O documento descreve uma aldeia portuguesa com poucas casas, ruas e um poço central. Fala também sobre a paisagem tranquila e isolada da região de Alentejo e como as casas antigas refletem a história de longa data da região.
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.Daniel Amaral
Poesias de Daniel Amaral. Essas são as poesias que há anos publico no RECANTO DAS LETRAS em: http://www.recantodasletras.com.br/autores/DanielAmaral e no meu site em: http://www.amorepoesia.org.
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.Daniel Amaral
Poesias de Daniel Amaral. Essas são as poesias que há anos publico no RECANTO DAS LETRAS em: http://www.recantodasletras.com.br/autores/DanielAmaral e no meu site em: http://www.amorepoesia.org.
Momento de História: Decorria o ano de 1869, quando foi editado um pequeno livro, com 5 Capítulos e 24 páginas, escrito por A. de Oliveira Pires, intitulado "O Funccionalismo", que foi dedicado pelo autor ao "Funccionalismo Portuguez".
Reinava, então, D.Luís e os Governos sucediam-se a um ritmo acelerado, com reformas assentes "no aumento da receita através do aumento dos impostos" e na "reforma radical da administração pública", sendo presididos, por diversas vezes, por Sá da Bandeira, e tendo como ministro da Fazenda José Dias Ferreira (este nome lembra-vos alguém?). O descontentamento de muitos foi então aproveitado pelo Marechal Saldanha para fazer o "golpe militar da Ajuda", em 19 de Maio de 1870.
Lendo este livrinho, pode reter-se a grande similitude com a situação actual do País e com as medidas que estão a ser adoptadas pelo Governo. E só (!) passaram 144 anos...
Escrevia o autor, na "Introdução":
"A falsa idéa de que o funccionalismo concorreu para a situaçao deploravel da fazenda publica, por ter absorvido por muitos annos grande parte das rendas do estado, levantou no paiz um antagonismo de classes, que em circumstancias menos pacificas do que as que vamos atravessando poderia trazer consigo bem graves consequencias.
Uma parte da imprensa, como se pretendera lisongear paixões, tem appoiado as manifestações contrarias ao funccionalismo"...
Vale a pena abrir o Anexo e ler este pequeno livro.
função publica em 1869 - uma relíquia da historia
Governo recruta dois especialistas de topo para renegociar Memorando da
Troika
Finalmente podemos dormir descansados: o Governo, através de Carlos Moedas,
acaba de recrutar 2 ESPECIALISTAS EXPERIENTES que finalmente irão redesenhar
o mal desenhado memorando de entendimento.
Para que possam avaliar o elevado grau de experiência destes especialistas,
anexo os respetivos despachos de nomeação e as sublimes notas curriculares.
Agora sim, a Troika que se cuide com estes novos, mas experientes
especialistas e hábeis negociadores...
3. Aldeia
Nove casas
duas ruas
um largo
ao meio do largo
um poço de água fria.
Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombros bravos
e acordam ecos no descampado
Manuel da Fonseca
4.
5.
6. tenho duas casas paralelas
a circular em planos paralelos
nunca se tocam?
por cima das nuvens por baixo da terra
as duas casas deslocam-se
em cartilagens invisíveis aproximam-se
da honra paralelas aproximam-se
do aroma paralelas aproximam-se
do encontro marcado do infinito
fixo dois sóis abro os dois braços
e com uma casa em cada braço
aponto as duas casas aos dois horizontes
e tento juntá-las
com o movimento magnético
da linha escrita nas palmas
Paulo Condessa
o céu dentro da boca
7.
8. ALENTEJO
A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...
Miguel Torga
Diário XII, 20 de Outubro de 1974
9.
10.
11. Casas no sol
A casa é branca, branca de cal (que de todos os brancos é o
único que é branco), debruada de azul, por ser à beira-mar a cor da
alegria. Branca e fechada – não vá o sol que arde nos telhados
penetrar insidiosamente por alguma fresta e incendiar o silêncio
melindroso da alcova. A obscuridade quase não consente a
contemplação do rosto infantil que ali dorme até ao sol ter
amansado. Só então desperta e se refugia nos braços que já o
esperam.
Por este rapazito serias capaz de correr o mundo a pé-
coxinho, se ele to pedisse, ou de entrar pelo buraco da fechadura
só para o veres dormir.
Eugénio de Andrade
Vertentes do Olhar
12.
13.
14. Toda a aldeia era feita de um tempo muito antigo.
Nas casas, nas ruas, nos usos e nos costumes.
Mesmo os corpos dos aldeões, no jeito especial de
os utilizarem, tinham também um toque rude e
primitivo. O modo de andar, por exemplo, era
desengonçado e langão, como se levassem às costas
a sua carga de séculos. Mas era sobretudo nas casas
que o peso do tempo mais se sentia. A gente
olhava-as e via logo que tinham sido casas
construidas no eterno.
Vergílio Ferreira
Uma Esplanada sobre o Mar
15.
16.
17. O sol às casas, como a montes,
Vagamente doura.
Na cidade sem horizontes
Uma tristeza loura.
Como a sombra da tarde desce
E um pouco dói
Porque quando é tarde
Tudo quanto foi.
Nesta hora mais que em outra choro
O que perdi.
Em cinza e ouro o rememoro
E nunca o vi.
Felicidade por nascer,
Mágoa a acabar,
Ânsia de só aquilo ser
Que há de ficar –
Sussurro sem que se ouça, palma
Da isenção.
Ó tarde, fica noite, e alma
Fernando Pessoa
Tenha perdão.
Cancioneiro
18.
19.
20. Inverno, manhã cedo. A luz que banha
A paisagem é gélida e cinzenta;
A vaga pompa do cenária ostenta,
Ao largo, as serras húmidas de Espanha.
Hortas, vinhedos e a carcaça estranha
De Monsaraz, numa ascensão violenta;
A erva tenrinha os gados apascenta,
Que em tons de bronze a terra desentranha.
E eu olho essa paisagem dolorida,
Testemunha que foi da minha vida,
Povoada agora de visões errantes....
Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,
Que os seus olhos longínquos, rasos de água,
São hoje os mesmos que me olhavam dantes.
Antonio de Macedo Papança
(Conde de Monsaraz)
21.
22.
23.
24. Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro
25.
26.
27.
28. Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver o Universo …
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura …
Alberto Caeiro
29.
30.
31. MIRADOIRO
Não sei se vês, como eu vejo,
Pacificado,
Cair a tarde
Serena
Sobre o vale,
Sobre o rio,
Sobre os montes
E sobre a quietação
Espraiada da cidade.
Nos teus olhos não há serenidade
Que o deixe entender.
Vibram na lassidão da claridade.
E o lírico poema que me acontecer
Virá toldado de melancolia,
Porque daqui a pouco toda a poesia
Vai anoitecer.
Miguel Torga
Diario XIV, 5 de setembro de 1986