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                             cândido Grzybowski
                             Sociólogo, diretor do Ibase




Fórum Social
Mundial,
a construção
de um outro
mundo
possível

66   Democracia ViVa Nº 44
ura


                                                                                                             SAMuEl toStA
Em fins de janeiro de 2001, na cidade de Porto Alegre, realizou-se a primeira edição do

Fórum Social Mundial (FSM). Surgiu com marca de ousadia e inovação, contestando a

hegemonia do pensamento neoliberal simbolizado pelo Fórum Econômico Mundial, em

Davos, na mesma data, reunia os autoproclamados senhores e donos do mundo. De um

lado, a surpresa, a festa barulhenta de encontros e desencontros, em uma verdadeira

praça da democracia, de identidades e línguas diversas, e a constatação de que, afinal,

não somos tão poucos os que acreditam que “outro mundo é possível”, a expressão

agregadora do FSM. Do outro lado, o hotel de luxo da estação de esqui, misto de cele-

bração retórica das benesses do mercado de um capitalismo globalizado, sem fronteiras,

e de pura negociação em vista de mais e mais lucros, sem amarras.

      Assim começou o FSM: um espaço aberto que, sem negar a marca de origem con-

testadora do neoliberalismo, quer ser uma espécie de recarregador de baterias da cidadania

ativa, agora, necessariamente de dimensões planetárias, pois é dela que depende a solução




                                                                                             JaNeiro 2010   67
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                                            contradições deste capitalismo levado ao seu        contradições e dos limites sob as quais o capi-
                                            extremo. Surgido como um evento, o FSM de-          talismo globalizado submete a humanidade e
                                            sencadeou uma onda que, ao longo dos últimos        a sustentabilidade da própria vida no planeta.
                                            anos, foi ganhando força, com realizações de        Hoje, “outro mundo possível” torna-se uma
                                            fóruns mundiais, continentais e regionais, nacio-   urgência e uma necessidade inadiável.
                                            nais, locais, temáticos. Perdeu-se a conta, e ela          Quero pensar, por isso, nos desafios daqui
                                            ainda não acabou. Agora, em 2010, já iniciamos      para diante, para além do FSM. Não estou pro-
                                            o décimo ano desse processo que vai penetrando      pondo uma mudança da iniciativa em si, pois,
                                            no mundo e alimentando a esperança.                 penso que deve continuar a tarefa inspiradora
                                                     o Fórum já conferiu fundamental contri-    que é sua marca. os encontros do FSM ainda
                                            buição para a emergência de uma cultura cidadã      alimentam o sonho e a esperança para muitos
                                            em escala mundial. Hoje, é um processo que          mundo afora. E o mundo é ainda enorme para as
                                            segue seu próprio curso, apropriado por orga-       dimensões reais que o processo de realizações do
                                            nizações de cidadania ativa, movimentos sociais     FSM conseguiu até agora. Muita semente precisa
                                            e redes em diferentes partes do mundo. Inspira      ser espalhada por diferentes territórios de nosso
                                            um modo de tentar construir uma inteligência        planeta e fazer ressurgir a vontade de mudança.
                                            política coletiva sobre os problemas, os desafios   Que o FSM siga o seu curso e sua capacidade
                                            e as possibilidades das lutas que empreendemos      mobilizadora, especialmente cativando as jovens
                                            – cada qual a seu modo – no lugar onde nos en-      gerações, como vimos em janeiro de 2009, em
                                            contramos no planeta, mas que, pelas circunstân-    Belém. Sou dos que pensam que ninguém segura
                                            cias, nos tornam interdependentes, obrigados a      essa “onda de cidadania”, pois o FSM já em nada
                                            compartir um mesmo mundo para dele fazer “um        depende do nosso bando de velhos cúmplices
                                            outro mundo”. Para a nossa grande diversidade       – quase todos homens, além do mais. o FSM
                                            de identidades e culturas, a nossa pluralidade      poderá mudar muito, como, aliás, mudou a cada
                                            de visões e perspectivas, todas legítimas, mas      ano, mas erra quem decreta seu fim. Hoje é um
                                            sempre negadas, o FSM nos oferece um espaço         patrimônio da humanidade. É ela que necessita de
                                            aberto – uma espécie de usina para nova cultura     um espaço aberto como o FSM para se repensar.
                                            política – para que nos reconheçamos iguais como           Como a minha reflexão está ainda em
                                            humanidade e parte do mesmo e único sistema         elaboração, faço apenas uma espécie de guia
                                            planetário para compartir entre todas e todos.      para minha atuação como diretor do Ibase, para
SAMuEl toStA




                                                     Não pretendo relatar aqui a história do    dentro e para fora, aquém e além do FSM, e
                                            FSM. Deixo a história para a história. Mas mudou    uma contribuição aberta aos parceiros e parcei-
                                            muito o contexto cultural, político e econômi-      ras em redes, articulações e lutas democráticas
                                            co do mundo de 2001 a 2010. As múltiplas e          que, juntos, empreendemos.
                                            articuladas crises recentes são expressões das




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               68   Democracia ViVa Nº 44
Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel




