Este documento apresenta a história de 80 anos da Fundação 2 de Julho, desde sua fundação como uma escola americana em 1927 até se tornar um centro educacional com cursos do ensino infantil ao superior. Detalha sua evolução de uma instituição missionária para uma fundação privada brasileira e destaca seu compromisso com a educação de qualidade, a democracia e a formação cidadã.
4. Fundação 2 de Julho
Conselho de Curadores Moisés Dominguez Souza (Presidente)
Jaime David Cardoso Pereira (Vice-Presidente)
Heloisa Helena F. Gonçalves da Costa (Secretária)
Agenor Cefas Cavalcante Jatobá
Italva Almeida Simões
João Dias de Araújo
Lêda Jesuíno dos Santos
Maria Lúcia Cardoso de Souza
Romélia Santos
Secretário Executivo Cléber de Oliveira Paradela
Colégio 2 de Julho
Diretor Celso Loula Dourado
Coordenadora Pedagógica Neuza Régis Dourado
Divisão Administrativa e Financeira Milton Oliveira Cavalcanti
Conselho Técnico Pedagógico Ana Bernadete Farias Menezes
Josely Maria Tinoco Guerreiro Peixoto
Lúcia Angélica de Fontenelle
Maria Genilde Alecrim Machado
Sonira Lúcia Dantas Neves
Zenóbia Guimarães Lobo de Carvalho
Faculdade 2 de Julho
Diretor Geral Josué da Silva Mello
Diretor de Administração e Finanças Sérgio Augusto Miranda de Souza
Coordenadora Pedagógica Tecla Dias de Oliveira Mello
Coordenador de Administração Adeimival Barroso de Pinho Júnior
Coordenador de Comunicação Social Derval Cardoso Gramacho
Coordenadora de Direito Valnêda Cássia Santos Carneiro
Secretária Acadêmica Marane Iara Xavier Rodrigues
Coordenadora da Biblioteca Maria Rosane Canelas Rubim
Assessor de Comunicação Sílvio César Tudela Vieira
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6. Copyright@2008 FACULDADE 2 DE JULHO
Direitos desta edição reservados à Faculdade 2 de Julho - F2J
Av. Leovigildo Filgueiras, 81. Garcia. Salvador. Bahia. CEP 40.010-000
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Impresso no Brasil / Printed in Brazil
É PROIBIDA À REPRODUÇÃO
De acordo com à lei 5.988, de 14 de dezembro de 1973, artigos 122-130.
DEPÓSITO LEGAL na Biblioteca Nacional, conforme decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907.
PESQUISA HISTÓRICA E ENTREVISTAS
Coordenação Bianca Daébs Seixas Almeida
Equipe Jilson Soares
Rebeca Daébs Seixas
Zózimo Trabuco
PRODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA
Texto final Derval Cardoso Gramacho
Normalização Rosane Rubim
Projeto gráfico e Editoração eletônica Joel Calixto
Supervisão gráfica Vinícius Carvalho
Fotografias Antonio Aguido
Arquivo do Colégio e da Faculdade 2 de Julho
Famílias (Calasans Neto, Gláuber Rocha e Luís Eduardo Magalhães)
Revisão, Edição e Coordenação geral Sílvio César Tudela
Impressão Gráfica Belo Visual
Tiragem 1.000 exemplares
Ficha catalográfica
F143 Faculdade 2 de Julho
2 de Julho: 80 anos construindo o saber. Salvador: F2J,
2008.
ISBN: 978-85-61144-01-2
1. Memória 2. Fundação 2 Julho 3. Colégio 2 de Julho
4. Faculdade 2 de Julho I. Título
CDU: 82-94
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7. À Família 2 de Julho
À Comunidade baiana
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9. SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 13
PREFÁCIO 17
CRONOLOGIA 21
PROTESTANTISMO E EDUCAÇÃO 23
DO SONHO AMERICANO À CONSOLIDAÇÃO DO COLÉGIO 2 DE JULHO 33
O PROCESSO DE NACIONALIZAÇÃO E A FUNDAÇÃO 2 DE JULHO 59
MARCAS DO COLÉGIO 2 DE JULHO NA SOCIEDADE BAIANA 75
A FACULDADE 2 DE JULHO: RUMO AO FUTURO 93
REFERÊNCIAS 121
NOTAS 125
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13. Apresentação
2 DE JULHO 80 ANOS CONSTRUINDO O SABER é um
lançamento do Programa Editorial da Faculdade 2
de Julho, implantada no ano 2000, filha mais nova
da Instituição. Pretende complementar “A Memória
Histórica do Colégio 2 de Julho”, publicada em 1997.
Na última década a Instituição cresceu. O seu maior
avanço configurou-se na implantação da Faculdade,
no início com três cursos e, atualmente, com sete,
alimentando sonhos de tornar-se um Centro
Universitário de referência no Nordeste brasileiro.
A Escola Americana criada em 1927 na cidade do
Salvador, Bahia, sem grandes pretensões, resultou, em
nosso tempo, num “Centro Educacional Baiano”
reunindo cursos desde a educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio, ao ensino superior da
graduação à pós-graduação. A Instituição, que
emergiu da consciência missionária, celebra, pois, os
80 anos de história em 2007, bastante ampliada em
sua missão e nos seus horizontes.
O livro dos 80 anos ora apresentado pretende ser uma
contribuição da Academia mais na interpretação da
história do que na sua narrativa. A pesquisa histórica,
tão bem conduzida pela historiadora Bianca Daébs
Seixas Almeida, buscou responder a algumas
questões relevantes, entre as quais, por que os missi-onários
norte-americanos encaminhados ao Brasil
com a missão de evangelizar preocuparam-se antes
com a educação? E encontra na ideologia protes-tante,
centrada na liberdade humana, a motivação
possível, porquanto os reformadores foram incisivos
no entendimento da educação como instrumento
fundamental no processo de construção da liberdade
e da cidadania.
Por que o Colégio 2 de Julho, criado e administrado
pelos missionários americanos por quase meio século,
veio a ser estruturado em Fundação de direito
privado, sem fim econômico, quando outras
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14. instituições originárias da mesma Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos re-ceberam
outras destinações? Que forças foram determinantes no processo
de nacionalização? Por que a Faculdade, nos dias atuais, enfoca a questão
da ética e dos direitos humanos, chegando a projetar um Memorial dos Direitos
Humanos, com dimensões nacionais, a ser implementado no Solar Conde
dos Arcos? Por que atualmente se valoriza tanto a pessoa do missionário
Jaime N. Wright e que papel ele desempenhou no processo de nacionalização
e criação da Fundação?
São questões trabalhadas no documentário, utilizando-se inclusive da
oralidade, com testemunhas oculares, que lançam inéditas luzes e revelações
sobre a história da Instituição, ao longo de suas oito décadas de compro-metimento
com a educação de qualidade, com a democracia, a formação
da cidadania e com o desenvolvimento da Bahia.
“O livro dos 80 anos ora apresentado
14 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
pretende ser uma contribuição
da Academia mais na interpretação
da história do que na sua narrativa”
2 DE JULHO 80 ANOS é o registro de um projeto
educacional desenvolvido com o sentido de
missão. Assim foi e assim sempre o será. O
testemunho de uma história de orgulho para a
Igreja e para o povo baiano, a iluminar a
construção do futuro. Instituição que no dealbar do século XXI continua
com a mesma missão a cumprir, com desafios novos a vivenciar.
Situação que faz lembrar um dos versos de Fernando Pessoa: “Hoje os mares
são os mesmos de anos atrás, mas os perigos do caminho já não são iguais”.
Certamente a missão permanece a mesma, o compromisso vocacional tam-bém,
mas os perigos do caminho são maiores, as ameaças se agigantaram,
exigindo renovação dos sonhos, perspicácia na identificação dos novos
desafios e capacidade de gestão profissional com ampla visão de futuro.
A Instituição, por certo, lastreada em novos paradigmas, continuará apoiando
as oportunidades de acesso, os esforços em favor da democratização do
saber, da inclusão social, dando seguimento ao projeto de educação
diferenciada, destinado à formação de cidadãos líderes, de profissionais
competentes, com avanços na produção da cultura e do conhecimento,
seguindo os mais elevados padrões de qualidade e de excelência.
Cabe ressaltar, também, que o documentário comemorativo dos 80 anos
resulta de uma construção coletiva. Merecem destaques e agradecimentos:
a Fundação 2 de Julho pelo incentivo, o Colégio pelas informações e
empenho, o Presbitério do Salvador pelo apoio heróico, a historiadora Bianca
Almeida e sua equipe pelo trabalho dedicado, a conselheira e professora
Leda Jesuíno pelo magnífico prefácio, o professor Derval Gramacho pela
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15. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 15
produção do texto, a bibliotecária Rosane Rubim pelo cuidadoso trabalho
de normalização, o fotógrafo Antonio Aguido pela dedicação, o jornalista
Sílvio César Tudela, o designer Vinícius Carvalho, o diagramador Joel Calixto
e a toda equipe da ASCOM pelo árduo trabalho de apuração, conferência
de informações, escolha e restauração das fotos, criação gráfica, revisão,
edição e editoração final. Destaca-se e homenageia-se, enfim, a todos que
partilharam dos sonhos e construíram a audaciosa caminhada dos 80 anos.
Josué da Silva Mello
Diretor Geral da Faculdade 2 de Julho
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17. Prefácio
A Fundação 2 de Julho é uma significativa expressão
no panorama educacional da Bahia, que se vem
tornando, ao longo do tempo, um grande foco de
energia irradiosa, penetrando com a força da sua
potencialidade pelas artérias do sistema de educa-ção
que vem sendo vivenciado nestes dias
tumultuados de um mundo em mudança.
No momento em que a educação enfrenta uma
problemática existencial de tal porte, que Morin
considera como sendo uma “agonia planetária”,
por estar o mundo enfrentando uma “policrise”, as
organizações voltadas para a missão de educar
sentem-se envolvidas em problemas surpre-endentemente
complexos que, acrescentados aos
que rotineiramente pertencem ao quotidiano,
formam obstáculos feitos de dificuldades de várias
dimensões.
A Fundação 2 de Julho, inserida nesse contexto
permeado de divergências, convergências e
polêmicas acirradas em torno das mais variadas
teorias educacionais, frutos de ideologias antagôni-cas,
de posicionamentos radicalizados, vem
atravessando as tempestades do clima intelectual
do seu tempo, de tempestuosos furações e chuvas
torrenciais, apresentando-se a uma “sociedade
líquida”, como quer o sociólogo Bauman, com
fortaleza de ânimo e impressionante coragem para
enfrentar a superficialidade do seu tempo.
De tal grandeza é a sua contribuição que se tornou
digna de uma respeitabilidade que se expande
agora, aos 80 anos, para uma glorificação.
Octogenária, experiente, sofrida e vencedora,
chega à serenidade da sua plenitude ainda vigorosa
e com direito a sonhar...
Em educação, sonhar é vital, e a Utopia é
imprescindível. Entre o Ideal do Sonho e o Real da
Vida, a Fundação 2 de Julho faz o seu caminho
caminhando, pois sabe, no seu âmago, que não há
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18. caminhos, há caminhantes... Seu caminho, como todas as estradas no terre-no
educacional, é feito de pedregulhos e atapetado de folhas secas, frágeis
ao toque dos pés cansados do caminhante.
Seu caminho, como tantos outros construídos no solo movediço da imensa
área da educação, é construído a cada dia com as agruras e as glórias do
semeador que aceita a chuva torrencial que prejudica a semeadura, acolhe
o sol inclemente que retarda a colheita e continua a semear, tentando sempre
separar o joio do trigo.
Seu caminho, como são os caminhos dos idealistas críticos e não ingênuos,
apresenta-se, no labor diário do exausto caminhante que o percorre, prenhe
de curvas perigosas e sombrias passagens, ladeadas de precipícios.
