase
inicial.
❌Mito: Pessoas com autismo são agressivas e devem ser isoladas.
✅Verdade: Algumas pessoas com autismo apresentam “agressividade”, mas não todas.
Quando isso ocorre, é consequência dos déficits ocasionados pelo autismo, como a
dificuldade de se comunicar, e não pelo intuito de machucar o outro. Nesse caso é
necessário a busca de tratamento especializado.
❌Mito: Após certa idade, pessoas com TEA não conseguem mais aprender as
atividades envolvidas na higiene bucal.
✅Verdade: Nenhuma atividade tem prazo para ser conquistada. Pessoas com TEA
aprendem em qualquer idade, basta ter alguém que queira ensiná-las! Cada um aprende
em seu tempo, e é preciso respeitar esse tempo. Treinar para cuspir, treinar para abrir a
boca, treinar para escovar os dentes, treinar para passar o fio dental, e assim
sucessivamente, tornam possível o aprendizado e a colocação em prática destas
importantes atividades.
❌Mito: Todas as pessoas com autismo têm alergia alimentar.
✅Verdade: Algumas pessoas com autismo têm alergia alimentar e fazem uma dieta
específica, dessa forma se sentem melhor, e consequentemente o seu comportamento
pode melhorar. Porém, a melhora é por minimizar os sintomas da alergia, e não porque
está diminuindo o autismo.
45. 40
Autismo – uma Leitura Espiritual
❌Mito: Autismo afeta mais meninos do que meninas.
✅Verdade: Embora o autismo seja diagnosticado com mais frequência em meninos do
que em meninas, é possível que o transtorno seja subdiagnosticado em meninas devido a
diferenças nos sintomas e na apresentação.
Roberto Lucio – Autismo – mitos e verdades -
https://www.instagram.com/p/Cr4KtU1PSvQ/ - 05/05/2023
Adriana Moral – Centro LUMI – PRCEU – USP - Entendendo o Autismo -
www.iag.usp.br/~eder/AUTISMO
46. 41
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.4.4. Não É
DEFINIÇÃO QUANDO
SURGE
SEMELHANÇA DIFERENÇAS
Hiperlexia Habilidade
precoce em
decodificar
palavras sem
a presença de
instrução
formal.
Entre dois e
três anos de
idade,
demonstrando
capacidade de
leitura antes
dos cinco.
Existe
comportamento
social atípico, o
que faz com que
seja confundida
com a Síndrome
de Asperger
Tendem a perder as
características
autistas conforme
desenvolvem as
habilidades de
linguagem.
Hiperatividade Estado
excessivo de
atividade
mental ou
físico
Durante a
Infância e afeta
principalmente,
o sexo
masculino
Em pessoa com
TEA, a
hiperatividade é
ritmada.
Não dificuldade de
socialização,
apenas de
concentração, e, de
aprendizado.
Síndrome de
Rett
Transtorno
com causa
genética
associada a
mutações de
gene
Entre os 2 e 4
anos de vida
Comprometimento
da linguagem,
dificuldade de
interação social
nos anos pré-
escolares
Desaceleração do
crescimento
craniano, perda de
habilidades
manuais
voluntárias
adquiridas
anteriormente.
Dislexia Dificuldade
nas áreas de
leitura, escrita
e soletração
Identificado
tardiamente
durante a
alfabetização
Ocorrem
incapacidades
linguísticas
Não há presença de
comportamentos
repetitivos e
estereotipados.
