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Trabalho final de disciplina
Reflexões sobre o filme Admirável Mundo Novo,
dirigido por L. Libman e L. Williams
com base na obra O conceito de tecnologia,
de Álvaro Vieira Pinto
“O, wonder!
How many goodly creatures are
there here!
How beauteous mankind is!
O brave new world,
That has such people in it!”
William Shakespeare, The Tempest
William Shakespeare, The Tempest
O filme
Admirável Mundo Novo (em inglês: Brave New World)
Direção: Leslie Libman e Larry Williams, 1998
Roteiro adaptado de livro de Aldous Huxley, de1932
Trailer em: <www.youtube.com/watch?v=5v3dgtRZhGo>
PINTO, Álvaro Vieira. O conceito de tecnologia.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. 531 p.
O livro
Objetivo do trabalho
Refletir sobre a tecnologia como ideologia
e instrumento de dominação
Resenha do filme
 Filme de ficção científica com roteiro baseado em baseado em obra de
Aldous Huxley (1894-1963), "Admirável Mundo Novo", 'fábula' futurista
escrita em 1931.
 O enredo desenvolve-se em sociedade organizada em sistema de
castas, construída cientificamente.
 O Governo, decorrente de um regime social totalitário, patrocina o bem-
estar e o convívio harmônico das classes sociais por meio do uso da
tecnologia.
 A engenharia genética gera pessoas com determinadas
características físicas e psíquicas adequadas às cinco
classes sociais existentes, com funções sociais e modo de
vida bem definidos: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon.
 Desse modo, todos os seres humanos são desenvolvidos em série e têm
seus destinos traçados... Assim como o nascimento, a morte é feita em
máquinas. As pessoas não envelhecem, vivem um ciclo apenas.
 As crianças são criadas e condicionadas pela burocracia estatal; não existem
famílias naturais.
 Sessões de hipnose e consumo da substância psicoativa chamada soma, de
uso obrigatório, induzem a felicidade de todas as pessoas.
 Todos os significados sociais são pré-determinados. Não há livre-arbítrio.
 Paralelamente à esse mundo, existe uma reserva “natural” com alguns
seres humanos, acidentalmente esquecidos pelo sistema, que mantiveram o
modo parecido ao nosso, com seus conflitos, suas frustações, sua falta de
disciplina, seus sentimentos e valores próprios.
 Os selvagens convivem com misérias humanas, segundo a ideologia do
maravilhoso mundo novo. São feios, sujos, têm pelos, rugas... gritam,
cantam, tocam tambores... parem seus filhos, envelhecem... Enfim,
nojentos...
A obra “O conceito de tecnologia” trata do evento da
hominização, afirmando que o ser humano, diferente dos outros
animais, surgiu por duas capacidades inerentes a esse organismo
biológico:
de projetar, possível por causa de seu sistema nervoso superior;
de ter-se tornado um ser social, condição necessária
para produzir o que projetou, usando as técnicas.
Imagem do Filme “2001, uma odisséia no
espaço”, de S. Kubrick, representando um salto
evolutivo, em que pela primeira vez o animal
usa o osso como instrumento para matar uma
anta e obter alimento.
A evolução das técnicas é constante, e cada vem ficamos ainda mais
maravilhados com esses sofisticados artefatos tecnológicos que criamos
e descartamos, para criar em seguida criar outros mais avançados.
Essa valorização da tecnologia é igualmente contemplada no livro de
Huxley, em 1932, o qual tem um de seus pontos fortes na discussão do
avanço da tecnologia (entendida como conjunto de técnicas), especialmente
o peso da engenharia genética no futuro na conformação da sociedade.
O filósofo assume a técnica como libertadora, pois permite nos
libertarmos de limitações da natureza dada e construirmos
nosso ambiente e nossas condições de vida.
Jobs apresentando o Iphone 4, 2011.
Vieira Pinto rejeita o discurso da tecnologia como perigo para a
humanidade, considerando-a uma construção humana, que ao
mesmo tempo constituiu nossa espécie. O que deve ser visto como
perigoso é o domínio do centro da tecnologia e sua apropriação
por uma elite, deixando a condição de “paciente receptor” das
inovações técnicas reservada ao mundo da periferia.
Nessa perspectiva, enfatiza o engano de valorizarmos somente os
artefatos produzidos por meio da técnica, já que a verdadeira
finalidade da produção humana consiste na produção das relações
sociais.
O autor ressalta que a tecnologia não é a responsável pela
sociedade cruel, em que seres humanos vão adquirindo essência
de máquina para serem integrados ao mecanismo social.
O filme mostra o avanço das técnicas produzidas por uma sociedade
científica pragmática, conduzida por uma elite que usa a tecnologia
como ideologia e instrumento de dominação, anestesiando as pessoas
das castas inferiores, ocultando-lhes a realidade social e política, sendo
essa manipulação da técnica o perigo enfatizado por Vieira Pinto.
