As empresas brasileiras possuem capacidades internas para lidar com os desafi...
Padrões para Responsabilidade Social de Empresas
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Normas e certificações:
Padrões para Responsabilidade Social de Empresas
Beat Grüninger e Fabiana Ikeda de Oliveira*
Empresas, comunidades e indivíduos ainda estão aprendendo a viver no
mundo da globalização, da transformação tecnológica e das transições
políticas. A privatização do setor público, a liberalização do mercado e a
comunicação on-line resultaram na transferência massiva de bens e poder ao
setor empresarial. O papel das empresas mudou significativamente. Normas e
certificações na área da Responsabilidade Social Empresarial vêm sendo
desenvolvidas para que empresas possam responder a desafios como
ampliação de responsabilidades, exigência de transparência, perenidade em
longo prazo e concorrência acirrada, trazidos pela nova realidade em que
vivemos.
Introdução
Este texto tem como objetivo fornecer aos leitores informações sobre normas e
certificações da área da responsabilidade social de empresas, seu
desenvolvimento e aplicação. Dentro de um contexto mais amplo de
padronização, pretende-se estabelecer vínculos com a gestão estratégica da
responsabilidade social de empresas.
A primeira parte descreve alguns conceitos utilizados, bem como a importância
da padronização.
A segunda parte trata com maior profundidade a SA8000 (Social Accountability
8000) e a AA1000 (AccountAbility 1000), atualmente considerados os dois
principais modelos padronizados de responsabilidade social empresarial.
No anexo, descrevemos alguns exemplos de normas e certificações, divididos
em quatro áreas principais: qualidade, meio ambiente, saúde e segurança e
sustentabilidade.
*
Beat Grüninger, Bacharel em Filosofia pela Universidade de Zurique, Suíça, com pós-
graduação em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pela ETH Zurique. Treinado como
auditor social AA1000 pela SGS/EQ Management/Forum for the Future, Londres, e membro
associado do ISEA, Institute of Social and Ethical Accountability e ISBEE – International Society
of Business, Economics and Ethics. Conselheiro da GRI – Global Reporting Initiative – para
indicadores relacionados ao desenvolvimento social de comunidades. Sócio-fundador da B&SD
Desenvolvimento Econômico e Social Ltda.
Fabiana Ikeda de Oliveira, Bacharel em Administração de Empresas pela EAESP/FGV.
Treinada como Auditora Social SA8000 pela SAI – Social Accountability International.
Conselheira da GRI – Global Reporting Initiative – para revisão de indicadores econômicos,
sociais e ambientais integrados. Gerente de projetos de Responsabilidade Social Empresarial
da B&SD Desenvolvimento Econômico e Social Ltda.
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Contexto e conceitos utilizados
Normas e certificações são padrões, isto é, conjuntos amplamente aceitos de
procedimentos, práticas e/ou especificações.
As certificações diferem-se de normas basicamente pela conferência de
atestados de conformidade a um conjunto de regras seguido por determinada
organização, após a realização de sua verificação e auditoria por uma terceira
parte ou órgão certificador.
Na área da responsabilidade social, as normas e certificações vêm atender a
uma demanda crescente por transparência e prestação de contas,
fundamentais para qualquer processo de gestão socialmente responsável.
A importância de normas e padrões está principalmente na definição e
concordância de termos e procedimentos, o que permite uma certa
comparabilidade da empresa com o restante do mercado.
Outras vantagens trazidas pela padronização são:
Consistência de procedimentos;
Desenvolvimento de sistemas de gerenciamento para garantir
cumprimento e auditoria;
Claras definições para divulgação pública de informações auditadas;
Mecanismos de melhoria contínua;
Incentivo ao mercado para o “jogo limpo”.