“A história do 2 de Julho [...] é uma história
18 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
de coragem, de determinação
e [...] de amor à humanidade”
Aos seus 80 anos, debruça-se o “2 de Julho” sobre o
seu passado para apresentar, uma visão
panorâmica, a sua história, que é a sua vida de
embates e vitórias, lutas e fracassos, perdas e
ganhos, flores e espinhos, envolvida sempre no “Eros Pedagógico” do seu
corpo material e espiritual que o vivifica, constituído pelos seus professores e
funcionários, seus alunos e ex-alunos, seus amigos e, principalmente, pelos
seus fundadores: Irene e Peter Baker, cuja presença ainda é viva, fortalecendo
o ânimo e a coragem dos que atualmente o sustentam com vigorosa vontade
de ir em frente, de seguir adiante, de formar não apenas cidadãos; muito
mais além, formar pessoas que acreditem que a vida é fenômeno universal,
resultante de uma energia que circula no finito e no infinito...
Aos seus 80 anos, ao contar a sua história, estamos diante de uma estória de
amor que começa assim: era uma vez, um príncipe e uma princesa em busca
de um palácio numa cidade linda. E, um dia, o encontraram e nele viveram
felizes com muitos e muitos filhos a quem amaram profundamente,
apaixonadamente e fizeram deles homens e mulheres que os amaram e
sempre tentaram viver de acordo com tudo que aprenderam com eles.
Tornaram-se cidadãos e honraram os seus pais e tentam até hoje fazer daquele
palácio um monumento destinado ao culto do amor incondicional ao
Homem através da educação fundamentada na Fé, Esperança e na
Caridade, as virtudes cardinais que o príncipe e a princesa lhes colocaram
no coração, seguindo Jesus.
A história do 2 de Julho, que vem a público, contextualizando a instituição
desde o seu início, numa sociedade de pós-guerra, procurando demonstrar
quanto a missão protestante estava ligada à educação dentro do “saber
funcionando como amparo da fé”, é uma história de coragem, de
determinação e, sobretudo, de amor à humanidade.
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19. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 19
A Escola Americana que se tornou Ginásio e depois Colégio 2 de Julho,
ocupando um espaço histórico como é o Solar Conde dos Arcos, alçou vôo
no tempo, superando dificuldades internas das instituições mantenedoras,
fiel à afirmação de Lutero, citado neste livro no sentido de que é sempre
preciso ter escolas para satisfazer nossas necessidades como habitantes deste
mundo; tese seguida pelos calvinistas e adotada pelos presbiterianos.
Da junta das Missões Estrangeiras, veio o casal Baker para Salvador, e o que
representou o seu trabalho, para a educação nesta Cidade, está bem
apresentado no livro. Os autores se preocuparam em destacar as inovações
que foram corajosamente implantadas pelo casal Baker, sobretudo a co-educação.
Os passos largos e definidos que deu o Colégio até galgar os degraus do
nível superior e ver ao seu lado instalada uma Faculdade já tão acreditada
estão descritos nestas páginas que delineiam a trajetória da Fundação 2 de
Julho, com a dedicação de quem admira, com a exatidão de quem examina
com seriedade, com a sensibilidade de quem percebe o que está além dos
fatos visíveis, com a lucidez de quem se conscientiza da responsabilidade de
suas afirmações, com o conhecimento da verdade histórica que esclarece e
liberta de pronunciamentos tendenciosos.
Na verdade, é um livro de quem escreve com Amor uma história de Amor.
Foi escrito com o Amor com que ele foi fundado e que permanece nos
corações dos que hoje o dirigem. Nele, vai valer a pena penetrar nos corações
que aí pulsam como se estivessem fora da letra no papel e, percorrendo
aquele imenso pátio de construções atuais, recordar os velhos tempos,
quando os tamarineiros floriam e as crianças corriam e os adolescentes
“flertavam”, aquilatar como os novos prédios foram construídos com os ideais
elevados dos Bakers, dos Graves, do reverendo Jaime Wright, dos diretores e
funcionários que se sucederam e deram a sua valiosa colaboração, cujos
nomes estão em destaque pelo autor, fazendo jus à contribuição que deles
recebeu o “nosso 2 de Julho”.
É neste “2 de Julho” tão nosso que este livro está fixado e é de muita reverência
à educação que suas páginas estão plenas.
Profª. Leda Jesuíno dos Santos
Conselheira da Fundação 2 de Julho
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21. Cronologia
1927 Criação do Colégio Americano
na Rua João das Botas, no Canela
1928 Transferência para o Solar Conde dos Arcos,
na Av. Leovigildo Filgueiras, 81
1931 Alteração do nome para
Ginásio Americano
1939 Alteração do nome para
Instituto 2 de Julho
1943 Autorização de funcionamento do curso
colegial, alterando-se o nome para
Colégio 2 de Julho
1950 Transferência do casal Baker para
o Mackenzie (SP)
1966 Início do processo de nacionalização:
Conselho Superior de Administração
1976 Criação da Fundação 2 de Julho
2000 Criação da Faculdade 2 de Julho
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24. A educação no pensamento dos
reformadores
A educação foi tema central no pensamento dos
líderes da Reforma Religiosa, nos séculos XV e XVI, na
Europa. Este movimento começou a ser gestado no
século XIV, quando vários religiosos se mostravam
inquietos diante das práticas da Igreja Católica e de
suas lideranças, notadamente o Tribunal do Santo
Ofício. Também chamado de Santa Inquisição, ele
foi criado oficialmente em 1229, no Concílio de
Toulouse, na França, pelo Papa Gregório IX, inspirado
nas idéias do Papa Lúcio III, apontado como o mentor
da Inquisição, em 1184.
No ano de 1252, o Papa Inocêncio IV publica o
documento Ad Exstirpanda, que subsidiou o seu
pedido, acatado por toda Igreja, de ter autoridade
para exterminar todos os hereges, considerados como
uma ameaça ao Cristianismo. Na verdade, o Tribu-nal
do Santo Ofício era um instrumento para impor à
força a supremacia da Igreja Católica, com o poder
de exterminar aqueles que rejeitavam o Cristianismo
na forma imposta por ela.
Entre os que se recusavam a seguir as rígidas
orientações da Igreja estava o padre inglês John
Wyclif (1324-1384). Ele contestava a autoridade do
papa e criticava a incompatibilidade das normas
do clero e da Igreja com os ensinamentos de Jesus e
seus apóstolos. A principal questão apontada por
Wyclif era a das propriedades e da riqueza do clero,
além de denunciar a prática da venda de indulgên-cias
e a vida perdulária de padres, bispos e outros
religiosos sustentados com o dinheiro do povo.
Wyclif fez a primeira tradução da Bíblia para a língua
inglesa, pois considerava que esta obra deveria ser
um bem comum de todos os cristãos e precisava
estar ao alcance das mãos para uso cotidiano e na
língua nativa de cada povo. Na sua compreensão,
a Bíblia devia ser a base de toda a doutrina da Igreja
e a única forma da fé cristã, pois, entendia que “a
verdadeira autoridade emana da Bíblia, que contém
Untitled-1 25 14/08/2008, 18:03
25. 26 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
o suficiente para governar o mundo, e sem o conhecimento do que nela
está contido não haveria paz na sociedade”.
Suas idéias mobilizaram vários segmentos da sociedade inglesa da época,
que logo viu surgir um grupo de seguidores que passou a ser chamado de
lolardos. Os integrantes desta Ordem eram considerados padres, mas eles
não recebiam a consagração formal, não faziam votos e se dedicavam ao
ensino do Evangelho ao povo, conforme as teorias e pensamentos de Wyclif.
Esses pregadores itinerantes andavam agrupados dois a dois, descalços,
usando longas túnicas e portavam cajados nas mãos. Em 1381, após uma
insurreição popular, o rei Ricardo II proibiu os lolardos de continuar
disseminando o pensamento de seu inspirador. Eles foram apontados como
incentivadores da revolta.
Nos séculos seguintes, a Igreja se fraciona com a Reforma, que dá origem a
uma nova ordem: a Igreja Reformada ou a Reforma Protestante. Martinho
Lutero, João Calvino, Menno Simons, John Knox, Thomas Cranmer, entre
outros, foram os principais nomes que encabeçaram o movimento reformista,
motivado, sobretudo, pela discordância dos métodos aplicados pela Igreja
Católica. Eles eram lastreados nas teses de Wyclif que pregava a fé pela
razão e conhecimento, ou seja, era preciso alfabetizar o povo, dar a ele
acesso à literatura sagrada e a oportunidade de ter conhecimento sobre a
verdade que, para Wyclif e os reformistas, era Jesus Cristo.
Os protestantes se conduziam pela lógica “conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará”1. Jesus era a verdade, e não haveria verdade que, em última
instância, não remetesse à verdade que estava n’Ele, de modo que toda
busca por conhecimento não só era bem aceita como também incentivada
e fazia parte da ação estratégica de evangelização dos missionários. Os
reformistas defendiam a elevação da autoridade religiosa do indivíduo que,
no exercício pleno de sua fé e iluminado pelo Espírito Santo, estivesse apto a
ler a Bíblia e outros livros religiosos, e a interpretar sobre aquilo que leu, sem a
intermediação da Igreja e sem prejuízo de sua salvação. Como dizia Wyclif:
“O cristão não precisa do Papa, pois Deus está em toda parte e nosso Papa
é o Cristo”.
Um dos fatores estimulantes dos ideais reformistas foi a invenção da imprensa
pelo alemão Johann Gutenberg (1390-1468). Ela abria finalmente a
possibilidade de atender aos reclames dos protestantes que era a distribuição
da Bíblia para todos os cristãos, na língua original de cada povo. A invenção
de Gutenberg possibilitava a popularização do conhecimento e não foi à-toa
que a primeira obra por ele impressa tenha sido justamente um exemplar
da Bíblia em alemão. Se isto agradava aos reformistas, sem sombra de dúvida
desagradava à Igreja Católica, cujos líderes entendiam que dar a Bíblia ao
Untitled-1 26 14/08/2008, 18:03
26. “Ainda que não existisse alma, nem inferno,
nem céu, seria preciso ter escolas para
satisfazer nossas necessidades como
habitantes deste mundo”
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 27
conhecimento público era o mesmo que perder o poder e o controle que
tentavam manter sobre o povo e os governos através de mecanismos como
o próprio Tribunal do Santo Ofício, ou seja, a Inquisição.
Hill2, ao analisar o movimento reformista, comenta que John Foxe3 (1516-
1587) atribuiu o advento da escrita impressa como um presente dado ao
homem pela intervenção direta de Deus. Isso porque o novo método permitia
a realização da ideologia que norteava a Reforma. Thomas Beard (1568-
1632), reverendo inglês, puritano e autor de teatro, comungava da mesma
opinião de Foxe, de acordo com Hill, pois via a Providência Divina por trás
do que considerava a coincidência entre a época da invenção e
desenvolvimento da imprensa e a tradução do texto bíblico para o inglês.
Assim, a liberdade de impressão tornou possível a Reforma e as concepções
mais amplas de liberdade religiosa.
Lutero e Calvino entendiam que a promoção do
texto bíblico deveria vir acompanhada da
instrução, alfabetização e educação. Neste sentido,
Lutero, contrariando a vocação católica contra a
qual se movia a Reforma, afirmava: “Ainda que não
existisse alma, nem inferno, nem céu, seria preciso ter escolas para satisfazer
nossas necessidades como habitantes deste mundo[...]”.4
A educação é, desde o primeiro momento, uma necessidade altamente
valorizada por todos os protestantes históricos, com destaque singular para
os presbiterianos ou reformados.
A Reforma teve também um segundo momento que passou à História como
a “Segunda Reforma” ou “Reforma da Suíça”, desde quando se dá após a
Reforma capitaneada por Lutero. Ocorrida em Zurique, Suíça, teve como
líder inicial Ulrich Zwingli (1484-1531), de quem Lutero era crítico severo. Com
a morte de Zwingli, a liderança do movimento foi entregue nas mãos de um
homem respeitado entre seus pares pela sua grande capacidade intelectual
e administrativa, o francês João Calvino (1509-1564), que atuou durante 25
anos na cidade de Genebra, naquele país.