O FSM como inspiração e como limite
A contribuição mais evidente do FSM foi




                                                                                                                           IErê FErrEIrA
reacender uma força galvanizadora ao se
contrapor a Davos e simplesmente afirmar
que “outro mundo é possível”. Isso foi possi-
bilitado ao deslocar o foco quase exclusivo no
Estado e na economia para a capacidade de
ação transformadora dos múltiplos e diversos
sujeitos coletivos, organizados em entidades,
movimentos, redes, coalizões e alianças, que
resistem, formulam propostas concretas e vão
à luta por sua concretização.
        Em certo sentido, não é o FSM que ins-
pira, simplesmente, um convite a uma reflexão
compartilhada de experiências e saberes que
se desenvolvem na prática, nas mais diversas
situações, para, com abertura ao mundo,
potencializar a própria ação, segundo as pos-
sibilidades de cada sujeito e em cada contexto.
o FSM cria bases de uma nova cultura política
de transformação exatamente por estabelecer
como um imperativo o diálogo planetário
horizontal, sem protagonismos, racismos ou
patriarcalismos, diálogo intra e inter sujeitos,
uns e umas reconhecendo os outros e as outras
igualmente como sujeitos.
        A nova cultura política não é uma inven-
ção do FSM, mas ele é um grande propulsor
e indutor. Por seu caráter de espaço aberto à
diversidade e pluralidade – como definido na
Carta de Princípios –, o FSM tem conseguido
se tornar uma referência de encontros e trocas,
sem hierarquias ou prioridades. No seu interior, –
forjam-se legítimos consensos e dissensos (na
verdade, outros consensos), extraindo, assim,
da diversidade social e cultural, do encontros e
desencontros, e da pluralidade política a energia
que o mantém como referência de uma nova
cultura política de caráter planetário.
        Forçoso reconhecer que, se bem é uma
nova cultura política que está presente no FSM,      protagonizam os sujeitos, o que no FSM, muitas
é apenas algo emergente, em construção. Nós          vezes, manifesta-se na ocupação do território e
todos e todas trazemos ao FSM nossas estru-          na disposição de atividades.
turas mentais, nossos valores e nossas práticas,             Apesar da massiva presença de organi-
com todas as suas contradições. Começando            zações e movimentos feministas, o machismo
pelo mais simples: confundimos diversidade           encrustado nas relações não confere às mulhe-
com cada qual fazer o que quer, mesmo que seja       res a devida relevância nos diálogos e trocas.
uma atividade para os seus pares, dificultando       língua e diversidade cultural são patrimônios
aglutinações, fusões e buscas coletivas, razão       e riquezas a preservar, mas não sabemos lidar
de ser do espaço FSM. Não nos iludamos com o         com o problema da tradução, apesar das tecno-
tamanho da tarefa pela frente. Nosso modo de         logias de informação e comunicação ao nosso
pensar e agir de esquerda no seio do capitalismo     alcance. Isso, talvez, porque está na tradução
ainda vem carregado por determinismos concei-        – no sentido que Boaventura Souza Santos
tuais e políticos que priorizam, hierarquizam e      lhe dá – o básico para aceitar e reconhecer os




                                                                                                       JaNeiro 2010   69
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                             outros e as outras como detentores de saberes                          Mas aí vem os limites. Não dá para ig-
                             tão ou mais importantes que os nossos, em                      norar que o modo de acontecer do FSM como
                             diálogo com os quais, como dizia Paulo Freire,                 espaço aberto, centrado em eventos como sua
                             poderemos, juntos, criar um novo saber, sobre                  grande realização, é o que é: um processo de
                             nós mesmos, a sociedade, o mundo. Enfim,                       eventos que vem despertando consciências e
                             sem ser exaustivo, assinalo esses problemas                    vontades para um novo fazer. Contudo, ainda
                             só para acentuar o caráter ainda incipiente da                 não é o fazer de um outro mundo. É apenas
                             nova cultura política.                                         um passo, um começo fundamental, um abrir
                                      um aspecto, que considero o grande                    de portas. o FSM é uma condição necessária
                             legado do FSM, até aqui, é o resgate e a valo-                 mas insuficiente do novo, no meu modo de ver.
                             rização da política como a arena por excelência                Para surgirem forças transformadoras do que aí
                             da construção de outro mundo e da ação cidadã                  está, será preciso fazer um caminho para além
                             como força transformadora. Em um mundo ca-                     do FSM, não mais como Fórum, e sim como
                             pitalista, cada vez mais dominado por grandes                  invenção de sujeitos que acordam entre si ações
                             corporações de negócios, cada vez mais privati-                concretas de incidência que julgarem adequadas
                             zado, mais mercantilizado, mais cínico e violento,             nas diferentes situações e conjunturas, sobre
                             de um consumismo desenfreado, destruidor do                    relações, estruturas e processos de poder em
                             patrimônio comum da vida, criador de exclusões                 crise, mas ainda muito vivos e dominadores. os
                             e acentuada desigualdade social, o FSM res-                    desafios se vislumbram e ecoam no FSM. Seu
                             significa o público e a política e traz ao centro              enfrentamento, porém, exige uma nova criati-
                             os princípios e os valores éticos para pensar a                vidade políticocultural. Aí reside o dilema:
                             natureza, a vida, a economia e o poder.                        como espaço, penso que o FSM é
                                      Considero três os pontos fortes do FSM                indispensável ainda, mas por causa
                             como inspiração: reacender a esperança e re-                   do próprio Fórum, sinto-me
                             colocar a história no seu lugar, como produção                 empurrado a iniciativas
                             humana e não determinação metafísica; pôr em                   para além dele, iniciativas
                             questão os determinismos e protagonismos pró-                  de incidência do plano local
                             prios da cultura de esquerda; valorizar a energia              ao mundial, construindo as
                             da diversidade de sujeitos coletivos.                          articulações necessárias.
                                                                             SAMuEl toStA




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                                             Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel




Elementos para uma agenda além FSM
o ponto de partida é repolitizar a vida, a relação           Não sendo o FSM o objetivo da ação
com a biosfera, o poder, a cultura e a economia      política transformadora, mas apenas um meio
e agir com uma perspectiva planetária e cos-         de fortalecê-la, a questão da agenda política é
mopolita. Como já assinalei, o FSM ressignifica      crucial para cada participante, como expressão
a política e o poder, dando-lhes centralidade        de seu direito e responsabilidade humana e ci-
em contraposição às relações de mercado e            dadã. É nesse sentido que penso ser um dever,
à economia. Aponta, nesse sentido, para o            como participante, priorizar a agenda política
poder instituinte, constituinte e transformador      no antes e no pós evento Fórum. o além FSM
da cidadania ativa. Não elabora e não define,        a que me refiro tem o sentido de intervenção
enquanto tal, a agenda ou as agendas de luta.        com uma agenda que se elabora, até inspirada
legitimamente, as agendas de cada sujeito            por ele, mas sem se limitar, tomando o FSM
coletivo, individual ou as construídas em redes,     apenas como um momento de reflexão e troca.
coalizões e alianças, são trazidas, debatidas e,     A minha prioridade é avançar na agenda de
muitas vezes, atualizadas nos eventos do FSM.        luta e buscar as parcerias e alianças possíveis
A responsabilidade por elas é de quem as adota,      para melhor incidir nas diferentes situações e
não podendo ser impostas ao conjunto dos(as)         nos contextos nos quais vivo.
participantes do Fórum.                                      Hoje, penso que a questão central de
                                                     uma agenda de enfrentamento do capitalismo
                                                     é a busca de alternativas à “crise de civilização”
                                                     que tem por base o seu domínio colonial e
                                                            imperialista sobre povos e a nature-
                                                               za e o desenvolvimento industrial,
                                                                 produtivista e consumista, que o
                                                                   capitalismo promove em função
                                                                    da acumulação desenfreada.
                                                                     Destruição ambiental e injustiça
                                                                      social são condições intrínsecas
                                                                    SAMuEl toStA




