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GERONTOLOGIA
                            v. 9 - n. 1




                           São Paulo
                          jun., 2006




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GERONTOLOGIA
                                    v. 9 - n. 1




                   revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277




                                ISSN 1516-2567



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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri/PUC-SP“

         Revista Kairós : gerontologia / Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento. Programa de Estudos
              Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP. Ano 1, n. 1 (1998) – São Paulo : EDUC, 1998-

              Anual até 2000
              Semestral a partir de 2001 (v. 4, n. 1)
              Cadernos Temáticos: Estética e envelhecimento (2002); Psicogerontologia: contribuições da psicanálise
              ao envelhecimento (2002)
              ISSN 1516-2567

         1. Gerontologia – Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Núcleo de Estudo e Pesquisa
              do Envelhecimento (NEPE). Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia.
                                                                                                   CDD 618.97005

         Publicação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP
         Indexada no Index Psi Periódicos (www.bvs-psi.org.br) e na base de dados LILACS – Literatura
         Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde/BIREME.

         Editoras Responsáveis
         Beltrina Côrte
         Suzana A. Rocha Medeiros
         Editora Assistente
         Vera T. Brandão
         Secretária
         Maria Bernadete Maciel Correia

         Conselho
         Alexandre Kalache (Ageing and Life Course Noncommunicable Diseases Prevention and Health
         Promotion (NPH) World Health Organization, Geneva), Andre Chevance (Université de Picardie
         Jules Verne/Faculté de Philosophie Sciences Humaines et Sociales), Anita Liberalesso Neri (Uni-
         camp), Diana Singer (Universidad Maimónides/Argentina), Ecléa Bosi (USP), Edvaldo
         Souza Couto (UFBA), Jack Messy (Université Paris 12/França), José Ferreira-Alves (Univer-
         sidade do Minho/Portugal), Maria de Lurdes Quaresma (Gerontologia Social do ISSSL/Portugal),
         Marília Smith (Unifesp/EPM), Nara Costa Rodrigues (ANG), Sára Nigri Goldman (UFRJ), Sergio
         Antonio Carlos (UFRS), Teresinha da Silva (Harvard University), Vani Moreira Kenski (USP)
         Pareceristas
         A cada 8 volumes, divulgar-se-á a lista dos pareceristas.

         EDUC – Editora da PUC-SP
         Direção                                                         Revisão de Textos em Inglês
         Marcos Cezar de Freitas                                         Carolina Siqueira M. Ventura
         Coordenação Editorial                                           Editoração Eletrônica
         Sonia Montone                                                   Elaine Cristine Fernandes da Silva
         Revisão de Textos em Português                                  Capa
         Sonia Rangel                                                    Sara Rosa


         Rua Ministro Godói, 1197
         05015-001 – São Paulo – SP
         Tel.: (11) 3873-3359
         Fax: (11) 3873-6133
         E-mail: educ@pucsp.br




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Revista Kairós

                         A revista Kairós, surgida em 1998, é o resultado da dedicação e do empenho
               de um grupo de pesquisadores ligados ao Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento
               (Nepe) e ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, da PUC-SP com           ,
               o objetivo de publicar estudos relacionados ao tema envelhecimento.
                         Ela funda-se na interdisciplinaridade, pretendendo romper com concepções
               estereotipadas e fragmentadas. Seu propósito primordial concentra-se na busca de uma
               visão de síntese, considerando a velhice como totalidade.
                         Pretende ser um veículo de divulgação de um novo saber relativo ao processo de
               envelhecimento e da velhice e está aberta à participação de todos os estudiosos que, com
               suas reflexões, ajudem a superar a carga pejorativa que tem acompanhado essa etapa da
               vida humana.
                         O nome dado à revista é uma homenagem ao professor Joel Martins, que demons-
               trou com sua vida que o ser humano pode sempre se desenvolver. Que não somos apenas
               Cronos, um tempo determinado, mas Kairós, energia acumulada pelas experiências
               vividas.
                         Em 2001, a revista, que era anual, passa a ser semestral e, a partir de então,
               toda a edição lançada em junho ganha uma apresentação editorial diferenciada, uma
               vez que sempre será a socialização dos resultados obtidos, sistematizados e impressos das
               Semanas de Gerontologia, eventos realizados anualmente pelo próprio Programa e
               que fazem parte de um novo método de trabalho acadêmico, a partir da troca de idéias
               e a permanência da crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a longevidade.
                         Portanto, um dos números, sempre o ímpar (n. 1), da revista, que tem a intenção
               de resgatar e atualizar o papel da teoria a partir de debates, mesas-redondas, depoimen-
               tos, histórias de vida, etc., em uma perspectiva interdisciplinar, terá um formato editorial
               diferente, não diferindo, contudo, no plano da preocupação teórico-intelectual das revis-
               tas científicas em Ciências Humanas, que incluem artigos, pesquisas, resenhas, como se
               enquadra a edição número par da revista Kairós.




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Caderno Kairós

                  O Caderno Temático da revista Kairós é mais uma modalidade de apresentação
         dos trabalhos desenvolvidos no Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia,
         da PUC-SP. Ele nasce com a intenção de ser um veículo de fácil circulação, ágil e de
         leituras temáticas, buscando refletir sobre as múltiplas dimensões do envelhecimento e da
         velhice vivida.
                  Longe de representar qualquer solução de continuidade ante o perfil já consagra-
         do da revista, o lançamento de edições centradas na análise e reflexão de temas específicos é
         uma resposta, do Programa, às demandas explicitadas, em várias ocasiões, por alunos,
         professores e por muitos dos que participam das atividades promovidas pelo Nepe.
                  Dentre os objetivos dos números temáticos, ocupa lugar central a socialização dos
         exercícios interdisciplinares realizados por diversas atividades do Programa, alicerçados
         em três dimensões da existência humana – Família, Comunidade e Estado. Espaços
         especialmente ricos, criativos e estimulantes que buscam a edificação de um novo saber
         sobre a velhice e o processo de envelhecimento. Exercícios que vêm perseguindo, ao longo
         do tempo, a difícil tarefa de promover a superação das tradicionais fronteiras que separam
         e isolam os saberes específicos.
                  Por isso, os artigos reunidos em cada número do Caderno Temático da revista
         Kairós devem ser pensados como parte de um movimento que, estreitamente afinado às
         diretrizes que norteiam o Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia,
         orienta-se na e pela construção de um pensamento complexo. De um pensamento que,
         em nome da recomposição do todo, sabe, como bem salientou Edgar Morin, que não é nem
         onisciente, nem completo, nem certo; que é sempre local, situado que está em um tempo e
         um lugar.


         As opiniões emitidas não expressam necessariamente a posição da revista/caderno.
         Reprodução permitida desde que citada a fonte.




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Política editorial

                       A revista Kairós tem se consolidado como um veículo de divulgação de
               um novo saber relativo ao processo de envelhecimento, promovendo uma outra
               percepção da velhice, a qual procura entender o sentido dessa etapa da vida
               humana muito além das fronteiras da biologia, da genética e da fisiologia.
                       A proposta editorial da revista/caderno temático Kairós funda-se, por-
               tanto, na interdisciplinaridade a partir da troca de idéias e do exercício da crítica
               intelectual ante os desafios que nos impõe a velhice como totalidade e a lon-
               gevidade, concentrando-se na busca de uma visão de síntese, uma vez que se
               orienta na e pela construção de um pensamento complexo.
                       A publicação periódica de artigos que trazem o universo novo de conhe-
               cimento gestado pela Gerontologia e que fazem uma reflexão sobre essas
               etapas da existência humana tem resgatado e atualizado o papel da teoria a
               partir de debates, mesas-redondas, depoimentos, histórias de vida, relatos, além
               de artigos, pesquisas e resenhas.




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Editorial                                                                                        9




                                                                                                 Sumário



               Editorial ....................................................................................... 13

               Artigos

               Gerontologia e Gerontologia Social: contributos para a análise
               de um percurso ............................................................................. 19
               (Gerontology and Social Gerontology: contributions
               to the analysis of a pathway)
                 Maria de Lourdes Quaresma

               O papel das convenções da ONU na elaboração de uma
               cultura gerontológica ................................................................... 43
               (The role of the UN’s conventions in the elaboration
               of a gerontological culture)
                 Anna Cruz de Araujo Pereira da Silva

               Oficina de reflexão temática / Thematic reflection workshop
               Aposentadoria: agonia ou êxtase? ................................................. 59
               (Retirement: agony or ecstasy?)
                 Délia C. Golfarb, Regina Pilar G. Arantes e Vera Brandão

                                                      revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277



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         Se parar de trabalhar eu morro: o lugar do trabalho na vida
         de idosos que participam do mercado informal .............................. 85
         (If I stop working, I die: the role of work in the life
         of the elderly that participate in the informal market)
           Rosa Maria da Exaltação Coutrim

         Por que contratar idosos? Um estudo de caso da Festiva .............. 107
         (Why should companies hire elderly workers? A case study
         of Festiva)
           Ana Maya Goto Uyehara e Beltrina Côrte

         Segurança social do idoso: a relação entre Previdência
         e Assistência Social ..................................................................... 123
         (The elderly’s social safety: The relation between Social
         Security and Social Services)
           Ademir Alves da Silva

         Alternativas possíveis para a Previdência ..................................... 149
         (Possible alternatives for Social Security)  
           Adriano Biava e Wagner Balera

         A aposentadoria como atividade financeira.................................. 175
         (Retirement as a financial activity)
           Evaldo Vieira

         Perfil previdenciário de idosos internados em um hospital
         da rede pública da cidade de São Paulo ....................................... 197
         (Social welfare profile of elderly patients at a public hospital
         in the city of São Paulo)
           Arlete Camargo de Melo Salimene, Bernadete Oliveira, Claudia Cristina
           Mussolini, Rosângela Novembre, Débora Zagabria, Ilka Custódio, Maria
           Angélica Schlickmann Pereira Hayar, Soraya Maitins Alencar, Ursula
           M. Karsch e Viviane Bianco


         revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277



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Editorial                                                                                     11

               Previdência é notícia ................................................................... 221
               (Social welfare is news)
                 Ana Maria Ramos Sanchez Varella e Viviam Cristina H. Lemos

               Anais ......................................................................................... 233
               (Proceedings)

               Normas para publicação .......................................................... 275




                                                      revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277



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Editorial                                                                     13




                                                                                  Editorial




                      A questão do envelhecimento é uma dimensão da vida que não
               se reduz unicamente a uma dimensão biológica ou ao tratamento da
               velhice a partir de suas patologias, mas compõem-se de uma afirmação
               de suas potencialidades de invenção de múltiplos modos de existência.
               Tem-se, de um lado, a conquista da longevidade pelo homem, permitida
               pelo avanço das ciências naturais e de saúde; de outro, as exigências dessa
               conquista colocadas, tanto para o campo da reflexão quanto para o das
               ações públicas e privadas.
                      A assistente social portuguesa, Maria de Lourdes Quaresma, faz
               uma análise do percurso de uma área do conhecimento, a Gerontologia,
               a partir das interdependências entre o envelhecimento humano e social,
               no âmbito do impacto dos fenômenos do envelhecimento nas estruturas
               familiares, na economia, na proteção social, no direito, nas representa-
               ções sociais sobre a vida, a morte e a velhice, nas práticas culturais e na
               relação com o tempo. Assim, a multidisciplinaridade tem sido invocada,
               partindo de dois pontos de vista: como o indivíduo é afetado pelo enve-
               lhecimento e como uma população que envelhece muda a sociedade.
                      Em relação a isso, Anna Cruz de Araujo Pereira da Silva, em
               “O papel das convenções da ONU na elaboração de uma cultura
               gerontológica”, traça o papel dessa instituição como fomentadora de

                                            revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18



iniciais_PR2.p65                   13                                  27/11/2006, 14:51
14                                                                        Kairós

         políticas afirmativas e antidiscriminatórias voltadas ao idoso, em abor-
         dagem que recai essencialmente sobre as últimas três décadas, tendo
         como marco a Convenção promovida pela ONU em 1982, em Viena e,
         posteriormente, a Segunda Convenção do Idoso em 2002, em Madri.
                Na ocasião, já se dizia que as melhorias de condições de vida, jun-
         tamente com o surgimento de novos remédios, provocaram a diminui-
         ção da mortalidade infantil, da fecundidade e maior longevidade. O
         resultado disso é a mudança do perfil demográfico, cujo impacto, no
         Brasil, está sendo muito profundo. É sobre isso que a ONU vem aler-
         tando os países em desenvolvimento há praticamente três décadas.
                Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
         apontam o crescimento da população idosa no país. Para quem não sabe,
         são as pessoas com mais de 60 anos. Em 2020, o Brasil terá 13%, isto é,
         cerca de 27 milhões de idosos. E a tendência é continuar crescendo, cres-
         cendo, crescendo... Como ficará o sistema previdenciário, baseado em
         pessoas em idade ativa – de 15 a 60 anos –, as quais garantem, por meio
         de suas contribuições, os recursos para pagar os benefícios da previdência?
                Para refletir sobre essa questão, este número da revista Kairós trata
         de um tema que nos apavora: o futuro previdenciário de todos nós. Pela
         Constituição de 1988, previdência social, saúde e assistência social for-
         mam um único sistema, o da seguridade social. No entanto, nunca a
         população se sentiu tão desprotegida, especialmente quando dele mais
         precisam. Por isso, diversos especialistas foram chamados para falar,
         durante a VIII Semana de Gerontologia, intitulada “Longevidade e
         Previdência: a política social privilegia os idosos?”. A troca de idéias entre
         eles e os exigentes participantes permitiu a crítica intelectual ante os
         desafios que nos impõe a velhice: transmitimos essa troca aos nossos lei-
         tores para que, ausentes dessa discussão, possam também refletir sobre
         essa etapa da vida. Outros autores também foram chamados para estar
         presentes na revista, com o objetivo de ampliar esse debate, iniciado com
         uma oficina de reflexão temática que perguntava a muitos profissionais
         que atuam na área do envelhecimento se a aposentadoria era agonia ou
         êxtase, permitindo assim uma troca de saberes.
                Dessas reflexões ficou visível o não-lugar do aposentado, tanto na
         sociedade como no lar, onde, às vezes, é visto como um intruso, alertando-

         revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18



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Editorial                                                                      15

               nos para a necessidade de não deixarmos de lado nossos planos e espe-
               ranças, mesmo quando aposentados.
                       A presença dos idosos no mercado de trabalho é uma realidade no
               mundo todo. O artigo de Rosa Maria da Exaltação Coutrim discute o
               papel do trabalho na vida de idosos e idosas que retiram seu sustento e
               de seus familiares, na maioria desempregados ou subempregados, das
               ruas das metrópoles. Por meio de uma pesquisa qualitativa com entre-
               vistas a camelôs, engraxates, pipoqueiros, etc., ela constatou que o tra-
               balho para esses idosos representa mais do que a complementação de
               renda. Ele também é uma fonte de poder e um locus de socialização.
                       Mas “por que contratar idosos?”. É o que Ana Maya Goto Uyehara
               perguntou aos funcionários da fábrica de biscoitos Festiva (SP). Obteve
               como resposta que a mão-de-obra idosa transforma-se em um desafio
               para uma reorganização social que articule de forma mais propícia a
               valorização dos recursos humanos existentes e como fator macroeconô-
               mico e demográfico a ser considerado no planejamento estratégico das
               empresas. O profissional envelhece na mesma proporção que o consu-
               midor e a sua experiência acumulada, além de manter viva a memória
               organizacional, pode agregar valor ao produto/serviço das empresas.
                       No entanto, a aposentadoria é tratada por muitos como se não
               fosse um direito social, mas uma usurpação. Outros, mais raros, mos-
               tram que uma suposta crise alimenta o mercado financeiro. A máquina
               do Estado privilegia o superávit para pagamento da dívida externa, em
               detrimento das políticas sociais. E questionam: se a seguridade social é
               superavitária, a previdência, saúde e assistência social também deveria ser.
                       Entre eles está a economista Denise Gentil, que, em sua tese de
               doutorado intitulada A falsa crise do sistema de Seguridade Social no Brasil,
               mostra que o “discurso do déficit” é uma construção recente, das duas
               últimas décadas, e que veio para justificar cortes de benefícios na segu-
               ridade social, especialmente no setor previdenciário. Mas “tudo o que a
               seguridade arrecada paga as despesas globais de previdência, saúde
               e assistência social, e ainda sobram muitos recursos – estes sim, vão
               patrocinar a União no seu orçamento fiscal”, diz ela à grande imprensa.
               O que é confirmado pelos nossos convidados.