Calvino foi um dos mais importantes teólogos protestantes do século XVI. De
sua vasta produção literária destaca-se “Institutas da Religião Cristã”, obra
na qual deixa claro o seu pensamento e revela sua grande apreciação pela
dádiva do intelecto e seu cultivo do mesmo através da educação.
O teólogo francês considerava o estudo da Bíblia e do conhecimento do
mundo criado por Deus como atividades de suma importância e esse
entendimento o levou a propor, em primeiro lugar, que a Igreja Reformada
de Genebra elegesse, entre seus líderes, um grupo de doutores ou mestres,
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27. 28 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
que ficaria encarregado especificamente de desenvolver atividades
educativas voltadas para a infância e a juventude. Em segundo lugar, investiu
na criação de uma instituição de ensino primário, secundário e superior,
denominada Academia de Genebra (1559), precursora da atual Universida-de
de Genebra.
Para Nascimento5, uma das motivações para a criação daquela Academia
foi o entendimento de que os pastores das igrejas reformadas deveriam ser
homens solidamente preparados para desempenhar adequadamente as suas
funções. Ela explica que o currículo da Academia de Genebra atribuía grande
valor aos estudos humanísticos, ou seja, às línguas, à literatura e às artes da
Antigüidade clássica greco-romana. Entendia que os autores antigos, além
de sua capacidade retórica e clareza de pensamento, comunicavam
verdades sobre importantes conhecimentos. Na realidade, essa ênfase à
educação refletia a teoria teológica de Calvino6:
Deus é o Senhor de toda vida; a mente humana foi por Ele criada e
deve ser usada para Sua Glória. Através do Seu Espírito Santo, Deus
atua em todos os seres humanos e os capacita a produzir coisas boas e
belas em todas as áreas do conhecimento: toda verdade é verdade
de Deus, esteja onde estiver.
Nascimento7 explica que a importância atribuída por Calvino à educação
foi mantida pelos seus herdeiros em toda a Europa, pois o movimento
conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suíça alcançou divulgação
em todo o continente, com forte expressão em países como França,
Alemanha, Holanda, Hungria e nas Ilhas Britânicas. Os pastores calvinistas
eram, quase todos, homens instruídos e disciplinados nas melhores tradições
reformadas.
Entre esses homens, destacou-se John Knox, que levou a Escócia a abraçar o
calvinismo oficialmente em 1560, quando o parlamento criou a Primeira Igreja
Nacional Protestante. Essa igreja abraçou conscientemente o Presbiterianismo,
uma forma de organização eclesiástica na qual o governo é exercido pelos
presbíteros, oficiais eleitos por suas comunidades e reunidos em colegiados
(seção, presbitério, sínodo e assembléia geral). Naquele país, o
Presbiterianismo foi um protesto contra o sistema político religioso vigente, o
Episcopalismo, ou seja, uma igreja governada por bispos nomeados pelos
reis.
O novo continente e as missões
A partir de 1620 começaram a chegar aos Estados Unidos da América os
primeiros missionários formados pelo movimento reformado. A formação
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28. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 29
daquele país contou com uma forte contribuição dos calvinistas, em geral,
e dos presbiterianos, em particular. Entre os primeiros colonizadores
protestantes, estavam alguns grupos de puritanos, que se instalaram em
Massachusetts, Nova Inglaterra. Esses puritanos eram de orientação calvinista,
mas adotaram uma forma de governo diferente do Presbiterianismo: o
Congregacionalismo. Enquanto o Presbiterianismo consiste em uma
federação de igrejas, as igrejas congregacionais são autônomas, com as
comunidades independentes entre si. No entanto, o que os pioneiros calvinistas
não abdicaram foi de fazer da educação uma prioridade desde o início da
colonização. E, em 1636, criaram, nos arredores de Boston, o Colégio de
Harvard, precursor da hoje famosa Universidade Harvard.
Nos séculos seguintes, os Estados Unidos da América receberam milhares de
presbiterianos oriundos do Velho Continente, especialmente escoceses e
irlandeses, que foram os principais responsáveis pela formação da Igreja
Presbiteriana nos EUA, iniciada, em 1706, com a criação do primeiro
presbitério, e concluída, em 1789, com a organização da Assembléia Geral.
No mesmo século, os presbiterianos norte-americanos criaram o Colégio de
New Jersey (1746), atual Universidade Princeton, considerado como o maior
dos investimentos da ordem religiosa naquele período.
O compromisso dos reformados com a educação se intensificou de modo
acentuado naquela nova nação. A atividade educativa recebeu a influência
de valores, ideais e aspirações da jovem e dinâmica república, bem como
de novos movimentos filosóficos, como o Iluminismo (movimento cultural e
intelectual ocorrido na França na segunda metade do século XVIII), com a
sua crença inabalável no progresso.
Entretanto, a motivação predominante entre os presbiterianos continuou a
ser de natureza religiosa. Tanto que nos séculos XVIII e XIX se registra a
ocorrência de grandes avivamentos religiosos, que ficaram conhecidos como
despertamento. Tanto o Primeiro Grande Despertamento (nos anos de 1730
e 1740), quanto o segundo, nas primeiras décadas do século XIX, produziram
notáveis efeitos na área educacional.
Mas foi o Segundo Grande Despertamento que provocou nos protestantes
norte-americanos o interesse pelas missões internacionais como meio de
propagar a fé evangélica e também promover, em outros países, a cultura
norte-americana. Com este objetivo, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos
da América (PCUSA) criou, em 1837, a Junta de Missões Estrangeiras, sediada
em New York, de onde saíram, inicialmente, missionários para a Índia,
Tailândia, China, Colômbia e Japão. O sexto país incluído no roteiro da Missão
foi o Brasil, onde o primeiro missionário, reverendo Ashbel Green Simonton,
desembarcou, em 1859.
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29. 30 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
Desde o primeiro instante aqui, Simonton entendeu a importância da edu-cação,
tanto religiosa quanto acadêmica, como estratégia de
evangelização. No dia 21 de janeiro de 1860, ele escreveu em seu Diário:
Comprometi-me a dar diariamente uma hora ou duas de aulas às
crianças do Sr. Eubank, tanto de educação religiosa quanto intelectual,
e os encontrei prontos para aprender. [...] Tive uma longa e interessante
conversa com o Sr. Eubank sobre as condições do Brasil. O plano de se
ter aqui uma escola protestante, de grau elevado, para os ingleses e
brasileiros que queiram freqüentá-la, tem ocupado muito os meus
pensamentos ultimamente.8
Simonton fundou o primeiro jornal protestante a circular no Brasil, o “Imprensa
Evangélica”, que foi publicado de 1864 a 1892. Ele organizou a primeira escola
presbiteriana no País e as suas propostas para a evangelização estabeleci-am:
1) A santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho
de cada crente; 2) é preciso inundar o Brasil de Bíblias, livros e folhetos;
3) cada crente deve comunicar o Evangelho a outra pessoa; 4) é
necessário formar um ministério nacional idôneo; 5) escolas paroquianas
para os filhos dos crentes devem ser estabelecidas9.
A sua morte, em 1867, ocasionada pela febre amarela, o impediu de levar
adiante seus planos educacionais, mas os missionários que lhe sucederam
concretizaram o seu sonho. A partir de 1870, os presbiterianos começaram a
implantar escolas em diversos municípios do território brasileiro.
É imbuído deste espírito e norteado pelo mesmo ideal de contribuir para a
elevação do homem, possibilitando-o crescer através da educação e
conseqüentemente aprimorar o seu espírito sequioso do saber, que o casal
Baker vem para o Brasil e se instala em Salvador (BA). Aqui a família Baker vai
cumprir a sua missão de formar cidadãos para a Pátria e cristãos para Deus.
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30. DO SONHO AMERICANO
À CONSOLIDAÇÃO DO
COLÉGIO 2 DE JULHO
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32. O cenário de 1927
Era o ano de 1927. O País caminhava ao sabor dos
ventos da jovem República que não conseguira
apagar todos os resquícios do Império e da vocação
separatista herdada do período escravocrata, reve-lada
nas cenas sociais urbanas, onde verdureiros,
peixeiros e padeiros, entre outros, sempre negros e
mestiços, transportavam nas cabeças enormes e
pesados tabuleiros nos quais mercavam, porta a
porta, seus produtos.
O Brasil andava no ritmo dos bondes, dos trens e
alguns poucos navios. Tentava se reorganizar
internamente ao mesmo tempo em que buscava se
impor perante o mercado internacional. Contudo,
o seu principal produto, o café, era uma cultura em
crise desde 1925, quando a produção nacional
alcançou as 21 milhões de sacas, quantidade superior
às 14 milhões consumidas mundialmente.
Os Estados Unidos da América, o maior produtor
industrial de então, dava sinais de desaquecimento
do consumo e desgaste das atividades produtivas e
de mercado que viria, dois anos mais tarde, resultar
no episódio conhecido, posteriormente, como o
crack da Bolsa de Valores de New York.
Na verdade, o tempo ainda se encarregava de
apagar as lembranças mais recentes da Primeira
Grande Guerra. Os países europeus, onde se concen-traram
as batalhas, empenhavam-se na reorganiza-ção
dos seus meios de produção e da estrutura social,
na recuperação dos prejuízos do patrimônio físico e
no restabelecimento de suas finanças.
O rádio era uma novidade na vida da população
brasileira. Poucas cidades tinham o orgulho de contar
com uma emissora em funcionamento. Salvador era
uma dessas raras capitais. Desde 1924 funcionava a
Rádio Sociedade da Bahia, que anos depois integraria
o grupo dos Diários Associados, do empresário Assis
Chateaubriand.
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33. No plano político, o Brasil estava sob o comando do presidente Washington
Luís Pereira de Sousa (1926-1930), para quem, governar era “abrir estradas”.
Assim, seu governo se dedicava aos investimentos no setor rodoviário e, em
paralelo, tentava administrar uma reforma financeira que objetivava dar
36 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
CASAL BAKER
Sempre juntos e comprometidos com a educação
lastro econômico ao País, inclusive com a
formação de uma reserva em ouro. Sob seu co-mando
nasceu a ligação rodoviária Rio de Janeiro,
então Capital Federal, e São Paulo, e se prolongou
até Minas Gerais. A intenção, além de incrementar
o transporte terrestre de passageiros, era dar vazão
à produção cafeeira, facilitando o acesso aos
portos.
A Bahia da época estava entregue ao sucessor de
José Joaquim Seabra, Francisco Marques Góes
Calmon (1924-1928), um homem não muito afeito
à política e cujo nome fora lembrado de última
hora tendo como referência o seu desempenho à
frente do banco onde trabalhava. Calmon ganhou
apoio de setores mais jovens da sociedade e formou a sua equipe com nomes
que haviam obtido destaque nas atividades acadêmicas.
Foi neste panorama que, em certa tarde de 1927, Irene Hight Baker, missionária
protestante e educadora, esposa do também missionário e educador Peter
Garret Baker, chegados ao Brasil três anos antes, em 1924, pára diante do
Palácio Conde dos Arcos, no bairro do Garcia, e vê, ali, a possibilidade de
concretizar um sonho: implantar a escola que fôra o encargo dado a eles
pela Missão Presbiteriana do Brasil Central. O velho sobrado colonial perten-cera
a Dom Marcos de Noronha e Brito, VIII Conde dos Arcos, e o último vice-rei
do Brasil (1806-1808), pois o cargo foi extinto com a chegada da família
real portuguesa.
No início daquele ano, o casal criara a Escola Americana que funcionava na
sua residência, na Rua Bom Gosto, no bairro do Canela. Em virtude do número
de estudantes ter superado as expectativas, o espaço tornara-se pequeno e
os dois decidiram procurar um outro local para morar e acomodar melhor
os estudantes. Além disso, havia uma procura por vagas de internato para
os que vinham do interior e eles pensavam, também, atender àquele públi-co.