                                                                                                                              9
                                                                                   vANor CorrEIA




                                                                                                          JaNeiro 2010   71
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                             do capitalismo, exacerbadas com a globalização        cluir. É visível a territorialização do racismo, no
                             a serviço dos grandes conglomerados econô-            interior das socidedades (favela versus asfalto),
                             micos e financeiros, sob a guarda militarizada        entre cidades e regiões, entre cidade e campo,
                             imperialista. A fratura social só se aprofunda,       entre agronegócio e formas sociais diversas de
                             e a ruptura com a biosfera e os bens comuns           produção e vida de grupos excluídos, e nas
                             da vida para todas e todos chega ao limite do         relações entre povos e nações, em um verda-
                             irreversível. Não é possível tornar sustentável       deiro processo de racismo ambiental. o velho
                             tal civilização, daí a crise.                         patriarcalismo é renovado e naturalizado pelo
                                      Para tornar sustentável toda a forma de      capitalismo. Com isso, domina e desvaloriza,
                             vida, os povos e suas sociedades, é fundamental       mas se beneficia de uma economia do cuida-
                             enfrentar a injustiça em sua dupla face: social e     do, impõe uma dupla jornada de trabalho às
                             ambiental, injustiça socioambiental. Para tanto,      mulheres. A publicização e politização dessa
                             se impõe como prioridade a disputa do ideal do        agenda que emerge das lutas das mulheres é
                             bem viver e uma busca sistemática de alternativas     tarefa da cidadania como um todo, do local
                             de poder e economia ao modelo de desenvolvi-          ao mundial.
                             mento industrial, produtivista e consumista do                 Em termos de agenda política, tendo
                             capitalismo. Mas não é mais possível limitar-se à     presente o contexto de crise profunda no qual
                             mudança das relações sociais de produção para         está o sistema hoje e mirando o caminho a cons-
                             dar vazão às forças produtivas, como posto no         truir para a transformação desta civilização de
                             ideal dominante das esquerdas. trata-se de por        injustiça socioambiental, é fundamental pensar
                             em questão o tipo de desenvolvimento de forças        no processo necessário de rupturas cumulativas.
                             produtivas. ou seja, o ideal da sociedade indus-      A questão que se impõe é política e ética ao
                             trial, dos bens e serviços que propicia e do estilo   mesmo tempo. A legalidade institucional deve
                             de consumo e de vida que gera, é parte da in-         ser tensionada pela legitimidade da mudança.
                             justiça socioambiental que precisamos enfrentar.      o arcabouço institucional que nos confina a
                             A ideia de resistência à mercantilização de tudo,     Estados-nação se revela como uma arena ne-
                             dos bens comuns e da própria vida, está bem           cessária, mas extremamente limitada da luta
                             presente no clima do FSM. Mas isso é pouco.           por “outro mundo possível” ou, como hoje
                             É todo o imaginário de sociedades sustentáveis        prefiro, “outra civilização possível”. Estamos
                             que precisa ser refeito, do local ao mundial, se-     diante da necessidade inadiável de contrapor
                             gundo as possibilidades e os limites da biosfera      a soberania cidadã e dos povos aos Estados so-
                             e da criatividade cultural, científica e técnica de   beranos e seu monopólio na esfera mundial do
                             cada povo, em um espírito de interdependência         poder (mesmo quando Estados subordinados e
                             e solidariedade planetária.                           subservientes, como a maioria dos quase 200
                                      um elemento-chave da nova cultura            países do mundo).
                             política e de uma agenda de transformação                      Isso implica tensionar a legalidade exis-
                             social é descolonizar e libertar nossos modos de      tente, dentro e fora, em nome de uma legitimi-
                             pensar e agir. Muitas formas de ver as questões       dade e responsabilidade ética de rever processos
                             da exclusão social e pobreza nos tornam pre-          e estruturas, políticas e econômicas, que negam
                             sas fáceis de uma agenda de desenvolvimento           direitos iguais e destroem as bases naturais da
                             imposta pelo poder colonial e imperialista do         vida. Considero fundamental radicalizar uma
                             capitalismo. Não conseguimos pensar alterna-          concepção emergente no processo FSM: a
                             tivas de criação de maior justiça social fora de      cidadania não é uma dádiva dos Estados, mas
                             um quadro estreito de crescimento.                    condição política de ser parte da humanidade.
                                      No contexto de “crise de civilização” no     tirando as consequências de tal afirmação,
                             qual vivemos é outro poder e outra economia           surge, necessariamente, a agenda de repensar
                             que precisam ser pensados. Precisamos, ainda,         e refundar o Estado como expressão política do
                             desnaturalizar as relações que condenem mui-          poder que as “cidadanias”, iguais e diversas, lhe
                             tos à pobreza, exclusão, às múltiplas formas de       conferem. vasta tarefa de construção política,
                             desigualdade e dominação. Não é a falta de            que precisa ser feita com mente aberta e muita
                             desenvolvimento que explica tais situações, pelo      ousadia política.
                             contrário, é por causa dele. o desenvolvimento,                Isso me remete a mais um elemento es-
                             como símbolo da civilização no qual vivemos alia      sencial da agenda: a nova arquitetura do poder.
                             o velho e o novo e deles se alimenta. reinventa       A interdependência entre povos e nações, no
                             constantemente o racismo para dominar e ex-           quadro do capitalismo globalizado de hoje, é,