                                             revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18



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                O cientista político Evaldo Vieira, da USP é categórico: “os pro-
                                                             ,
         blemas da Previdência estão relacionados com o desvio de verbas e tam-
         bém com o desemprego, porque está diminuindo o número de
         contribuintes”. Segundo ele, do mesmo modo que se provoca perda para
         os aposentados, em razão do cálculo errado do fator previdenciário, do
         empréstimo bancário aos aposentados e pensionistas com desconto em
         folha de pagamento, agora se contrapõem os idosos à população jovem.
         Para os analistas de gastos sociais, os recursos dos jovens são devorados
         pelos gastos da Previdência Social, restando menos dinheiro para a saúde
         e a educação. Porém, tais “mestres na análise de gastos sociais”, envol-
         vidos com seu marketing social, não devem saber que no Brasil, há
         tempos, pretende-se desvincular da Constituição Federal de 1988 as úni-
         cas verbas exclusivamente destinadas à saúde e à educação. A Previdên-
         cia Social foi criada para reduzir a pobreza na velhice, e jogar no mercado
         financeiro a aposentadoria contraria o princípio da dignidade humana.
                O professor Ademir da Silva, da PUC-SP, defendeu a necessidade
         de outras formas de financiamento para a seguridade social. Em sua
         análise “estamos pagando mais, contribuindo mais tempo, aposentando
         mais velhos e recebendo menos”.
                O economista Adriano Biava, também da USP, traçou um
         panorama das perspectivas econômicas da Previdência. Já o jurista
         Wagner Balera falou sobre os problemas jurídicos do atual modelo
         previdenciário. 
                Enfim, a sociedade está se dando conta de que o país dos jovens
         – do futuro – envelheceu! Não somos mais um país de predominância
         jovem, pois o número de velhos já é grande, e as previsões são alarman-
         tes. De futuro só temos os problemas a serem resolvidos desde hoje. O
         envelhecimento da população é um processo estrutural que traz mudan-
         ças nos mais diversos aspectos da vida.
                Para começar, as famílias não são mais compostas como até pouco
         tempo. Hoje, os arranjos familiares, mais complexos, são compostos de
         três gerações. Também é crescente o número de pessoas sós. Nas famílias
         sem idosos as crianças são mais pobres. A reprodução está abaixo da
         reposição. Para as mulheres idosas, a viuvez trouxe redução de pobreza.

         revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18



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Editorial                                                                     17

               A aposentadoria, embora baixa, reduziu as desigualdades na área rural,
               enquanto na área urbana ela reflete a desigualdade já existente. Há um
               maior empoderamento entre as mulheres... Enfim, dados que a demó-
               grafa Ana Amélia Camarano vem divulgando pelo país afora.
                       O que fazer? 
                       Uma série de questões relativas ao envelhecimento da população
               brasileira tem sido discutida pela sociedade em geral. Notamos, com
               freqüência preocupante, nessas discussões, duas abordagens: o idoso
               sendo tratado com a benevolência dedicada aos tolos ou como um fardo
               social – um “excesso” – a ser penosamente suportado por todos. Quando
               o assunto é Previdência é esta segunda abordagem a que predomina. 
                       Na análise das possíveis alternativas possíveis para a Previdência,
               a constatação é, digamos minimamente, desanimadora. Segundo os
               especialistas, não há perspectivas de melhoria e nem esperanças! A si-
               tuação da Previdência e dos aposentados é sem saída! A política social
               privilegia o capital e o mercado!
                       Um gosto amargo fica da constatação do “sem saída”! Pergunta-se,
               então, não estaríamos “acomodados” ante as sérias dificuldades, em vários
               níveis, que atingem a maioria das pessoas, e os velhos em particular?
                       É da competência e dever de todos, Estado e sociedade civil –
               incluindo a Universidade –, procurar alternativas. Não vamos nos satis-
               fazer apenas com estatísticas e constatações. Os dados são fundamentais
               para uma visão realista e profunda, mas não devem nos paralisar em uma
               posição passiva.
                       Repetimos o que nossos convidados disseram: admitimos que a
               política social vigente privilegia o capital e não os idosos, enquanto a
               Reforma da Previdência não tranqüiliza as pessoas que se sentem con-
               fiscadas. Ante essa realidade, devemos defender que a política brasileira
               deveria privilegiar os brasileiros, especialmente os que estão em condi-
               ções de injustiça. Devemos pensar qual Estado e qual política queremos.
               A política deve ser tratada na esfera dos direitos.
                       E, nessa esfera, a discussão deve ser em torno da arrecadação de
               impostos, outras formas de financiamento da seguridade social, de fi-
               nanciamento das políticas sociais, da distribuição da riqueza e não em
               torno da oposição entre idosos e crianças, trabalhadores do setor público

                                            revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18



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         e privado. Para o Professor Ademir da Silva, “o desafio é enfrentar a
         reafirmação do papel social do Estado, defender a esfera pública como
         esfera universal, a política como instância privilegiada de equacionamen-
         to do interesse público e da vida coletiva”.
                 Para se compreender melhor a questão previdenciária, convida-
         mos dois grupos de pesquisa que vêm desenvolvendo estudos sobre o
         envelhecimento. Um deles, Epidemiologia do Cuidador, trata do perfil
         previdenciário de idosos internados em um hospital da rede pública. A
         partir de um recorte de uma pesquisa realizada em 2004, tendo em vista
         a implementação de um Centro de Referência do Idoso em um complexo
         hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, o grupo en-
         trevistou pacientes de ambos os sexos e observou que a maioria das
         mulheres não recebia benefício previdenciário e que grande parte dos
         homens recebia algum tipo de aposentadoria. Observou ainda que a
         mulher idosa é mais vulnerável à pobreza, pois tem baixo rendimento
         ou dependência financeira do cônjuge, da família ou da assistência so-
         cial. Verificou que mesmo com rendimento mensal muito baixo, os ido-
         sos, devido às dificuldades econômicas das famílias, acabam assumindo
         a responsabilidade pelo sustento dos filhos e netos.
                 O outro grupo de pesquisa, Longevidade, Envelhecimento e
         Comunicação (LEC), por meio de uma pesquisa sobre a cobertura da
         imprensa escrita da cidade de São Paulo sobre o envelhecimento, apre-
         senta uma análise dos aspectos previdenciários cobertos pelo jornal im-
         presso Valor Econômico, um veículo de comunicação rico em informações
         sobre a Previdência e questões afins. E comprovaram, de fato, que a Pre-
         vidência é notícia!
                 Por fim, apresentamos aos nossos leitores a seção Anais, que conta
         com os resumos de trabalhos que foram apresentados durante a VIII
         Semana de Gerontologia e por meio dos quais observa-se a diversidade
         de velhices e, conseqüentemente, de pesquisas sobre o processo de en-
         velhecimento.
                 A todos uma excelente leitura!
                                                                       Beltrina Côrte
                                                           Suzana A. Rocha Medeiros

         revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18



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Gerontologia e Gerontologia Social                                                     19




                            Gerontologia e Gerontologia Social:
                        contributos para a análise de um percurso
                                                                    Maria de Lourdes Quaresma



              RESUMO: Este artigo analisa a construção de uma área transdisciplinar do conhe-
              cimento, chamada Gerontologia Social, a partir das interdependências entre o
              envelhecimento humano e social, ao nível do impacto dos fenómenos do envelhe-
              cimento, e os contributos que uma e outra área têm dado à reflexão e controlando
              as questões epistemológicas que têm separado as diferentes correntes de pensa-
              mento nesta área do conhecimento.
              Palavras-chave: Gerontologia Social; transdisciplinar; envelhecimento.

              ABSTRACT: This article analyses the construction of a cross-disciplinary area of
              knowledge called Social Gerontology, based on the interdependences between
              human and social aging, regarding the impact of the aging phenomena. It also
              approaches the contributions that both areas have given to reflection, controlling
              the epistemological questions that have separated the different lines of thought in
              this area of knowledge.
              Key-words: Social Gerontology; cross-disciplinary; aging.


                                      Quer se trate do processo de envelhecimento ou das consequências
                                           do avanço em idade sobre a situação das pessoas (estado de
                                           saúde, implicações psicológicas, papel e lugar na sociedade)
                                        encontramo-nos perante fenónemos complexos e multifactoriais,
                                      “combinações” de interacções entre o “dado pessoal” e o ambiente
                                                     exterior, entre os factores individuais e colectivos.
                                                                                   Henriette Gardent

                                               revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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                 O envelhecimento humano e a velhice foram durante muito tem-
        po e quase exclusivamente objectos de estudo da medicina. A partir de
        meados do século XX um outro questionamento é construído. As alte-
        rações demográficas verificadas durante o século findo, produzidas no
        contexto das profundas transformações sociais e económicas que atra-
        vessam as nossas sociedades, levantam novas questões.
                 A procura do saber sobre as interdependências entre o envelhe-
        cimento humano e social, ao nível do impacto dos fenónemos do enve-
        lhecimento nas estruturas familiares, na economia, na protecção social,
        no direito, nas representações sociais sobre a vida, a morte e a velhice,
        nas práticas culturais, na relação com o tempo, deu lugar à construção
        de uma área transdisciplinar do conhecimento a que chamamos Geron-
        tologia Social.
                 Os seus territórios apresentam uma diversidade e complexidade
        crescentes. O envelhecimento da sociedade e de cada um de nós revela-
        se profundamente interpelante e desafiante, pelo que transporta de novo
        na reciprocidade da relação sociedade/sujeito. Os ganhos em anos de
        vida entrosam-se em novos comportamentos, estilos de vida, expecta-
        tivas e valores, com repercussões nas formas de viver e experienciar as
        diferentes fases da existência e as formas de sociabilidade e convivência.
                 A gerontologia social, ao perspectivar uma abordagem transdis-
        ciplinar dos fenónemos do envelhecimento, procura ultrapassar uma
        visão “reducionista”, “monodisciplinar”, muito presente na paisagem
        investigativa gerontológica: as diferentes disciplinas não se têm encon-
        trado na construção dos objectos da investigação. Como diz Philippe
        Pitaud “Il faut que nous fassions un effort pour passer le cap qui fasse de toutes
        les disciplines qui se rencontrent au sein de la gérontologie, autre chose que des
        carrefours de sciences diverses”. Aliás, o gap de que fala Pitaud não deixa de
        ser revelador das divergências epistemológicas que têm separado as
        diferentes teorias sobre o envelhecimento humano e das dificuldades em
        abarcar a multidimensionalidade destes fenónemos. A análise critica
        desenvolvida no seio das ciências sociais, ao pôr em evidência a impor-
        tância do entrosamento entre os factores individuais e a historicidade
        que lhes está associada deu um contributo extremamente relevante e

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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Gerontologia e Gerontologia Social                                            21

              decisivo para a construção da gerontologia social: novos ângulos de
              análise têm enfocado a organização social, os modos de vida, as questões
              culturais e políticas como dimensões estruturantes do envelhecer e dos
              percursos de envelhecimento na passagem a uma vida adulta prolonga-
              da pelo aumento substancial da esperança de vida.
                      O processo de desenvolvimento humano ao longo da vida, objec-
              to da gerontologia (Michel Philibert), e os movimentos, tendências
              colectivas que acompanham esses processos, objecto da gerontologia
              social, são chamados a entrosar-se nos objectos da pesquisa, maximizan-
              do os contributos que uma e outra têm dado à reflexão nestes domínios
              e controlando as questões epistemológicas que têm separado as diferen-
              tes correntes de pensamento nesta área do conhecimento.

              Questões epistemológicas – algumas considerações

                      O estudo dos fenónemos do envelhecimento levanta questões
              epistemológicas complexas. Como refere Paul Paillat, as dificuldades
              começam com o próprio conceito de envelhecimento – envelhecimento
              físico, envelhecimento social de base demográfica, envelhecimento so-
              cial por relação à inserção na vida económica, ao factor trabalho. Os
              diferentes ângulos de análise que o envelhecimento suscita são tributá-
              rios de várias áreas disciplinares, cujos quadros epistemológicos podem,
              por vezes, ser “conflituais” entre si. Aliás, o facto da investigação em
              gerontologia ter estado longo tempo associada quase exclusivamente às
              ciências médicas, não é certamente alheio a esta dificuldade. Tomemos
              como exemplo a questão da idade – bem no cerne desta discussão. As
              categorias usadas para medir a idade biológica, física e mental têm so-
              frido alterações, mesmo no seio das disciplinas que mais as desenvolve-
              ram – biologia e psicologia da corrente desenvolvimentista.
                      Como referem Christian Lalive D’Épinay e Jean François Bickel
              (1996), esta corrente muito referenciada a Piaget marcou uma concep-
              ção do estudo do desenvolvimento humano em função da idade, o que
              transposto para os fenónemos do envelhecimento veio dar lugar à pes-
              quisa centrada sobre as perdas, sobre as alterações dos processos bioló-

                                           revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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        gicos e psicológicos como consequências do processo de envelhecimen-
        to, isolando-o da historicidade que o acompanha. Para estes autores, es-
        tamos perante uma concepção determinista do ciclo de vida, largamente
        criticada a partir de outras ópticas da pesquisa, nomeadamente da so-
        ciologia, da história e da filosofia que têm vindo a demonstrar não ser
        o factor idade o que melhor explica as alterações e os problemas das
        pessoas que avançam em idade.
                À teoria do “desengagement” (Cumming e Henry, 1961) explicativa
        dos processos de envelhecimento de cariz mais determinista, contrapõe-
        se a teoria da actividade (Orbach, 1979; Hochshild, 1975) e posterior-
        mente a teoria da continuidade (Atchley, 1971; Rosow, 1979). Para a
        primeira, as perdas dos papeis sociais, acelerando o envelhecimento do
        indivíduo, são consequência do declíneo biológico e psicológico; para as
        outras duas, a importância dos papeis sociais está associada à recons-
        trução identitária possível no avanço em idade, sendo a teoria da con-
        tinuidade a que melhor aborda o envelhecimento como um continuum da
        existência. Todavia, devemos afirmá-lo, nenhuma destas teorias é genera-
        lizável. O facto de vivermos em contextos marcados pela aceleração das
        mudanças gera complexidades crescentes e singularidades que, cada vez
        mais, escapam a regularidades fácilmente apreensíveis. Ora, se conside-
        rarmos que no centro desta “revolução” estão as gerações dos que pela
        primeira vez vão experienciar um tal alongamento da vida humana, não
        podemos deixar de admitir que o seu impacto não será neutro na rede-
        finição dos conceitos de idade a partir das alterações sociológicas asso-
        ciadas à explosão das idades e das singularidades.

        A importância das questões epistemológicas – a construção
        do conceito de dependência como caso paradigmático

               A problemática da dependência está no centro das preocupações
        politicas relativas à gestão da população e também de alguma investi-
        gação na Europa. As recomendações do Conselho da Europa sobre a
        dependência constituem um indicador deste facto e a construção do
        conceito de dependência desenvolveu-se neste contexto.

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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                      Importa salientar que na génese do conceito de dependência entra,
              por um lado, a noção de incapacidade (das ciências médicas) e, por outro
              lado, a noção de risco de perda da autonomia associada à velhice, indu-
              zindo uma relação de causalidade que não está provada, antes pelo con-
              trário. De facto, a associação entre velhice, doença, incapacidade, depen-
              dência, enquanto cadeia sequencial irreversível, contraria os resultados
              de estudos epidemiológicos e longitudinais, entretanto desenvolvidos,
              ao mesmo tempo que a análise das interdepedências entre doença,
              deficiência, incapacidade e desvantagem (handicap) (Ennuyer, 2002), põe
              em evidência o papel codeterminante dos factores sociais, económicos,
              culturais e ambientais na génese destas situações. Os problemas que se
              têm levantado à operacionalização do conceito de dependência não são
              alheios a estas ambiguidades conceptuais.
                      A definição de dependência, tal como consta da legislação, pres-
              supõe a definição de autonomia e de perda de autonomia, de forma a
              possibilitar a medida das perdas, em função de parâmetros e com objec-
              tivos precisos, o que tem constituido um problema maior. Ao optar-se
              pela oposição dependência/autonomia referenciada à satisfação das ne-
              cessidades básicas elementares, esvaziou-se o quadro referencial das
              causalidades, diversidade, intensidade e complexidade das diferentes
              situações, o que quer dizer da componente compreensiva dos sujeitos e
              da historicidade dos seus percursos. As multiplas interrogações de or-
              dem conceptual, ética e política suscitadas pela formulação das políticas
              de protecção social da dependência e pelo corpus teórico que as acompa-
              nham, radicam nesta ordem de questões (Quaresma, 2004), e pelo facto
              de que a adopção de uma terminologia conceptualmente vaga e redu-
              tora (Ennuyer, 2002; Pitaud, 2004) tem produzido efeitos estigmati-
              zantes sobre a velhice.
                      Não há dúvida que a relação dicotómica que resultou da delimi-
              tação do conceito de dependência referenciado à autonomia não tem
              fundamento científico, como o prova a nossa própria experiência e o
              conhecimento disponível sobre os processos de desenvolvimento huma-
              no. Cada um de nós existe e constrói a sua identidade, a consciência de
              si (Ricoeur), no jogo das interdependências com as quais e através das

