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ENTREVISTA SR. ANTÔNIO SARTORI
Polibio – Neste programa Cenários de hoje vamos conversar sobre safras agrícolas: preços, as supersafras
aqui do RS, a safra brasileira, também vamos conversar muito sobre alimentos, os preços das comodities na
bolsa de Chicago, os preços que estão sendo pagos aqui, as oportunidades inclusive de negócios. Para
conversar sobre isso nós convidamos o Sr. Antonio Sartori que é diretor da BrasojaAgro que é a maior
corretora de comodities aqui do RS, uma das maiores do Brasil... Vamos começar, o RS é o 4° na produção
de grãos do país?
Sartori – Terceiro.
Polibio – Primeiro o Mato Grosso, Paraná e depois o RS.
Sartori – Exatamente. O RS já está colhendo mais que o Paraná, nós devemos colher este ano uma safra de
29 milhões de toneladas.
Polibio – Estamos falando em grãos aqui. Basicamente soja, arroz, trigo e milho. Este ano vamos colher
mais do que Paraná?
Sartori – este ano vamos colher mais do que o Paraná. Dependendo da safra de trigo que está sendo bem
plantada no momento.
Polibio – Que é a única do inverno. As outras 3 já foram todas colhidas. Quando eu falo em hipersafras eu
to dizendo o que? 29 milhões é uma das maiores safras do RS?
Sartori – O RS tinha colhido em 2011 uma safra de soja um pouco mais do que 12 milhões de toneladas,
este ano está colhendo ao redor de 13 milhões de toneladas de soja, milho 5.3, arroz 8 e de trigo estão
plantando uma área, com boas condições de clima, quem sabe colher 2.5 milhões de toneladas. Isso pode
chegar a 29 milhões de toneladas, tão grande quanto foi a safra de 2011.
Polibio - Que foi a maior da história?
Sartori – Que foi a maior da história. Acho que vai juntar, cabeça, cabeça, com a safra de grãos de 2011.
Polibio – E os preços estão parecidos com 2011? Às vezes a gente pode ter uma baita duma safra, mas os
preços não estão legais, então o Estado ou país não fatura tanto assim né?
Sartori – Mas esse ano a receita é maior porque o percentual comercializado, quando nós viramos o ano nós
tínhamos, por exemplo de soja, 4 milhões de soja comercializada a preços ao redor de R$ 65,00 nos portos,
bem melhor do que o ano passado e o que está sendo comercializado agora são níveis acima desse. Então, a
receita do produtor esse ano é maior do que foi o ano passado e o ano retrasado. Até porque se você pegar,
nós estamos colhendo esse ano 13 milhões e o ano passado 7, a diferença é 6 milhões, a preços de $ 650
dólares por tonelada, isso vai significar mais 7 bilhões de reais em receita para agregar no PIB do ano
passado. Portanto, se o PIB gaúcho 2013, visa vir 2012, tiver um crescimento zero, só pela produção de
milho e soja vai ter um crescimento de 2,5%. Como o Brasil não vai ter um crescimento tão grande quanto
teve o RS, nós devemos crescer, a economia gaúcha este ano deve crescer no mínimo 2,5% mais do que o
PIB brasileiro. Em função do aumento da produção, não levando em consideração os preços que é uma
absoluta incógnita, uma louca volatividade. Hoje nós temos preços valorizados, historicamente altos, mas
tem um cenário que é absoluta incerteza que é o clima no Hemisfério Norte do planeta. Por que é importante
o clima do Hemisfério Norte do planeta? 85% da produção mundial de grãos é acima de linha do Equador,
chega a ser folclore quando alguém diz que o Brasil é o celeiro do mundo. Olha, o Brasil colhendo este ano
184 milhões de toneladas e o resto do mundo colhe 2 bilhões 850 milhões. O Brasil não colhe 6%.
Polibio – Mas é bom.
Sartori – Tudo bem, é bom, mas não é o suficiente para ser considerado o Brasil o celeiro do mundo.
Stormer – Seria a entrada do celeiro talvez.
Sartori – mas tem ainda potencial porque nós temos fronteira agrícola, não quanto tem a África, mas
principalmente nós temos o potencial de aumento via produtividade. Enquanto os americanos colhem 175
sacos por hectar, a Argentina 120, o Brasil é 65.
Polibio – De quê?
Sartori – De milho. Esse ... de tecnologia vai, num curto espaço de tempo, desaparecer e nós vamos chegar
a uma produtividade tão grande quanto os americanos. Com biotecnologia, com irrigação e agricultura de
precisão.
Stormer – Esse é o ponto que eu queria te perguntar Sr. Sartori. Na sua visão, essa supersafra é resultado de
que: é resultado de um clima favorável, foi responsável a uma maior exposição solar, se foi estado de
produtividade a partir de tecnologia; o que gerou essa supersafra desse ano?
Sartori – A consequência é o melhor adubo que existe para o produtor que é o preço. Preços historicamente
altos. Nós temos hoje preços de comodities agrícolas o dobro do que nós tínhamos a dez anos atrás. É fácil
acessar o site da FAU, temos hoje preços dos alimentos no mundo 110% acima do que tínhamos em 2003.
Portanto o preço dos alimentos no mundo estão subindo. Por isso as convenções sociais no início de 2011 no
norte da África. Por quê? Porque atingiram o estômago. De quem? Não daquele 1 bilhão de pessoas que são
os miseráveis que ganham até 1 dólar por dia no critério do Banco Mundial, mas a linha da pobreza, que são
aqueles que ganham até 2 dólares por dia e que há 10 anos atrás conseguiam sobreviver. Como eles
continuam ganhando 2 dólares por dia e o preço dos alimentos dobraram, eles têm a metade do poder
aquisitivo para consumir alimentos, estão comendo metade do que consumiam e isso bateu no estômago e
começou as convulsões sociais no norte da África em 2011.
Leandro – Será que o preço dos alimentos, sempre 10% em relação ao valor anterior, não tem alguma coisa
a ver com essa política de inundar o mercado de dólares?
Sartori - Sem dúvida que preço dolarizado é mais alto pela perda de poder da moeda americana em relação
a outras moedas.
Leandro – Porque a gente consegue imprimir dólar, mas não consegue imprimir milha.
Sartori – Sem dúvida nenhuma, mas acho que o principal valor é o que nós estamos acompanhando: se você
pegar da virada do milênio pra cá, nós tínhamos a produção mundial de cereais em 1 bilhão e 850 milhões
de toneladas, hoje estamos em 2 bilhões e 250 milhões de toneladas, é um crescimento de 22 ou 24%, ao
passo que o Brasil colhia 100 milhões hoje colhe 184 milhões, é um crescimento de 84%. Em nenhum país
do mundo cresceu tanto a produção quanto no planeta Brasil, só que a velocidade do aumento do consumo é
maior do que a velocidade do aumento da produção, com isso os estoques estão caindo e os preços estão
subindo.
Polibio – Esta bela supersafra nós temos que agradecer aos agricultores, ao governo do estado, a São Pedro?
Eu me lembro que, quando comecei no jornalismo aqui no RS na antiga Folha da Manhã, eu tinha um colega
que fazia a coluna de economia e ele tinha uma planilha na parede, era mais uma agenda. Ele colocava ali
dia 2 de novembro, por exemplo, inicia o plantio de soja nas Missões, dia 5 começa a chover, dia 7
anunciadas grandes perdas, e assim ia pelo ano inteiro já com todas as datas de todos os fatos que iam
acontecendo. Mas o que eu ouvia no decorrer desses 40 anos, que é uma coisa recorrente, todas às vezes que
a safra gaúcha de grãos ia bem era porque tinha chovido bem. Todas as vezes que ia mal, ou não tinha
chovido ou tinha chovido demais. Isso acontecia assim, pelos meus cálculos, duas ou três vezes a cada 10
anos. Está correto isso?