A SA8000 e a AA1000 foram escolhidas para integrar este texto dentre uma
variedade de padrões existentes que cobrem aspectos de sustentabilidade,
como mostra o quadro abaixo:
Nome do padrão Foco do padrão Grupo Foco
SA8000 (Social
Accountability, SAI)
Condições de trabalho Todas as empresas
AA1000 (Accountability,
ISEA)
Diálogo com stakeholders Organizações com
ou sem fins lucrativos
Forest Stewardship Council
FSC
Meio ambiente,
comunidades locais
Empreendimentos
agroflorestais
Marine Stewardship Council
MSC
Meio ambiente, animais Pesca
ISO-Norms (9000, 14000,
etc.)
Qualidade, meio ambiente Todas as empresas
Global Reporting Initiative
GRI
Qualidade em relatórios
de sustentabilidade
Todas as empresas
Tabela 1: Padrões globais com critérios sociais
Mais informações sobre padrões existentes podem ser encontradas no anexo.
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Normas e certificações estão inseridas num contexto de gerenciamento
estratégico da responsabilidade social empresarial que, tendo como base a
transparência, valores éticos e diálogo, considera todas as partes envolvidas
ou impactadas pela empresa e visa a melhoria das relações com estas partes.
A figura 1 demonstra como as normas e certificações são integradas num
modelo de gestão da responsabilidade social empresarial, com base no
triângulo da sustentabilidade. Cada lado deste triângulo representa um aspecto
de sustentabilidade: ambiental, social e econômico. A sustentabilidade
econômica, sendo a base do triângulo, representa a base da organização.
Apresentamos para cada lado uma certificação que apóia o desenvolvimento
da organização frente ao aspecto social, ambiental e econômico. A figura
demonstra, neste caso, a convivência e complementaridade de várias
certificações e normas.
Figura 1: Complementaridade de normas e certificações na gestão integrada
A norma de processo AA1000 pode ser vista em combinação com o GRI como
o “coração” do triângulo, por englobarem o gerenciamento com todos os
stakeholders e estabelecerem metas nos três lados do triângulo. A SA8000 é
uma certificação em sentido mais restrito. Por ser muitas vezes definida como
“norma de responsabilidade social”, gera uma expectativa além de seu foco de
relações com os trabalhadores.
A seguir, apresentamos primeiramente a SA8000, seguida pelo escopo mais
amplo da norma AA1000 que é, de forma mais justificada, padrão de
gerenciamento da responsabilidade social empresarial.
Certificação Ambiental:
ISO 14000
Certificação Social:
SA8000
Auditoria Financeira
AA1000 +
GRI
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SA8000
A SA8000 – Social Accountability 8000 – foi desenvolvida para garantir
determinados direitos de trabalhadores inseridos no cenário global, onde
empresas formam individualmente potências muitas vezes presentes em todos
os continentes, tanto através do uso de fornecedores locais quanto através da
implantação de estruturas fabris próprias em diferentes países.
A informação em tempo real que atravessa fronteiras graças ao
desenvolvimento das novas tecnologias fez com que consumidores de países
europeus e norte-americanos se conscientizassem sobre a realidade que se
esconde por trás de cada produto que compram. Pesquisas indicam que até
67% dos consumidores europeus pautam suas compras por critérios éticos e
ecológicos (Ogilvy & Mather, 1996).
No Brasil o movimento ainda não alcança números impressionantes. Pesquisa
encomendada pelo Instituto Ethos aponta que 16% dos consumidores
prestigiaram empresas consideradas socialmente responsáveis comprando
seus produtos ou falando bem delas para outras pessoas (Indicator Opinião
Pública, 2001).
De qualquer forma, no cenário internacional existe cada vez mais a cobrança
para que empresas demonstrem sua forma de trabalho em relação a
fornecedores. As responsabilidades das empresas se ampliam, tanto quanto os
riscos para sua imagem. Para citar um exemplo clássico, já em 1995, a
empresa Nike pôde sentir os efeitos e o poder da cobrança por uma postura
socialmente responsável. Uma denúncia de trabalho infantil na fabricação de
suas bolas de futebol no Paquistão fez o valor de suas ações despencarem
50%, o que só foi recuperado após 18 meses.