                                           revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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        quais faz a sua própria história. A produção do sujeito individual e social
        é acompanhada da autoprodução do sujeito do interior de si mesmo. Da
        dialéctica entre estas duas instâncias resulta a representação de si, num
        processo necessáriamente dinâmico e constante.
                Sabemos que cada indivíduo vive numa relação permanente de
        dependência funcional com outros indivíduos (sendo por demais eviden-
        te que o autónomo é, em si mesmo, limitado, como referem alguns
        autores) que dá lugar a um conjunto de funções essenciais à construção
        das relações dos homens entre si, a que chamamos sociedade (Elias). A
        dependência constitui, assim, fundamento do sujeito e da coesão social,
        pelo que, neste sentido, ela é também essencial e estruturante da história
        de vida, condicionando os capitais económico, cultural, simbólico com
        que contamos na velhice.
                Ou seja, se a dependência é inerente à existência humana, atra-
        vessando todas as fases da vida, numa dialéctica permanente face à
        autonomia como afirmação de si, a necessidade de cuidados e de apoios
        na velhice não pode legitimar um conceito de dependência como atribu-
        to da velhice.
                O que está em causa são, pois, os referenciais filosóficos, cientí-
        ficos, éticos e políticos do conceito e das políticas, pelo que a exigência
        epistemológica que acompanha a análise desta problemática à luz de
        diferentes disciplinas tem dado um impulso significativo à pesquisa neste
        domínio, nomeadamente ao nível das repercussões nas representações
        sociais de velhice e nos fenónemos de exclusão (o conceito de papel vazio,
        que veremos adiante, pode sustentar alguma desta investigação).
                A passagem da dependência à categorização de grupos de depen-
        dentes remete para a dependência como construção social no quadro
        das medidas de protecção social às pessoas que precisam de ajuda nas
        actividades quotidianas, para satisfação das suas necessidades básicas,
        resulta da análise sociológica. Como tem sublinhado A. M. Guillemard,
        a dependência, como objecto das políticas sociais,

                  [...] não escapou ao processo de categorização inerente a uma
                  das lógicas dominantes do funcionamento das políticas sociais –

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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                        elaborar e manipular estatutos que têm como consequência
                        trabalhar sobre as identidades dos grupos sociais abrangidos
                        e sobre a sua possibilidade de aceder ao estatuto que confere
                        direitos. (2000)

                      Aliás, o incremento dos estudos centrados na análise dos défices
              e dos custos de aplicação das medidas de protecção social da dependên-
              cia, a par da escassez trabalhos que questionem a normatização subja-
              cente à aplicação das políticas, é revelador do enviezamento e da deriva
              conceptual neste domínio. Ou seja, por um lado, a análise dos custos
              transporta um critério de valor, valor da velhice “não autónoma”, numa
              lógica de contabilidade social, e, por outro lado, a definição dos parâme-
              tros de medida dos deficits ou das perdas, vem desembocar na constru-
              ção de categorias de dependentes, reforçando as imagens desvalorizadas
              da velhice, e produzindo novos estereótipos sobre esta fase da vida.
                      A contabilização dos déficits, como instrumento decisivo no aces-
              so à protecção social, induz a minimização da compreensão da singula-
              ridade dos sujeitos e das condições socio-históricas que atravessam a sua
              construção identitária. Ao centrar a análise nas alterações e consequên-
              cias nefastas do envelhecimento, isolando-as da história de vida dos
              indivíduos, segue uma lógica determinista, tecendo um écran espesso
              entre a sociedade e os sujeitos: reduz a comunicação e a capacidade de
              compreensão dos fenómenos na sua totalidade e na sua globalidade, e
              contribui para a cristalização da associação entre envelhecimento, dete-
              rioração e decadência das capacidades físicas, psíquicas e intelectuais,
              segundo Pitaud.
                      Quando assistimos ao desenvolvimento da concepção dualista do
              envelhecimento, articulada entre bom envelhecimento (activo, autóno-
              mo) e envelhecimento dependente (estigmatizado pelos déficits e, em
              especial, pelos riscos da demência), não podemos deixar de considerar
              que ele tem aqui a sua génese e de sublinhar a importância da discussão
              epistemológica em torno do conceito de dependência que pôs de novo
              em evidência os limites das correntes deterministas e os riscos da sua
              aplicação em termos políticos.

                                              revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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               É por demais evidente que a não consideração do factor gera-
        cional e do percurso de vida reduz drástica e perigosamente a possibili-
        dade de compreensão dos fenónemos da dependência no avanço em idade.
        Induz a construção de tipologias isoladas das problemáticas que elas
        transportam, negligencia a análise das causalidades e não favorece a com-
        preensão do sujeito na sua história como tem sido evidenciado pela análise
        multidisciplinar que tem sustentado o questionar das formas de catego-
        rização da velhice e da dependência.
               Sabemos que o envelhecimento é fortemente condicionado pelas
        capacidades de adaptação ao longo da vida, mas estas não dependem
        apenas, nem sobretudo, de factores individuais: as condições objectivas
        da existência têm um papel fundamental. A comprová-lo está o facto do
        acréscimo do número de situações problemáticas não ser directamente
        proporcional ao aumento do número de pessoas que atingem idades
        avançadas, como se temia nos anos 70. Estudos longitudinais, entretan-
        to desenvolvidos, têm revelado uma clara melhoria dos níveis de auto-
        nomia nas actuais gerações de pessoas com 85e+anos, o que não será
        alheio à diferenciação positiva dos seus percursos e dos quadros sociais
        que os acompanharam (Pérès, 2001).
               Para Michel Philibert (1980),

                  Je crains que parler de 3ème et de 4ème âge n’engage les esprits un peu
                  paresseux à imaginer que la nature a prévu pour la vie humaine quatre
                  étapes successives... Rien de plus faux. La dépendance et l’infirmité
                  n’accompagnent pas fatalement le grand âge. Elles l’accompagnent
                  parfois, parfois la devancent et le plus souvent l’épargnent. Elle dépend
                  d’une conjonction de facteurs dont certains échappent à notre contrôle,
                  mais dont d’autres sont liés à nos manières de vivre, de travailler, de nous
                  soigner, et peuvent être prévenus, contenus, corrigés.


        Gerontologia social – Contributos da Sociologia

               A sociologia do envelhecimento tem estado fortemente associada
        ao desenvolvimento da gerontologia social. Neste percurso podemos
        salientar alguns marcos conceptuais e metodológicos.

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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                      A constução da sociologia da idade, desenvolvida tanto nos EUA
              como na Europa, partiu da necessidade de compreender o impacto do
              aumento da esperança de vida na organização das sociedades indus-
              trializadas (Riley et al., 1972, EUA; Guillemard, 1972, França). Uma
              nova abordagem da idade como elo entre trajectórias individuais e
              quadros sociais tem marcado a investigação sociológica das últimas
              décadas. O questionamento da idade como marcador biológico e social
              radica neste quadro investigativo, vindo a demonstrar que o factor idade
              não explica as variações que ocorrem ao longo da vida dos indivíduos
              (Riley), propondo alguns autores quatro combinações para a análise da
              variável idade (D’Épinay e Bickel, 1996):
                      • Idade como indicador do programa genético do indivíduo;
                      • Idade como indicador da posição do indivíduo face ao(s)
                        estatuto(s) social(is) ao longo do percurso de vida – historici-
                        dade da idade;
                      • A idade, datação histórica, referência dos acontecimentos so-
                        cietais que marcam e mudam os comportamentos dos indiví-
                        duos, conjunturalmente ou de forma duradoura;
                      • A idade cronológica como indicador de um processo de inser-
                        ção e de um percurso histórico partilhado por um conjunto de
                        indivíduos (geração).

                     Subjacentes a esta teorização estão os conceitos de percurso de
              vida e de geração. Introduzem o tempo histórico na reflexão sociológica
              (sobretudo relevante no caso americano, em contra corrente com as
              teorias deterministas) e pôem em causa o factor idade como variável
              independente. No entanto, o conceito e a abordagem metodológica
              de geração diferem de acordo com as diferentes correntes da sociologia.
              Ou seja, ao conceito de geração a partir de grupo de idades e à metodo-
              logia por coortes/transversal (Riley), contrapõe-se um conceito de so-
              cialização, comunidade cultural, stock de experiências históricas parti-
              lhadas (Mannheim) aplicado ao estudo empírico da população e que,
              embora distinga geração de classe social e de categoria socioprofissional,
              não deixa de comportar dificuldades de operacionalização dado que idade,
              historicidade e tempo não são variáveis independentes.

                                           revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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                De qualquer forma, o conceito de percurso de vida constitui um
        ponto crucial da evolução decorrida entre as concepções mais determi-
        nistas, pela deriva dos conceitos da biologia e psicologia desenvolvimen-
        tistas, como já referimos, até uma concepção mais compreensiva e
        globalizante dos fenónemos, integrando na pesquisa as variáveis histó-
        ricas que acompanham e estruturam os percursos individuais.
                Nesta perspectiva, os estudos sobre a cronologização das idades
        e do ciclo de vida (Kohli, 1985; Guillemard, 1972, 1995), sobre o es-
        tatuto do “velho” e do reformado nas sociedades contemporâneas, como
        novo campo de pesquisa – construção do conceito de “papel vazio” ins-
        crevendo-o na análise mais abrangente sobre os processos de exclusão
        social (Castel, 1997), sobre a definição de novas etapas do ciclo vital,
        sobre as mudanças face à vida e ao futuro na perspectiva do alongamento
        do tempo de existência (Imhof, 1986; Kholi e Mayer, 1986) e das
        mudanças na relação com a morte (D’Épinay, 1996) – constituem a marca
        da importância do conceito “percurso de vida” na investigação socioló-
        gica e das suas potencialidades para a investigação interdisciplinar.
        O exemplo que tratámos no âmbito da análise da problemática da
        dependência integra-se nesta corrente de pesquisa, acolhendo muita da
        reflexão construida neste domínio.

                  Os trabalhos sobre o percurso de vida constituem uma contri-
                  buição original da sociologia europeia, em particular da socio-
                  logia alemã, no quadro do Desenvolvimento Humano e da
                  Psicologia Social. (Épinay e Bickel, 1996).


        Territórios do envelhecimento e da velhice

               No quadro europeu, a pesquisa gerontológica, tal como vimos
        anunciando, tem privilegiado territórios como os modos de vida, esta-
        tutos e papeis dos reformados, relações intergeracionais (D’Épinay, 1991,
        1997; Modak, 1990; Clément e Druhle, 1992, Caradec, 1996, entre
        outros), constituição dos reformados como grupos de pressão (Durandal,
        2003) e também os percursos de transição actividade profissional/refor-

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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              ma (Kohli, 1986). Simultâneamente, a partir dos anos 80, a dependên-
              cia tem vindo a constituir-se como um novo território, sobretudo para
              a gerontologia social francesa. A sociologia, o direito, a antropologia, a
              política social e as ciências médicas têm procurado construir um corpus
              teórico/analítico sobre esta problemática, embora as velhas clivagens
              entre correntes de influência “determinista” e as da “continuidade” te-
              nham emergido, sobretudo no âmbito da análise epistemológica, sobre
              o conceito de dependência, como já referimos.
                      Nos EUA, outros territórios como o fim de vida, as redes de so-
              ciabilidade de grupos específicos (as viuvas, por exemplo), e as velhices
              (estudos monográficos), têm dado um contributo importante ao conhe-
              cimento partindo de metodologias de investigação/acção.
                      Em ambos os casos emerge uma perspectiva antropológica e et-
              nológica que, em especial no quadro europeu, se vem também manifes-
              tando através da construção de outros territórios do conhecimento como
              o das trocas intergeracionais, os laços sociais, os ritos de passagem na
              transição actividade /reforma.
                      É uma evolução marcada, sem dúvida, por uma maior centragem
              no sujeito que envelhece, um claro interesse por entrar num território
              quase desconhecido – o do avanço em idade e da velhice – na procura
              das raízes históricas e culturais que diabolizam tanto quanto podem
              idealizar a velhice e que estruturam as representações sociais de velhice e
              morte. Dar a palavra aos sujeitos, interrogar os valores, as normas e os con-
              ceitos/preconceitos com que as nossas sociedades gerem o envelhecimento
              e as idades tem orientado um conjunto de trabalhos de análise biográfica de
              muito interesse (Argoud e Pujalon, 1999; Amyot e Billé, 2004).

              A gerontologia social e as grandes questões do envelhecer
              nas sociedades contemporâneas

                      No contexto das sociedades contemporâneas mais industrializa-
              das podemos afirmar que os seniores de hoje são a primeira geração a
              experienciar viver uma vida adulta prolongada, marcada pela coexistên-
              cia de identidades multiplas e por uma multiplicidade de papeis. Neste

                                            revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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        ambiente de oportunidades e de potencialidades coexistem as gerações
        mais velhas que enfrentam os mais anos de vida e a velhice em situação
        de maior desvantagem e dificuldade por razões não só da sua própria
        história como da desadaptação dos seus contextos a esta nova realidade.
               As transformações associadas a mais e melhores oportunidades
        para os que hoje fazem a transição actividade/reforma são geradoras de
        novos riscos face ao envelhecimento, tanto para a sociedade como para
        os indivíduos, e entre estes os mais velhos estão em situação de maior
        desvantagem:
               • riscos sociais: isolamento e solidão – pelas mudanças nos modos
                  de vida e nas formas de sociabilidade e convivência, designa-
                  damente intrafamiliares, e pela rarefacção das relações sociais
                  e familiares associada sobretudo às idades mais avançadas;
               • riscos ambientais: acessibilidades, habitat, vida urbana não adap-
                  tada a uma população urbana envelhecida, isolamento geográ-
                  fico dos territórios do interior;
               • riscos de saúde, em especial de incapacidades por doenças cróni-
                  cas podendo conduzir a situações de dependência. Riscos tam-
                  bém pelo excessivo enfoque nas perdas e declíneo, raíz de
                  conceitos e preconceitos que, ao contribuir para a cristalização
                  de imagens do bom e mau envelhecer, correspondem a cate-
                  gorias que acentuam a individualização dos riscos – cada
                  um “deve” ser autónomo face a um pluralismo crescente de
                  situações.
               A idade, o género e os handicaps físicos, atributos do indivíduo,
        emergem como factores de clivagem social, aumentando os riscos de
        exclusão na velhice pelo estigma que transporta. Clivagem que não é
        neutra face ao impacto do envelhecimento na organização social, na
        economia, nas políticas, no tecido social e nas sociabilidades, já de si em
        mutação, aumentando o gap entre o que sabemos e o que não sabemos
        e reforçando as incertezas face ao futuro – a previsibilidade reduz-se num
        ambiente de profundas e rápidas mudanças.
               Neste contexto, além da necessidade de definição de novos ter-
        ritórios da pesquisa põe-se o problema da sua organização. A evolução

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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Gerontologia e Gerontologia Social                                            31

              recente mostra que, se por um lado, a prospectiva demográfica tem
              contribuido para a construção das questões, a procura das respostas apela
              cada vez mais ao quadro interdisciplinar. Um exemplo vem do projecto
              europeu Felicie – análise prospectiva sobre as pessoas muito idosas no
              horizonte 2030, na procura de saber quem irá cuidar e como se irão
              estruturar os cuidados a estas pessoas em caso de deles necessitarem.
                     Ora, sabendo-se que serão gerações marcadas pela redução drás-
              tica do numero de descendentes e por percursos construidos em contex-
              tos de grandes alterações sociais e culturais, os quadros de referência de
              que dispomos apenas permitem desenhar hipóteses mais ou menos aca-
              démicas. Ou seja, os conceitos de geração e de percurso de vida que têm
              sustentado a pesquisa em “gerações” constituidas pelos adultos que hoje
              avançam em idade, terá de ajustar-se a estudos longitudinais que pers-
              pectivem a análise nas actuais gerações adultas mais jovens e possibili-
              tem uma outra aproximação à realidade previsivel que não seja a de
              transpôr comportamentos e expectativas que hoje conhecemos e cuja
              regularidade é indissociável de um tempo histórico, para um horizonte
              de duas décadas marcado por um outro tempo histórico.
                     É uma evidência que as pessoas dos grupos de idades com que
              trabalhamos pertencem a gerações diferenciadas. As mais velhas vive-
              ram uma grande parte das suas vidas em contextos estáveis, sem a pres-
              são de grandes ou fortes movimentos de mudança. As que hoje estão
              entre os 50-59 anos viveram a “jovem” idade adulta em contextos de
              profundas e rápidas transformações que acompanham a sua progressão
              na idade, nomeadamente as questões de género que vêm assumindo
              importância crescente.
                     O Projecto europeu Meri, análise do envelhecer no feminino,
              constitui um marco significativo ao dar visibilidade à invisibilidade das
              condições de desfavorecimento que marcam todas as gerações de mu-
              lheres, embora de forma mais gravosa as muito idosas, comprometendo
              a qualidade do envelhecimento da maioria dos mais velhos de hoje e dos
              que, no futuro, vão chegar a idades avançadas.
                     A construção do conhecimento neste quadro de forte diferencia-
              ção geracional, levanta sérios problemas metodológicos. A discussão

                                           revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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        entre metodologias transversais e longitudinais faz todo o sentido. Os
        pressupostos da óptica transversal/coorte não permitem a construção de
        hipóteses sustentáveis no quadro actual: as diferenças/contrastes obser-
        vados entre “as idades” não podem ser atribuidas ao avanço em idade,
        como já referimos a propósito da análise dos conceitos de geração e
        percurso de vida. Noutros contextos elas poderiam ser justificáveis, como
        referem alguns autores:

                  Esta visão das coisas não era necessáriamente falaciosa. Numa
                  sociedade arcaica, estacionária, o percurso de vida individual está
                  traçado: representa para cada indivíduo o do pai ou da mãe.
                  (Kessler, Masson, 1985).

