SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 11
ENTREVISTA LUIZ CARLOS HEINZE
Polibio – Nós vamos ouvir esta semana o Deputado Luis Carlos Heinze que é do PP e Presidente da Frente
Parlamentar Agropecuária da Câmara dos Deputados. Gaúcho de São Borja. Vamos conversar sobre um
setor que nos interessa muito no RS, que tem uma economia muito presa ao que acontece no campo. Embora
o setor agropecuário represente apenas 9% na formação do PIB no estado, ele acaba repercutindo sobre os
demais setores da economia e no complexo agro business. Ou seja, o que se produz na agricultura e na
pecuária, mais o que industrializa e o que comercializa, dá algo em torno de 45% do PIB. O Brasil se tornou
um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, mas estamos regredindo para a idade do Brasil colônia,
estamos exportando tudo que é comodities e pouca coisa industrializada. Vamos começar pelas safras
agrícolas e a produção agropecuária do Brasil. No verão passado tivemos a segunda melhor safra do RS e
uma das melhores do Brasil. Como o presidente da Frente Parlamentar vê esse desenho atual, é motivo de
animação?
Heinze – O agro negócio é um setor que está dando certo. Apesar de estarmos exportando comodities,
alguns poucos produtos industrializados, mas o resultado da balança comercial brasileira se deve
basicamente ao agro negócio. Agricultura, pecuária, produção de carnes, grãos, frutas, láteos, que o Brasil
está produzindo. Esse é um momento extremamente importante para a economia e o mercado internacional
está puxando os preços. Aquilo que representa o mercado internacional, a soja por exemplo, o próprio trigo
hoje, a situação do milho, são puxados pelo mercado internacional. As carnes, frango, suíno, boi, que nós
temos hoje são puxadas pelo alto preço do mercado internacional. Estamos vivendo um bom momento, de
boas safras, diferente do ano passado em que nós sofremos bastante aqui no RS, também isso vale para o
estado. Pega as notícias da imprensa que mostram que a economia do RS, o PIB cresceu em função da safra
de soja e do preço da soja, que nós comercializamos agora, neste ano de 2013. É um bom ano, a agricultura
vai bem, em função do mercado. O mercado está fazendo com que essa nossa agricultura possa ter essa
perspectiva positiva neste momento.
Polibio – A projeção daqui para frente é manter este nível de produção, é expandir muito? As nossas
fronteiras agrícolas permitem que se possa produzir mais sem aumentar a produtividade, por exemplo? Qual
é a projeção que vocês têm na Frente Parlamentar?
Heinze – No Brasil, nós temos hoje em torno de 330, 340 milhões de hectares utilizados com agricultura e
com pecuária, produção geral. O Brasil é uma das últimas fronteiras agrícolas do mundo. Se pagarmos ainda
áreas de serrados que nós temos, nós podemos chegar a mais 100 milhões de hectares. Além de
aumentarmos a produção e a produtividade nas áreas já utilizadas hoje, nós ainda podemos aumentar as
áreas plantadas. Poucos países do mundo têm esta possibilidade. A Ásia, a China não têm áreas, novas
fronteiras agrícolas, no Brasil nós temos. Nós fomos muito combatidos na questão do código florestal e
outro assunto também, que a gente pode conversar, é sobre o tal aquecimento global. No Brasil, nós
podemos ampliar essa área com agricultura e termos ainda, desses mais de 8 milhões de Km² do Brasil,
mantermos ainda 50% do território intacto. Não existe país no mundo que possa dizer “eu aproveito a
metade do meu território e posso ainda deixar preservado o restante”. Floresta amazônica por exemplo, eu
não falo em mexer na floresta amazônica, eu falo em mexer em área de serrado. Nós temos alguma coisa
ainda no RS, na metade sul do RS, área de campo que nós podemos transformar, além da pecuária botarmos
agricultura nesta área. Em termos de Brasil nós temos este espaço enorme. Claro que é controverso, tem
gente que pensa o contrário, mas nós temos essa possibilidade de, no Brasil, ampliarmos as fronteiras
agrícolas.
Polibio – Sem até mexer na produtividade.
Heinze – Ai com a produtividade, melhor ainda. Ai podemos, seguramente, ampliarmos mais. E temos
ainda, nesta área explorada, em torno de 40, 50 milhões de hectares com pastagens degradadas. Isso mais no
Centro-oeste do país, que nós ainda podemos mexer na produtividade nestas áreas que nós já temos, que
estamos explorando hoje, nomomento. O Brasil é a bola da vez. Há uma série de pressões que nós sofremos
hoje pelas concorrências. Nós temos questões ambientais que nós sofremos pressão externa, nós temos
questões trabalhistas que sofremos pressão externa, esta questão indígena, quilombola, trabalho escravo,
vários temas que são introduzidos para nós, isso tudo faz parte dos nossos concorrentes internacionais.
Polibio – São complicadores?
Heinze – Complicadores. Ai o cara “você tem que cumprir a legislação brasileira” e, daqui a pouco, em
cima dessa questão, são entraves que colocam na produção brasileira. Internamente discutindo essa questão,
isso, de uma certa forma, trava o desenvolvimento. Quando se fala na questão indígena hoje, e a gente está
batendo muito nesse tema, não é só da agricultura. Você vê o caso de Belo Monte, é um grande investimento
que o Brasil tem na área de energia que está prejudicado em cima da questão indígena. Você tem rodovias,
pega a BR 101 daqui, ferrovias, hidrovias, coisas que tem um dedo diferente. Você vê que não é um entrave
ambiental, mas de alguma forma colocam um entrave para que nós possamos não desenvolver.
Leandro – Qual a origem desse dedo?
Heinze – São os nossos concorrentes internacionais.
Polibio – São países que também produzem muito e que concorrem no mercado externo conosco, é isso?
Heinze – Claro. Nós somos o maior exportador de boi do mundo, nós somos o maior exportador de frango
do mundo, maior exportador de soja no mundo, laranja do mundo, de fumo do mundo. De várias comodities,
o Brasil é o maior exportador. Esse mercado nós tomamos de alguém, alguém era dono desse mercado. Se
eles não podem concorrer em preço, eles colocam outro tipo de entrave para nós. Esse é um problema que
nós temos que enfrentar, é mais um dos entraves que a produção brasileira hoje enfrenta para poder se tornar
líder no mundo em termos de produção. Se nós ainda podemos aumentar a produtividade, nós ainda temos
fronteiras agrícolas para explorar, é um potencial fantástico que o Brasil tem hoje em termos de produção de
alimentos para o mundo.
Leandro – O Alex pergunta se a África não teria uma boa quantidade de terras ainda não aproveitadas, que
poderia ser uma fronteira agrícola a ser explorada.
Heinze – Sim, inclusive lá tem muitos brasileiros, eles têm muito potencial. O que a África está
aproveitando hoje, porque agricultura tropical começou no Brasil, o clima da Europa, dos EUA e do Canadá
é um só.
Polibio – Quer dizer, a tecnologia para a África nós temos.
Heinze – Eles estão copiando a nossa tecnologia. Eu tive a felicidade de conhecer Normam Bourland,
engenheiro agrônomo, Prêmio Nobel da Paz, quando, 5 ou 6 anos atrás, antes de falecer, em Brasília, com
Aulice Paulineli também outra grande figura, que foi ministro da agricultura nosso logo depois do gaúcho
Cerni Lima. Normam Bourland esteve no Brasil nos anos 70 e dizia “vocês não colhem nada nestas terras”.
Ele esteve na região do centro-oeste. Ele mesmo prognosticava que nós não colheríamos nada e hoje você vê
a fábula da Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí agora, Maranhão, vários estados do Norte, Nordeste e
Centro –oeste com produção. Veja, eu hoje tenho que confessar que eu me enganei. Assim, esse crescimento
fantástico que nós tivemos, altas produtividades e alta tecnologia no Centro-oeste e Norte do país, essa
tecnologia nós podemos levar para a África. O que tem lá são terras pobres, em alguns lugares são terras
melhores, mas grande parte são terras pobres que exigem grande quantidade de fertilizantes e adubação, mas
isso você pode corrigir.
Polibio – O problema da África é meio o que dizem que é o problema do Brasil, que Deus chegou aqui,
desenhou esse litoral maravilhoso, a Amazônia com aquelas florestas, um paraíso na terra. Alguém chegou e
perguntou “como você beneficia dessa maneira o Brasil?”, e Deus respondeu “espere até ver o povinho que
vou colocar aqui dentro”. A África o problema deles é o povo que está lá dentro.
Stormer – Tem uma instabilidade política muito grande na África, mas é um continente que está começando
a se firmar.
Leandro – Os chineses estão investindo muito lá.
Heinze – Em termos de clima e de solo eles têm, o resto nós temos que fazer.
Polibio – Vamos conversar sobre os nossos contenciosos, que, de alguma forma, estão criando obstáculos,
não invencíveis, mas estão se colocando. Vamos começar com a questão dos quilombolas, ou dos indígenas?
A demarcação de terras indígenas, em que pé está isso hoje? Aliás, vamos explicar o que é essa demarcação
de terras, qual a lei e como é essa lei?
Heinze – Nós temos hoje um grande problema, eu e muitos parlamentares temos enfrentado, em 15 estados
da federação hoje temos problemas seríssimos com a questão de demarcação de terras indígenas. Nós temos
hoje cerca de 113 milhões de hectares no Brasil de reservas indígenas.
Leandro – Para quantos índios?
Heinze – Nós chegamos a 800 mil índios. No RS, para se ter uma ideia do que é 113 milhões, tem 28
milhões de hectares, isso é praticamente 4 vezes o estado do RS em reservas indígenas já existentes. Parte do
Ministério Público Federal, da Procuradoria Geral da República, parte da Igreja Católica, o chamado
Conselho Indígena Missionário e também da Comissão Pastoral da Terra, eles querem mais em torno de 20 a
25 milhões de hectares a mais. Mais um estado do RS em reservas indígenas, além dos 113 que já tem hoje.
Polibio – Esses 113 já tem índio lá?
Heinze – Já tem índio.
Polibio – O problema então é com esses 25 milhões novos que eles querem.
Heinze – Isso mesmo. No RS, por exemplo, hoje tem 93 mil hectares de reservas indígenas no RS. Em torno
de 19 mil índios. Quando a gente fala com o pessoal, eles dizem assim “não, nós temos 1,5% de reserva
indígena no RS”. O que é 1,5%? Nós aumentarmos de 100 para 250 mil de hectares. Só que, nestas áreas
que eles estão querendo, 100 mil hectares hoje no RS, eu já tenho catalogado 30 processos que estão
correndo aqui, tem famílias em cima. Hoje tem em torno de 6 mil famílias, só no RS. Você a Mato preto,
Getúlio Vargas, Erechim, Erebango, 4230 hectares, lá vão tirar 365 famílias. Na média de 12 a 13 hectares
por família. Você vai ali na reserva em Passo Grande da Forquilha, em Sananduva, Cacique Doble, lá tem
1916 hectares para 180 famílias, isso é 11 hectares de média. Os índios invadiram recentemente, a mídia
mostrou, invadiram a propriedade de um senhor de 70 anos de 2,7 hectares. O cara vive em cima da sua
propriedade, dentro dessa área.
Polibio – 2,7 hectares é o parque Germânia aqui.
Heinze – esse é um problema, estou falando em RS, mas no Brasil hoje, o que querem fazer é ampliar estas
áreas. Tem terras para agricultura, tem água doce em cima disso, tem florestas em cima disso e tem também
questões de reservas minerais. Aqui no RS, só para estender um pouco esse nosso caso específico, são
maquinações feitas, como a gente acompanhou no início dos anos 2000, a questão do MST. As pressões, as
invasões, e o que faziam ontem o MST, hoje estão fazendo com a questão indígena. Começou este outro
modelo. Saem aqui no RS, é importante que a sociedade urbana entenda isso, são gente que saem das tribos
que têm hoje, no caso do Mato Preto é um absurdo, um crime. Um laudo antropológico, determinou 4230
hectares. O poder do laudo antropológico: uma antropóloga, num ritual indígena, no município de Cacique
Doble, o pajé, o cacique, num determinado ritual tomou o tal do chá do Santo Daime. Ai você entra em
transe, tipo maconha e outras coisas, e nesse ritual eles enxergaram 4200 hectares lá no tal do Mato Preto
que é Getúlio Vargas e arredores. Isso parece piada, mas é real.
Polibio – Ela alega que quando fez o laudo, ela não estava sob o efeito do chá do Santo Daime.
Heinze – No laudo não, mas a tese de mestrado, ela é lá de Chapecó, SC, no laudo não, mas na tese de
mestrado ela confessa isso. O laudo não diz isso, mas a tese que originou esta antropóloga diz que eles
fizeram este ritual.
Polibio – Você lembra do nome dela, porque está no Google isso ai.
Heinze – Eu não me recordo o nome agora. Você vai lá em Mato Castelhano, dois pretensos caciques,
caciques Jonathan, por exemplo, está na sétima invasão. Ele confessa, isso estou pegando de um processo da
procuradoria da República de Passo Fundo. O Procurador deu briga entre os dois, eles querem 3500
hectares. Um deles diz que quer a floresta, lá em torno de 1500 hectares que foi plantada nos anos 40, em
Getúlio Vargas. A floresta nacional de Passo Fundo. Ele quer explorar a madeira, e fez um cálculo que ele
ganha R$ 800 mil por hectare, ele vai derrubar a madeira e já pegou nas madeireiras da região. O outro vai
pegar a tese que hoje o pessoal planta soja, planta trigo e planta milho.