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Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel




sem dúvida, um grande problema gerado pela                   As cartas de Direitos Humanos – revista
dominação imperialista dos países desenvolvidos,     de uma perspectiva cosmopolita e liberta, ela
particularmente dos EuA. Mas a interdepen-           também, da perspectiva civilizatória ocidental –
dência traz, contraditoriamente, uma enorme          e a emergente, das responsabilidades Humanas,
possibilidade de futuro. o próprio FSM, como         fornecem elementos, mas ainda insuficientes.
espaço de uma emergente cidadania planetária,        Em termos políticos, uma agenda fundamental
não seria possível não fosse a difusa consciência    é politizar e radicalizar as potencialidades que
de interdependência, na qual, em nossa diversi-      oferecem as tecnologias de informação e co-
dade de povos, culturas e identidades políticas,     municação (tIC), por permitirem a participação
somos parte de uma mesma humanidade e                horizontal em escala planetária, com formação
compartimos um mesmo Planeta.                        de redes sem fronteiras de países. Não se trata
        Interdependência, porém, não pode            só de usar a tIC, mas de politizar o espaço que
ser pensada e praticada sem uma localização          oferecem como arena política de uma perspec-
concreta, onde temos o essencial de nossas           tiva cidadã cosmopolita.
vidas e relações com os outro(as) e realizamos               Finalmente, como brasileiro, penso que é
nossas trocas com a biosfera. Como repensar          indispensável problematizar o Brasil no contexto
esse fundamental local, em termos de poder,          mundial. Sabemos que temos muita injustiça
cultura e economia, de uma perspectiva cidadã        social e ambiental para dentro com que nos
planetária? E como repensar o poder mundial          ocupar. Corremos, porém, o risco de referendar
de uma perspectiva de cidadania territorializa-      uma agenda que vai contra tudo o que apontei
da? Para não sermos pegos pelo pragmatismo           anteriormente. Como país emergente, o Brasil
mais multilateral (mas nada cosmopolita) que         tende a usar a base de recursos naturais de que
a crise impôs aos países dominantes do G-8,          é dotado, em um mundo carente de tais recursos,
abrindo-se ao G-20, com a inclusão de novos          para, a seu modo, fazer valer a estrutura de poder
sócios no clube do poder – incluindo o Brasil – e,   regional e mundial a seu favor. A velha agenda
assim melhor dominar o mundo, é fundamental          do petróleo, como vem ficando claro no debate
que enfrentemos a agenda da nova arquitetura         sobre as reservas do pré-sal, e as propaladas possi-
                  do poder, que implica necessa-     bilidades de felicidade geral da nação podem nos
                    riamente uma refundação da       levar a referendar um conjunto de políticas que
                      oNu e dos Estados-nação,       reforçam o modelo de desenvolvimento ambien-
                       no horizonte não tão          talmente predatório e socialmente excludente. É
                         distante assim.             deste Brasil que a cidadania planetária precisa?




                                                                                                                           SAMuEl toStA




                                                                                                            JaNeiro 2010   73
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                                             Um possível novo modo de agir
                                             Aqui, quero chamar a atenção para a incon-           mais amplo que seja sempre será dos que a
                                             tornável necessidade de organizar, de forma          ele aderem. Portanto, ele já aponta para um
                                             nova, as forças para impulsionar a agenda.           além FSM. A questão mais delicada é construir
                                             Novamente o FSM serve como um caldo ins-             coalizões de sujeitos coletivos com um máximo
                                             pirador, mas falta a tarefa difícil e contínua de    denominador comum – para me contrapor ao
                                             organizar os sujeitos, avaliar as oportunidades      mínimo denominador comum de certas decla-
                                                 políticas e ir à luta. Só destaco alguns pon-    rações genéricas e vazias – sobre a agenda e a
                                                       tos, pois, de fato, é no agir que se faz   ação política. Falo de coalizões intermovimentos
                                                            a ação (é caminhando que se faz       e organizações de cidadania ativa. A experiência
                                                                   o caminho). Ele começa pelo    existente, de relativo sucesso, é de campanhas
                                                                        acordo sobre a agenda,    temáticas. No caso, porém, falo em ações di-
                                                                                     que, por     ferenciadas e coordenadas de uma cidadania
                                                                                                       militante, visando tensionar estruturas
                                                                                                                    e poderes constituídos, nas
                                                                                                                          mais diversas situações.
                                                                                                                         A cultura política de inci-
                                                                                                                        dência internacional é intra-
                                                                                                                      movimentos e organizações,
                                                                                                                   ligando o local ao mundial
                                                                                                                 (confederações sindicais, via
                                                                                                               Campesina, Plataforma de Direitos
                                                                                                             Humanos, oxfam Internacional, Alop,
                                                                                                           Articulação Feminista Marcosul, para
                                                                                                         dar alguns exemplos). Falta-nos o inter-
                                                                                                       movimentos, organizações e redes.
                                                                                                              um elemento metodológico a conside-
                                                                                                     rar é a possibilidade de transformar a ideia de
                                                                                                     redes – dominantemente de diálogo político e
                                                                                                     concertação sobre agendas temáticas comuns
                                                                                                      – para algo mais no sentido da iniciativa e
                                                                                                      incidência coordenadas, como um verdadeiro
                                                                                                      15
     vANor CorrEIA




                74   Democracia ViVa Nº 44
17
                                                              Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel




                 trabalho político de cidadania desenvolvido em       prioridade. A comunicação e as campanhas
                 rede pelo conjunto diferenciado de sujeitos em       públicas são, assim, uma arena prioritária do
                 coalizão. Além da agenda propriamente dita           modo de agir necessário.
                 para a ação, definem-se os princípios e valores              No FSM, fala-se em democratizar a de-
                 éticos norteadores, os objetivos comuns e as         mocracia. Como? Como concretizar a radicalida-
                 formas de mobilizar e compartir recursos entre       de do agir contido em tal afirmação? Penso que
                 os parceiros. Isso exige paciente trabalho de        se trata de apostar na democracia
                 construção do que, potencialmente, venha a ser       como modo de transformar a
                 um sujeito político de novo tipo, com identidade     sociedade, sem a opção
                 e propostas, do local ao mundial.                    pela violência da força
                          A questão crucial do agir é a disputa e     armada. ou seja, a
                 construção políticocultural de hegemonia nas         radicalidade está em
                 sociedades locais concretas e nos vários pata-       fazer valer as contra-
                 mares de incidência política, até as estruturas      dições da disputa de
                 de poder mundial (mídia, fóruns de dirigentes        hegemonia e poder que
                 políticos e empresariais, cúpulas etc.). refiro-me   a democracia propicia, com
                 à disputa de hegemonia no sentido gramsciano         uma estratégia de re-
                 que, em uma apropriação livre, defino como           volução permanente,
                 a criação de “grandes movimentos cidadãos            de legitimidade das
                 irresistíveis”. Como fazer isso sem protagonis-      demandas cida-
                 mos a priori, como é da tradição de esquerda?        dãs, instituindo
                 o segredo, me parece, está na construção de          a legalidade do
                 coalizões abertas, que partem de reconhecer          direito como
                 como indispensáveis os outros e outras e que         conquistas de-
                 de todos e todas depende a própria agenda e          mocráticas.
                 a construção do caminho de sua implementa-
                 ção. Desse modo podem gestar-se consensos
                 ativos, fundamentais para dar força na disputa
                 de hegemonia. Mas é fundamental reconhecer
                 que, para a cidadania, sempre o espaço público
                 do debate e da livre-circulação de ideias é a
lEoNArDo MEllo




                                                                       SAMuEl toStA




                                                                                                                       JaNeiro 2010   75
c u lt u r a




                                  19




20




     76   Democracia ViVa Nº 44
21
Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel




                                                                vANor CorrEIA




                                                 JaNeiro 2010   77

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Dv ibase 44_cultura(66-77)fsm