Sartori – Eu acho que em relação ao passado sim, mas hoje mudou e eu vou te provar porque. Se você
pegar nos EUA o ano passado, tiveram a maior seca dos últimos 50 anos no centro-oeste americano. A
estimativa da safra de soja era de 87 milhões, colheram 82, por quê? Estrutura de solo, tecnologia,
biotecnologia, um trabalho agronômico de tal maneira que realmente não tem uma dependência tão direta
como já teve no passado, porque o solo é pobre.
Polibio – Mas isso vale para o Brasil também?
Sartori – Está mudando. Está mudando, mas nós ainda não estamos no ponto que está o centro-oeste
americano. Se você pegar ali a região da Cotrijal, onde tem a Expodireto a agricultura de precisão ali é um
polo de referência, um trabalho fantástico que faz a Estara de Não-me-Toque e lá estão colhendo, sem
irrigação, 75, 80 sacos de soja por hectare, num clima normal. 220, 250 sacos de milho por hectare por que é
solo estruturado, agricultura de precisão. No RS nós temos uma dependência dos riscos climatológicos.
Como você falou de São Pedro, quando uma vez o tema clima dependia de São Pedro uma boa missa, uma
reza forte resolvia. Hoje quem cuida do clima é o tal de El Niño e La Niña, botou a mão nessas crianças e
virou uma bagunça. Hoje você tem uma louca volatibilidade e uma brutal imprevisibilidade. Nós
comentávamos a pouco dos riscos climatológicos e da previsibilidade ou não da climatologia, o meu
entendimento é de que o Protocolo de Quioto não foi assinado nem pelos EUA e nem pelo Japão porque a
matriz energética do mundo de hoje, mais de 80% é petróleo, gás e carvão e não tem como mudar essa
matriz. Não tem como mudar. Portanto, daqui pra frente o mundo vai tentar procurar soluções de novas
tecnologias para a rede de energias: energia solar, de ventos, da água só o Brasil tem, ao redor do mundo não
tem mais como e bioenergia que é nova e que é um dos fatores que alavancou os preços valorizados dos
produtos agrícolas e dos alimentos no mundo.
Polibio – Eu queria voltar a essa questão dos preços ainda. Você opera com comodities, é uma corretora,
uma das maiores do país e está operando todos os dias, inclusive com a bolsa de Chicago. Nesse momento,
qual é o papel que você acha que joga, na formação dos preços, os especuladores e qual é o papel que joga
esse agricultor que está se esforçando para trabalhar, está esperando por um bom preço e está jogando?
Leandro – Inclusive eu aproveito para colocar uma possibilidade que ainda não é tão comum no Brasil,
apesar de estar crescendo bastante, muito agricultor, muito granjocultor não sabe que pode usar no mercado
financeiro um instrumento para se proteger contra as oscilações. Aproveito para pedir mais informações de
como isso acontece.
Sartori – Vamos pegar o exemplo da bolsa de Chicago. A produção mundial de soja, no último ano
2012/2013, foi ao redor de 260 milhões de toneladas. O comércio mundial ao redor de 100 milhões de
toneladas. Na bolsa de Chicago, nesse mesmo período, o mesmo volume chegou a 8 bilhões de toneladas,
significa dizer que especulação, mercado de papel, é 98,6%, de proteção, mercadoria, comercialização não
chega a 1,5%. É absolutamente fundamental a presença do especulador.
Polibio – Eu queria recapitular esse número porque ele é impressionante. A produção mundial é de 260
milhões e a bolsa de Chicago negocia 8 bilhões. De toneladas?
Sartori – Só em soja, de toneladas.
Polibio – Se tiver que entregar tudo isso ai, não tem né?
Sartori – Não tem. O volume diário da bolsa de Chicago em todas as mercadorias, de comodities, é 94
milhões de toneladas por dia. Então, a figura do especulador é absolutamente necessária para dar liquidez.
Por que não funciona a BNF no Brasil das maneira que gostaríamos que funcionasse para os produtos.
Funciona pro boi, funciona pro café, funciona pro milho, não funciona pra soja. Por que não funciona?
Porque não tem a figura do especulador. O especulador é uma figura absolutamente necessária.
Polibio – Aquilo que dizia o Leandro, como o produtor pode tirar proveito disso e não ficar só esperando
pelo preço e pronto?
Sartori – O segredo do mundo dos negócios hoje não é informação. A informação hoje é disponível na
Internet, existe um oceano de informações. O segredo é analisar os fatos, projetar tendências, definir
estratégias e implementar, tomar decisões. Para ter essa sequência de atitudes o produtor precisa selecionar
fontes confiáveis de informação. Tu tens um excesso de informação e tens muitas pessoas com espaço na
mídia, no nosso segmento, que são irresponsáveis, inconsequentes, sensacionalistas e que procuram fazer
apenas agradar o produtos. Olha, o produtor tem que receber boas informações. A informação só é boa se
gera valor e a informação tem que ser responsável e consequente. Esse é o grande problema porque nós
temos um excesso de informações. Eu tenho na minha mesa 6 monitores, eu tenho uma mesa de 3m e 50cm.
Eu tenho muitas informações. O problema não é informação, é analisar as informações e definir. Te dou um
exemplo: ano passado, o preço, nós temos um trabalho na Brasoja que é o preço médio comercializado na
Brasoja semana a semana, a média mais baixa do ano passado foi a segunda semana de fevereiro R$ 47,00; a
semana mais alta foi a terceira de setembro R$ 85. Divide 85 por 47, dá 80%. Teve produtor que vendeu 85
e teve produtor que vendeu a 47, por que isso? O mesmo país, o mesmo clima, a mesma moeda, a mesma
bolsa de Chicago, a mesma biotecnologia. Gestão! Gestão da informação.
Polibio – mas o pessoal está ficando mais esperto.
Sartori – Está mudando muito, a velocidade da mudança é muito grande. Hoje não tem produtor
desinformado. O produtor é muito informado, sabe muito, sabe tudo e está melhorando muito. É que o
mercado está muito volátil. A volatividade é muito violenta, por quê? Por causa dos fundos. Qual é o
volume que tem os fundos no mundo, mais de 60 mil fundos no mundo, 26 trilhões de dólares? Qual é o
fluxo do comércio mundial, que foi o ano passado? 70 trilhões de dólares, divide por dias úteis, divide por
ordem bancária, dá 500 bilhões de dólares por hora. Esse é o fluxo financeiro especulativo no mundo. Então,
você tem movimentos de preços que não têm uma relação direta com produção, consumo e estoque.
Leandro – E ao mesmo tempo, para piorar a situação, se tem cada vez mais o robôs operando, sistemas
automáticos, que operam inclusive comodities e nós temos a velocidade da informação como nunca se teve.
Um fato como esse que aconteceu ontem no Brasil, de uma grande passeata era possível acompanhar em
tempo real de diversas fontes. Desde fontes tradicionais como a Globo até o celular de um sujeito que estava
lá, transmitindo ao vivo. Multiplica isso pelo número de pessoas, hoje cada pessoa tem um celular na mão e
pode escrever textos e pode dar informações. Eu vejo uma tendência de essa volatividade ser cada vez
maior.
Polibio – Ontem que ele está dizendo foi segunda-feira. Curiosamente o mercado, a bolsa, não entrou em
crise, subiu inclusive. Eu quero dizer que está bem madura essa, a nossa sociedade, o mercado de modo
geral está bastante maduro.
Leandro – A questão é que o mercado, o mercado se a gente falar em ações, ele caiu forte nos últimos dias.
Claro que é muita pretensão nossa querer dizer que o mercado já sabia, mas o fato é que o mercado, via de
regra, ele soma todas as informações que existem e produz o movimento um pouco antes.
Sartori – O mercado precisa se antecipar.