Leandro – Não seria com objetivo nenhum em relação à atividade indígena, é a busca do lucro.
Heinze – São negócios. O que eu estou denunciando. A minha denúncia, que eu já fiz à Polícia Federal e ao
Ministério da Justiça, que aqui no RS os 93 mil hectares que têm de terras indígenas, eu já levantei numa
comissão que eu participo na Câmara, que 33 mil hectares estão arrendados para brancos. São produtores
brancos que estão plantando nestas terras arrendadas. E pior, não tem mais do que 100 pessoas que recebem
este arrendamento, como se fossem os donos das terras. Tem um tal de cacique, Antônio, na reserva da
Serrinha por exemplo, ele tem a família dele. 5, 6, 10 pessoas nesta tribo que recebem o arrendamento. Faça
a conta: 33 mil hectares, dá 6 mil hectares de arrendamento, dá 300 mil sacas de soja, isso dá 20 milhões de
reais. 20 milhões de reais, fazendo uma conta por cima, para 100, cento e poucas pessoas. O restante dos
índios, e ai eu defendo os índios também, vivem miseravelmente. Eu estava com o prefeito de Serrinha e ele
“nós damos bolsa família, atendemos eles com saúde, damos educação”, quer dizer “nós estamos assistindo
estas pessoas e os chefes estão ganhando esta fortuna”. Carro importado, casa boa, mulher, sei lá. Tudo o
que ele tem direito com o dinheiro que eles possam ter.
Polibio – Eu acho que vou me auto declarar índio e vou reivindicar umas terras.
Heinze – Parte desses processos é o seguinte: eles querem formar novas tribos, porque ai eu sou o cacique,
você é cacique no outro, cada um é cacique. Isso estou vendo no RS. Eu estive em Rondônia. Lá é diamante.
As maiores reservas de diamante do mundo estão no Brasil. Lá, os índios Sinta Larga que dominam isso. Eu
estive numa comissão especial na Câmara dos Deputados, e lá em Rondônia os índios estão utilizando
diamantes e vendendo para grandes empresas internacionais. É um roubo declarado de fortunas. O Brasil
está perdendo com isso. Fui lá, e lá foi-me denunciado que tinha mais de 100 pequenos garimpeiros que
tiravam diamante de picareta. O cara ia lá, tirava um diamante hoje, outro amanhã para sobreviver, trabalhar
de dia para comer de noite. Os caras chegavam lá e matavam estes índios, esses brancos que estavam lá. E,
contrário disso, lá tem dragas, poclains, o cara tirando diamante dia e noite, tudo saindo de dentro da reserva
indígena. Lá é roubo de diamante. Tem várias situações. Nós falamos aqui em agricultura, que é o que nós
conhecemos no RS, lá em Rondônia eu vi essa questão do diamante.
Polibio – Em que pé está isso, foram suspensas as demarcações?
Heinze – Não. Existe uma pressão do Ministério Público que estão cobrando estas demarcações em qualquer
parte do Brasil. O que nós estamos fazendo: pressionando, nós temos que mudar a legislação, porque é uma
questão de interpretação. A Constituição de 88 é clara, diz assim “as terras que estão sendo ocupadas, seja
quilombola ou seja índio, não tem problema”, e ninguém discute isso. Agora, tem um termo, que ai os
juristas fazem :”terra tradicionalmente ocupada”, no tradicionalmente o laudo antropológico remonta a 1500.
No prédio em que nós estamos, aqui, se disserem que aqui é uma área, mandam desmanchar. Pode parecer
piada, mas Suiá Missu, no Mato Grosso, quase 7 mil pessoas, quase 2 mil famílias, 700 ou 800 crianças
estudando, desmancharam a cidadezinha. O governador do Mato Grosso ofereceu os 170 mil hectares, “não
me interessa outros 170 mil, eu quero estes aqui”. Desmancharam escola, igreja, padaria, casa, tudo
desmanchado. Demoliram, 700 propriedades rurais.
Leandro – Acho que o caso mais emblemático foi o da Raposa Serra do Sol.
Heinze – Lá eu também participei. Nós fizemos parte de uma comissão externa. Lá nós vimos os índios não
querendo – isso é um absurdo – os índios vieram depor conosco, porque eu fui lá – pra vocês entenderem, eu
planto arroz em São Borja, eu vi lavoura de arroz, colhendo lavoura de arroz, quando eu estive lá,
preparando terra para arroz e arroz em flor, você faz 3 safras por ano, você planta 200 hectares e pode
plantar 600 porque são 3 safras por ano. Soja, você planta lá em Roraima quando planta nos EUA, é um
outro hemisfério, o clima é igual o da Flórida nos EUA. Você pode produzir fruta, soja, arroz, pecuária, o
que quiser, tem terras boas, água e florestas, fora as reservas minerais. – então, essa é o interesse deles 1
milhão e 770 mil hectares, o que nós queríamos: deixa 10% para os produtores, inclusive um gaúcho que
hoje é deputado federal, o Quartier, formado em Passo Fundo e foi lá pra cima. Botaram agricultura porque
não existia nada lá e tiveram que entregar estas terras todas. O que os índios nos denunciaram: quando os
brancos estavam aqui, nós tínhamos trabalho, nós tínhamos onde roubar e tinha o que comer. Hoje os caras
dão 1 milhão 770 mil hectares, estão passando fome e morrendo da chamada Béribéri, que é fome. Morrem
de fome em 1 milhão e 770 mil hectares. Eles não sabem produzir nada e não produzem nada. Enquanto
tinha o branco eles roubavam gado, trabalhavam, iam fazer alguma coisa, eles nos disseram isso.
Polibio – Resumindo: temos hoje a situação que o Senhor acaba de descrever, as demarcações continuam e a
única maneira de impedir que isso prossiga é a elaboração e aprovação de uma nova legislação que coíba
isso, é isso?
Heinze – É isso. Nós temos a tal da PEC 215 que é de autoria do Aldo Rebello e do deputado gaúcho Ibsen
Pinheiro que traz para o Congresso Nacional também deliberar. Como funciona hoje: a Funai faz todo o
processo, ela analisa, vai para o Ministério da Justiça, Casa Civil e Presidente da República. Ficam 2 ou 3
anos fazendo o trabalho todo. Ai o produtor tem 90 dias para se defender. Nem ele sabe que o processo está
andando, quando você sabe, tem 90 dias para se defender. O caso de Sanaduva e Cacique Doble, o Passo
Grande da Forquilha, quando os produtores foram conosco e com a Senadora Ana Amélia numa audiência
com o Ministro da Justiça, final de 2011, ficaram sabendo que “eu vou assinar a portaria de demarcação”,
“sim, mas eu não sei nada” dito pelo vice-prefeito e pelos produtores que estavam conosco lá. “Então, o
Senhor nos dá um tempo”. Eles vieram para Sananduva, contrataram advogado, antropólogo, historiador.
Sabe quanto custou pra eles? 57 mil sacas de soja para se defender do que é deles. Esse é o maior absurdo
que pode acontecer e está acontecendo no Brasil. Eles estão pagando hoje, se você tem 10 hectares Polibio,
30 sacos de soja, “o senhor me deve 300 sacos de soja para pagar em 10 anos”. O Rushel aqui, é 20 hectares,
600 sacos de soja para pagar em 10 anos”, O Alexandre, “30 hectares, o senhor me deve 900 sacos de soja”.
Veja, pequenos agricultores que tiram para comer Polibio. Estão contratando assessoria para se defender do
que é deles, isso é um absurdo.
Polibio – Nós sabemos que há uma enorme complexidade sobre tudo isso que acabou de falar o Deputado
Heinze a respeito da demarcação das terras indígenas. Então, resumindo, essa desordem prossegue na
demarcação de terras indígenas e a única maneira de coibir isso é a aprovação de uma nova legislação,
eliminando obstáculos. Queria falar um pouco sobre outro contencioso que são a demarcação de terras dos
quilombolas, ou seja, dos descendentes dos escravos.
Leandro – Tem uma tese muito interessante no livro que fez muito sucesso, e agora está na terceira edição,
que é o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch: como nós podemos
defender os quilombos se nos quilombos existiam escravos. A tese que ele coloca, e ele coloca com várias
evidências é: os líderes dos quilombolas que fugiam da fazenda que tinham escravos e tudo o mais, esses
líderes dos quilombos tinham escravos, eles mesmo. Então, como nós podemos utilizar o quilombo com o
argumento de que era uma terra de escravos que fugiram se os líderes desses quilombos tinham escravos?
Polibio – Você não está querendo dizer que o Zumbi tinha escravo?
Leandro – Tinha. O livro tem mais provas para dizer que o Zumbi tinha dezenas de escravos.
Stormer – Era um dos maiores senhor de escravos da região.
Polibio – Então, estas terras dos descendentes dos escravos que estão nos quilombos, podem ser entregues a
eles, mas eles correm o risco de que os escravos deles reivindiquem essas terras para eles. E ai Deputado,
como é isso? Continua essa demarcação?
Heinze – Continua. Aqui no RS eu já cataloguei 75 processos de áreas de quilombos. Eu tenho 30 de terras
indígenas, 100 mil hectares, e tenho 75 de áreas de quilombos com aproximadamente 50 mil hectares. Nós
temos na região do Morro Alto, para quem vai a Osório, Maquiné, ali é um absurdo, 4 mil e poucos hectares
tem quase mil famílias que estão propensas a perder as suas propriedades. Tem casas com mais de 100 anos,
com escritura, 3ª, 4ª geração em cima da terra. O que eles dizem? Também na interpretação, um laudo
antropológico, ele, autodenomina como comunidade quilombola e ai quem está em cima da terra perde o seu
direito.
Polibio – Já aconteceu algum caso específico assim?
Heinze – Lá em Restinga Seca, o então presidente Lula desapropriou duas áreas. Uma de 69 hectares, está
em torno de 120 ou 130 hectares duas áreas lá.
Polibio – Já está de posse dos quilombolas?
Heinze – Uma parte sim, que já estão pagando, um produtor se rebelou e um estão na justiça ainda. Eu
mesmo entrei com um projeto tentando anular aquela demarcação. Uma área maior, sabe de quem era? De
um negro. O Adriano, 23 hectares, ali em Restinga Seca, ele acabou vendendo, 74 anos de idade. Ele deveria
ter recebido 2 ou 3 hectares, cresceu, trabalhou...
Polibio – Quer dizer, para entregar as terras dos quilombolas, tiraram as terras de um negro que não era
quilombola?
Heinze – Ele é da mesma família, ele foi trabalhando, plantava arroz, plantava fumo, tinha vaca de leite.
Trabalhava e cresceu. Um dia eu chego numa reunião lá e está o Adriano com um tratorzinho. Outra senhora
também com os filhos que trabalham ali. Naquele caso perdeu a terra e foi para a cidade. Amanhã, mora na
cidade e não sei o que vai acontecer com eles.
Leandro – Nós temos também um problema urbano, porque nós temos aqui uma operação do mercado
imobiliário e existem projetos que são embargados por conta de quilombolas. Dentro da cidade de Porto
Alegre.
Heinze – Essas áreas que eu tenho catalogadas, tem urbanas também, aqui em Porto Alegre tem. O que
fomos discutir ontem com a Ministra Rosa Weber, no final da tarde ela recebeu um grupo de parlamentares,
e tem já um julgamento, uma ação de inconstitucionalidade. O que diz a Constituição? Se eles estavam em
cima das terras em 1988, não se discute. Agora, tomar a terra, seja na zona urbana ou rural, onde não tinha,
porque o laudo diz que ali era um quilombo, ai que está a diferença. Esse julgamento do Supremo, no último
voto, a Ministra Rosa Weber pediu vistas do processo. Então, nós fomos colocar pra ela: Ministra, por favor,
o que nós queremos é que a Senhora – a partir de 88, quem estiver ocupando as terras é dono, é o caso de
Mostardas, ninguém discute, é deles – agora tomar terra como no Morro Alto, ou em Rio Pardo, ou em
Caçapava, ou em Restinga Seca, em qualquer lugar, aqui em Porto Alegre, ai é um absurdo. Nós queremos
fixar um marco temporal, porque é o marco da Constituição.
Leandro – Mas como funciona: se há a alegação de que era quilombo ali, quem é hoje proprietário, quem
fica com a terra a partir de agora?
Heinze – A partir de agora os descendentes. Lá em Bagé...
Leandro – Mas como se prova isso?
Heinze – Não se prova, o laudo antropológico que é a lei. Ele está acima do direito de propriedade. Nós
temos no caso do Mato Castelhano 1876, não vale nada essa escritura. 3ª, 4ª geração. O direito de
propriedade nesse caso não vale porque o laudo antropológico está acima da lei. Isso vale também para a
questão quilombola.
Leandro – Isso parece ser claramente inconstitucional.
Heinze – Não é porque eles dizem isso. Ontem, por exemplo, conversando com o Toffoli, hoje ministro e
era advogado geral da União. Eu e o deputado Collato de SC – tinha também problemas em SC – várias
vezes viemos com ele, e ele concorda que o marco temporal tem que ser respeitado. Quem está em cima da
terra em 88, tudo bem. O que nós estamos trabalhando hoje é isso ai.
Polibio – O caso dos indígenas está sendo trabalhado dentro do próprio Congresso, através da aprovação de
uma nova lei que regule isso. O caso dos quilombolas está mais dentro do Supremo no momento.
Heinze – Está no Supremo porque o Ministro Pelluzo já deu o seu voto, que ele é o relator da matéria e a
Ministra Rosa Weber pediu vistas do processo. Ontem nós pedimos: “Ministra, você está a um ano e meio
com este processo, libera isso ai”. E já trabalhando com o Joaquim Barbosa para botar esta matéria em
votação. Certamente, o que nós vamos conseguir é acertar isso.
Polibio – A tendência que o senhor imagina dentro do Congresso hoje é que apareça um Celso de Mello ou
não?
Heinze – Acho que não.
Stormer – Esse pedido de vistas, geralmente viram pedidos de vistas cansadas. Fica tanto tempo olhando,
olhando, olhando que chega a cansar.