  • 1. c u lt c u lt u r a cândido Grzybowski Sociólogo, diretor do Ibase Fórum Social Mundial, a construção de um outro mundo possível 66 Democracia ViVa Nº 44
  • 2. ura SAMuEl toStA Em fins de janeiro de 2001, na cidade de Porto Alegre, realizou-se a primeira edição do Fórum Social Mundial (FSM). Surgiu com marca de ousadia e inovação, contestando a hegemonia do pensamento neoliberal simbolizado pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na mesma data, reunia os autoproclamados senhores e donos do mundo. De um lado, a surpresa, a festa barulhenta de encontros e desencontros, em uma verdadeira praça da democracia, de identidades e línguas diversas, e a constatação de que, afinal, não somos tão poucos os que acreditam que “outro mundo é possível”, a expressão agregadora do FSM. Do outro lado, o hotel de luxo da estação de esqui, misto de cele- bração retórica das benesses do mercado de um capitalismo globalizado, sem fronteiras, e de pura negociação em vista de mais e mais lucros, sem amarras. Assim começou o FSM: um espaço aberto que, sem negar a marca de origem con- testadora do neoliberalismo, quer ser uma espécie de recarregador de baterias da cidadania ativa, agora, necessariamente de dimensões planetárias, pois é dela que depende a solução JaNeiro 2010 67
  • 3. c u lt u r a contradições deste capitalismo levado ao seu contradições e dos limites sob as quais o capi- extremo. Surgido como um evento, o FSM de- talismo globalizado submete a humanidade e sencadeou uma onda que, ao longo dos últimos a sustentabilidade da própria vida no planeta. anos, foi ganhando força, com realizações de Hoje, “outro mundo possível” torna-se uma fóruns mundiais, continentais e regionais, nacio- urgência e uma necessidade inadiável. nais, locais, temáticos. Perdeu-se a conta, e ela Quero pensar, por isso, nos desafios daqui ainda não acabou. Agora, em 2010, já iniciamos para diante, para além do FSM. Não estou pro- o décimo ano desse processo que vai penetrando pondo uma mudança da iniciativa em si, pois, no mundo e alimentando a esperança. penso que deve continuar a tarefa inspiradora o Fórum já conferiu fundamental contri- que é sua marca. os encontros do FSM ainda buição para a emergência de uma cultura cidadã alimentam o sonho e a esperança para muitos em escala mundial. Hoje, é um processo que mundo afora. E o mundo é ainda enorme para as segue seu próprio curso, apropriado por orga- dimensões reais que o processo de realizações do nizações de cidadania ativa, movimentos sociais FSM conseguiu até agora. Muita semente precisa e redes em diferentes partes do mundo. Inspira ser espalhada por diferentes territórios de nosso um modo de tentar construir uma inteligência planeta e fazer ressurgir a vontade de mudança. política coletiva sobre os problemas, os desafios Que o FSM siga o seu curso e sua capacidade e as possibilidades das lutas que empreendemos mobilizadora, especialmente cativando as jovens – cada qual a seu modo – no lugar onde nos en- gerações, como vimos em janeiro de 2009, em contramos no planeta, mas que, pelas circunstân- Belém. Sou dos que pensam que ninguém segura cias, nos tornam interdependentes, obrigados a essa “onda de cidadania”, pois o FSM já em nada compartir um mesmo mundo para dele fazer “um depende do nosso bando de velhos cúmplices outro mundo”. Para a nossa grande diversidade – quase todos homens, além do mais. o FSM de identidades e culturas, a nossa pluralidade poderá mudar muito, como, aliás, mudou a cada de visões e perspectivas, todas legítimas, mas ano, mas erra quem decreta seu fim. Hoje é um sempre negadas, o FSM nos oferece um espaço patrimônio da humanidade. É ela que necessita de aberto – uma espécie de usina para nova cultura um espaço aberto como o FSM para se repensar. política – para que nos reconheçamos iguais como Como a minha reflexão está ainda em humanidade e parte do mesmo e único sistema elaboração, faço apenas uma espécie de guia planetário para compartir entre todas e todos. para minha atuação como diretor do Ibase, para SAMuEl toStA Não pretendo relatar aqui a história do dentro e para fora, aquém e além do FSM, e FSM. Deixo a história para a história. Mas mudou uma contribuição aberta aos parceiros e parcei- muito o contexto cultural, político e econômi- ras em redes, articulações e lutas democráticas co do mundo de 2001 a 2010. As múltiplas e que, juntos, empreendemos. articuladas crises recentes são expressões das 3 68 Democracia ViVa Nº 44
  • 4. Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel O FSM como inspiração e como limite A contribuição mais evidente do FSM foi IErê FErrEIrA reacender uma força galvanizadora ao se contrapor a Davos e simplesmente afirmar que “outro mundo é possível”. Isso foi possi- bilitado ao deslocar o foco quase exclusivo no Estado e na economia para a capacidade de ação transformadora dos múltiplos e diversos sujeitos coletivos, organizados em entidades, movimentos, redes, coalizões e alianças, que resistem, formulam propostas concretas e vão à luta por sua concretização. Em certo sentido, não é o FSM que ins- pira, simplesmente, um convite a uma reflexão compartilhada de experiências e saberes que se desenvolvem na prática, nas mais diversas situações, para, com abertura ao mundo, potencializar a própria ação, segundo as pos- sibilidades de cada sujeito e em cada contexto. o FSM cria bases de uma nova cultura política de transformação exatamente por estabelecer como um imperativo o diálogo planetário horizontal, sem protagonismos, racismos ou patriarcalismos, diálogo intra e inter sujeitos, uns e umas reconhecendo os outros e as outras igualmente como sujeitos. A nova cultura política não é uma inven- ção do FSM, mas ele é um grande propulsor e indutor. Por seu caráter de espaço aberto à diversidade e pluralidade – como definido na Carta de Princípios –, o FSM tem conseguido se tornar uma referência de encontros e trocas, sem hierarquias ou prioridades. No seu interior, – forjam-se legítimos consensos e dissensos (na verdade, outros consensos), extraindo, assim, da diversidade social e cultural, do encontros e desencontros, e da pluralidade política a energia que o mantém como referência de uma nova cultura política de caráter planetário. Forçoso reconhecer que, se bem é uma nova cultura política que está presente no FSM, protagonizam os sujeitos, o que no FSM, muitas é apenas algo emergente, em construção. Nós vezes, manifesta-se na ocupação do território e todos e todas trazemos ao FSM nossas estru- na disposição de atividades. turas mentais, nossos valores e nossas práticas, Apesar da massiva presença de organi- com todas as suas contradições. Começando zações e movimentos feministas, o machismo pelo mais simples: confundimos diversidade encrustado nas relações não confere às mulhe- com cada qual fazer o que quer, mesmo que seja res a devida relevância nos diálogos e trocas. uma atividade para os seus pares, dificultando língua e diversidade cultural são patrimônios aglutinações, fusões e buscas coletivas, razão e riquezas a preservar, mas não sabemos lidar de ser do espaço FSM. Não nos iludamos com o com o problema da tradução, apesar das tecno- tamanho da tarefa pela frente. Nosso modo de logias de informação e comunicação ao nosso pensar e agir de esquerda no seio do capitalismo alcance. Isso, talvez, porque está na tradução ainda vem carregado por determinismos concei- – no sentido que Boaventura Souza Santos tuais e políticos que priorizam, hierarquizam e lhe dá – o básico para aceitar e reconhecer os JaNeiro 2010 69