Polibio – Gostaria de voltar a questão dos alimentos no mundo, Já ouvi várias palestras do sartori, fazendo
previsões até bem catastróficas sobre o que pode acontecer, relacionando essa questão dos alimentos com a
revolta da Primavera Árabe. Não tem nada a ver com a primavera brasileira, soa mais países que tem
problema muito grave de renda.
Leandro – Vejo, por exemplo, a gente chegou a trabalhar com um sujeito Jim Rogers que ele defende um
investimento de longo prazo em comodities como uma reserva de valor já que ele acredita que esse
problema da dívida nos países mais avançados vai ser muito difícil de resolver e o caminho vai ser a
inflação. E o que não perde valor é comodities, petróleo, comida, soja, milho, enfim, porque isso as pessoas
precisam.
Sartori – Petróleo até pode não subir. Olha essa nova situação que tem nos EUA, uma situação política do
governo do Barack apostando no gás, com todas as consequências que vai ter o ..., realmente é danoso de
maneira extrema ao solo, lençol freático e diversidade, mas estão apostando e estão conseguindo com isso
energia mais barata, estão conseguindo voltar indústrias que estavam na China, voltarem aos EUA. Isso é
mudança, agora alimentos, decididamente, o mundo não vai parar de comer além do que eu não acredito,
não consigo vislumbrar num curto e médio prazo, uma mudança estratégica do governo americano, europeu,
ou brasileiro ou argentino na produção de biocombustível. Eu não acredito porque você tem uma
necessidade de aumento de produção de energia...
Polibio – Produzir energia com alimentos.
Sartori – Também. Não é a solução, mas é mais uma opção. Até porque dentro dos EUA eles usam 130
milhões de milho para produzir etanol, no processo de etanol subsidiado. É lob, marketing e pressão do
produtos, da entidade do produtor. Tudo bem, só que agora os americanos estão numa menor importação do
Oriente Médio. Porque os americanos tem menor importação do Oriente Médio? Por causa do petróleo e
agora, estão começando, até 2020 devem ser totalmente autossuficientes e vão diminuir muito as
importações porque estão apostando muito no gás que tem em abundância e que é mais barato.
Leandro – 20% do preço do gás que a gente paga da Bolívia por exemplo. Por isso estão se tornando cada
vez mais competitivos. Então você concorda com essa visão do Jim Rogers de que a comodities pode ser
uma reserva de valor, pode ser um investimento de longo prazo?
Sartori – Sim. Sem dúvida nenhum por dois principais motivos. Primeiro: não tem mais quase fronteiras
agrícolas no mundo, você vai aumentar a produção via produtividade com novas tecnologias, agricultura de
precisão, biotecnologia e irrigação. Isso vai acontecer, mas a velocidade da demanda está crescendo mais do
que a velocidade de produção. Não que vá crescer a população, não é apenas o crescer da população, que é
80 milhões por ano, o que vai acontecer é a mudança na estratificação social, do poder aquisitivo. Você tem
hoje 1 bilhão de pessoas no mundo que ganham um dólar por dia e você tem 2 bilhões e 500 milhões de
pessoas que ganham até 2 dólares por dia. Isso está mudando, dentro da China. Está mudando hábitos
alimentares, poder aquisitivo...
Polibio – tem gente que está comendo mais do que podia.
Sartori – Olha o que tem de gordos e obesos no mundo. Eles estão descobrindo que carne de frango é
melhor do que carne de cachorro.Para produzir carne de frango você precisa de soja porque o farelo e soja
significa 70% da produção mundial de proteínas vegetais.
Polibio – Sartori, eu tenho uma dúvida assim: e excedentes brasileiros de alimentos, de grãos digamos, você
produz 184 milhões de toneladas, quanto disso o brasileiro consome, quanto sobra pra ele exportar?
Sartori – Vamos pegar o milho do ano passado, nós tivemos uma safra de mais de 60 milhões de toneladas,
colocamos quase 30, 27 milhões de toneladas um recorde histórico no caso do milho. Com exceção do ano
passado porque quebrou a safra americana.
Polibio – Esse é o excedente mesmo tirando aquilo que o povo brasileiro precisa comer é o que sobrou.
Sartori – Mas isso foi uma exceção no caso do milho do ano passado. Não é normal. O normal é exportar
10 ou 12 milhões de toneladas. No caso da soja nós estamos colhendo uma base de 84 milhões de toneladas,
nós vamos exportar quase 40 milhões de grãos. Isso é um absurdo. Isso é uma falta de estratégia do governo
brasileiro. Por que está acontecendo isso? Em 1999, o governo chinês implementou um imposto de
importação de 13% sobre o óleo e o farelo, com isso é mais barato para o chinês importar soja do que óleo e
farelo. O grão. Daí o Brasil de maneira ridícula, silfana de ser o maior exportador de soja do mundo. Ora,
nós exportamos quase 40 milhões de toneladas de soja em grão e com isso nós temos 30, 40% do parque
industrial brasileiro com capacidade ociosa.
Polibio – Além de não exportar produto com valor agregado.
Sartori – Exatamente, mas o chinês estrategicamente colocou um imposto de importação, estão importando
o grão e dando mão de obra para os chineses.
Polibio – Nós poderíamos ter isso?
Sartori – É só decisão política do governo. Por que o chinês faz e o governo não faz um contraponto? Existe
maneiras de fazer e ai entra o governo brasileiro, entra o Itamaraty. A incompetência do Itamaraty, desde a
rodada do Gafti em 86 e depois a formatação da OMC, Organização Mundial do Comércio em 94, em
Marakex no Marrocos quando se definiu a OMC, o Brasil não sabe defender as regras de comércio mundial
de maneira mais vantajosa para o Brasil. No caso da carne, importação de trigo, o Itamaraty tem sido, no seu
histórico, muito incompetente no trato das regras de comércio agrícola mundial. O Brasil tem sido
primeiramente prejudicado com isso.
Polibio – No próximo bloco vamos falar sobre o cenário do Brasil e do RS, cenário em que nós já estamos,
acho que é um bom cenário.
Sartori – Sem dúvida que é positivo para quem for dramaticamente competitivo não apenas dentro da
porteira, mas também depois da porteira.
Polibio – O Leandro não gosta quando eu digo que o cenário está bombando.
Leandro – Eu acho que poderia estar muito melhor, mas enfim, vamos em frente.
Polibio – Aqui no RS, pelo menos, todo mundo está comemorando esse ano de 2013 porque a economia
gaúcha é totalmente dependente do que acontece no campo. Disse aqui várias vezes que 45% do nosso
produto interno bruto de alguma forma depende do que acontece no campo. É o chamado agrobusiness, é o
que as safras produzem, o que a agropecuária produz, mais o que é comercializado e mais o que
industrializado, tudo ligado a esse complexo agrobusiness. Olha, é quase metade. Então, quando a safra vai
mal o RS vai mal, no ano passado por exemplo. Se for bem como esse ano, tu fala que vamos crescer pelo
menos 2,5%, de diferença. Então, temos 2,5 nacional, mais 2,5 aqui, no mínimo 5. Vamos crescer esse ano a
uma que taxa não é chinesa, mas é quase chinesa.
Sartori – Eu vou me permitir fazer um comentário, não discordando de ti, concordando contigo da brutal
dependência que tem a economia gaúcha do agro, mas se nós pegarmos agricultura e pecuária não chega a
10%. No agregado antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira, ai sim pode chegar a 40, 45%.
Polibio – Como os ciclos que são agricultura, pecuária e florestamento é menos de 10% na valoração do
produto interno bruto. Mas quando soma tudo que está ligado a isso ai, dá 45%.
Sartori – exatamente. E olha tudo o que está acontecendo esse ano, as perspectivas são positivas. Nós temos
um fantástico evento no RS, que orgulha o Rio Grande que é a Expodireto, organizada pela Cotrijal. O
faturamento ano passado foi 1,2 bilhões de reais, esse ano foi o dobro, simplesmente dobrou, 2,2 2,3 bilhões
de reais, isso porque tem perspectivas.
