A água é a principal matéria-prima da indústria cosmética e requer cuidados especiais em sua obtenção, tratamento e armazenamento. Vários processos como filtração, adsorção por carvão ativado e deionização são usados para tratar a água bruta e produzir água de processo. Manutenção adequada dos sistemas de tratamento de água é essencial para garantir a qualidade da água e evitar contaminações.
1. Água para Cosméticos
A principal matéria-prima da indústria de cosméticos merece cuidados
especiais na sua obtenção, tratamento e armazenamento
Com toda certeza, pode-se dizer que a água é a principal matéria-prima utilizada na fabricação de
cosméticos, produtos de higiene e de perfumaria. A água tem participação importante nas emulsões, como
solubilizante de certos princípios ativos e, mesmos em deo-colônias e outros produtos perfumados,
podendo chegar a 80% da composição de muitos produtos. Além disso, água é insumo importante na
limpeza de equipamentos e instalações.
Entretanto, tem um agravante, a água como riqueza natural está se tornando escassa – devido a aumento
da demanda emescala geométrica para atender ao crescimento da população mundial. Tudo isso somado
ao comprometimento das reservas hídricas causado pelos desequilíbrios ambientais. Por essa razão, cada
vez mais o uso da água deve ser estudado e planejado para que possa atender a sua demanda na qualidade
e na quantidade necessárias.
FONTE USUAIS DE ÁGUAS
A água ocupa aproximadamente 75% da superfície da Terra. Nos organismos vivos é o constituinte
inorgânico presenteem maior quantidade, sendo que participa em dois terços do corpo humano, chegando
a 98% em certos animais aquáticos e espécies vegetais.
Água bruta é captada em rios, poços e outros mananciais. Não freqüente é captada do mar, em seguida
dessalinizada após processo dispendioso, e utilizada em variados fins.
Toda água natural contém impurezas em concentrações variadas, dependendo de seu histórico prévio, e
do contato com atmosfera e solo.
Como resultado, as águas naturais podem conter impurezas tais como matérias em suspensão, cor,
bactérias, sais minerais e gases dissolvidos.
VÁRIOS TIPOS DE ÁGUA
Quanto à destinação de uso, as águas podem ser classificadas nas seguintes categorias:
Água potável
Água destinada ao consumo humano é normalmente fornecida por sistemas públicos de tratamento.
A água potável deve atender a padrões microbiológicos, físicos, químicos e radioativos e não oferecer
riscos para a saúde.
Água de processo
É água potável submetida a tratamento adicional para se adequar às especificações de determinado
processo industrial.
Pode conter aditivos para o controle microbiano, compatíveis com o processo a que se destina, não
necessita se enquadrar em requisitos oficiais, sendo, portanto, classificada como “não-farmacopéia”. As
especificações das águas de processo devem são estabelecidas pelo usuário (veja Água para a Indústria de
Cosméticos).
2. Água purificada
Água destinada a aplicações especiais, notadamente nas áreas industriais e da saúde, cujas características
são estabelecidas pela farmacopéia americana (USP XXV).
São preparadas a partir de água potável, não contêm aditivos, são obtidas por processo adequado. Têm
condutividade inferior a 1,3 m Siemens/cm (dependendo do método de medição) e concentração de
carbono orgânico total (TOC) menor que 500 ppb. Quanto à contagem microbiológica, podem conter até
100 UFC/ml.
CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA BRUTA
Para se avaliar a qualidade de água bruta não é necessário conhecer todos os constituintes. As análises de
água que sedestina ao uso tanto para consumo humano como para a indústria, servem para identificar as
características gerais, a partir das quais são definidos os sistemas de tratamento para adequação ao uso
final.
- Dureza total – soma das concentrações de sais como bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de
cálcio e magnésio. A concentração pode variar de 10 a 200 ppm, às vezes alcançando valores maiores. Em
águas salgadas chegam a 2.500 ppm. Para fins potáveis deve ser inferior a 85 ppm.