É portanto míope e reacionária, diz, qualquer atitude que lança suspeitas
éticas ou vaticínios aziagos sobre a tecnologia e profere imprecações
ingênuas contra a “era tecnológica” por estar ela a destruir os chamados
valores humanos.
A consciência crítica ensinaria aos “pensadores” perdidos nessas sombrias
banalidades que as mesmas coisas ditas hoje poderiam ter sido enunciadas
por seus colegas das idades pré-históricas, e até talvez com maior ração
aparente, quando viam as artes mecânicas recém-surgidas servirem de
condição para a escravização e a morte de tantos seres humanos.
O homem“desumanizado”, “coisificado”, perde sua capacidade de
produção, de ser “produtor”, sendo reduzido a mero consumidor. Nessas
condições de apropriação, baseado no monopólio do trabalho, há uma
apropriação do trabalho alheio.
São seres humanos sem vontade própria, sem livre-arbítrio, cada vez
mais distanciados da natureza humana primeira, concebidos para serem
os fios do tecido social, predestinados a alimentar uma estrutura social
que vemos no filme.
Segundo podemos depreender da obra de Pinto (2005), a casta
superior, dos Alfa+, estaria ela somente conservando a natureza
humana, pois dela partem os projetos da sociedade, o comando, o
poder.
REFERÊNCIAS
Admirável Mundo Novo (em inglês: Brave New World). Direção: Leslie Libman e
Larry Williams. EUA, 1998.
HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Rio de Janeiro: Globo.
PINTO, A. V. O Conceito de Tecnologia. V. 1. Contraponto, 2005.
RADIOHEAD. Creep. Thom Yorke [Compositor]. In: Pablo Honey. [S.I.]: Álbum de
estúdio, Inglaterra, 1993. 1 CD (ca. 42min). Faixa 2 (3min56s).
Crédito das fotos
•GettyImages (slides 1, 2, 4 e 8)
•Derek Riggs e Stevew Stone – designers da capa do álbum Brave New World, da banda Iron
Maiden, lançado em 2000. (slide 13). Disponível em: <www.downloadswallpapers.com/download-
iron-maiden--brave-new-world-02-21488.htm> . Acesso em 1 ago. 2013.
•Cena do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço, do diretor Stanley Kubrick, 1968.
•Cenas do filme Brave New World. Direção: L. Libman e L. Williams . USA, 1998, USA Networks
Studios. 100 min.
E espero que este trabalho colabore para a luta pela democratização da
tecnologia, de seus artefatos e da decisão sobre seu desenvolvimento.
Obrigada pela atenção!

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  • 1. Trabalho final de disciplina Reflexões sobre o filme Admirável Mundo Novo, dirigido por L. Libman e L. Williams com base na obra O conceito de tecnologia, de Álvaro Vieira Pinto
  • 2. “O, wonder! How many goodly creatures are there here! How beauteous mankind is! O brave new world, That has such people in it!” William Shakespeare, The Tempest William Shakespeare, The Tempest
  • 3. O filme Admirável Mundo Novo (em inglês: Brave New World) Direção: Leslie Libman e Larry Williams, 1998 Roteiro adaptado de livro de Aldous Huxley, de1932 Trailer em: <www.youtube.com/watch?v=5v3dgtRZhGo> PINTO, Álvaro Vieira. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. 531 p. O livro
  • 4. Objetivo do trabalho Refletir sobre a tecnologia como ideologia e instrumento de dominação
  • 5. Resenha do filme  Filme de ficção científica com roteiro baseado em baseado em obra de Aldous Huxley (1894-1963), "Admirável Mundo Novo", 'fábula' futurista escrita em 1931.  O enredo desenvolve-se em sociedade organizada em sistema de castas, construída cientificamente.  O Governo, decorrente de um regime social totalitário, patrocina o bem- estar e o convívio harmônico das classes sociais por meio do uso da tecnologia.  A engenharia genética gera pessoas com determinadas características físicas e psíquicas adequadas às cinco classes sociais existentes, com funções sociais e modo de vida bem definidos: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon.
  • 6.  Desse modo, todos os seres humanos são desenvolvidos em série e têm seus destinos traçados... Assim como o nascimento, a morte é feita em máquinas. As pessoas não envelhecem, vivem um ciclo apenas.  As crianças são criadas e condicionadas pela burocracia estatal; não existem famílias naturais.  Sessões de hipnose e consumo da substância psicoativa chamada soma, de uso obrigatório, induzem a felicidade de todas as pessoas.  Todos os significados sociais são pré-determinados. Não há livre-arbítrio.  Paralelamente à esse mundo, existe uma reserva “natural” com alguns seres humanos, acidentalmente esquecidos pelo sistema, que mantiveram o modo parecido ao nosso, com seus conflitos, suas frustações, sua falta de disciplina, seus sentimentos e valores próprios.  Os selvagens convivem com misérias humanas, segundo a ideologia do maravilhoso mundo novo. São feios, sujos, têm pelos, rugas... gritam, cantam, tocam tambores... parem seus filhos, envelhecem... Enfim, nojentos...