Heinze – Ela nos explicou ontem. Naquele dia desta votação, quando ela tinha que proferir o voto dela,
faltavam 10 minutos para a posse da Ministra Carmen Lúcia no STF. Ai pediu vistas, só que não retomou o
processo. Nós pedimos: “dê o seu voto, por favor, nós precisamos votar essa matéria para resolver um
impasse.
Polibio – E perceberam a tendência dela?
Heinze – A tendência acho que é ficar com esse 88. Vejam os absurdos que acontecem: a Fundação Zumbi
dos Palmares catalogou 5500 processos no Brasil, 25 milhões de hectares, urbanos e rurais, acontecem com
índio e acontecem também com quilombo. Então, é Fundação Zumbi dos Palmares e Incra, outra é Funai e
Ministério da Justiça e ali gestam-se as ideias de alguém. Se eu prometi isso em campanha, amanhã eu tenho
que cumprir o que eu prometi ontem em campanha. É a ideologia de alguns, prometi e tenho que fazer
cumprir. Existem pessoas, famílias, em cima da questão indígena, ou da questão quilombola – é o que disse
aos dois Bispos num pronunciamento que fiz, um do Pará e outro do Maranhão – “o seu rebanho? Esse povo
também é do seu rebanho, esses produtores, essas famílias, também fazem parte do rebanho da igreja”, não é
só o índio, o excluído, o quilombola, essas pessoas também fazem parte e estão hoje sendo penalizadas no
processo.
Polibio – Vamos conversar sobre coisas melhores, modernas, coisas que nos honram, que é essa moderna
agricultura e pecuária empresarial brasileira que estão garantindo essa produção nacional de alimentos.
Vamos falar sobre a área de mercado de ações, porque muitas dessas grandes empresas agropecuárias estão
com ações sendo negociadas em bolsa.
Leandro – Na verdade, o que a gente vê como uma tendência mundial: como existiu a crise de 2008 e o
sistema quase quebrou, só não quebrou porque houve uma grande interferência dos Bancos Centrais para
injetar liquidez na economia. Acaba acontecendo a inflação de comodities. Você consegue imprimir dólares,
mas não consegue imprimir milho. Automaticamente há uma correção, o próprio petróleo é um comoditie
muito valorizado, há uma correção natural do preço desses comodities e é uma tendência que a gente
percebe como duradoura. Existe limitação de produção. Este movimento de aumentar a liquidez, que é a
velha impressora de dinheiro, não deve ser parada. Ontem tivemos uma reunião aqui, tinha a possibilidade
de diminuir o ritmo de impressão de dinheiro e não foi diminuído este ritmo. Então, deve continuar forte
essa tendência de pressão em cima das comodities. O Brasil, nós não somos destaque em muitos aspectos,
mas nós somos destaque em produção agrícola. Nós precisamos deixar isso de uma forma incentivada, nós
precisamos proteger, porque isso traz divisas para o país, gera riqueza. Neste ponto nós somos mais
competitivos que outros pontos. Esse é um aspecto muito importante, não só para a bolsa, mas para a
economia como um todo.
Polibio – Houve uma mudança no paradigma da produção agropecuária no Brasil que, de uns tempos para
cá, se tornou bastante empresarial. É ela que está garantindo esse aumento extraordinário da produção e da
produtividade, ou estou enganado?
Heinze – As crises fizeram com que o agricultor evoluísse. Eu planto arroz, que é uma cultura de mercado
interno, sofre uma concorrência do Mercosul, mas o pessoal evoluiu muito.
Polibio – Está se referindo só ao RS, ou de outras regiões, porque aqui tem que ter tecnologia, senão não
produz arroz.
Heinze – Quase 70% da produção do arroz do Brasil está aqui. Com SC, você tem 75% do arroz do Brasil
nestes dois estados.
Polibio – Porque é irrigado.
Heinze – É irrigado, essa é a garantia que nós temos. A evolução do produtor, de maneira geral, pega o soja,
o arroz, o trigo, o milho, o boi, frango nem se fala, suíno também. O fumo é outra comoditie que a produção
do Brasil é invejável. A evolução da produção, hoje, através da tecnologia. Temos a Embrapa, um grande
órgão de pesquisa. Os órgãos de pesquisa estaduais hoje estão muito fracos, tem pouco recurso, mas tem
também a iniciativa privada. Isso faz ter essa produção fantástica de hoje.
Polibio – Agora, tem muita empresa mesmo que entrou. A SLC, por exemplo, eram produtores rurais, são
donos de produtos de máquinas e ferramentas gerais. Hoje acho que é a maior empresa brasileira da
agropecuária.
Heinze – Não sei, talvez o grupo familiar Maggi.
Polibio – Mas também empresarial ou só produtores?
Heinze – São produtores.
Polibio – Mas empresas como a SLC tem muitas, ou não?
Heinze – Tem grandes empresas hoje no Centro-oeste do país.
Polibio – São eles que puxam?
Heinze – Eles, mas os outros é que vão atrás.
Polibio – Estrangeiro tem muito?
Heinze – Tem. Estão chegando empresas estrangeiras, comprando terras, fazendo lavouras no Centro-oeste
do Brasil, porque as terras que nós temos, o clima que nós temos hoje são muito propícios para a produção.
Essa nova tecnologia foi implantada no serrado brasileiro. O plantio direto é uma grande inovação que nós
tivemos. Essa evolução que tivemos na agricultura brasileira está fazendo hoje esta fábula da nossa
produção. Isso assusta o mundo. Assusta os nossos concorrentes lá fora.
Polibio – Acho que o que importa mesmo são estas empresas que têm a cotação em bolsa né Leandro?
Leandro – Na verdade interessa como um todo.
Polibio – Tem muitas empresas dessa área em bolsa?
Leandro – Nós temos as empresas que trabalham com alimentos, direta e indiretamente. Nós não temos
aqui no Brasil uma cultura de empresas que fazem a produção primária. O que temos mesmo é como a
Brasil Foods que processam carne, aves, tem JBS. Temos somente isso, não temos grandes produtores de
soja em bolsa, isso não temos ainda hoje.
Stormer – Isso é uma coisa que chama a atenção. Na década assada, nós podemos dizer que quem puxou
muito o mercado brasileiro de ações foi o setor de siderurgia – siderurgia nacional, Usiminas, Gerdau. Esse
era o setor forte da economia brasileira e da Bovespa de uma maneira geral. Se eu precisasse observar algum
possível setor para ser o carro chefe da bolsa no futuro, na próxima década, eu consideraria fortemente o
setor de alimentação. Brasil Foods, Media3, JBS...
Polibio – Nos EUA, que têm as maiores bolsas do mundo, como se comportam estas empresas de
alimentos?
Stormer – O cenário é diferente porque eles têm uma crise econômica.
Leandro – O mercado que é muito mais forte lá é o mercado direto de negociação de comodities. Ai é
futuro de trigo, futuro de soja, futuro de suco de laranja, de carne de gado.
Polibio – Mas isso ai já é a bolsa de mercadorias.
Leandro – Sim, mas são muitas pessoas, muitos traders individuais que investem neste tipo de contrato
também. Lá, diferentemente do Brasil, infelizmente a gente não tem tanta liquidez nestes contratos, até é
algo que a gente tenta fomentar no mercado, porque seria muito produtivo, tanto para o produtor, quanto
para o mercado. Mas o mercado americana tem mais presença direta pelos contratos futuros de comodities.
Stormer – A maior parte dos produtores aqui no Brasil, quando ele precisa defender alguma coisa da sua
produção, trabalha lá em Chicago, não trabalha aqui. As negociações com milho, com soja, são todas feitas
lá fora, não são feitas aqui no mercado por falta de liquidez.
Leandro – Um dos comodities agrícolas que talvez seja o mais negociado é o café.
Heinze – Aqui tem um grande mercado que poderia ser explorado.
Leandro – Talvez a bolsa precisasse trabalhar mais porque tem um grande filão.
Polibio – Agora vamos conversar sobre infraestrutura e o Leandro tem uma provocação política.
Leandro – Não é nem uma provocação. Tem uma pergunta aqui que é quase um tratado, mas a tese é a
seguinte, e eu entendo a preocupação dele, a gente tem discutido isso com vários convidados aqui. É o
seguinte: nós sabemos que nós temos aqui na América Latina, uma guinada à esquerda, vários países
dominados por partidos esquerdistas, alguns mais radicais, outros menos radicais, como mais radicais temos
o exemplo da Venezuela. Tem o caso da Argentina que está numa situação muito ruim, inclusive os
produtores lá estão sofrendo muito, produtores rurais. A pergunta é a seguinte: até onde essa guinada à
esquerda pode ir? No seguinte sentido: nós temos hoje, no mercado, uma perda de confiança nas instituições
e no governo brasileiro. Ontem tivemos uma decisão do supremo que foi muito ruim para a credibilidade do
Supremo. Tivemos várias decisões do próprio Congresso, que minam a confiança do público, do
empresariado e do investidor em relação ao Brasil. Até que ponto pode chegar essa mudança política? Será
que há no Brasil espaço para uma situação como a Venezuela, ou como a Argentina ou não, nós temos
instituições fortes, nós somos um país muito maior e vamos conseguir passar por essa fase?
Heinze – A nossa preocupação hoje, é importante explicar para o telespectador que normalmente não
participa do processo político, eu sou um engenheiro agrônomo, eu sou um produtor rural, virei prefeito e
deputado. Nunca tive opção política. Não fui vereador, nem deputado estadual, estou no 4° mandato de
deputado federal. Vejo as lutas que a gente trava em Brasília, as lutas para que a sociedade acredite em
alguém, num momento que a classe política está tão desmoralizada. Tem que ter alguém, do nosso meio. Eu
sou empresário, lido com gado, lavoura, não sou um político profissional. A sociedade tem que participar do
processo, senão você vai ser engolido e varrido pelo processo. O grande empresário tem que participar do
processo político, porque depois você não tem como se queixar. Essa decisão do Supremo, o que nos
preocupa hoje? A votação dos Ministros é claramente uma questão ideológica, em cima da votação neste
caso ai. Não vou discutir o voto. Tem condições de ele votar a favor ou contra, mas desempatou essa questão
ontem. Isso é ruim. A sociedade brasileira passa a não acreditar na justiça, que tem esse problema hoje. Ali,
claramente, essa caso desse tipo de votação. Eu já tinha medo na votação do ano passado, da condenação. Eu
não acreditava, mas daqui há pouco Joaquim Barbosa votou, Rosa Weber votou, e agora? Agora deu 6 a 5.
Isso se arrasta mais um ano para começar a discutir, pode escrever, não vai dar em nada. Tem gente que vai
acabar não sendo preso. Isso é ruim para a sociedade.
Leandro – Passa a ideia de que você pode cometer qualquer crime e não é punido.
Heinze – Agora o miserável, o pequeno, o tal de ladrão de galinha, esse cara amanhã vai para a cadeia. Ai
não tem embargo infringente para ele.
Leandro – Acharam um no Nordeste que estava 20 anos preso e já deveria ter sido solto.
Heinze – Quanto custa para manter estas ações lá? Pega a moça lá que era secretária do Lula, vai ver a
banca de advogados dela, como pode bancar um advogado desse jeito? Isso é preocupante. Depois vão para
o Congresso Nacional, Câmara e Senado Federal, a pressão, a força do governo em cima, olha a votação dos
10% do FGTS agora, que nós votamos, perdemos no Senado por um voto. É mais fácil deserdar 30 ou 40
Senadores do que 200 deputados. E acertaram. Esse tipo de toma lá dá cá, a gente está vendo todo santo dia
lá no Congresso Nacional.
Polibio – O Senhor não é otimista então?
Heinze – Não, eu estou preocupado com isso.
Leandro – Essa questão que foi colocada aqui da demarcação de terras indígenas e quilombolas, isso não sai
na mídia, é raro. As pessoas não sabem disso.
Polibio – A pergunta feita é a seguinte: de um ponto de vista muito realista, das informações que o Senhor
dispõe, o Senhor acha que existem hoje forças políticas dentro do Brasil, capazes de impedir que prossiga
este processo de “cubanização”?
Heinze – Eu fiquei satisfeito, eu tinha dificuldade de imaginar um quadro diferente no ano que vem nas
eleições presidenciais. Com os movimentos das ruas, isso me animou, foi um fato diferente.
Polibio – Mas acabou.
Heinze – Eu sei e essa é minha preocupação. Achei que teria um movimento ontem lá. Eu cheguei às 6h na
frente do Supremo e não tinha ninguém lá.
Polibio – Não, tinham 6 pessoas.
Heinze – Sim, mas ninguém protestando. Com essas questões se desmoraliza o Congresso, o Judiciário
amordaçado, eu vou acreditar em quem?
Leandro – É essa a questão que é colocada: você ter uma coalizão de esquerda através de uma entidade que
diz “olha, aqui vocês estão falando da mídia, mas não aparece, por exemplo, que é fora de São Paulo, que é
uma instituição que agrega os partidos de esquerda com o objetivo de tomar o poder, que faz as vezes dessa
cubanização”.
Heinze – A preocupação é essa e nós teremos eleições para governadores o ano que vem e para presidente
também o ano que vem.
Polibio – A saída, num curto prazo, seria a eleição do ano que vem?
Heinze – A eleição do ano que vem. É importante que a sociedade se mobilize. Quem foi pra rua?
Empresários, professores, estudantes, mostrar a insatisfação. Essa insatisfação tem que vir contra os
políticos, contra quem quer que seja. Manter a pressão, com pressão as coisas até acontecem melhor, no
Executivo e no próprio Legislativo.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Entrevista Luiz Carlos Heinze

O ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1
O  ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1O  ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1
O ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1Albert Hartman
 
Porque os paises pobres sao pobres
Porque os paises pobres sao pobresPorque os paises pobres sao pobres
Porque os paises pobres sao pobresOracy Filho
 
Porque os paises são diferentes
Porque os paises são diferentesPorque os paises são diferentes
Porque os paises são diferentesMarcoPolo Siebra
 
Porque os paises_sao_diferentes
Porque os paises_sao_diferentesPorque os paises_sao_diferentes
Porque os paises_sao_diferentesWilson Barbieri
 
Porque os Países são diferentes
Porque os Países são diferentesPorque os Países são diferentes
Porque os Países são diferentesLuiz Leoneza
 
Porque os países são diferentes
Porque os países são diferentesPorque os países são diferentes
Porque os países são diferentesLucio Borges
 
Entrevista com nelson proença
Entrevista com nelson proençaEntrevista com nelson proença
Entrevista com nelson proençaPolibio Braga
 
III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)
 III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)  III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)
III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB) DRI-UFPB
 
A Evolução do Setor Agrícola
A Evolução do Setor AgrícolaA Evolução do Setor Agrícola
A Evolução do Setor AgrícolaJosevani Tocchetto
 
2009 prova, analítico, junho
2009 prova, analítico, junho2009 prova, analítico, junho
2009 prova, analítico, junhoAndre Somar
 

Semelhante a Entrevista Luiz Carlos Heinze (20)

Ed50agosto10
Ed50agosto10Ed50agosto10
Ed50agosto10
 
1964 colonos chegando
1964   colonos chegando1964   colonos chegando
1964 colonos chegando
 
O ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1
O  ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1O  ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1
O ↑ and ↓ com brasil rev5 ed1
 
Porque os paises pobres sao pobres
Porque os paises pobres sao pobresPorque os paises pobres sao pobres
Porque os paises pobres sao pobres
 
Brasil
BrasilBrasil
Brasil
 
Porque os paises são diferentes
Porque os paises são diferentesPorque os paises são diferentes
Porque os paises são diferentes
 
Porque os paises_sao_diferentes
Porque os paises_sao_diferentesPorque os paises_sao_diferentes
Porque os paises_sao_diferentes
 
Porque os Países são diferentes
Porque os Países são diferentesPorque os Países são diferentes
Porque os Países são diferentes
 
Porque os países são diferentes
Porque os países são diferentesPorque os países são diferentes
Porque os países são diferentes
 
Porque somos pobres
Porque somos pobresPorque somos pobres
Porque somos pobres
 
Slides sobreo brasil
Slides   sobreo brasilSlides   sobreo brasil
Slides sobreo brasil
 
Agronegocio.pptx
Agronegocio.pptxAgronegocio.pptx
Agronegocio.pptx
 
Entrevista com nelson proença
Entrevista com nelson proençaEntrevista com nelson proença
Entrevista com nelson proença
 
III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)
 III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)  III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)
III SARI-UFPB - 07/05/2014 - Prof. Thiago Lima (DRI-UFPB)
 
A Evolução do Setor Agrícola
A Evolução do Setor AgrícolaA Evolução do Setor Agrícola
A Evolução do Setor Agrícola
 
2009 prova, analítico, junho
2009 prova, analítico, junho2009 prova, analítico, junho
2009 prova, analítico, junho
 
Geo30
Geo30Geo30
Geo30
 
Atitude(portugal)
Atitude(portugal)Atitude(portugal)
Atitude(portugal)
 