  • 5. c u lt u r a outros e as outras como detentores de saberes Mas aí vem os limites. Não dá para ig- tão ou mais importantes que os nossos, em norar que o modo de acontecer do FSM como diálogo com os quais, como dizia Paulo Freire, espaço aberto, centrado em eventos como sua poderemos, juntos, criar um novo saber, sobre grande realização, é o que é: um processo de nós mesmos, a sociedade, o mundo. Enfim, eventos que vem despertando consciências e sem ser exaustivo, assinalo esses problemas vontades para um novo fazer. Contudo, ainda só para acentuar o caráter ainda incipiente da não é o fazer de um outro mundo. É apenas nova cultura política. um passo, um começo fundamental, um abrir um aspecto, que considero o grande de portas. o FSM é uma condição necessária legado do FSM, até aqui, é o resgate e a valo- mas insuficiente do novo, no meu modo de ver. rização da política como a arena por excelência Para surgirem forças transformadoras do que aí da construção de outro mundo e da ação cidadã está, será preciso fazer um caminho para além como força transformadora. Em um mundo ca- do FSM, não mais como Fórum, e sim como pitalista, cada vez mais dominado por grandes invenção de sujeitos que acordam entre si ações corporações de negócios, cada vez mais privati- concretas de incidência que julgarem adequadas zado, mais mercantilizado, mais cínico e violento, nas diferentes situações e conjunturas, sobre de um consumismo desenfreado, destruidor do relações, estruturas e processos de poder em patrimônio comum da vida, criador de exclusões crise, mas ainda muito vivos e dominadores. os e acentuada desigualdade social, o FSM res- desafios se vislumbram e ecoam no FSM. Seu significa o público e a política e traz ao centro enfrentamento, porém, exige uma nova criati- os princípios e os valores éticos para pensar a vidade políticocultural. Aí reside o dilema: natureza, a vida, a economia e o poder. como espaço, penso que o FSM é Considero três os pontos fortes do FSM indispensável ainda, mas por causa como inspiração: reacender a esperança e re- do próprio Fórum, sinto-me colocar a história no seu lugar, como produção empurrado a iniciativas humana e não determinação metafísica; pôr em para além dele, iniciativas questão os determinismos e protagonismos pró- de incidência do plano local prios da cultura de esquerda; valorizar a energia ao mundial, construindo as da diversidade de sujeitos coletivos. articulações necessárias. SAMuEl toStA 70 Democracia ViVa Nº 44
  • 6. 8 Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel Elementos para uma agenda além FSM o ponto de partida é repolitizar a vida, a relação Não sendo o FSM o objetivo da ação com a biosfera, o poder, a cultura e a economia política transformadora, mas apenas um meio e agir com uma perspectiva planetária e cos- de fortalecê-la, a questão da agenda política é mopolita. Como já assinalei, o FSM ressignifica crucial para cada participante, como expressão a política e o poder, dando-lhes centralidade de seu direito e responsabilidade humana e ci- em contraposição às relações de mercado e dadã. É nesse sentido que penso ser um dever, à economia. Aponta, nesse sentido, para o como participante, priorizar a agenda política poder instituinte, constituinte e transformador no antes e no pós evento Fórum. o além FSM da cidadania ativa. Não elabora e não define, a que me refiro tem o sentido de intervenção enquanto tal, a agenda ou as agendas de luta. com uma agenda que se elabora, até inspirada legitimamente, as agendas de cada sujeito por ele, mas sem se limitar, tomando o FSM coletivo, individual ou as construídas em redes, apenas como um momento de reflexão e troca. coalizões e alianças, são trazidas, debatidas e, A minha prioridade é avançar na agenda de muitas vezes, atualizadas nos eventos do FSM. luta e buscar as parcerias e alianças possíveis A responsabilidade por elas é de quem as adota, para melhor incidir nas diferentes situações e não podendo ser impostas ao conjunto dos(as) nos contextos nos quais vivo. participantes do Fórum. Hoje, penso que a questão central de uma agenda de enfrentamento do capitalismo é a busca de alternativas à “crise de civilização” que tem por base o seu domínio colonial e imperialista sobre povos e a nature- za e o desenvolvimento industrial, produtivista e consumista, que o capitalismo promove em função da acumulação desenfreada. Destruição ambiental e injustiça social são condições intrínsecas SAMuEl toStA 9 vANor CorrEIA JaNeiro 2010 71
  • 7. c u lt u r a do capitalismo, exacerbadas com a globalização cluir. É visível a territorialização do racismo, no a serviço dos grandes conglomerados econô- interior das socidedades (favela versus asfalto), micos e financeiros, sob a guarda militarizada entre cidades e regiões, entre cidade e campo, imperialista. A fratura social só se aprofunda, entre agronegócio e formas sociais diversas de e a ruptura com a biosfera e os bens comuns produção e vida de grupos excluídos, e nas da vida para todas e todos chega ao limite do relações entre povos e nações, em um verda- irreversível. Não é possível tornar sustentável deiro processo de racismo ambiental. o velho tal civilização, daí a crise. patriarcalismo é renovado e naturalizado pelo Para tornar sustentável toda a forma de capitalismo. Com isso, domina e desvaloriza, vida, os povos e suas sociedades, é fundamental mas se beneficia de uma economia do cuida- enfrentar a injustiça em sua dupla face: social e do, impõe uma dupla jornada de trabalho às ambiental, injustiça socioambiental. Para tanto, mulheres. A publicização e politização dessa se impõe como prioridade a disputa do ideal do agenda que emerge das lutas das mulheres é bem viver e uma busca sistemática de alternativas tarefa da cidadania como um todo, do local de poder e economia ao modelo de desenvolvi- ao mundial. mento industrial, produtivista e consumista do Em termos de agenda política, tendo capitalismo. Mas não é mais possível limitar-se à presente o contexto de crise profunda no qual mudança das relações sociais de produção para está o sistema hoje e mirando o caminho a cons- dar vazão às forças produtivas, como posto no truir para a transformação desta civilização de ideal dominante das esquerdas. trata-se de por injustiça socioambiental, é fundamental pensar em questão o tipo de desenvolvimento de forças no processo necessário de rupturas cumulativas. produtivas. ou seja, o ideal da sociedade indus- A questão que se impõe é política e ética ao trial, dos bens e serviços que propicia e do estilo mesmo tempo. A legalidade institucional deve de consumo e de vida que gera, é parte da in- ser tensionada pela legitimidade da mudança. justiça socioambiental que precisamos enfrentar. o arcabouço institucional que nos confina a A ideia de resistência à mercantilização de tudo, Estados-nação se revela como uma arena ne- dos bens comuns e da própria vida, está bem cessária, mas extremamente limitada da luta presente no clima do FSM. Mas isso é pouco. por “outro mundo possível” ou, como hoje É todo o imaginário de sociedades sustentáveis prefiro, “outra civilização possível”. Estamos que precisa ser refeito, do local ao mundial, se- diante da necessidade inadiável de contrapor gundo as possibilidades e os limites da biosfera a soberania cidadã e dos povos aos Estados so- e da criatividade cultural, científica e técnica de beranos e seu monopólio na esfera mundial do cada povo, em um espírito de interdependência poder (mesmo quando Estados subordinados e e solidariedade planetária. subservientes, como a maioria dos quase 200 um elemento-chave da nova cultura países do mundo). política e de uma agenda de transformação Isso implica tensionar a legalidade exis- social é descolonizar e libertar nossos modos de tente, dentro e fora, em nome de uma legitimi- pensar e agir. Muitas formas de ver as questões dade e responsabilidade ética de rever processos da exclusão social e pobreza nos tornam pre- e estruturas, políticas e econômicas, que negam sas fáceis de uma agenda de desenvolvimento direitos iguais e destroem as bases naturais da imposta pelo poder colonial e imperialista do vida. Considero fundamental radicalizar uma capitalismo. Não conseguimos pensar alterna- concepção emergente no processo FSM: a tivas de criação de maior justiça social fora de cidadania não é uma dádiva dos Estados, mas um quadro estreito de crescimento. condição política de ser parte da humanidade. No contexto de “crise de civilização” no tirando as consequências de tal afirmação, qual vivemos é outro poder e outra economia surge, necessariamente, a agenda de repensar que precisam ser pensados. Precisamos, ainda, e refundar o Estado como expressão política do desnaturalizar as relações que condenem mui- poder que as “cidadanias”, iguais e diversas, lhe tos à pobreza, exclusão, às múltiplas formas de conferem. vasta tarefa de construção política, desigualdade e dominação. Não é a falta de que precisa ser feita com mente aberta e muita desenvolvimento que explica tais situações, pelo ousadia política. contrário, é por causa dele. o desenvolvimento, Isso me remete a mais um elemento es- como símbolo da civilização no qual vivemos alia sencial da agenda: a nova arquitetura do poder. o velho e o novo e deles se alimenta. reinventa A interdependência entre povos e nações, no constantemente o racismo para dominar e ex- quadro do capitalismo globalizado de hoje, é, 72 Democracia ViVa Nº 44
