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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                                 5
              (Corresponde ao terceiro tópico do Capítulo 1,
                intitulado No “lado de dentro” do abismo)




                       É o social, estúpido!

As redes sociais não surgiram com as novas tecnologias de informação e
comunicação

Quando Marshall McLuhan afirmou, em uma palestra proferida em 1974,
que “é o ambiente que muda as pessoas, não a tecnologia” ainda não
haviam surgido constructs – como o de capital social como rede social –
capazes de justificar adequadamente tal afirmação (12). Como se sabe, a
idéia de que capital social nada mais é do que rede social, ainda que tenha
sido formulada em 1961, por Jane Jacobs, ficou praticamente desconhecida
por mais de duas décadas (13). Os esforços pioneiros de Coleman (1988)
(14) não resgataram essa descoberta surpreendente, segundo a qual a
influência do ambiente depende de padrões conformados pela interação (e a
própria natureza do que chamamos de ambiente nada mais é do que a de
um “campo”, em um sentido deslizado daquele em que a palavra é
empregada em física: como campo de forças).

Mas a hipótese de McLuhan revelou-se correta e pode ser justificada desse
ponto de vista (e talvez só assim possa ser justificada). O ambiente muda
as pessoas porque o comportamento individual é sempre função, em
alguma medida, das relações entre as pessoas. E, além disso, porque as
próprias pessoas se constituem, como tais, na interação (um indivíduo
isolado da espécie humana, se pudesse subsistir, não poderia ser uma
pessoa).

Conquanto ainda esteja bastante difundida a idéia de que redes são um
novo tipo de organização surgida com as novas tecnologias de informação e
comunicação (TICs), tal idéia vem se revelando inconsistente, sobretudo
porque deixa de ver o fundamental: redes são um padrão de organização
que pode ser ensaiado com diferentes mídias e tecnologias (até com sinais
de fumaça, tambores, conversações presenciais, cartas escritas à mão em
papel e transportadas à cavalo et coetera).

Ou seja, é o social que determina comportamentos, não o tecnológico.
Pode-se usar tecnologias interativas de um modo que não altere em nada
ou quase nada os padrões de interação. Por exemplo, computadores
conectados à internet na maioria das escolas não viabilizam, por si só,
mudanças no padrão de interação entre os alunos, que continuam
organizados como rebanho, cada qual com sua supermáquina conectada,
mas todos virados para um professor que centraliza a rede.

Na formulação, a várias mãos, da Declaração de Independência dos Estados
Unidos (1776), a tecnologia utilizada (midia) foi a carta escrita em papel, o
cavaleiro (carteiro) e o cavalo, mas o padrão de interação foi, ao que tudo
indica, o de rede distribuída. Hoje, mais de dois séculos depois, o processo
de elaboração de uma diretiva estratégica no Pentágono, a despeito de usar
sofisticados meios de comunicação interativos, revela um padrão de
interação centralizado.

Ao contrário do que parece, as redes sociais não surgiram com as novas
tecnologias de informação e comunicação. Ainda que tecnologias mais
interativas em tempo real (ou sem-distância) possam facilitar a adoção de
padrões mais distribuídos do que centralizados de organização – e possam,
além disso, acelerar a interação – é o modo como as pessoas interagem
(social) e não o recurso (tecnológico) que determina o comportamento



                                     2
coletivo. A fenomenologia é sempre função da topologia, seja qual for a
tecnologia empregada.

Acelerando a interação, entretanto, alguns fenômenos que só seriam
perceptíveis em linhas temporais muito longas, podem ser captados mais
rapidamente. É o caso do swarming de pessoas: enxameamentos cívicos
levando a grandes manifestações de massa podem ser observados, caso
haja possibilidade de conexão em tempo real (por telefone móvel ou e-mail,
por exemplo), em horas ou até minutos (15). Sem tais recursos
tecnológicos, esses fenômenos (ou seus similares ou correspondentes)
poderiam levar dias ou até anos para se engendrar. Mas isso não significa
que eles ocorrem por causa da tecnologia. Se as pessoas não puderem
interagir uma-a-uma (P2P), se não estiverem conectadas segundo um
padrão distribuído, de pouco adiantarão as mais avançadas tecnologias
interativas. O mesmo vale para outros fenômenos típicos das redes: eles
dependem do padrão de interação (dos graus de distribuição e
conectividade) e não das tecnologias (dos recursos, dos dispositivos, das
mídias).




                                    3
Notas

(12) McLuhan em uma palestra pública – intitulada “Viver à velocidade da luz” – em
25 de fevereiro de 1974, na Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, explicando
o que entendia por seu famoso aforismo “o meio é a mensagem”: “Significa um
ambiente de serviços criado por uma inovação, e o ambiente de serviços é o que
muda as pessoas. É o ambiente que muda as pessoas, e não a tecnologia. (Mc
Luhan por McLuhan, de David Staines e Stephanie McLuhan (2003). São Paulo:
Ediouro, 2005. Título original: Understanding me: lectures and interviews.
<http://trick.ly/4ra>

(13) JACOBS, Jane (1961). Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.