               Os efeitos de geração e do tempo são negligenciáveis. Com a
        aceleração da história, as gerações sucessivas vivem em contextos socio-
        lógicos, económicos e politicos específicos, susceptíveis de marcar os seus
        comportamentos. Atribuir ao avanço em idade os contrastes/diferenças
        observados num determinado período, entre as idades, pode constituir
        um erro, porque a causa dessas diferenças pode estar no facto de perten-
        cer a diferentes gerações e não no avançar em idade (D’Épinay e Bickel,
        1996).
               A óptica longitudinal, significativamente desenvolvida a partir
        dos anos 60 nas Ciências Sociais, adequa-se bem mais ao estudo destes
        problemas – o envelhecimento é um processo que se inscreve no tempo
        e nos tempos do desenvolvimento humano. Os estudos longitudinais,
        além de melhor propiciarem a análise interdisciplinar, são orientados
        para a observação ao longo do tempo: permitem uma melhor compre-
        ensão da evolução dos comportamentos, das expectativas e dos proble-
        mas em termos geracionais e do percurso de vida, bem como possibilitam
        a identificação do que neles pode ser imputável à idade e o que sobretudo
        resulta de condicionantes externas aos indivíduos – objectivo maior do
        conhecimento gerontológico.


        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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Gerontologia e Gerontologia Social                                              33

              A investigação em Gerontologia Social – história recente
              na situação portuguesa

                      O conhecimento do impacto do envelhecimento na organização
              social e económica, partindo da análise das mudanças sociodemográfi-
              cas, das alterações no ciclo e percurso de vida que lhe estão associadas,
              bem como das politicas enquanto elementos estruturantes do “envelhe-
              cer” na nossa sociedade, tem vindo a constituir um objecto de interesse
              crescente para a investigação social.
                      A procura dos saberes que sustentem a interpretação destas trans-
              formações integrando uma visão prospectiva que contribua para nortear
              e balisar a implementação das politicas que garantam o acesso dos cida-
              dãos que avançam em idade aos seus direitos civicos e sociais, tem cons-
              tituido um corpus de interrogações sobre quem são, como vivem, como se
              projectam no futuro, como se inscrevem na nossa história e memória colectiva os
              percursos de envelhecer dos que constituem as actuais gerações idosas.
                      Neste contexto, podemos identificar dois eixos da investigação na
              área das ciências sociais: um, orientado para as questões relativas à sus-
              tentabilidade dos regimes de segurança social e outro centrado sobre o
              estudo das mudanças ao nível das dinâmicas intrafamiliares. Alguns
              outros estudos têm ainda sido desenvolvidos no âmbito da análise das
              condições de vida e das politicas de acção social, a par de outros se vêm
              desenhando no quadro do envelhecimento por género, da dependência
              e da psicologia.
                      Embora segundo perspectivas diferenciadas, estes trabalhos têm
              contribuido para o melhor conhecimento das interdependências entre
              a evolução dos padrões de vida e os processos de envelhecimento, sendo
              também de assinalar a sua importância na discussão sobre as questões
              que se põem hoje ao nível da garantia dos direitos sociais, a montante
              e a jusante da situação de reforma.
                      No quadro da problemática familiar, os trabalhos desenvolvidos
              no âmbito da sociologia da família têm vindo a aprofundar o conheci-
              mento sobre a evolução das estruturas familiares e das formas através
              das quais se organizam e reestruturam as teias de solidariedade. Têm
                                             revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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        dado um contributo relevante para a compreensão de uma cultura fa-
        miliar baseada nas relações de interdependência e complementariedade,
        ao mesmo tempo que permitiram identificar formas de conflitualidade,
        latentes ou expressas, em parte devidas às dificuldades de gestão e de
        integração no quotidiano de uma pluralidade de papeis que resultam na
        complexidade crescente da organização da vida familiar. As profundas
        mudanças que se operam a este nível e a persistência das funções essen-
        ciais em termos dos afectos e referências intergeracionais são evidencia-
        das pelos resultados da investigação. Mas eles revelam também que a
        preservação do papel substantivo da familia exige outra política e outras
        competências que privilegiem a criação de condições externas de com-
        preensão e não de oposição às novas dinâmicas familiares.
               A familia emerge como parceira, quando é chamada a prestar
        cuidados, ainda que a figura da contratualização não esteja ausente:
        funciona como possibilidade de gestão da mutiplicidade dos papeis com
        a qual cada um dos membros da família é confrontado, o que assume
        especial relevância no caso das mulheres. Dinâmicas familiares e
        questões de género vêm-se revelando de importância crescente para a
        investigação, convergindo na constução do envelhecimento das mulhe-
        res como objecto de pesquisa. Para este interesse concorrem outros
        factores. Até um passado recente os estudos sobre o envelhecimento es-
        tiveram fortemente associados às questões decorrentes da saída-
        ruptura com a actividade profissional, as quais afectavam sobretudo o
        mundo masculino.
               Na situação actual, a par das mudanças no percurso socio-profis-
        sional verificadas para todos os activos, verifica-se também um aumento
        substancial das taxas de actividade feminina, ao mesmo tempo que a
        longevidade das mulheres mantem um claro distanciamento face à lon-
        gevidade masculina. Estamos perante um quadro evolutivo em que se
        acentua a feminização do envelhecimento e em que decresce a probabi-
        lidade da mulher continuar a ser a principal prestadora de cuidados
        intrafamiliares, designadamente aos parentes mais velhos, na sua maio-
        ria também mulheres. Questões que reforçam a pertinência da investi-
        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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Gerontologia e Gerontologia Social                                               35

              gação sobre esta problemática, integrando a perspectiva da análise do
              ciclo e do percurso de vida.
                      Outros territórios têm vindo entretanto a definir-se como áreas
              de investigação: territórios institucionais e organizacionais através dos
              quais se regulam a produção e a satisfação das necessidades sociais das
              pessoas mais velhas. São estudos sobre os serviços, sobretudo monográ-
              ficos que, todavia, têm dado um reduzido contributo sobre o papel dos
              serviços na análise interpretativa e compreensiva do que há de substan-
              tivo no envelhecer. De facto, a área das politicas sociais apresenta um
              déficit evidente de trabalhos de investigação, em especial sobre quem são
              os beneficiários, como evoluem e como evoluem as políticas e os serviços em função
              das necessidades sentidas, em confronto com as necessidades administradas.
                      Um estudo censitário sobre os residentes em lares de idosos, ao
              integrar uma tentativa de abordagem dos percursos sociohistóricos destes
              utentes, constitui excepção: procurou a identificação de perfis identitá-
              rios numa lógica de recentragem sobre os sujeitos. Por outro lado e numa
              outra perspectiva, um trabalho recente sobre a prospectiva da criação de
              serviços neste domínio, ao procurar conhecer as aspirações das pessoas
              que integram as várias gerações do grupo 50+anos confrontando com
              a percepção dos promotores, revelou diferenças significativas intergera-
              cionais em termos de expectativas, ainda que ao nível dos medos e dos
              receios da velhice as pessoas inquiridas exprimam imagens fortemente
              negativas.
                      A par estes estudos, dois trabalhos mais recentes, um sobre as
              redes de solidariedade de vizinhança ás pessoas isoladas e/ou em situação
              de dependência, e outro sobre os prestadores de cuidados aos doentes
              Alzheimer (em curso), ambos projectos europeus pilotados por Philippe
              Pitaud, inscrevem os sujeitos no núcleo central das pesquisas.
                      O primeiro, sendo um estudo qualitativo e tendo como metodo-
              logia o estudo de caso, desenvolveu uma abordagem centrada na análise
              do vivido, do experienciado numa trajectória de vida mais longa, dando
              enfoque à construção das redes de sociabilidade primária, dos laços so-
              ciais, da reciprocidade das trocas, tendo como referência teórica os tra-
              balhos sobre o dom e contra dom de Marcel Mauss. Os relatos biográficos

                                              revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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        que recolhemos são mais que contributos, são um património que espe-
        ramos venha a ser importante para as interrogações com que todas as
        gerações se confrontam.
                 Vivemos mais porque vivemos melhor, mas interrogamo-nos
        como gerir este percurso mais longo, como enfrentar algo que mal co-
        nhecemos mas que por isso mesmo ainda mais receamos – a redução das
        nossas capacidades e, muito em especial, a eventual perda de autonomia
        numa cultura que a elege como atributo fundamental. Perda vivida como
        uma ferida narcísica destruidora da identidade e do valor.
                 Ao procurarmos saber quais as interdependências entre solidão,
        deficits de autonomia e papel das redes de vizinhança, encontrámos re-
        lações complexas, denotando elevadas capacidades de gestão e de adap-
        tação às dificuldades do quotidiano. Mas o que verificámos, também, foi
        a existência de evidentes deficits, precariedades ao nível das condições de
        vida, funcionando como reforço da vivência da solidão, das limitações e
        de um certo isolamento. A sua importância, o que cada uma das com-
        ponentes das condições de vida pesa na génese e desenvolvimento das
        situações de dependência, resta como questão em aberto, exigindo mais
        investigação e, seguramente, outra investigação.
                 Já o papel das redes primárias, de vizinhança e familiares, revela
        a sua primordial importância. É a sua “qualidade” que emerge como
        factor decisivo nos sentimentos de segurança afectiva e material, ou seja,
        como antídoto à solidão e à percepção negativa que se associa ao precisar
        de outro ou de outros para se bastar no dia a dia. A relevância destas redes,
        as suas potencialidades e limites dependem da sua valorização. O que
        quer dizer, do reconhecimento da sua significância em cada situação, e
        dos riscos da sua utilização, fora deste quadro, numa óptica mecanicista,
        como mero instrumento de substituição de outros actores, designada-
        mente dos apoios formais. Aliás, as questões comunicacionais, identifi-
        cadas ao longo do trabalho, são sinais claros destes limites e
        constrangimentos.
                 Podemos entroncar aqui a dimensão tempo, factor estruturante dos
        discursos, no que eles revelam da história de vida, do projecto, do sen-
        tido, como um continuum até ao fim. Sentido de finitude que tanto

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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              reforça ou é reforçado pela vivência do precisar da ajuda de outros, como
              constitui um incentivo, uma necessidade de procura do sentido que li-
              gue a história de cada um à história, que dê sentido ao sentido da fini-
              tude, ou que, e, sobretudo, a ultrapasse.
                       A vivência da dependência tem um tempo, mas este tempo não
              é redutível à mera circunstância de ser marcado por dificuldades de ser
              autónomo, o que redundaria em privação do essencial, na fase em que
              esse essencial é também único e definitivo. Ou seja, a categorização da
              dependência, a desvalorização da velhice “dependente”, a solidão que a
              acompanha, representam formas de privação do sentido, do sentido da
              velhice como fase da existência humana. E, como tal, são elos da cadeia
              que liga categorização, deficits de conhecimento, deficits de relação, representa-
              ções sociais de velhice (medos, irracionalidades, preconceitos).
                       Velhice autónoma e velhice dependente anunciam as duas faces
              da mudança social: a primeira, uma forte individualização, a desembocar,
              como sugerem alguns autores, na individualização dos riscos (Beck,
              2003); a segunda, a reverter para uma certa normatização da “performan-
              ce” individual, com evidentes repercussões nas relações sociais e fami-
              liares, o que não será pouco importante para o processo de envelheci-
              mento e para a constituição das redes de sociabilidade na velhice.
                       Mas, importa dizê-lo, outras perspectivas se desenham na procu-
              ra da interpretação do sentido dos processos de individualização que
              marcam as sociedades contemporâneas. É o caso dos que as entendem
              como oportunidades de individuação, de construção do sujeito, cimenta-
              da numa maior consciência de si pela interiorização do mundo exterior, liberta-
              dora da subjectivação (Alain Touraine, La Recherche de Soi, 2000). O que
              quer dizer, da construção da identidade, através da maior consciência do
              que nela é parte da sociedade, do mundo a que pertence. E onde, dire-
              mos, o outro existe e tem lugar. Na vida e na memória de cada um.
                       A velhice, melhor dizendo, as velhices, actuais e futuras, são tes-
              temunhos vivos destas mudanças. Como tal, continuam a representar,
              a retratar cada sociedade, cada comunidade, nos seus valores e sentido.
              Reconstruindo a memória de si e do seu mundo. Pelo que este é, sem
              dúvida, o desafio maior à construção do conhecimento gerontológico.

                                              revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



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                  A certa altura, dei-me conta de que o tempo passava tão depres-
                  sa que eu me sentia a correr para fora da vida. Em teoria, ter anos
                  é bom. O que sou, o que sei, devo-o aos anos que tenho [...]. Há
                  uma incomodidade profunda quando a melancolia vem. Não
                  tem nada que ver com a saudade porque a saudade aquece-nos
                  ao refazermos com a memória aquilo que vivemos um dia.
                  (António Alçada Baptista, O Tecido do Outono, 1999).




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        Maria de Lourdes Quaresma – Licenciada em Ciências Sociais e Políticas pelo
        ISCSP e em Ciências Sociais e Humanas pela UNL. DEA em Sociologia Urbana
        pela Universidade de Paris X. Ex-Directora de Serviços de Investigação Social e
        Relações Internacionais da Direcção Geral de Acção Social. Coordenadora da Pós-
        Graduação Profissional em Gerontologia Social no Instituto Superior de Serviço
        Social de Lisboa (ISSSCOOP). Professora convidada pela Universidade de Marselha.
        Representante da União das Mutualidades no Conselho Nacional para a Política
        de Terceira Idade. Autora e co-autora de estudos, artigos e outros trabalhos, entre
        os quais, O Sentido das Idades da Vida, Interrogar a solidão e a dependência (coordenação
        e co-autoria). Coordenadora do Projecto, na componente portuguesa, Solitude et
        Dépendance des Personnes Âgées – Le rôle des réseaux de voisinage (ISSS de Lis-
        boa, Universidade de Marselha, Universidade de Milão e Universidade Barcelona).
        Participação/coordenação da componente portuguesa, CESIS, no projecto euro-
        peu MERI, Mapping existing research and identifying knowledge gaps concer-
        ning the situation of older women in Europe. Coordenadora do projecto, na
        componente portuguesa, Exclusão e doença de Alzheimer – A problemática dos
        prestadores de cuidados (ISSS de Lisboa, Universidade de Marselha, Universidade
        de Milão e Universidade de Barcelona). Participante na Equipa do Projecto “En-
        velhecimento e Perspectivas de Criação de Emprego e Necessidades de Formação
        para a Qualificação de Recursos Humanos”, Espaço e Desenvolvimento 2005.
        Responsável de missão e relatora, para a Fondation Nationale Gérontologie, Paris,
        da “auscultação” à sociedade civil, em Portugal, sobre “Dependência em 2030 –
        Quem vai cuidar?”, no âmbito do projecto europeu FELICIE. E-mail:
        mlquaresma@netcabo.pt

        revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42



miolo_inteiro_PR2.p65                42                                    27/11/2006, 14:52
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  • 1. GERONTOLOGIA v. 9 - n. 1 São Paulo jun., 2006 iniciais_PR2.p65 1 27/11/2006, 14:51
  • 2. GERONTOLOGIA v. 9 - n. 1 revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277 ISSN 1516-2567 iniciais_PR2.p65 3 27/11/2006, 14:51
  • 3. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri/PUC-SP“ Revista Kairós : gerontologia / Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento. Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP. Ano 1, n. 1 (1998) – São Paulo : EDUC, 1998- Anual até 2000 Semestral a partir de 2001 (v. 4, n. 1) Cadernos Temáticos: Estética e envelhecimento (2002); Psicogerontologia: contribuições da psicanálise ao envelhecimento (2002) ISSN 1516-2567 1. Gerontologia – Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE). Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia. CDD 618.97005 Publicação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP Indexada no Index Psi Periódicos (www.bvs-psi.org.br) e na base de dados LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde/BIREME. Editoras Responsáveis Beltrina Côrte Suzana A. Rocha Medeiros Editora Assistente Vera T. Brandão Secretária Maria Bernadete Maciel Correia Conselho Alexandre Kalache (Ageing and Life Course Noncommunicable Diseases Prevention and Health Promotion (NPH) World Health Organization, Geneva), Andre Chevance (Université de Picardie Jules Verne/Faculté de Philosophie Sciences Humaines et Sociales), Anita Liberalesso Neri (Uni- camp), Diana Singer (Universidad Maimónides/Argentina), Ecléa Bosi (USP), Edvaldo Souza Couto (UFBA), Jack Messy (Université Paris 12/França), José Ferreira-Alves (Univer- sidade do Minho/Portugal), Maria de Lurdes Quaresma (Gerontologia Social do ISSSL/Portugal), Marília Smith (Unifesp/EPM), Nara Costa Rodrigues (ANG), Sára Nigri Goldman (UFRJ), Sergio Antonio Carlos (UFRS), Teresinha da Silva (Harvard University), Vani Moreira Kenski (USP) Pareceristas A cada 8 volumes, divulgar-se-á a lista dos pareceristas. EDUC – Editora da PUC-SP Direção Revisão de Textos em Inglês Marcos Cezar de Freitas Carolina Siqueira M. Ventura Coordenação Editorial Editoração Eletrônica Sonia Montone Elaine Cristine Fernandes da Silva Revisão de Textos em Português Capa Sonia Rangel Sara Rosa Rua Ministro Godói, 1197 05015-001 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3873-3359 Fax: (11) 3873-6133 E-mail: educ@pucsp.br iniciais_PR2.p65 4 27/11/2006, 14:51
  • 4. Revista Kairós A revista Kairós, surgida em 1998, é o resultado da dedicação e do empenho de um grupo de pesquisadores ligados ao Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Nepe) e ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, da PUC-SP com , o objetivo de publicar estudos relacionados ao tema envelhecimento. Ela funda-se na interdisciplinaridade, pretendendo romper com concepções estereotipadas e fragmentadas. Seu propósito primordial concentra-se na busca de uma visão de síntese, considerando a velhice como totalidade. Pretende ser um veículo de divulgação de um novo saber relativo ao processo de envelhecimento e da velhice e está aberta à participação de todos os estudiosos que, com suas reflexões, ajudem a superar a carga pejorativa que tem acompanhado essa etapa da vida humana. O nome dado à revista é uma homenagem ao professor Joel Martins, que demons- trou com sua vida que o ser humano pode sempre se desenvolver. Que não somos apenas Cronos, um tempo determinado, mas Kairós, energia acumulada pelas experiências vividas. Em 2001, a revista, que era anual, passa a ser semestral e, a partir de então, toda a edição lançada em junho ganha uma apresentação editorial diferenciada, uma vez que sempre será a socialização dos resultados obtidos, sistematizados e impressos das Semanas de Gerontologia, eventos realizados anualmente pelo próprio Programa e que fazem parte de um novo método de trabalho acadêmico, a partir da troca de idéias e a permanência da crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a longevidade. Portanto, um dos números, sempre o ímpar (n. 1), da revista, que tem a intenção de resgatar e atualizar o papel da teoria a partir de debates, mesas-redondas, depoimen- tos, histórias de vida, etc., em uma perspectiva interdisciplinar, terá um formato editorial diferente, não diferindo, contudo, no plano da preocupação teórico-intelectual das revis- tas científicas em Ciências Humanas, que incluem artigos, pesquisas, resenhas, como se enquadra a edição número par da revista Kairós. iniciais_PR2.p65 5 27/11/2006, 14:51
  • 5. Caderno Kairós O Caderno Temático da revista Kairós é mais uma modalidade de apresentação dos trabalhos desenvolvidos no Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, da PUC-SP. Ele nasce com a intenção de ser um veículo de fácil circulação, ágil e de leituras temáticas, buscando refletir sobre as múltiplas dimensões do envelhecimento e da velhice vivida. Longe de representar qualquer solução de continuidade ante o perfil já consagra- do da revista, o lançamento de edições centradas na análise e reflexão de temas específicos é uma resposta, do Programa, às demandas explicitadas, em várias ocasiões, por alunos, professores e por muitos dos que participam das atividades promovidas pelo Nepe. Dentre os objetivos dos números temáticos, ocupa lugar central a socialização dos exercícios interdisciplinares realizados por diversas atividades do Programa, alicerçados em três dimensões da existência humana – Família, Comunidade e Estado. Espaços especialmente ricos, criativos e estimulantes que buscam a edificação de um novo saber sobre a velhice e o processo de envelhecimento. Exercícios que vêm perseguindo, ao longo do tempo, a difícil tarefa de promover a superação das tradicionais fronteiras que separam e isolam os saberes específicos. Por isso, os artigos reunidos em cada número do Caderno Temático da revista Kairós devem ser pensados como parte de um movimento que, estreitamente afinado às diretrizes que norteiam o Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, orienta-se na e pela construção de um pensamento complexo. De um pensamento que, em nome da recomposição do todo, sabe, como bem salientou Edgar Morin, que não é nem onisciente, nem completo, nem certo; que é sempre local, situado que está em um tempo e um lugar. As opiniões emitidas não expressam necessariamente a posição da revista/caderno. Reprodução permitida desde que citada a fonte. iniciais_PR2.p65 6 27/11/2006, 14:51
  • 6. Política editorial A revista Kairós tem se consolidado como um veículo de divulgação de um novo saber relativo ao processo de envelhecimento, promovendo uma outra percepção da velhice, a qual procura entender o sentido dessa etapa da vida humana muito além das fronteiras da biologia, da genética e da fisiologia. A proposta editorial da revista/caderno temático Kairós funda-se, por- tanto, na interdisciplinaridade a partir da troca de idéias e do exercício da crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a velhice como totalidade e a lon- gevidade, concentrando-se na busca de uma visão de síntese, uma vez que se orienta na e pela construção de um pensamento complexo. A publicação periódica de artigos que trazem o universo novo de conhe- cimento gestado pela Gerontologia e que fazem uma reflexão sobre essas etapas da existência humana tem resgatado e atualizado o papel da teoria a partir de debates, mesas-redondas, depoimentos, histórias de vida, relatos, além de artigos, pesquisas e resenhas. iniciais_PR2.p65 7 27/11/2006, 14:51
  • 7. Editorial 9 Sumário Editorial ....................................................................................... 13 Artigos Gerontologia e Gerontologia Social: contributos para a análise de um percurso ............................................................................. 19 (Gerontology and Social Gerontology: contributions to the analysis of a pathway)   Maria de Lourdes Quaresma O papel das convenções da ONU na elaboração de uma cultura gerontológica ................................................................... 43 (The role of the UN’s conventions in the elaboration of a gerontological culture)   Anna Cruz de Araujo Pereira da Silva Oficina de reflexão temática / Thematic reflection workshop Aposentadoria: agonia ou êxtase? ................................................. 59 (Retirement: agony or ecstasy?)   Délia C. Golfarb, Regina Pilar G. Arantes e Vera Brandão revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277 iniciais_PR2.p65 9 27/11/2006, 14:51
  • 8. 10 Editorial Se parar de trabalhar eu morro: o lugar do trabalho na vida de idosos que participam do mercado informal .............................. 85 (If I stop working, I die: the role of work in the life of the elderly that participate in the informal market)   Rosa Maria da Exaltação Coutrim Por que contratar idosos? Um estudo de caso da Festiva .............. 107 (Why should companies hire elderly workers? A case study of Festiva)   Ana Maya Goto Uyehara e Beltrina Côrte Segurança social do idoso: a relação entre Previdência e Assistência Social ..................................................................... 123 (The elderly’s social safety: The relation between Social Security and Social Services)   Ademir Alves da Silva Alternativas possíveis para a Previdência ..................................... 149 (Possible alternatives for Social Security)     Adriano Biava e Wagner Balera A aposentadoria como atividade financeira.................................. 175 (Retirement as a financial activity)   Evaldo Vieira Perfil previdenciário de idosos internados em um hospital da rede pública da cidade de São Paulo ....................................... 197 (Social welfare profile of elderly patients at a public hospital in the city of São Paulo)   Arlete Camargo de Melo Salimene, Bernadete Oliveira, Claudia Cristina   Mussolini, Rosângela Novembre, Débora Zagabria, Ilka Custódio, Maria   Angélica Schlickmann Pereira Hayar, Soraya Maitins Alencar, Ursula   M. Karsch e Viviane Bianco revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277 iniciais_PR2.p65 10 27/11/2006, 14:51
  • 9. Editorial 11 Previdência é notícia ................................................................... 221 (Social welfare is news)   Ana Maria Ramos Sanchez Varella e Viviam Cristina H. Lemos Anais ......................................................................................... 233 (Proceedings) Normas para publicação .......................................................... 275 revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 1-277 iniciais_PR2.p65 11 27/11/2006, 14:51
  • 10. Editorial 13 Editorial A questão do envelhecimento é uma dimensão da vida que não se reduz unicamente a uma dimensão biológica ou ao tratamento da velhice a partir de suas patologias, mas compõem-se de uma afirmação de suas potencialidades de invenção de múltiplos modos de existência. Tem-se, de um lado, a conquista da longevidade pelo homem, permitida pelo avanço das ciências naturais e de saúde; de outro, as exigências dessa conquista colocadas, tanto para o campo da reflexão quanto para o das ações públicas e privadas. A assistente social portuguesa, Maria de Lourdes Quaresma, faz uma análise do percurso de uma área do conhecimento, a Gerontologia, a partir das interdependências entre o envelhecimento humano e social, no âmbito do impacto dos fenômenos do envelhecimento nas estruturas familiares, na economia, na proteção social, no direito, nas representa- ções sociais sobre a vida, a morte e a velhice, nas práticas culturais e na relação com o tempo. Assim, a multidisciplinaridade tem sido invocada, partindo de dois pontos de vista: como o indivíduo é afetado pelo enve- lhecimento e como uma população que envelhece muda a sociedade. Em relação a isso, Anna Cruz de Araujo Pereira da Silva, em “O papel das convenções da ONU na elaboração de uma cultura gerontológica”, traça o papel dessa instituição como fomentadora de revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18 iniciais_PR2.p65 13 27/11/2006, 14:51
  • 11. 14 Kairós políticas afirmativas e antidiscriminatórias voltadas ao idoso, em abor- dagem que recai essencialmente sobre as últimas três décadas, tendo como marco a Convenção promovida pela ONU em 1982, em Viena e, posteriormente, a Segunda Convenção do Idoso em 2002, em Madri. Na ocasião, já se dizia que as melhorias de condições de vida, jun- tamente com o surgimento de novos remédios, provocaram a diminui- ção da mortalidade infantil, da fecundidade e maior longevidade. O resultado disso é a mudança do perfil demográfico, cujo impacto, no Brasil, está sendo muito profundo. É sobre isso que a ONU vem aler- tando os países em desenvolvimento há praticamente três décadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam o crescimento da população idosa no país. Para quem não sabe, são as pessoas com mais de 60 anos. Em 2020, o Brasil terá 13%, isto é, cerca de 27 milhões de idosos. E a tendência é continuar crescendo, cres- cendo, crescendo... Como ficará o sistema previdenciário, baseado em pessoas em idade ativa – de 15 a 60 anos –, as quais garantem, por meio de suas contribuições, os recursos para pagar os benefícios da previdência? Para refletir sobre essa questão, este número da revista Kairós trata de um tema que nos apavora: o futuro previdenciário de todos nós. Pela Constituição de 1988, previdência social, saúde e assistência social for- mam um único sistema, o da seguridade social. No entanto, nunca a população se sentiu tão desprotegida, especialmente quando dele mais precisam. Por isso, diversos especialistas foram chamados para falar, durante a VIII Semana de Gerontologia, intitulada “Longevidade e Previdência: a política social privilegia os idosos?”. A troca de idéias entre eles e os exigentes participantes permitiu a crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a velhice: transmitimos essa troca aos nossos lei- tores para que, ausentes dessa discussão, possam também refletir sobre essa etapa da vida. Outros autores também foram chamados para estar presentes na revista, com o objetivo de ampliar esse debate, iniciado com uma oficina de reflexão temática que perguntava a muitos profissionais que atuam na área do envelhecimento se a aposentadoria era agonia ou êxtase, permitindo assim uma troca de saberes. Dessas reflexões ficou visível o não-lugar do aposentado, tanto na sociedade como no lar, onde, às vezes, é visto como um intruso, alertando- revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18 iniciais_PR2.p65 14 27/11/2006, 14:51
  • 12. Editorial 15 nos para a necessidade de não deixarmos de lado nossos planos e espe- ranças, mesmo quando aposentados. A presença dos idosos no mercado de trabalho é uma realidade no mundo todo. O artigo de Rosa Maria da Exaltação Coutrim discute o papel do trabalho na vida de idosos e idosas que retiram seu sustento e de seus familiares, na maioria desempregados ou subempregados, das ruas das metrópoles. Por meio de uma pesquisa qualitativa com entre- vistas a camelôs, engraxates, pipoqueiros, etc., ela constatou que o tra- balho para esses idosos representa mais do que a complementação de renda. Ele também é uma fonte de poder e um locus de socialização. Mas “por que contratar idosos?”. É o que Ana Maya Goto Uyehara perguntou aos funcionários da fábrica de biscoitos Festiva (SP). Obteve como resposta que a mão-de-obra idosa transforma-se em um desafio para uma reorganização social que articule de forma mais propícia a valorização dos recursos humanos existentes e como fator macroeconô- mico e demográfico a ser considerado no planejamento estratégico das empresas. O profissional envelhece na mesma proporção que o consu- midor e a sua experiência acumulada, além de manter viva a memória organizacional, pode agregar valor ao produto/serviço das empresas. No entanto, a aposentadoria é tratada por muitos como se não fosse um direito social, mas uma usurpação. Outros, mais raros, mos- tram que uma suposta crise alimenta o mercado financeiro. A máquina do Estado privilegia o superávit para pagamento da dívida externa, em detrimento das políticas sociais. E questionam: se a seguridade social é superavitária, a previdência, saúde e assistência social também deveria ser. Entre eles está a economista Denise Gentil, que, em sua tese de doutorado intitulada A falsa crise do sistema de Seguridade Social no Brasil, mostra que o “discurso do déficit” é uma construção recente, das duas últimas décadas, e que veio para justificar cortes de benefícios na segu- ridade social, especialmente no setor previdenciário. Mas “tudo o que a seguridade arrecada paga as despesas globais de previdência, saúde e assistência social, e ainda sobram muitos recursos – estes sim, vão patrocinar a União no seu orçamento fiscal”, diz ela à grande imprensa. O que é confirmado pelos nossos convidados. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18 iniciais_PR2.p65 15 27/11/2006, 14:51
  • 13. 16 Kairós O cientista político Evaldo Vieira, da USP é categórico: “os pro- , blemas da Previdência estão relacionados com o desvio de verbas e tam- bém com o desemprego, porque está diminuindo o número de contribuintes”. Segundo ele, do mesmo modo que se provoca perda para os aposentados, em razão do cálculo errado do fator previdenciário, do empréstimo bancário aos aposentados e pensionistas com desconto em folha de pagamento, agora se contrapõem os idosos à população jovem. Para os analistas de gastos sociais, os recursos dos jovens são devorados pelos gastos da Previdência Social, restando menos dinheiro para a saúde e a educação. Porém, tais “mestres na análise de gastos sociais”, envol- vidos com seu marketing social, não devem saber que no Brasil, há tempos, pretende-se desvincular da Constituição Federal de 1988 as úni- cas verbas exclusivamente destinadas à saúde e à educação. A Previdên- cia Social foi criada para reduzir a pobreza na velhice, e jogar no mercado financeiro a aposentadoria contraria o princípio da dignidade humana. O professor Ademir da Silva, da PUC-SP, defendeu a necessidade de outras formas de financiamento para a seguridade social. Em sua análise “estamos pagando mais, contribuindo mais tempo, aposentando mais velhos e recebendo menos”. O economista Adriano Biava, também da USP, traçou um panorama das perspectivas econômicas da Previdência. Já o jurista Wagner Balera falou sobre os problemas jurídicos do atual modelo previdenciário.  Enfim, a sociedade está se dando conta de que o país dos jovens – do futuro – envelheceu! Não somos mais um país de predominância jovem, pois o número de velhos já é grande, e as previsões são alarman- tes. De futuro só temos os problemas a serem resolvidos desde hoje. O envelhecimento da população é um processo estrutural que traz mudan- ças nos mais diversos aspectos da vida. Para começar, as famílias não são mais compostas como até pouco tempo. Hoje, os arranjos familiares, mais complexos, são compostos de três gerações. Também é crescente o número de pessoas sós. Nas famílias sem idosos as crianças são mais pobres. A reprodução está abaixo da reposição. Para as mulheres idosas, a viuvez trouxe redução de pobreza. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18 iniciais_PR2.p65 16 27/11/2006, 14:51