O processo de transferência da escola para o novo endereço foi rápido.
Logo os estudantes estavam ambientados e o casal Baker começava a
elaborar planos para expandir a escola e adquirir o tradicional e histórico
palácio.
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34. ESCOLA AMERICANA
Residência do casal foi a semente da instituição
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 37
O trabalho missionário
O casal Baker veio para o Brasil seguindo os passos
de outros tantos missionários já designados pela
Missão Protestante dos Estados Unidos da América
para ampliar e fortalecer o trabalho de
evangelização do povo brasileiro. Em artigo sobre
a vida e dedicação do casal, a professora e
integrante do Conselho de Curadores da Fundação
2 de Julho, Leda Jesuíno Santos, faz a seguinte
narrativa:
Eles vieram de longe, nos idos de 1924,
unidos pela força vital da juventude
plena. E vieram para ficar, arar o terreno e semear em uma opção
fundamentada na absoluta certeza de que havia um projeto de vida
traçado no mapa axiológico de suas vidas10.
O trabalho de evangelização começou na segunda metade do século XIX,
apesar de, naquela época, o governo brasileiro reconhecer apenas a religião
Católica Apostólica Romana como a única oficial e, portanto, com direito
a criar templo e realizar cultos. No entanto, a Constituição de 1824, outorga-da
pelo Imperador Dom Pedro I, concedia o direito a outras instituições reli-giosas
de praticarem suas atividades, desde que respeitadas as limitações
contidas na Carta Magna. O artigo 5º da Constituição Imperial afirmava:
A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do
Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto domés-tico
ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma
exterior de templo11.
A Constituição de 1891, promulgada após a Proclamação da República (1889),
é que estabelece a liberdade de culto e a afirmação de um Estado laico.
Assim, o parágrafo 3º do artigo 72 daquele diploma deixa explícito: “Todos
os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu
culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens”.
E acrescenta nos parágrafos seguintes:
§ 4º - A República só reconhece o casamento civil, cuja celebração
será gratuita.
§ 5º - Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela
autoridade municipal, ficando livre a todos os cultos religiosos a prática
dos respectivos ritos em relação aos seus crentes, desde que não ofen-dam
a moral pública e as leis.
§ 6º - Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
§ 7º - Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá
relações de dependência ou aliança com o Governo da União ou dos
Estados.12
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35. “A partir de 1927, começara a ser escrita
ali uma nova página da História, na qual a
produção do saber consolidaria os ideais de
uma sociedade livre e democrática [...]”
38 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
A partir da implantação da liberdade religiosa, a atividade das missões pro-testantes
aumentou consideravelmente, pois acreditavam haver um cam-po
fértil a ser semeado e, em se lançando sobre ele boas sementes, por cer-to,
daria bons frutos. Os missionários que chegavam ao Brasil traziam a in-cumbência
de, em paralelo ao trabalho de evangelização de comunida-des,
implantar escolas para elevar o índice de alfabetização da população
nativa.
A missão protestante estava intrinsecamente ligada à educação. Isto porque
esta religião prega, como a sua principal diretriz, a leitura, a compreensão e
a interpretação das Sagradas Escrituras para a salvação, o que só é possível
se o indivíduo for devidamente instruído. Essa era a lógica do teísmo
pedagógico, que significa o saber funcionando como amparo da fé. A partir
dessa idéia, os evangélicos investem na construção
de uma educação geral e mais abrangente, desde
quando todos deveriam ler a Bíblia, sem distinção
e discriminação, para encontrar Deus em Sua
Palavra.
Assim, logo após a sua chegada a Salvador, em 1924, o casal Baker dá início
ao projeto de implantação de uma escola. Fixa residência no bairro de Mata
Escura, hoje Vasco da Gama, onde, na própria casa, os dois começam a
dar aulas. Mais tarde, mudam-se para a Rua Bom Gosto, atual Rua João das
Botas, no Canela, onde criam, oficialmente, em 1927, a Escola Americana.
Com o crescimento do grupo de estudantes, o casal resolve buscar um novo
espaço.
Não foi preciso ir longe. No vizinho bairro do Garcia, os Baker encontraram o
espaço adequado ao seu projeto. Localizado na Avenida Leovigildo Filgueiras,
81, estava o imponente casarão que servira de morada ao vice-rei do Brasil,
Conde dos Arcos. O palácio era propício à instalação das salas de aula,
laboratórios, área de recreação e internato, além de lhes servir como moradia.
No Garcia, já naquela época, havia dois tradicionais colégios católicos. O
local, portanto, era favorável à iniciativa do casal que logo ocupou o novo
prédio. Os Baker passaram a acalentar a possibilidade de adquirir a proprie-dade
e consolidar ali o projeto de educação protestante na Bahia e no Brasil.
Naquele momento, quando ocupa o Palácio Conde dos Arcos, a Escola
Americana funcionava apenas com o curso primário. O empenho do casal
Baker em fornecer uma educação de excelência e cada vez mais
comprometida com o seu entendimento de que não se constrói uma
sociedade democrática sem conhecimento suficiente para o exercício da
Untitled-1 38 14/08/2008, 18:03
36. cidadania, inclui, a partir de 1929, a oferta de mais um nível educacional: o
curso ginasial.
O reconhecimento oficial daquele curso, em 1931, faz com que a escola
passe a se chamar Ginásio Americano. Após este episódio, a instituição
implantou também o Curso de Admissão, que preparava o estudante para
prestar o exame obrigatório para o ingresso no ginasial13. Assim, o Ginásio
passa a oferecer três cursos à comunidade.
Diante da expansão das atividades do Ginásio, os Baker resolveram escrever
à Missão solicitando ajuda para a compra da propriedade. A organização
respondeu negativamente, pois as dificuldades financeiras daquele momento,
ainda conseqüência da crise econômica de 1929, impediam-na de fazer novas
aquisições, o que implicaria em mais despesas, com as quais não poderia
arcar.
A referenciada crise econômica se instalou a partir do final da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918). Naquela época, a indústria dos EUA respondia por quase
50% da produção mundial. O país havia desenvolvido um estilo de vida
conhecido como american way of life, que se caracterizava pelo aumento
na aquisição de bens de consumo, a exemplo de automóveis,
eletrodomésticos e toda sorte de produtos industrializados. Findo o conflito,
os países europeus voltaram-se à organização e desenvolvimento de sua
estrutura produtiva e, para tanto, reduziram as importações de produtos
americanos, enquanto os Estados Unidos mantinham acelerado o ritmo de
sua produção industrial e agrícola.
O excesso de oferta de produtos e a redução do poder aquisitivo dos
consumidores aumentaram o desequilíbrio do mercado, agravado pela
rápida atualização das indústrias inglesa, francesa
e alemã, o que contribuiu para a ocorrência do
crack da Bolsa de Valores de New York, que
funcionava como termômetro econômico do
mundo capitalista, em 29 de outubro de 1929. No
pregão daquele dia, a bolsa experimentou uma
queda no valor das ações das maiores e principais
empresas como nunca visto antes. Isso afetou
também o Brasil, que dependia das exportações
de café, principalmente para o mercado norte-americano.
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 39
VILA CÉLIA
Internato feminino nos anos 1930
Diante deste quadro, o projeto do casal Baker ficou
registrado e à espera de um momento mais
propício à realização da compra do imóvel tão
desejado.
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37. PAVILHÃO DE AULAS
Os anos 1930 foram marcados
pelo ritmo das construções Quando Irene Baker voltou a Salvador, em 1977, para participar das
40 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
comemorações do cinqüentenário do Colégio 2 de Julho, relatou, em
entrevista, como ela e seu marido conseguiram, apesar da crise econômica,
comprar o Solar Conde dos Arcos. Ela conta que, uma noite, no ano de 1933,
retornavam do cinema e encontraram, no cadeado do portão do palácio,
um telegrama em código, procedente dos Estados Unidos. Depois de
decodificá-lo, perceberam que o conteúdo do texto era a autorização da
Missão para a aquisição da propriedade. A organização disponibilizava a
quantia de US$ 10 mil dólares, o suficiente para realizar a compra definitiva
do palácio e dos terrenos contíguos que integravam a Chácara Práguer,
propriedade, desde 1893, da família de Francisca Rosa Barreto Práguer.
Irene Baker contou que posteriormente ficou sabendo que o dinheiro veio da
venda de uma das escolas do BOARD (Quadro de Missões Estrangeiras da
Igreja Presbiteriana de New York), na Pérsia, atual Irã. A escola estava
localizada na fronteira persa e parte da propriedade se estendia para territórios
estrangeiros. O governo daquele país propôs comprar o imóvel com o
pagamento em prestações. A primeira parcela, no valor de US$ 10 mil dólares,
foi revertida na aquisição do palácio, que passou a pertencer à mantenedora
do então Ginásio Americano, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da
América, sob a responsabilidade do casal Baker, seus representantes e admi-nistradores
legais.
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38. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 41
De posse da Chácara Práguer, sítio no qual se
incluía o solar, Peter e Irene Baker, naquele
mesmo ano, iniciaram uma série de
construções nos terrenos, visando a amplia-ção
das instalações do Ginásio e do interna-to.
Ainda em 1933, o palácio foi tombado pelo
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico
Nacional), com o objetivo de preservar
aquele importante monumento da história
brasileira. Primeiro, porque o solar ainda
guarda, entre suas paredes, as lembranças de
uma época rica, particularmente pela diversi-dade
de pensamentos, sentimentos e ideolo-gias
que marcaram de forma acentuada todo
o período colonial; além dos eventos
realizados em seu interior e deixaram suas im-pressões
no tempo e na alma dos que ali
viveram ou transitaram, legadas à memória
de seus descendentes. Em segundo lugar,
porque, a partir de 1927, começara a ser escrita
ali uma nova página da História, na qual a produção do saber consolidaria
os ideais de uma sociedade livre e democrática, construída nos alicerces de
uma educação libertadora, da qual o ser humano é o sujeito principal.
Ampliando os horizontes
O casal Baker tinha, em seu trabalho, o propósito de oferecer o melhor aos
seus estudantes. Além de zelar pela parte pedagógica e manter uma rígida
disciplina que passava da assiduidade e pontualidade até como comportar-se
dentro e fora da sala de aula, também se preocupava em receber e
acomodar os estudantes de modo digno e confortável.
O primeiro pavilhão de aulas construído pelos Baker depois da compra do
terreno recebeu o nome de Erasmo Braga, realizado no período de 1933 a
1938. Durante esse tempo, o Ginásio Americano alugou a “Vila Célia”, imóvel
nº 101 da Avenida Leovigildo Filgueiras, com o objetivo de instalar ali o
internato feminino. De 1938 a 1939 ergueram-se o pavilhão Castro Alves e
também a residência dos diretores, em terreno contíguo ao palácio .
Foi em 1939, pelo desejo do casal de homenagear a Bahia, que o Ginásio
Americano teve o seu nome mudado para Instituto 2 de Julho, uma clara
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39. 42 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
PAVILHÃO BAKER
Em construção e já inaugurado
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40. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 43
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41. 44 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
AUDITÓRIO BAKER
Inaugurado em 1949, o local recebeu
importantes personalidades e eventos
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42. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 45
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43. 46 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
alusão à data da Independência Baiana do jugo português. A denomina-ção
de Instituto foi adotada em função de a oferta de cursos já não se
ajustar mais à designação de Ginásio. O quadro de cursos da instituição
continuou a crescer até que, em 1943, passou a ser ofertado também o Co-legial,
que compreendia os chamados Clássico e Científico. Naquele ano, o
presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto nº 11.474, de 3 de fevereiro, que
autorizou o funcionamento do Colégio 2 de Julho em substituição ao Institu-to.
O reconhecimento oficial, no entanto, só se concretizou em 1952, através
da Portaria nº 167, de 13 de março de 1952, do então Ministério da Educação
e Saúde, assinada pelo ministro Simões Filho.