Polibio – Está chegando à Expointer.
Sartori – Só que a Expointer é uma festa de trago depois das 6h. A Expodireto não. Das 8 às 18 é negócios,
não tem festa, não tem trago, não tem churrasco. A Expoointer é uma festa de povo, é uma festa alegre, mas
não é uma festa de negócios tão importante como é a Expodireto, sem dúvida nenhuma. A Expointer perdeu
espaço para a Expodireto. A Expodireto hoje é referência de competência no agro gaúcho. Olha o
faturamento que teve, olha o que está acontecendo naquela mesma região: a Star. A Star é uma potência que
está dedicada, focada, é uma indústria de máquinas e implementos agrícolas, eminentemente gaúcha com
foco em agricultura de precisão que está colocando agora uma fábrica de tratores, comprou uma fábrica na
região de Horizontina. Está crescendo por quê? Pelas perspectivas. Qual é a perspectiva? Não é tanto
fronteira agrícola, a maior perspectiva é aumento de produção via produtividade. Com as novas tecnologias,
biotecnologia, agricultura de precisão e irrigação nós, sem dúvida, vamos crescer muito a produção de grãos,
e espero que também de agregado, de frango, de suíno, e nós precisamos aumentar a produção de milho para
que não saia a indústria de frango e de suíno do RS. Porque tem perspectiva de demanda, é um cenário
altamente positivo pra quem for competente.
Leandro – Sartori, você colocou que a maior parte da produção está no Hemisfério Norte e agente tem essa
questão das mudanças climáticas, como isso impacta a produção? É um alto impacto, médio impacto, baixo
impacto em relação global, em relação Brasil e RS?
Sartori – Você sabe que existem dois grandes grupos: quem entende que isso é um ciclo e quem entende,
como eu entendo, que isso é uma consequência das emissões do CO2. Se você pegar o que o mundo extrai
todos os anos de petróleo, gás e carvão, dá 11 bilhões e 300 milhões de toneladas que são extraídos das
profundezas da Terra, trazido à superfície, transformado em energia que desprende CO2. O ano passado foi
um novo recorde mundial de emissão de CO2, 36 bilhões e 200 milhões de toneladas que são desprendidos.
Isso sobre a 7 ou 8 mil metros de altura, formam um cobertor, que é o efeito estufa, o sol bate e não volta e
provoca o aquecimento global. Além do que, um buraco desse tamanho nas entranhas da Terra, não precisa
ser geólogo para deduzir que um buraco de 11 bilhões e 300 milhões todos os anos provoca movimentos
sísmicos e terremotos, cataclismas e tsunames ao redor do mundo. E o clima está ficando cada vez mais
louco.
Leandro – Existe um estudo de qual é o impacto, porque eu já vi até alguns analistas falando do lado
positivo como em algumas regiões que a agricultura é mais difícil, pelo aquecimento fica um pouco mais
fácil, enfim. Qual é o impacto num somatório, num saldo final?
Sartori – Pelos estudos, e me dedico bastante, eu sou um estudioso, apaixonado pelo tema, pelo estudo que
a gente tem acompanhado na Brasoja o melhor lugar do mundo até 2050 vai ser o sul da América do Sul.
Parte de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, um pedaço do Uruguai e sul da Argentina, onde as chuvas vão
ser acima do normal. Ao passo que se você pegar os EUA, você vai ter no colo, no cinturão de produção de
soja, chuvas diminuindo. Então, você vai ter uma mudança de polos de produção. O consumo vai continuar
o mesmo, crescendo mais na Ásia, mas o polo de produção tem o potencial no sul da América do Sul.
Leandro – Nós seremos privilegiados então?
Sartori – Acredito profundamente que sim.
Polibio – No bloco anterior tínhamos iniciado uma conversa sobre o que vai acontecer no futuro, estamos
falando ai dos próximos 5, 10 anos, o Sartori desenhou um cenário altamente otimista para todos os
produtores de Santa Caratina, RS, enfim todo esse nosso Conesul, nessa parte sul do nosso continente. Eu
sempre volto a insistir que nós, aqui no RS, é o que eu verifico, nós estamos melhorando a tecnologia
aplicada no campo, mas dependemos gravemente de São Pedro, do clima. Por melhores que sejam as
condições, daqui para a frente, o El Niño e La Niña tem dizimado a produção no Estado.
Sartori – É, mas não na mesma intensidade como aconteceu no passado, a estrutura do solo hoje é muito
melhor do que foi...
Polibio – Desastres, em tese, não vão voltar a acontecer?
Sartori – Eu acho que os desastres vão ser mais seguidos e mais violentos, mas os impactos das
adversidades climatológicas vão ser menores. O ano passado a seca aqui foi terrível e nós colhemos 7
milhões, se tivesse acontecido isso há 10 anos atrás, de soja, nós teríamos colhido 3. Então, a estrutura do
solo é diferente, a semente é diferente, a biotecnologia é diferente. Então os riscos climatológicos vão ser
cada vez maiores, mas as consequências, em função da tecnologia que hoje o produtor gaúcho e brasileiro
está usando vão ser menores. Só que nós podemos e devemos aumentar muito a produção via produtividade
através de biotecnologia de precisão. Só no caso do milho nós podemos triplicar a produção brasileira, em
vez de 60 milhões, o Brasil pode colher 180 milhões.
Polibio – Você acha que nós podemos ou vamos fazer?
Sartori – Vamos fazer, é uma questão de tempo, porque já tem lugares como colocamos nos blocos
anteriores, tu pega a gema de Não-me-Toque estão colhendo mais de 200 sacos de milho por hectare ao
passo que a média brasileira não chega a 70. Por quê? Agricultura de precisão.
Polibio – Os outros vão acabar enxergando isso ai.
Sartori – Já está acontecendo, mas a velocidade da mudança é pequena, mas está acontecendo e vai
continuar acontecendo.
Polibio – Depende muito do governo ou depende mais do próprio produtor?
Sartori – Depende mais do produtor. Nós temos 2 grandes grupos de produtores: tem um que está
endividado, depende do governo, péssima situação, triste, sem grandes perspectivas quando se depende de
governo principalmente quando se trata do governo brasileiro no foco do agro, diferente do governo
americano que tem uma estratégia: o orçamento do Departamento de Cultivo do Governo Americano passa
de 110 bilhões de dólares, o Ministério da Agricultura brasileiro não tem 2 bilhões de reais, é ridículo.
Quando se depende de governo a nível Brasil, o produtor tá ralado. Agora, aquele que é competente e
competitivo dentro da porteira, a nível de economia mundial, esse está a ganhar dinheiro e vai continuar
ganhando dinheiro.
Leandro – Eu queria dar um foco um pouco diferente ainda, porque um grande público que trabalha aqui
conosco é especulador em bolsa e muitos têm interesse em começar a diversificar suas operações. Uns
operação ações, operam opções sobre ações, e muitos questionam sobre a operação com comodities. No
Brasil, comodities agrícolas que têm liquidez em bolsa são basicamente milho, boi e café. Qual seria a sua
dica para esse especulador que quer iniciar as operações nesse mercado, que tipo de estudo ele tem que
fazer, que informação ele tem que buscar, quais são os primeiros passos pra ele conseguir entender melhor
esse mercado?
Sartori – Bom, tem que ter um profundo conhecimento de causa, tem que se assessorar com uma corretora
de confiança, deixar de lado informações sensacionalistas e irresponsáveis e trabalhar com aqueles poucos
produtos que hoje, a nível Brasil, têm liquidez e tem volume que é gado, café e é milho. Soja eu gostaria
muito que o Brasil pudesse ter volume, mas pra ter volume tem que ter a presença do especulador, daí falta,
pra BMF, marketing pra mostrar o que é o mercado de soja, o potencial que tem. É só copiar o que fazem
americanos. Uma safra mundial de 260 milhões de soja, um comércio mundial de 100 milhões, na bolsa de
Chicago 8 bilhões de toneladas por ano só em soja, 94 milhões de toneladas por dia de grãos em Chicago.