  • 14. Editorial 17 A aposentadoria, embora baixa, reduziu as desigualdades na área rural, enquanto na área urbana ela reflete a desigualdade já existente. Há um maior empoderamento entre as mulheres... Enfim, dados que a demó- grafa Ana Amélia Camarano vem divulgando pelo país afora. O que fazer?  Uma série de questões relativas ao envelhecimento da população brasileira tem sido discutida pela sociedade em geral. Notamos, com freqüência preocupante, nessas discussões, duas abordagens: o idoso sendo tratado com a benevolência dedicada aos tolos ou como um fardo social – um “excesso” – a ser penosamente suportado por todos. Quando o assunto é Previdência é esta segunda abordagem a que predomina.  Na análise das possíveis alternativas possíveis para a Previdência, a constatação é, digamos minimamente, desanimadora. Segundo os especialistas, não há perspectivas de melhoria e nem esperanças! A si- tuação da Previdência e dos aposentados é sem saída! A política social privilegia o capital e o mercado! Um gosto amargo fica da constatação do “sem saída”! Pergunta-se, então, não estaríamos “acomodados” ante as sérias dificuldades, em vários níveis, que atingem a maioria das pessoas, e os velhos em particular? É da competência e dever de todos, Estado e sociedade civil – incluindo a Universidade –, procurar alternativas. Não vamos nos satis- fazer apenas com estatísticas e constatações. Os dados são fundamentais para uma visão realista e profunda, mas não devem nos paralisar em uma posição passiva. Repetimos o que nossos convidados disseram: admitimos que a política social vigente privilegia o capital e não os idosos, enquanto a Reforma da Previdência não tranqüiliza as pessoas que se sentem con- fiscadas. Ante essa realidade, devemos defender que a política brasileira deveria privilegiar os brasileiros, especialmente os que estão em condi- ções de injustiça. Devemos pensar qual Estado e qual política queremos. A política deve ser tratada na esfera dos direitos. E, nessa esfera, a discussão deve ser em torno da arrecadação de impostos, outras formas de financiamento da seguridade social, de fi- nanciamento das políticas sociais, da distribuição da riqueza e não em torno da oposição entre idosos e crianças, trabalhadores do setor público revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18 iniciais_PR2.p65 17 27/11/2006, 14:51
  • 15. 18 Kairós e privado. Para o Professor Ademir da Silva, “o desafio é enfrentar a reafirmação do papel social do Estado, defender a esfera pública como esfera universal, a política como instância privilegiada de equacionamen- to do interesse público e da vida coletiva”. Para se compreender melhor a questão previdenciária, convida- mos dois grupos de pesquisa que vêm desenvolvendo estudos sobre o envelhecimento. Um deles, Epidemiologia do Cuidador, trata do perfil previdenciário de idosos internados em um hospital da rede pública. A partir de um recorte de uma pesquisa realizada em 2004, tendo em vista a implementação de um Centro de Referência do Idoso em um complexo hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, o grupo en- trevistou pacientes de ambos os sexos e observou que a maioria das mulheres não recebia benefício previdenciário e que grande parte dos homens recebia algum tipo de aposentadoria. Observou ainda que a mulher idosa é mais vulnerável à pobreza, pois tem baixo rendimento ou dependência financeira do cônjuge, da família ou da assistência so- cial. Verificou que mesmo com rendimento mensal muito baixo, os ido- sos, devido às dificuldades econômicas das famílias, acabam assumindo a responsabilidade pelo sustento dos filhos e netos. O outro grupo de pesquisa, Longevidade, Envelhecimento e Comunicação (LEC), por meio de uma pesquisa sobre a cobertura da imprensa escrita da cidade de São Paulo sobre o envelhecimento, apre- senta uma análise dos aspectos previdenciários cobertos pelo jornal im- presso Valor Econômico, um veículo de comunicação rico em informações sobre a Previdência e questões afins. E comprovaram, de fato, que a Pre- vidência é notícia! Por fim, apresentamos aos nossos leitores a seção Anais, que conta com os resumos de trabalhos que foram apresentados durante a VIII Semana de Gerontologia e por meio dos quais observa-se a diversidade de velhices e, conseqüentemente, de pesquisas sobre o processo de en- velhecimento. A todos uma excelente leitura! Beltrina Côrte Suzana A. Rocha Medeiros revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 13-18 iniciais_PR2.p65 18 27/11/2006, 14:51
  • 16. Gerontologia e Gerontologia Social 19 Gerontologia e Gerontologia Social: contributos para a análise de um percurso Maria de Lourdes Quaresma RESUMO: Este artigo analisa a construção de uma área transdisciplinar do conhe- cimento, chamada Gerontologia Social, a partir das interdependências entre o envelhecimento humano e social, ao nível do impacto dos fenómenos do envelhe- cimento, e os contributos que uma e outra área têm dado à reflexão e controlando as questões epistemológicas que têm separado as diferentes correntes de pensa- mento nesta área do conhecimento. Palavras-chave: Gerontologia Social; transdisciplinar; envelhecimento. ABSTRACT: This article analyses the construction of a cross-disciplinary area of knowledge called Social Gerontology, based on the interdependences between human and social aging, regarding the impact of the aging phenomena. It also approaches the contributions that both areas have given to reflection, controlling the epistemological questions that have separated the different lines of thought in this area of knowledge. Key-words: Social Gerontology; cross-disciplinary; aging. Quer se trate do processo de envelhecimento ou das consequências do avanço em idade sobre a situação das pessoas (estado de saúde, implicações psicológicas, papel e lugar na sociedade) encontramo-nos perante fenónemos complexos e multifactoriais, “combinações” de interacções entre o “dado pessoal” e o ambiente exterior, entre os factores individuais e colectivos. Henriette Gardent revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 19 27/11/2006, 14:52
  • 17. 20 Maria de Lourdes Quaresma O envelhecimento humano e a velhice foram durante muito tem- po e quase exclusivamente objectos de estudo da medicina. A partir de meados do século XX um outro questionamento é construído. As alte- rações demográficas verificadas durante o século findo, produzidas no contexto das profundas transformações sociais e económicas que atra- vessam as nossas sociedades, levantam novas questões. A procura do saber sobre as interdependências entre o envelhe- cimento humano e social, ao nível do impacto dos fenónemos do enve- lhecimento nas estruturas familiares, na economia, na protecção social, no direito, nas representações sociais sobre a vida, a morte e a velhice, nas práticas culturais, na relação com o tempo, deu lugar à construção de uma área transdisciplinar do conhecimento a que chamamos Geron- tologia Social. Os seus territórios apresentam uma diversidade e complexidade crescentes. O envelhecimento da sociedade e de cada um de nós revela- se profundamente interpelante e desafiante, pelo que transporta de novo na reciprocidade da relação sociedade/sujeito. Os ganhos em anos de vida entrosam-se em novos comportamentos, estilos de vida, expecta- tivas e valores, com repercussões nas formas de viver e experienciar as diferentes fases da existência e as formas de sociabilidade e convivência. A gerontologia social, ao perspectivar uma abordagem transdis- ciplinar dos fenónemos do envelhecimento, procura ultrapassar uma visão “reducionista”, “monodisciplinar”, muito presente na paisagem investigativa gerontológica: as diferentes disciplinas não se têm encon- trado na construção dos objectos da investigação. Como diz Philippe Pitaud “Il faut que nous fassions un effort pour passer le cap qui fasse de toutes les disciplines qui se rencontrent au sein de la gérontologie, autre chose que des carrefours de sciences diverses”. Aliás, o gap de que fala Pitaud não deixa de ser revelador das divergências epistemológicas que têm separado as diferentes teorias sobre o envelhecimento humano e das dificuldades em abarcar a multidimensionalidade destes fenónemos. A análise critica desenvolvida no seio das ciências sociais, ao pôr em evidência a impor- tância do entrosamento entre os factores individuais e a historicidade que lhes está associada deu um contributo extremamente relevante e revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 20 27/11/2006, 14:52
  • 18. Gerontologia e Gerontologia Social 21 decisivo para a construção da gerontologia social: novos ângulos de análise têm enfocado a organização social, os modos de vida, as questões culturais e políticas como dimensões estruturantes do envelhecer e dos percursos de envelhecimento na passagem a uma vida adulta prolonga- da pelo aumento substancial da esperança de vida. O processo de desenvolvimento humano ao longo da vida, objec- to da gerontologia (Michel Philibert), e os movimentos, tendências colectivas que acompanham esses processos, objecto da gerontologia social, são chamados a entrosar-se nos objectos da pesquisa, maximizan- do os contributos que uma e outra têm dado à reflexão nestes domínios e controlando as questões epistemológicas que têm separado as diferen- tes correntes de pensamento nesta área do conhecimento. Questões epistemológicas – algumas considerações O estudo dos fenónemos do envelhecimento levanta questões epistemológicas complexas. Como refere Paul Paillat, as dificuldades começam com o próprio conceito de envelhecimento – envelhecimento físico, envelhecimento social de base demográfica, envelhecimento so- cial por relação à inserção na vida económica, ao factor trabalho. Os diferentes ângulos de análise que o envelhecimento suscita são tributá- rios de várias áreas disciplinares, cujos quadros epistemológicos podem, por vezes, ser “conflituais” entre si. Aliás, o facto da investigação em gerontologia ter estado longo tempo associada quase exclusivamente às ciências médicas, não é certamente alheio a esta dificuldade. Tomemos como exemplo a questão da idade – bem no cerne desta discussão. As categorias usadas para medir a idade biológica, física e mental têm so- frido alterações, mesmo no seio das disciplinas que mais as desenvolve- ram – biologia e psicologia da corrente desenvolvimentista. Como referem Christian Lalive D’Épinay e Jean François Bickel (1996), esta corrente muito referenciada a Piaget marcou uma concep- ção do estudo do desenvolvimento humano em função da idade, o que transposto para os fenónemos do envelhecimento veio dar lugar à pes- quisa centrada sobre as perdas, sobre as alterações dos processos bioló- revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 21 27/11/2006, 14:52
  • 19. 22 Maria de Lourdes Quaresma gicos e psicológicos como consequências do processo de envelhecimen- to, isolando-o da historicidade que o acompanha. Para estes autores, es- tamos perante uma concepção determinista do ciclo de vida, largamente criticada a partir de outras ópticas da pesquisa, nomeadamente da so- ciologia, da história e da filosofia que têm vindo a demonstrar não ser o factor idade o que melhor explica as alterações e os problemas das pessoas que avançam em idade. À teoria do “desengagement” (Cumming e Henry, 1961) explicativa dos processos de envelhecimento de cariz mais determinista, contrapõe- se a teoria da actividade (Orbach, 1979; Hochshild, 1975) e posterior- mente a teoria da continuidade (Atchley, 1971; Rosow, 1979). Para a primeira, as perdas dos papeis sociais, acelerando o envelhecimento do indivíduo, são consequência do declíneo biológico e psicológico; para as outras duas, a importância dos papeis sociais está associada à recons- trução identitária possível no avanço em idade, sendo a teoria da con- tinuidade a que melhor aborda o envelhecimento como um continuum da existência. Todavia, devemos afirmá-lo, nenhuma destas teorias é genera- lizável. O facto de vivermos em contextos marcados pela aceleração das mudanças gera complexidades crescentes e singularidades que, cada vez mais, escapam a regularidades fácilmente apreensíveis. Ora, se conside- rarmos que no centro desta “revolução” estão as gerações dos que pela primeira vez vão experienciar um tal alongamento da vida humana, não podemos deixar de admitir que o seu impacto não será neutro na rede- finição dos conceitos de idade a partir das alterações sociológicas asso- ciadas à explosão das idades e das singularidades. A importância das questões epistemológicas – a construção do conceito de dependência como caso paradigmático A problemática da dependência está no centro das preocupações politicas relativas à gestão da população e também de alguma investi- gação na Europa. As recomendações do Conselho da Europa sobre a dependência constituem um indicador deste facto e a construção do conceito de dependência desenvolveu-se neste contexto. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 22 27/11/2006, 14:52
  • 20. Gerontologia e Gerontologia Social 23 Importa salientar que na génese do conceito de dependência entra, por um lado, a noção de incapacidade (das ciências médicas) e, por outro lado, a noção de risco de perda da autonomia associada à velhice, indu- zindo uma relação de causalidade que não está provada, antes pelo con- trário. De facto, a associação entre velhice, doença, incapacidade, depen- dência, enquanto cadeia sequencial irreversível, contraria os resultados de estudos epidemiológicos e longitudinais, entretanto desenvolvidos, ao mesmo tempo que a análise das interdepedências entre doença, deficiência, incapacidade e desvantagem (handicap) (Ennuyer, 2002), põe em evidência o papel codeterminante dos factores sociais, económicos, culturais e ambientais na génese destas situações. Os problemas que se têm levantado à operacionalização do conceito de dependência não são alheios a estas ambiguidades conceptuais. A definição de dependência, tal como consta da legislação, pres- supõe a definição de autonomia e de perda de autonomia, de forma a possibilitar a medida das perdas, em função de parâmetros e com objec- tivos precisos, o que tem constituido um problema maior. Ao optar-se pela oposição dependência/autonomia referenciada à satisfação das ne- cessidades básicas elementares, esvaziou-se o quadro referencial das causalidades, diversidade, intensidade e complexidade das diferentes situações, o que quer dizer da componente compreensiva dos sujeitos e da historicidade dos seus percursos. As multiplas interrogações de or- dem conceptual, ética e política suscitadas pela formulação das políticas de protecção social da dependência e pelo corpus teórico que as acompa- nham, radicam nesta ordem de questões (Quaresma, 2004), e pelo facto de que a adopção de uma terminologia conceptualmente vaga e redu- tora (Ennuyer, 2002; Pitaud, 2004) tem produzido efeitos estigmati- zantes sobre a velhice. Não há dúvida que a relação dicotómica que resultou da delimi- tação do conceito de dependência referenciado à autonomia não tem fundamento científico, como o prova a nossa própria experiência e o conhecimento disponível sobre os processos de desenvolvimento huma- no. Cada um de nós existe e constrói a sua identidade, a consciência de si (Ricoeur), no jogo das interdependências com as quais e através das revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 23 27/11/2006, 14:52
  • 21. 24 Maria de Lourdes Quaresma quais faz a sua própria história. A produção do sujeito individual e social é acompanhada da autoprodução do sujeito do interior de si mesmo. Da dialéctica entre estas duas instâncias resulta a representação de si, num processo necessáriamente dinâmico e constante. Sabemos que cada indivíduo vive numa relação permanente de dependência funcional com outros indivíduos (sendo por demais eviden- te que o autónomo é, em si mesmo, limitado, como referem alguns autores) que dá lugar a um conjunto de funções essenciais à construção das relações dos homens entre si, a que chamamos sociedade (Elias). A dependência constitui, assim, fundamento do sujeito e da coesão social, pelo que, neste sentido, ela é também essencial e estruturante da história de vida, condicionando os capitais económico, cultural, simbólico com que contamos na velhice. Ou seja, se a dependência é inerente à existência humana, atra- vessando todas as fases da vida, numa dialéctica permanente face à autonomia como afirmação de si, a necessidade de cuidados e de apoios na velhice não pode legitimar um conceito de dependência como atribu- to da velhice. O que está em causa são, pois, os referenciais filosóficos, cientí- ficos, éticos e políticos do conceito e das políticas, pelo que a exigência epistemológica que acompanha a análise desta problemática à luz de diferentes disciplinas tem dado um impulso significativo à pesquisa neste domínio, nomeadamente ao nível das repercussões nas representações sociais de velhice e nos fenónemos de exclusão (o conceito de papel vazio, que veremos adiante, pode sustentar alguma desta investigação). A passagem da dependência à categorização de grupos de depen- dentes remete para a dependência como construção social no quadro das medidas de protecção social às pessoas que precisam de ajuda nas actividades quotidianas, para satisfação das suas necessidades básicas, resulta da análise sociológica. Como tem sublinhado A. M. Guillemard, a dependência, como objecto das políticas sociais, [...] não escapou ao processo de categorização inerente a uma das lógicas dominantes do funcionamento das políticas sociais – revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 24 27/11/2006, 14:52