Ed64outubro11
Ed64outubro11Ed64outubro11
Ed64outubro11
 
Brasil
BrasilBrasil
Brasil
 

Mais de Polibio Braga

Programas de ajuste fiscal
Programas de ajuste fiscalProgramas de ajuste fiscal
Programas de ajuste fiscalPolibio Braga
 
Continuação da reportagem da revista época
Continuação da reportagem da revista épocaContinuação da reportagem da revista época
Continuação da reportagem da revista épocaPolibio Braga
 
9 jornal o sul 27 03 14 operações das polícias matam cinco pessoas por dia
9 jornal o sul 27 03 14    operações das polícias matam cinco pessoas por dia9 jornal o sul 27 03 14    operações das polícias matam cinco pessoas por dia
9 jornal o sul 27 03 14 operações das polícias matam cinco pessoas por diaPolibio Braga
 
Capítulo 27 a entrevista suburbana da mpf
Capítulo 27   a entrevista suburbana da mpfCapítulo 27   a entrevista suburbana da mpf
Capítulo 27 a entrevista suburbana da mpfPolibio Braga
 
Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...
Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...
Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...Polibio Braga
 
Relatóriofinalc pi 2-1
Relatóriofinalc pi   2-1Relatóriofinalc pi   2-1
Relatóriofinalc pi 2-1Polibio Braga
 
Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013Polibio Braga
 
Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013Polibio Braga
 
Proposta de emenda à constituição
Proposta de emenda à constituiçãoProposta de emenda à constituição
Proposta de emenda à constituiçãoPolibio Braga
 
06 de março de 2014
06 de março de 201406 de março de 2014
06 de março de 2014Polibio Braga
 
Declaração conjunta sobre a venezuela
Declaração conjunta sobre a venezuelaDeclaração conjunta sobre a venezuela
Declaração conjunta sobre a venezuelaPolibio Braga
 
Atualmente mais de 70
Atualmente mais de 70Atualmente mais de 70
Atualmente mais de 70Polibio Braga
 
Parecer aprovado na ccj pec 33 de 2012
Parecer aprovado na ccj   pec 33 de 2012Parecer aprovado na ccj   pec 33 de 2012
Parecer aprovado na ccj pec 33 de 2012Polibio Braga
 
Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01
Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01
Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01Polibio Braga
 

Mais de Polibio Braga (20)

Programas de ajuste fiscal
Programas de ajuste fiscalProgramas de ajuste fiscal
Programas de ajuste fiscal
 
Continuação da reportagem da revista época
Continuação da reportagem da revista épocaContinuação da reportagem da revista época
Continuação da reportagem da revista época
 
9 jornal o sul 27 03 14 operações das polícias matam cinco pessoas por dia
9 jornal o sul 27 03 14    operações das polícias matam cinco pessoas por dia9 jornal o sul 27 03 14    operações das polícias matam cinco pessoas por dia
9 jornal o sul 27 03 14 operações das polícias matam cinco pessoas por dia
 
Capítulo 27 a entrevista suburbana da mpf
Capítulo 27   a entrevista suburbana da mpfCapítulo 27   a entrevista suburbana da mpf
Capítulo 27 a entrevista suburbana da mpf
 
Deputado
Deputado Deputado
Deputado
 
Edital brde
Edital brdeEdital brde
Edital brde
 
Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...
Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...
Deputado osmar terra e médico ronaldo laranjeira lideram manifesto contra a l...
 
Mensagem para 2014
Mensagem para 2014Mensagem para 2014
Mensagem para 2014
 
Relatóriofinalc pi 2-1
Relatóriofinalc pi   2-1Relatóriofinalc pi   2-1
Relatóriofinalc pi 2-1
 
Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013
 
Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013Cp 64o artigo pib 2013
Cp 64o artigo pib 2013
 
Proposta de emenda à constituição
Proposta de emenda à constituiçãoProposta de emenda à constituição
Proposta de emenda à constituição
 
06 de março de 2014
06 de março de 201406 de março de 2014
06 de março de 2014
 
Vivemos
VivemosVivemos
Vivemos
 
Vivemos
VivemosVivemos
Vivemos
 
Declaração conjunta sobre a venezuela
Declaração conjunta sobre a venezuelaDeclaração conjunta sobre a venezuela
Declaração conjunta sobre a venezuela
 
Sartori
SartoriSartori
Sartori
 
Atualmente mais de 70
Atualmente mais de 70Atualmente mais de 70
Atualmente mais de 70
 
Parecer aprovado na ccj pec 33 de 2012
Parecer aprovado na ccj   pec 33 de 2012Parecer aprovado na ccj   pec 33 de 2012
Parecer aprovado na ccj pec 33 de 2012
 
Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01
Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01
Redeeltricapisca 140221134406-phpapp01
 

