Claude Lévi-Strauss começa discutindo como, apesar de apreciar a ciência moderna, acredita que perdemos algo valioso ao nos afastarmos do pensamento mítico. Ele também acredita que a ciência contemporânea está se aproximando novamente desse pensamento ao integrar dados sensoriais em suas explicações. Por fim, usa exemplos como o estudo científico do cheiro para mostrar como a ciência está superando a separação entre mente e matéria estabelecida nos séculos XVII-XVIII.
Este documento apresenta um prefácio para o livro "Lições sobre Sartre" de Walter Matias Lima. O prefácio elogia o trabalho do autor e descreve brevemente alguns dos principais conceitos da filosofia de Jean-Paul Sartre abordados no livro, como liberdade, contingência, projeto e negação. O prefácio também encoraja o leitor a refletir criticamente sobre as ideias de Sartre e a fazer contrapontos com outros pensadores.
Formação de adultos políticas e práticas numero2 completoBélita Paiva
O documento discute a importância do conhecimento e da busca permanente por aprendizagem para a humanidade. A produção de conhecimento assume formas diversas, incluindo o saber científico, que se distingue pelo seu caráter sistemático e método explícito. O trabalho científico envolve uma busca contínua pela verdade através de conhecimento provisório e conjectural.
1) O documento resume um artigo sobre a obra do filósofo Alasdair MacIntyre e sua análise da situação atual da moralidade.
2) MacIntyre argumenta que a linguagem moral contemporânea está em desordem e que as filosofias dominantes não reconhecem esse problema.
3) Seu livro After Virtue busca mostrar como o projeto iluminista de justificar a moral racionalmente levou ao fracasso e ao emotivismo na cultura moderna.
Deleuze, gilles & guatari, félix o que é a filosofiaEVALDO DE ALMEIDA
1) O documento discute o que é filosofia e propõe que a filosofia é a arte de formar e inventar conceitos.
2) Os autores argumentam que conceitos requerem "personagens conceituais" para definí-los, como o amigo. Porém, o significado de amigo mudou com a filosofia grega.
3) A filosofia grega submeteu o amigo a uma violência conceitual, tornando-o uma categoria viva do pensamento em vez de uma relação com outro indivíduo.
Este documento resume o capítulo sobre o pensamento humanista-renascentista e suas características gerais, abordando conceitos como o significado historiográfico do termo "Humanismo", a interpretação da "Renascença" como "renovação" e "volta aos antigos", e as principais figuras e debates filosóficos do período, como o neoplatonismo de Nicolau de Cusa, Marsílio Ficino e Pico della Mirandola.
Resenha critica do fedro (caio grimberg)Caio Grimberg
O diálogo começa com Fedro lendo um discurso de Lísias sobre o amor. Sócrates critica o discurso por se preocupar mais com o estilo do que com a verdade. Ele então faz seu próprio discurso definindo o amor como um desejo, comparando-o a um lobo desejando um cordeiro. No entanto, Sócrates passa a se sentir mal por condenar o amor, sentindo que precisa reparar seu discurso.
Este documento apresenta a história da psicografia de um conjunto de sonetos pelo poeta Augusto dos Anjos através do médium Gilberto Campista Guarino. Descreve a admiração de Hernani Guimarães Andrade pelo poeta e como, durante uma conversa, Guarino psicografou um soneto de Anjos. Andrade mais tarde recebeu o título do soneto diretamente de Anjos, mostrando que o espírito do poeta ainda se interessava por temas filosóficos.
Nesta entrevista, Olavo de Carvalho discute sua visão da filosofia como um compromisso em compreender a realidade sem ignorar fatos, e não como uma invenção de explicações. Ele critica a situação dos estudos filosóficos no Brasil e a promoção da "filosofia para crianças". Carvalho também fala sobre sua experiência positiva na Romênia e seu apreço pelos romenos.
Este documento apresenta um prefácio para o livro "Lições sobre Sartre" de Walter Matias Lima. O prefácio elogia o trabalho do autor e descreve brevemente alguns dos principais conceitos da filosofia de Jean-Paul Sartre abordados no livro, como liberdade, contingência, projeto e negação. O prefácio também encoraja o leitor a refletir criticamente sobre as ideias de Sartre e a fazer contrapontos com outros pensadores.
Formação de adultos políticas e práticas numero2 completoBélita Paiva
O documento discute a importância do conhecimento e da busca permanente por aprendizagem para a humanidade. A produção de conhecimento assume formas diversas, incluindo o saber científico, que se distingue pelo seu caráter sistemático e método explícito. O trabalho científico envolve uma busca contínua pela verdade através de conhecimento provisório e conjectural.
1) O documento resume um artigo sobre a obra do filósofo Alasdair MacIntyre e sua análise da situação atual da moralidade.
2) MacIntyre argumenta que a linguagem moral contemporânea está em desordem e que as filosofias dominantes não reconhecem esse problema.
3) Seu livro After Virtue busca mostrar como o projeto iluminista de justificar a moral racionalmente levou ao fracasso e ao emotivismo na cultura moderna.
Deleuze, gilles & guatari, félix o que é a filosofiaEVALDO DE ALMEIDA
1) O documento discute o que é filosofia e propõe que a filosofia é a arte de formar e inventar conceitos.
2) Os autores argumentam que conceitos requerem "personagens conceituais" para definí-los, como o amigo. Porém, o significado de amigo mudou com a filosofia grega.
3) A filosofia grega submeteu o amigo a uma violência conceitual, tornando-o uma categoria viva do pensamento em vez de uma relação com outro indivíduo.
Este documento resume o capítulo sobre o pensamento humanista-renascentista e suas características gerais, abordando conceitos como o significado historiográfico do termo "Humanismo", a interpretação da "Renascença" como "renovação" e "volta aos antigos", e as principais figuras e debates filosóficos do período, como o neoplatonismo de Nicolau de Cusa, Marsílio Ficino e Pico della Mirandola.
Resenha critica do fedro (caio grimberg)Caio Grimberg
O diálogo começa com Fedro lendo um discurso de Lísias sobre o amor. Sócrates critica o discurso por se preocupar mais com o estilo do que com a verdade. Ele então faz seu próprio discurso definindo o amor como um desejo, comparando-o a um lobo desejando um cordeiro. No entanto, Sócrates passa a se sentir mal por condenar o amor, sentindo que precisa reparar seu discurso.
Este documento apresenta a história da psicografia de um conjunto de sonetos pelo poeta Augusto dos Anjos através do médium Gilberto Campista Guarino. Descreve a admiração de Hernani Guimarães Andrade pelo poeta e como, durante uma conversa, Guarino psicografou um soneto de Anjos. Andrade mais tarde recebeu o título do soneto diretamente de Anjos, mostrando que o espírito do poeta ainda se interessava por temas filosóficos.
Nesta entrevista, Olavo de Carvalho discute sua visão da filosofia como um compromisso em compreender a realidade sem ignorar fatos, e não como uma invenção de explicações. Ele critica a situação dos estudos filosóficos no Brasil e a promoção da "filosofia para crianças". Carvalho também fala sobre sua experiência positiva na Romênia e seu apreço pelos romenos.
Boas, crisoston terto vilas. para ler michel foucaultDany Pereira
1. O documento apresenta um resumo de três capítulos do livro de Crisoston Terto Vilas Boas sobre as idéias de Michel Foucault.
2. O autor divide a obra de Foucault em dois momentos: a arqueologia e a genealogia, focando na relação entre discurso, poder e verdade.
3. O livro pretende mostrar a pertinácia da reflexão foucaultiana sobre o poder e o saber através da análise de obras-chave como Vigiar e Punir e História da Sexualidade.
1. O documento apresenta a biografia e obra do filósofo argentino Dardo Scavino, autor do livro "A filosofia atual: pensar sem certezas".
2. O livro discute o "giro linguístico" na filosofia, no qual a linguagem deixa de ser um meio e passa a criar tanto o eu quanto a realidade.
3. Aborda também o "giro democrático", analisando conceitos como poder constituinte, comunismo democrático e novas formas de política e ética.
1) O autor não esperava dar unidade às notas que redigiu sobre acontecimentos culturais brasileiros entre 1992-1996.
2) Ele percebeu que as notas refletiam sua atenção para a alienação da elite intelectual brasileira, presa a modas que a impediam de enxergar verdades óbvias.
3) Este livro completa uma trilogia do autor estudando a patologia intelectual brasileira no contexto mundial.
1. O documento discute um livro sobre a filosofia de Quine e sua defesa do realismo quineano.
2. O autor sugere que o livro apresenta as teses de Quine de forma caridosa, mas oculta as opções interpretativas do autor.
3. O autor também discute as teses da indeterminação da tradução e da subdeterminação de teorias em Quine.
1. O senso comum refere-se a um conjunto de ideias e opiniões herdadas e aceitas como verdadeiras pela comunidade, sem questionamento formal.
2. Filósofos como Vico, Kant e Gadamer refletiram sobre o senso comum e seu papel na vida das pessoas e comunidades.
3. A elaboração do conceito envolve uma análise crítica e reflexiva, em contraste com o senso comum, visando definir formalmente as ideias.
O documento analisa o conto "O Alienista" de Machado de Assis, que critica as pretensões da ciência positivista do século XIX de definir claramente a linha entre razão e loucura. Através da história do médico Simão Bacamarte, que muda constantemente os critérios de normalidade em sua comunidade, a obra denuncia o vínculo entre ciência e poder.
08. Filosofia Para Crianças. Ano I, Nº 08 - Volume I - Porto Velho - Junho/2001.estevaofernandes
O documento discute a história da filosofia para crianças no Brasil desde a década de 1980, quando o programa foi introduzido no país. Ele descreve como o programa surgiu durante um período de abertura política após a ditadura militar e como seus promotores tiveram que superar resistências iniciais devido a desconfianças em relação a influências estrangeiras. O documento também explica os princípios e objetivos do programa de estimular habilidades de raciocínio e pensamento crítico em crianças.
1) O documento discute as diferentes etapas na formação do pensamento científico, desde as imagens iniciais até as abstrações mais avançadas.
2) É proposto que o espírito científico passa por três estágios: concreto, concreto-abstrato e abstrato.
3) Também são sugeridos três estágios nos interesses que sustentam o pensamento científico: curiosidade ingênua, interesse dogmático e interesse indutivo.
O documento apresenta notas preliminares à quarta edição brasileira do livro "A Ciência Oculta" de Rudolf Steiner. A editora explica que a nova edição contém uma tradução aprimorada com base na experiência adquirida em traduções anteriores. Também inclui subdivisões de parágrafos longos e uma tabela sinóptica no final sobre hierarquias espirituais mencionadas no livro.
IIMPOSTURAS INTELECTUAIS : resumo das principais discussõesLeticia Strehl
Esquema das principais discussões do livro "Imposturas intelectuais."
Referência:
SOKAL, Alan, BRICMONT, Jean. Imposturas intelectuais. Rio de Janeiro: Record, 1999. Publicado originalmente em francês sob o título Impostures intellectuelles, em 1997.
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobrorukacesarmrios
1. O documento discute as intersecções entre historiografia e religiosidade no mundo antigo, especificamente no que se refere às idades do mundo.
2. O autor argumenta que o mito é essencial para dar sentido e substância aos eventos históricos, mesmo para os primeiros historiadores como Heródoto e Tucídides.
3. Duas abordagens para analisar os mitos são discutidas: a arquetípica e a estruturalista.
Este documento apresenta o prefácio de Boaventura de Sousa Santos à edição brasileira de seu livro "Um Discurso Sobre as Ciências". Nele, o autor contextualiza o livro original e sua relevância diante dos debates atuais sobre epistemologia. Ele também descreve como as ideias defendidas no livro foram desenvolvidas em trabalhos posteriores e como o livro foi recebido, incluindo sua menção no famoso "Sokal affair".
1) O documento discute a transição para uma ciência pós-moderna, questionando o paradigma dominante da ciência moderna.
2) A ciência moderna estabeleceu distinções entre conhecimento científico e outros tipos de conhecimento, mas essas distinções estão agora em crise.
3) Uma nova ordem científica emergente pode integrar melhor as ciências naturais e sociais, diminuindo a distinção entre conhecimento científico e vulgar.
1) O documento discute o livro Works and Lives de Clifford Geertz, no qual ele analisa quatro antropólogos clássicos: Lévi-Strauss, Evans-Pritchard, Malinowski e Ruth Benedict.
2) Geertz argumenta que o trabalho do antropólogo se legitima na academia através da escrita e publicação. Ele também destaca a importância da linguagem nos escritos antropológicos.
3) A análise de Geertz de cada autor é criticada por ignorar contextos intelectuais e falta de empatia, ap
O documento apresenta o projeto de dissertação de mestrado de Arlindo Nascimento Rocha sobre os paradoxos da condição humana na filosofia de Blaise Pascal. O trabalho analisará a relação entre miséria e grandeza humana nos Pensamentos de Pascal, abordando a antropologia, epistemologia e psicologia do homem paradoxal.
1) O documento discute como a educação moderna se desenvolveu entre a transmissão de conhecimento e a vigilância, com a escola assumindo um papel de controle.
2) A autoridade do mestre diminuiu com a modernidade enquanto a reflexividade aumentou, mas isso também levou a uma perda da especificidade educacional.
3) Há debates sobre se as atuais dificuldades educacionais são resultado inevitável dos valores modernos ou se a função paterna sofreu mais um deslocamento do que um declínio.
Este documento apresenta um resumo de três pontos principais sobre a felicidade:
1) A felicidade sempre foi um tema central da filosofia desde os gregos, porém foi negligenciado nos séculos XX.
2) O autor defende que a filosofia deve ter como objetivo principal ajudar na busca da felicidade e da sabedoria.
3) Ele adota a definição de Epicuro de que a filosofia é uma atividade que tende a proporcionar uma vida feliz por meio do discurso e da razão.
Comte sponville, a. a felicidade, desesperadamenteKiti Soares
Este documento apresenta um resumo de três pontos principais sobre a felicidade:
1) A felicidade sempre foi um tema central da filosofia desde os gregos, porém foi esquecido por muitos filósofos contemporâneos.
2) O autor se inspirou em Epicuro para definir a filosofia como uma atividade que tende a proporcionar uma vida feliz.
3) A sabedoria é reconhecida pela felicidade, ou seja a meta da filosofia é alcançar uma felicidade verdadeira em relação com
O documento discute os princípios e métodos da antropologia social, incluindo a observação participante e o trabalho de campo para entender outros sistemas sociais de dentro. O trabalho de campo permite que os antropólogos vejam as diferenças culturais como sistemas coerentes em si mesmos, em vez de julgá-los com base em nossos próprios valores. A antropologia busca transformar o exótico em familiar e vice-versa através da empatia e da relativização de nossas próprias perspectivas.
Culturas e Histórias dos Povos IndígenasMarinaMarcos
Este capítulo discute a visão dos povos indígenas na história e na literatura brasileiras. Apresenta como esses povos foram retratados de forma etnocêntrica ao longo do tempo, ora como dóceis e passivos, ora como selvagens. Argumenta que os indígenas raramente foram vistos como sujeitos ativos na construção da história e identidade brasileiras, geralmente aparecendo como figurantes em suas próprias narrativas. Busca desconstruir esses discursos preconceituosos
Boas, crisoston terto vilas. para ler michel foucaultDany Pereira
1. O documento apresenta um resumo de três capítulos do livro de Crisoston Terto Vilas Boas sobre as idéias de Michel Foucault.
2. O autor divide a obra de Foucault em dois momentos: a arqueologia e a genealogia, focando na relação entre discurso, poder e verdade.
3. O livro pretende mostrar a pertinácia da reflexão foucaultiana sobre o poder e o saber através da análise de obras-chave como Vigiar e Punir e História da Sexualidade.
1. O documento apresenta a biografia e obra do filósofo argentino Dardo Scavino, autor do livro "A filosofia atual: pensar sem certezas".
2. O livro discute o "giro linguístico" na filosofia, no qual a linguagem deixa de ser um meio e passa a criar tanto o eu quanto a realidade.
3. Aborda também o "giro democrático", analisando conceitos como poder constituinte, comunismo democrático e novas formas de política e ética.