A resposta mais comum das empresas para prevenir este tipo de situação foi a
implantação de códigos de conduta. Tais códigos determinam o que é
permitido ou não no ambiente de trabalho, sendo mais ou menos abrangentes
conforme a empresa. Esta saída não se mostrou totalmente eficiente uma vez
que em muitos casos as regras não são facilmente entendíveis, transparentes
e principalmente auditáveis por uma terceira parte, o que garantiria a sua
aplicabilidade.
Refletindo sobre este cenário, um grupo de representantes de empresas,
sindicatos de trabalhadores e ONGs de direitos humanos, reunidos pela CEP -
Council on Economics Priorities, iniciaram uma discussão para a busca de uma
saída para a situação. A discussão acabou resultando na elaboração da norma
de certificação da responsabilidade social SA8000.
Lançada em outubro de 1997 pela CEPAA - Council on Economics Priorities
Accreditation Agency (braço certificador da CEP), atualmente chamada SAI –
Social Accountability International, organização não-governamental norte-
americana, SA8000 é o primeiro padrão global de certificação de um aspecto
da responsabilidade social de empresas. Tem como foco a garantia dos direitos
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dos trabalhadores envolvidos em processos produtivos, promovendo a
padronização em todos os setores de negócios e em todos os países.
Atualmente a SAI possui o papel de promover e estimular a implementação da
norma no mundo todo, além de credenciar organizações qualificadas para
verificação de conformidade (atualmente 7).
Funcionamento
Tendo como referência os padrões de gerenciamento da qualidade ISO9000 e
o padrão de gerenciamento ambiental ISO14001, a SA8000 segue a estrutura
que enfatiza a importância de sistemas de gestão para melhoria contínua.
A norma é composta por 9 requisitos que têm como base as Convenções da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das
Crianças. A certificação cobra ainda o cumprimento de leis locais. Os requisitos
que devem ser seguidos pela empresa são:
Trabalho infantil: não é permitido. Trabalho infantil é aquele executado
por pessoa menor de 15 anos (ou a idade mínima estabelecida pelas
leis locais, o que for mais restrito). Caso a empresa que estiver
buscando a certificação tenha em seus quadros menores de 15 anos,
ela não deve demiti-las. Deve nesse caso desenvolver e apresentar um
plano de trabalho em que esteja assegurado que a criança não se
submeta a trabalhos danosos à sua saúde e deve ainda ser garantida a
sua educação. Isto evita que as crianças despedidas se submetam a
trabalhos ainda mais penosos (já que geralmente estão inseridas num
ciclo de pobreza e o trabalho é a única forma de sobrevivência);
Trabalho forçado: não é permitido. É caracterizado trabalho forçado
aquele em que o trabalhador não recebe remuneração em troca de seu
esforço. Não é permitida a retenção de documentos pela empresa nem a
realização de depósitos por parte dos empregados;
Saúde e segurança: devem ser asseguradas. Manutenção de um
ambiente de trabalho saudável, foco na prevenção de acidentes,
manutenção de máquinas, utilização de equipamentos de segurança e
treinamentos regulares devem constar em um sistema de gerenciamento
de saúde e segurança da empresa.
Liberdade de associação e negociação coletiva: devem ser garantidas.
Os trabalhadores não devem necessariamente associar-se mas devem
ter o direito ao diálogo com a empresa. A comunicação direta deve ser
estimulada.
Discriminação: não é permitida. Especialmente nos casos de
contratação, remuneração, acesso a treinamento, promoção ou
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encerramento de contrato com base em raça, classe social, etnia, sexo,
orientação sexual, religião, deficiência, associação a sindicato ou
afiliação política.
Práticas disciplinares: não são permitidas. Punições físicas ou mentais,
coerção física e abuso verbal, pagamento de multas por não
cumprimento de metas são todas práticas não permitidas.
Horário de trabalho: não deve ultrapassar 48 horas semanais, além de
12 horas-extras semanais. Pelo menos um dia de descanso deve ser
providenciado num período de 7 dias. No caso do Brasil, a legislação é
mais restrita, portanto é a que deve ser aplicada (44 horas semanais).