- Alcalinidade total – geralmente devido a bicarbonatos de Ca, Mg e Na, cujas concentrações variam de
10 a 30 ppm. O dióxido de carbono dissolvido na água se torna altamente corrosivo. A alcalinidade pode
ser reduzida ou convenientemente controlada por processos de dealcalinização ou totalmente removida
pela desmineralização ou pela evaporação. Para fins potáveis não pode exceder a 250 ppm.
- Sulfatos – geralmente estão presentes como sulfatos de cálcio, sódio e magnésio. As concentrações
variam grandemente podendo apresentar valores de 5 a 200 ppm, dependendo da origem da água.
Geram os mesmos inconvenientes que a dureza da água. Podem ser removidos por abrandamento,
desmineralização ou evaporação. Para fins potáveis não deve exceder a 250 ppm.
- Sílica solúvel – também chamada de reativa, geralmente está presente na forma de ácido silícico e
silicatos solúveis, cuja concentração pode variar de 2 a 100 ppm. Para fins potáveis não apresenta
inconvenientes nas concentrações em que é normalmente encontrada.
- Cloretos – geralmente estão presentes na forma de cloreto de sódio, cálcio e magnésio. A concentração
pode variar de 3 até algumas centenas de ppm. Na água do mar alcança concentrações de até 26.000
ppm. A remoção pode ser feita por desmineralização ou evaporação. Para fins potáveis não exceder 250
ppm.
- Ferro – está presente em águas brutas na forma de bicarbonatos. As concentrações podem variar
dependendo da região. Varia desde poucos até 100 ppm. Pode contribuir para formar pilhas corrosivas
quando depositado sobre as superfícies metálicas. Pode ser removido por aeração ou cloração em tanques
de armazenamento, por desmineralização ou evaporação. Para fins potáveis não deve exceder 0,3 ppm.
PROCESSOS DE TRATAMENTO DE ÁGUA
Os processos de tratamento de água utilizam diferentes métodos ou combinações necessárias para obter
água com determinadas características físico-químicas e microbiológicas dependendo da qualidade da
água bruta utilizada.
Osmose reversa
Utiliza membrana semipermeável na qual a água atravessa sob pressão para reduzir a concentração de
íons, moléculasorgânicas, microrganismos, endotoxinas e particulados. Tem a desvantagem de consumir
quantidade de água significativamente maior que troca iônica (efluente contínuo: 30%da vazão de
alimentação). Além disso, a demanda de energia elétrica também é maior que na troca iônica.
3. Deionização ou desmineralização
Utiliza resinas para a troca iônica e reduzir a condutividade. As águas de alimentação devem ser isentas
de partículas, de cloro e com teor de TOC reduzido. A tecnologia é bastante conhecida, opera em
diferentes vazões, tem relativamente baixo custo de investimento e atinge facilmente a condutividade
requerida. Tem a desvantagem de necessitar do manuseio de substâncias químicas e de gerar efluentes
químicos na regeneração das resinas, além de não remover contaminantes nãoiônicos.
Eletrodeionização
Utiliza meio eletricamente ativo (membranas de troca iônica) e campo elétrico para efetivar a remoção de
íons.
Atinge baixas condutividades. Processo não muito intensamente aplicado na indústria.
PROCESSOS COMPLEMENTARES
Após o tratamento principal, dependendo da aplicação, água necessita de tratamentos complementares
para atingir os parâmetros da especificação requerida pelo uso, trata-se do “polimento”.
Ultrafiltração: após troca iônica para redução de componentes orgânicos, sílica coloidal, carga
microbiológica e endotoxinas.
Utilizada para produção de águas “não-farmacopéia”: requisitos adicionais de baixas endotoxinas a partir
de água purificada, e alimentação a destiladores e geradores de vapor, associada com troca iônica.
Microfiltração: com o uso de cartuchos de microfiltros para reter microrganismos onde possa haver
crescimento.São usados como passo de tratamento final após processos de deionização.