No ano de 1949, o Colégio 2 de Julho inicia as obras de edificação do Audi-tório
Baker, projetado pelo engenheiro Luís Moura Bastos, e um novo pavi-lhão
com 12 salas de aula. A construção do auditório era muito cara e, por
isso, o casal apelou para o apoio de amigos, igrejas e organismos internaci-onais,
destacando-se as igrejas presbiterianas de Ridgewood (New Jersey),
de Houtington (New York), e grupos de jovens e universitários, além da própria
liderança da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América,
mantenedora do Ginásio.
Concluídas as obras do auditório, naquele mesmo ano, deu-se início à cam-panha
para a compra das cadeiras e de um piano, equipamentos necessários
ao funcionamento do espaço. Com doações da comunidade estudantil,
pais de estudantes e ex-estudantes foi possível inaugurar o auditório em 18
de outubro de 1949.
A preocupação de construir novas instalações capazes de propiciar melhores
acomodações e mais conforto para os estudantes se baseava no
entendimento do casal Baker de que isto tinha reflexos na qualidade geral
do processo de ensino-aprendizagem. Mas para que o ensino fosse eficiente,
acreditava, era preciso atingir o homem na sua totalidade. E não se atingiria
esse objetivo se não cuidasse de uma parte importante do ser humano: o
corpo físico.
A idéia, dentro dos conceitos protestantes de educação, é de que “O corpo
é a morada do Espírito. É a oficina em que trabalha a alma, instrumento de
que ela se serve para manifestar-se ao mundo material”14. Daí se entender
que o corpo deve ser objeto de constante cuidado, pois a eficiência física é
um dos fins da educação. A práxis da Educação Física sempre fez parte do
currículo em todos os colégios protestantes, onde existe a compreensão de
que o ensino deve ser eficiente e preparar o ser humano para a vida prática.
Essa preparação exige um desenvolvimento integral do indivíduo a partir de
um corpo sadio e pronto para qualquer tipo de atividade. O esporte
organizado sempre foi, desde a Grécia Antiga, um instrumento poderoso
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44. PRIMEIRAS TURMAS MISTAS
Colégio 2 de Julho
foi o pioneiro na iniciativa
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 47
para desenvolver a disciplina e o espírito cooperativo. Tal entendimento se
revelou na implantação de quadras poliesportivas no Colégio de modo a
propiciar a prática saudável de esportes variados.
Do mesmo modo, devido aos seus princípios e entendimento de que
educação é um processo integral, a professora Irene Baker preocupou-se em
construir uma capela dentro do espaço físico do Colégio. Ela acreditava
que corpo sadio e disciplinado, aliado a um Espírito equilibrado, dava ao
indivíduo as condições necessárias para ousar na vida e agir com maturidade
diante dela.
2 de Julho no Movimento Escola Nova
O casal Baker também revolucionou a educação, em Salvador, quando
assumiu incluir em suas salas de aula grupos mistos de estudantes. Na época,
as demais escolas religiosas de classe média na Bahia se dividiam por gênero.
O Colégio Antônio Vieira, por exemplo, só aceitava meninos em seu corpo
discente e o Colégio das Sacramentinas apenas meninas. Localizado no mes-mo
quarteirão que estas duas instituições de ensino de orientação Católica
Romana, o Colégio 2 de Julho ousou acolher em suas dependências e educar
meninos e meninas da capital e do interior do Estado.
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45. 48 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
Estes estudantes compartilhavam não apenas as salas de aula, mas o cotidi-ano
do Colégio, vez que boa parte deles vivia ali em regime de internato.
Tamanha ousadia aumentava a responsabilidade do casal e de seus cola-boradores,
principalmente dos censores, cuja função precípua era vigiar os
estudantes, a fim de manter a ordem e os bons costumes.
Além disso, o Colégio inaugurou uma série de novidades no campo educa-cional
baiano. Uma delas foi o envolvimento com a pedagogia do movi-mento
Escola Nova. Este movimento começou a se esboçar nos anos 1920 e
se consolidou na década seguinte, tanto na Europa Ocidental quanto na
América, onde, no Brasil consegue a adesão de relevantes personagens da
educação, a exemplo de Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1897-
1970).
A Escola Nova era também conhecida como Escola Ativa ou Progressista e
apresentava uma proposta inovadora, conceituada pelo filósofo e
pedagogo norte-americano John Dewey, para quem a escola devia deixar
de ser o local de transmissão de conhecimento para se tornar comunidades
nas quais o conhecimento seria construído de acordo com o perfil de cada
uma delas.
Sobre as ações do 2 de Julho e a postura inovadora de seus criadores, Teixeira
escreve:
Em seguida, destaca-se o fato de, desde o princípio, ter se definido
como uma escola mista, para meninas e meninos, inovação que outras
escolas particulares ainda não tinham implantado e que se constituiria,
juntamente com práticas pedagógicas ligadas à Escola Nova, uma
novidade no panorama educacional baiano. O caráter misto de sua
clientela tornou-se ainda mais evidente quando foi instalado o sistema
de internato, para meninos e meninas, o qual catalisou as necessida-des
e os interesses de famílias do interior do Estado, enviando seus filhos
para estudar em Salvador15.
Em seu texto a “Educação das Virgens”, a professora Elizete Silva Passos16
explica como se dava a educação das meninas-moças nos tradicionais
colégios católicos de Salvador: “O Colégio Nossa Senhora das Mercês come-çou
a funcionar, em 1897, com um processo educativo fundamentado em
princípios morais que conduzissem à pureza do corpo e do espírito”.
Ela observa que até o ano de 1956 aquela instituição se dedicava apenas à
educação feminina e a maioria das estudantes morava na própria escola.
Para garantir uma formação adequada às alunas, eram adotadas práticas
que possibilitassem o disciplinamento do corpo e da vontade. A realização
das atividades do dia obedecia a um controle minucioso do tempo. Ela
expõe que ali havia até a delimitação dos espaços físicos, através da
imposição dos lugares que as alunas deveriam ocupar na sala de aula.
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46. A partir dos anos 40 do século XX, o Colégio 2 de Julho passou a oferecer
para os estudantes aulas de arte culinária e economia doméstica. Embora,
em termos de conteúdo estudado, o currículo fosse
o mesmo para ambos os sexos, com a inclusão
destes ensinamentos, o Colégio antecipava, em
quase uma década, tendências que só foram
experimentadas nos anos 1950, quando o Brasil viveu
um período de ascensão da classe média.
A disciplina era levada a sério por estudantes e
professores. Em seu depoimento a Rosado, a
professora e historiadora Marli Geralda Teixeira
observa que o caráter eclético do seu público, que
professava credos distintos, aliado ao fato de
educarem, no mesmo espaço físico, meninos e
meninas, consistia um diferencial naquele momento,
mas o Colégio 2 de Julho não se diferenciava de
outras escolas congêneres no tocante às relações
de poder. Teixeira17 comenta:
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 49
ESCOLA NOVA
O Colégio antecipou em uma década
as tendências da sociedade
O autoritarismo dos seus fundadores
estabelecia uma rígida disciplina que era
suavizada pelas diretrizes contraditoria-mente
democratizantes e pelas novi-dades
de sua pedagogia.
Além dos diretores e professores, os estudantes eram
conduzidos pelos censores, que eram discentes
bolsistas selecionados para realizar este trabalho,
com o fruto do qual custeavam seus estudos na
instituição. Era uma espécie de “bolsa trabalho”.
Os censores funcionavam como “o olhar” da direção entre os estudantes.
Constava, entre suas atribuições, acompanhar e tomar conta das “bancas”
à tarde e à noite, a fim de que os estudantes preparassem as atividades
exigidas pelos professores.
Os censores eram os responsáveis pela administração dos dormitórios e
cuidavam igualmente do recreio: vigiavam os banheiros para que os
estudantes não fumassem e evitar que os namorados se encontrassem às
escondidas. Cumpria-lhes manter a ordem e os bons costumes durante as
refeições.
Estudantes indisciplinados perdiam o direito de sair aos domingos para
passear, ir ao cinema, jogar futebol ou namorar. Mas apesar da vigilância e
do cuidado com a disciplina, o Colégio 2 de Julho, a primeira instituição de
ensino particular a incluir um público misto, em Salvador, contribuiu para
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47. 50 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
reduzir os limites que na época se impunham ao processo de formação edu-cacional
das mulheres, notadamente na primeira metade do século XX.
O casal Baker amplia suas ações
Realizar um projeto como o que os Baker sonharam provavelmente custou
dias e noites de planejamento, trabalho e dedicação, mas esta concretização
resultou em um significativo legado para o povo baiano. Os Baker entendiam
sua vocação nos mesmos termos em que Lutero18 explica essa aptidão como
um dom especial e pessoal pronto para ser vivido e experienciado onde
quer que se faça necessário, e sempre a serviço do “Reino de Deus”, que está
acima de qualquer espaço físico ou instituição, priorizando a gratuidade da
vida e a dignidade da pessoa humana. Desse modo, conforme conta a
professora Leda Jesuíno (informação verbal)19, além de dirigir o Colégio, os
Baker encontraram tempo para colaborar com a criação da Associação
Cultural Brasil - Estados Unidos, atendendo à comunidade que desejava
aprender a Língua Inglesa.
De acordo com a professora Leda Jesuíno, ao idealizar a Faculdade de Filosofia
(da Universidade Federal da Bahia), o professor Isaías Alves selecionou os me-lhores
professores da época para integrar o corpo docente do curso. Apesar
de todo seu cuidado na escolha dos nomes, ele foi severamente criticado
porque o currículo do curso incluía disciplinas como Antropologia e Etnografia
e não havia, na Bahia, professores especializados para ministrá-las. As pressões
não o intimidaram e ele convidou os professores Tales de Azevedo e Wander-lei
Pinho; e, para Literatura e Língua Inglesa, chamou os Baker, que se inte-graram
ao grupo, ali atuando até quando foram chamados para dirigir o
Instituto Mackenzie, em São Paulo, mantido pelos presbiterianos.
Mesmo tendo se mudado para São Paulo, em 1951, o Colégio 2 de Julho
continua a ser a “menina dos olhos” do casal. De 1927 a 1940, os Baker estive-ram
à frente da direção do Colégio. No período de 1940 a 1945, por decreto
do Governo Federal, eles foram afastados do cargo, pois, em função da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo brasileiro resolveu proibir que
estrangeiros ocupassem cargos de chefia, a exemplo de diretores de institui-ções
de ensino. Naquele momento tiveram o apoio do professor da casa,
Basílio Catalá Castro, também pastor presbiteriano, que assumiu a direção
oficiosamente, enquanto o casal, extra-oficialmente, continuava a coman-dar
o Colégio.
Encerrada a guerra e vencido Hitler, o governo brasileiro cessou o interdito
que proíbia os estrangeiros de responderem por cargos de chefia e o casal
Untitled-1 50 14/08/2008, 18:03
48. pôde reassumir as funções de diretores do 2 de Julho, até 1951, quando foi
substituído pelos missionários norte-americanos Ellis Lee Graves e sua esposa
Emilia Graves, que tinham como vice-diretores os professores Norman Duns
More e Rogério Perkins.
Depois que se aposentou, o casal Baker regressou
aos Estados Unidos da América, onde continuou a
servir às causas educacional e protestante como
voluntários. Em 1963, em Silvertmore, no estado da
Pensilvânia, encerra a jornada terrena Peter Baker,
que dedicou 67 anos de sua vida à educação e à
missão evangélica.