1) O autor não esperava dar unidade às notas que redigiu sobre acontecimentos culturais brasileiros entre 1992-1996.
2) Ele percebeu que as notas refletiam sua atenção para a alienação da elite intelectual brasileira, presa a modas que a impediam de enxergar verdades óbvias.
3) Este livro completa uma trilogia do autor estudando a patologia intelectual brasileira no contexto mundial.
1. O documento discute um livro sobre a filosofia de Quine e sua defesa do realismo quineano.
2. O autor sugere que o livro apresenta as teses de Quine de forma caridosa, mas oculta as opções interpretativas do autor.
3. O autor também discute as teses da indeterminação da tradução e da subdeterminação de teorias em Quine.
1. O senso comum refere-se a um conjunto de ideias e opiniões herdadas e aceitas como verdadeiras pela comunidade, sem questionamento formal.
2. Filósofos como Vico, Kant e Gadamer refletiram sobre o senso comum e seu papel na vida das pessoas e comunidades.
3. A elaboração do conceito envolve uma análise crítica e reflexiva, em contraste com o senso comum, visando definir formalmente as ideias.
O documento analisa o conto "O Alienista" de Machado de Assis, que critica as pretensões da ciência positivista do século XIX de definir claramente a linha entre razão e loucura. Através da história do médico Simão Bacamarte, que muda constantemente os critérios de normalidade em sua comunidade, a obra denuncia o vínculo entre ciência e poder.
08. Filosofia Para Crianças. Ano I, Nº 08 - Volume I - Porto Velho - Junho/2001.estevaofernandes
O documento discute a história da filosofia para crianças no Brasil desde a década de 1980, quando o programa foi introduzido no país. Ele descreve como o programa surgiu durante um período de abertura política após a ditadura militar e como seus promotores tiveram que superar resistências iniciais devido a desconfianças em relação a influências estrangeiras. O documento também explica os princípios e objetivos do programa de estimular habilidades de raciocínio e pensamento crítico em crianças.
1) O documento discute as diferentes etapas na formação do pensamento científico, desde as imagens iniciais até as abstrações mais avançadas.
2) É proposto que o espírito científico passa por três estágios: concreto, concreto-abstrato e abstrato.
3) Também são sugeridos três estágios nos interesses que sustentam o pensamento científico: curiosidade ingênua, interesse dogmático e interesse indutivo.
O documento apresenta notas preliminares à quarta edição brasileira do livro "A Ciência Oculta" de Rudolf Steiner. A editora explica que a nova edição contém uma tradução aprimorada com base na experiência adquirida em traduções anteriores. Também inclui subdivisões de parágrafos longos e uma tabela sinóptica no final sobre hierarquias espirituais mencionadas no livro.
IIMPOSTURAS INTELECTUAIS : resumo das principais discussõesLeticia Strehl
Esquema das principais discussões do livro "Imposturas intelectuais."
Referência:
SOKAL, Alan, BRICMONT, Jean. Imposturas intelectuais. Rio de Janeiro: Record, 1999. Publicado originalmente em francês sob o título Impostures intellectuelles, em 1997.
e-book "História e Apocalíptica" de Vicente Dobrorukacesarmrios
1. O documento discute as intersecções entre historiografia e religiosidade no mundo antigo, especificamente no que se refere às idades do mundo.
2. O autor argumenta que o mito é essencial para dar sentido e substância aos eventos históricos, mesmo para os primeiros historiadores como Heródoto e Tucídides.
3. Duas abordagens para analisar os mitos são discutidas: a arquetípica e a estruturalista.
Este documento apresenta o prefácio de Boaventura de Sousa Santos à edição brasileira de seu livro "Um Discurso Sobre as Ciências". Nele, o autor contextualiza o livro original e sua relevância diante dos debates atuais sobre epistemologia. Ele também descreve como as ideias defendidas no livro foram desenvolvidas em trabalhos posteriores e como o livro foi recebido, incluindo sua menção no famoso "Sokal affair".
1) O documento discute a transição para uma ciência pós-moderna, questionando o paradigma dominante da ciência moderna.
2) A ciência moderna estabeleceu distinções entre conhecimento científico e outros tipos de conhecimento, mas essas distinções estão agora em crise.
3) Uma nova ordem científica emergente pode integrar melhor as ciências naturais e sociais, diminuindo a distinção entre conhecimento científico e vulgar.
1) O documento discute o livro Works and Lives de Clifford Geertz, no qual ele analisa quatro antropólogos clássicos: Lévi-Strauss, Evans-Pritchard, Malinowski e Ruth Benedict.
2) Geertz argumenta que o trabalho do antropólogo se legitima na academia através da escrita e publicação. Ele também destaca a importância da linguagem nos escritos antropológicos.
3) A análise de Geertz de cada autor é criticada por ignorar contextos intelectuais e falta de empatia, ap
O documento apresenta o projeto de dissertação de mestrado de Arlindo Nascimento Rocha sobre os paradoxos da condição humana na filosofia de Blaise Pascal. O trabalho analisará a relação entre miséria e grandeza humana nos Pensamentos de Pascal, abordando a antropologia, epistemologia e psicologia do homem paradoxal.
1) O documento discute como a educação moderna se desenvolveu entre a transmissão de conhecimento e a vigilância, com a escola assumindo um papel de controle.
2) A autoridade do mestre diminuiu com a modernidade enquanto a reflexividade aumentou, mas isso também levou a uma perda da especificidade educacional.
3) Há debates sobre se as atuais dificuldades educacionais são resultado inevitável dos valores modernos ou se a função paterna sofreu mais um deslocamento do que um declínio.
Este documento apresenta um resumo de três pontos principais sobre a felicidade:
1) A felicidade sempre foi um tema central da filosofia desde os gregos, porém foi negligenciado nos séculos XX.
2) O autor defende que a filosofia deve ter como objetivo principal ajudar na busca da felicidade e da sabedoria.
3) Ele adota a definição de Epicuro de que a filosofia é uma atividade que tende a proporcionar uma vida feliz por meio do discurso e da razão.
Comte sponville, a. a felicidade, desesperadamenteKiti Soares
Este documento apresenta um resumo de três pontos principais sobre a felicidade:
1) A felicidade sempre foi um tema central da filosofia desde os gregos, porém foi esquecido por muitos filósofos contemporâneos.
2) O autor se inspirou em Epicuro para definir a filosofia como uma atividade que tende a proporcionar uma vida feliz.
3) A sabedoria é reconhecida pela felicidade, ou seja a meta da filosofia é alcançar uma felicidade verdadeira em relação com
O documento discute os princípios e métodos da antropologia social, incluindo a observação participante e o trabalho de campo para entender outros sistemas sociais de dentro. O trabalho de campo permite que os antropólogos vejam as diferenças culturais como sistemas coerentes em si mesmos, em vez de julgá-los com base em nossos próprios valores. A antropologia busca transformar o exótico em familiar e vice-versa através da empatia e da relativização de nossas próprias perspectivas.
Culturas e Histórias dos Povos IndígenasMarinaMarcos
Este capítulo discute a visão dos povos indígenas na história e na literatura brasileiras. Apresenta como esses povos foram retratados de forma etnocêntrica ao longo do tempo, ora como dóceis e passivos, ora como selvagens. Argumenta que os indígenas raramente foram vistos como sujeitos ativos na construção da história e identidade brasileiras, geralmente aparecendo como figurantes em suas próprias narrativas. Busca desconstruir esses discursos preconceituosos
Trabalho de-filosofia- mito e mitologiaSamuel Araújo
O documento discute os conceitos de mito e mitologia, apresentando:
1) Definições de mito como histórias populares ou religiosas que refletem visões de mundo e tentam explicar fenômenos, e de mitologia como o estudo e interpretação desses mitos;
2) Diferentes tipos de mitos e as principais mitologias como a grega, romana, egípcia, nórdica e celta;
3) A conclusão de que a mitologia é um conjunto de lendas e mitos e existem muitas
Este documento apresenta um resumo da história do pensamento antropológico e das principais tendências contemporâneas da antropologia. Começa discutindo as origens da antropologia no século XVIII e seu desenvolvimento ao longo dos séculos XIX e XX, quando estabeleceu seu objeto de estudo nas sociedades ditas "primitivas". Explora as crises de identidade da antropologia quando percebeu que seu objeto inicial estava desaparecendo e as respostas possíveis a isso, incluindo a busca por novos objetos de pesqu
Vestibular 2015 da UPE (Provas do 1º dia) Isaquel Silva
O documento descreve o processo de ingresso na UPE (Universidade de Pernambuco) para o primeiro dia de provas, incluindo informações sobre as disciplinas que seriam cobradas e instruções para preenchimento dos dados do candidato.
ESTE INVESTIGACIÓN ES PARA ALERTARNOS DE LAS OBRAS DE LAS TINIEBLAS. SABIENDO QUE ESTOS SON TIEMPOS SON PELIGROSOS Y DEBEMOS AFERRARNOS A LA VERDAD DE CRISTO LA CUAL NOS DA LIBERTAD Y VIDA ETERNA.
"EL QUE TENGA OÍDO, OIGA"
DIOS LES BENDIGA
O documento discute o conceito de mito, comparando-o com a filosofia. Define mito como uma narrativa tradicional que busca explicar fenômenos naturais e origens do mundo de forma simbólica e não racional. A filosofia, por outro lado, busca explicações lógicas e coerentes através de discussão e argumentos. O documento também apresenta o mito de Prometeu e cita Fernando Pessoa sobre mitos.
Este documento resume um momento de existência de Fernando Pessoa enquanto passeava pelas ruas de Lisboa em 21 de fevereiro de 1930. De repente, Pessoa sentiu com firmeza que realmente existia, porém logo retornou à sensação de que sua existência era insignificante e irreal. O texto também apresenta o filósofo Étienne Souriau e sua filosofia da arte, na qual buscava entender como tornar mais real aquilo que existe através de diferentes modos de existência.
COMO SE FAZ UMA TESE EM CI_NCIAS HUMANAS - UMBERTO ECO - 02.pdfBrunoMoedasPraia
O autor conta a história de como encontrou a solução para um problema em sua tese ao ler um livro pouco conhecido de um abade do século XIX. Apesar de o abade não ter descoberto nada de novo, ele forneceu uma referência valiosa que ajudou o autor. Isso ilustra a importância da humildade científica de ouvir todas as fontes sem preconceitos.
1) O documento analisa o livro "Mythologies" de Roland Barthes, publicado originalmente em 1957. Barthes era um teórico francês influenciado pela escola estruturalista.
2) O livro pode ser dividido em duas partes: a primeira consiste em uma série de pequenas histórias analisando mitos da sociedade moderna, e a segunda parte é mais teórica.
3) Barthes pretende mostrar como os mitos podem ser reinterpretados para ajudar o homem moderno a ter uma nova visão de si mesmo, criticando principal
As Ciências Sociais estudam fenômenos sociais que nos afetam no dia a dia para entender por que a vida em sociedade é como é. Elas questionam nossas certezas e podem revelar aspectos escondidos da realidade, modificando nossa percepção do mundo. A imaginação sociológica nos ajuda a pensar fora de nossas experiências pessoais e enxergar questões em um contexto mais amplo.
Este texto apresenta um poema de Raul de Leoni que reflete sobre a relação entre as coisas e a alma humana. O poema sugere que embora as coisas pareçam sempre iguais, na verdade nada se repete exatamente, pois o espírito humano que as percebe está em constante mudança.
O documento descreve um livro chamado EgoCiência e SerCiência, dividido em 4 partes. A primeira parte usa termos como "Não Matéria", "Não Vida" e "Não Mundo" para descrever novas formas de analisar conceitos através de uma linguagem diferente. A autora desenvolveu esses termos ao longo de anos de autoanálise e inspirações para expressar uma visão que une opostos.
O documento discute diferentes perspectivas sobre o sentido da vida, incluindo visões religiosas, existencialistas e propostas do autor. O autor defende que o sentido da vida está ligado à capacidade de trazer felicidade para outras pessoas, não apenas para si mesmo, e que quanto maior o alcance dessa felicidade, maior o sentido. A felicidade que beneficia a si e aos outros é mais significativa do que prazeres puramente pessoais.
O documento discute diferentes perspectivas sobre o sentido da vida, incluindo visões religiosas, existencialistas e propostas do autor. O autor defende que o sentido da vida está ligado à capacidade de trazer felicidade para outras pessoas, não apenas para si mesmo, e que quanto maior o alcance dessa felicidade, maior o sentido. A felicidade que beneficia a si e aos outros é mais significativa do que prazeres puramente pessoais.
Resenha de "A Lei do Mais Belo" de Nancy Etcoff produzida para a matéria de "Estética" do curso Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas.
Ego ciência e serciência versus proposta do sagradoCarlos Azeitona
1) O documento descreve uma experiência de visualização de diferentes níveis de energia no universo, percebidos como sensações.
2) A energia é descrita como inteligência, pensamento e linguagem que permeia todo o universo.
3) É sugerido que a famosa fórmula de Einstein sobre energia e massa pode não capturar completamente a natureza da energia descrita na experiência.
1) O documento apresenta um resumo da teoria da Análise Institucional, definindo-a como um método que visa elucidar as relações reais entre indivíduos e normas instituídas.
2) A Análise Institucional opera sobre situações concretas para mostrar a ação das instituições presentes/ausentes e como elas influenciam a organização social.
3) Para haver uma Análise Institucional é necessário analisar a demanda, promover a autogestão do grupo sobre o qual incide a intervenção, e articular a prática
Este documento apresenta a biografia do antropólogo Claude Lévi-Strauss, descrevendo sua formação acadêmica, principais obras e visão sociológica. Ele nasceu na Bélgica em 1908 e estudou direito e filosofia na França, tornando-se professor de sociologia na Universidade de São Paulo. Suas obras fundamentais incluem As estruturas elementares do parentesco e a série Mitológicas, onde analisou centenas de mitos para entender a mente humana. Lévi-Strauss falece
O Círculo de Viena e a Escola de Frankfurt desenvolveram duas críticas distintas da linguagem no século XX. O Círculo de Viena focou-se na análise lógica da linguagem para distinguir enunciados dotados de sentido daqueles que não são, enquanto a Escola de Frankfurt criticou a linguagem como instrumento de dominação social que justifica a exploração do trabalho.
Antropologia e psicologia apontamentos para um diálogo aberto, 2004Jailda Gama
O documento discute as bases epistemológicas da antropologia e psicologia e como elas se relacionam. A autora argumenta que a antropologia enfatiza o contexto social enquanto a psicologia foca no indivíduo. No entanto, ambas as disciplinas reconhecem a influência mútua entre indivíduo e sociedade. A autora também discute como conceitos como "cultura" evoluíram para incorporar dinamicidade e agência individual.
Um Índio Didático. Notas para o estudo de representações - Everardo Pereira G...Junior Ferreira
1. O documento discute a representação do índio nos livros didáticos e como essas representações podem perpetuar valores e atitudes socialmente privilegiadas.
2. Analisa como as sociedades tendem a ver os "outros" como ameaçadores ou inferiores, distorcendo suas realidades através de estereótipos e generalizações.
3. Tem como objetivo principal analisar quais imagens do índio são mais comuns nos livros didáticos de história e como essas representações são transmitidas às novas gerações.
O documento discute a questão da sobrevivência da alma após a morte do corpo e apresenta evidências experimentais para a existência de vida após a morte, incluindo fenômenos psíquicos e comunicações de cientistas e espíritos através de médiuns.
Aula 01 Interpretação e eleaboração de textos.pptxIsaquia Franco
O texto discute a solidão inerente à conectividade moderna. Apesar de estarmos mais conectados do que nunca através da internet e dispositivos eletrônicos, o autor argumenta que isso acaba disfarçando a solidão fundamental da experiência humana, já que cada um está imerso em seu próprio mundo virtual.
O documento discute o conceito de iniciação do ponto de vista filosófico. A iniciação é descrita como um estado espiritual no qual a pessoa participa de uma realidade distinta da realidade dos não-iniciados. Ser iniciado requer um trabalho sobre si mesmo para conhecer quem se é e quem se quer ser, e encontrar formas de alcançar esse objetivo. A comunidade e o número três são apontados como instrumentos importantes nesse processo.