Remuneração: deve ser suficiente para cobrir custos de moradia,
vestuário, alimentação, além de uma renda extra. A empresa deve ainda
assegurar que não sejam realizados contratos por trabalho executado ou
esquemas de falsa aprendizagem para evitar o cumprimento de
obrigações impostas por lei.
Sistemas de gestão: deve existir um sistema de gestão que garanta a
efetividade do cumprimento de todos os requisitos da norma, através de
documentação, implementação, manutenção, comunicação e
monitoramento da empresa em relação às questões abordadas na
norma, num processo de melhoria contínua.
Além da conformidade em relação a estes requisitos, existem características
primordiais que devem ser apresentadas pela empresa a ser certificada:
comprometimento da alta administração; enfoque na prevenção e não na
reação; conformidade com regras, códigos e leis locais; sistema para ações
corretivas; participação dos funcionários; enfoque na melhoria contínua e busca
de fornecedores éticos.
O tempo e custo para certificação variam conforme o tamanho da empresa e a
sua situação frente aos requisitos. Vale lembrar que os gastos não envolvem
somente a certificação em si mas também os processos e correções
necessárias para que a empresa alcance a certificação.
Principais benefícios da SA8000
Dentre os benefícios oferecidos pela SA8000, destacam-se: a melhoria do
relacionamento organizacional interno através da demonstração da
preocupação com o trabalhador e do estabelecimento de condições adequadas
de saúde e segurança; mais informação e portanto maior confiabilidade aos
compradores; melhor gerenciamento da cadeia produtiva; segurança para a
empresa e para seus investidores; além da consolidação de imagem e da
reputação da empresa como socialmente responsável.
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Pontos controversos da SA8000
O enfoque na melhoria contínua define a certificação como um processo. De
fato, a certificação tem a duração de 3 anos, com visitas semestrais durante
este período. Dessa maneira, a empresa que consegue certificar-se pode não
atender a todos os pontos da norma. Dependendo do rigor do auditor, ele
poderá classificar a não-conformidade como “menor”, nome dado àquela não
considerada grave e que não impede a certificação; ou não-conformidade
“maior”, que impede a certificação. No caso de uma não-conformidade “menor”,
deverá ser apresentado um plano de trabalho para melhoria deste ponto, que
por sua vez deverá apresentar progresso nas visitas semestrais posteriores.
A opinião do auditor frente a diferentes situações é crucial na certificação
SA8000. Aliada à complexidade das questões tratadas pela norma, a
possibilidade de parcialidade pode figurar entre um dos pontos mais sensíveis
da SA8000.
A busca por fornecedores éticos é outra principal dificuldade da norma na visão
das empresas. Isto porque a idéia de se montar cadeias de suprimento
socialmente responsáveis (pelo menos em relação aos direitos dos
trabalhadores) pode figurar quase como utópica em empresas de grande porte
onde existam centenas de fornecedores. A solução para este caso parece
ainda não ser clara. Porém, deve existir estímulo por parte das empresas
certificadas para que seus fornecedores também se engajem na obtenção da
certificação SA8000.
Outro fator que impede as empresas de aderirem à certificação é o custo
incorrido de certificação, que envolve não somente a contratação de uma
certificadora, mas também a implantação de sistemas de gestão e ações
corretivas necessárias. Nesse sentido, a empresa que já possui certificação de
qualidade de processos, produtos e serviços, tem mais facilidade para a
obtenção da SA8000, pois os sistemas de gestão exigidos pelas normas
podem ser integrados e existe ainda internamente a familiaridade com o
processo.
Qual o futuro da SA8000?
O grande desafio para SA8000 é conseguir a abrangência global pretendida. A
resposta aos seus pontos controversos apresentados aqui pode ser o primeiro
passo para alcançar tal desafio, e já vem ocorrendo num processo gradual de
amadurecimento. Este processo pode ser importante para a construção de uma
norma sólida, entendível e aplicável.