Precisa da figura do especulador para dar liquidez, vocês sabem disso melhor do que eu.

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  • 1. ENTREVISTA SR. ANTÔNIO SARTORI Polibio – Neste programa Cenários de hoje vamos conversar sobre safras agrícolas: preços, as supersafras aqui do RS, a safra brasileira, também vamos conversar muito sobre alimentos, os preços das comodities na bolsa de Chicago, os preços que estão sendo pagos aqui, as oportunidades inclusive de negócios. Para conversar sobre isso nós convidamos o Sr. Antonio Sartori que é diretor da BrasojaAgro que é a maior corretora de comodities aqui do RS, uma das maiores do Brasil... Vamos começar, o RS é o 4° na produção de grãos do país? Sartori – Terceiro. Polibio – Primeiro o Mato Grosso, Paraná e depois o RS. Sartori – Exatamente. O RS já está colhendo mais que o Paraná, nós devemos colher este ano uma safra de 29 milhões de toneladas. Polibio – Estamos falando em grãos aqui. Basicamente soja, arroz, trigo e milho. Este ano vamos colher mais do que Paraná? Sartori – este ano vamos colher mais do que o Paraná. Dependendo da safra de trigo que está sendo bem plantada no momento. Polibio – Que é a única do inverno. As outras 3 já foram todas colhidas. Quando eu falo em hipersafras eu to dizendo o que? 29 milhões é uma das maiores safras do RS? Sartori – O RS tinha colhido em 2011 uma safra de soja um pouco mais do que 12 milhões de toneladas, este ano está colhendo ao redor de 13 milhões de toneladas de soja, milho 5.3, arroz 8 e de trigo estão plantando uma área, com boas condições de clima, quem sabe colher 2.5 milhões de toneladas. Isso pode chegar a 29 milhões de toneladas, tão grande quanto foi a safra de 2011. Polibio - Que foi a maior da história? Sartori – Que foi a maior da história. Acho que vai juntar, cabeça, cabeça, com a safra de grãos de 2011. Polibio – E os preços estão parecidos com 2011? Às vezes a gente pode ter uma baita duma safra, mas os preços não estão legais, então o Estado ou país não fatura tanto assim né? Sartori – Mas esse ano a receita é maior porque o percentual comercializado, quando nós viramos o ano nós tínhamos, por exemplo de soja, 4 milhões de soja comercializada a preços ao redor de R$ 65,00 nos portos, bem melhor do que o ano passado e o que está sendo comercializado agora são níveis acima desse. Então, a receita do produtor esse ano é maior do que foi o ano passado e o ano retrasado. Até porque se você pegar, nós estamos colhendo esse ano 13 milhões e o ano passado 7, a diferença é 6 milhões, a preços de $ 650 dólares por tonelada, isso vai significar mais 7 bilhões de reais em receita para agregar no PIB do ano passado. Portanto, se o PIB gaúcho 2013, visa vir 2012, tiver um crescimento zero, só pela produção de milho e soja vai ter um crescimento de 2,5%. Como o Brasil não vai ter um crescimento tão grande quanto teve o RS, nós devemos crescer, a economia gaúcha este ano deve crescer no mínimo 2,5% mais do que o PIB brasileiro. Em função do aumento da produção, não levando em consideração os preços que é uma absoluta incógnita, uma louca volatividade. Hoje nós temos preços valorizados, historicamente altos, mas tem um cenário que é absoluta incerteza que é o clima no Hemisfério Norte do planeta. Por que é importante o clima do Hemisfério Norte do planeta? 85% da produção mundial de grãos é acima de linha do Equador, chega a ser folclore quando alguém diz que o Brasil é o celeiro do mundo. Olha, o Brasil colhendo este ano 184 milhões de toneladas e o resto do mundo colhe 2 bilhões 850 milhões. O Brasil não colhe 6%.
  • 2. Polibio – Mas é bom. Sartori – Tudo bem, é bom, mas não é o suficiente para ser considerado o Brasil o celeiro do mundo. Stormer – Seria a entrada do celeiro talvez. Sartori – mas tem ainda potencial porque nós temos fronteira agrícola, não quanto tem a África, mas principalmente nós temos o potencial de aumento via produtividade. Enquanto os americanos colhem 175 sacos por hectar, a Argentina 120, o Brasil é 65. Polibio – De quê? Sartori – De milho. Esse ... de tecnologia vai, num curto espaço de tempo, desaparecer e nós vamos chegar a uma produtividade tão grande quanto os americanos. Com biotecnologia, com irrigação e agricultura de precisão. Stormer – Esse é o ponto que eu queria te perguntar Sr. Sartori. Na sua visão, essa supersafra é resultado de que: é resultado de um clima favorável, foi responsável a uma maior exposição solar, se foi estado de produtividade a partir de tecnologia; o que gerou essa supersafra desse ano? Sartori – A consequência é o melhor adubo que existe para o produtor que é o preço. Preços historicamente altos. Nós temos hoje preços de comodities agrícolas o dobro do que nós tínhamos a dez anos atrás. É fácil acessar o site da FAU, temos hoje preços dos alimentos no mundo 110% acima do que tínhamos em 2003. Portanto o preço dos alimentos no mundo estão subindo. Por isso as convenções sociais no início de 2011 no norte da África. Por quê? Porque atingiram o estômago. De quem? Não daquele 1 bilhão de pessoas que são os miseráveis que ganham até 1 dólar por dia no critério do Banco Mundial, mas a linha da pobreza, que são aqueles que ganham até 2 dólares por dia e que há 10 anos atrás conseguiam sobreviver. Como eles continuam ganhando 2 dólares por dia e o preço dos alimentos dobraram, eles têm a metade do poder aquisitivo para consumir alimentos, estão comendo metade do que consumiam e isso bateu no estômago e começou as convulsões sociais no norte da África em 2011. Leandro – Será que o preço dos alimentos, sempre 10% em relação ao valor anterior, não tem alguma coisa a ver com essa política de inundar o mercado de dólares? Sartori - Sem dúvida que preço dolarizado é mais alto pela perda de poder da moeda americana em relação a outras moedas. Leandro – Porque a gente consegue imprimir dólar, mas não consegue imprimir milha. Sartori – Sem dúvida nenhuma, mas acho que o principal valor é o que nós estamos acompanhando: se você pegar da virada do milênio pra cá, nós tínhamos a produção mundial de cereais em 1 bilhão e 850 milhões de toneladas, hoje estamos em 2 bilhões e 250 milhões de toneladas, é um crescimento de 22 ou 24%, ao passo que o Brasil colhia 100 milhões hoje colhe 184 milhões, é um crescimento de 84%. Em nenhum país do mundo cresceu tanto a produção quanto no planeta Brasil, só que a velocidade do aumento do consumo é maior do que a velocidade do aumento da produção, com isso os estoques estão caindo e os preços estão subindo. Polibio – Esta bela supersafra nós temos que agradecer aos agricultores, ao governo do estado, a São Pedro? Eu me lembro que, quando comecei no jornalismo aqui no RS na antiga Folha da Manhã, eu tinha um colega que fazia a coluna de economia e ele tinha uma planilha na parede, era mais uma agenda. Ele colocava ali dia 2 de novembro, por exemplo, inicia o plantio de soja nas Missões, dia 5 começa a chover, dia 7 anunciadas grandes perdas, e assim ia pelo ano inteiro já com todas as datas de todos os fatos que iam acontecendo. Mas o que eu ouvia no decorrer desses 40 anos, que é uma coisa recorrente, todas às vezes que