Oficina de escrita criativa - Não-ficção | essenseagência essense
O documento fornece informações sobre uma oficina de escrita sobre narrativas não ficcionais. O documento descreve os três módulos da oficina, que abordam tópicos como gêneros de escrita, estrutura narrativa e intercâmbio de textos. Ele também lista alguns gêneros como perfil, biografia, memória, artigo e jornalismo literário, fornecendo links e exemplos de cada um.
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Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
Slideshare Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24, Pr Henrique, EBD NA TV, Lições Bíblicas, 2º Trimestre de 2024, adultos, Tema, A CARREIRA QUE NOS ESTÁ PROPOSTA, O CAMINHO DA SALVAÇÃO, SANTIDADE E PERSEVERANÇA PARA CHEGAR AO CÉU, Coment Osiel Gomes, estudantes, professores, Ervália, MG, Imperatriz, MA, Cajamar, SP, estudos bíblicos, gospel, DEUS, ESPÍRITO SANTO, JESUS CRISTO, Com. Extra Pr. Luiz Henrique, de Almeida Silva, tel-What, 99-99152-0454, Canal YouTube, Henriquelhas, @PrHenrique, https://ebdnatv.blogspot.com/
O Que é Um Ménage à Trois?
A sociedade contemporânea está passando por grandes mudanças comportamentais no âmbito da sexualidade humana, tendo inversão de valores indescritíveis, que assusta as famílias tradicionais instituídas na Palavra de Deus.
2. CLAUDE LÉVI-STRAUSS
MITO E SIGNIFICADO
COLETIVO SABOTAGEM
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
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Autor: Claude Levi-Strauss
Título: Mito e Significado
Título Original: Myth and Meaning
Tradução: Antônio Marques Bessa
Data Publicação Original: 1978
Esta obra não possui direitos autorais pode e deve ser reproduzida no todo ou em parte,
além de ser liberada a sua distribuição, preservando seu conteúdo e o nome de seu autor.
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
4. ÍN D I C E
As Con f e rê n c i as Massey de 1977 .................................. 05
Intro d u çã o ...................................................................... 08
I. O Enco n t r o do M i t o e da Ciênc i a ............................... 10
II. Pensa me n t o «Pri m i t i v o » e M e n t e «Ci v i l i z a d a »......... 18
III. Láb i os Rachad os e Gê m e os: a A ná l ise de um M i t o.. 27
I V. Quan d o o M i t o Se Tor na Histó r i a............................ 34
V. M i t o e M ús i c a........................................................... 42
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
5. A S CO N F E R Ê N C I A S M A S S E Y D E 1977
Desde o advento da Ciência, no século XVII, que rejeitamos a
mitologia como um produto das mentes supersticiosas e primitivas.
Contudo, só agora conseguimos ter uma perspectiva mais profunda
e completa da natureza e do papel do mito na história do Homem.
Nestas cinco conferências, o notável antropólogo Claude Lévi-
Strauss oferece penetrantevisão que é fruto de uma vida dedicada a
interpretar os mitos e a tentar descobrir o seu significado para o
entendimento humano.
As palestras intituladas «Mito e Significado», foram
transmitidas no programa Ideas, da Rádio CBC, em Dezembro de
1977, sendo preparadas a partir de uma série de longas conversas
entre o Professor Lévi-Strauss e Carole Orr Jerome, produtora da
secção parisiense da CBC. A realização do programa esteve a
cargo de Geraldine Sherman, diretora de Ideas , e Bernie Lucht foi
responsável pela produção.
As palestras foram desenvolvidas para efeitos de publicação,
acrescentando-se algum material que, pelas limitações de tempo,
não pôde ser utilizado na emissão original. As locuções oratórias
sofreram também uma ligeira revisão, de modo a adaptarem-se às
convenções mais rígidas do texto impresso. Carole Orr Jerome
elaborou as questões a formular ao professor Lévi-Strauss, o que
contribuiu para a forma definitiva das palestras. Os problemas e
temas levantados por Carole foram os seguintes:
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
6. CAPÍTULO 1
Muitos dos seus leitores pensaram que o senhor tenta fazer-
nos voltar ao pensamento mitológico, que tem a idéia de que
perdemos uma coisa muito valiosa e devemos tentar conquistá-la de
novo. Significa porventura esta formulação que devemos pôr de
lado a ciência e o pensamento moderno para regressar ao
pensamento mítico?
Que é o estruturalismo? Como é que chegou à conclusão de
que o pensamento estrutural era uma possibilidade?
É necessário haver ordem e normas para haver significado?
Poderá haver significado no caos? Que pretende dizer quando
afirma que a ordem é preferível à desordem?
CAPÍTULOS II E III
Há escritores que afirmam que o pensamento dos chamados
povos primitivos é inferior ao pensamento científico. Afirmam que é
inferior não por causa do estilo, mas porque, cientificamente
falando, está errado. Como é que compararia o pensamento
«primitivo» com o pensamento «científico».?
Aldous Huxley, na obra The Do o rs of Percepti o n , disse que a
maioria das pessoas apenas usa uma pequena parte dos seus
poderes mentais e que o restante não é praticamente utilizado.
Pensa que com o tipo de vida que temos hoje em dia tendemos a
usar menos as nossas capacidades mentais do que os povos acerca
de quem escreve e que pensam de maneira mitológica?
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
7. A Natureza mostra-nos um mundo variegado e nós tendemos a
fixar-nos mais nas diferenças que nos separam do que nas
semelhanças do desenvolvimento das nossas culturas. Acha que
estamos a caminhar para um ponto em que poderemos começar a
eliminar muitas das divisões que existementre nós?
CAPÍTULO IV
Existe o velho problema de que o investigador altera o objeto
da sua investigação pelo simples fato de estar no local.
Considerando as nossas coletas de histórias míticas, acha que são
elas que têm um significado e uma ordem próprias, ou essa ordem
foi imposta pelos antropólogos que recolheram as histórias?
Qual é a diferença entre a organização conceptual do
pensamento mítico e a da História? A narração mítica de uma
história, lida com fatos históricos, transformando-os e utilizando-os
de outra maneira?
CAPÍTULO V
Pode falar-nos de um modo genérico acerca da relação entre
o mito e a música?
Disse que o mito e a música provêm da linguagem, mas que
evoluem em diferentes direções. Que quer dizer com isto?
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
8. IN T R O D U Ç Ã O
Em b o r a vá falar acerca do que escrev i – os meus livr os, os
meus artig os e outros trabal h o s –, acontece que, infel i z m e n t e,
esqueço o que escrev o quase imed ia ta m e n t e depois de acabar.
Pro va v e l m e n t e, isso trará alguns proble m a s. Crei o, no entanto, que
há algu m a coisa de signi f i c a t i v o no fato de eu nem sequer ter a
sensação de haver escrito os meus livr os. Tenh o, ao contrári o, a
sensação de que os livr os são escritos através de mi m, e, logo que
acaba m de me atravessar, sinto- me vazio e em mi m nada fica.
Estarão lem b r a d os de que eu escrev i que os mitos desperta m
no Ho m e m pensa me n t os que lhe são desco n h e c i d o s. Esta afir m a ç ã o
tem sido muit o debatida e até critica da pelos meus colegas de líng ua
inglesa, porq ue entende m que, de um ponto de vista emp í r i c o, é uma
frase que, em últi m a análise, não possui qualq u er signi f i c a d o. M as
para mi m ela descre ve uma experiê n c i a vi v i d a, porq ue expri m e
precisa m e n te o mod o co m o eu aperceb o a mi n ha própr i a relação
com a mi n h a obra. Ou seja, a min h a obra desperta- me pensa m e n t o s
descon h e c i d o s para mi m.
Nu n ca tive, e ainda não tenho, a percepçã o do senti m e n t o da
min ha identi d a d e pessoal. A p areç o perante mi m mes m o co m o o
lugar onde há coisas que acontece m, mas não há o «Eu», não há o
«mi m ». Cada um de nós é uma espécie de encruz i l h a d a onde
acontece m coisas. As encruz i l h a d as são pura m e n t e passi vas; há algo
que acontece nesse lugar. Outras coisas igual m e n t e váli das
acontece m em outros pontos. Não há opção: é uma questão de
proba b i l i d a d es.
Não pretend o de for m a algu m a estar habil i ta d o a conc l u i r, lá
porq ue penso deste mo d o, que toda a Hu m a n i d a d e pensa també m
desta for m a. M as acho que o mo d o pecul i a r co m o cada investi ga d o r
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
9. e escrito r pensa e escreve abre uma nova perspecti v a acerca da
Hu m a n i d a d e. E o fato de eu, pessoal m e n t e, ter esta idi ossi n c rasia
talvez me habil ite a apontar algu m a coisa de váli d o, enqua nt o o
mo d o co m o pensa m os meus colegas abre diferen tes perspect i v as,
todas elas igual m e n t e válidas.
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
10. I
O E N C O N T R O D O M I T O E D A CI Ê N C I A
Dei x e m- me co me ça r co m uma conf issão pessoal. Há uma
revista que leio fiel m e n t e todos os meses do princ í p i o ao fi m, apesar
de não entende r tudo quanto diz: é o Scientific American. Em p e n h o-
me em estar tão be m info r m a d o quanto possí ve l a respeito de tudo
quanto acontece na ciência mo de r n a e das suas mais recentes
revelaç õ es. Por conseg u i n te, a mi n h a posição para co m a ciência não
é de for m a algu m a negati v a.
Em segun d o lugar, creio que há certas coisas que perde m o s e
que devía m o s fazer um esforç o para as conq u istar de nov o, porq ue
não estou seguro de que, no tipo de mu n d o em que vi ve m o s e co m o
tipo de pensa me n t o cientí f i c o a que esta m os sujeitos, possa m os
recon q u istar tais coisas co m o se nunca as tivésse m o s perdi d o; mas
pode m o s tentar tornar- nos conscie n tes da sua existênc i a e da sua
im p o r tâ n c i a.
Em terceiro lugar, tenho a sensação de que a ciênc ia mo de r n a,
na sua evolu ç ã o, não está se afastan d o destas matérias perdi das, e
que, pelo contrári o, tenta cada vez mais reinteg rá- las no camp o da
explic aç ã o cientí f i c a. O fosso, a separação real, entre a ciênc ia e
aquil o que podería m o s deno m i n a r pensa me n t o mit o l ó g i c o, para
encont rar um no me, emb o ra não seja exata m e n te isso, ocorreu nos
séculos X V I I e X V I I I . Por essa altura, co m Bac o n, Descartes,
Ne w t o n e outros, torno u- se necessári o à ciência levantar- se e
afir m a r- se contra as velhas gerações de pensa m e n t o místi c o e
míti c o, e pensou- se então que a ciência só podia existi r se voltasse
costas ao mu n d o dos sentid os, o mu n d o que ve m o s, cheira m o s,
saborea m o s e percebe m o s; o mun d o sensorial é um mu n d o ilusóri o,
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
11. ao passo que o mun d o real seria um mu n d o de propr i e d a d es
mate m á t i c as que só pode m ser descobertas pelo intelect o e que estão
em contra d i ç ã o total com o teste m u n h o dos sentid os. Este
mo v i m e n t o foi pro va v e l m e n t e necessári o, pois a experiê n c i a
dem o ns t ra- nos que, graças a esta separaçã o – este cis ma, se se quiser
–, o pensa me n t o cientí f i c o enco nt r o u condi ç õ es para se auto-
constit u i r.
Assi m, tenho a imp ressão de que (e, evide nte m e n t e, não falo
com o cientista – não sou físic o, não sou biól o g o, não sou quí m i c o) a
ciênc ia conte m p o r â n e a está no cami n h o para superar este fosso e
que os dados dos sentid os estão sendo cada vez mais reinteg ra d os na
explic aç ã o cientí f i c a co m o uma coisa que tem um signi f i c a d o, que
tem uma verda de e que pode ser expl i c a da.
To m e- se, por exe m p l o, o mu n d o dos cheiros. Nós estáva m o s
habit ua d os a pensar que se tratava de uma coisa co m p l e ta m e n t e
subject i v a e fora do mu n d o da ciênc ia. Pois agora os quí m i c o s estão
habilita d o s a dizer- nos que cada cheir o e cada gosto têm uma
deter m i n a d a co m p os i ç ã o quí m i c a e a expl i c ar- nos por que é que,
subjeti v a m e n t e, certos cheiros e gostos nos parece m ter algu m a
coisa em co m u m , enquant o acha m os outros mui t o diferentes.
To m e m o s outro exe m p l o. Ho u v e na Fil os o f i a, desde o temp o
dos Greg os até aos séculos X V I I I e mes m o X I X – e ainda hoje, em
certo sentid o –, uma discussão tre me n d a sobre a orige m das ideias
mate m á t i c as: a ideia de linha, a ideia de círc u l o, a ideia de triân g u l o.
Ha v ia, funda m e n t a l m e n t e, duas teorias clássicas do m i n a n tes: a
pri m e i r a era a da mente co m o uma tabula rasa, que nada tinha, no
com e ç o, dentro de si; tudo lhe chega v a a partir da experiê n c i a. É por
observa r m o s uma série de objetos redon d o s, nenh u m dos quais
perfeita m e n t e redon d o, que som os capazes, apesar de tudo, de
abstrair a ideia de círc u l o. A segun da teoria clássica remo n t a a
Platão, que defen de u que essas ideias de círcu l o, de triâng u l o, de
linha, eram ideias perfeitas, inatas à mente, e é por existire m na
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
12. mente que somos capazes de as projectar, para o dizer de algu m
mo d o, na realida de, embo ra a reali da de nunca nos ofereça um
círcu l o ou um triâng u l o perfeit os.
At ua l m e n t e, os investi ga d o r es conte m p o r â n e o s no camp o da
neuro f is i o l o g i a da visão ensina m- nos que as células nerv osas da
retina e os outros aparelh os por detrás da retina estão especial i z a d o s:
algu m as células só são sensí ve is à direçã o em linha reta, outras à
direção em sentid o vertica l ou horiz o n ta l ou oblí q u o, e outras, ainda,
apenas são sensíve is à relação entre o fun d o e as figu ras destacadas,
e assim por diante. Assi m – e eu simp l i f i c o demasia d o porq ue é para
mi m muit o co m p l i c a d o expl i ca r tudo isto em inglês –, todo este
prob le m a da experiê n c ia em oposiçã o à mente parece ter uma
solução na estrutu ra do siste ma nerv os o, não na estrutu ra da mente
nem na da experiê n c i a, mas nu m ponto inter m é d i o entre a mente e a
experiê n c i a, no mo d o co m o o nosso siste ma nerv os o está constru í d o
e na mane ira co m o se interp õe entre a mente e a experiê n c i a.
É prov á v e l que haja qualq ue r coisa na prof u n d i d a d e da mi n ha
mente que faça co m que eu semp re tenha sido o que hoje se desig na
por estrutu ra l is ta. A min h a mãe conto u- me que, quand o eu tinha
cerca de dois anos e era obvia m e n t e incapaz de ler, afir m e i que era
de fato capaz de o fazer. E, quand o me pergu n ta ra m porq uê, disse
que, ao olhar para as tabuletas das lojas – por exe m p l o boulanger
(padeiro) ou boucher (talho) –, era capaz de entender qualq ue r coisa
porq ue aquil o que era obvi a m e n t e semel h a n te du m ponto de vista
gráfic o não poderia ter na escrita outro signi f i c a d o senão «bou», a
pri m e i r a sílaba co m u m a boulanger e a boucher. É pro vá v e l que não
haja mu it o mais que isto na aborda ge m estrutu ra l i sta; é a busca de
invaria n tes ou de eleme n t os invar ia n tes entre difere n ças superf i c i a i s.