Vale ainda lembrar que a SA8000 abrange somente uma parte do universo da
responsabilidade social empresarial, a que trata da questão interna e em
relação aos trabalhadores. De maneira geral, este deveria ser o primeiro passo
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dado pela empresa que procura a responsabilidade social, pois a mudança real
é algo que deve partir de dentro para fora da empresa.
A empresa socialmente responsável que aderir à certificação provavelmente
não encontrará grandes dificuldades no alcance dos requisitos da norma. A
própria natureza da empresa socialmente responsável, de internalização de
valores que pautam sua prática de negócios, faz com que a certificação se
torne apenas a sistematização e a constatação de sua condição e não um
objetivo difícil de ser alcançado.
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AA1000: a responsabilidade social no gerenciamento da empresa
Nos últimos anos, presenciamos o crescente envolvimento de empresas em
ações de responsabilidade social. O relatório social anual e o balanço social
são as principais formas encontradas pelas empresas para prestar contas ao
público sobre sua atuação social.
Ao contrário do relatório financeiro, o relatório social não possui uma fórmula
definida ou padronizada. Por um lado, a indefinição é reflexo natural e saudável
dos primeiros passos do desenvolvimento de uma nova agenda empresarial.
Por outro, acaba trazendo o desentendimento e até mesmo a desconfiança do
público. Muitas vezes, as empresas não sabem como incluir aspectos éticos e
sociais em seu gerenciamento, o que torna ainda mais difícil medir e mostrar
com profundidade os resultados desta performance.
Com o objetivo de fornecer uma ferramenta prática para guiar organizações no
gerenciamento e na comunicação da responsabilidade social, o AA1000
(AccountAbility 1000) foi desenvolvido.
Lançado em novembro de 1999, em versão ainda não definitiva, o AA1000 tem
o desafio de ser o primeiro padrão internacional de gerenciamento da
responsabilidade social. A versão preliminar foi baseada em projetos pilotos de
várias empresas que realizavam seu planejamento estratégico e
gerenciamento visando uma política de responsabilidade ética e social.
O ISEA - Institute of Social and Ethical Accountability – é uma organização não-
governamental sediada em Londres, Reino Unido, que tem como missão
promover e dar suporte às organizações na implementação de sistemas de
gestão éticos e sociais. Em sua primeira experiência neste sentido, o ISEA
prestou assessoria e reuniu os vários casos organizacionais que resultaram no
AA1000.
Hoje, a organização possui um papel fundamental no aprimoramento e
divulgação do padrão: é ela quem monitora a formação de seus gestores, além
de promover e regulamentar o AA1000.
O AA1000 foi desenvolvido tendo o conceito da responsabilidade social, de
conhecimento e inclusão da opinião e necessidades de partes interessadas ou
impactadas em seu negócio na tomada de decisão, como princípio e base.
Busca ainda viabilizar a sustentabilidade econômica, social e ambiental da
organização.
O processo
A organização empresarial, não-lucrativa ou governamental que adota o
AA1000 deve seguir um processo contínuo de ciclos de atividades (veja figura
2), que teêm como principais passos a definição ou redefinição de valores,
desenvolvimento de metas de performance ética e social e avaliação e
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comunicação do desempenho em relação às metas desenvolvidas. O primeiro
passo é o estabelecimento de um estudo de escopo (“scoping study”), que
define os limites de processo e não é repetido no ciclo de auditoria regular: é
um passo introdutório e único.