Entrevista Luiz Carlos Heinze

  • 1. ENTREVISTA LUIZ CARLOS HEINZE Polibio – Nós vamos ouvir esta semana o Deputado Luis Carlos Heinze que é do PP e Presidente da Frente Parlamentar Agropecuária da Câmara dos Deputados. Gaúcho de São Borja. Vamos conversar sobre um setor que nos interessa muito no RS, que tem uma economia muito presa ao que acontece no campo. Embora o setor agropecuário represente apenas 9% na formação do PIB no estado, ele acaba repercutindo sobre os demais setores da economia e no complexo agro business. Ou seja, o que se produz na agricultura e na pecuária, mais o que industrializa e o que comercializa, dá algo em torno de 45% do PIB. O Brasil se tornou um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, mas estamos regredindo para a idade do Brasil colônia, estamos exportando tudo que é comodities e pouca coisa industrializada. Vamos começar pelas safras agrícolas e a produção agropecuária do Brasil. No verão passado tivemos a segunda melhor safra do RS e uma das melhores do Brasil. Como o presidente da Frente Parlamentar vê esse desenho atual, é motivo de animação? Heinze – O agro negócio é um setor que está dando certo. Apesar de estarmos exportando comodities, alguns poucos produtos industrializados, mas o resultado da balança comercial brasileira se deve basicamente ao agro negócio. Agricultura, pecuária, produção de carnes, grãos, frutas, láteos, que o Brasil está produzindo. Esse é um momento extremamente importante para a economia e o mercado internacional está puxando os preços. Aquilo que representa o mercado internacional, a soja por exemplo, o próprio trigo hoje, a situação do milho, são puxados pelo mercado internacional. As carnes, frango, suíno, boi, que nós temos hoje são puxadas pelo alto preço do mercado internacional. Estamos vivendo um bom momento, de boas safras, diferente do ano passado em que nós sofremos bastante aqui no RS, também isso vale para o estado. Pega as notícias da imprensa que mostram que a economia do RS, o PIB cresceu em função da safra de soja e do preço da soja, que nós comercializamos agora, neste ano de 2013. É um bom ano, a agricultura vai bem, em função do mercado. O mercado está fazendo com que essa nossa agricultura possa ter essa perspectiva positiva neste momento. Polibio – A projeção daqui para frente é manter este nível de produção, é expandir muito? As nossas fronteiras agrícolas permitem que se possa produzir mais sem aumentar a produtividade, por exemplo? Qual é a projeção que vocês têm na Frente Parlamentar? Heinze – No Brasil, nós temos hoje em torno de 330, 340 milhões de hectares utilizados com agricultura e com pecuária, produção geral. O Brasil é uma das últimas fronteiras agrícolas do mundo. Se pagarmos ainda áreas de serrados que nós temos, nós podemos chegar a mais 100 milhões de hectares. Além de aumentarmos a produção e a produtividade nas áreas já utilizadas hoje, nós ainda podemos aumentar as áreas plantadas. Poucos países do mundo têm esta possibilidade. A Ásia, a China não têm áreas, novas fronteiras agrícolas, no Brasil nós temos. Nós fomos muito combatidos na questão do código florestal e outro assunto também, que a gente pode conversar, é sobre o tal aquecimento global. No Brasil, nós podemos ampliar essa área com agricultura e termos ainda, desses mais de 8 milhões de Km² do Brasil, mantermos ainda 50% do território intacto. Não existe país no mundo que possa dizer “eu aproveito a metade do meu território e posso ainda deixar preservado o restante”. Floresta amazônica por exemplo, eu não falo em mexer na floresta amazônica, eu falo em mexer em área de serrado. Nós temos alguma coisa ainda no RS, na metade sul do RS, área de campo que nós podemos transformar, além da pecuária botarmos agricultura nesta área. Em termos de Brasil nós temos este espaço enorme. Claro que é controverso, tem gente que pensa o contrário, mas nós temos essa possibilidade de, no Brasil, ampliarmos as fronteiras agrícolas. Polibio – Sem até mexer na produtividade.
  • 2. Heinze – Ai com a produtividade, melhor ainda. Ai podemos, seguramente, ampliarmos mais. E temos ainda, nesta área explorada, em torno de 40, 50 milhões de hectares com pastagens degradadas. Isso mais no Centro-oeste do país, que nós ainda podemos mexer na produtividade nestas áreas que nós já temos, que estamos explorando hoje, nomomento. O Brasil é a bola da vez. Há uma série de pressões que nós sofremos hoje pelas concorrências. Nós temos questões ambientais que nós sofremos pressão externa, nós temos questões trabalhistas que sofremos pressão externa, esta questão indígena, quilombola, trabalho escravo, vários temas que são introduzidos para nós, isso tudo faz parte dos nossos concorrentes internacionais. Polibio – São complicadores? Heinze – Complicadores. Ai o cara “você tem que cumprir a legislação brasileira” e, daqui a pouco, em cima dessa questão, são entraves que colocam na produção brasileira. Internamente discutindo essa questão, isso, de uma certa forma, trava o desenvolvimento. Quando se fala na questão indígena hoje, e a gente está batendo muito nesse tema, não é só da agricultura. Você vê o caso de Belo Monte, é um grande investimento que o Brasil tem na área de energia que está prejudicado em cima da questão indígena. Você tem rodovias, pega a BR 101 daqui, ferrovias, hidrovias, coisas que tem um dedo diferente. Você vê que não é um entrave ambiental, mas de alguma forma colocam um entrave para que nós possamos não desenvolver. Leandro – Qual a origem desse dedo? Heinze – São os nossos concorrentes internacionais. Polibio – São países que também produzem muito e que concorrem no mercado externo conosco, é isso? Heinze – Claro. Nós somos o maior exportador de boi do mundo, nós somos o maior exportador de frango do mundo, maior exportador de soja no mundo, laranja do mundo, de fumo do mundo. De várias comodities, o Brasil é o maior exportador. Esse mercado nós tomamos de alguém, alguém era dono desse mercado. Se eles não podem concorrer em preço, eles colocam outro tipo de entrave para nós. Esse é um problema que nós temos que enfrentar, é mais um dos entraves que a produção brasileira hoje enfrenta para poder se tornar líder no mundo em termos de produção. Se nós ainda podemos aumentar a produtividade, nós ainda temos fronteiras agrícolas para explorar, é um potencial fantástico que o Brasil tem hoje em termos de produção de alimentos para o mundo. Leandro – O Alex pergunta se a África não teria uma boa quantidade de terras ainda não aproveitadas, que poderia ser uma fronteira agrícola a ser explorada. Heinze – Sim, inclusive lá tem muitos brasileiros, eles têm muito potencial. O que a África está aproveitando hoje, porque agricultura tropical começou no Brasil, o clima da Europa, dos EUA e do Canadá é um só. Polibio – Quer dizer, a tecnologia para a África nós temos. Heinze – Eles estão copiando a nossa tecnologia. Eu tive a felicidade de conhecer Normam Bourland, engenheiro agrônomo, Prêmio Nobel da Paz, quando, 5 ou 6 anos atrás, antes de falecer, em Brasília, com Aulice Paulineli também outra grande figura, que foi ministro da agricultura nosso logo depois do gaúcho Cerni Lima. Normam Bourland esteve no Brasil nos anos 70 e dizia “vocês não colhem nada nestas terras”. Ele esteve na região do centro-oeste. Ele mesmo prognosticava que nós não colheríamos nada e hoje você vê a fábula da Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí agora, Maranhão, vários estados do Norte, Nordeste e Centro –oeste com produção. Veja, eu hoje tenho que confessar que eu me enganei. Assim, esse crescimento fantástico que nós tivemos, altas produtividades e alta tecnologia no Centro-oeste e Norte do país, essa tecnologia nós podemos levar para a África. O que tem lá são terras pobres, em alguns lugares são terras
  • 3. melhores, mas grande parte são terras pobres que exigem grande quantidade de fertilizantes e adubação, mas isso você pode corrigir. Polibio – O problema da África é meio o que dizem que é o problema do Brasil, que Deus chegou aqui, desenhou esse litoral maravilhoso, a Amazônia com aquelas florestas, um paraíso na terra. Alguém chegou e perguntou “como você beneficia dessa maneira o Brasil?”, e Deus respondeu “espere até ver o povinho que vou colocar aqui dentro”. A África o problema deles é o povo que está lá dentro. Stormer – Tem uma instabilidade política muito grande na África, mas é um continente que está começando a se firmar. Leandro – Os chineses estão investindo muito lá. Heinze – Em termos de clima e de solo eles têm, o resto nós temos que fazer. Polibio – Vamos conversar sobre os nossos contenciosos, que, de alguma forma, estão criando obstáculos, não invencíveis, mas estão se colocando. Vamos começar com a questão dos quilombolas, ou dos indígenas? A demarcação de terras indígenas, em que pé está isso hoje? Aliás, vamos explicar o que é essa demarcação de terras, qual a lei e como é essa lei? Heinze – Nós temos hoje um grande problema, eu e muitos parlamentares temos enfrentado, em 15 estados da federação hoje temos problemas seríssimos com a questão de demarcação de terras indígenas. Nós temos hoje cerca de 113 milhões de hectares no Brasil de reservas indígenas. Leandro – Para quantos índios? Heinze – Nós chegamos a 800 mil índios. No RS, para se ter uma ideia do que é 113 milhões, tem 28 milhões de hectares, isso é praticamente 4 vezes o estado do RS em reservas indígenas já existentes. Parte do Ministério Público Federal, da Procuradoria Geral da República, parte da Igreja Católica, o chamado Conselho Indígena Missionário e também da Comissão Pastoral da Terra, eles querem mais em torno de 20 a 25 milhões de hectares a mais. Mais um estado do RS em reservas indígenas, além dos 113 que já tem hoje. Polibio – Esses 113 já tem índio lá? Heinze – Já tem índio. Polibio – O problema então é com esses 25 milhões novos que eles querem. Heinze – Isso mesmo. No RS, por exemplo, hoje tem 93 mil hectares de reservas indígenas no RS. Em torno de 19 mil índios. Quando a gente fala com o pessoal, eles dizem assim “não, nós temos 1,5% de reserva indígena no RS”. O que é 1,5%? Nós aumentarmos de 100 para 250 mil de hectares. Só que, nestas áreas que eles estão querendo, 100 mil hectares hoje no RS, eu já tenho catalogado 30 processos que estão correndo aqui, tem famílias em cima. Hoje tem em torno de 6 mil famílias, só no RS. Você a Mato preto, Getúlio Vargas, Erechim, Erebango, 4230 hectares, lá vão tirar 365 famílias. Na média de 12 a 13 hectares por família. Você vai ali na reserva em Passo Grande da Forquilha, em Sananduva, Cacique Doble, lá tem 1916 hectares para 180 famílias, isso é 11 hectares de média. Os índios invadiram recentemente, a mídia mostrou, invadiram a propriedade de um senhor de 70 anos de 2,7 hectares. O cara vive em cima da sua propriedade, dentro dessa área. Polibio – 2,7 hectares é o parque Germânia aqui. Heinze – esse é um problema, estou falando em RS, mas no Brasil hoje, o que querem fazer é ampliar estas áreas. Tem terras para agricultura, tem água doce em cima disso, tem florestas em cima disso e tem também