Esta busca, durante a min h a vida, tem- se revelad o co m o um
interesse predo m i n a n t e. Quan d o era ainda criança, a mi n ha
curios i d a d e centro u- se durante algu m temp o na Geol o g i a. O
prob le m a na Geo l o g i a é també m tentar co m p r ee n d e r o que é
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
13. invaria n te na tre me n d a diversi da de da paisage m, ou seja, reduz i r a
paisage m a um nú mer o finito de dados e operaç ões geol ó g i c as. M a i s
tarde, co m o adolescente, gastei grande parte do meu temp o livre
desenha n d o fatos e cenári os para a ópera. A q u i també m o prob le m a
é exata m e n te o mes m o – tentar expri m i r nu ma ling u a g e m, isto é, na
ling ua ge m das artes gráficas e da pintura, algo que també m existe na
música e no libretto ou seja, tentar expri m i r a propr i e d a d e
;
invaria n te de um variad o e co m p l e x o conj u n t o de códi g os (o códi g o
musica l, o códi g o literári o, o códi g o artístic o). O prob le m a é
descob r i r aquil o que é co m u m a todos. É um prob le m a, poder- se-ia
dizer, de tradu çã o, de traduz i r o que está expresso nu ma ling ua ge m
– ou nu m códig o, se se prefer i r, mas ling u a g e m é sufic ie n te – nu m a
expressão de uma ling ua ge m diferen te.
O estrutura l is m o, ou o que quer que se desig ne por este no me,
tem sido considera d o co m o algo co m p l e ta m e n te nov o e
revo l u c i o n á r i o para a altura; ora, isto, segund o penso, é dupla m e n t e
falso. Em pri m e i r o lugar, até no cam p o das hu ma n i d a d es o
estrutura l is m o não tem nada de nov o; pode-se seguir perfeita m e n t e
esta linha de pensa me n t o desde a Renasce nça até ao sécul o X I X e ao
nosso temp o. M as essa ideia també m é errada por outro mot i v o : o
que deno m i n a m o s estrutu ra l is m o no camp o da Li n g u í st i c a ou da
A n tr o p o l o g i a, ou em outras disci p l i n as, não é mais que uma páli da
imitaçã o do que as ciências naturais andara m a fazer desde semp re.
A Ciênc ia apenas tem dois mo d os de proceder: ou é
reduc i o n is ta ou é estrutu ra l ista. É reduc i o n i s ta quan d o descob re que
é possí ve l reduz ir fenô m e n o s mui t o co m p l e x o s, nu m deter m i n a d o
nível, a fenô m e n o s mais sim p l es, noutr os níve is. Por exe m p l o, há
mu itas coisas na vida que pode m ser reduz i d as a processos físic o-
quí m i c o s, que expli ca m parcial m e n t e essas coisas, mas não
total m e n t e. E, quand o somos con fr o n t a d o s co m fenô m e n o s
demasiad o co m p l e x o s para serem reduz i d o s a fenô m e n o s de orde m
inferi o r, só os pode m o s abordar estudan d o as suas relações internas,
isto é, tentan d o co m p ree n d e r que tipo de siste ma orig i n a l for m a m no
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
14. seu conju n t o. Isto é precisa m e n t e o que tenta m o s fazer na
Lin g u ís t i c a, na A n t r o p o l o g i a e em mu it os outros camp o s.
É certo – e va m os persona l i z a r a Natu reza para efeitos de
racioc í n i o – que a Natu re za apenas dispõe de um nú me r o li m i ta d o
de proced i m e n t o s e que os tipos de proced i m e n t o que utili z a a um
certo nível da realida de são susceptí v e i s de aparecer a outros níve is.
O códig o genétic o é um bo m exe m p l o; é sabido que, quan d o os
biól o g o s e os genetic istas experi m e n t a ra m difi c u l d a d es em
descre ve r o que tinha m descobe rt o, não enco nt ra ra m mel h o r soluçã o
que pedir empresta da à Lin g u í s t i c a a sua ling ua ge m, e passar então a
falar de palav ra, de frase, de acento, de sinais de pontua çã o, e assi m
por diante. Não quero dizer que seja a mes ma coisa; é evide nte que
não o é. M as é o mes m o tipo de prob le m a surgi n d o em dois níveis
difere ntes da realida de.
Lo n g e de mi m a idéia de tentar reduz i r a Cult u ra, co m o
dize m o s no nosso calão antro p o l ó g i c o, à Natu re za; contu d o, aquil o
que observa m o s ao nível da cultu ra são fenô m e n o s do mes m o tipo,
se considera d os a partir de um ponto de vista for m a l (não quero de
for m a algu m a dizer em substânc ia). Pode m o s, pelo menos, analisar
ao nível da mente o mes m o prob le m a que obser va m o s na Natu re za,
emb o ra, evide nte m e n t e, o cultura l seja mu i t o mais co m p l i c a d o e
exija um maio r nú me r o de variá v e is.
Não estou tentan d o for m u l a r uma filoso f i a ou mes m o uma
teoria. Desde criança que me senti inco m o d a d o pelo irraci o n a l e,
desde então, tenho tentado enco nt ra r uma orde m por detrás daqui l o
que se nos apresenta co m o uma desorde m. E aconteceu que me
tornei um antro p ó l o g o, não porqu e estivesse interessad o na
A n tr o p o l o g i a, mas porq ue tenta va deixa r a Fil os o f i a. Sucedeu
tam bé m que na estrutu ra acadê m i c a francesa desse temp o, em que a
A n tr o p o l o g i a não se ensina va co m o uma disci p l i n a indepen de n te nas
univ ers i d a d es, era possí ve l a uma pessoa co m for m a ç ã o em Filoso f i a
passar para A n t r o p o l o g i a. Escapei- me para esse cam p o e enfren te i
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
15. ime d iata m e n t e um prob le m a – havia uma grande quanti da d e de
regras de casame n t o em todo o mu n d o que parecia m absol uta m e n te
despro v i d a s de signi f i c a d o, e isso era ainda mais irritante quanto, se
de fato não possuía m signi f i c a d o, deveria então haver regras
difere ntes para cada pov o, emb o ra o nú me r o de regras pudesse ser
mais ou men os finit o. Assi m, se o mes m o absurd o se viesse a repetir
uma e outra vez, e outro tipo de absurd o també m noutro local, então
isso seria uma coisa que nada teria de absurd o; se fosse absurd o não
voltaria a aparecer.
Esta foi a min h a pri m e i r a orientaçã o, e cifro u- se em descob r i r
a orde m por detrás desta aparente desorde m. E quand o, depo is de ter
trabalha d o nos siste mas de parentesco e nas regras de matri m ô n i o,
voltei a min ha atenção, també m por acaso e não por opção, para a
mit o l o g i a, o prob le m a de m o n st r o u ser o mes m o. As histórias de
caráter mito l ó g i c o são, ou parece m ser, arbitrár i as, sem signi f i c a d o,
absurdas, mas apesar de tudo dir-se-ia que reaparece m um pouc o por
toda a parte. U m a criação «fantasi osa» da mente nu m deter m i n a d o
lugar seria obrigat o r ia m e n t e única – não se esperaria enco nt ra r a
mes m a criação nu m lugar co m p l e ta m e n t e diferen te. O meu
prob le m a era tentar descob r i r se havia algu m tipo de orde m por
detrás desta desorde m aparente – e era tudo. Não afir m o que haja
concl us ões a tirar de todo esse materia l.
Segu n d o penso, é absol uta m e n t e imp ossí v e l conce ber o
signi f i c a d o sem a orde m. Há uma coisa mui t o curiosa na semânti ca,
é que a palav ra «signi f i c a d o » é pro va v e l m e n t e, em toda a líng ua, a
pala vra cujo signi f i c a d o é mais difí c i l de enco nt ra r. Que é que
signi f i c a o term o «sign i f i c a r »? Parece-me que a única resposta que
se pode dar é que «sign i f i c a r » signi f i c a a possib i l i d a d e de qual q ue r
tipo de info r m a ç ã o ser tradu z i d a nu ma ling ua ge m diferen te. Não me
refiro a uma líng ua diferen te, co m o o francês ou o alemã o, mas a
difere ntes palav ras nu m nível difere nte. No fi m de contas, esta
tradu çã o é a que se espera de um dici o n á r i o – o signi f i c a d o da
pala vra em outras palav ras que, a um níve l ligeira m e n t e difere nte,
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Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
16. são iso m ó r f i c as relati v a m e n t e à pala v ra ou à expressão que se
pretende perceber. E porq ue não se pode substitu i r uma palav ra por
qualq u er outra palav ra, ou uma frase por qualq ue r outra frase
(arbitrárias), tem de haver regras de traduçã o. Falar de regras e falar
de signi f i c a d o é falar da mes ma coisa; e, se olhar m o s para todas as
realizaç ões da Hu m a n i d a d e, segui n d o os registr os dispo n í v e i s em
todo o mu n d o, verif i c a re m o s que o deno m i n a d o r co m u m é sempre a
intro d u ç ã o de algu m a espécie de orde m. Se isto representa uma
necessida de básica de orde m na esfera da mente hu ma n a e se a
mente hu ma n a, no fi m de contas, não passa de uma parte do
univ ers o, então quiçá a necessida de exista porq ue há algu m tipo de
orde m no uni ve rs o e o uni ve rs o não é um caos.
O que tenho tentad o dizer até agora é que hou ve um div ó r c i o –
um div ó r c i o necessário entre o pensa me n t o cientí f i c o e aquil o que
eu cha me i a lógica do concret o, ou seja o respeit o pelos dados dos
sentid os e a sua utiliza çã o co m o opostos às image ns, aos sím b o l o s e
coisas do mes m o gênero. Esta m o s agora nu m mo m e n t o em que
pode m o s, quiçá, teste m u n h a r a superação ou a inversã o deste
div ó r c i o, porq ue a ciênc ia mo de r n a parece ser capaz de progre d i r
não só segun d o a sua linha tradic i o n a l – pressio na n d o
contin u a m e n t e para a frente, mas sempre no mes m o canal li m i ta d o –
mas tam bé m, ao mes m o tem p o, alargan d o o canal e reinc o r p o r a n d o
uma grande quanti d a d e de prob le m a s anteri o r m e n t e postos de parte.
Por este moti v o, posso ficar sujeito à críti ca de «cientis m o » ou
que me considere m um crente cego na ciênc ia que a julga capaz de
resol v e r todos os prob le m as. Bo m, real m e n te não creio nisso, porq u e
não conceb o que possa vir um dia em que a ciênc ia esteja co m p l e ta
e acabada. Ha ve rá sempre nov os prob le m a s, e, ao mes m o rit m o co m
que a ciênc ia foi capaz de resol ve r prob l e m as que se consi dera v a m
filosó f i c o s há uma dúzia de anos ou há um sécul o, voltarã o a
aparecer nov os prob le m as que não havia m sido aperceb i d os co m o
tais. Ha v erá semp re um fosso entre as respostas que a ciência está
habilita d a a dar-nos e as novas pergu n tas que essas respostas
16
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
17. pro v o c a rã o. Portant o, não sou parti dár i o do «cient is m o ». A ciênc ia
nunca nos dará todas as respostas. O que podere m o s tentar fazer é
aume n ta r, lenta m e n te, o nú me r o e a quali da d e das respostas que
esta m os capacita d os para dar, e isto, segun d o penso, apenas o
conseg u i re m o s através da ciênc ia.
17
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
18. II
PE N S A M E N T O «PR I M I T I V O »
E M E N T E «CI V I L I Z A D A »
A manei ra de pensar dos pov os a que nor m a l m e n t e, e
errada m e n te, cha ma m o s «pri m i t i v o s » –cha m e m o s- lhes antes «po v os
sem escrita», por que, segun d o penso, este é que é o fator
discri m i n a t ó r i o entre eles e nós – tem sido interp retada de dois
mo d os difere ntes, amb os errados na mi n h a opin i ã o. O pri m e i r o
conside ra que tal pensa me n t o é de quali da de mais grosseira do que o
nosso, e na A n t r o p o l o g i a conte m p o r â n ea o exe m p l o que nos ve m
ime d iata m e n t e à ideia é M a l i n o w s k i . A f i r m o , desde já, que tenho a
maio r adm i ra çã o por ele, que o consi de r o um dos mai o res
antro p ó l o g o s e que não pretend o co m esta obser va çã o di m i n u i r- lhe a
sua contri b u i ç ã o para o cam p o da ciênc ia. Cont u d o, M a l i n o w s k i
tinha a sensação de que o pensa me n t o do pov o que estava estuda n d o
– e, de uma maneira geral, o pensa m e n t o de todas as popu la ç õ es sem
escrita que eram o object o de estud o da A n t r o p o l o g i a – era ou é
deter m i n a d o inteira m e n t e pelas necessi da des básicas da vida. Se se
souber que um pov o, seja ele qual for, é deter m i n a d o pelas
necessida des mais simp les da vida –enco nt ra r subsistênc i as,
satisfazer as pulsões sexuais e assi m por diante- , então está-se apto a
explic ar as suas institu i ç õ es sociais, as suas crenças, a sua mito l o g i a
e todo o resto. Esta concep çã o, que se encon tra mu it o difu n d i d a, tem
geral m e n te, na A n t r o p o l o g i a, a desig na çã o de funci o n a l i s m o .
O outro mo d o de encarar o pensa m e n t o «pri m i t i v o » – em lugar
de sublin h a r que e um tipo de pensa me n t o inferi o r, co m o o faz a
pri m e i r a interpretaçã o – afir m a que é um tipo de pensa me n t o
fun da m e n t a l m e n t e difere nte do nosso. Esta aborda ge m à questão
18
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
19. concreti za- se na obra de Lé v y- Bru h l, que consi der o u que a difere n ça
básica entre o pensa me n t o «pri m i t i v o » – ponh o semp re a palav ra
«pri m i t i v o » entre aspas – e o pensa me n t o mo der n o reside em que o
pri m e i r o é co m p l e ta m e n t e deter m i n a d o pelas representaç õ es
místicas e emoc i o n a is. Enqua n t o a concep çã o de M a l i n o w s k i é
utilitár ia, a de Lév y- Bru h l é uma concep çã o emoc i o n a l ou afecti v a.
Ora, o que eu tenho tentad o mostrar é que de fato o pensa m e n t o dos
pov os sem escrita é (ou pode ser, em mui tas circ u nstâ n c i as), por um
lado, um pensa me n t o desinteressad o – e isto representa uma
difere n ça relati v a m e n t e a Ma l i n o w s k i – e, por outro, um pensa m e n t o
intelect ua l – o que é uma difere n ça em relação a Lé v y- Bru h l.
O que tentei mostrar, por exe m p l o, em Totémisme ou La
Pensée Sauvage, é que esses pov os que considera m o s estare m
total m e n t e do m i n a d o s pela necessida de de não morrere m de fo me,
de se mantere m nu m nível mí n i m o de subsistênc i a, em cond i ç õ es
materiais mu it o duras, são perfeita m e n te capazes de pensa me n t o
desinteressad o; ou seja, são mo v i d o s por uma necessida de ou um
desejo de co m p r ee n d e r o mu n d o que os envo l v e, a sua natureza e a
socieda de em que vive m. Por outro lado, para ating i re m este
object i v o, agem por meios intelect ua is, exata m e n te co m o faz um
filóso f o ou até, em certa medi d a, co m o pode fazer e fará um
cientista.
Esta é a min ha hipótese de base.
M as desde já quero esclarecer um mal- entend i d o. Di ze r que
um mod o de pensa me n t o é desinteressado, e que é um mo d o
intelect ua l de pensar, não signi f i c a que seja igual ao pensa me n t o
cientí f i c o. Evi de n te m e n t e que conti n u a a ser diferen te em certos
aspectos, e que lhe é inferi o r noutr os. E conti n u a a ser difere nte
porq ue a sua finali d a d e é ating i r, pelos mei os mais di m i n u t o s e
econô m i c o s, uma co m p ree nsã o geral do uni ve rso – e não só uma
com p r ee nsã o geral, mas sim total. Isto é, trata-se de um mod o de
pensar que parte do princ i p i o de que, se não se co m p re e n d e tudo,
19
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
20. não se pode expl ica r coisa algu m a. Isto está inteira m e n t e em
contrad i ç ã o co m o mod o de proceder do pensa m e n t o cientí f i c o, que
consiste em avançar etapa por etapa, tentan d o dar expl i ca ç õ es para
um deter m i n a d o nú me r o de fenô m e n o s e progre d i r, em segui da, para
outros tipos de fenô m e n o s, e assi m por diante. Co m o já disse
Descartes, o pensa me n t o cientí f i c o div i d e a difi c u l d a d e em tantas
partes quantas as necessárias para a resol ve r.