Revista Ler & Saber – Edição – Autismo
47. 42
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.4.5. Dificuldades cotidianas do Estudante com TEA
− Organizar e planejar o tempo, que inclui tarefas, trabalhos, materiais,
provas, metas e objetivos de aprendizagem;
− Compreender e interpretar linguagens complexas, figuradas, literais e
abstratas (metáforas, sarcasmos, ironias, piadas, duplos sentidos, etc.),
inclusive questionamentos amplos, sem orientação específica;
− Interpretar corretamente comportamentos não verbais, expressões faciais,
emoções, intenções, linguagem corporal e entonação de voz, bem como
aplicá-los à sua prática social;
− Manter atenção e motivação constantes quando se tratam de atividades
distantes dos seus temas de interesse;
− Realizar atividades grafomotoras (grafia ilegível, maior tempo para
escrever e realizar uma prova, etc.), devido às alterações na coordenação
motora fina;
− Executar várias atividades ao mesmo tempo;
− Manter contato visual;
− Lidar com estímulos sensoriais, pois possui hipersensibilidade sensorial
(luzes muito intensas, ruídos extremos, cheiros, sabores ou texturas
específicas, etc.);
− Flexibilizar suas rotinas e lidar com situações novas e inesperadas;
− Compartilhar interesses comuns;
− Reconhecer suas próprias habilidades e pontos fortes;
− Ter expectativas e cobranças excessivas e irreais;
− Saber como e quando buscar ajuda;
− Iniciar, manter e terminar uma conversa, devido às dificuldades na
interação e na comunicação;
− Identificar assuntos apropriados ao contexto, de maneira a manter a
conversa e não ser inconveniente;
− Estabelecer e manter relações pessoais constantes;
− Vivenciar mudanças;
− Realizar trabalhos em grupo;
48. 43
Autismo – uma Leitura Espiritual
− Apresentar oralmente e se expor diante de um público;
− Lidar com o isolamento social;
− Conseguir comunicar suas necessidades e preferências;
− Lidar com a falta de apoio e suporte educacional e social para enfrentar
situações novas e desconhecidas no ambiente acadêmico;
− Lidar com preconceitos, discriminação, falta de compreensão e aceitação;
− Julgar adequadamente a intenção do outro e se defender adequadamente;
− Identificar as exigências do professor e as expectativas dos colegas;
− Cumprir com suas obrigações acadêmicas no tempo adequado e apresentar
êxito no desempenho acadêmico
Algumas dessas dificuldades e preocupações fazem parte da vida de vários outros
estudantes, contudo, enquanto a maioria deles consegue se adaptar de modo
razoavelmente rápido às situações e contar com uma rede de apoio (amigos, colegas,
familiares, professores, coordenadores, etc.), o estudante com TEA nem sempre pode
dispor desse apoio, além do fato de, muitas vezes, não possuir suporte educacional
adequado às suas necessidades.
Tais situações podem acarretar aumento da ansiedade, da baixa autoestima, do
isolamento social, da dificuldade de aprendizagem e, consequentemente, levar ao baixo
desempenho acadêmico, o que pode levar a reprovações sucessivas e até mesmo na
desistência do curso.
Adriana Moral – Centro LUMI – PRCEU – USP - Entendendo o Autismo -
www.iag.usp.br/~eder/AUTISMO
49. 44
Autismo – uma Leitura Espiritual
2.5 O Autismo e a Família - Impactos
O Autismo se constitui em uma síndrome comportamental de etiologias múltiplas,
que compromete o processo do desenvolvimento infantil (Rutter et al., 1996). Assim, ele
pode ser compreendido como um distúrbio global de desenvolvimento que envolve
alterações severas e precoces em três áreas:
1) comprometimento qualitativo da interação social;
2) comprometimento da comunicação e;
3) padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades.
Os transtornos que possuem em comum estas alterações são denominadas
Transtornos do Espectro Autístico (TEA).
Eles são subdivididos pelo DSM – IV (Associação Americana de Psiquiatria,
APA, 2002) em cinco categorias diagnósticas:
− Transtorno Autista,
− Transtorno de Rett,
− Transtorno Desintegrativo da Infância,
− Transtorno de Asperger e
− Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra Especificação, sendo o
Transtorno Autista o quadro prototípico desta categoria.
Para os objetivos do presente artigo será utilizado o termo Autismo para se referir
aos Transtornos do Espectro Autístico de forma geral.
A taxa de prevalência do Transtorno Autista na população é de 0,5% (Fombonne,
2003), e sua ocorrência é de quatro a cinco vezes maior no sexo masculino (Associação
Americana de Psiquiatria, APA, 2002).
O quadro é associado à deficiência mental em aproximadamente 75% dos casos
(Facion et al., 2002).