  • 3. a safra gaúcha de grãos ia bem era porque tinha chovido bem. Todas as vezes que ia mal, ou não tinha chovido ou tinha chovido demais. Isso acontecia assim, pelos meus cálculos, duas ou três vezes a cada 10 anos. Está correto isso? Sartori – Eu acho que em relação ao passado sim, mas hoje mudou e eu vou te provar porque. Se você pegar nos EUA o ano passado, tiveram a maior seca dos últimos 50 anos no centro-oeste americano. A estimativa da safra de soja era de 87 milhões, colheram 82, por quê? Estrutura de solo, tecnologia, biotecnologia, um trabalho agronômico de tal maneira que realmente não tem uma dependência tão direta como já teve no passado, porque o solo é pobre. Polibio – Mas isso vale para o Brasil também? Sartori – Está mudando. Está mudando, mas nós ainda não estamos no ponto que está o centro-oeste americano. Se você pegar ali a região da Cotrijal, onde tem a Expodireto a agricultura de precisão ali é um polo de referência, um trabalho fantástico que faz a Estara de Não-me-Toque e lá estão colhendo, sem irrigação, 75, 80 sacos de soja por hectare, num clima normal. 220, 250 sacos de milho por hectare por que é solo estruturado, agricultura de precisão. No RS nós temos uma dependência dos riscos climatológicos. Como você falou de São Pedro, quando uma vez o tema clima dependia de São Pedro uma boa missa, uma reza forte resolvia. Hoje quem cuida do clima é o tal de El Niño e La Niña, botou a mão nessas crianças e virou uma bagunça. Hoje você tem uma louca volatibilidade e uma brutal imprevisibilidade. Nós comentávamos a pouco dos riscos climatológicos e da previsibilidade ou não da climatologia, o meu entendimento é de que o Protocolo de Quioto não foi assinado nem pelos EUA e nem pelo Japão porque a matriz energética do mundo de hoje, mais de 80% é petróleo, gás e carvão e não tem como mudar essa matriz. Não tem como mudar. Portanto, daqui pra frente o mundo vai tentar procurar soluções de novas tecnologias para a rede de energias: energia solar, de ventos, da água só o Brasil tem, ao redor do mundo não tem mais como e bioenergia que é nova e que é um dos fatores que alavancou os preços valorizados dos produtos agrícolas e dos alimentos no mundo. Polibio – Eu queria voltar a essa questão dos preços ainda. Você opera com comodities, é uma corretora, uma das maiores do país e está operando todos os dias, inclusive com a bolsa de Chicago. Nesse momento, qual é o papel que você acha que joga, na formação dos preços, os especuladores e qual é o papel que joga esse agricultor que está se esforçando para trabalhar, está esperando por um bom preço e está jogando? Leandro – Inclusive eu aproveito para colocar uma possibilidade que ainda não é tão comum no Brasil, apesar de estar crescendo bastante, muito agricultor, muito granjocultor não sabe que pode usar no mercado financeiro um instrumento para se proteger contra as oscilações. Aproveito para pedir mais informações de como isso acontece. Sartori – Vamos pegar o exemplo da bolsa de Chicago. A produção mundial de soja, no último ano 2012/2013, foi ao redor de 260 milhões de toneladas. O comércio mundial ao redor de 100 milhões de toneladas. Na bolsa de Chicago, nesse mesmo período, o mesmo volume chegou a 8 bilhões de toneladas, significa dizer que especulação, mercado de papel, é 98,6%, de proteção, mercadoria, comercialização não chega a 1,5%. É absolutamente fundamental a presença do especulador. Polibio – Eu queria recapitular esse número porque ele é impressionante. A produção mundial é de 260 milhões e a bolsa de Chicago negocia 8 bilhões. De toneladas? Sartori – Só em soja, de toneladas. Polibio – Se tiver que entregar tudo isso ai, não tem né?
  • 4. Sartori – Não tem. O volume diário da bolsa de Chicago em todas as mercadorias, de comodities, é 94 milhões de toneladas por dia. Então, a figura do especulador é absolutamente necessária para dar liquidez. Por que não funciona a BNF no Brasil das maneira que gostaríamos que funcionasse para os produtos. Funciona pro boi, funciona pro café, funciona pro milho, não funciona pra soja. Por que não funciona? Porque não tem a figura do especulador. O especulador é uma figura absolutamente necessária. Polibio – Aquilo que dizia o Leandro, como o produtor pode tirar proveito disso e não ficar só esperando pelo preço e pronto? Sartori – O segredo do mundo dos negócios hoje não é informação. A informação hoje é disponível na Internet, existe um oceano de informações. O segredo é analisar os fatos, projetar tendências, definir estratégias e implementar, tomar decisões. Para ter essa sequência de atitudes o produtor precisa selecionar fontes confiáveis de informação. Tu tens um excesso de informação e tens muitas pessoas com espaço na mídia, no nosso segmento, que são irresponsáveis, inconsequentes, sensacionalistas e que procuram fazer apenas agradar o produtos. Olha, o produtor tem que receber boas informações. A informação só é boa se gera valor e a informação tem que ser responsável e consequente. Esse é o grande problema porque nós temos um excesso de informações. Eu tenho na minha mesa 6 monitores, eu tenho uma mesa de 3m e 50cm. Eu tenho muitas informações. O problema não é informação, é analisar as informações e definir. Te dou um exemplo: ano passado, o preço, nós temos um trabalho na Brasoja que é o preço médio comercializado na Brasoja semana a semana, a média mais baixa do ano passado foi a segunda semana de fevereiro R$ 47,00; a semana mais alta foi a terceira de setembro R$ 85. Divide 85 por 47, dá 80%. Teve produtor que vendeu 85 e teve produtor que vendeu a 47, por que isso? O mesmo país, o mesmo clima, a mesma moeda, a mesma bolsa de Chicago, a mesma biotecnologia. Gestão! Gestão da informação. Polibio – mas o pessoal está ficando mais esperto. Sartori – Está mudando muito, a velocidade da mudança é muito grande. Hoje não tem produtor desinformado. O produtor é muito informado, sabe muito, sabe tudo e está melhorando muito. É que o mercado está muito volátil. A volatividade é muito violenta, por quê? Por causa dos fundos. Qual é o volume que tem os fundos no mundo, mais de 60 mil fundos no mundo, 26 trilhões de dólares? Qual é o fluxo do comércio mundial, que foi o ano passado? 70 trilhões de dólares, divide por dias úteis, divide por ordem bancária, dá 500 bilhões de dólares por hora. Esse é o fluxo financeiro especulativo no mundo. Então, você tem movimentos de preços que não têm uma relação direta com produção, consumo e estoque. Leandro – E ao mesmo tempo, para piorar a situação, se tem cada vez mais o robôs operando, sistemas automáticos, que operam inclusive comodities e nós temos a velocidade da informação como nunca se teve. Um fato como esse que aconteceu ontem no Brasil, de uma grande passeata era possível acompanhar em tempo real de diversas fontes. Desde fontes tradicionais como a Globo até o celular de um sujeito que estava lá, transmitindo ao vivo. Multiplica isso pelo número de pessoas, hoje cada pessoa tem um celular na mão e pode escrever textos e pode dar informações. Eu vejo uma tendência de essa volatividade ser cada vez maior. Polibio – Ontem que ele está dizendo foi segunda-feira. Curiosamente o mercado, a bolsa, não entrou em crise, subiu inclusive. Eu quero dizer que está bem madura essa, a nossa sociedade, o mercado de modo geral está bastante maduro. Leandro – A questão é que o mercado, o mercado se a gente falar em ações, ele caiu forte nos últimos dias. Claro que é muita pretensão nossa querer dizer que o mercado já sabia, mas o fato é que o mercado, via de regra, ele soma todas as informações que existem e produz o movimento um pouco antes. Sartori – O mercado precisa se antecipar.