  • 7. A obra “O conceito de tecnologia” trata do evento da hominização, afirmando que o ser humano, diferente dos outros animais, surgiu por duas capacidades inerentes a esse organismo biológico: de projetar, possível por causa de seu sistema nervoso superior; de ter-se tornado um ser social, condição necessária para produzir o que projetou, usando as técnicas. Imagem do Filme “2001, uma odisséia no espaço”, de S. Kubrick, representando um salto evolutivo, em que pela primeira vez o animal usa o osso como instrumento para matar uma anta e obter alimento.
  • 8. A evolução das técnicas é constante, e cada vem ficamos ainda mais maravilhados com esses sofisticados artefatos tecnológicos que criamos e descartamos, para criar em seguida criar outros mais avançados. Essa valorização da tecnologia é igualmente contemplada no livro de Huxley, em 1932, o qual tem um de seus pontos fortes na discussão do avanço da tecnologia (entendida como conjunto de técnicas), especialmente o peso da engenharia genética no futuro na conformação da sociedade. O filósofo assume a técnica como libertadora, pois permite nos libertarmos de limitações da natureza dada e construirmos nosso ambiente e nossas condições de vida. Jobs apresentando o Iphone 4, 2011.
  • 9. Vieira Pinto rejeita o discurso da tecnologia como perigo para a humanidade, considerando-a uma construção humana, que ao mesmo tempo constituiu nossa espécie. O que deve ser visto como perigoso é o domínio do centro da tecnologia e sua apropriação por uma elite, deixando a condição de “paciente receptor” das inovações técnicas reservada ao mundo da periferia. Nessa perspectiva, enfatiza o engano de valorizarmos somente os artefatos produzidos por meio da técnica, já que a verdadeira finalidade da produção humana consiste na produção das relações sociais. O autor ressalta que a tecnologia não é a responsável pela sociedade cruel, em que seres humanos vão adquirindo essência de máquina para serem integrados ao mecanismo social.
  • 10. O filme mostra o avanço das técnicas produzidas por uma sociedade científica pragmática, conduzida por uma elite que usa a tecnologia como ideologia e instrumento de dominação, anestesiando as pessoas das castas inferiores, ocultando-lhes a realidade social e política, sendo essa manipulação da técnica o perigo enfatizado por Vieira Pinto. É portanto míope e reacionária, diz, qualquer atitude que lança suspeitas éticas ou vaticínios aziagos sobre a tecnologia e profere imprecações ingênuas contra a “era tecnológica” por estar ela a destruir os chamados valores humanos. A consciência crítica ensinaria aos “pensadores” perdidos nessas sombrias banalidades que as mesmas coisas ditas hoje poderiam ter sido enunciadas por seus colegas das idades pré-históricas, e até talvez com maior ração aparente, quando viam as artes mecânicas recém-surgidas servirem de condição para a escravização e a morte de tantos seres humanos.
  • 11. O homem“desumanizado”, “coisificado”, perde sua capacidade de produção, de ser “produtor”, sendo reduzido a mero consumidor. Nessas condições de apropriação, baseado no monopólio do trabalho, há uma apropriação do trabalho alheio. São seres humanos sem vontade própria, sem livre-arbítrio, cada vez mais distanciados da natureza humana primeira, concebidos para serem os fios do tecido social, predestinados a alimentar uma estrutura social que vemos no filme. Segundo podemos depreender da obra de Pinto (2005), a casta superior, dos Alfa+, estaria ela somente conservando a natureza humana, pois dela partem os projetos da sociedade, o comando, o poder.
  • 12. REFERÊNCIAS Admirável Mundo Novo (em inglês: Brave New World). Direção: Leslie Libman e Larry Williams. EUA, 1998. HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Rio de Janeiro: Globo. PINTO, A. V. O Conceito de Tecnologia. V. 1. Contraponto, 2005. RADIOHEAD. Creep. Thom Yorke [Compositor]. In: Pablo Honey. [S.I.]: Álbum de estúdio, Inglaterra, 1993. 1 CD (ca. 42min). Faixa 2 (3min56s). Crédito das fotos •GettyImages (slides 1, 2, 4 e 8) •Derek Riggs e Stevew Stone – designers da capa do álbum Brave New World, da banda Iron Maiden, lançado em 2000. (slide 13). Disponível em: <www.downloadswallpapers.com/download- iron-maiden--brave-new-world-02-21488.htm> . Acesso em 1 ago. 2013. •Cena do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço, do diretor Stanley Kubrick, 1968. •Cenas do filme Brave New World. Direção: L. Libman e L. Williams . USA, 1998, USA Networks Studios. 100 min.
  • 13. E espero que este trabalho colabore para a luta pela democratização da tecnologia, de seus artefatos e da decisão sobre seu desenvolvimento. Obrigada pela atenção!