Por definição, os sintomas do Transtorno Autista se fazem presentes antes dos 36
meses de idade e o transtorno é passível de diagnóstico em torno dos 18 meses de idade
(Associação Americana de Psiquiatria, APA, 2002).
A maioria dos casos que apresenta a tríade de dificuldades em grau elevado
demonstra os primeiros sintomas logo no início da vida.
Assim sendo, desde cedo essas características já exercem impacto no cotidiano
das famílias e nas relações entre seus membros.
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Autismo – uma Leitura Espiritual
2.5.1. Impacto do Autismo na Família como um todo
Diante do início da apresentação dos sintomas de Autismo, o contexto familiar
sofre rupturas imediatas na medida em que há interrupção de suas atividades rotineiras e
transformação do clima emocional no qual se vive.
A família se une em torno das dificuldades de sua criança, sendo essa mobilização
determinante no início da adaptação.
As dificuldades apresentadas pela criança tornam muitas vezes inviável a
reprodução das normas e dos valores sociais na família e, consequentemente, a
manutenção do convívio social (Sprovieri e Assumpção,2001).
A não cessação da sintomatologia com o tempo leva a dinâmica familiar a
mobilizações que vão desde aspectos financeiros até aqueles relacionados à qualidade de
vida física, psíquica e social dos cuidadores diretos (Favero e Santos, 2005).
Esses comprometimentos em etapas precoces do desenvolvimento tendem a
perdurar ao longo do ciclo vital da família.
Portanto, trata-se de um processo crônico, com o transtorno se estendendo pelos
diferentes períodos evolutivos do indivíduo. O curso constante do quadro de Autismo,
caracterizado por déficits claros, estáveis e previsíveis ao longo do tempo aumenta o
potencial de exaustão familiar (Rolland, 2001).
Além disso, as características comportamentais específicas do transtorno,
somadas à gravidade do quadro, podem se constituir em estressores em potencial para
familiares e/ou cuidadores (Ingersoll e Hambrick, 2011).
Considerando-se que a família é uma instituição social significativa, e que a
presença de um membro com Autismo repercute em cada membro e em todos os
relacionamentos familiares (Bradford, 1997), cabe investigar os fatores de impacto e
adaptação a este transtorno.
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Autismo – uma Leitura Espiritual
2.5.2. Impactos no Casal
Este subsistema inclui interações entre cônjuges ou pessoas significativas que
funcionam como parceiros conjugais.
Diante da presença de um filho com Autismo, o subsistema conjugal pode ser
afetado na medida em um dos membros do casal apresenta sintomas de depressão ou nível
de estresse elevado.
Nesse contexto, podem surgir mais conflitos entre os pais, afetando a satisfação
conjugal. Além disso, o nível de estresse de um dos parceiros pode funcionar como
preditor da eclosão de sintomas depressivos no outro membro do casal.
De forma geral, parece haver um impacto global negativo detectável no
ajustamento conjugal, mas esse impacto é pequeno e muito menor do que seria esperado,
dadas as suposições anteriores sobre a suposta inevitabilidade dos impactos nocivos das
crianças com Autismo no bem estar da família (Risdal e Singer, 2004).
2.5.3. Impactos Pais/Filhos
No caso das mães de crianças com Autismo, especificamente, os fatores
indicativos de maior vulnerabilidade ao estresse são mães mais velhas, bem como
crianças mais novas e menos responsivas nas interações sociais (Duarte et al., 2005).
As mães relatam ainda maior estresse quando os filhos são mais irritáveis,
apresentam hiperatividade, ou comportamentos opositivos, incapacidade de cuidar de si
ou de se comunicar (Tomanik et al.,2004).
2.5.4. Impactos entre Irmãos
Este subsistema se refere às interações entre os irmãos e irmãs. Avaliando-se o
impacto da presença de uma criança com Autismo em seus irmãos, não foram encontradas
evidências de estresse nessa população.
Isso sugere que o ajustamento dos irmãos depende mais de outros fatores. O nível
de estresse em irmãos de autistas parece estar mais associado à qualidade das relações
familiares do que à presença ou não de um irmão com Autismo (Smith e Elder, 2010).