Assi m, esta amb iç ã o totali tá ri a da mente selva ge m é bastante
difere nte dos proced i m e n t o s do pensa me n t o cientí f i c o. Na verdade,
a grande diferen ç a é que esta ambi çã o não tem êxito. Poré m, nós,
por meio do pensa m e n t o cientí f i c o, somos capazes de alcançar o
do m í n i o sobre a Natu re za – creio que não há necessida de de
desen v o l v e r este ponto em concret o, já que isto é sufic ie n te m e n t e
eviden te para todos –, enquant o o mit o fracassa em dar ao ho me m
mais poder materia l sobre o meio. A pesar de tudo, dá ao ho me m a
ilusão, extre m a m e n t e imp o r ta n te, de que ele pode entender o
univ ers o e de que ele entende de fato, o uni ve rs o. Co m o é evidente,
,
trata-se apenas de uma ilusão.
De v e m o s notar, no entanto, que, com o pensado res cientí f i c o s,
usa m os uma quanti da d e mu i t o li m i ta d a do nosso poder mental.
Uti l i z a m o s o que é necessári o para a nossa prof issão, para os nossos
negóc i os ou para a situaçã o partic u l a r em que nos encontra m o s
envo l v i d o s na altura. Portant o, se uma pessoa merg u l h a, durante
vinte anos ou mais, na investi ga çã o do mod o co m o opera m os
siste mas de parentesc o e os mit os, util i za essa porção do seu poder
mental. Mas não pode m o s exig i r que toda a gente esteja interessada
precisa m e n te nas mes mas coisas; daí que cada um de nós util i ze
uma certa porção do seu poder menta l para satisfazer as
necessida des ou alcançar as coisas que o interessa m.
Ho je em dia usam os mais – e ao mes m o temp o men os – a
nossa capaci da de mental que no passado. E não se trata
precisa m e n te do mes m o tipo de capaci da d e mental em amb os os
20
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
21. casos. Por exe m p l o, utiliza m o s conside ra v e l m e n t e men os as nossas
percepç ões sensoria is. Quan d o estava escreven d o a pri m e i ra versão
de Mithologiques, me deparei co m um prob le m a extre m a m e n t e
misteri os o. Parece que havia uma deter m i n a d a tribo que conseg u i a
ver o planeta Vê n us à luz do dia, coisa que para mi m era imp oss í v e l
e inacre d i tá v e l. Pus o proble m a a astrôn o m o s prof issi o n a i s; eles
dissera m- me que efetiv a m e n t e nós não o conseg u i m o s, mas que,
atenden d o à quanti da d e de luz emit i da pelo planeta Vê n u s durante o
dia, não é real m e n te inco n ce b í v e l que algu m a s pessoas o possa m
detectar. M a is tarde consu lte i velh os tratados sobre navega çã o
pertence n tes à nossa própr i a civi l i z a ç ã o, e tudo indica que os
mari n h e i r o s desse temp o eram perfeita m e n t e capazes de ver o
planeta à luz do dia. Prova v e l m e n t e, tam bé m nós sería m o s capazes
de o ver se tivésse m o s a vista treinada.
Passa-se precisa m e n t e o mes m o co m os nossos conhec i m e n t o s
acerca das plantas e dos ani ma is. Os pov os sem escrita têm um
conhec i m e n t o espantosa m e n t e exato do seu mei o e de todos os seus
recursos. Nós perde m o s todas estas coisas, mas não as perde m o s em
troca de nada; estam os agora aptos a guiar um auto m ó v e l sem correr
o risco de serm os esmagad os a qualq ue r mo m e n t o, e ao fi m do dia
pode m o s ligar o rádio ou o telev is o r. Isto imp l i c a um trein o de
capaci da d es menta is que os pov os «pri m i t i v o s » não possue m porq ue
não precisa m delas. Pressinto que, co m o potenc ia l que têm,
poderia m ter mo d i f i c a d o a quali d a d e das suas mentes, mas tal
mo d i f i c a ç ã o não seria adequa da ao tipo de vida que leva m e ao tipo
de relações que mantê m co m a Natu re za. Não se pode m desen v o l v e r
ime d iata m e n t e e ao mes m o temp o todas as capaci da des mentais
hu ma n as. A pe nas se pode usar um setor di m i n u t o, e esse setor nunca
é o mes m o, já que varia em função das culturas. E isto é tudo.
Pro va v e l m e n t e, uma das mu itas concl u s ões que se pode m
extrair da investig aç ã o antro p o l ó g i c a é que a mente hu ma n a, apesar
das diferen ças cultu ra is entre as diversas fracç ões da Hu m a n i d a d e, é
21
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
22. em toda a parte uma e a mes ma coisa, co m as mes m as capaci d a des.
Creio que esta afir m a ç ã o é aceite por todos.
Não julg o que as culturas tenha m tentad o, siste má t i c a ou
meto d i c a m e n t e, diferen c i a r- se umas das outras. A verdade é que
durante centenas de mil ha res de anos a Hu m a n i d a d e não era
nu me r o sa na Terra e os peque n os grup os existentes vi v ia m isolad os,
de mo d o que nada espanta que cada um tenha desenv o l v i d o as suas
próp r ias caracter íst icas, tornan d o- se diferen tes uns dos outros. M as
isso não era uma finali d a d e sentida pelos grup os. Foi apenas o mero
resulta d o das cond i ç õ es que preva lecera m durante um perío d o
bastante dilatad o.
Chega d os a este ponto, não queria que pensasse m que isto é
um perig o ou que estas diferen ças deveria m ser eli m i n a d as. Na
realida de, as diferen ças são extre m a m e n t e fecun d as. O progresso só
se veri f i c o u a partir das difere n ças. At ua l m e n t e, o desafi o reside
naqui l o que podería m o s cha ma r a super- co m u n i c a ç ã o – ou seja a
tendênc ia para saber exata m e n te, nu m deter m i n a d o ponto do mu n d o,
o que se passa nas restantes partes do Glo b o. Para que uma cultura
seja real me n te ela mes m a e esteja apta para prod u z i r algo de
orig i na l, a cultu ra e os seus me m b r o s têm de estar con ve n c i d o s da
sua orig i n a l i d a d e e, em certa medi d a, mes m o da sua superi o r i d a d e
sobre os outros; é somen te em condi ç õ es de sub-co m u n i c a çã o que
ela pode prod u z i r algo. Ho j e em dia estam os ameaçad os pela
perspecti v a de serm os apenas consu m i d o r e s, indi v í d u o s capazes de
consu m i r seja o que for que venha de qualq ue r ponto do mu n d o e de
qualq u er cultu ra, mas despro v i d o s de qualq ue r grau de
orig i na l i d a d e.
Pode m o s entretant o facil m e n t e conceber uma época futura em
que haja apenas uma cultu ra e uma civ i l i z a çã o em toda a superf í c i e
da Terra. Não creio que isto venha a acontecer, porq ue estão semp re
surgin d o diversas tendênc i as contrad i t ó r i as – por um lado, em
direção à ho m o g e n e i d a d e e, por outro, a fav or de novas
22
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
23. difere n c ia ç õ es. Quant o mais ho m o g ê n ea se tornar uma civi l i z a ç ã o,
tanto mais visí ve is se tornarã o as linhas internas de separação; e o
que se ganho u a um nível perde- se ime d i ata m e n t e no outro. Esta é
uma crença pessoal, e não tenho pro vas claras que assegure m o
func i o n a m e n t o desta dialéti ca. Mas, na reali da de, não consi g o
entende r co m o é que a Hu m a n i d a d e poderá viver sem algu m tipo de
divers id a d e interna.
Va m o s agora conside rar um mito do Canadá Oci d e n ta l sobre
uma raia que tentou contro l a r ou do m i n a r o Ven t o Sul e que teve
êxito na empresa. Trata- se de uma históri a de uma época anteri o r à
existên c ia do Ho m e m na Terra, ou seja, de um temp o em que os
ho me ns não se diferen c ia v a m de fato dos ani m a i s; os seres era m
meio hu ma n o s e meio ani ma is. Tod os se sentia m mui t o
inco m o d a d o s co m o vento, porq ue os ventos, especial m e n t e os
ventos maus, sopra va m durante todo o temp o, impe d i n d o que eles
pescasse m ou que proc u rasse m conc has co m mo l us c os na praia.
Portant o, decid i ra m que tinha m de lutar contra os ventos, obri ga n d o-
os a co m p o r ta re m- se mais decente m e n t e. Ho u v e uma exped i çã o em
que partic i p a ra m vários ani ma i s hu ma n i z a d o s ou hu ma n os
ani m a l i z a d o s, incl u i n d o a raia, que desem p e n h o u um imp o r ta n te
papel na captura do Ve nt o Sul. Este só foi libertad o depois de
pro m e te r que não voltaria a soprar constante m e n t e, mas só de vez
em quand o, ou só em deter m i n a d o s perío d o s.
Desde então, o Ve nt o Sul só sopra em certos perío d os do ano
ou, então, uma única vez em cada dois dias; durante o resto do
tem p o a Hu m a n i d a d e pode dedicar- se às suas ativ i d a d es.
Bo m, esta história nunca aconteceu na reali da de. Mas a nossa
posição não se pode li m i ta r a consi derar m o s esta história
com p l e ta m e n t e absurda e a ficar m o s satisfeit os ao taxá-la de uma
criação ima g i n o sa de uma mente entreg ue ao delíri o. Te m o s de a
tom ar a sério e fazer a segui n te perg u n ta: porq uê a raia e porq uê o
Vent o Sul?
23
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
24. Quan d o se estuda mi n u c i o sa m e n te o materia l mit o l ó g i c o na
for m a exata em que é narrad o, veri f i c a- se que a raia atua co m base
em deter m i n a d as característi cas, que são de duas espécies. A
pri m e i r a, é que a raia é um peixe, com o todos os seus congê ne res
espal m a d o s, escorrega d i o por baix o e duro por ci ma. E a outra
característ ic a, que per m i te à raia escapar co m sucesso quan d o tem
de enfrentar outros ani m a is, é que parece mui t o grande vista de
baix o ou de cima e extre m a m e n t e fina vista de lado. U m adversári o
poderia pensar que seria mu it o fácil disparar uma seta e matar uma
raia, por ela ser tão grande; mas, enquant o a seta se diri ge para o
alvo, a raia pode virar- se ou deslizar rapida m e n t e, oferecen d o
apenas o perfi l, que, evide nte m e n t e, é imp oss í v e l de ating i r; e é
assim que pode escapar. Portant o, a razão por que se escolhe u a raia
é que ela é um ani ma l que, consi dera d o de um ou outro ponto de
vista, é capaz de respo n d e r – empre ga n d o a ling u a g e m da
cibernét ic a – em ter m os de «si m» ou «não». É capaz de dois estados
que são descon t í n u o s, um positi v o e o outro negati v o. A funçã o que
a raia dese m p e n h a no mit o é –ainda que, evide nte m e n te, eu não
queira levar as semel ha n ç as de masia d o longe– pareci da co m a dos
eleme nt o s que se intro d u z e m nos co m p u t a d o r es mo der n o s e que se
pode m utiliza r para resol ve r grandes prob l e m as adici o n a n d o uma
série de respostas de «sim » e «não».
A p esar de ser obv ia m e n t e errad o e imp ossí v e l (dum ponto de
vista emp ír i c o) que um peixe possa lutar contra o vento, du m ponto
de vista lógic o pode- se co m p re e n d e r por que razão se utili z a m
imagens tiradas da experiê n c i a. Esta é a orig i n a l i d a d e do
pensa me n t o mit o l ó g i c o – dese m pe n h a r o papel do pensa m e n t o
conce pt u a l: um ani ma l suscetí v e l de ser usado co m o, diria eu, um
operad o r binári o, pode ter, du m ponto de vista lógi c o, uma relação
com um prob le m a que tam bé m é um prob le m a binári o. Se o Ve nt o
Sul sopra todos os dias do ano, a vida torna- se imp oss í v e l para a
Hu m a n i d a d e. M as. se apenas soprar um em cada dois dias – «si m »
um dia, «não» o outro dia, e assi m por diante –, torna- se então
24
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
25. possí ve l uma espécie de co m p r o m i s s o entre as necessi da des da
Hu m a n i d a d e e as condi ç õ es predo m i n a n t es no mu n d o natura l.
Assi m, du m ponto de vista lógi c o, há uma afini d a d e entre um
ani m a l co m o a raia e o tipo de proble m a que o mito tenta resol ve r.
Du m ponto de vista cientí f i c o, a histór ia não é verdade i ra, mas nós
some nte pude m o s entender esta propr ie d a d e do mit o nu m temp o em
que a cibernéti ca e os co m p u t a d o r es aparecera m no mu n d o
cientí f i c o, dando- nos o conhec i m e n t o das operaç ões binári as, que já
tinha m sido postas em prática de uma manei ra bastante difere nte,
com objetos ou seres concretos, pelo pensa me n t o míti c o. Assi m, na
realida de não existe uma espécie de div ó r c i o entre mit o l o g i a e
ciênc ia. Só o estado conte m p o r â n e o do pensa m e n t o cientí f i c o é que
nos habil ita a co m p r ee n d e r o que há neste mito, perante o qual
per m a n e c ía m o s co m p le ta m e n t e cegos antes de a idéia das operações
binárias se tornar um conce it o fam i l i a r para todos.
Neste mo m e n t o não queria que julgasse m que estou coloca n d o
em pé de igual da de a expli c a çã o cientí f i c a e a expl i ca çã o míti ca. O
que afir m o é que a grandeza e a superi o r i d a d e da expl i c aç ã o
cientí f i c a reside m não só nas realizaç õ es práticas e intelect ua is da
ciênc ia, mas també m no fato, que teste m u n h a m o s cada dia co m mais
clareza, de que a ciênc ia se encont ra não só preparada para expl i ca r
a sua própr ia vali da de co m o també m o que, em certa med i d a, é
válid o no pensa me n t o mit o l ó g i c o. O que é imp o r ta n te é que
com e ça m o s a nos interessar cada vez mais por este aspecto
qualitati v o e que a ciênc ia, que tinha uma mera perspecti v a
quantitat i v a desde o sécul o X V I I até ao sécul o X I X , co me ça a
integrar agora també m os aspectos qualitati v o s da reali da de. Esta
tendênc ia nos habil itará, indu b i ta v e l m e n t e, a entender uma grande
quanti da d e de coisas presentes no pensa me n t o mit o l ó g i c o e que no
passado nos apressáva m o s a pôr de parte co m o coisa careci da de
signi f i c a d o e absurda. E o desen v o l v i m e n t o desta linha nos levará a
ver que entre a vida e o pensa m e n t o não há aquele fosso absol ut o
que foi toma d o co m o uma realida d e concreta pelo dualis m o
25
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
26. filosó f i c o do século X V I I . Se for m o s levad os a pensar que o que
ocorre na nossa mente é algo em nada diferen te, nem substanc i a l
nem funda m e n t a l m e n t e, do fenô m e n o básico da vida, e se
chegar m o s à conc l usão de que não existe esse tal fosso imp ossí v e l
de superar entre a Hu m a n i d a d e, por um lado, e todos os outros seres
viv os (não só ani ma is, co m o també m plantas), por outro, talvez
então chegue m o s a ter mais sabedo r ia (faland o franca m e n t e) que
aquela que julga m o s possív e l algu m a vez vir a ter.
26
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
27. III
L Á B I O S R A C H A D O S E GÉ M E O S :
A AN Á L I S E DE U M MI T O
A q u i, o nosso ponto de parti da vai ser uma enig m á t i c a
observa çã o registada por um missi o n á r i o espanh o l, o padre P. J. de
Arr ia g a, nos finais do sécul o X V I , e publ i c a da na sua obra
Extirpación de la Idolatría del Peru (Lima, 162 1). O missi o ná r i o
notou que em certa parte do Peru do seu temp o, nas épocas de frio
mais intenso, o sacerdote con v o c a v a todos os habitantes que se sabia
tere m nascid o co m os pés para a frente, ou que tinha m um lábio
rachad o, ou que fosse m gêmeos. Era m então acusad os de sere m
respo nsá v e is pelo frio, porq ue, dizia- se, tinha m co m i d o sal e
pi me n ta, e ordena v a- se-lhes que se arrepen d esse m e con fessasse m
os seus cri m es.
