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Os biólogos, cientistas, cientificistas - enfim, qualquer
estudioso do corpo humano - não cansam de afirmar e reafirmar
a perfeição do corpo humano. A mais completa máquina já
criada. O complexo sistema de células, órgãos, substâncias que
sintetizam a perfeição. Pois tratemos de discordar. O corpo
necessita de combustíveis. Se precisamos de água, temos sede.
De comida, temos fome. Nunca paramos de respirar. Por que nos
falta uma necessidade de ler? Alias, não há sequer um nome pra
isso. Simplesmente “a necessidade de ler”. Algo como a
manutenção da intelectualidade, ou da saúde do cérebro. Ler.
Ler como quem mata a sede. Como quem avança sobre um prato
de comida. Um copo de água bem gelada e uma Clarice. Uma
lasanha e um Machado. Para todos os dias, arroz, feijão e Allan
Poe.
A falta de leitura deveria ser retratada em
fotografia premiada pela National Geographic.
Concorrentes do “Foto do ano de 2004”: O menino
faminto da Etiópia, a baleia encalhada da Antártida e o
Sem-livro do Brasil. Deveria estar estampado na cara
do sujeito: “Sou subletrado”.
Não se justifica com a situação do nosso país.
Não se trata aqui da falta de incentivo e de educação,
já notória e discutida. Mas de atitude.
Os jovens - ah, sempre os jovens – não conseguem,
ou não querem, enxergar o benefício da leitura. Qualquer
leitura. E os jovens crescem, ou já cresceram, subletrados.
Daí a pergunta: E se houvesse uma necessidade física?
Penso que ainda há o que mudar na estrutura humana. Que
tal essa dica? Hein! Na falta de uma terminologia melhor,
fica a “fome de leitura”, ou a FOMURA. O menino grita:
“Manhêêê, to com uma fomura danada”. E ela vem
correndo com a Ruth Rocha que é pro menino parar de
reclamar. O pai, no meio da noite, acorda com o choro do
bebê. Dá a mamadeira, troca a fralda e lê o Ziraldo
enquanto o neném não consegue sozinho. O casal de
namorados vai sair a noite. Jantar, choppinho ou leitura? O
rapaz mais afoito sugeriria um João Ubaldo.. O divorciado
um Nabokov. O mais esperto um Vinícius (sim, elas ainda
adoram). E a combinação vinho, massa e Drummond?
Irresistível.
O sonho enfim se concretizaria com o obeso-literato.
Aquele que, de madrugada, assalta a estante. Acha que não faz
mal um Parnasianismozinho durante as refeições. Vai ao médico,
o letricionista, que lhe passa uma dieta a base de romance. Nada
muito pesado. Depois das 20 horas, só Sidney Sheldon. Mas cai
em tentação e é flagrado com “Crime e Castigo” nas mãos. A
família se preocupa. Tornou-se um livrólatra. Só o L.A. poderá
salvá-lo. Nas reuniões com o grupo de viciados em literatura, ele
conta sua saga: “Bem, comecei aos 10 anos. Como todo mundo.
Fadas, chapéus, narizes que cresciam. Depois eu parti pros livros
menores. Mas quando você menos espera, já está devorando um
Jorge Amado numa sentada só”. Um “ooh” ecoa na sala. Senhoras
comentam entre si. “Tão novinho e tão letrado né!”
Bibliotecas lotadas.. Um silêncio ensurdecedor. Filas enormes
para entrar. É muita gente morrendo de fomura. Consegue uma
mesa, pede o menu.
- Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino
pode ser um Lobato, que ele adora!!
- Senhor! Nossas Cecílias acabaram.
- O quê? E o que você sugere?
- Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões
- É que os portugueses são caros, né! E meu
médico me proibiu Camões durante a semana.
- Algum Andrade?
- Não sei. Não sei.. To indeciso ainda.
Depois de alguns minutos pensando e testando
a paciência do rapaz que lhe servia...
- Ah, vou de Paulo Coelho mesmo que é só pra
matar a fomura.
- Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino
pode ser um Lobato, que ele adora!!
- Senhor! Nossas Cecílias acabaram.
