2. SUMÁRIO
I. CASO CLÍNICO
II. INTRODUÇÃO
III. DEFINIÇÕES
IV. ETIOPATOGENIA
V. EXAMES LABORATORIAIS
VI. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS
3. CASO CLÍNICO
J.N.C., sexo feminino, 6 meses de idade.
QP: fezes diarreicas há 4 dias.
HDA: Previamente hígida, é admitida no Pronto Atendimento com história de fezes diarreicas há 4 dias. Genitora
informa que no primeiro dia notou que as fezes ficaram amolecidas, e a frequência de evacuações aumentou um
pouco, mas a partir do segundo dia, a lactente apresentou-se chorosa e febril ao toque, e os episódios de diarreia
se acentuaram, totalizando 4 dejeções/dia volumosas, fétidas, explosivas, sem muco ou sangue. Desde ontem, sem
saber o que fazer, a mãe suspendeu a alimentação por achar que o leite de vaca estava fazendo mal e está dando,
no momento, apenas água de coco, quando a lactente aceita. Nega episódios de vômitos e outras queixas.
Antecedentes: Nega comorbidades. Cartão vacinal completo (visto pelo médico).
Recordatório alimentar: aleitamento materno exclusivo até 4 meses, quando iniciou fórmula maternizada, mas
não teve condições financeiras de continuar, e há 1 mês, substituiu pelo leite integral com amido de milho e papa
de frutas.
História psicossocial: reside em casa de alvenaria, com rede de esgoto e coleta de lixo diária. Bebe água fervida.
EF: REG, ansiosa, irritada, mucosas secas, olhos fundos, pele com turgor e elasticidade diminuídos, pulso periférico
filiforme, tempo de enchimento capilar 2 segundos, afebril, eupneica, acianótica.
T axilar: 37,5.
Demais segmentos não foram examinados devido a agitação da lactente.
Peso atual: 6,8Kg, peso anterior registrado na caderneta: 7,5Kg.
Diurese discretamente reduzida, com urina concentrada.
4. INTRODUÇÃO
○ Problema de saúde pública → diversidade socioeconômica e cultural da população
○ Morbimortalidade importante em crianças < 5 anos
○ Fatores de risco:
○ Desnutrição, água potável, falha nas medidas educacionais
○ Episódios repetidos podem ocasionar atraso no crescimento e desenvolvimento e
déficit nutricional
○ Circulo vicioso: diarreia → desnutrição → mais chance de diarreia e desnutrição
○ Prevenção:
○ Ampla cobertura vacinal (Rotavirus)
○ Medidas educativas
○ Saneamento básico
5. DEFINIÇÕES
○ OMS - Diarreia aguda = “mudança no hábito intestinal caracterizada pela ocorrência
de 3 ou mais evacuações menos consistentes ou líquidas” por dia, com duração
de até 14 dias.
○ Diarreia aguda prolongada: 7-14 dias
○ Diarreia persistente: > 14 dias
○ Diarreia crônica: > 30 dias
○ MS - Diarreia aguda = síndrome na qual ocorre 3 ou mais episódios diários de
evacuações com fezes diarreicas e que apresenta evolução autolimitada com
duração máxima de 14 dias.
○ Clínica:
○ Diarreia
○ Náuseas e vômitos
○ Febre
○ Dor abdominal
○ Disenteria
○ Desidratação
6. ETIOPATOGENIA
○ Causas infecciosas e não infecciosas
○ Prevalência de causas infecciosas e maior impacto na saúde de crianças < 5
anos
○ Não infecciosas:
○ Diarreia de fome
○ Infecciosas:
○ Virus → rotavírus, norovírus, adenovírus, astrovírus
○ Bacterias → E. coli, Campylobacter spp., Shigella spp, Salmonella spp,
Aeromonas, Plesiomonas, Clostridium difficille, Vibrio cholerae
○ Protozoários → Cryptosporidium parvum, Giardia intestinalis, Entamoeba
histolytica e Cyclospora cayetanensis
7. ETIOPATOGENIA
○ Rotavírus
○ Principal
○ Vacinação → diminuição de óbitos e taxa de hospitalização (52,5%)
○ Norovírus
○ Surtos epidêmicos gastroenterites virais
○ Transmissão por água ou alimentos
○ 30% assintomático
○ Adenovírus
○ Alguns sorotipos podem desencadear diarreia aguda
○ Astrovírus
○ Menos prevalentes, transmissão de pessoa para pessoa
○ SARS-CoV-2
○ Infecção e replicação nos enterócitos → danos epitélio intestinal → diarreia
○ Efeitos citopáticos → Disbiose intestinal e resposta imune aberrante →
aumento da permeabilidade intestinal → exacerbação dos sintomas
10. EXAMES LABORATORIAIS
○ Úteis em casos moderados e graves
○ Devem preferencialmente ser colhidos após o paciente receber volume de expansão
○ Surtos: vigilância epidemiológica
🩸
○ Leucograma : leucocitose com desvio à
esquerda
○ Ionograma (eletrólitos)
○ Gasometria
💩
○ Pesquisa de leucócitos, sangue, parasitos e
substâncias redutoras nas fezes
🔎
○ Diagnóstico de causas etiológicas:
Parasitológico de fezes, coprocultura e
pesquisa de vírus
15. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
PLANO C
SE NÃO HOUVER MELHORA DA DESIDRATAÇÃO → AUMENTAR A VELOCIDADE DE
INFUSÃO
● Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da
reidratação venosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a
reidratação endovenosa.
● Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente
puder ingerir SRO em quantidade suficiente para se manter hidratado.
● Observar o paciente por pelo menos seis horas.
16. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
IDENTIFICAR DISENTERIA E/OU OUTRAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS À DIARREIA:
1- TEM SANGUE NAS FEZES?
Em caso positivo e com comprometimento do estado geral:
● Reidratar o paciente de acordo com os planos A, B ou C.
● Iniciar antibioticoterapia.
Tratamento:
● Ciprofloxacino 15mg/kg 12/12h,VO,por 3 dias.
● Alternativa: Ceftriaxona 50 a100mg/kg,IM ,1x/dia ,por 2 a 5 dias
● Se tratamento domiciliar: Orientar o acompanhante para administrar líquidos e manter a
alimentação habitual
● Reavaliar o paciente após dois dias.
● Se mantiver presença de sangue nas fezes após 48 horas do início do tratamento,
encaminhar para internação hospitalar.
Observação: crianças com quadro de desnutrição devem ter o primeiro atendimento em
qualquer Unidade de Saúde, devendo- se iniciar hidratação e antibioticoterapia de forma
imediata, até que chegue ao hospital.
17. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
IDENTIFICAR DISENTERIA E/OU OUTRAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS À DIARREIA:
2- QUANDO INICIOU A DIARREIA?
Se tiver mais de 14 dias de evolução:
A. Encaminhar o paciente para a unidade hospitalar se:
● < 6 meses
● sinais de desidratação → Neste caso, reidrate-o primeiro e em seguida encaminhe-o a
unidade hospitalar.
- Quando não houver condições de encaminhar para a unidade hospitalar, orientar o
responsável/acompanhante para administrar líquidos e manter a alimentação habitual no
domicílio.
B. Se o paciente não estiver com sinais de desidratação e nem for menor de seis meses,
encaminhar para consulta médica para investigação e tratamento.
18. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
IDENTIFICAR DISENTERIA E/OU OUTRAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS À DIARREIA:
3- TEM DESNUTRIÇÃO GRAVE?
● Em caso de desidratação, iniciar a reidratação e encaminhar o paciente para o serviço de
saúde.
● Entregar ao paciente ou responsável envelopes de SRO em quantidade suficiente e
recomendar que continue a hidratação até que chegue ao serviço de saúde.
4- VERIFICAR A TEMPERATURA
● Se o paciente estiver com a temperatura de 39ºC ou mais: investigar e tratar outras possíveis
causas, por exemplo, pneumonia, otite, amigdalite, faringite, infecção urinária
19. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
USO DE MEDICAMENTOS EM PACIENTES COM DIARREIA
1. Antibióticos: somente para casos de diarreia com sangue (disenteria) e comprometimento
do estado geral ou em casos de cólera grave.
2. Antiparasitários:
● Amebíase: quando o tratamento de disenteria por Shigella sp fracassar, ou em casos em
que se identificam nas fezes trofozoítos de Entamoeba histolytica englobando hemácias.
● Giardíase: quando a diarreia durar 14 dias ou mais, se identificarem cistos ou trofozoítos nas
fezes ou no aspirado intestinal.
3. Zinco:1x/dia, durante 10 a 14 dias:
● Até seis meses deidade: 10mg/dia.
● Maiores de seis meses de idade: 20mg/dia.
ANTIDIARREICOS E ANTIEMÉTICOS NÃO DEVEM SER USADOS
20. REFERÊNCIAS
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento Científico de Pediatria.
Diarreia Aguda Infecciosa: Guia prático de atualização. 2023. Disponível em:
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/sbp/2023/junho/14/24048aPRESS-GP
A-Diarreia_Aguda_Infecciosa-pSITE.pdf. Acessado em Março 2024.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.
Departamento de Doenças Transmissíveis. Manejo do paciente com diarreia.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2023.