Ora, que os gême os seja m relaci o n a d o s co m as desorde ns
atm os fé r i cas, é um fato geral m e n te aceite em todo o mun d o,
inclu i n d o o Canadá. É bem sabid o que na costa da Col ô m b i a
britân ic a, entre os índios, pensa va- se que os gê me os tinha m poderes
especiais para orig i n a r o bo m temp o, afastar as tempestades e assi m
por diante. Poré m, não é este o prob le m a que eu queria consi de rar
agora aqui. O que me espanta é que todos os investi g a d o r es do mit o
– por exe m p l o o mit ó g ra f o Sir James Frazer, que cita várias vezes
Arr ia g a – nunca perg u n tasse m por que é que as pessoas co m lábios
rachad os e os gême os, pelo men os em certos aspectos, eram
conside ra d os semel ha ntes. Parece-me que o cerne do proble m a
consiste em descob r i r: porq uê os gême os? Porquê os de lábi os
rachad os? E porq uê associar gême os e lábios rachad os?
27
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
28. Para resol v e r o prob le m a, temos, co m o às vezes acontece, de
dar um salto da A m é r i c a do Sul para a A m é r i c a do No rte, porq ue
será um mito norte-america n o que nos dará a chave para o mit o da
A m é r i c a do Sul. Crit ic o u- me mu ita gente por este méto d o de
procede r, afir m a n d o que os mit os de uma deter m i n a d a popu l açã o só
pode m ser interp reta d os e entend i d o s no quadr o da cultu ra dessa
mes m a popu laçã o. Há mui tas coisas que posso dizer, em jeito de
resposta, a prop ós it o dessa objeção.
Em pri m e i r o lugar, parece-me bastante óbv i o que, co m o
dem o ns t r o u em anos recentes a cha ma d a Escola de Ber ke le y, a
popu la çã o das A m é r i c as pré-colo m b i a n a s era mu it o mai o r do que se
supun ha. E, co m o era mu i t o mai o r, é óbv i o que estas popu l a ç õ es
estava m de certo mod o em contato umas co m as outras e que as
crenças, as práticas e os costu m es se difu n d i a m . Qual q u e r popu l açã o
estava semp re em posição de saber o que acontec ia na popu la çã o
vizin h a. O segun d o ponto, no caso que estam os aqui a consi derar, é
que estes mitos não existe m isolad os, por um lado no Peru, e por
outro no Canadá, antes surge m repeti da m e n t e nas áreas inter m é d i a s.
Na verdade, são mais mit os pan-ameri ca n os que mit os dispersos por
difere ntes partes do conti ne n te.
Ora, entre os Tup i n a m b á s, os antig os índi os da costa do Brasi l
ao tem p o da descoberta, co m o també m entre os índi os do Peru, há
um mito que fala de uma mul h e r que um indi v í d u o pobre consegu i u
seduz ir de uma maneira tortu osa. A versão mais conhec i d a,
registada pelo mon ge francês A n d ré The ve t no sécul o X V I ,
explic a v a que a mul h e r seduzi d a deu à luz gême os, um deles nascid o
do pai legíti m o , e o outro do sedutor, que é o Bur lã o. A mu l he r ia
encont rar- se co m o deus que seria o seu mari d o, mas no cami n h o
inter vé m o burlão e lhe faz crer que ele é o deus; então ela concebe
do burlão. Quan d o, mais tarde, encontra aquele que deveria ser o
legíti m o mari d o, conce be també m dele, e depo is dá à luz gê me os. E,
uma vez que estes falsos gême os têm difere ntes pais, possue m
característ ic as antitéticas: um é coraj os o e o outro covar de; um dá
28
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
29. bens aos índi os, enquant o o outro, pelo contrári o, é respo nsá ve l por
uma série de desgraças.
Ac o n t e ce que na A m é r i c a do Norte encontra m o s també m
exata m e n te o mes m o mito, especial m e n te no Nor o este dos Estados
Uni d o s e no Canadá. Toda v i a, em co m p a ra çã o co m as versões sul-
america nas, as pro ve n i e n tes da área do Canadá apresenta m duas
difere n ças imp o r ta n tes. Por exe m p l o, entre os K o o t e n a y, que vive m
nas M o n ta n h as Roch osas, há apenas uma fecun da çã o, a qual tem
com o conseq uê n c ia o nasci m e n t o de gê me os, que mais tarde se
torna m, um, a Lua e, o outro, o Sol. E entre outros índi os da
Colô m b i a britân i ca – os índi os Th o m p s o n e os Oka na ga n – há duas
irmãs que são enganadas aparente m e n t e por dois indi v í d u o s
difere ntes, dando cada uma à luz um filh o; não são real m e n te
gême os, porq ue nascera m de mães difere ntes. M as, dado que
nascera m precisa m e n te de circ u nstâ n c i as semel ha n tes, pelo men os
du m ponto de vista psicol ó g i c o e mora l, são em certo senti d o
semelh a n tes a gême os.
Estas versões são, do ponto de vista que preten d o mostrar, as
mais imp o r ta n tes. A versão dos Tho m p s o n e dos Oka na ga n debil i ta
o caráter gê me o do herói, porq ue os gêmeos não são irmã os, mas
pri m o s. E apenas as circu nstâ n c i as do seu nasci m e n t o são
estreita m e n te paralelas – amb os nascera m em conseq uê n c i a de um
engan o. Cont u d o, a intençã o básica é a mes m a: em parte algu m a
serão os heróis real m e n te gême os: nascera m de pais difere ntes,
mes m o na versão sul-ameri ca na, e têm caracteres opostos,
característ ic as que se revelarã o na sua cond u ta e no co m p o r ta m e n t o
dos seus descende n tes.
Portant o, podería m o s dizer que em todos os casos as crianças
gêmeas, ou que se acredita sere m gêmeas, co m o na versão
K o o te n a y, terão mais tarde aventuras diferen tes, que as separarã o. E
esta div isão entre indi v í d u o s que ao prin c í p i o fora m apresentad os
com o gêmeos, gême os reais ou equi v a l e n tes a gême os, é uma
29
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
30. característ ic a básica de todos os mitos da A m é r i c a do Sul e do
Norte.
No versão dos Tho m p s o n e dos Oka na ga n há um por m e n o r
mu it o curios o e que é muit o im p o rta n te. Le m b r a m- se de que nessa
versão não existe m gême os de qualq ue r espécie, porq ue se trata de
duas irmãs que viaja m para encon trar, cada uma delas, um mari d o.
Foi- lhes dito por uma avó que elas recon h ec er i a m os seus mari d o s
por tais e tais característ ic as, e elas depo is fora m ambas enganadas
por burlões que encont rara m no seu cami n h o e que as fizera m crer
que eram eles os mari d o s co m que m deveria m casar. Passara m a
noite co m eles e de cada uma delas nasceu depois uma crian ça.
Ora, depois dessa desgraçada noite passada na cabana do
burlão, a irmã mais velha deixa a mais nova e parte para visitar a sua
avó, que é uma cabra de mon ta n h a e també m uma espécie de mag o;
com o já sabe que a sua neta ve m a cami n h o, envia- lhe uma lebre
para lhe dar as boas-vin das na estrada. A lebre escon de u- se debai x o
de um tronc o que tinha caído no mei o do cami n h o e, quan d o a moça
levant o u a perna para passar por ci ma do tronc o, a lebre pôde ver
suas partes genitais e lanço u uma piada mu it o pouc o aprop r i a d a. A
moça fico u furiosa e bateu- lhe co m um pau, fende n d o- lhe o nariz. E
eis a razão por que os ani ma is da fam í l i a lepor i n a têm agora um
nariz rachad o e um lábio superi o r, que nas pessoas se deno m i n a
lábio lepor i n o, por causa desta pecul ia r i d a d e anatô m i c a dos coelh os
e das lebres.
Por outras palav ras, a irmã mais velha co me ça por div i d i r o
corp o do ani ma l; se esta div isão fosse levada até ao fi m – se não
parasse no nariz mas conti n u asse por todo o corp o até à cauda, ela
transf o r m a r i a um indi v í d u o em dois gêmeos, ou seja dois indi v í d u o s
absoluta m e n t e semelh a n tes ou idênti c os, porq ue era m amb os parte
de um todo. A este respeito, é extre m a m e n t e imp o r ta n te descob r i r a
conce pçã o que os Índ i os ameri ca n os, por toda a A m é r i c a,
desen v o l v e r a m acerca da orige m dos gê me os. E o que encontra m o s
30
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
31. é uma crença geral em que os gê me os são o resultad o de uma
div isão interna dos flui d o s do corp o, que depo is soli d i f i c a m e se
torna m nu ma criança. Por exe m p l o, entre algu ns índi os norte-
america n os a mul h e r grávi d a está proi b i d a de se voltar brusca m e n te
quand o se encontra dor m i n d o na cama, porq ue, se o fizer, os flui d o s
do corp o pode m se div i d i r em duas partes, dando orige m a gême os.
Há també m um mito entre os índi os K w a k i u t l, da ilha de
Van c ô v e r, que se tem de referi r. Di z respeito a uma meni na que toda
a gente odeia por ter o lábio rachad o. A pa rece então uma ogra, uma
mu l he r caniba l sobrenat u ra l, que rouba todas as crianças,
inclus i v a m e n t e a men i na de lábi o rachad o. Põe-nas todas nu ma cesta
para as levar para casa e co mê- las. A men i n a que foi captura da em
pri m e i r o lugar fico u nu ma ponta da cesta e consegue fazer uma
abertura co m uma conc ha que tinha apanha d o na praia. O cesto vai
às costas da ogra e a meni n a consegue saltar e fug i r pri m e i r o que
todas as outras. Ela sai da cesta co m os pés para a frente .
Esta posição da rapari ga de lábi o rachad o é mu i t o simétr i ca
relati va m e n t e à posição da lebre no mito que anteri o r m e n t e
menc i o n e i: agachan d o- se debai x o da heroí na quand o se escon de sob
o tronc o que lhe barra o cami n h o, a lebre está em relação a ela
exata m e n te na mes ma posiçã o co m o se tivesse nascid o da moça co m
os pés para a frente. Veri f i c a m o s deste mo d o que em toda esta
mit o l o g i a há de fato uma relação entre gê me os, por um lado, e o
nasci m e n t o co m os pés para a frente ou posiç ões que,
metaf o r i c a m e n t e falan d o, são idênti cas, por outro. Estes dados
clari f i c a m evide nte m e n t e as cone x õ es de que parti m o s ao consi derar
as relações descritas pelo padre Ar r i a ga, no Peru, entre gê me os,
pessoas que nascera m co m os pés para a frente e pessoas co m lábi os
rachad os.
O fato de o lábio rachad o ser consi dera d o co m o uma
geme i da de incip ie n te pode ajudar- nos a resol ve r um prob le m a que é
fun da m e n t a l para os antrop ó l o g o s que trabal ha m especia l m e n t e no
31
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
32. Canadá: porq ue é que os índi os Oji b w a e outros grup os da fam í l i a
ling u íst i ca algon k i a n a escol hera m a lebre co m o a mais alta deidade
em que acredita v a m? A p resen tara m- se já várias expl i c aç ões: a lebre
era um ele me n t o imp o r ta n te, mes m o essencial, da sua dieta; a lebre
corre co m grande rapidez, e era um exe m p l o dos talentos que os
índi os deveria m possuir; e assi m por diante. Nen h u m a destas
explic aç ões é sufic ie n te m e n t e con v i n c e n te. M as, se as mi n has
anterio res interpreta ç ões são corretas, me parece mu i t o mais
con v i n c e n t e dizer: 1) entre a fam í l i a dos roedo res, a lebre é o mai o r,
o mais notá ve l, o mais imp o r ta n te, e pode ser toma d a co m o o
representan te da fam í l i a dos roedo res; 2) todos os roedo res exibe m
uma pecul ia r i d a d e anatô m i c a que os torna gême os inci p i e n tes, pois
estão, de certo mo d o, div i d i d o s em duas metades.
Quan d o há gême os, ou até mais crianças, no ventre da mãe, o
mit o reflete nor m a l m e n t e conseq uê n c i as mui t o sérias, porqu e,
mes m o que só haja dois fil h os, as crianças co me ça m a lutar e a
com p e t i r para decid i r que m terá a honra de nascer em pri m e i r o
lugar. E uma delas, a má, não hesita em fazer um corte, se é que
posso falar assi m, para nascer pri me i r o; em vez de seguir o cami n h o
nor m a l, div i de o corp o da mãe a fi m de se escapar para fora dele.
A q u i reside, segun d o penso, a expl i ca çã o para o fato de o
nasci m e n t o co m os pés para a frente ser assi m i l a d o à geme i da de,
pois é no caso de geme i da de que a pressa co m p et i t i v a de uma das
crianças para nascer pri m e i r o destró i a mãe. Ge me i d a d e e
nasci m e n t o co m os pés para a frente são sinais de um parto perig os o
ou de um parto heróic o, porq ue a criança toma rá a inic iati v a e
tornar- se-á uma espécie de herói, um herói assassino em certos
casos; mas de qualq ue r mo d o ela realiza uma façanha mui t o
im p o r ta n te.
Penso que isto expli ca a razão por que em várias trib os se
mata m os gêmeos, be m co m o as crianças que nasce m co m os pés
para a frente.
32
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
33. O real me n t e imp o r ta n te é que em toda a mit o l o g i a ameri ca na, e
tam bé m na mit o l o g i a do mu n d o inteiro, há deidades ou persona ge ns
sobrenatu ra is que dese m pe n h a m o papel de inter m e d i á r i o s entre os
poderes de cima e a Hu m a n i d a d e em baix o. Pode m ser representa das
de difere ntes manei ras: há, por exe m p l o, persona ge ns do tipo de um
M essias e gême os de caráter celeste. Pode-se ver que o papel da
lebre na mito l o g i a algon k i a n a se enco nt ra precisa m e n te entre o
M essias – ou seja o inter m e d i á r i o únic o – e os gême os de caráter
celeste. A lebre não é um par de gê me os, mas um par de gêmeos
incip ie n te. E m b o r a seja um indi v í d u o co m p l e t o, tem um lábi o
rachad o e está a mei o cami n h o de se tornar em gê me os.
Isto expli ca a razão por que nesta mit o l o g i a a lebre, enquant o
deus, possui um caráter amb í g u o – o que tem preoc u p a d o os
com e n ta d o res e antro p ó l o g o s. Às vezes é uma deidade mu i t o sábia
que tem a seu cargo a orde m do uni ve rs o, outras aparece co m o um
palhaç o ridíc u l o que vai de contrate m p o em contrate m p o. E este fato
tam bé m se poderá entender mel h o r se se expl i c ar a escol ha da lebre
por parte dos Índi os Al g o n k i a n o s por ser um indi v í d u o entre as duas
cond iç õ es: a) uma deidade sing u la r benéfi ca para a Hu m a n i d a d e; e
b) gême os, um dos quais é bo m, e o outro mau. Não estand o ainda
total m e n t e divi d i d a em duas metades, não sendo ainda gême os, as
duas característ ic as opostas pode m per ma n e c er fund i d as nu ma única
e mes m a pessoa.
33
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
34. IV
Q U A N D O O M I T O SE T O R N A H IS T Ó R I A
O tema apresenta dois prob le m a s para o mito l o g i s ta. O
pri m e i r o é um prob le m a teóric o de grande imp o r tâ n c i a, porq ue,
quand o se exa m i n a o material publ i ca d o na A m é r i c a do Sul, na
A m é r i c a do No rte e em outras partes do mu n d o, parece que esse
material é de duas espécies. As vezes os antrop ó l o g o s recol he ra m
mit os que se asseme l h a m mais ou menos a frag m e n t o s e reme n d o s,
se assim me posso expri m i r. Trata- se de histórias descone x as, que se
segue m umas às outras sem qual q u e r tipo de relaci o n a m e n t o
eviden te entre elas. Outras vezes, co m o na região dos Va u p és, na
Colô m b i a, encontra m- se históri as mit o l ó g i c a s mu it o coerentes, todas
div i d i d as em capítu l o s, que se segue m uns aos outros nu ma orde m
mu it o lógica.
