3. "A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí
que a posterior leitura desta não possa prescindir da
continuidade da leitura daquele. Linguagem e
realidade se prendem dinamicamente." (FREIRE, 1989
- P.9)
4. Para Paulo Freire, a leitura vai além de simplesmente decodificar
símbolos escritos; ela é um ato de compreensão crítica e reflexiva
do mundo ao nosso redor. Freire acreditava que a leitura deveria
capacitar as pessoas a entenderem melhor seu contexto social,
político e cultural, capacitando-as a agir de forma mais consciente
e transformadora.
5. A leitura não deve ser vista como uma atividade passiva na qual
as pessoas recebem informações prontas, mas como um
processo ativo de diálogo entre o leitor e o texto, onde o leitor é
incentivado a questionar, analisar e interpretar o que está sendo
lido. Ele enfatizava a importância de uma abordagem crítica da
leitura, na qual os leitores não apenas absorvem o conteúdo, mas
também questionam as estruturas de poder subjacentes, os
valores e as ideologias presentes nos textos.
6. Além disso, Freire destacava a importância de uma educação
libertadora, na qual os educadores devem trabalhar em
colaboração com os alunos para desenvolver habilidades de
leitura crítica e promover a conscientização sobre as injustiças
sociais e a necessidade de mudança. Ele via a leitura como uma
ferramenta fundamental para a emancipação das pessoas,
permitindo-lhes compreender e transformar ativamente a realidade
em que vivem.
7. "É por isso que a experiência verbal individual do homem toma
forma e evolui sob o efeito da interação contínua e permanente
com os enunciados individuais do outro. É uma experiência que se
pode, em certa medida, definir como um processo de assimilação,
mais ou menos criativo, das palavras do outro (e não das palavras
da língua). Nossa fala, isto é, nossos enunciados (que incluem as
obras literárias), estão repletos de palavras dos outros,
caracterizadas, em graus variáveis, pela alteridade ou pela
assimilação, caracterizadas, também em graus variáveis, por um
emprego consciente e decalcado. As palavras dos outros
introduzem sua própria expressividade, seu tom valorativo, que
assimilamos, reestruturamos, modificamos. (BAKHTIN, 1997, p.
315).
8. Mikhail Bakhtin, um renomado teórico russo da linguagem e da
literatura, tinha uma concepção bastante diferente de leitura
em comparação com Paulo Freire. Para Bakhtin, a leitura é
vista como um processo de interação ativa entre o texto e o
leitor, onde ambos estão em constante diálogo e influência
mútua.
9. Para Bakhtin, um texto não é uma entidade fechada e estática,
mas sim um campo de interação dinâmico onde diferentes
vozes e perspectivas se encontram e se confrontam. Ele
cunhou o termo "heteroglossia" para descrever a multiplicidade
de vozes e pontos de vista presentes em qualquer texto,
refletindo a diversidade e complexidade da linguagem e da
vida social.
10. Na concepção de Bakhtin, a leitura não é apenas uma
atividade de decodificação de símbolos escritos, mas sim um
processo ativo de interpretação e negociação de significados.
Ele argumentava que os leitores trazem consigo suas próprias
experiências, valores e perspectivas para a leitura de um texto,
e essa bagagem influencia a forma como eles interpretam e
dão sentido ao que estão lendo.
11. Além disso, Bakhtin enfatizava a importância do contexto social e
cultural na compreensão de um texto, argumentando que o
significado de um texto é moldado pelas condições históricas e
culturais em que foi produzido e recebido. Portanto, para Bakhtin,
a leitura é um processo social e dialógico, no qual os leitores
negociam significados com base em suas próprias experiências e
nas vozes presentes no texto, levando a uma compreensão
sempre em construção e em constante transformação.
12. “Numa sociedade racista, não basta não ser racista.
É necessário ser antirracista.” (DAVIS, 2016)
13. Angela Davis, uma renomada ativista, acadêmica e autora norte-
americana, tem uma concepção de leitura profundamente
enraizada em suas visões sobre justiça social, poder e resistência.
Embora ela não tenha elaborado uma teoria específica sobre
leitura, suas ideias sobre educação, libertação e consciência
crítica influenciam sua abordagem da leitura.
14. Para Angela Davis, a leitura é uma ferramenta fundamental para a
conscientização e a capacitação política. Ela acredita que a leitura
crítica e reflexiva é essencial para desafiar as estruturas de poder
opressivas e para desenvolver uma compreensão mais profunda
das injustiças sociais e históricas. Davis defende a importância de
ler de forma interdisciplinar, buscando perspectivas diversas e
contextualizando as questões sociais dentro de um quadro
histórico e político mais amplo.
15. Além disso, Angela Davis enfatiza a necessidade de uma
abordagem participativa e colaborativa da leitura, na qual os
leitores se envolvam ativamente com o texto e com os debates
que ele suscita. Ela incentiva os leitores a questionarem
criticamente as narrativas dominantes e a explorarem novas
formas de conhecimento e resistência.
16. Em resumo, para Angela Davis, a leitura é uma ferramenta
poderosa para a conscientização política e social, permitindo que
as pessoas compreendam melhor o mundo ao seu redor e se
envolvam de forma mais significativa na luta por justiça e
igualdade.
17. "A nossa escrevivência não pode ser lida como história de
ninar os da casa-grande, e sim para incomodá-los em seus
sonos injustos." (EVARISTO, )
18. Conceição Evaristo, uma renomada escritora brasileira e ativista,
tem uma visão da leitura que reflete suas próprias experiências
como mulher negra e sua trajetória na literatura. Sua concepção
de leitura está profundamente ligada à sua visão sobre
representatividade, identidade e empoderamento.
19. Para Conceição Evaristo, a leitura é uma ferramenta de resistência e
de construção de identidade. Ela acredita que a literatura pode ser
uma forma poderosa de dar voz aos marginalizados e de contestar
narrativas dominantes que perpetuam estereótipos e opressão.
Evaristo defende a importância de ler obras que reflitam a
diversidade étnica, racial e cultural do Brasil, permitindo que as
pessoas se vejam representadas e encontrem conexões com suas
próprias experiências.
20. Além disso, Conceição Evaristo enfatiza a importância da leitura
como um ato político e de autocuidado. Ela acredita que a literatura
pode ser uma fonte de cura e de fortalecimento para aqueles que
enfrentam discriminação e marginalização, oferecendo uma forma
de expressão e de reconhecimento de suas próprias histórias e
lutas.
21. Em resumo, para Conceição Evaristo, a leitura é mais do que
apenas uma atividade intelectual; é uma prática de empoderamento
e de afirmação da própria identidade, bem como uma ferramenta
para a transformação social e a promoção da igualdade.
26. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução de Maria
Ermantina Galvão G. Pereira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se
completam / Paulo Freire. – São Paulo: Autores Associados:
Cortez, 1989. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo;) 4, p. 9.
Referências:
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe Tradução Heci Regina Candiani. São
Paulo: Boitempo, 2016.
EVARISTO, Conceição. Escrevivências da afro-brasilidade: história e
memória. Releitura, Belo Horizonte, Fundação Municipal de Cultura, n. 23,
p. 1-17, nov. 2008. Disponível em:
<https://nossaescrevivencia.blogspot.com/2012/08/escrevivencias-da-afro-
brasilidade.html> . Acesso em: 03/02/2024.