Sua esposa, Irene Baker, resistiu à perda do seu
amigo e companheiro e viveu mais 23 anos,
falecendo em 1986, aos 82 anos. A professora Leda
Jesuíno, uma de suas alunas mais queridas,
publicou no jornal A Tarde, de Salvador, o artigo
intitulado “A mestra que veio de longe”, onde
destaca:
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 51
BASÍLIO CATALÁ CASTRO
Primeiro brasileiro na direção do Colégio
Sua serenidade tornava-se evidente,
quando em volta de si reunia os alunos
para ensinar inglês através de belas canções ou quando à sombra dos
velhos tamarineiros sentava-se com seus pequeninos para as aulas de
geografia que se tornavam imaginárias viagens em volta do globo
terrestre. Possuía a fórmula mágica de transformar um difícil conteúdo
pedagógico em um texto facilmente assimilável. Na estrutura de sua
aula todas as peças estavam azeitadas e se articulavam bem. A sua
vocação era lídima [...]20
Na sua última visita ao Colégio, em 1977, o Conselho Estadual de Educação
prestou-lhe significativa homenagem, outorgando-lhe, no dia 26 de outubro,
o titulo de “Educadora Emérita”. A professora Leda Jesuíno lembra que,
naquele dia, as homenagens foram calorosas e reuniram na Faculdade de
Filosofia alguns dos ex-alunos da mestra para um encontro que assim
descreveu:
[...]os frutos ao pé da árvore-mãe em pleno solo pátrio. E em um fim de
tarde, sob a inspiração do simbólico lema Brasilidum Sobolem Traditione
Paro, inscrito no brasão que enriquecia o vetusto salão nobre da então
Faculdade de Filosofia, Theresinha Guimarães, Nélia Dias Costa, Dagmar
Barreiros, Luiz Angélico da Costa e Maria Emiliatros, irmanados todos em
um sentimento maior: a gratidão. Irene Baker estava lúcida, consciente
da sua missão, imponente de sua humildade e muito orgulhosa da sua
seara.[...] No Colégio 2 de Julho ela reviveu o galgar daquelas
escadarias. Conviveu com as naus, os cabelos e os arcos dos painéis
de azulejos policromáticos do século XVIII que amenizaram o seu labor
diário e abençoou a sua colheita. 21
Leda Jesuíno finaliza o artigo ressaltando que a imagem do casal Baker vai
estar sempre relacionada ao amanhecer de uma nova era, pois eles
Untitled-1 51 14/08/2008, 18:03
49. PRÉDIO IRENE GUSMÃO
Obra construída em 1955,
durante a gestão de
Ellis Graves
IRENE BAKER
Homenageada por Edelvira
Castro, viúva de Basílio Catalá,
em 1977, por ocasião dos
50 anos do Colégio
Untitled-1 52 14/08/2008, 18:03
50. “A relação dos Baker com o 2 de Julho
era uma manifestação de amor [...]
que se mostra no ato simples de substituir
o nome da Escola Americana [...] pela
data de Independência da Bahia”
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 53
consideravam o homem como um ser biopsico-espiritual dentro de uma vi-são
educacional humanística e liberal.
A relação dos Baker com o 2 de Julho era uma manifestação de amor. Amor
que se revela na suplantação até mesmo da
saudade da Pátria distante e que se mostra no ato
simples de substituir o nome da Escola Americana,
homenagem ao seu país de origem, pela data de
Independência da Bahia. Era uma doação
amorosa, como amorosa é toda a relação exercida
no magistério. É através do amor que o professor-educador
faz despertar no educando o dom do aprender e do apreender
dons e saberes. Foi este amor que levou Dona Irene a doar - porque amor é,
acima de tudo, doação - em testamento, todos os seus bens para a Fundação
2 de Julho.
O casal Graves
Antes de assumir a direção do Colégio 2 de Julho, o casal Ellis Lee e Emília
Graves esteve à frente de outra instituição presbiteriana, o Instituto Ponte
Nova, fundado em 1906, no interior da Bahia, pelo casal de missionários William
Alfred Waddel e Laura Chamberlain Wadel. O casal Graves pertencia à classe
média alta norte-americana. A professora Emília dedicava-se à educação
infantil e, além de ensinar Música, possuía conhecimentos nas áreas de
Pedagogia e Psicologia, o que contribuiu para o êxito de seu trabalho com
as crianças.
Além de vir de uma família abastada, Ellis Lee Graves era dotado de incomum
beleza física que o levou a fazer testes para ator, em Hollywood, antes de
optar pelo trabalho missionário. Mas a vocação para o ministério falou mais
alto, embora a verve artística não tenha sido esquecida. No Brasil, atuou no
filme “O Punhal”, escrito por Jaime Wright e produzido, em 1959, em Itacira,
município de Wagner (Bahia), pelo reverendo Ricardo William Waddel22.
Como diretor do Colégio 2 de Julho, Ellis Graves deu continuidade às obras
de construção iniciadas ainda no período do casal Baker. Em 1951, com
recursos da Junta de Missões, adquiriu novos imóveis que foram anexados à
área do Colégio. De 1954 a 1955 realizou a construção do internato feminino
que passou a funcionar em instalações próprias, transferindo-se da “Vila
Célia”, onde funcionava desde 1937, em um imóvel alugado, para o espaço
do Colégio. Neste mesmo período ocorreram duas construções significativas,
Untitled-1 53 14/08/2008, 18:03
51. Êxito no trabalho de música com as crianças
54 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
CASAL GRAVES
a casa do vice-diretor e o apartamento da Missão, destinado a acolher os
missionários visitantes que chegavam a Salvador a passeio ou a negócio.
Quando os Graves, os últimos norte-americanos que dirigiram o colégio,
aposentaram-se, em 196023 , foram sucedidos pelo professor Enoch Senna
Souza, que vinha sendo preparado para substituí-los.
Associação de Ex-Alunos do Colégio 2 de Julho
Peter Baker e Irene Baker, desejosos de continuar mantendo contato
com os estudantes que se formavam, promoveram, no dia 11 de
novembro de 1937, no Hotel Meridional, um jantar para os ex-estudantes
do então Ginásio Americano, ao qual compareceram
28 pessoas. Naquela ocasião, Peter Baker apresentou aos
presentes sua idéia de constituir uma sociedade formada pelos
ex-estudantes do Ginásio, proposta que teve aprovação
unânime. Criou-se, dessa forma, a Associação dos
Graduados do Ginásio Americano, sendo eleitos Carlos
Rodrigues Nogueira, para presidente, e Manoel Nunes
da Cunha Régis, para secretário, compondo a
primeira diretoria.
Untitled-1 54 14/08/2008, 18:03
52. FORMATURA DO CURSO GINASIAL
Na primeira fileira (de baixo para cima) o professor Clériston Andrade,
paraninfo, e na fileira acima , o aluno Josué Mello, orador da turma
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 55
De acordo com Rosado24
[...] originalmente só poderiam participar da Associação os graduados
em Ciências e Letras. Em 1942, o Ginásio passou por profundas mudanças,
graduando-se a última turma em Ciências e Letras, sendo este curso
substituído pelo Curso Colegial. Conseqüentemente, a Associação
passou a admitir somente os que concluíam o colegial no Instituto 2 de
Julho, novo nome do Ginásio Americano.
Dois feitos da Associação dos Graduados merecem especial destaque: a
fundação da biblioteca, no final da década de 1930, que foi denominada
Biblioteca Basílio Catalá Castro, e o concurso para escolha do hino.
A idéia de compor um hino para o Colégio 2 de Julho25 começou a ser
gestada em uma reunião, no dia 23 de novembro de 1940, no Palácio do
Conde dos Arcos, onde Peter Baker destacou a importância de o Instituto ter
um hino composto pelos seus graduados. A proposta foi aceita
unanimemente e nomeou-se a professora Irene Baker, presidente de honra
da Associação, e o graduado Martinho Lutero dos Santos para promoverem
os meios de realizar o concurso que foi vencido pelos graduados Ananias
James de Oliveira (letra) e Sylvio de Souza Pinheiro (música).
Além do hino do Colégio, outra significativa contribuição de seus ex-alunos
foi a criação do escudo da escola, idealizado e desenhado pelo médico
Manoel Nunes da Cunha Régis, que foi estudante e professor do 2 de Julho,
membro do Conselho Deliberativo e um dos fundadores do Colégio Augusto
Galvão, em Campo Formoso (Bahia).
Em 1980, o reverendo Áureo Bispo dos Santos propôs a reestruturação da
Associação, que começou a admitir todos aqueles que haviam estudado
no Colégio e, assim, a Associação dos Graduados do Ginásio Americano
passou a denominar-se Associação de Ex-Alunos do
Colégio 2 de Julho.
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53. 56 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
Hino do Colégio 2 de Julho
No cenário glorioso da vida,
Entre brilhos de amor e de fé,
Tantas glórias da escola querida
Os teus filhos já cantaram de pé.
Nesta terra de Ruy, onde canta,
O canoro e gentil sabiá,
Nossa voz com vigor se levanta
“2 de Julho” entre festas está!
Salvador é a terra formosa,
De matiz e esplendor naturais.
Salvador é um berço de rosas,
Ninho quente dos “gênios mortais”.
Mas, se um dia eu deixar esta terra,
Para as lutas e embates da vida,
Guardarei este nome que encerra
Em meu peito esta escola querida.
2 de Julho, esta data inaudita,
Que enaltece tão rica nação
É o nome da casa bendita
Onde andamos buscando instrução.
No Brasil tudo é forte, altaneiro.
Pra lutar, trabalhar e vencer;
“2 de Julho” nasceu brasileiro
Brasileiro ele há de viver.
Coro
Salve, Salve, 2 de Julho
Justo orgulho da Bahia
Facho aceso do saber,
Do prazer e da alegria
Letra de Ananias James de Oliveira
Música de Sylvio de Souza Pinheiro
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54. O PROCESSO DE
NACIONALIZAÇÃO E A
FUNDAÇÃO 2 DE JULHO
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56. Período de transição
O fato de se ter um brasileiro na direção do Colégio
não significava dizer que a sua administração era
nacional, desde quando o reverendo Enoch Senna
Souza continuava respondendo à Missão
Presbiteriana norte-americana.
Ele mesmo conta (informação verbal)26 que:
[...] sua relação com o Colégio 2 de Julho
iniciou quando era estudante, na gestão
do casal Baker. Depois foi presidente da
Associação dos Graduados do Colégio (a
atual Associação dos Ex-Alunos). Após se
graduar em Teologia pelo Seminário
Presbiteriano do Recife, foi convidado por
Ellis Graves, para trabalhar junto com ele
no Colégio, onde atuou como vice-diretor
e capelão, antes de tornar-se diretor.
O reverendo lembra que no tempo em que dirigiu o
Colégio junto com sua esposa Jane Régis Senna Sou-za,
o 2 de Julho ainda guardava as referências dos
colégios Presbiterianos confessionais, mas sem a
catequese. Apenas os alunos internos estavam obri-gados
a participar da Escola Bíblica Dominical.
Quanto às questões administrativas, o reverendo
Enoch explica que ele introduziu transformações que
dividiram a história da instituição em fases distintas:
1ª O Colégio era independente, apesar
de ser dirigido por missionários. Na época
do casal Baker, ele era da Missão, obede-cia
à Missão e não havia Conselho.
2ª No momento em que se criou o Conse-lho
houve um interregno; Quando os Gra-ves
se aposentaram e se retiraram, ele as-sumiu
como diretor do Colégio e ficou su-bordinado
à Missão Presbiteriana do Brasil
Central, que era do BOARD de New York.
3º Depois veio a época dos Conselhos. O
primeiro nomeado foi o “Conselho
Deliberativo”, em que as pessoas que o
integravam eram de destaque na
sociedade e/ou ligadas à Igreja
Presbiteriana. Nesse Conselho, do qual o
reverendo era membro ex-ofício, tinha
assento garantido um representante da
Missão, que, na época, foi o reverendo
Jaime Wright. (informação verbal)27
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57. 62 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
Para o professor Enoch Senna, o tempo em que conduziu a vida do Colégio
foi de grande aprendizado para ele e sua esposa. Durante sua administra-ção
foram adquiridos novos imóveis, realizou-se a reforma do campo de
futebol, foram construídas novas salas de aula, foi reformado o internato
feminino e construída a Biblioteca Irene Baker. Lembra, com orgulho, que, no
ano de 1968, o Colégio 2 de Julho recebeu o título de Consagração Pública
de melhor colégio particular de Salvador.