Tratamento com ultravioleta: para redução da carga microbiana, utiliza um gerador de radiação UV,
com radiação em torno de 255 nm.
Destilação: obtida pela condensação de vapor de água, é um dos processos mais antigos de purificação.
Em escala industrial, necessita água com baixa dureza, baixo teor de sólidos dissolvidos e de sílica, e
isenta de cloro.
ÁGUA PARA A INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS
As categorias de água utilizadas pela indústria cosmética no Brasil seguem, em sua maioria, os padrões
definidos pela Farmacopéia dos Estados Unidos (USP) e emalguns casos, também a Farmacopéia
Européia (EP). Basicamente utiliza água de baixa concentração de sólidos, sais e minerais dissolvidos, e
livre de contaminantes microbiológicos.
Para algumas aplicações, por necessidades específicas ou por conveniência, podem ser utilizadas águas
com características que não necessariamente se enquadrem nas especificadas pelas farmacopéias e, nesses
casos, atendam aos requisitos mínimos da água potável. Essas águas são adicionalmente tratadas para
atender a demandas específicas do processo.
É o caso de indústrias que fabricam shampoos, que não necessariamente precisam utilizar água
desmineralizada, devi- do à alta concentração de sais característica desse tipo de produto. Entretanto, tem
que atender aos requisitos microbiológicos. Especificações mínimas de qualidade para as águas utilizadas
na indústria cosmética devem ser definidas em função de cada tipo de aplicação, processo de fabricação e
características do produto. Por essa razão, essas especificações devem ser levadas em conta na elaboração
no projeto do sistema de tratamento de água, face aos investimentos iniciais de projeto e instalação e, aos
custos de operação/manutenção durante sua vida útil.
4. No mercado estão disponíveis vários sistemas para atender às variadas demandas de vazão e
características finais das águas de processo.
PROCESSOS DE TRATAMENTO
No caso da indústria de cosméticos, o suprimento de água em geral é de água tratada fornecida por
sistema publico de tratamento ou água bruta de poços. Nos dois casos, é de fundamental importância
conhecer as características da água antes de encomendar um sistema de tratamento. Basicamente, o
processo é composto por três estágios.
- Filtração: através de elementos filtrantes descartáveis ou de unidades permanentes que utilizam areia
como meio filtrante. É um processo mecânico para reter partículas de sólidos e até microrganismos.
- Adsorção por carvão ativado: utiliza unidades permanentes ou descartáveis para a remoção de cloro e
materiais orgânicos que presentes. Se não monitorado adequadamente, o filtro de carvão pode se tornar
uma fonte de contaminação microbiológica para o sistema.
- Deionização ou desmineralização: por meio de colunas trocadoras de íons (catiônicas, aniônicas ou
mistas) ou cartuchos compactos regeneráveis.
PROJETO E MANUTENÇÃO EXIGEM MUITOS CUIDADOS
Cuidados com o projeto da instalação e com a manutenção durante a operação garantem a produção de
água deboa qualidade, e evitam dores de cabeça no dia-a-dia.
Na instalação do sistema há necessidade de utilizar tubos,válvulas, registros etc fabricados em materiais
inertes, livres de pontos mortos, sem superfícies ásperas e vazamentos, e que possam ser facilmente
limpos, drenados e sanitizados. Que seja minimizado o uso de cotovelos e interconexões para diminuir o
potencial de contaminação microbiana.
É recomendado o uso de material adequado para os tanques de estocagem e para as bombas sanitárias de
distribuição da água aos diversos pontos de consumo que deverão ser de fácil desmontagem. É
recomendada também a instalação de um sistema de retroalimentação (looping) para recircular a água
deionizada.
Uma cópia do diagrama atualizado da tubulação e da instrumentação do sistema de água deverá estar
disponível para as áreas de Qualidade, Produção, Engenharia e Manutenção. Nesse diagrama, os pontos
de amostragem deverão estar claramente determinados e identificados.