(14) COLEMAN, James (1988). “Social Capital in the creation of Human Capital”,
American Journal of Sociology, Supplement 94, 1998.

(15) Vf. Swarming civil espanhol in UGARTE, David (2004). 11M: Redes para ganar
una guerra. Barcelona: Icaria, 2006.




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  • 2. influência do ambiente depende de padrões conformados pela interação (e a própria natureza do que chamamos de ambiente nada mais é do que a de um “campo”, em um sentido deslizado daquele em que a palavra é empregada em física: como campo de forças). Mas a hipótese de McLuhan revelou-se correta e pode ser justificada desse ponto de vista (e talvez só assim possa ser justificada). O ambiente muda as pessoas porque o comportamento individual é sempre função, em alguma medida, das relações entre as pessoas. E, além disso, porque as próprias pessoas se constituem, como tais, na interação (um indivíduo isolado da espécie humana, se pudesse subsistir, não poderia ser uma pessoa). Conquanto ainda esteja bastante difundida a idéia de que redes são um novo tipo de organização surgida com as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), tal idéia vem se revelando inconsistente, sobretudo porque deixa de ver o fundamental: redes são um padrão de organização que pode ser ensaiado com diferentes mídias e tecnologias (até com sinais de fumaça, tambores, conversações presenciais, cartas escritas à mão em papel e transportadas à cavalo et coetera). Ou seja, é o social que determina comportamentos, não o tecnológico. Pode-se usar tecnologias interativas de um modo que não altere em nada ou quase nada os padrões de interação. Por exemplo, computadores conectados à internet na maioria das escolas não viabilizam, por si só, mudanças no padrão de interação entre os alunos, que continuam organizados como rebanho, cada qual com sua supermáquina conectada, mas todos virados para um professor que centraliza a rede. Na formulação, a várias mãos, da Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), a tecnologia utilizada (midia) foi a carta escrita em papel, o cavaleiro (carteiro) e o cavalo, mas o padrão de interação foi, ao que tudo indica, o de rede distribuída. Hoje, mais de dois séculos depois, o processo de elaboração de uma diretiva estratégica no Pentágono, a despeito de usar sofisticados meios de comunicação interativos, revela um padrão de interação centralizado. Ao contrário do que parece, as redes sociais não surgiram com as novas tecnologias de informação e comunicação. Ainda que tecnologias mais interativas em tempo real (ou sem-distância) possam facilitar a adoção de padrões mais distribuídos do que centralizados de organização – e possam, além disso, acelerar a interação – é o modo como as pessoas interagem (social) e não o recurso (tecnológico) que determina o comportamento 2
  • 3. coletivo. A fenomenologia é sempre função da topologia, seja qual for a tecnologia empregada. Acelerando a interação, entretanto, alguns fenômenos que só seriam perceptíveis em linhas temporais muito longas, podem ser captados mais rapidamente. É o caso do swarming de pessoas: enxameamentos cívicos levando a grandes manifestações de massa podem ser observados, caso haja possibilidade de conexão em tempo real (por telefone móvel ou e-mail, por exemplo), em horas ou até minutos (15). Sem tais recursos tecnológicos, esses fenômenos (ou seus similares ou correspondentes) poderiam levar dias ou até anos para se engendrar. Mas isso não significa que eles ocorrem por causa da tecnologia. Se as pessoas não puderem interagir uma-a-uma (P2P), se não estiverem conectadas segundo um padrão distribuído, de pouco adiantarão as mais avançadas tecnologias interativas. O mesmo vale para outros fenômenos típicos das redes: eles dependem do padrão de interação (dos graus de distribuição e conectividade) e não das tecnologias (dos recursos, dos dispositivos, das mídias). 3
  • 4. Notas (12) McLuhan em uma palestra pública – intitulada “Viver à velocidade da luz” – em 25 de fevereiro de 1974, na Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, explicando o que entendia por seu famoso aforismo “o meio é a mensagem”: “Significa um ambiente de serviços criado por uma inovação, e o ambiente de serviços é o que muda as pessoas. É o ambiente que muda as pessoas, e não a tecnologia. (Mc Luhan por McLuhan, de David Staines e Stephanie McLuhan (2003). São Paulo: Ediouro, 2005. Título original: Understanding me: lectures and interviews. <http://trick.ly/4ra> (13) JACOBS, Jane (1961). Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (14) COLEMAN, James (1988). “Social Capital in the creation of Human Capital”, American Journal of Sociology, Supplement 94, 1998. (15) Vf. Swarming civil espanhol in UGARTE, David (2004). 11M: Redes para ganar una guerra. Barcelona: Icaria, 2006. 4