  • 4. questões de reservas minerais. Aqui no RS, só para estender um pouco esse nosso caso específico, são maquinações feitas, como a gente acompanhou no início dos anos 2000, a questão do MST. As pressões, as invasões, e o que faziam ontem o MST, hoje estão fazendo com a questão indígena. Começou este outro modelo. Saem aqui no RS, é importante que a sociedade urbana entenda isso, são gente que saem das tribos que têm hoje, no caso do Mato Preto é um absurdo, um crime. Um laudo antropológico, determinou 4230 hectares. O poder do laudo antropológico: uma antropóloga, num ritual indígena, no município de Cacique Doble, o pajé, o cacique, num determinado ritual tomou o tal do chá do Santo Daime. Ai você entra em transe, tipo maconha e outras coisas, e nesse ritual eles enxergaram 4200 hectares lá no tal do Mato Preto que é Getúlio Vargas e arredores. Isso parece piada, mas é real. Polibio – Ela alega que quando fez o laudo, ela não estava sob o efeito do chá do Santo Daime. Heinze – No laudo não, mas a tese de mestrado, ela é lá de Chapecó, SC, no laudo não, mas na tese de mestrado ela confessa isso. O laudo não diz isso, mas a tese que originou esta antropóloga diz que eles fizeram este ritual. Polibio – Você lembra do nome dela, porque está no Google isso ai. Heinze – Eu não me recordo o nome agora. Você vai lá em Mato Castelhano, dois pretensos caciques, caciques Jonathan, por exemplo, está na sétima invasão. Ele confessa, isso estou pegando de um processo da procuradoria da República de Passo Fundo. O Procurador deu briga entre os dois, eles querem 3500 hectares. Um deles diz que quer a floresta, lá em torno de 1500 hectares que foi plantada nos anos 40, em Getúlio Vargas. A floresta nacional de Passo Fundo. Ele quer explorar a madeira, e fez um cálculo que ele ganha R$ 800 mil por hectare, ele vai derrubar a madeira e já pegou nas madeireiras da região. O outro vai pegar a tese que hoje o pessoal planta soja, planta trigo e planta milho. Leandro – Não seria com objetivo nenhum em relação à atividade indígena, é a busca do lucro. Heinze – São negócios. O que eu estou denunciando. A minha denúncia, que eu já fiz à Polícia Federal e ao Ministério da Justiça, que aqui no RS os 93 mil hectares que têm de terras indígenas, eu já levantei numa comissão que eu participo na Câmara, que 33 mil hectares estão arrendados para brancos. São produtores brancos que estão plantando nestas terras arrendadas. E pior, não tem mais do que 100 pessoas que recebem este arrendamento, como se fossem os donos das terras. Tem um tal de cacique, Antônio, na reserva da Serrinha por exemplo, ele tem a família dele. 5, 6, 10 pessoas nesta tribo que recebem o arrendamento. Faça a conta: 33 mil hectares, dá 6 mil hectares de arrendamento, dá 300 mil sacas de soja, isso dá 20 milhões de reais. 20 milhões de reais, fazendo uma conta por cima, para 100, cento e poucas pessoas. O restante dos índios, e ai eu defendo os índios também, vivem miseravelmente. Eu estava com o prefeito de Serrinha e ele “nós damos bolsa família, atendemos eles com saúde, damos educação”, quer dizer “nós estamos assistindo estas pessoas e os chefes estão ganhando esta fortuna”. Carro importado, casa boa, mulher, sei lá. Tudo o que ele tem direito com o dinheiro que eles possam ter. Polibio – Eu acho que vou me auto declarar índio e vou reivindicar umas terras. Heinze – Parte desses processos é o seguinte: eles querem formar novas tribos, porque ai eu sou o cacique, você é cacique no outro, cada um é cacique. Isso estou vendo no RS. Eu estive em Rondônia. Lá é diamante. As maiores reservas de diamante do mundo estão no Brasil. Lá, os índios Sinta Larga que dominam isso. Eu estive numa comissão especial na Câmara dos Deputados, e lá em Rondônia os índios estão utilizando diamantes e vendendo para grandes empresas internacionais. É um roubo declarado de fortunas. O Brasil está perdendo com isso. Fui lá, e lá foi-me denunciado que tinha mais de 100 pequenos garimpeiros que tiravam diamante de picareta. O cara ia lá, tirava um diamante hoje, outro amanhã para sobreviver, trabalhar de dia para comer de noite. Os caras chegavam lá e matavam estes índios, esses brancos que estavam lá. E,
  • 5. contrário disso, lá tem dragas, poclains, o cara tirando diamante dia e noite, tudo saindo de dentro da reserva indígena. Lá é roubo de diamante. Tem várias situações. Nós falamos aqui em agricultura, que é o que nós conhecemos no RS, lá em Rondônia eu vi essa questão do diamante. Polibio – Em que pé está isso, foram suspensas as demarcações? Heinze – Não. Existe uma pressão do Ministério Público que estão cobrando estas demarcações em qualquer parte do Brasil. O que nós estamos fazendo: pressionando, nós temos que mudar a legislação, porque é uma questão de interpretação. A Constituição de 88 é clara, diz assim “as terras que estão sendo ocupadas, seja quilombola ou seja índio, não tem problema”, e ninguém discute isso. Agora, tem um termo, que ai os juristas fazem :”terra tradicionalmente ocupada”, no tradicionalmente o laudo antropológico remonta a 1500. No prédio em que nós estamos, aqui, se disserem que aqui é uma área, mandam desmanchar. Pode parecer piada, mas Suiá Missu, no Mato Grosso, quase 7 mil pessoas, quase 2 mil famílias, 700 ou 800 crianças estudando, desmancharam a cidadezinha. O governador do Mato Grosso ofereceu os 170 mil hectares, “não me interessa outros 170 mil, eu quero estes aqui”. Desmancharam escola, igreja, padaria, casa, tudo desmanchado. Demoliram, 700 propriedades rurais. Leandro – Acho que o caso mais emblemático foi o da Raposa Serra do Sol. Heinze – Lá eu também participei. Nós fizemos parte de uma comissão externa. Lá nós vimos os índios não querendo – isso é um absurdo – os índios vieram depor conosco, porque eu fui lá – pra vocês entenderem, eu planto arroz em São Borja, eu vi lavoura de arroz, colhendo lavoura de arroz, quando eu estive lá, preparando terra para arroz e arroz em flor, você faz 3 safras por ano, você planta 200 hectares e pode plantar 600 porque são 3 safras por ano. Soja, você planta lá em Roraima quando planta nos EUA, é um outro hemisfério, o clima é igual o da Flórida nos EUA. Você pode produzir fruta, soja, arroz, pecuária, o que quiser, tem terras boas, água e florestas, fora as reservas minerais. – então, essa é o interesse deles 1 milhão e 770 mil hectares, o que nós queríamos: deixa 10% para os produtores, inclusive um gaúcho que hoje é deputado federal, o Quartier, formado em Passo Fundo e foi lá pra cima. Botaram agricultura porque não existia nada lá e tiveram que entregar estas terras todas. O que os índios nos denunciaram: quando os brancos estavam aqui, nós tínhamos trabalho, nós tínhamos onde roubar e tinha o que comer. Hoje os caras dão 1 milhão 770 mil hectares, estão passando fome e morrendo da chamada Béribéri, que é fome. Morrem de fome em 1 milhão e 770 mil hectares. Eles não sabem produzir nada e não produzem nada. Enquanto tinha o branco eles roubavam gado, trabalhavam, iam fazer alguma coisa, eles nos disseram isso. Polibio – Resumindo: temos hoje a situação que o Senhor acaba de descrever, as demarcações continuam e a única maneira de impedir que isso prossiga é a elaboração e aprovação de uma nova legislação que coíba isso, é isso? Heinze – É isso. Nós temos a tal da PEC 215 que é de autoria do Aldo Rebello e do deputado gaúcho Ibsen Pinheiro que traz para o Congresso Nacional também deliberar. Como funciona hoje: a Funai faz todo o processo, ela analisa, vai para o Ministério da Justiça, Casa Civil e Presidente da República. Ficam 2 ou 3 anos fazendo o trabalho todo. Ai o produtor tem 90 dias para se defender. Nem ele sabe que o processo está andando, quando você sabe, tem 90 dias para se defender. O caso de Sanaduva e Cacique Doble, o Passo Grande da Forquilha, quando os produtores foram conosco e com a Senadora Ana Amélia numa audiência com o Ministro da Justiça, final de 2011, ficaram sabendo que “eu vou assinar a portaria de demarcação”, “sim, mas eu não sei nada” dito pelo vice-prefeito e pelos produtores que estavam conosco lá. “Então, o Senhor nos dá um tempo”. Eles vieram para Sananduva, contrataram advogado, antropólogo, historiador. Sabe quanto custou pra eles? 57 mil sacas de soja para se defender do que é deles. Esse é o maior absurdo que pode acontecer e está acontecendo no Brasil. Eles estão pagando hoje, se você tem 10 hectares Polibio, 30 sacos de soja, “o senhor me deve 300 sacos de soja para pagar em 10 anos”. O Rushel aqui, é 20 hectares,
  • 6. 600 sacos de soja para pagar em 10 anos”, O Alexandre, “30 hectares, o senhor me deve 900 sacos de soja”. Veja, pequenos agricultores que tiram para comer Polibio. Estão contratando assessoria para se defender do que é deles, isso é um absurdo. Polibio – Nós sabemos que há uma enorme complexidade sobre tudo isso que acabou de falar o Deputado Heinze a respeito da demarcação das terras indígenas. Então, resumindo, essa desordem prossegue na demarcação de terras indígenas e a única maneira de coibir isso é a aprovação de uma nova legislação, eliminando obstáculos. Queria falar um pouco sobre outro contencioso que são a demarcação de terras dos quilombolas, ou seja, dos descendentes dos escravos. Leandro – Tem uma tese muito interessante no livro que fez muito sucesso, e agora está na terceira edição, que é o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch: como nós podemos defender os quilombos se nos quilombos existiam escravos. A tese que ele coloca, e ele coloca com várias evidências é: os líderes dos quilombolas que fugiam da fazenda que tinham escravos e tudo o mais, esses líderes dos quilombos tinham escravos, eles mesmo. Então, como nós podemos utilizar o quilombo com o argumento de que era uma terra de escravos que fugiram se os líderes desses quilombos tinham escravos? Polibio – Você não está querendo dizer que o Zumbi tinha escravo? Leandro – Tinha. O livro tem mais provas para dizer que o Zumbi tinha dezenas de escravos. Stormer – Era um dos maiores senhor de escravos da região. Polibio – Então, estas terras dos descendentes dos escravos que estão nos quilombos, podem ser entregues a eles, mas eles correm o risco de que os escravos deles reivindiquem essas terras para eles. E ai Deputado, como é isso? Continua essa demarcação? Heinze – Continua. Aqui no RS eu já cataloguei 75 processos de áreas de quilombos. Eu tenho 30 de terras indígenas, 100 mil hectares, e tenho 75 de áreas de quilombos com aproximadamente 50 mil hectares. Nós temos na região do Morro Alto, para quem vai a Osório, Maquiné, ali é um absurdo, 4 mil e poucos hectares tem quase mil famílias que estão propensas a perder as suas propriedades. Tem casas com mais de 100 anos, com escritura, 3ª, 4ª geração em cima da terra. O que eles dizem? Também na interpretação, um laudo antropológico, ele, autodenomina como comunidade quilombola e ai quem está em cima da terra perde o seu direito. Polibio – Já aconteceu algum caso específico assim? Heinze – Lá em Restinga Seca, o então presidente Lula desapropriou duas áreas. Uma de 69 hectares, está em torno de 120 ou 130 hectares duas áreas lá. Polibio – Já está de posse dos quilombolas? Heinze – Uma parte sim, que já estão pagando, um produtor se rebelou e um estão na justiça ainda. Eu mesmo entrei com um projeto tentando anular aquela demarcação. Uma área maior, sabe de quem era? De um negro. O Adriano, 23 hectares, ali em Restinga Seca, ele acabou vendendo, 74 anos de idade. Ele deveria ter recebido 2 ou 3 hectares, cresceu, trabalhou... Polibio – Quer dizer, para entregar as terras dos quilombolas, tiraram as terras de um negro que não era quilombola? Heinze – Ele é da mesma família, ele foi trabalhando, plantava arroz, plantava fumo, tinha vaca de leite. Trabalhava e cresceu. Um dia eu chego numa reunião lá e está o Adriano com um tratorzinho. Outra senhora
  • 7. também com os filhos que trabalham ali. Naquele caso perdeu a terra e foi para a cidade. Amanhã, mora na cidade e não sei o que vai acontecer com eles. Leandro – Nós temos também um problema urbano, porque nós temos aqui uma operação do mercado imobiliário e existem projetos que são embargados por conta de quilombolas. Dentro da cidade de Porto Alegre. Heinze – Essas áreas que eu tenho catalogadas, tem urbanas também, aqui em Porto Alegre tem. O que fomos discutir ontem com a Ministra Rosa Weber, no final da tarde ela recebeu um grupo de parlamentares, e tem já um julgamento, uma ação de inconstitucionalidade. O que diz a Constituição? Se eles estavam em cima das terras em 1988, não se discute. Agora, tomar a terra, seja na zona urbana ou rural, onde não tinha, porque o laudo diz que ali era um quilombo, ai que está a diferença. Esse julgamento do Supremo, no último voto, a Ministra Rosa Weber pediu vistas do processo. Então, nós fomos colocar pra ela: Ministra, por favor, o que nós queremos é que a Senhora – a partir de 88, quem estiver ocupando as terras é dono, é o caso de Mostardas, ninguém discute, é deles – agora tomar terra como no Morro Alto, ou em Rio Pardo, ou em Caçapava, ou em Restinga Seca, em qualquer lugar, aqui em Porto Alegre, ai é um absurdo. Nós queremos fixar um marco temporal, porque é o marco da Constituição. Leandro – Mas como funciona: se há a alegação de que era quilombo ali, quem é hoje proprietário, quem fica com a terra a partir de agora? Heinze – A partir de agora os descendentes. Lá em Bagé... Leandro – Mas como se prova isso? Heinze – Não se prova, o laudo antropológico que é a lei. Ele está acima do direito de propriedade. Nós temos no caso do Mato Castelhano 1876, não vale nada essa escritura. 3ª, 4ª geração. O direito de propriedade nesse caso não vale porque o laudo antropológico está acima da lei. Isso vale também para a questão quilombola. Leandro – Isso parece ser claramente inconstitucional. Heinze – Não é porque eles dizem isso. Ontem, por exemplo, conversando com o Toffoli, hoje ministro e era advogado geral da União. Eu e o deputado Collato de SC – tinha também problemas em SC – várias vezes viemos com ele, e ele concorda que o marco temporal tem que ser respeitado. Quem está em cima da terra em 88, tudo bem. O que nós estamos trabalhando hoje é isso ai. Polibio – O caso dos indígenas está sendo trabalhado dentro do próprio Congresso, através da aprovação de uma nova lei que regule isso. O caso dos quilombolas está mais dentro do Supremo no momento. Heinze – Está no Supremo porque o Ministro Pelluzo já deu o seu voto, que ele é o relator da matéria e a Ministra Rosa Weber pediu vistas do processo. Ontem nós pedimos: “Ministra, você está a um ano e meio com este processo, libera isso ai”. E já trabalhando com o Joaquim Barbosa para botar esta matéria em votação. Certamente, o que nós vamos conseguir é acertar isso. Polibio – A tendência que o senhor imagina dentro do Congresso hoje é que apareça um Celso de Mello ou não? Heinze – Acho que não. Stormer – Esse pedido de vistas, geralmente viram pedidos de vistas cansadas. Fica tanto tempo olhando, olhando, olhando que chega a cansar.