O reverendo Enoch conta com um misto de saudade e de orgulho o que ele
considera ter sido a “recompensa pelo nosso trabalho”:
Naquele tempo havia a Delegacia Regional do MEC (Ministério da
Educação e Cultura) que supervisionava o nível de ensino. O inspetor
seccional era o padre Manoel Barbosa. Ele fazia reuniões periódicas
com orientações para as escolas. Um dia nós levamos o Regimento do
Colégio 2 de Julho para ele aprovar. Ele disse: “O que vocês fazem nós
não precisamos aprovar”. Ele assinou o Regimento, sem ler uma palavra,
e me devolveu (informação verbal)28.
Sua saída da direção do Colégio se deu pelo fato de discordar do modelo
de organização proposto para gerir a instituição. Ele acreditava que ela
acabaria por cercear a liberdade do diretor. Quando ele decidiu deixar o
cargo, o 2 de Julho sofria os reflexos da crise política eclesiástica que envol-via
a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) durante o período do governo militar
no País, o que afetou a estrutura administrativa do Colégio e ameaçou o
seu projeto educacional.
No entanto, os descompassos políticos, eclesiásticos e sociais daquele mo-mento
não se constituíam impedimento para o desenvolvimento do projeto
iniciado, em 1927, pela família Baker. Longe disso, prenunciavam o nascimento
de uma nova era, na qual este projeto se evidenciaria pela sua pujança e
poder de união capaz de transcender as barreiras das diferenças culturais e
superar a questão confessional para tornar-se um bem comum do povo
baiano.
O processo de transferência, também chamado de processo de nacionaliza-ção,
do Colégio 2 de Julho, mantido pela Missão Presbiteriana dos Estados
Unidos desde 1927, data de sua criação pelo casal de missionários e professo-res
Peter Garret Baker e Irene Hight Baker, para a Fundação 2 de Julho, insti-tuída
em 1976, foi marcado por uma série de eventos dentro da Igreja
Presbiteriana.
Em 1960, quando assumiu a direção do Colégio, após a saída dos norte-americanos,
o reverendo Enoch de Senna Souza devia obediência à Missão
Presbiteriana. Em 1966, a Missão resolveu criar um órgão para acompanhar e
apoiar a administração brasileira, decisão que deu origem ao Conselho
Deliberativo. O mesmo tinha uma composição mista. Integravam-no alguns
Untitled-1 62 14/08/2008, 18:03
58. JANE E ENOCH SOUZA
Juntos na Direção do Colégio entre 1960 e 1976
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 63
norte-americanos, membros do Presbitério de Sal-vador,
e um representante do Sínodo.
O primeiro presidente do Conselho foi o reverendo
Edézio Chéquer, à época pastor da Igreja
Presbiteriana do Brasil (IPB) e muito ligado ao reve-rendo
Boanerges Ribeiro, então presidente do Su-premo
Concílio, que se empenhou pessoalmente
para que a Missão Presbiteriana passasse o contro-le
e o patrimônio do Colégio 2 de Julho para a IPB.
A denominação, em pleno período do governo
militar que se instalou no Brasil, em 1964, estava no
auge do processo fundamentalista e em uma cru-zada
antiecumênica, contra qualquer outro movi-mento
social que aos olhos de seus fiéis lembrasse uma ação comunista.
A iniciativa do Supremo Concílio da IPB encontrou, na Bahia, a resistência
moral e intelectual de pastores que integravam o Presbitério do Salvador e,
conseqüentemente, faziam parte do Sínodo Bahia-Sergipe. Testemunha ocu-lar
de todo este episódio, o reverendo João Dias de Araújo, perseguido pelos
fundamentalistas da IPB, registra nas páginas de seu livro “Inquisição sem
Fogueiras” as principais cenas e as histórias das personagens envolvidas em
todo esse processo.
O interesse pela posse do Colégio 2 de Julho é devido ao seu status como
instituição de ensino de qualidade e se constituir, naquele momento, como
uma referência na área educacional, gozando de grande prestígio junto à
sociedade soteropolitana, e chamando a atenção não só por sua pedagogia
inovadora, mas também pelo patrimônio físico acumulado. Desse modo,
assumi-lo era ter a oportunidade de influenciar uma parcela significativa da
sociedade baiana.
O Conselho Mundial de Igrejas, diante da realidade social brasileira, decidiu-se
“favorável às classes sociais de baixo poder aquisitivo”, e dentro deste
princípio “buscava na educação o caminho para fazê-las ascender
socialmente”. Por isso, “a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos decidiu doar
à Igreja Presbiteriana do Brasil todos os seus bens existentes no País”29, entre os
quais se incluía o Colégio 2 de Julho que, no entanto, a Missão Americana
decidiu manter em seu poder.
A primeira tentativa no sentido de conseguir a transferência do Colégio 2 de
Julho para a IPB foi feita pelo reverendo Edézio Chéquer, tão logo assumiu a
direção do Conselho Deliberativo representando os interesses da ala
fundamentalista. Essa investida fracassou, pois a formação inicial do conselho
só durou quatro meses e, em julho de 1966, foi eleito presidente do Sínodo o
Untitled-1 63 14/08/2008, 18:03
59. 64 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
JOSUÉ MELLO
Presidente do Conselho Superior
de Administração (1966-1976)
pastor Josué da Silva Mello que, nesta condição,
tinha assento garantido no conselho do Colégio.
Ao assumir sua função de conselheiro, ele propôs a
substituição do Conselho Deliberativo pelo
Conselho Superior de Administração, que funcionou
de 1966 a 1976, sob a sua presidência. A sua ação,
contando com o apoio de outras lideranças do
Presbitério de Salvador, como Celso Dourado,
Sebastião Elias e outros, obstruiu, em grande parte,
a inserção direta do Supremo Concílio no Colégio,
dificultando a negociação que pretendia obter a
posse da instituição de ensino pela IPB. Estas
lideranças foram homenageadas e batizam com
o seu nome alguns prédios que compõem a Insti-tuição.
O Conselho Superior de Administração funcionou
durante dez anos e durante todo este período foi
presidido pelo pastor e professor Josué Mello. Semanalmente ele deixava os
seus afazeres na cidade de Feira de Santana, distante 107 quilômetros de
Salvador, para presidir as reuniões da Mesa do Conselho e, junto com o
diretor do Colégio, reverendo Enoch de Senna Souza, analisar os problemas
da instituição e emprestar-lhe apoio e suporte nas situações mais difíceis.
As principais atribuições do Conselho Superior de Administração, conforme o
próprio professor Josué Mello, eram:
acompanhar a administração geral, estabelecer políticas estratégicas,
apreciar contratações e demissões, além das atividades que faziam
parte do cotidiano administrativo do Colégio 2 de Julho (informação
verbal)30.
Este Conselho representou a transição processual entre a administração ame-ricana
e a criação da Fundação 2 de Julho, plenamente baiana.
A Fundação 2 de Julho
O Presbitério do Salvador, representado pelos seus líderes, os reverendos Se-bastião
Elias da Silva, Josué da Silva Mello e Celso Loula Dourado, respaldou
o Conselho Superior de Administração no processo de criação da Fundação
2 de Julho.
No período de transição do Colégio da administração americana para uma
gestão essencialmente brasileira, foram levantadas três alternativas:
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60. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 65
1. Vender o Colégio 2 de Julho, devolvendo os recursos da venda aos
seus doadores nos Estados Unidos;
2. Doar o Colégio 2 de Julho à Igreja Presbiteriana do Brasil, como dese-jaram
as lideranças regional e nacional da IPB;
3. Doar o Colégio 2 de Julho ao povo baiano, criando-se uma Fundação
para gerir o patrimônio e dar seguimento aos ideais educacionais de
seus fundadores.
Esta última alternativa foi defendida pela liderança do Presbitério do Salva-dor,
principalmente pelo professor Josué Mello, contando com o devido apoio
do reverendo Jaime Nelson Wright, representante da Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos no Brasil, que conseguiu conciliar os discursos, vencer os obs-táculos
e fazer convergir os pensamentos para uma administração autôno-ma
conduzida por brasileiros, em sua maioria educadores de formação cristã
evangélica, através de uma Fundação de direito privado, sem fins lucrativos,
supervisionada pelo Ministério Público.
Esta proposta desagradou não só aos dirigentes da IPB, como ao então diretor
do Colégio, reverendo Enoch de Senna Souza, que, observa Rosado31
[...] embora defensor do ecumenismo, divergiu quanto à estrutura pro-posta
para a Fundação por considerar que o diretor do Colégio estaria
subordinado a um secretário executivo, o que resultaria em restrição às
atribuições do primeiro. Tal situação gerou uma série de conflitos inter-nos
que afetou diretamente o cotidiano da comunidade acadêmica
e administrativa do Colégio 2 de Julho.
Assim, a Fundação 2 de Julho foi criada e implantada no dia 26 de dezem-bro
de 1976, na assembléia realizada na sala da biblioteca do Colégio 2 de
Julho, presidida por Jayme Nelson Wright, procurador da Comissão da Missão
e Relações Ecumênicas da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil Central
(COEMAR) e representante da Missão Presbiteriana do Brasil Central (MPBC), e
com as presenças de Josué da Silva Mello, EniIson Rocha Souza, Antônio
Timóteo dos Anjos, Áureo Bispo dos Santos, Gil Souza, Jack Thomas Sydenstricker
e Orlando Isaac Kalil Filho, todos escolhidos como implantadores da Fundação
2 de Julho.
A assembléia aprovou o Estatuto, depois do que se procedeu a eleição para
compor a primeira Mesa Diretora do Conselho de Curadores.
O primeiro presidente do Conselho foi o pastor e professor Josué da Silva
Mello, que o integrou até 1984, retornando em dezembro de 2003. Em
1984, coube-lhe apresentar a proposta de criação da Faculdade 2 de
Julho, implantada em março de 2000, e da qual é o atual diretor geral,
cargo que assumiu em maio de 2004. (informação verbal)32.
Da primeira constituição da mesa do Conselho de Curadores tomaram parte
Antônio Timóteo dos Anjos Sobrinho (vice-presidente) e Enilson Rocha Souza
(secretário).
Untitled-1 65 14/08/2008, 18:03
61. 1. Josué da Silva Mello
2. Antônio Timóteo dos Santos
3. Enilson Rocha Souza
4. Gil Souza
5. Áureo Bispo dos Santos
6. Jack Thomas Sydenstricker
7. Orlando Isaac Kalil Filho
8. Adélia Luiza Portela Magalhães
9. Arenilda Mignac
10. Lauro Borba da Silva
11. Agenor Cefas Cavalcante Jatobá
12. Marli Geralda Teixeira
13. João Rocha da Silva
14. Roberto Dias Abbehusen
15. Djalma Rosas Torres
16. Marisa de Freitas Ferreira Coutinho
17. Saul Venâncio de Quadros Filho
RELAÇÃO DOS CONSEL
(de dezembro de 1976 até o presente, por momento
INSTALAÇÃO DO PRIMEIRO CONSELHO DA FUNDAÇÃO
Da esquerda para a direita: Enilson Rocha Souza,
Orlando Isaac Kalil Filho, Jaime Wright,
Irene Baker, Josué Mello, Gil Souza,
Áureo Bispo e Antônio Timóteo dos Santos
Untitled-1 66 14/08/2008, 18:03
62. AÇÃO DOS CONSELHEIROS
dezembro de 1976 até o presente, por momento de ingresso)
18. Edyala Yglésias
19. Italva Almeida Simões
20. Euriconelson de Souza Sampaio
21. Lindaura Gomes Rabelo
22. Sérgio Augusto Miranda de Souza
23. Leda Jesuíno dos Santos
24. Romélia Santos
25. Nina Pereira Machado
26. Waldir Matos Régis
27. Moisés Dominguez Souza
28. Vera Lúcia Souza Bastos Teles
29. João Dias de Araújo
30. Cleber de Oliveira Paradela
31. Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da Costa
32. Maria Lúcia Cardoso de Souza
33. Jaime David Cardoso Pereira
Untitled-1 67 14/08/2008, 18:03
63. 68 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
A mesa, conforme reza o Estatuto, indicou Celso Loula Dourado para diretor
pedagógico e João Dias de Araújo para secretário executivo do Colégio 2
de Julho.
