"Importância do uso de avaliações visuais e medidas morfométricas em programas de seleção em bovinos de corte", é um resumo publicado nos anais do V Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, promovido pela ABCZ em Uberaba, MG.
Referência Bibliográfica:
KOURY FILHO, W.; FERRAZ, J.B.S.; ELER, J.P.; et al. Importância do uso de avaliações visuais e medidas morfométricas em programas de seleção em bovinos de corte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 4., Uberaba, 2000. Anais... Uberaba, 2000, p. 342-346.
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Importância do Uso de Avaliações Visuais e Medidas Morfométricas em Programas de Seleção de Bovinos
1. IMPORTÂNCIA DO USO DE ESCORES VISUAIS DE CONFORMAÇÃO E MEDIDAS
MORFOMÉTRICAS EM PROGRAMAS DE SELEÇÃO EM BOVINOS DE CORTE1.
William Koury Filho2, José Bento Sterman Ferraz3, Joanir Pereira Eler3
Tendo como objetivo o aumento de produtividade na pecuária bovina de corte, baseado em
um ciclo de produção mais curto e conseqüente incremento na rentabilidade do setor, os programas
de melhoramento animal buscam características diretas ou correlacionadas que ajudem a detectar
animais mais precoces. E, segundo SOUSA et al, (1998), devem ser avaliados periodicamente, para
verificar sua eficácia e fazer o redirecionamento, se houver necessidade.
Está cada vez mais evidente que os escores visuais de conformação são uma importante
ferramenta a ser usada na seleção a fim de identificarmos animais mais pesados com a conformação
mais desejada (estrutura proporcional à idade cronológica, precocidade sexual, de crescimento e de
terminação, proporção dianteiro/traseiro), pensando sempre na qualidade do produto final, carne
bovina e na relação custo/benefício da atividade. No Brasil, país de grandes dimensões onde a
maioria dos rebanhos bovino é criada de maneira semi-intensiva, em grandes áreas de pastagens,
onde os animais percorrem grandes distâncias em busca de alimento e água, os aprumos são muito
importantes, para que um touro tenha um bom desempenho em uma estação de monta, bons
aprumos (principalmente traseiros), são cruciais. Assim, tal característica deveria ter uma atenção
maior por parte dos programas de melhoramento, não havendo outra maneira de avaliarmos sua
qualidade se não com o uso de escores visuais.
FRIES (1996) afirmou que o olho humano é um instrumento insuperável como um
integrador de informações. Esforços enormes têm sido feitos para desenvolver uma “visão
artificial” que consiga extrair da imagem todas as formas e nuances, aliadas ao que é um detalhe
fundamental ou situação de risco que exige resposta/correção imediata.
Muitos programas de melhoramento animal têm uma grande dificuldade em reconhecer o
valor dos escores visuais de conformação por estes serem medidas subjetivas, e portanto sem valor
técnico/científico e insistem em se basear somente nas medidas chamadas “objetivas”, sem
questionar a precisão das mesmas, como o peso por exemplo, que é uma medida essencial e a mais
usada nos programas embora muitas pesagens não obedeçam ao jejum prévio de no mínimo 12
horas, ou mesmo a precisão da pesagem de um animal inquieto na balança. As medidas feitas por
ultra-sonografia, também são consideradas objetivas, embora saibamos que pode existir uma boa
diferença entre medições obtidas por diferentes técnicos que manipulam o aparelho.
Existe hoje uma crescente procura de números relacionados a estimativas de herdabilidades
de características relacionadas ao exterior dos animais e as correlações existentes entre elas e o
desempenho dos mesmos, por parte dos produtores e associações de raças, indicando o
amadurecimento do setor e o reconhecimento de tais características, pois o critério que vem sendo
aplicado pelos juizes nas pistas de julgamento em exposições agropecuárias por todo o território
brasileiro e que se tornam referência para os criadores, atingindo em última instância aos rebanhos
comerciais, precisam de subsídios científico para justificar e/ou redirecionar o julgamento.
É necessário que a referência do animal ideal que vem sendo “pregada” nas pistas de
julgamento pelo país ande no mesmo caminho e direção que os programas de melhoramento para
que se possa chegar a uma pecuária bovina de corte mais produtiva no Brasil e é possível que os
escores visuais de conformação e as medidas morfométricas sejam uma das formas de se conseguir
tal integração.