Figura 2: Exemplo de ciclo de atividades dentro do processo AA1000
Fazem parte da norma oito princípios de qualidade especificados abaixo,
agrupados por área de referência:
Escopo e natureza do processo:
- Completude
- Materialidade
- Regularidade e oportunidade
Significado da informação:
- Garantia de qualidade dos dados
- Acessibilidade
- Qualidade da informação
Gestão de processo contínuo:
- Integração de sistemas
- Melhoria contínua
O próprio processo segue um ciclo de atividades definido, agrupadas nos cinco
elementos do processo AA1000:
Avaliar performance
ética e social atual
Identificar os
stakeholders
Iniciar primeiro
ciclo de auditoria
Consultar
stakeholders
CCoonnccoorrddaarr ssoobbrree
iinnddiiccaaddoorreess ee
oobbjjeettiivvooss
Processo de
melhoria
VVeerriiffiiccaaççããoo
eexxtteerrnnaa
CCoommuunniiccaarr
rreessuullttaaddoo
RReevviissaarr
eessccooppoo
MMeeddiirr
ppeerrffoorrmmaannccee
Identificar
assuntos
“Scoping”
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1. Planejamento (Planning)
2. Contabilidade social (Accounting)
3. Auditoria e relatoório social (Auditing and Reporting)
4. Integração dos sistemas (Embedding)
5. Diálogo com stakeholders (Stakeholder Dialogue)
Os elementos 4 e 5 são os fundamentos de todo o processo (veja figura 3). O
elemento da inclusão dos stakeholders é uma característica que difere o
processo AA1000 de todos os outros sistemas de gestão e de qualidade. Isto
quer dizer que a organização deve utilizar sua liderança para possibilitar e
ampliar seu diálogo com funcionários, clientes, fornecedores, comunidades,
governo, representantes do meio ambiente, acionistas, entre outros.
As opiniões e necessidades de cada stakeholder devem integrar o processo,
guiando a formação de metas organizacionais em relação a cada parte
interessada e de indicadores de performance para avaliação destas metas.
Figura 3: Elementos básicos do processo
É, portanto, justamente esse processo de sistematização do envolvimento de
stakeholders que legitima a empresa como sendo socialmente responsável,
tornando as informações, levadas a público pela organização, mais confiáveis.
O processo ainda possibilita o melhor gerenciamento de riscos potenciais em
relação a cada stakeholder, além de fazer com que a organização estabeleça
um melhor relacionamento com os diferentes públicos.
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Assim, a melhoria na performance de sustentabilidade da organização
traduzida em aumento da confiança, compromisso, lealdade e produtividade,
ocorre na medida em que ela exercita e sistematiza o diálogo com stakeholders
em relação aos impactos sociais, econômicos e ambientais que as atividades
da organização trazem e podem trazer.
Padrão ou certificação?
O AA1000, apesar de ser um padrão, não é uma certificação social em sentido
restrito. Ele não dita os níveis de performance que uma organização deve
alcançar, nem verifica conformidades segundo um ideal. O fato de o AA1000
não representar um “atestado” ao final do processo pode ser considerado um
dos principais fatores que dificultam o seu entendimento e a sua adesão por
parte das organizações.
Optou-se pela não certificação principalmente porque o estabelecimento de
metas específicas de responsabilidade social para cada organização em
relação a cada stakeholder varia muito de caso para caso e, portanto, fica difícil
a padronização. Por enquanto, o papel do AA1000 está mais focado na
promoção da aprendizagem contínua da organização.
ËÉ claro que, através da exigência para alcançar melhores práticas em relação
a cada stakeholder, o padrão AA1000 apóia a introdução e implementação de
outras normas e/ou certificações dentro do gerenciamento da organização.
Hoje, nos exemplos das empresas que aplicam o modelo AA1000,
encontramos uma forte tendência de aderir aos critérios doa Global Reporting
Initiative e, nos casos do Brasil, de estabelecer o preenchimento dos
Indicadores Ethos como parte essencial do processo. Idealmente, o processo
AA1000 leva a organização à implementação de certificações para todos os
aspectos da sustentabilidade (veja figura 1).
Estabelecimento e sistematização de diálogo
Se por um lado o estabelecimento e sistematização do diálogo entre
organização e seus stakeholders é considerado fundamental pelo AA1000,; por
outro, é um tópico ainda não completamente desenvolvido pelo padrão, -- isto
é, não existem procedimentos claramente estabelecidos e sistematizados pelo
AA1000 para o diálogo.