No ato da transferência do patrimônio da COEMAR para a Fundação 2 de
Julho assinaram os documentos o professor Josué Mello, presidente do Con-selho
de Curadores, o vice-presidente Antônio Timóteo dos Anjos Sobrinho e
o secretário Enilson Rocha Souza. A esta solenidade esteve presente a profes-sora
Irene Baker, fundadora do Colégio, que veio participar dos festejos do
cinqüentenário de atividades do educandário, comemorado naquela data.
Instituída pela COEMAR e pela MPBC, a Fundação 2 de Julho é pessoa
jurídica de direitos privados, sem fins lucrativos, com sede e foro em
Salvador, passando a ser mantenedora e proprietária do Colégio 2 de
Julho e tem por finalidade manter programas educacionais de acordo
com os princípios cristãos em que deve basear-se a formação moral da
juventude33.
Com a criação da Fundação 2 de Julho estava garantido o legado educa-cional
e sócio-cultural do Colégio 2 de Julho ao povo baiano.
A Fundação 2 de Julho é administrativamente composta pelos seguintes ór-gãos:
• Assembléia Geral de Nomeação;
• Conselho de Curadores;
• Mesa Diretora;
• Conselho Técnico.
A Assembléia Geral de Nomeação, que concentra poderes para eleger os
membros do Conselho de Curadores, é constituída por representantes de
vários segmentos da comunidade do Colégio e da Faculdade 2 de Julho,
entre eles: membros do Conselho de Curadores; dois representantes do cor-
JAIME WRIGHT
Ato de assinatura da
transferência do patrimônio
da COEMAR para a
Fundação 2 de Julho, em 1976
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64. 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 69
po docente de cada uma das instituições mantidas pela Fundação; presi-dente
do diretório estudantil da Faculdade e presidente da Associação de
Ex-Alunos.
A estrutura organizacional compreende também o Conselho de Curadores
de nove membros escolhidos entre brasileiros de ilibada reputação, de notó-ria
competência, educadores, cristãos e de formação evangélica em sua
maioria, implantando-se, assim, uma organização autenticamente
ecumênica.
A Mesa Diretora eleita pelo Conselho de Curadores está investida de amplos
poderes de administração, sem prejuízo da competência exclusiva do Con-selho
de Curadores. Ela é composta de um presidente, um vice-presidente e
um secretário.
O Conselho Técnico é um órgão consultivo do Conselho de Curadores (por
este indicado) no que diz respeito à administração, supervisão e orientação
educacional. Cabe a ele emitir pareceres sobre todos os temas de sua com-petência
e tem a seguinte composição:
• Diretoria Administrativa - Pedagógica;
• Orientadores Educacionais;
• Supervisores Pedagógicos.
A voz profética de Jaime Wright
Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos
de muitas gerações, e será chamado reparador de brechas, e
restaurador de veredas para que o país se torne habitável. (Isaías
58:1-12)
Em 1977, durante a celebração do cinqüentenário do Colégio 2 de Julho, já
um patrimônio do povo da Bahia, o reverendo Jaime Wright profere o sermão
intitulado: “Reparar Brechas e Restaurar Veredas”, no qual enfatiza, com a
ousadia profética de quem ama e, por isso mesmo, corrige, as condutas que
desviaram o Colégio dos seus objetivos. Ele conclama os presentes a se man-terem
vigilantes para não deixar que erros do passado fossem novamente
cometidos, acentuando que o Colégio 2 de Julho não poderia jamais es-quecer
o seu compromisso com os princípios cristãos, nem da prática da
justiça social, colocada pelo reverendo, como condição sine qua non para
que o Colégio 2 de Julho fosse abençoado tendo suas veredas restauradas e
suas brechas reparadas.
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65. Do mesmo modo que Richard Shaull, o reverendo Jaime Wright acreditava
que o princípio do amor e da gratuidade que inspirou o Cristianismo deveria
fazer diferença em uma sociedade marcada pelas desigualdades. O
referencial ético dos cristãos não poderia ser diluído pelos apelos consumistas
70 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
“O referencial ético dos cristãos
não poderia ser diluído pelos apelos
consumistas de um mundo capitalista,
nem pela ação fundamentalista
de pessoas e instituições que se acreditavam
detentoras de uma verdade absoluta”
de um mundo capitalista, nem pela ação
fundamentalista de pessoas e instituições que se
acreditavam detentoras de uma verdade absolu-ta.
Antes de tudo, entende que o homem deveria
lembrar-se de que “O caráter se enriquece e a vida
se alegra não pelo cumprimento de regras pela
consciência do dever, mas sim, por atos de serviços
generosos motivados por amor”34.
No culto de Ação de Graças, realizado no dia 16 de outubro de 1977, o
reverendo Jaime Wright falou, em seu sermão, sobre “as conseqüências da
verdadeira prática religiosa”, dando ênfase à postura do homem de fé diante
dos ensinamentos bíblicos:
Porventura não é este o jejum que escolhi? Que soltes as ligaduras dos
oprimidos e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que
repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres
desabrigados? E se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu
semelhante? Então romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará
sem detença, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será
a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás
por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. (Isaías 58:6-9b)
Os quatros versos do versículo 6 todos eles expressam a idéia da
libertação. É a mensagem de esperança desde o Antigo Testamento
até o Novo. Disse Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que
me ungiu para anunciar as boas novas aos pobres; enviou-me para
proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos”. (Lucas 4:1-8)
Promessas Sensacionais
“Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça o falar injurioso, se
abrires sua alma ao faminto e fartar, a tua escuridão será como o meio-dia.
O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em
lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e
como um manancial, cujas águas jamais faltam. Os teus filhos edificarão
as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações, e
será chamado reparador de brechas, e restaurador de veredas para
que o país se torne habitável”. (Isaías 58:9-12)
Uma das grandes surpresas do coração humano é que o sacrifício pes-soal
sem amor não alcança nem mérito e nem a paz. Disse São Paulo:
“Ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não
tive amor, nada disso me aproveitará”. (I Coríntios 13:3)
Nenhuma mera forma de religiosidade por mais que se atenha a uma
receita divina ou por mais conscienciosamente que seja observada
pode conduzir à luz e à paz do Céu as afeições humanas. Se nos
apegarmos ao necessitado com amor e com os braços da misericórdia,
o Senhor nos guiará continuamente, fartará a nossa alma, fortificará os
nossos ossos, e fará a luz nascer na escuridão.
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66. JAIME WRIGHT
Lembrando o compromisso cristão
e a prática da Justiça Social
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 71
O caráter se enriquece e a vida se alegra não pelo cumprimento de
regras pela consciência do dever, mas sim, por atos de serviços genero-sos
motivados por amor.
No final de cinqüenta anos, damos graças a Deus por todas as boas
coisas que aconteceram por causa da existência do Colégio 2 de
Julho e por causa de todos os servos obedientes que Ele usou para o
engrandecimento da Sua Causa.
E o que poderíamos esperar daqui por diante?
A Palavra de Deus é clara. Suas promessas são sensacionais.
Se tirarmos do meio de nós o jugo, o dedo que ameaça o falar injurioso;
se abrirmos a nossa alma ao faminto; se fartarmos a alma aflita; se
fizermos tudo isso,
· O Senhor nos guiará;
· Nossos filhos edificarão o futuro;
· Levantaremos os fundamentos de muitas gerações;
· Seremos chamados reparadores de brechas e restauradores de vere-das.
Se fizermos tudo isso, o Colégio 2 de Julho será sempre abençoado, e
será sempre uma benção, contribuindo para que a nossa pátria se
torne habitável, para todos.
Que seja sempre assim!35
O reverendo convidou todos a assumirem suas responsabilidades na
construção de um projeto de educação que ele entendia como parte do
projeto de Deus por um mundo mais digno. Encerrou sua mensagem recheada
de consciência e paixão, falando do amor como bálsamo e da esperança
como condição de libertação para tantos cativeiros impostos aos seres
humanos destituídos da dignidade para a qual Deus os criou. “Que a Pátria
se torne habitável para todos!” Essas palavras foram cravadas do seio da
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67. 72 2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber
história da instituição por uma das pessoas que mais a amou e acreditou no
seu ideal de educação.
A Fundação hoje
O Conselho de Curadores da Fundação 2 de Julho está assim constituído:
• Moisés Dominguez Souza Presidente
• Jaime David Cardoso Pereira Vice-presidente
• Heloisa Helena F. Gonçalves da Costa Secretária
• Cleber de Oliveira Paradela Secretário executivo
• Agenor Cefas Cavalcante Jatobá
• Italva Almeida Simões
• João Dias de Araújo
• Leda Jesuíno dos Santos
• Maria Lúcia Cardoso de Souza
• Romélia Santos
A Fundação 2 de Julho tem como missão desenvolver programas edu-cacionais
de acordo com os princípios cristãos em que deve basear-se
a formação moral da juventude. Entre esses princípios merecem desta-que
a promoção dos direitos e deveres dos indivíduos como membros
da comunidade, o respeito pela dignidade e pelas liberdades funda-mentais
da pessoa humana, o fortalecimento de uma sociedade
democrática, o preparo do cidadão e da sociedade para o uso e a
criação de recursos científicos e tecnológicos no sentido de possibilitar
melhores condições de vida às populações, a preservação e a
expansão do patrimônio cultural como um bem do povo e o
reconhecimento de que a educação constitui um direito de todos,
fortalecendo a consciência de responsabilidade pela formação de
uma sociedade mais justa.36
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68. Enilson Rocha Souza
1987-1993
Marli Geralda Teixeira
1998-1999
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 73
PRESIDENTES
Áureo Bispo dos Santos
1984-1986
Arenilda Mignac
1997-1998
Josué Mello
1976-1984
Saul Quadros
1994-1996
Agenor Cefas Cavalcante Jatobá
1999-2007
Moisés Domingues Souza
2007
Para compor a galeria dos diretores e presidentes adotou-se o critério do exercício no cargo por mais de um ano
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69. MARCAS DO COLÉGIO
2 DE JULHO NA
SOCIEDADE BAIANA
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71. NEUZA E CELSO DOURADO
Juntos na condução do Colégio em duas ocasiões
2 DE JULHO:
80 anos construindo o saber 77
Um novo tempo
Com a saída do reverendo Enoch de Senna Souza, a
Mesa Diretora do Conselho de Curadores da recém
criada Fundação 2 de Julho indicou os nomes dos
reverendos Celso Loula Dourado para dirigir o colégio
e o reverendo João Dias de Araújo para ser o secretário
executivo da Fundação, que assumiram com o apoio
das professoras37 Neuza Amélia Régis Dourado e
Itamar Bueno de Araújo, e,
ao lado dos corpos docen-te
e discente, mais os fun-cionários,
deram continui-dade
ao projeto educaci-onal
do Colégio.
Coube ao pastor Celso
Loula Dourado e a sua es-posa,
professora Neuza
Régis Dourado, a direção
do Colégio que, naquele
momento, precisava de
muito trabalho e afeto
para manter-se vivo e atu-ante,
cumprindo seu obje-tivo
de educar de modo integral, em consonância
com os princípios cristãos que norteavam a institui-ção
desde sua criação.
Durante essa gestão foram executados novos proje-tos,
a exemplo da construção da quadra de espor-tes
para basquete e vôlei e um estacionamento para
os professores.
As mudanças, principalmente a criação da Funda-ção,
proporcionaram à instituição a retomada dos
seus ideais educacionais, pedagógicos e políticos. O
Colégio demonstra definitivamente a força de sua
nacionalidade e seu compromisso ético e social ao
abrir suas portas para acolher em seu seio o Segundo
Congresso Nacional pela Anistia Ampla Geral e
Irrestrita que se realizou, em 15 de novembro de 1979,
no auditório Baker do Colégio 2 de Julho.
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