  • 22. Gerontologia e Gerontologia Social 25 elaborar e manipular estatutos que têm como consequência trabalhar sobre as identidades dos grupos sociais abrangidos e sobre a sua possibilidade de aceder ao estatuto que confere direitos. (2000) Aliás, o incremento dos estudos centrados na análise dos défices e dos custos de aplicação das medidas de protecção social da dependên- cia, a par da escassez trabalhos que questionem a normatização subja- cente à aplicação das políticas, é revelador do enviezamento e da deriva conceptual neste domínio. Ou seja, por um lado, a análise dos custos transporta um critério de valor, valor da velhice “não autónoma”, numa lógica de contabilidade social, e, por outro lado, a definição dos parâme- tros de medida dos deficits ou das perdas, vem desembocar na constru- ção de categorias de dependentes, reforçando as imagens desvalorizadas da velhice, e produzindo novos estereótipos sobre esta fase da vida. A contabilização dos déficits, como instrumento decisivo no aces- so à protecção social, induz a minimização da compreensão da singula- ridade dos sujeitos e das condições socio-históricas que atravessam a sua construção identitária. Ao centrar a análise nas alterações e consequên- cias nefastas do envelhecimento, isolando-as da história de vida dos indivíduos, segue uma lógica determinista, tecendo um écran espesso entre a sociedade e os sujeitos: reduz a comunicação e a capacidade de compreensão dos fenómenos na sua totalidade e na sua globalidade, e contribui para a cristalização da associação entre envelhecimento, dete- rioração e decadência das capacidades físicas, psíquicas e intelectuais, segundo Pitaud. Quando assistimos ao desenvolvimento da concepção dualista do envelhecimento, articulada entre bom envelhecimento (activo, autóno- mo) e envelhecimento dependente (estigmatizado pelos déficits e, em especial, pelos riscos da demência), não podemos deixar de considerar que ele tem aqui a sua génese e de sublinhar a importância da discussão epistemológica em torno do conceito de dependência que pôs de novo em evidência os limites das correntes deterministas e os riscos da sua aplicação em termos políticos. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 25 27/11/2006, 14:52
  • 23. 26 Maria de Lourdes Quaresma É por demais evidente que a não consideração do factor gera- cional e do percurso de vida reduz drástica e perigosamente a possibili- dade de compreensão dos fenónemos da dependência no avanço em idade. Induz a construção de tipologias isoladas das problemáticas que elas transportam, negligencia a análise das causalidades e não favorece a com- preensão do sujeito na sua história como tem sido evidenciado pela análise multidisciplinar que tem sustentado o questionar das formas de catego- rização da velhice e da dependência. Sabemos que o envelhecimento é fortemente condicionado pelas capacidades de adaptação ao longo da vida, mas estas não dependem apenas, nem sobretudo, de factores individuais: as condições objectivas da existência têm um papel fundamental. A comprová-lo está o facto do acréscimo do número de situações problemáticas não ser directamente proporcional ao aumento do número de pessoas que atingem idades avançadas, como se temia nos anos 70. Estudos longitudinais, entretan- to desenvolvidos, têm revelado uma clara melhoria dos níveis de auto- nomia nas actuais gerações de pessoas com 85e+anos, o que não será alheio à diferenciação positiva dos seus percursos e dos quadros sociais que os acompanharam (Pérès, 2001). Para Michel Philibert (1980), Je crains que parler de 3ème et de 4ème âge n’engage les esprits un peu paresseux à imaginer que la nature a prévu pour la vie humaine quatre étapes successives... Rien de plus faux. La dépendance et l’infirmité n’accompagnent pas fatalement le grand âge. Elles l’accompagnent parfois, parfois la devancent et le plus souvent l’épargnent. Elle dépend d’une conjonction de facteurs dont certains échappent à notre contrôle, mais dont d’autres sont liés à nos manières de vivre, de travailler, de nous soigner, et peuvent être prévenus, contenus, corrigés. Gerontologia social – Contributos da Sociologia A sociologia do envelhecimento tem estado fortemente associada ao desenvolvimento da gerontologia social. Neste percurso podemos salientar alguns marcos conceptuais e metodológicos. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 26 27/11/2006, 14:52
  • 24. Gerontologia e Gerontologia Social 27 A constução da sociologia da idade, desenvolvida tanto nos EUA como na Europa, partiu da necessidade de compreender o impacto do aumento da esperança de vida na organização das sociedades indus- trializadas (Riley et al., 1972, EUA; Guillemard, 1972, França). Uma nova abordagem da idade como elo entre trajectórias individuais e quadros sociais tem marcado a investigação sociológica das últimas décadas. O questionamento da idade como marcador biológico e social radica neste quadro investigativo, vindo a demonstrar que o factor idade não explica as variações que ocorrem ao longo da vida dos indivíduos (Riley), propondo alguns autores quatro combinações para a análise da variável idade (D’Épinay e Bickel, 1996): • Idade como indicador do programa genético do indivíduo; • Idade como indicador da posição do indivíduo face ao(s) estatuto(s) social(is) ao longo do percurso de vida – historici- dade da idade; • A idade, datação histórica, referência dos acontecimentos so- cietais que marcam e mudam os comportamentos dos indiví- duos, conjunturalmente ou de forma duradoura; • A idade cronológica como indicador de um processo de inser- ção e de um percurso histórico partilhado por um conjunto de indivíduos (geração). Subjacentes a esta teorização estão os conceitos de percurso de vida e de geração. Introduzem o tempo histórico na reflexão sociológica (sobretudo relevante no caso americano, em contra corrente com as teorias deterministas) e pôem em causa o factor idade como variável independente. No entanto, o conceito e a abordagem metodológica de geração diferem de acordo com as diferentes correntes da sociologia. Ou seja, ao conceito de geração a partir de grupo de idades e à metodo- logia por coortes/transversal (Riley), contrapõe-se um conceito de so- cialização, comunidade cultural, stock de experiências históricas parti- lhadas (Mannheim) aplicado ao estudo empírico da população e que, embora distinga geração de classe social e de categoria socioprofissional, não deixa de comportar dificuldades de operacionalização dado que idade, historicidade e tempo não são variáveis independentes. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 27 27/11/2006, 14:52
  • 25. 28 Maria de Lourdes Quaresma De qualquer forma, o conceito de percurso de vida constitui um ponto crucial da evolução decorrida entre as concepções mais determi- nistas, pela deriva dos conceitos da biologia e psicologia desenvolvimen- tistas, como já referimos, até uma concepção mais compreensiva e globalizante dos fenónemos, integrando na pesquisa as variáveis histó- ricas que acompanham e estruturam os percursos individuais. Nesta perspectiva, os estudos sobre a cronologização das idades e do ciclo de vida (Kohli, 1985; Guillemard, 1972, 1995), sobre o es- tatuto do “velho” e do reformado nas sociedades contemporâneas, como novo campo de pesquisa – construção do conceito de “papel vazio” ins- crevendo-o na análise mais abrangente sobre os processos de exclusão social (Castel, 1997), sobre a definição de novas etapas do ciclo vital, sobre as mudanças face à vida e ao futuro na perspectiva do alongamento do tempo de existência (Imhof, 1986; Kholi e Mayer, 1986) e das mudanças na relação com a morte (D’Épinay, 1996) – constituem a marca da importância do conceito “percurso de vida” na investigação socioló- gica e das suas potencialidades para a investigação interdisciplinar. O exemplo que tratámos no âmbito da análise da problemática da dependência integra-se nesta corrente de pesquisa, acolhendo muita da reflexão construida neste domínio. Os trabalhos sobre o percurso de vida constituem uma contri- buição original da sociologia europeia, em particular da socio- logia alemã, no quadro do Desenvolvimento Humano e da Psicologia Social. (Épinay e Bickel, 1996). Territórios do envelhecimento e da velhice No quadro europeu, a pesquisa gerontológica, tal como vimos anunciando, tem privilegiado territórios como os modos de vida, esta- tutos e papeis dos reformados, relações intergeracionais (D’Épinay, 1991, 1997; Modak, 1990; Clément e Druhle, 1992, Caradec, 1996, entre outros), constituição dos reformados como grupos de pressão (Durandal, 2003) e também os percursos de transição actividade profissional/refor- revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 28 27/11/2006, 14:52
  • 26. Gerontologia e Gerontologia Social 29 ma (Kohli, 1986). Simultâneamente, a partir dos anos 80, a dependên- cia tem vindo a constituir-se como um novo território, sobretudo para a gerontologia social francesa. A sociologia, o direito, a antropologia, a política social e as ciências médicas têm procurado construir um corpus teórico/analítico sobre esta problemática, embora as velhas clivagens entre correntes de influência “determinista” e as da “continuidade” te- nham emergido, sobretudo no âmbito da análise epistemológica, sobre o conceito de dependência, como já referimos. Nos EUA, outros territórios como o fim de vida, as redes de so- ciabilidade de grupos específicos (as viuvas, por exemplo), e as velhices (estudos monográficos), têm dado um contributo importante ao conhe- cimento partindo de metodologias de investigação/acção. Em ambos os casos emerge uma perspectiva antropológica e et- nológica que, em especial no quadro europeu, se vem também manifes- tando através da construção de outros territórios do conhecimento como o das trocas intergeracionais, os laços sociais, os ritos de passagem na transição actividade /reforma. É uma evolução marcada, sem dúvida, por uma maior centragem no sujeito que envelhece, um claro interesse por entrar num território quase desconhecido – o do avanço em idade e da velhice – na procura das raízes históricas e culturais que diabolizam tanto quanto podem idealizar a velhice e que estruturam as representações sociais de velhice e morte. Dar a palavra aos sujeitos, interrogar os valores, as normas e os con- ceitos/preconceitos com que as nossas sociedades gerem o envelhecimento e as idades tem orientado um conjunto de trabalhos de análise biográfica de muito interesse (Argoud e Pujalon, 1999; Amyot e Billé, 2004). A gerontologia social e as grandes questões do envelhecer nas sociedades contemporâneas No contexto das sociedades contemporâneas mais industrializa- das podemos afirmar que os seniores de hoje são a primeira geração a experienciar viver uma vida adulta prolongada, marcada pela coexistên- cia de identidades multiplas e por uma multiplicidade de papeis. Neste revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 29 27/11/2006, 14:52
  • 27. 30 Maria de Lourdes Quaresma ambiente de oportunidades e de potencialidades coexistem as gerações mais velhas que enfrentam os mais anos de vida e a velhice em situação de maior desvantagem e dificuldade por razões não só da sua própria história como da desadaptação dos seus contextos a esta nova realidade. As transformações associadas a mais e melhores oportunidades para os que hoje fazem a transição actividade/reforma são geradoras de novos riscos face ao envelhecimento, tanto para a sociedade como para os indivíduos, e entre estes os mais velhos estão em situação de maior desvantagem: • riscos sociais: isolamento e solidão – pelas mudanças nos modos de vida e nas formas de sociabilidade e convivência, designa- damente intrafamiliares, e pela rarefacção das relações sociais e familiares associada sobretudo às idades mais avançadas; • riscos ambientais: acessibilidades, habitat, vida urbana não adap- tada a uma população urbana envelhecida, isolamento geográ- fico dos territórios do interior; • riscos de saúde, em especial de incapacidades por doenças cróni- cas podendo conduzir a situações de dependência. Riscos tam- bém pelo excessivo enfoque nas perdas e declíneo, raíz de conceitos e preconceitos que, ao contribuir para a cristalização de imagens do bom e mau envelhecer, correspondem a cate- gorias que acentuam a individualização dos riscos – cada um “deve” ser autónomo face a um pluralismo crescente de situações. A idade, o género e os handicaps físicos, atributos do indivíduo, emergem como factores de clivagem social, aumentando os riscos de exclusão na velhice pelo estigma que transporta. Clivagem que não é neutra face ao impacto do envelhecimento na organização social, na economia, nas políticas, no tecido social e nas sociabilidades, já de si em mutação, aumentando o gap entre o que sabemos e o que não sabemos e reforçando as incertezas face ao futuro – a previsibilidade reduz-se num ambiente de profundas e rápidas mudanças. Neste contexto, além da necessidade de definição de novos ter- ritórios da pesquisa põe-se o problema da sua organização. A evolução revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 30 27/11/2006, 14:52
  • 28. Gerontologia e Gerontologia Social 31 recente mostra que, se por um lado, a prospectiva demográfica tem contribuido para a construção das questões, a procura das respostas apela cada vez mais ao quadro interdisciplinar. Um exemplo vem do projecto europeu Felicie – análise prospectiva sobre as pessoas muito idosas no horizonte 2030, na procura de saber quem irá cuidar e como se irão estruturar os cuidados a estas pessoas em caso de deles necessitarem. Ora, sabendo-se que serão gerações marcadas pela redução drás- tica do numero de descendentes e por percursos construidos em contex- tos de grandes alterações sociais e culturais, os quadros de referência de que dispomos apenas permitem desenhar hipóteses mais ou menos aca- démicas. Ou seja, os conceitos de geração e de percurso de vida que têm sustentado a pesquisa em “gerações” constituidas pelos adultos que hoje avançam em idade, terá de ajustar-se a estudos longitudinais que pers- pectivem a análise nas actuais gerações adultas mais jovens e possibili- tem uma outra aproximação à realidade previsivel que não seja a de transpôr comportamentos e expectativas que hoje conhecemos e cuja regularidade é indissociável de um tempo histórico, para um horizonte de duas décadas marcado por um outro tempo histórico. É uma evidência que as pessoas dos grupos de idades com que trabalhamos pertencem a gerações diferenciadas. As mais velhas vive- ram uma grande parte das suas vidas em contextos estáveis, sem a pres- são de grandes ou fortes movimentos de mudança. As que hoje estão entre os 50-59 anos viveram a “jovem” idade adulta em contextos de profundas e rápidas transformações que acompanham a sua progressão na idade, nomeadamente as questões de género que vêm assumindo importância crescente. O Projecto europeu Meri, análise do envelhecer no feminino, constitui um marco significativo ao dar visibilidade à invisibilidade das condições de desfavorecimento que marcam todas as gerações de mu- lheres, embora de forma mais gravosa as muito idosas, comprometendo a qualidade do envelhecimento da maioria dos mais velhos de hoje e dos que, no futuro, vão chegar a idades avançadas. A construção do conhecimento neste quadro de forte diferencia- ção geracional, levanta sérios problemas metodológicos. A discussão revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 31 27/11/2006, 14:52
  • 29. 32 Maria de Lourdes Quaresma entre metodologias transversais e longitudinais faz todo o sentido. Os pressupostos da óptica transversal/coorte não permitem a construção de hipóteses sustentáveis no quadro actual: as diferenças/contrastes obser- vados entre “as idades” não podem ser atribuidas ao avanço em idade, como já referimos a propósito da análise dos conceitos de geração e percurso de vida. Noutros contextos elas poderiam ser justificáveis, como referem alguns autores: Esta visão das coisas não era necessáriamente falaciosa. Numa sociedade arcaica, estacionária, o percurso de vida individual está traçado: representa para cada indivíduo o do pai ou da mãe. (Kessler, Masson, 1985). Os efeitos de geração e do tempo são negligenciáveis. Com a aceleração da história, as gerações sucessivas vivem em contextos socio- lógicos, económicos e politicos específicos, susceptíveis de marcar os seus comportamentos. Atribuir ao avanço em idade os contrastes/diferenças observados num determinado período, entre as idades, pode constituir um erro, porque a causa dessas diferenças pode estar no facto de perten- cer a diferentes gerações e não no avançar em idade (D’Épinay e Bickel, 1996). A óptica longitudinal, significativamente desenvolvida a partir dos anos 60 nas Ciências Sociais, adequa-se bem mais ao estudo destes problemas – o envelhecimento é um processo que se inscreve no tempo e nos tempos do desenvolvimento humano. Os estudos longitudinais, além de melhor propiciarem a análise interdisciplinar, são orientados para a observação ao longo do tempo: permitem uma melhor compre- ensão da evolução dos comportamentos, das expectativas e dos proble- mas em termos geracionais e do percurso de vida, bem como possibilitam a identificação do que neles pode ser imputável à idade e o que sobretudo resulta de condicionantes externas aos indivíduos – objectivo maior do conhecimento gerontológico. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 32 27/11/2006, 14:52
  • 30. Gerontologia e Gerontologia Social 33 A investigação em Gerontologia Social – história recente na situação portuguesa O conhecimento do impacto do envelhecimento na organização social e económica, partindo da análise das mudanças sociodemográfi- cas, das alterações no ciclo e percurso de vida que lhe estão associadas, bem como das politicas enquanto elementos estruturantes do “envelhe- cer” na nossa sociedade, tem vindo a constituir um objecto de interesse crescente para a investigação social. A procura dos saberes que sustentem a interpretação destas trans- formações integrando uma visão prospectiva que contribua para nortear e balisar a implementação das politicas que garantam o acesso dos cida- dãos que avançam em idade aos seus direitos civicos e sociais, tem cons- tituido um corpus de interrogações sobre quem são, como vivem, como se projectam no futuro, como se inscrevem na nossa história e memória colectiva os percursos de envelhecer dos que constituem as actuais gerações idosas. Neste contexto, podemos identificar dois eixos da investigação na área das ciências sociais: um, orientado para as questões relativas à sus- tentabilidade dos regimes de segurança social e outro centrado sobre o estudo das mudanças ao nível das dinâmicas intrafamiliares. Alguns outros estudos têm ainda sido desenvolvidos no âmbito da análise das condições de vida e das politicas de acção social, a par de outros se vêm desenhando no quadro do envelhecimento por género, da dependência e da psicologia. Embora segundo perspectivas diferenciadas, estes trabalhos têm contribuido para o melhor conhecimento das interdependências entre a evolução dos padrões de vida e os processos de envelhecimento, sendo também de assinalar a sua importância na discussão sobre as questões que se põem hoje ao nível da garantia dos direitos sociais, a montante e a jusante da situação de reforma. No quadro da problemática familiar, os trabalhos desenvolvidos no âmbito da sociologia da família têm vindo a aprofundar o conheci- mento sobre a evolução das estruturas familiares e das formas através das quais se organizam e reestruturam as teias de solidariedade. Têm revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 33 27/11/2006, 14:52