  • 8. Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel sem dúvida, um grande problema gerado pela As cartas de Direitos Humanos – revista dominação imperialista dos países desenvolvidos, de uma perspectiva cosmopolita e liberta, ela particularmente dos EuA. Mas a interdepen- também, da perspectiva civilizatória ocidental – dência traz, contraditoriamente, uma enorme e a emergente, das responsabilidades Humanas, possibilidade de futuro. o próprio FSM, como fornecem elementos, mas ainda insuficientes. espaço de uma emergente cidadania planetária, Em termos políticos, uma agenda fundamental não seria possível não fosse a difusa consciência é politizar e radicalizar as potencialidades que de interdependência, na qual, em nossa diversi- oferecem as tecnologias de informação e co- dade de povos, culturas e identidades políticas, municação (tIC), por permitirem a participação somos parte de uma mesma humanidade e horizontal em escala planetária, com formação compartimos um mesmo Planeta. de redes sem fronteiras de países. Não se trata Interdependência, porém, não pode só de usar a tIC, mas de politizar o espaço que ser pensada e praticada sem uma localização oferecem como arena política de uma perspec- concreta, onde temos o essencial de nossas tiva cidadã cosmopolita. vidas e relações com os outro(as) e realizamos Finalmente, como brasileiro, penso que é nossas trocas com a biosfera. Como repensar indispensável problematizar o Brasil no contexto esse fundamental local, em termos de poder, mundial. Sabemos que temos muita injustiça cultura e economia, de uma perspectiva cidadã social e ambiental para dentro com que nos planetária? E como repensar o poder mundial ocupar. Corremos, porém, o risco de referendar de uma perspectiva de cidadania territorializa- uma agenda que vai contra tudo o que apontei da? Para não sermos pegos pelo pragmatismo anteriormente. Como país emergente, o Brasil mais multilateral (mas nada cosmopolita) que tende a usar a base de recursos naturais de que a crise impôs aos países dominantes do G-8, é dotado, em um mundo carente de tais recursos, abrindo-se ao G-20, com a inclusão de novos para, a seu modo, fazer valer a estrutura de poder sócios no clube do poder – incluindo o Brasil – e, regional e mundial a seu favor. A velha agenda assim melhor dominar o mundo, é fundamental do petróleo, como vem ficando claro no debate que enfrentemos a agenda da nova arquitetura sobre as reservas do pré-sal, e as propaladas possi- do poder, que implica necessa- bilidades de felicidade geral da nação podem nos riamente uma refundação da levar a referendar um conjunto de políticas que oNu e dos Estados-nação, reforçam o modelo de desenvolvimento ambien- no horizonte não tão talmente predatório e socialmente excludente. É distante assim. deste Brasil que a cidadania planetária precisa? SAMuEl toStA JaNeiro 2010 73
  • 9. 13 c u lt u r a Um possível novo modo de agir Aqui, quero chamar a atenção para a incon- mais amplo que seja sempre será dos que a tornável necessidade de organizar, de forma ele aderem. Portanto, ele já aponta para um nova, as forças para impulsionar a agenda. além FSM. A questão mais delicada é construir Novamente o FSM serve como um caldo ins- coalizões de sujeitos coletivos com um máximo pirador, mas falta a tarefa difícil e contínua de denominador comum – para me contrapor ao organizar os sujeitos, avaliar as oportunidades mínimo denominador comum de certas decla- políticas e ir à luta. Só destaco alguns pon- rações genéricas e vazias – sobre a agenda e a tos, pois, de fato, é no agir que se faz ação política. Falo de coalizões intermovimentos a ação (é caminhando que se faz e organizações de cidadania ativa. A experiência o caminho). Ele começa pelo existente, de relativo sucesso, é de campanhas acordo sobre a agenda, temáticas. No caso, porém, falo em ações di- que, por ferenciadas e coordenadas de uma cidadania militante, visando tensionar estruturas e poderes constituídos, nas mais diversas situações. A cultura política de inci- dência internacional é intra- movimentos e organizações, ligando o local ao mundial (confederações sindicais, via Campesina, Plataforma de Direitos Humanos, oxfam Internacional, Alop, Articulação Feminista Marcosul, para dar alguns exemplos). Falta-nos o inter- movimentos, organizações e redes. um elemento metodológico a conside- rar é a possibilidade de transformar a ideia de redes – dominantemente de diálogo político e concertação sobre agendas temáticas comuns – para algo mais no sentido da iniciativa e incidência coordenadas, como um verdadeiro 15 vANor CorrEIA 74 Democracia ViVa Nº 44
  • 10. 17 Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel trabalho político de cidadania desenvolvido em prioridade. A comunicação e as campanhas rede pelo conjunto diferenciado de sujeitos em públicas são, assim, uma arena prioritária do coalizão. Além da agenda propriamente dita modo de agir necessário. para a ação, definem-se os princípios e valores No FSM, fala-se em democratizar a de- éticos norteadores, os objetivos comuns e as mocracia. Como? Como concretizar a radicalida- formas de mobilizar e compartir recursos entre de do agir contido em tal afirmação? Penso que os parceiros. Isso exige paciente trabalho de se trata de apostar na democracia construção do que, potencialmente, venha a ser como modo de transformar a um sujeito político de novo tipo, com identidade sociedade, sem a opção e propostas, do local ao mundial. pela violência da força A questão crucial do agir é a disputa e armada. ou seja, a construção políticocultural de hegemonia nas radicalidade está em sociedades locais concretas e nos vários pata- fazer valer as contra- mares de incidência política, até as estruturas dições da disputa de de poder mundial (mídia, fóruns de dirigentes hegemonia e poder que políticos e empresariais, cúpulas etc.). refiro-me a democracia propicia, com à disputa de hegemonia no sentido gramsciano uma estratégia de re- que, em uma apropriação livre, defino como volução permanente, a criação de “grandes movimentos cidadãos de legitimidade das irresistíveis”. Como fazer isso sem protagonis- demandas cida- mos a priori, como é da tradição de esquerda? dãs, instituindo o segredo, me parece, está na construção de a legalidade do coalizões abertas, que partem de reconhecer direito como como indispensáveis os outros e outras e que conquistas de- de todos e todas depende a própria agenda e mocráticas. a construção do caminho de sua implementa- ção. Desse modo podem gestar-se consensos ativos, fundamentais para dar força na disputa de hegemonia. Mas é fundamental reconhecer que, para a cidadania, sempre o espaço público do debate e da livre-circulação de ideias é a lEoNArDo MEllo SAMuEl toStA JaNeiro 2010 75
  • 11. c u lt u r a 19 20 76 Democracia ViVa Nº 44
  • 12. 21 Fórum Social muNDial, a coNStrução De um outro muNDo poSSíVel vANor CorrEIA JaNeiro 2010 77