  • 5. Polibio – Gostaria de voltar a questão dos alimentos no mundo, Já ouvi várias palestras do sartori, fazendo previsões até bem catastróficas sobre o que pode acontecer, relacionando essa questão dos alimentos com a revolta da Primavera Árabe. Não tem nada a ver com a primavera brasileira, soa mais países que tem problema muito grave de renda. Leandro – Vejo, por exemplo, a gente chegou a trabalhar com um sujeito Jim Rogers que ele defende um investimento de longo prazo em comodities como uma reserva de valor já que ele acredita que esse problema da dívida nos países mais avançados vai ser muito difícil de resolver e o caminho vai ser a inflação. E o que não perde valor é comodities, petróleo, comida, soja, milho, enfim, porque isso as pessoas precisam. Sartori – Petróleo até pode não subir. Olha essa nova situação que tem nos EUA, uma situação política do governo do Barack apostando no gás, com todas as consequências que vai ter o ..., realmente é danoso de maneira extrema ao solo, lençol freático e diversidade, mas estão apostando e estão conseguindo com isso energia mais barata, estão conseguindo voltar indústrias que estavam na China, voltarem aos EUA. Isso é mudança, agora alimentos, decididamente, o mundo não vai parar de comer além do que eu não acredito, não consigo vislumbrar num curto e médio prazo, uma mudança estratégica do governo americano, europeu, ou brasileiro ou argentino na produção de biocombustível. Eu não acredito porque você tem uma necessidade de aumento de produção de energia... Polibio – Produzir energia com alimentos. Sartori – Também. Não é a solução, mas é mais uma opção. Até porque dentro dos EUA eles usam 130 milhões de milho para produzir etanol, no processo de etanol subsidiado. É lob, marketing e pressão do produtos, da entidade do produtor. Tudo bem, só que agora os americanos estão numa menor importação do Oriente Médio. Porque os americanos tem menor importação do Oriente Médio? Por causa do petróleo e agora, estão começando, até 2020 devem ser totalmente autossuficientes e vão diminuir muito as importações porque estão apostando muito no gás que tem em abundância e que é mais barato. Leandro – 20% do preço do gás que a gente paga da Bolívia por exemplo. Por isso estão se tornando cada vez mais competitivos. Então você concorda com essa visão do Jim Rogers de que a comodities pode ser uma reserva de valor, pode ser um investimento de longo prazo? Sartori – Sim. Sem dúvida nenhum por dois principais motivos. Primeiro: não tem mais quase fronteiras agrícolas no mundo, você vai aumentar a produção via produtividade com novas tecnologias, agricultura de precisão, biotecnologia e irrigação. Isso vai acontecer, mas a velocidade da demanda está crescendo mais do que a velocidade de produção. Não que vá crescer a população, não é apenas o crescer da população, que é 80 milhões por ano, o que vai acontecer é a mudança na estratificação social, do poder aquisitivo. Você tem hoje 1 bilhão de pessoas no mundo que ganham um dólar por dia e você tem 2 bilhões e 500 milhões de pessoas que ganham até 2 dólares por dia. Isso está mudando, dentro da China. Está mudando hábitos alimentares, poder aquisitivo... Polibio – tem gente que está comendo mais do que podia. Sartori – Olha o que tem de gordos e obesos no mundo. Eles estão descobrindo que carne de frango é melhor do que carne de cachorro.Para produzir carne de frango você precisa de soja porque o farelo e soja significa 70% da produção mundial de proteínas vegetais. Polibio – Sartori, eu tenho uma dúvida assim: e excedentes brasileiros de alimentos, de grãos digamos, você produz 184 milhões de toneladas, quanto disso o brasileiro consome, quanto sobra pra ele exportar?
  • 6. Sartori – Vamos pegar o milho do ano passado, nós tivemos uma safra de mais de 60 milhões de toneladas, colocamos quase 30, 27 milhões de toneladas um recorde histórico no caso do milho. Com exceção do ano passado porque quebrou a safra americana. Polibio – Esse é o excedente mesmo tirando aquilo que o povo brasileiro precisa comer é o que sobrou. Sartori – Mas isso foi uma exceção no caso do milho do ano passado. Não é normal. O normal é exportar 10 ou 12 milhões de toneladas. No caso da soja nós estamos colhendo uma base de 84 milhões de toneladas, nós vamos exportar quase 40 milhões de grãos. Isso é um absurdo. Isso é uma falta de estratégia do governo brasileiro. Por que está acontecendo isso? Em 1999, o governo chinês implementou um imposto de importação de 13% sobre o óleo e o farelo, com isso é mais barato para o chinês importar soja do que óleo e farelo. O grão. Daí o Brasil de maneira ridícula, silfana de ser o maior exportador de soja do mundo. Ora, nós exportamos quase 40 milhões de toneladas de soja em grão e com isso nós temos 30, 40% do parque industrial brasileiro com capacidade ociosa. Polibio – Além de não exportar produto com valor agregado. Sartori – Exatamente, mas o chinês estrategicamente colocou um imposto de importação, estão importando o grão e dando mão de obra para os chineses. Polibio – Nós poderíamos ter isso? Sartori – É só decisão política do governo. Por que o chinês faz e o governo não faz um contraponto? Existe maneiras de fazer e ai entra o governo brasileiro, entra o Itamaraty. A incompetência do Itamaraty, desde a rodada do Gafti em 86 e depois a formatação da OMC, Organização Mundial do Comércio em 94, em Marakex no Marrocos quando se definiu a OMC, o Brasil não sabe defender as regras de comércio mundial de maneira mais vantajosa para o Brasil. No caso da carne, importação de trigo, o Itamaraty tem sido, no seu histórico, muito incompetente no trato das regras de comércio agrícola mundial. O Brasil tem sido primeiramente prejudicado com isso. Polibio – No próximo bloco vamos falar sobre o cenário do Brasil e do RS, cenário em que nós já estamos, acho que é um bom cenário. Sartori – Sem dúvida que é positivo para quem for dramaticamente competitivo não apenas dentro da porteira, mas também depois da porteira. Polibio – O Leandro não gosta quando eu digo que o cenário está bombando. Leandro – Eu acho que poderia estar muito melhor, mas enfim, vamos em frente. Polibio – Aqui no RS, pelo menos, todo mundo está comemorando esse ano de 2013 porque a economia gaúcha é totalmente dependente do que acontece no campo. Disse aqui várias vezes que 45% do nosso produto interno bruto de alguma forma depende do que acontece no campo. É o chamado agrobusiness, é o que as safras produzem, o que a agropecuária produz, mais o que é comercializado e mais o que industrializado, tudo ligado a esse complexo agrobusiness. Olha, é quase metade. Então, quando a safra vai mal o RS vai mal, no ano passado por exemplo. Se for bem como esse ano, tu fala que vamos crescer pelo menos 2,5%, de diferença. Então, temos 2,5 nacional, mais 2,5 aqui, no mínimo 5. Vamos crescer esse ano a uma que taxa não é chinesa, mas é quase chinesa. Sartori – Eu vou me permitir fazer um comentário, não discordando de ti, concordando contigo da brutal dependência que tem a economia gaúcha do agro, mas se nós pegarmos agricultura e pecuária não chega a 10%. No agregado antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira, ai sim pode chegar a 40, 45%.