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1
Trabalho apoiado pela FAPESP e CNPq
2
Mestrando do Curso de Zootecnia (Qualidade e produtividade Animal) da Fac. De Zootecnia e Engenharia de
Alimentos, USP, e-mail william@abelha.zoot.usp.br
3
Professores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP, Cx. Postal 23, 13635-900, Pirassununga, SP,
Bolsistas do CNPq, e-mail jbferraz@usp.br , joapeler@usp.br
2. Este não é um conceito novo, pois segundo FRIES (1996) um excesso de prejuízos já foi
causado à pecuária nacional pelo confronto entre os grupos que podem ser apelidados de o da
“Varinha” e o da “Balança”, pois posições extremadas são geralmente disruptivas; a virtude não se
encontra nos extremos e é difícil que a verdade lá se encontre.
Outro conceito extraído do Seminário Nacional Revisão de Critérios de Julgamento e
Seleção em Gado de Corte realizado pela ABCZ, que justifica de maneira resumida a necessidade
de tal integração é de que “..a seleção não deve ser pensada somente em termos de peso e sim na
composição do peso.”
Para que fique mais clara a importância de tal conceito vale relatar que ao final de uma
prova de desempenho, podemos ter como campeões de “peso” empatados dois animais com o
biótipo completamente diferente, um animal mais alto fino e comprido, com todas as características
de um indivíduo de ciclo longo e um animal mais profundo, com costelas mais arqueadas e
proporções mais condizentes a um animal precoce. Que outra maneira de alterar a colocação dos
animais beneficiando animais com características morfológicas que indicam precocidade se não
com o uso de escores visuais de conformação e medidas morfométricas?
Um grande entrave encontrado hoje para comparar o resultado dos parâmetros genéticos das
avaliações visuais é a grande variabilidade das metodologias utilizadas nos diferentes programas de
melhoramento sendo que algumas são excessivamente simplificadas e outras excessivamente
complexas, dificultando o trabalho dos técnicos responsáveis pela obtenção das informações.
Adicionalmente, metodologias semelhantes utilizam-se de diferentes escalas nos diversos
programas dificultando sua comparação.
MACMANUS et al. (1999), em um estudo preliminar sobre a influência do avaliador nos
escores visuais em animais da raça Nelore, chegaram à conclusão de que os resultados do exame
visual pode mudar dependendo do avaliador e que há a necessidade de aprofundamento deste
estudo, incluindo correlação com características de produtividade. Este resultado reforça a nossa
hipótese de que para melhorar a credibilidade das avaliações subjetivas, é imprescindível a
padronização de uma metodologia para avaliação visual o que tornaria mais preciso o trabalho dos
avaliadores. Isso poderia ser feito a partir de encontros e fóruns de discussão embasados em
resultados científicos dos trabalhos que vêm sendo realizados na área.
Com relação às medidas morfométricas, SANTOS (2000), diz existir uma alta correlação
fenotípica entre as várias medidas, o que é um indicativo de que podemos usar apenas uma delas
para dinamizar o manejo e sugere o uso da medida altura de posterior pela sua facilidade de
obtenção. Trabalhos adicionais devem ser conduzidos na área para se confirmar tal pressuposto.
CONCLUSÕES
É necessário chegar-se a um consenso, padronizando quais características devem ser
medidas e quais metodologias devem ser adotadas, o que e como avaliar visualmente, escalas para
cada características e promover encontros técnicos dos profissionais envolvidos visando a
padronização dos critérios, para aumentar a credibilidade e validade do uso das medidas
morfométricas e escores de avaliação visual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRIES, L.A. Uso de escores visuais em programas de seleção para a produtividade em gado de
corte. In: SEMINÁRIO NACIONAL- REVISÃO DE CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E
SELEÇÃO EM GADO DE CORTE. Anais. Uberaba, 1996. p.1-6.
MACMANUS, C., SILVEIRA, J.C., SILVEIRA, AC., SAUERESSIG, M., In: REUNIÃO ANUAL
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., Porto Alegre, 1999. (CD-ROON) 4p.
SANTOS, AM.. Caracterização morfométrica da raça simental no Brasil. Belém, PA 2000.
94p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Pará.
SOUZA, J.C., RAMOS, A;A, SILVA, L.O.C. et al. Tendência genética do peso ao desmame de
bezerros da raça Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA, 35., Botucatu, 1998. Anais. Botucatu: SBZ, 1998. v.3, p.231-233.