Assi m, chega m o s a uma pergu n ta decisi v a: que signi f i c a d o
têm estas histórias recol h i d as? Pode m signi f i c a r duas coisas
difere ntes. Pode m signi f i c a r, por exe m p l o, que a orde m coerente,
com o uma espécie de saga, é a cond i çã o pri m i t i v a, e, semp re que se
encont re m mitos em ele me n t os descone x o s, há-de tratar- se do
resulta d o de um processo de deteri o raç ã o e desorga n i za çã o; neste
caso, apenas se encont ra m eleme n t os dispersos do que anteri o r m e n t e
foi um todo signi f i c a n te. Pode-se també m apresentar a hipótese de
que o estado descone x o é o arcaico, e que os mitos fora m reuni d os e
postos em orde m por alguns nati v os sabedo res e filóso f o s, que nem
semp re aparece m em toda a parte mas apenas em deter m i n a d o tipo
de sociedade. Te m- se precisa m e n te o mes m o prob le m a co m a
Bíb l ia, porq ue parece que o seu material de base era for m a d o por
eleme nt o s desco ne x o s que depo is fora m reuni d os por fil óso f o s
conhece d o r es para tecer uma história contí n u a. Seria extre m a m e n t e
34
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
35. im p o r ta n te descob r i r se a situação entre os pov os sem escrita que
fora m estuda d os pelos antro p ó l o g o s é a mes ma que a da Bí b l i a ou
outra co m p le ta m e n t e diferente.
O segun d o proble m a, emb o ra ainda teóric o, é de natureza mais
prática. No passado, diga m o s nos fins do sécul o X I X e nos
prin c í p i o s do século X X , o materia l mito l ó g i c o era recol h i d o
prin c i p a l m e n t e pelos antro p ó l o g o s, isto é, pessoas do exteri o r. Claro
que em muit os casos, e especia l m e n t e no Canadá, eles contara m
com a colab o ra ç ã o de nativ os. Dei x e m- me por exe m p l o citar o caso
de Franz Boas, que tinha um colabo ra d o r k wa k i u t l, Georg e Hu n t (de
fato, ele não era real m e n te k wa k i u t l, porqu e nasceu de pai escocês e
de uma mãe tling it, mas foi criad o entre os K w a k i u l e identi f i c o u- se
com p l e ta m e n t e co m a sua cultura). E, para o estudo dos Tsi m s h i a n,
Boas tinha Henr y Tate, que era um tsi ms h i a n culto, e M a r i u s
Barbea u conto u co m W i l l i a m Ben y o n, que també m era um
tsims h ia n culto. Assi m se assegur o u, desde o co me ç o, a cooperaçã o
nativ a, mas a verdade é que Hu n t, Tate ou Ben y o n trabal ha ra m sob a
direção dos antro p ó l o g o s, ou seja, tornara m- se eles própr i o s també m
antro p ó l o g o s. Con he c ia m, co m certeza, as mel h o res lendas, as
tradiç ões do seu própr i o clã, a sua linha ge r n, mas apesar de tudo
mostra v a m- se igual m e n t e interessad os em obter info r m a ç ã o de
outras fam í l i as, outros clãs, e assi m por diante.
Quan d o olha m o s para este enor m e corpo de mit o l o g i a
amerí n d i a que é o Tsimshian Mythology, de Boas e Tate, ou para os
textos k wa k i u t l colig i d o s por Hu nt, e organ i z a d o s, publ i ca d o s e
tradu z i d o s també m por Boas, encon tra m o s mais ou men os a mes m a
organi za çã o da info r m a ç ã o, porqu e é a reco m e n d a d a pelos
antro p ó l o g o s: por exe m p l o, ao princ í p i o, mitos cos m o l ó g i c o s e
cos m o g ô n i c o s, e depois o materia l que se pode consi derar co m o
tradiçã o lendária e histórias de fa m í l i a.
Co m e ç a d a esta tarefa pelos antro p ó l o g o s, foi depois
desen v o l v i d a pelos Índi os, e para diferentes objeti v o s: por exe m p l o,
35
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
36. para que a sua líng ua e a sua mito l o g i a seja m ensina das na escola
eleme nta r às crianças índias. Parece-me que hoje em dia isso é mui t o
im p o r ta n te. Outra final i d a d e é util i za r as tradiç ões lendárias para
fun da m e n t a r reiv i n d i c a ç õ es contra os branc os – reiv i n d i c a ç õ es
territo r ia is, reiv i n d i c a ç õ es polít i c as e outras.
Assi m, é extre m a m e n t e imp o r ta n te veri f i c a r se há diferen ças
(e, se hou v e r, que tipo de diferen ças) entre as tradiç ões recol h i d as do
exterio r e as colig i d as do interi o r como se tivesse m sido recol h i d as
do exterio r. De v o dizer que o Canadá tem sorte em que os livr os
sobre a sua mit o l o g i a e tradiç õ es lendárias haja m sido organ i z a d o s e
editados pelos especial istas indí ge nas. Este processo co me ç o u cedo:
há o livr o Legends of Vancouver, por Pauli ne Johnso n, editad o antes
da Pri me i r a Guerra M u n d i a l. Ma is tarde, temos os livr os de Ma r i u s
Barbea u, que não era evide nte m e n te indí ge na, mas que tentou
colig i r material históri c o ou semi- histór i c o, tornan d o- se o porta- voz
dos seus info r m a d o r es nati v o s; prod u z i u, por assi m dizer, sua
próp r ia versão daquela mito l o g i a.
M a is interessantes, mui t íssi m o mais interessantes, são liv ros
com o Men of Medeek, publ i ca d o em K i t i m a t em 1962, que segun d o
se supõe é o relato textua l das pala vras do Che fe Wa l te r W r i g h t, um
chefe tsims h ia n da região do curso méd i o do rio Skeena, relato
colig i d o por outra pessoa, um investi ga d o r de cam p o branc o que
nem sequer era um prof issi o n a l. E ainda mais imp o r ta n te é um livr o
recente do Chefe Ke n n et h Harr is, que també m é um chefe tsi msh i a n,
e publi ca d o por ele em 1974.
Co m este materia l, pode m o s procede r a uma espécie de
experiê n c i a, co m p a ra n d o o materia l recol h i d o pelos antro p ó l o g o s
com o direta m e n te recolh i d o e publ i ca d o pelos Índi os. Não deveria
na verdade dizer «recol h i d o », porq ue em vez de apresentar as
tradiç ões de diversas fam í l i as, diversos clãs, diversas linhage ns,
reuni das e justap ostas umas às outras, o que se vê nos dois livr os é
36
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
37. real m e n t e a histór ia de uma fam í l i a ou de um clã, publ i ca da por um
dos seus descende n tes.
O prob le m a é este: onde acaba a mito l o g i a e onde co me ça a
Histó r ia? No caso co m p le ta m e n t e nov o para nós de uma Histór i a
sem arqui v o s, sem docu m e n t o s escritos, apenas existe uma tradição
verba l, que aparece ao mes m o temp o co m o Histó r i a. Ora, se
com p a ra r m o s essas duas histór ias, a pri m e i r a obtida na região do
curso méd i o do rio Skeena, do Chefe W r i g h t, e a outra escrita e
publi ca d a pelo Che fe Harris, de uma fa m í l i a da região do curso
superio r do Skeena, da área de Haze lt o n, acaba m o s por encontra r
semelh a n ças e diferen ças. No relato do Che fe W r i g h t temos o que eu
poderia cha ma r a gênese de uma desorde m: toda a históri a tem por
object i v o explic ar co m o, depois do seu co me ç o, um deter m i n a d o
clã, linhage m ou grup o de linha ge ns atravessou uma série de
grandes pro va ç õ es, perío d os de sucessos e perío d o s de fracassos,
cam i n h a n d o progressi v a m e n t e para um fi m desastros o. É uma
história tre me n d a m e n t e pessi m i s ta, na verdade a história de uma
queda. No caso do Chefe Harris, há uma perspect i v a bastante
difere nte, porq ue o livr o parece princ i p a l m e n t e orienta d o para
explic ar a orige m de uma orde m social que era a orde m social
daquele perío d o históri c o, e que ainda é evide nte, se assi m se pode
dizer, nos vários no mes, títul os e pri v i l é g i o s que um deter m i n a d o
indi v í d u o que ocupa um lugar proe m i n e n t e na sua fa m í l i a ou clã
acu m u l o u por herança à sua volta. Tud o se passa co m o se se
projectasse sim u lta n ea m e n t e no écran do presente um sucessão
diacrô n i c a de acontec i m e n t o s para reconsti t u i r, peça por peça, uma
orde m sincrô n i c a que existe e é ilustrada pela lista de no mes e
priv i lé g i o s de um dado indi v í d u o.
Os dois livr os, as duas histórias, são positi v a m e n t e fascina n tes,
e grandes peças do ponto de vista literári o. M as, para o antro p ó l o g o,
o seu princ i p a l interesse está em ilustrar as característ i cas de um tipo
de Histó r ia ampla m e n t e difere nte da nossa. A Histó r i a tal qual a
escreve m o s é pratica m e n t e, e inteira m e n t e, baseada em docu m e n t o s
37
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
38. escritos, enqua nt o no caso destas duas histórias não há docu m e n t o s
escritos ou, se os hou ve r, são mu i t o pouc os.
Ora, o que me espanta, quan d o os tento co m pa ra r, é que ambos
prin c i p i a m co m o relato de um tem p o míti c o ou talvez históri c o –
não sei se um, se outro, ou quiçá arqueo l ó g i c o seja o mais adequa d o
–, quan d o na região do curso superi o r do Skeena, perto do que agora
é Hazelto n, havia urna grande cidade gire Barbeau referi u co m o
no me de Tenla ha m, narran d o o que aí acontece u. Trata- se
pratica m e n t e da mes m a histór ia em amb os os livr os: expl i c a m que a
cidade foi destru í d a, que os sobre v i v e n t es deixara m o local e
com e çara m a sua peregri n a ç ã o ao long o do Skeena.
Na verdade, isto pode ser um relato histór i c o, mas, se se
analisar mais de perto o mod o co m o o fato é expl i ca d o, veri f i c a- se
que o tipo de acontec i m e n t o é o mes m o, mas que difere quanto aos
por m e n o r es. Por exe m p l o, conf o r m e a versão, na orige m pode estar
uma luta entre duas aldeias ou duas cidades, uma luta que se
desenca de o u por causa de um adultéri o; finas a históri a tem várias
possib i l i d a d es: o mari d o mato u o amante de sua mul h e r, ou os
irmã os matara m o amante da ir mã, ou, ainda, o mari d o mato u a sua
mu l he r porq ue ela tinha um amante. Co m o se vê, temos uma célula
explic at i v a. A sua estrutura básica é a mes m a, mas o conteúdo da
célula já não é o mes m o e pode variar; é, portant o, uma espécie de
min i m i t o, se assi m se pode dizer, porq ue é mui t o curto e mu it o
conde nsad o, mas tem ainda a propr ie d a d e de um mito; na med i da
em que o pode m o s seguir sob diferen tes transfo r m a ç õ es. Quan d o se
transf o r m a um eleme n t o, então os outros eleme n t o s têm de ser
forç osa m e n t e readaptad os às muda n ç as sofri das pelo pri m e i r o. O
que me interessa nestas histórias de clãs é este pri me i r o aspecto.
O segun d o aspecto é que são histórias alta me n te repetiti v as; o
mes m o tipo de ele me n t o pode ser util i za d o diversas vezes, na
explic aç ã o de vários acontec i m e n t o s. Por exe m p l o, é interessante
veri f i c a r que nas histórias da tradiçã o partic u l a r do Chefe W r i g h t e
38
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
39. da tradição partic u la r do Chefe Harr is se enco nt ra m acontec i m e n t o s
semelh a n tes, mas que não têm lugar no mes m o sítio, que não dize m
respeito às mes mas pessoas e que, pro va v e l m e n t e, não se passa m no
mes m o perío d o históri c o.
O que se desco bre ao ler estes livros é que a oposiçã o – a
oposiçã o sim p l i f i c a d a entre M i t o l o g i a e Histó r i a que estam os
habit ua d os a fazer – não se encont ra bem defi n i d a, e que há um níve l
inter m é d i o. A M i t o l o g i a é estática: encontra m o s os mes m o s
eleme nt o s mito l ó g i c o s co m b i n a d o s de infi n i t as manei ras, mas nu m
siste ma fechad o, contra p o n d o- se à Histó r i a, que, evide nte m e n t e, é
um siste ma aberto.
O caráter aberto da Histó r i a está assegura d o pelas inu m e rá v e i s
mane iras de co m p o r e reco m p o r as células mito l ó g i c as ou as células
explic at i v as, que eram orig i n a r i a m e n t e mito l ó g i c as. Isto dem o nst ra-
nos que, usand o o mes m o materia l, porq ue no fun d o é um tipo de
material que pertence à herança co m u m ou ao patri m ô n i o co m u m de
todos os grup os, de todos os clãs, ou de todas as linhage ns, uma
pessoa pode toda v ia consegu i r elaborar um relato orig i na l para cada
um deles.
O que era engan os o nos antig os relatos antro p o l ó g i c o s era a
mistu ra que se fazia das tradiç ões e crenças pertence n tes a
divers íssi m o s grup os sociais. Isto fez que se perdesse de vista uma
característ ic a funda m e n t a l de todo o materia l – que cada tipo de
Histó r ia pertence a um dado grup o, a uma dada fa m í l i a, a uma dada
linha ge m, ou a um dado clã, e tenta expl i c ar o seu destin o, que pode
ser desgraçad o ou triu n f a l, ou justi f i ca r os direitos e pri v i l é g i o s tal
com o existe m no mo m e n t o presente, ou, ainda, tenta vali da r
reiv i n d i c a ç õ es de direitos que já há mu it o desaparecera m.
Quan d o tenta m o s fazer Histó r i a cientí f i c a, faze m o s porve n t u r a
algo cientí f i c o ou adopta m o s també m a nossa própr i a mit o l o g i a
nessa tentati v a de fazer Histór i a pura? Parece-me mui t o interessante
conside rar o mo d o co m o, quer no No rte quer no Sul da A m é r i c a, e
39
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
40. na realida d e em todas as partes do mun d o, um indi v í d u o que
recebeu, por direit o e herança, um certo relato da mito l o g i a ou da
tradiçã o lendária do seu própr i o grup o reage ao ouv i r outra versão
difere nte, contada por algué m pertence n te a um clã ou linha ge m
difere nte, a qual é semel h a n te em certa med i d a mas, noutra
perspecti v a, é també m extre m a m e n t e difere nte. Quant o a este ponto,
podería m o s pensar que é imp ossí v e l que dois relatos que não são
idêntic o s, nem o mes m o, possa m ser verda de i r o s ao mes m o temp o,
mas apesar de tudo eles parece m ser aceites co m o verdade em
algu ns casos, co m a única difere n ç a de que um relato é consi dera d o
melh o r e mais por m e n o r i z a d o do que o outro. No u t r os casos, os dois
relatos pode m ser conside ra d os igual m e n t e váli d os, porq ue as
difere n ças entre eles não são perceb i d as co m o tais.
Na nossa vida diária també m não temos consciê n c i a de que nos
encont ra m o s precisa m e n te na mes ma situação relati va m e n t e a
divers os relatos histór ic os, escritos por difere ntes historia d o r es.
Só presta m o s atenção ao que é basica m e n t e semel ha n te, e
esquece m o s as diferen ç as devi d as ao fato de que os histori a d o r es
proc u ra m e interpreta m os dados de for m a substanc i a l m e n t e
difere nte. Assi m, se se tomare m dois relatos de historia d o res, de
difere ntes tradiç õ es intelect ua is e com alinha m e n t o s polít i c o s
divers os, de acontec i m e n t o s co m o a Rev o l u ç ã o A m e r i c a n a, a guerra
Franc o- Inglesa no Canadá ou a Rev o l u ç ã o Francesa, não fica m o s de
fato nada espantad os ao constatar que eles não nos conta m
exata m e n te a mes ma coisa.