Esta é uma questão que levanta dúvidas e dificuldades para as organizações
que já adotaram o AA1000 como padrão para seu gerenciamento social e ético,
mas espera-se que, com o tempo, a troca de experiências que o ISEA promove
entre seus membros e a revisão e contínua melhoria proposta pela norma
possam equilibrar esta situação.
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Principais custos e benefícios para as empresas
Os principais custos com o processo são aqueles relacionados com: o tempo
de gerenciamento, que varia conforme o tamanho e complexidade da
organização e que deve estar, junto com as responsabilidades pelo andamento
do processo, diluído em todos os níveis da empresa; capital e recursos gastos
no suporte para alcançar a melhoria das metas estabelecidas; custos com
verificação, auditoria e elaboraçãofeitura de relatórios e sistemas de
comunicação com stakeholders.
O principal benefício trazido pelo AA1000 às organizações é o próprio
estabelecimento de um sistema de gerenciamento de sua responsabilidade
social e ética, o que pode gerar, entre outras conseqüências:
Prática “real” do conceito de responsabilidade social;
Imagem positiva e um melhor relacionamento com todos os públicos;
Capacidade de medir sucesso e benefícios por parâmetros mais
abrangentes (social, ambiental e econômico);
Transformação de sua abordagem de “compliance” para a de
sustentabilidade;
Visão geral do que está acontecendo na organização e
conseqüentemente possibilitar o gerenciamento pró-ativo de riscos
potenciais;
Melhores parâmetros para tomada de decisão;
Melhoria contínua graças ao feedback do stakeholder, que identifica
pontos para melhoria e estabelece metas com indicadores que possam
medir performance e progresso.
Adaptabilidade e aperfeiçoamento contínuo
A adaptabilidade do AA1000 fica evidente nos exemplos de empresas que já
aplicam o padrão. No mundo todo, organizações de setores bastante diversos,
como Shell International, British Telecom e The Body Shop International plc.
utilizam métodos do AA1000 em seus sistemas de gestão, medição e
comunicação da performance ética e social. No Brasil, especificamente, já
existe um grupo de empresas envolvidas na aplicação do padrão (também de
setores bastante diversos): SESI-SC, CEMIG-MG, Samarco Mineração – ES e
Souza Cruz – RJ.
Recentemente, o ISEA, num esforço de aperfeiçoamento contínuo, estabeleceu
uma fase de consulta de stakeholders para revisão da norma e apresentação
de novos elementos para a nova versão (AA1000 S – AA1000 Series).
Entre os novos elementos figuram: desenvolvimento de práticas para
aprendizagem e inovação organizacional; desenvolvimento de métodos
efetivos para comunicação com stakeholders; implementação de sistemas de
gerenciamento que monitoram e aprendem com resultados organizacionais e
engajamento de stakeholders; alcançar confiança, respeito e cooperação
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pública através de relatórios e processos de verificação transparentes; utilizar
processos de governança para gerenciar risco para otimizar performance.
Referências bibliográficas
AccountAbility 1000 (AA1000) Framework: Standard, Guidelines and
Professional Qualification, Exposure Draft, Institute of Social and Ethical
Accountability, 1999
AccountAbility Quarterly - Making Stakeholders engagement work: the AA1000
Series, Third and Fourth Quarters, 2001
MCINTOSH, LEIPZIGER, JONES E COLEMAN: Corporate Citizenship –
Successful Strategies for Responsible Companies –– Financial Times Pitman
Publishing, 1998
WHEELER, David e SILLANPAA, Maria: The Stakeholder Corporation ––
Pitman Publishing, 1997
ZADEK, Simon, PRUZAN, Peter e EVANS, Richard: Building Corporate
Accountability, Earthscan, 1999
Websites
SAI – Social Accountability International – www.sa8000.org
ISEA – Institute of Social and Ethical Accountability – www.accountability.org.uk
GRI - Global Reporting Initiative – www.globalreporting.org
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Anexo
Neste anexo descrevemos alguns exemplos de normas e certificações,
divididos em quatro áreas principais: qualidade, meio ambiente, saúde e
segurança e sustentabilidade.