  • 31. 34 Maria de Lourdes Quaresma dado um contributo relevante para a compreensão de uma cultura fa- miliar baseada nas relações de interdependência e complementariedade, ao mesmo tempo que permitiram identificar formas de conflitualidade, latentes ou expressas, em parte devidas às dificuldades de gestão e de integração no quotidiano de uma pluralidade de papeis que resultam na complexidade crescente da organização da vida familiar. As profundas mudanças que se operam a este nível e a persistência das funções essen- ciais em termos dos afectos e referências intergeracionais são evidencia- das pelos resultados da investigação. Mas eles revelam também que a preservação do papel substantivo da familia exige outra política e outras competências que privilegiem a criação de condições externas de com- preensão e não de oposição às novas dinâmicas familiares. A familia emerge como parceira, quando é chamada a prestar cuidados, ainda que a figura da contratualização não esteja ausente: funciona como possibilidade de gestão da mutiplicidade dos papeis com a qual cada um dos membros da família é confrontado, o que assume especial relevância no caso das mulheres. Dinâmicas familiares e questões de género vêm-se revelando de importância crescente para a investigação, convergindo na constução do envelhecimento das mulhe- res como objecto de pesquisa. Para este interesse concorrem outros factores. Até um passado recente os estudos sobre o envelhecimento es- tiveram fortemente associados às questões decorrentes da saída- ruptura com a actividade profissional, as quais afectavam sobretudo o mundo masculino. Na situação actual, a par das mudanças no percurso socio-profis- sional verificadas para todos os activos, verifica-se também um aumento substancial das taxas de actividade feminina, ao mesmo tempo que a longevidade das mulheres mantem um claro distanciamento face à lon- gevidade masculina. Estamos perante um quadro evolutivo em que se acentua a feminização do envelhecimento e em que decresce a probabi- lidade da mulher continuar a ser a principal prestadora de cuidados intrafamiliares, designadamente aos parentes mais velhos, na sua maio- ria também mulheres. Questões que reforçam a pertinência da investi- revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 34 27/11/2006, 14:52
  • 32. Gerontologia e Gerontologia Social 35 gação sobre esta problemática, integrando a perspectiva da análise do ciclo e do percurso de vida. Outros territórios têm vindo entretanto a definir-se como áreas de investigação: territórios institucionais e organizacionais através dos quais se regulam a produção e a satisfação das necessidades sociais das pessoas mais velhas. São estudos sobre os serviços, sobretudo monográ- ficos que, todavia, têm dado um reduzido contributo sobre o papel dos serviços na análise interpretativa e compreensiva do que há de substan- tivo no envelhecer. De facto, a área das politicas sociais apresenta um déficit evidente de trabalhos de investigação, em especial sobre quem são os beneficiários, como evoluem e como evoluem as políticas e os serviços em função das necessidades sentidas, em confronto com as necessidades administradas. Um estudo censitário sobre os residentes em lares de idosos, ao integrar uma tentativa de abordagem dos percursos sociohistóricos destes utentes, constitui excepção: procurou a identificação de perfis identitá- rios numa lógica de recentragem sobre os sujeitos. Por outro lado e numa outra perspectiva, um trabalho recente sobre a prospectiva da criação de serviços neste domínio, ao procurar conhecer as aspirações das pessoas que integram as várias gerações do grupo 50+anos confrontando com a percepção dos promotores, revelou diferenças significativas intergera- cionais em termos de expectativas, ainda que ao nível dos medos e dos receios da velhice as pessoas inquiridas exprimam imagens fortemente negativas. A par estes estudos, dois trabalhos mais recentes, um sobre as redes de solidariedade de vizinhança ás pessoas isoladas e/ou em situação de dependência, e outro sobre os prestadores de cuidados aos doentes Alzheimer (em curso), ambos projectos europeus pilotados por Philippe Pitaud, inscrevem os sujeitos no núcleo central das pesquisas. O primeiro, sendo um estudo qualitativo e tendo como metodo- logia o estudo de caso, desenvolveu uma abordagem centrada na análise do vivido, do experienciado numa trajectória de vida mais longa, dando enfoque à construção das redes de sociabilidade primária, dos laços so- ciais, da reciprocidade das trocas, tendo como referência teórica os tra- balhos sobre o dom e contra dom de Marcel Mauss. Os relatos biográficos revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 35 27/11/2006, 14:52
  • 33. 36 Maria de Lourdes Quaresma que recolhemos são mais que contributos, são um património que espe- ramos venha a ser importante para as interrogações com que todas as gerações se confrontam. Vivemos mais porque vivemos melhor, mas interrogamo-nos como gerir este percurso mais longo, como enfrentar algo que mal co- nhecemos mas que por isso mesmo ainda mais receamos – a redução das nossas capacidades e, muito em especial, a eventual perda de autonomia numa cultura que a elege como atributo fundamental. Perda vivida como uma ferida narcísica destruidora da identidade e do valor. Ao procurarmos saber quais as interdependências entre solidão, deficits de autonomia e papel das redes de vizinhança, encontrámos re- lações complexas, denotando elevadas capacidades de gestão e de adap- tação às dificuldades do quotidiano. Mas o que verificámos, também, foi a existência de evidentes deficits, precariedades ao nível das condições de vida, funcionando como reforço da vivência da solidão, das limitações e de um certo isolamento. A sua importância, o que cada uma das com- ponentes das condições de vida pesa na génese e desenvolvimento das situações de dependência, resta como questão em aberto, exigindo mais investigação e, seguramente, outra investigação. Já o papel das redes primárias, de vizinhança e familiares, revela a sua primordial importância. É a sua “qualidade” que emerge como factor decisivo nos sentimentos de segurança afectiva e material, ou seja, como antídoto à solidão e à percepção negativa que se associa ao precisar de outro ou de outros para se bastar no dia a dia. A relevância destas redes, as suas potencialidades e limites dependem da sua valorização. O que quer dizer, do reconhecimento da sua significância em cada situação, e dos riscos da sua utilização, fora deste quadro, numa óptica mecanicista, como mero instrumento de substituição de outros actores, designada- mente dos apoios formais. Aliás, as questões comunicacionais, identifi- cadas ao longo do trabalho, são sinais claros destes limites e constrangimentos. Podemos entroncar aqui a dimensão tempo, factor estruturante dos discursos, no que eles revelam da história de vida, do projecto, do sen- tido, como um continuum até ao fim. Sentido de finitude que tanto revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 36 27/11/2006, 14:52
  • 34. Gerontologia e Gerontologia Social 37 reforça ou é reforçado pela vivência do precisar da ajuda de outros, como constitui um incentivo, uma necessidade de procura do sentido que li- gue a história de cada um à história, que dê sentido ao sentido da fini- tude, ou que, e, sobretudo, a ultrapasse. A vivência da dependência tem um tempo, mas este tempo não é redutível à mera circunstância de ser marcado por dificuldades de ser autónomo, o que redundaria em privação do essencial, na fase em que esse essencial é também único e definitivo. Ou seja, a categorização da dependência, a desvalorização da velhice “dependente”, a solidão que a acompanha, representam formas de privação do sentido, do sentido da velhice como fase da existência humana. E, como tal, são elos da cadeia que liga categorização, deficits de conhecimento, deficits de relação, representa- ções sociais de velhice (medos, irracionalidades, preconceitos). Velhice autónoma e velhice dependente anunciam as duas faces da mudança social: a primeira, uma forte individualização, a desembocar, como sugerem alguns autores, na individualização dos riscos (Beck, 2003); a segunda, a reverter para uma certa normatização da “performan- ce” individual, com evidentes repercussões nas relações sociais e fami- liares, o que não será pouco importante para o processo de envelheci- mento e para a constituição das redes de sociabilidade na velhice. Mas, importa dizê-lo, outras perspectivas se desenham na procu- ra da interpretação do sentido dos processos de individualização que marcam as sociedades contemporâneas. É o caso dos que as entendem como oportunidades de individuação, de construção do sujeito, cimenta- da numa maior consciência de si pela interiorização do mundo exterior, liberta- dora da subjectivação (Alain Touraine, La Recherche de Soi, 2000). O que quer dizer, da construção da identidade, através da maior consciência do que nela é parte da sociedade, do mundo a que pertence. E onde, dire- mos, o outro existe e tem lugar. Na vida e na memória de cada um. A velhice, melhor dizendo, as velhices, actuais e futuras, são tes- temunhos vivos destas mudanças. Como tal, continuam a representar, a retratar cada sociedade, cada comunidade, nos seus valores e sentido. Reconstruindo a memória de si e do seu mundo. Pelo que este é, sem dúvida, o desafio maior à construção do conhecimento gerontológico. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 37 27/11/2006, 14:52
  • 35. 38 Maria de Lourdes Quaresma A certa altura, dei-me conta de que o tempo passava tão depres- sa que eu me sentia a correr para fora da vida. Em teoria, ter anos é bom. O que sou, o que sei, devo-o aos anos que tenho [...]. Há uma incomodidade profunda quando a melancolia vem. Não tem nada que ver com a saudade porque a saudade aquece-nos ao refazermos com a memória aquilo que vivemos um dia. (António Alçada Baptista, O Tecido do Outono, 1999). Referências AMYOT, J. J. e VILLEZ, A. (2001). Risque, Responsabilité, Éthique dans les Pratiques Gérontologiques. Paris, Dunod. AMYOT, J.-J. e BILLÉ, M. (2004). Les Vieillesses Interdites. Paris, L’ Harmattan. ARGOUD, D. e PUJALON, B. (1999). La Parole des Vieux. Paris, Dunod. ATCHLEY, R. C. (1971). Retirement and leisure participation: continuity or crisis? Gerontologist. Spring; 11(1):13-17. Estados Unidos. BECK, U. (2003). La Société du risque: Sur la voie d’une autre modernité. França, Flammarion. BOURDELAIS, P. (1993). Le Nouvel Âge de la Vieillesse. Histoire du Vieillissement de la. Paris, Odile Jacob. CARADEC, V (2001). De la Vieillesse et du Vieillissement. Paris, Nathan. . CASTELLS, M. (1997). O poder da identidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian (Serviço de Educação e Bolsas). CUMMING, E. e HENRY, W E. (1961). Growing old, the process of . disengagement. New York, Basic Books. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 38 27/11/2006, 14:52
  • 36. Gerontologia e Gerontologia Social 39 D’EPINAY, C. L. (1991). Vieillir ou la vie a inventer. Paris, L’Harmattan (Col. Logiques Sociales). ____ (1996). Gérontologie et Societé. In: Recherche et Vieillissement, n. 79. Paris. D’EPINAY, C. L. e BICKEL, F. (1996). Gérontologie et Société. In: Recherche et Vieillissement, n. 79. Paris. ____ (1996). Recherche et Vieillissement. Gerontologie et Societé, n. 79. D’ÉPINAY, C. et alii (1983). Vieillesses, Situations Itinérarires et Modes de Vie des Personnes Âgées Aujourd’hui. Roma, Georgi. DURANDAL, J.-P (2003). Le Pouvoir Gris. Paris, PUF. . ENNUYER, B. (2002). Les Malentendus de la Dépendance, De l’incapacité au lien social. Paris, Dunod. ENNUYER, B. (2002). Les défis du vieillissement. Les malentendus de la dépendance. De l’incapacité au lien social. França, Dunod. FERNANDES, A. (1997). Velhice e Sociedade. Lisboa, Celta. FONDATION NATIONALE DE GÉRONTOLOGIE (1996). Recherche et Vieillissement. Gérontologie et Société, n. 79. GIL, P M. (1999). Redes de solidariedade intergeracionais na velhice. . Cadernos de Política social – Redes e políticas de solidariedade. Lisboa, Associação Portuguesa de Segurança Social. GUILLEMARD, A. M. (1972). La tetarit: une mort sociale. Paris, La Haye- Mouton. ____ (2000). Vicillesse et societé: le rendez-vous mangué. Èrès. GUTTON, J. P. (1988). La Naissance du Vieillard. Paris, Aubier. HOCHSHILD, T. J. (1975). The advantages and technique of kinescopic recording. Radiography. Feb; 41(482):45-7. College of Radiographers, Inglaterra. IMHOF (1986). Gérontologie et Société. In: Recherche et Vieillissement, n. 79. Paris. INE – Instituto Nacional de Estatística (1999). As gerações mais idosas. Lisboa, INE. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 39 27/11/2006, 14:52
  • 37. 40 Maria de Lourdes Quaresma INE – Instituto Nacional de Estatística (2002). Censos da população – Serviço de Estudos Populacionais. Envelhecer em Portugal – Situação demográfica, social e económica da população idosa. Lisboa, INE. ____ (2000). Esperança de Vida sem Incapacidades Físicas de Longa Duração. INE e Instituto Nacional de Saúde, 1995-1996. KOHLI e MAYER (1986). Gérontologie et Société. In: Recherche et Vieillissement, n. 79. Paris. LEITÃO, O. R. (2000). Envelhecer – o que é? GERIATRIA – Revista Portuguesa de Medicina Geriátrica, XIII, 122, pp. 5-9. Lisboa, Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia. MACHADO, P (1993). A velhice urbana no feminino – justificação de uma . escolha. Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa. MESSY, J. (1992). La Personne Âgée n’existe pas. Paris, Payot. NOVO, R. F. (2000). Para além da Eudaímonia – O bem estar psicológico em mulheres na idade adulta avançada. Lisboa, Universidade de Educação. ORBACH, R. (1979). Basic research: the need for lateral movement. Science. Jul 13;205(4402):149. Estados Unidos. PAÚL, C. (1993). A depressão em idosos. Análise Psicológica, v. 4, n. XI, pp. 79-87. PÉRÈS, B.-G. (2001). Gerontologie et Societé, n. 98, pp. 49-64. PERISTA, H.; BATISTA, I.; FREITAS, F.; PERISTA, P e CANÇO, L. . (1997). (Re)inventar solidariedades – o local como eixo dinamizador do apoio social às pessoas idosas. Que inovação possível? Lisboa, Cesis. PERISTA, H.; FREITAS F.; MAXIMINIANO S. e CATÓ, E. (2000). Identificação das necessidades das pessoas idosas no distrito de Beja. Lisboa, Cesis. PERISTA, H. (2002). Women, life cycle stages and the experience of time. Selected findings from the Portuguese Time Use Survey 1999. IATUR, Conference. PHILIBERT, M. (1980). De la vieillesse. Xerox. PIMENTEL, L. (2001). O lugar do idoso na família – contextos e trajectórias. Lisboa, Quarteto. revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 40 27/11/2006, 14:52
  • 38. Gerontologia e Gerontologia Social 41 PITAUD, P (1999). Gérontologie Sociale: pour une éthique de la formation. . Ramonville Saint-Agne, Érès. PITAUD, Philippe (2004). Solitude et isolement des personnes âgées. Ramonville Saint-Agne, Erès. PUJALON, B. J. T. (2000). Le Droit de Vieillir. Paris, Fayard. QUARESMA, M. DE L. (1996). Cuidados familiares aos idosos. Lisboa, DGAS. ____ (2004). O Sentido das Idades da Vida, Interrogar a Solidão e a Dependência. Cesdet. ____ (no prelo). Envelhecimento e Perspectivas de Criação de Emprego. Instituto de Emprego e Formação Profissional. Espaço e Desenvovimento. REIS, J. (1996). “O envelhecimento”. In: GERIATRIA – A revista portuguesa de Medicina Geriátrica, v. IX, n. 83, pp. 14-28. Lisboa, Sociedade Portuguesa de Geriatria e de Gerontologia, RILEY et al. (1972). Electrocardiographic effects of glucose ingestion. Arch Intern Med. 1972 Nov;130(5):703-7. American Medical Association. Estados Unidos. ROSOW J. M. (1971). Work requirements, work incentives: their role , in public assistance. Soc. Rehabil. Rec. Oct;1(9):27-31. Social And Rehabilitation Service, Estados Unidos. SALDANHA, M. H. (1996). Envelhecimento da mulher: perspectiva sociológica. GERIATRIA – A Revista Portuguesa de Medicina Geriátrica, v. IX, n. 87, pp. 5-9. Lisboa, Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia. SALGUEIRO, G. G. (1997). As mulheres e o envelhecimento – A imagem das mulheres idosas. Lisboa, Universidade Aberta. SANCHEZ, J. L. e ANNE L. R. (2003). L’Observation Gérontologique. Paris, Dunod. SÉMINAIRE EUROPÉEN DE FORMATION ET RECHERCHE (2000). Marselha. THOUEZ, J. P (2001). Territoire et Vieillissement. Paris, PUF. . revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 41 27/11/2006, 14:52
  • 39. 42 Maria de Lourdes Quaresma UNITED NATIONS, DIRECTORY OF POPULATION AGEING RESEARCH IN EUROPE, 1998. VALENTE, R. M. J. (1999). Reformados e Tempos livres. Lisboa, Colibri. Data de recebimento: 11/12/2005; Data de aceite: 15/3/2006. Maria de Lourdes Quaresma – Licenciada em Ciências Sociais e Políticas pelo ISCSP e em Ciências Sociais e Humanas pela UNL. DEA em Sociologia Urbana pela Universidade de Paris X. Ex-Directora de Serviços de Investigação Social e Relações Internacionais da Direcção Geral de Acção Social. Coordenadora da Pós- Graduação Profissional em Gerontologia Social no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSCOOP). Professora convidada pela Universidade de Marselha. Representante da União das Mutualidades no Conselho Nacional para a Política de Terceira Idade. Autora e co-autora de estudos, artigos e outros trabalhos, entre os quais, O Sentido das Idades da Vida, Interrogar a solidão e a dependência (coordenação e co-autoria). Coordenadora do Projecto, na componente portuguesa, Solitude et Dépendance des Personnes Âgées – Le rôle des réseaux de voisinage (ISSS de Lis- boa, Universidade de Marselha, Universidade de Milão e Universidade Barcelona). Participação/coordenação da componente portuguesa, CESIS, no projecto euro- peu MERI, Mapping existing research and identifying knowledge gaps concer- ning the situation of older women in Europe. Coordenadora do projecto, na componente portuguesa, Exclusão e doença de Alzheimer – A problemática dos prestadores de cuidados (ISSS de Lisboa, Universidade de Marselha, Universidade de Milão e Universidade de Barcelona). Participante na Equipa do Projecto “En- velhecimento e Perspectivas de Criação de Emprego e Necessidades de Formação para a Qualificação de Recursos Humanos”, Espaço e Desenvolvimento 2005. Responsável de missão e relatora, para a Fondation Nationale Gérontologie, Paris, da “auscultação” à sociedade civil, em Portugal, sobre “Dependência em 2030 – Quem vai cuidar?”, no âmbito do projecto europeu FELICIE. E-mail: mlquaresma@netcabo.pt revista Kairós, São Paulo, 9(1), jun. 2006, pp. 19-42 miolo_inteiro_PR2.p65 42 27/11/2006, 14:52