Portant o, a mi n h a imp ressão é que, estudan d o cuidad osa m e n t e
esta Histó r ia, no sentid o geral da palav ra, que os autores indí g e n as
conte m p o r â n e o s nos tenta m dar do seu passado, não a consi de ra n d o
com o um relato fantástic o, mas antes investi ga n d o co m bastante
cuidad o, co m a ajuda de uma arqueo l o g i a de salva m e n t o –
escavan d o os sítios referid os nas histór ias –, e tentand o, na medi d a
do possív e l, estabelecer corresp o n d ê n c i as entre difere ntes relatos,
40
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
41. veri f i c a n d o o que corresp o n d e e o que não corresp o n d e, talvez
possa m o s no fi m deste processo chegar a uma mel h o r co m p r ee nsão
do que é na realida d e a ciênc ia históri c a.
Não ando longe de pensar que, nas nossas socieda des, a
Histó r ia substit u i a M i t o l o g i a e dese m p e n h a a mes m a funçã o, já que
para as socieda des sem escrita e sem arqui v o s a M i t o l o g i a tem por
final i d a d e assegurar, co m um alto grau de certeza – a certeza
com p l e ta é obvia m e n t e im p ossí v e l –, que o futu ro per ma n e ce rá fiel
ao presente e ao passado. Cont u d o, para nós, o futur o deveria ser
semp re diferente, e cada vez mais difere nte do presente, depen de n d o
algu m as diferen ç as, é claro, das nossas preferên c i as de caráter
políti c o. M as, apesar de tudo, o mur o que em certa medi d a existe na
nossa mente entre M i t o l o g i a e Histó r i a pode pro va v e l m e n t e abrir
fendas pelo estud o de Histó r i as conceb i d as não já co m o separadas
da M i t o l o g i a, mas co m o uma conti n u a çã o da mit o l o g i a.
41
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
42. V
MITO E MÚSIC A
A relação entre mito e música, em que tanto insisti na parte
inicia l de Le Cru et le Cuit e també m na parte final de L’Homme, é
talvez o tema que deu orige m à mai o r parte dos mal- entend i d o s,
especial m e n t e no mu n d o de líng ua inglesa, mas també m em França,
porq ue se pensava que essa relação era bastante arbitrár ia. Eu, pelo
contrár i o, tinha a ideia de que não havia uma única relação, mas dois
tipos de relação – uma de simi l a r i d a d e e outra de conti g u i d a d e – e
de que, na realida de, eles eram de fato o mes m o. M as não
com p r ee n d i ime d iata m e n te esta relação, e foi a relação de
sim i la r i d a d e que me cha m o u em pri m e i r o lugar a atenção. Tentarei
explic ar co m o isso se passou.
Relati v a m e n t e ao aspecto da simi l a r i d a d e, a mi n h a con v i c ç ã o
era que, tal co m o sucede nu ma partitu ra musi cal; é imp ossí v e l
com p r ee n d e r um mit o co m o uma sequên c i a contí n u a. Esta é a razão
por que deve m o s estar conscie ntes de que se tentar m o s ler um mit o
da mes ma maneira que lem os uma novela ou um artig o de jornal, ou
seja linha por linha, da esquerda para a direita, não podere m o s
chegar a entende r o mito, porq ue temos de o apreender co m o uma
totalid a d e e desco br i r que o signi f i c a d o básico do mito não está
ligad o à sequênc ia de aconteci m e n t o s, mas antes, se assi m se pode
dizer, a grup os de acontec i m e n t o s, ainda que tais aconteci m e n t o s
ocorra m em mo m e n t o s diferen tes da Histó r i a. Portant o, temos de ler
o mito mais ou men os co m o lería m o s uma partit u ra musica l, pond o
de parte as frases musica is e tentand o enten der a pági na inteira, co m
42
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
43. a certeza de que o que está escrito na pri m e i r a frase musi ca l da
página só adquire signi f i c a d o se se consi de ra r que faz parte e é uma
parcela do que se enco nt ra escrito na segund a, na terceira, na quarta
e assim por diante. Ou seja, não só temos de ler da esquerda para a
direita, mas simu lta n ea m e n t e na verti ca l, de ci ma para bai x o. Te m o s
de perceber que cada página é uma totali da de. E só consi de ra n d o o
mit o co m o se fosse uma partit u ra orquestral, escrita frase por frase, é
que o pode m o s entender co m o uma totali da de, e extrai r o seu
signi f i c a d o.
Co m o é que isto acontece e porq uê? Na mi n h a opin iã o, é o
segun d o aspecto, o aspecto da conti g u i d a d e, que nos dá a chave para
este prob le m a.
Na verdade, foi só quand o o pensa m e n t o mito l ó g i c o, não digo
se dissip o u ou desapareceu, mas passou para segun d o plano no
pensa me n t o ocide ntal da Renascen ça e do sécul o X V I I I , que
com e çara m a aparecer as pri m e i r as novel as, em vez de histórias
ainda elabora das segun d o o mode l o da mito l o g i a. E foi precisa m e n t e
por essa altura que teste m u n h a m o s o apareci m e n t o dos grandes
estilos musica is, característ i c os do sécul o X V I I e, princ i p a l m e n t e,
dos séculos X V I I I e X I X .
Foi co m o se a música mu dasse co m p l e ta m e n t e a sua for m a
tradic i o n a l para se apossar da funçã o –fun çã o intelect u a l e també m
emot i v a que o pensa me n t o mito l ó g i c o aband o n o u mais ou menos
nessa época. Quan d o falo de músi ca, devia, co m certeza, quali f i c a r o
term o. A música que assu m i u a funçã o tradic i o n a l da mito l o g i a não
é um deter m i n a d o tipo de músi ca, mas a músi ca tal co m o surgi u na
civ il i z a ç ã o ocide nta l, nos pri m e i r o s quartéis do século X V I I , co m
Fresco ba l d i, e nos pri m e i r o s anos do século X V I I I , co m Bach,
música que ating i u o seu má x i m o desen v o l v i m e n t o co m M o z a rt,
Beeth o v e n e Wa g n e r, nos sécul os X V I I e X I X .
O que eu gostaria de fazer a fi m de clari f i c a r estas afir m a ç õ es
era oferecer um exe m p l o concret o, que to mare i da tetral o g i a O Anel
43
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
44. dos Nibelungos, de Wa g n e r. U m dos temas mais imp o r ta n tes das
tetralo g ia é o que em francês se cha ma «le thè me de la renun c i at i o n
à l’a m o u r » – a renún c ia ao amor. Co m o se sabe, este tema aparece
pela pri m e i r a vez na co m p o s i ç ã o O Ouro do Reno, no mo m e n t o em
que Al b e r i c h sabe pelas nin fas do Reno que só pode conq u istar o
ouro se renun c ia r a todas as espécies de amor hu ma n o. Este
assustado r mot i v o musica l é um aviso a Al b e r i c h, dado no preciso
mo m e n t o em que ele diz que fica co m o ouro e que renun c i a ao
amor de uma vez por todas. Tud o isto é muit o claro e simp l es; é o
sentid o literal do tema: A l be r i c h está a renun c i a r ao amor.
Ora, o segun d o mo m e n t o, imp o r ta n te e surpreen d e n te, em que
o tema reaparece é nas Val q u í r í as, em circu nstâ n c i as que torna m
extraor d i n a r ia m e n t e difíc i l entender porq uê. No mo m e n t o em que
Sieg m u n d descob re que Siegl i n d e é sua irmã e se apai x o n a por ela, e
precisa m e n te quan d o iam inicia r uma relação incestu osa, graças à
espada que se encon tra espetada na árvore e quand o Sieg m u n d a
tenta arrancar – nesse mo m e n t o, reaparece o tema da renú nc i a ao
amor. Isto parece um mistéri o porq ue, nesse mo m e n t o, Sieg m u n d
não está de for m a algu m a renun c i a n d o ao amor – está fazend o
exata m e n te o contrári o, e conhece n d o o amor pela pri m e i r a vez na
sua vida, co m a sua irmã Siegl i n d e.
O terceiro mo m e n t o em que o tema aparece é tam bé m nas
Valquírias, no últi m o ato, quan d o W o ta n, o rei dos deuses, conde na
a sua filha Bru n i l d e a um long o sono mág i c o, rodean d o- a co m uma
barreira de fogo. Poderia se pensar que W o ta n estava renun c i a n d o
tam bé m ao amor, porq ue renu nc i a v a ao amor pela sua filha; mas tal
interp retação não é muit o con v i n c e n te.
Vê- se, assim, que enfre nta m o s aqui um mes m o tipo de
prob le m a que na mit o l o g i a. Ou seja: temos um tema – neste caso um
tema musical em lugar de um tema mit o l ó g i c o – que aparece em três
mo m e n t o s diferen tes nu ma histór ia bastante longa: uma vez ao
prin c i p i o, outra vez no mei o, e outra ainda no fi m, se para esta
44
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
45. análise nos li m i ta r m o s às duas pri m e i r as obras d’ O Anel dos
Nibelungos. O que eu gostaria de mostrar é que a única manei ra de
entende r estas reapariç õ es misteri osas do tema é juntar os três
acontec i m e n t o s, ainda que pareça m mu it o diferentes, empi l h á- los
uns por cima dos outros, a ver se poderão ser tratados co m o um
únic o e o mes m o aconteci m e n t o.
Pode m o s constatar que nas três ocasiões difere ntes há um
tesouro que tem de ser afastado ou desvia d o daqu i l o, para que está
destina d o. Há o ouro, que se enco nt ra enterra d o nas prof u n d e z as do
Ren o; há a espada, que está enterra da na árvore, que é uma árvore
sim b ó l i c a, a árvore do uni ve rso ou a árvore da vida; e há a mu l h e r
cha m a d a Bru n i l d e, que tem de ser tirada do círcu l o de fogo. A
repetição do tema sugere-nos que, na verdade, o ouro, a espada e
Bru n i l d e são a mes ma coisa: o ouro co m o um mei o para conq u is ta r
o poder, a espada co m o um mei o para conq u i sta r o amor, se assi m se
pode dizer. E o fato de haver uma espécie de união entre o ouro, a
espada e a mul h e r é, real me n te, a mel h o r expl i ca çã o que podere m o s
ter para que no final d’ O Crepúsculo dos Deuses seja através de
Bru n i l d e que o ouro volte ao Reno. Eles são uma e a mes ma coisa,
mas consi de ra d os de diferentes pontos de vista.
Por este processo se torna m claros outras peças do quebra-
cabeças. Por exe m p l o, ainda que A l b e r i c h renun c i asse ao amor mais
tarde, graças ao ouro, poderi a seduzi r uma mu l h e r que lhe daria um
filh o, Hage n. É graças à conq u i sta da espada que Sieg m u n d alcança
tam bé m um filh o, que será Sieg f r i e d. Assi m, a reapari çã o do tema
mostra- nos algo que nunca foi expl i ca d o nos poe mas, isto é, que há
uma espécie de gemei d a d e entre Hage n, o traid o r, e Siegf r i e d, o
herói. Estão nu m estreito paralel is m o. E isto expl i ca també m por que
razão será possíve l a Siegf r i e d e a Hagen, ou mel h o r, a Siegf r i e d,
pri m e i r o co m o ele mes m o e depo is sob o disfarce de Hage n,
conq u istar Bru n i l d e em diferen tes mo m e n t o s da histór ia.
45
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
46. Poderia contin u a r co m temas deste gênero durante bastante
tem p o, mas talvez seja m sufic ie n tes estes exe m p l o s para expl i ca r a
sim i la r i d a d e de méto d o entre a análise do mito e a co m p re e nsã o da
música. Quan d o ouv i m o s músi ca, esta m os ouv i n d o, afinal de contas,
algo que vai de um ponto inic ia l para um term o final e que se
desen v o l v e através do tem p o. Ouça m uma sinf o n i a: uma sinf o n i a
tem um princ í p i o, um meio e um fi m; contu d o nunca se enten derá
nada da sinf o n i a nem se conseg u i rá ter prazer ou escutá-la se se for
incapaz de relaci o n a r, a cada passo, o que antes se escuto u co m o
que se está a escutar, mante n d o a consciê n c i a da totali da d e da
música. Se se retiver por exe m p l o a fór m u l a musica l do tema e das
variaç ões, só se pode enten der e sentir a músi ca se para cada
variação se tiver em mente o tema que se ouv i u em pri m e i r o lugar;
cada variaçã o tem um sabor musi ca l que lhe é própr i o, se se
conseg u i r relaci o n á- la inconsc ie n te m e n t e co m a variação escutada
anterio r m e n t e.
Há, pois, uma espécie de reconstru çã o contí n u a que se
desen v o l v e na mente do ouv i n te da músi ca ou de uma história
mit o l ó g i c a. Não se trata apenas de uma simi l a r i d a d e global. É
exata m e n te co m o se, ao inven tar as for m as musica is especí f i c as, a
música só redesco b r isse estrutu ras que já existia m a níve l
mit o l ó g i c o.
É, por exe m p l o, extraor d i n á r i o que a fuga, co m o foi
for m a l i z a d a no temp o de Bach, seja a representaçã o ao vi v o do
desen v o l v i m e n t o de deter m i n a d o s mit os que têm duas espécies de
persona ge ns ou dois grup os de persona ge ns. Di ga m o s: um bo m e
outro mau, emb o ra isto constit ua uma super-simp l i f i c a ç ã o. A
história inven tar ia d a pelo mito é a de um grup o que tenta escapar ou
fug ir do outro grup o de personag e ns. Trata- se então de uma
persegu i ç ã o de um grup o pelo outro, chegan d o às vezes o grup o A a
alcançar o grup o B, distanc i a n d o- se depois nova m e n t e o grup o B –
tudo co m o na fuga. Te m- se o que se cha ma em francês «le sujet et la
répo nse». A antítese ou antif o n i a conti n u a pela história fora, até
46
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o
47. amb os os grup os estare m quase mistu ra d os e conf u n d i d o s – um
equi v a le n te da stretta da fuga; final m e n t e, a soluçã o ou clí m a x deste
con f l i t o surge pela conju g a çã o dos dois princ í p i o s que se tinha m
oposto durante todo o mito. Pode ser um con f l i t o entre os poderes de
cima e os poderes de baix o, o céu e a terra, ou o sol e os poderes
subterrâ ne os, e assi m sucessi v a m e n t e. A soluçã o míti ca de
conju g a ç ã o é mu it o semel ha nte em estrutu ra aos acordes que
resol v e m e põe m fi m à peça musica l, porq ue també m eles oferece m
uma conj u g a çã o de extre m o s que se junta m por uma e últi m a vez.
Ta m b é m se poderia mostrar que há mit os, ou grup os de mitos, que
são constru í d o s co m o uma sonata, uma sinf o n i a, um rond ó ou uma
tocata, ou qualq ue r outra for m a que a música, na realida d e, não
inve nt o u, mas que foi inco ns c i e n te m e n t e buscar à estrutura do mito.
Há uma histór ia que gostaria de lhes contar. Quan d o andava a
escreve r Le Cru et le Cuit, deci d i dar a cada, seção do livr o o caráter
de uma for m a musica l e cha ma r, a uma, «sonata», a outra, «ron d ó »,
e assi m sucessi va m e n t e. Depare i- me então um mit o cuja estrutu ra
com p r ee n d i a perfeita m e n t e, mas o qual não encontra v a uma for m a
musica l que corresp o n d esse à estrutu ra mit o l ó g i c a. Cha m e i então o
meu amig o, o co m p o s i t o r René Lei b o w i t z, e expl i q u e i- lhe o meu
prob le m a. Descre v i- lhe a estrutu ra do mito: ao co me ç o duas
histórias co m p l e ta m e n t e difere ntes, sem relação aparente uma co m a
outra, mas que progressi v a m e n t e se mistu ra m e conf u n d e m, até que
no fi m acaba m por for m a r um só tema. Co m o se cha ma r i a uma peça
musica l co m a mes ma estrutu ra?
Ele pensou no assunto e disse-me que em toda a históri a da
música não existia, que ele soubesse, uma peça musi ca l co m tal
estrutura. Assi m, não há no me para ela. É evide nte m e n te possí v e l
com p o r uma peça musica l co m esta estrutu ra; e passadas algu m as
semanas ele envio u- me uma partit u ra que tinha co m p o s t o co m base
na estrutu ra do mito que eu lhe contara.
47
Claude Lé v i- Strauss – M i t o e Signi f i c a d o