  • 7. Polibio – Como os ciclos que são agricultura, pecuária e florestamento é menos de 10% na valoração do produto interno bruto. Mas quando soma tudo que está ligado a isso ai, dá 45%. Sartori – exatamente. E olha tudo o que está acontecendo esse ano, as perspectivas são positivas. Nós temos um fantástico evento no RS, que orgulha o Rio Grande que é a Expodireto, organizada pela Cotrijal. O faturamento ano passado foi 1,2 bilhões de reais, esse ano foi o dobro, simplesmente dobrou, 2,2 2,3 bilhões de reais, isso porque tem perspectivas. Polibio – Está chegando à Expointer. Sartori – Só que a Expointer é uma festa de trago depois das 6h. A Expodireto não. Das 8 às 18 é negócios, não tem festa, não tem trago, não tem churrasco. A Expoointer é uma festa de povo, é uma festa alegre, mas não é uma festa de negócios tão importante como é a Expodireto, sem dúvida nenhuma. A Expointer perdeu espaço para a Expodireto. A Expodireto hoje é referência de competência no agro gaúcho. Olha o faturamento que teve, olha o que está acontecendo naquela mesma região: a Star. A Star é uma potência que está dedicada, focada, é uma indústria de máquinas e implementos agrícolas, eminentemente gaúcha com foco em agricultura de precisão que está colocando agora uma fábrica de tratores, comprou uma fábrica na região de Horizontina. Está crescendo por quê? Pelas perspectivas. Qual é a perspectiva? Não é tanto fronteira agrícola, a maior perspectiva é aumento de produção via produtividade. Com as novas tecnologias, biotecnologia, agricultura de precisão e irrigação nós, sem dúvida, vamos crescer muito a produção de grãos, e espero que também de agregado, de frango, de suíno, e nós precisamos aumentar a produção de milho para que não saia a indústria de frango e de suíno do RS. Porque tem perspectiva de demanda, é um cenário altamente positivo pra quem for competente. Leandro – Sartori, você colocou que a maior parte da produção está no Hemisfério Norte e agente tem essa questão das mudanças climáticas, como isso impacta a produção? É um alto impacto, médio impacto, baixo impacto em relação global, em relação Brasil e RS? Sartori – Você sabe que existem dois grandes grupos: quem entende que isso é um ciclo e quem entende, como eu entendo, que isso é uma consequência das emissões do CO2. Se você pegar o que o mundo extrai todos os anos de petróleo, gás e carvão, dá 11 bilhões e 300 milhões de toneladas que são extraídos das profundezas da Terra, trazido à superfície, transformado em energia que desprende CO2. O ano passado foi um novo recorde mundial de emissão de CO2, 36 bilhões e 200 milhões de toneladas que são desprendidos. Isso sobre a 7 ou 8 mil metros de altura, formam um cobertor, que é o efeito estufa, o sol bate e não volta e provoca o aquecimento global. Além do que, um buraco desse tamanho nas entranhas da Terra, não precisa ser geólogo para deduzir que um buraco de 11 bilhões e 300 milhões todos os anos provoca movimentos sísmicos e terremotos, cataclismas e tsunames ao redor do mundo. E o clima está ficando cada vez mais louco. Leandro – Existe um estudo de qual é o impacto, porque eu já vi até alguns analistas falando do lado positivo como em algumas regiões que a agricultura é mais difícil, pelo aquecimento fica um pouco mais fácil, enfim. Qual é o impacto num somatório, num saldo final? Sartori – Pelos estudos, e me dedico bastante, eu sou um estudioso, apaixonado pelo tema, pelo estudo que a gente tem acompanhado na Brasoja o melhor lugar do mundo até 2050 vai ser o sul da América do Sul. Parte de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, um pedaço do Uruguai e sul da Argentina, onde as chuvas vão ser acima do normal. Ao passo que se você pegar os EUA, você vai ter no colo, no cinturão de produção de soja, chuvas diminuindo. Então, você vai ter uma mudança de polos de produção. O consumo vai continuar o mesmo, crescendo mais na Ásia, mas o polo de produção tem o potencial no sul da América do Sul. Leandro – Nós seremos privilegiados então?
  • 8. Sartori – Acredito profundamente que sim. Polibio – No bloco anterior tínhamos iniciado uma conversa sobre o que vai acontecer no futuro, estamos falando ai dos próximos 5, 10 anos, o Sartori desenhou um cenário altamente otimista para todos os produtores de Santa Caratina, RS, enfim todo esse nosso Conesul, nessa parte sul do nosso continente. Eu sempre volto a insistir que nós, aqui no RS, é o que eu verifico, nós estamos melhorando a tecnologia aplicada no campo, mas dependemos gravemente de São Pedro, do clima. Por melhores que sejam as condições, daqui para a frente, o El Niño e La Niña tem dizimado a produção no Estado. Sartori – É, mas não na mesma intensidade como aconteceu no passado, a estrutura do solo hoje é muito melhor do que foi... Polibio – Desastres, em tese, não vão voltar a acontecer? Sartori – Eu acho que os desastres vão ser mais seguidos e mais violentos, mas os impactos das adversidades climatológicas vão ser menores. O ano passado a seca aqui foi terrível e nós colhemos 7 milhões, se tivesse acontecido isso há 10 anos atrás, de soja, nós teríamos colhido 3. Então, a estrutura do solo é diferente, a semente é diferente, a biotecnologia é diferente. Então os riscos climatológicos vão ser cada vez maiores, mas as consequências, em função da tecnologia que hoje o produtor gaúcho e brasileiro está usando vão ser menores. Só que nós podemos e devemos aumentar muito a produção via produtividade através de biotecnologia de precisão. Só no caso do milho nós podemos triplicar a produção brasileira, em vez de 60 milhões, o Brasil pode colher 180 milhões. Polibio – Você acha que nós podemos ou vamos fazer? Sartori – Vamos fazer, é uma questão de tempo, porque já tem lugares como colocamos nos blocos anteriores, tu pega a gema de Não-me-Toque estão colhendo mais de 200 sacos de milho por hectare ao passo que a média brasileira não chega a 70. Por quê? Agricultura de precisão. Polibio – Os outros vão acabar enxergando isso ai. Sartori – Já está acontecendo, mas a velocidade da mudança é pequena, mas está acontecendo e vai continuar acontecendo. Polibio – Depende muito do governo ou depende mais do próprio produtor? Sartori – Depende mais do produtor. Nós temos 2 grandes grupos de produtores: tem um que está endividado, depende do governo, péssima situação, triste, sem grandes perspectivas quando se depende de governo principalmente quando se trata do governo brasileiro no foco do agro, diferente do governo americano que tem uma estratégia: o orçamento do Departamento de Cultivo do Governo Americano passa de 110 bilhões de dólares, o Ministério da Agricultura brasileiro não tem 2 bilhões de reais, é ridículo. Quando se depende de governo a nível Brasil, o produtor tá ralado. Agora, aquele que é competente e competitivo dentro da porteira, a nível de economia mundial, esse está a ganhar dinheiro e vai continuar ganhando dinheiro. Leandro – Eu queria dar um foco um pouco diferente ainda, porque um grande público que trabalha aqui conosco é especulador em bolsa e muitos têm interesse em começar a diversificar suas operações. Uns operação ações, operam opções sobre ações, e muitos questionam sobre a operação com comodities. No Brasil, comodities agrícolas que têm liquidez em bolsa são basicamente milho, boi e café. Qual seria a sua dica para esse especulador que quer iniciar as operações nesse mercado, que tipo de estudo ele tem que fazer, que informação ele tem que buscar, quais são os primeiros passos pra ele conseguir entender melhor esse mercado?
  • 9. Sartori – Bom, tem que ter um profundo conhecimento de causa, tem que se assessorar com uma corretora de confiança, deixar de lado informações sensacionalistas e irresponsáveis e trabalhar com aqueles poucos produtos que hoje, a nível Brasil, têm liquidez e tem volume que é gado, café e é milho. Soja eu gostaria muito que o Brasil pudesse ter volume, mas pra ter volume tem que ter a presença do especulador, daí falta, pra BMF, marketing pra mostrar o que é o mercado de soja, o potencial que tem. É só copiar o que fazem americanos. Uma safra mundial de 260 milhões de soja, um comércio mundial de 100 milhões, na bolsa de Chicago 8 bilhões de toneladas por ano só em soja, 94 milhões de toneladas por dia de grãos em Chicago. Precisa da figura do especulador para dar liquidez, vocês sabem disso melhor do que eu.