QUALIDADE
ISO: ISO9001, 9002, 9003
Os padrões ISO - International Standard Organization – são focados em
desenvolvimento e certificação de sistemas de gerenciamento. Incorporam
processos de execução de políticas, planejamento, implementação e operação,
auditoria, ações preventivas e corretivas e revisão com foco geral na melhoria
contínua. A comunicação é elemento-chave para os padrões ISO. Existe pouca
ênfase no diálogo com stakeholders.
MEIO AMBIENTE
EMAS
EMAS (European Eco-Management and Audit Scheme) é um padrão dirigido
às indústrias. O registro é local. Foca políticas, programas e sistemas de
gerenciamento ambientais. É voluntário mas requer validação independente e
relatórios públicos. Encoraja a empresa a estabelecer equilíbrio entre negócios
e responsabilidade pública.
ISO14000
Parte da série ISO, a ISO14001 possui foco específico em aspectos
ambientais. Está alinhada e é complementar aos padrões ISO9000.
SAÚDE E SEGURANÇA
OHSAS 18001
OHSAS 18001 (Organizational Health and Safety Assessment Series) trata das
questões de saúde e segurança ocupacional. Tem suporte de organizações
padronizadoras internacionais e requer um sistema completo de gerenciamento
de risco em áreas industriais.
HCS
HCS (Humane Cosmetic Standard) é resultado de uma coalizão de grupos
protetores de animais. Tem por objetivo reduzir o número de animais utilizados
em testes cosméticos. O padrão descreve processos para definir e envolver a
política empresarial, monitoramento da performance e verificação independente
de sistemas de monitoramento. O processo de relato é limitado. Empresas que
seguem os requisitos podem estampar um selo nos produtos.
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SUSTENTABILIDADE (inclui aspectos sociais, ambientais e econômicos)
FSC
O padrão FSC (Forest Stewardship Council) é um padrão de certificação com
requerimentos definidos para planejamento, definição de objetivos e meios
para alcance destes objetivos. O FSC tem foco no impacto ambiental do
gerenciamento florestal, mas inclui também o impacto em comunidades locais
e trabalhadores e a viabilidade econômica do uso florestal. Monitora toda a
cadeia produtiva e enfatiza a documentação e rastreabilidade.
MSC
O MSC (Marine Stewardship Council) é um padrão de certificação para a pesca
sustentável. Como o FSC, o MSC é um produto da colaboração de
organizações de proteção ambiental, como WWF, e representantes do setor
privado.
AA1000
O AA1000 (AccountAbility 1000) é um padrão certificável da responsabilidade
social, focado em assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato da
responsabilidade social e ética. Seu processo é orientado pelo engajamento de
stakeholders através de diálogo com a empresa para melhoria contínua. É
baseado em transparência e performance. O padrão foi desenvolvido pelo
ISEA - Institute of Social and Ethical Accountability - de Londres.
GRI
O guia para relatórios de sustentabilidade da GRI (Global Reporting Initiative)
foi desenvolvido através do diálogo multi-stakeholder. O GRI foca no relato e
não é certificável. O GRI tem como objetivo cobrir um amplo conjunto de
aspectos sociais e éticos, bem como aspectos ambientais e econômicos.
SA8000
A SA8000 (Social Accountability 8000) da SAI – Social Accontability
International - é um padrão de responsabilidade social e prestação de contas,
com foco em condições de trabalho. Baseia-se em normas internacionais como
as convenções da OIT, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a
Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança. Inclui definição de
políticas, monitoramento de atividades e resultados, verificação de
conformidade, comunicação de procedimentos e desenvolvimento de sistemas
de gerenciamento. A SA8000 foi desenvolvida e é objeto de um processo de
melhoria contínua, construído em consenso pelo diálogo com stakeholders.
Não inclui o engajamento de stakeholders como parte essencial do processo
de responsabilidade social e prestação de contas.