  • 8. Heinze – Ela nos explicou ontem. Naquele dia desta votação, quando ela tinha que proferir o voto dela, faltavam 10 minutos para a posse da Ministra Carmen Lúcia no STF. Ai pediu vistas, só que não retomou o processo. Nós pedimos: “dê o seu voto, por favor, nós precisamos votar essa matéria para resolver um impasse. Polibio – E perceberam a tendência dela? Heinze – A tendência acho que é ficar com esse 88. Vejam os absurdos que acontecem: a Fundação Zumbi dos Palmares catalogou 5500 processos no Brasil, 25 milhões de hectares, urbanos e rurais, acontecem com índio e acontecem também com quilombo. Então, é Fundação Zumbi dos Palmares e Incra, outra é Funai e Ministério da Justiça e ali gestam-se as ideias de alguém. Se eu prometi isso em campanha, amanhã eu tenho que cumprir o que eu prometi ontem em campanha. É a ideologia de alguns, prometi e tenho que fazer cumprir. Existem pessoas, famílias, em cima da questão indígena, ou da questão quilombola – é o que disse aos dois Bispos num pronunciamento que fiz, um do Pará e outro do Maranhão – “o seu rebanho? Esse povo também é do seu rebanho, esses produtores, essas famílias, também fazem parte do rebanho da igreja”, não é só o índio, o excluído, o quilombola, essas pessoas também fazem parte e estão hoje sendo penalizadas no processo. Polibio – Vamos conversar sobre coisas melhores, modernas, coisas que nos honram, que é essa moderna agricultura e pecuária empresarial brasileira que estão garantindo essa produção nacional de alimentos. Vamos falar sobre a área de mercado de ações, porque muitas dessas grandes empresas agropecuárias estão com ações sendo negociadas em bolsa. Leandro – Na verdade, o que a gente vê como uma tendência mundial: como existiu a crise de 2008 e o sistema quase quebrou, só não quebrou porque houve uma grande interferência dos Bancos Centrais para injetar liquidez na economia. Acaba acontecendo a inflação de comodities. Você consegue imprimir dólares, mas não consegue imprimir milho. Automaticamente há uma correção, o próprio petróleo é um comoditie muito valorizado, há uma correção natural do preço desses comodities e é uma tendência que a gente percebe como duradoura. Existe limitação de produção. Este movimento de aumentar a liquidez, que é a velha impressora de dinheiro, não deve ser parada. Ontem tivemos uma reunião aqui, tinha a possibilidade de diminuir o ritmo de impressão de dinheiro e não foi diminuído este ritmo. Então, deve continuar forte essa tendência de pressão em cima das comodities. O Brasil, nós não somos destaque em muitos aspectos, mas nós somos destaque em produção agrícola. Nós precisamos deixar isso de uma forma incentivada, nós precisamos proteger, porque isso traz divisas para o país, gera riqueza. Neste ponto nós somos mais competitivos que outros pontos. Esse é um aspecto muito importante, não só para a bolsa, mas para a economia como um todo. Polibio – Houve uma mudança no paradigma da produção agropecuária no Brasil que, de uns tempos para cá, se tornou bastante empresarial. É ela que está garantindo esse aumento extraordinário da produção e da produtividade, ou estou enganado? Heinze – As crises fizeram com que o agricultor evoluísse. Eu planto arroz, que é uma cultura de mercado interno, sofre uma concorrência do Mercosul, mas o pessoal evoluiu muito. Polibio – Está se referindo só ao RS, ou de outras regiões, porque aqui tem que ter tecnologia, senão não produz arroz. Heinze – Quase 70% da produção do arroz do Brasil está aqui. Com SC, você tem 75% do arroz do Brasil nestes dois estados. Polibio – Porque é irrigado.
  • 9. Heinze – É irrigado, essa é a garantia que nós temos. A evolução do produtor, de maneira geral, pega o soja, o arroz, o trigo, o milho, o boi, frango nem se fala, suíno também. O fumo é outra comoditie que a produção do Brasil é invejável. A evolução da produção, hoje, através da tecnologia. Temos a Embrapa, um grande órgão de pesquisa. Os órgãos de pesquisa estaduais hoje estão muito fracos, tem pouco recurso, mas tem também a iniciativa privada. Isso faz ter essa produção fantástica de hoje. Polibio – Agora, tem muita empresa mesmo que entrou. A SLC, por exemplo, eram produtores rurais, são donos de produtos de máquinas e ferramentas gerais. Hoje acho que é a maior empresa brasileira da agropecuária. Heinze – Não sei, talvez o grupo familiar Maggi. Polibio – Mas também empresarial ou só produtores? Heinze – São produtores. Polibio – Mas empresas como a SLC tem muitas, ou não? Heinze – Tem grandes empresas hoje no Centro-oeste do país. Polibio – São eles que puxam? Heinze – Eles, mas os outros é que vão atrás. Polibio – Estrangeiro tem muito? Heinze – Tem. Estão chegando empresas estrangeiras, comprando terras, fazendo lavouras no Centro-oeste do Brasil, porque as terras que nós temos, o clima que nós temos hoje são muito propícios para a produção. Essa nova tecnologia foi implantada no serrado brasileiro. O plantio direto é uma grande inovação que nós tivemos. Essa evolução que tivemos na agricultura brasileira está fazendo hoje esta fábula da nossa produção. Isso assusta o mundo. Assusta os nossos concorrentes lá fora. Polibio – Acho que o que importa mesmo são estas empresas que têm a cotação em bolsa né Leandro? Leandro – Na verdade interessa como um todo. Polibio – Tem muitas empresas dessa área em bolsa? Leandro – Nós temos as empresas que trabalham com alimentos, direta e indiretamente. Nós não temos aqui no Brasil uma cultura de empresas que fazem a produção primária. O que temos mesmo é como a Brasil Foods que processam carne, aves, tem JBS. Temos somente isso, não temos grandes produtores de soja em bolsa, isso não temos ainda hoje. Stormer – Isso é uma coisa que chama a atenção. Na década assada, nós podemos dizer que quem puxou muito o mercado brasileiro de ações foi o setor de siderurgia – siderurgia nacional, Usiminas, Gerdau. Esse era o setor forte da economia brasileira e da Bovespa de uma maneira geral. Se eu precisasse observar algum possível setor para ser o carro chefe da bolsa no futuro, na próxima década, eu consideraria fortemente o setor de alimentação. Brasil Foods, Media3, JBS... Polibio – Nos EUA, que têm as maiores bolsas do mundo, como se comportam estas empresas de alimentos? Stormer – O cenário é diferente porque eles têm uma crise econômica.
  • 10. Leandro – O mercado que é muito mais forte lá é o mercado direto de negociação de comodities. Ai é futuro de trigo, futuro de soja, futuro de suco de laranja, de carne de gado. Polibio – Mas isso ai já é a bolsa de mercadorias. Leandro – Sim, mas são muitas pessoas, muitos traders individuais que investem neste tipo de contrato também. Lá, diferentemente do Brasil, infelizmente a gente não tem tanta liquidez nestes contratos, até é algo que a gente tenta fomentar no mercado, porque seria muito produtivo, tanto para o produtor, quanto para o mercado. Mas o mercado americana tem mais presença direta pelos contratos futuros de comodities. Stormer – A maior parte dos produtores aqui no Brasil, quando ele precisa defender alguma coisa da sua produção, trabalha lá em Chicago, não trabalha aqui. As negociações com milho, com soja, são todas feitas lá fora, não são feitas aqui no mercado por falta de liquidez. Leandro – Um dos comodities agrícolas que talvez seja o mais negociado é o café. Heinze – Aqui tem um grande mercado que poderia ser explorado. Leandro – Talvez a bolsa precisasse trabalhar mais porque tem um grande filão. Polibio – Agora vamos conversar sobre infraestrutura e o Leandro tem uma provocação política. Leandro – Não é nem uma provocação. Tem uma pergunta aqui que é quase um tratado, mas a tese é a seguinte, e eu entendo a preocupação dele, a gente tem discutido isso com vários convidados aqui. É o seguinte: nós sabemos que nós temos aqui na América Latina, uma guinada à esquerda, vários países dominados por partidos esquerdistas, alguns mais radicais, outros menos radicais, como mais radicais temos o exemplo da Venezuela. Tem o caso da Argentina que está numa situação muito ruim, inclusive os produtores lá estão sofrendo muito, produtores rurais. A pergunta é a seguinte: até onde essa guinada à esquerda pode ir? No seguinte sentido: nós temos hoje, no mercado, uma perda de confiança nas instituições e no governo brasileiro. Ontem tivemos uma decisão do supremo que foi muito ruim para a credibilidade do Supremo. Tivemos várias decisões do próprio Congresso, que minam a confiança do público, do empresariado e do investidor em relação ao Brasil. Até que ponto pode chegar essa mudança política? Será que há no Brasil espaço para uma situação como a Venezuela, ou como a Argentina ou não, nós temos instituições fortes, nós somos um país muito maior e vamos conseguir passar por essa fase? Heinze – A nossa preocupação hoje, é importante explicar para o telespectador que normalmente não participa do processo político, eu sou um engenheiro agrônomo, eu sou um produtor rural, virei prefeito e deputado. Nunca tive opção política. Não fui vereador, nem deputado estadual, estou no 4° mandato de deputado federal. Vejo as lutas que a gente trava em Brasília, as lutas para que a sociedade acredite em alguém, num momento que a classe política está tão desmoralizada. Tem que ter alguém, do nosso meio. Eu sou empresário, lido com gado, lavoura, não sou um político profissional. A sociedade tem que participar do processo, senão você vai ser engolido e varrido pelo processo. O grande empresário tem que participar do processo político, porque depois você não tem como se queixar. Essa decisão do Supremo, o que nos preocupa hoje? A votação dos Ministros é claramente uma questão ideológica, em cima da votação neste caso ai. Não vou discutir o voto. Tem condições de ele votar a favor ou contra, mas desempatou essa questão ontem. Isso é ruim. A sociedade brasileira passa a não acreditar na justiça, que tem esse problema hoje. Ali, claramente, essa caso desse tipo de votação. Eu já tinha medo na votação do ano passado, da condenação. Eu não acreditava, mas daqui há pouco Joaquim Barbosa votou, Rosa Weber votou, e agora? Agora deu 6 a 5. Isso se arrasta mais um ano para começar a discutir, pode escrever, não vai dar em nada. Tem gente que vai acabar não sendo preso. Isso é ruim para a sociedade. Leandro – Passa a ideia de que você pode cometer qualquer crime e não é punido.
  • 11. Heinze – Agora o miserável, o pequeno, o tal de ladrão de galinha, esse cara amanhã vai para a cadeia. Ai não tem embargo infringente para ele. Leandro – Acharam um no Nordeste que estava 20 anos preso e já deveria ter sido solto. Heinze – Quanto custa para manter estas ações lá? Pega a moça lá que era secretária do Lula, vai ver a banca de advogados dela, como pode bancar um advogado desse jeito? Isso é preocupante. Depois vão para o Congresso Nacional, Câmara e Senado Federal, a pressão, a força do governo em cima, olha a votação dos 10% do FGTS agora, que nós votamos, perdemos no Senado por um voto. É mais fácil deserdar 30 ou 40 Senadores do que 200 deputados. E acertaram. Esse tipo de toma lá dá cá, a gente está vendo todo santo dia lá no Congresso Nacional. Polibio – O Senhor não é otimista então? Heinze – Não, eu estou preocupado com isso. Leandro – Essa questão que foi colocada aqui da demarcação de terras indígenas e quilombolas, isso não sai na mídia, é raro. As pessoas não sabem disso. Polibio – A pergunta feita é a seguinte: de um ponto de vista muito realista, das informações que o Senhor dispõe, o Senhor acha que existem hoje forças políticas dentro do Brasil, capazes de impedir que prossiga este processo de “cubanização”? Heinze – Eu fiquei satisfeito, eu tinha dificuldade de imaginar um quadro diferente no ano que vem nas eleições presidenciais. Com os movimentos das ruas, isso me animou, foi um fato diferente. Polibio – Mas acabou. Heinze – Eu sei e essa é minha preocupação. Achei que teria um movimento ontem lá. Eu cheguei às 6h na frente do Supremo e não tinha ninguém lá. Polibio – Não, tinham 6 pessoas. Heinze – Sim, mas ninguém protestando. Com essas questões se desmoraliza o Congresso, o Judiciário amordaçado, eu vou acreditar em quem? Leandro – É essa a questão que é colocada: você ter uma coalizão de esquerda através de uma entidade que diz “olha, aqui vocês estão falando da mídia, mas não aparece, por exemplo, que é fora de São Paulo, que é uma instituição que agrega os partidos de esquerda com o objetivo de tomar o poder, que faz as vezes dessa cubanização”. Heinze – A preocupação é essa e nós teremos eleições para governadores o ano que vem e para presidente também o ano que vem. Polibio – A saída, num curto prazo, seria a eleição do ano que vem? Heinze – A eleição do ano que vem. É importante que a sociedade se mobilize. Quem foi pra rua? Empresários, professores, estudantes, mostrar a insatisfação. Essa insatisfação tem que vir contra os políticos, contra quem quer que seja. Manter a pressão, com pressão as coisas até acontecem melhor, no Executivo e no próprio Legislativo.