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Fomura, sede e fome de ler

  • 1. Os biólogos, cientistas, cientificistas - enfim, qualquer estudioso do corpo humano - não cansam de afirmar e reafirmar a perfeição do corpo humano. A mais completa máquina já criada. O complexo sistema de células, órgãos, substâncias que sintetizam a perfeição. Pois tratemos de discordar. O corpo necessita de combustíveis. Se precisamos de água, temos sede. De comida, temos fome. Nunca paramos de respirar. Por que nos falta uma necessidade de ler? Alias, não há sequer um nome pra isso. Simplesmente “a necessidade de ler”. Algo como a manutenção da intelectualidade, ou da saúde do cérebro. Ler. Ler como quem mata a sede. Como quem avança sobre um prato de comida. Um copo de água bem gelada e uma Clarice. Uma lasanha e um Machado. Para todos os dias, arroz, feijão e Allan Poe.
  • 2. A falta de leitura deveria ser retratada em fotografia premiada pela National Geographic. Concorrentes do “Foto do ano de 2004”: O menino faminto da Etiópia, a baleia encalhada da Antártida e o Sem-livro do Brasil. Deveria estar estampado na cara do sujeito: “Sou subletrado”. Não se justifica com a situação do nosso país. Não se trata aqui da falta de incentivo e de educação, já notória e discutida. Mas de atitude.
  • 3. Os jovens - ah, sempre os jovens – não conseguem, ou não querem, enxergar o benefício da leitura. Qualquer leitura. E os jovens crescem, ou já cresceram, subletrados. Daí a pergunta: E se houvesse uma necessidade física? Penso que ainda há o que mudar na estrutura humana. Que tal essa dica? Hein! Na falta de uma terminologia melhor, fica a “fome de leitura”, ou a FOMURA. O menino grita: “Manhêêê, to com uma fomura danada”. E ela vem correndo com a Ruth Rocha que é pro menino parar de reclamar. O pai, no meio da noite, acorda com o choro do bebê. Dá a mamadeira, troca a fralda e lê o Ziraldo enquanto o neném não consegue sozinho. O casal de namorados vai sair a noite. Jantar, choppinho ou leitura? O rapaz mais afoito sugeriria um João Ubaldo.. O divorciado um Nabokov. O mais esperto um Vinícius (sim, elas ainda adoram). E a combinação vinho, massa e Drummond? Irresistível.
  • 4. O sonho enfim se concretizaria com o obeso-literato. Aquele que, de madrugada, assalta a estante. Acha que não faz mal um Parnasianismozinho durante as refeições. Vai ao médico, o letricionista, que lhe passa uma dieta a base de romance. Nada muito pesado. Depois das 20 horas, só Sidney Sheldon. Mas cai em tentação e é flagrado com “Crime e Castigo” nas mãos. A família se preocupa. Tornou-se um livrólatra. Só o L.A. poderá salvá-lo. Nas reuniões com o grupo de viciados em literatura, ele conta sua saga: “Bem, comecei aos 10 anos. Como todo mundo. Fadas, chapéus, narizes que cresciam. Depois eu parti pros livros menores. Mas quando você menos espera, já está devorando um Jorge Amado numa sentada só”. Um “ooh” ecoa na sala. Senhoras comentam entre si. “Tão novinho e tão letrado né!” Bibliotecas lotadas.. Um silêncio ensurdecedor. Filas enormes para entrar. É muita gente morrendo de fomura. Consegue uma mesa, pede o menu.
  • 5. - Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino pode ser um Lobato, que ele adora!! - Senhor! Nossas Cecílias acabaram. - O quê? E o que você sugere? - Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões - É que os portugueses são caros, né! E meu médico me proibiu Camões durante a semana. - Algum Andrade? - Não sei. Não sei.. To indeciso ainda. Depois de alguns minutos pensando e testando a paciência do rapaz que lhe servia... - Ah, vou de Paulo Coelho mesmo que é só pra matar a fomura.
  • 6. - Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino pode ser um Lobato, que ele adora!! - Senhor! Nossas Cecílias acabaram. - O quê? E o que você sugere? - Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões - É que os portugueses são caros, né! E meu médico me proibiu Camões durante a semana. - Algum Andrade? - Não sei. Não sei.. To indeciso ainda. Depois de alguns minutos pensando e testando a paciência do rapaz que lhe servia... - Ah, vou de Paulo Coelho mesmo que é só pra matar a fomura.