Fluxo de circulação contínua de água é o método de distribuição recomendado: a água é tratada e em
enviada para o consumo. Entretanto, isso não possível quando se trata de indústrias com pequenas vazões
ou com demanda não constante, neste caso é mais econômico produzir a água em lotes e ir consumindo
ao longo do período. Trata-se de uma alternativa aceitável, entretanto, há necessidade de controle
redobrado.
E finalmente, outro atributo importante, o projeto deverá apresentar custo aceitável de instalação e
operação.
SANITIZAÇÃO
A sanitização de equipamentos e de linhas de água e de processo com agentes sanitizantes, é um
procedimento a ser seguido periodicamente para evitar surpresas desagradáveis com contaminações
microbianas.
5. Esse procedimento pode e deve ser seguido atendendo as necessidades particulares de cada empresa.
Para a seleção dos sanitizantes, recomenda- se verificar experimentalmente a eficácia da concentração e o
tempo de contato.
É recomendado que os procedimentos de limpeza, sanitização e manutenção estejam descritos,
documentados, com freqüência definida e devidamente validados.
O sistema deve possibilitar a amostragem nos pontos de entrada e saída dos principais unidades/sistemas
de tratamento, armazenamento e circulação, bem como nos pontos de uso. O monitoramento
microbiológico sistemático dos pontos críticos deve ser feito para que não haja surpresas de
contaminação.
CUIDADOS DIÁRIOS
A questão prioritária é controlar a qualidade da água de processo, sob o aspecto físico-quimico e,
principalmente, microbiológico.
É necessária avaliação diária do pH, condutividade e concentração do agente antimicrobiano.
O pH não é medida de pureza de água, entretanto, juntamente com o valor da condutividade, é uma
indicação do estado de saturação das resinas e da necessidade de regeneração. Valores fora do
especificado podem indicar fuga de íons, portanto, comprometimento da qualidade do produto final.
A presença de íons inorgânicos em grande concentração tais como magnésio e zinco, pode provocar a
separaçãode fases em emulsões. A presença de pequena concentração de cálcio, magnésio, ferro ou
alumínio pode causar a precipitação lenta de resíduo em produtos hidroalcoólicos (loções e loções pós-
barba), causando a turvação do produto quando este já estiver no ponto- de-venda.
A presença de metais (principalmente, ferro) pode causar a alteração de cor em certos produtos,
principalmente aqueles que contenham compostos fenólicos – como extratos vegetais que contém
polifenóis.
BIOFILMES
Não podemos deixar de mencionar que a formação dos biofilmes é da natureza da água: bactérias
aderidas em superfícies , como em tubulações, registros, cotovelo e, mesmo nos tanques.
Na natureza os biofilmes são conhecidos como filtros biológicos, encontrados na forma de limo aderidos
às pedras das cachoeiras, ou de lodo nos leitos dos rios. Os microrganismos que crescem aderidos às
superfícies são chamados sésseis e diferem dos outros microrganismos quanto à velocidade de
crescimento, composição e estrutura da parede. A atividade enzimática é de grande importância para a
sensibilidade dos antimicrobianos como biocidas. Essa aderência pode ocorrer por força física, atração e
repulsão entre a bactéria, e a superfície. Ambas estão eletricamente carregadas, por movimento
browniano.
A adesão de microrganismos a superfícies inertes é facilitada pela presença de materiais orgânicos, muitas
vezes formados pelos próprios microrganismos, ou por contaminação por partículas.
Em ambientes com baixo teor de nutrientes, é a superfície que fornece maior disponibilidade, sendo essa
a vantagem,como por exemplo, em tubulações com pontos mortos ou com água parada.
A corrosão de metais ocorre com a presença de bactérias anaeróbias no biofilme, as redutoras de sulfato e
metanogênicas, por efeitos deteriogênicos sobre o substrato. Devido às essas características, esses
microrganismos aderidos são eliminados por remoção química auxiliada de remoção mecânica e
manutenção preventiva, para evitar novas formações.