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Boletim Rio+20
                                                                            Edição número 2
                                                                            Outubro 2011


O contexto político da Rio+20                             com clareza, não pode mais guiar a atividade huma-
                                                          na. A civilização baseada no modelo da energia do
         Em 2007, por iniciativa do então Presidente
                                                          petróleo está chegando ao seu fim, e a transição para
Lula, foi lançada a proposta de realização da Rio+20
                                                          outro modelo tem se tornado inadiá-vel.
em um momento de particular interesse e preocupa-
                                                                   Entretanto, o poder das corporações, cujos in-
ção com as causas ambientais. De fato, nesse ano foi
                                                          teresses são representados fundamentalmente pelos
publicado o IV e último relatório do IPCC ― Painel In-
                                                          países do Norte e alguns países do Sul, tem impedido
ternacional sobre Mudanças Climáticas ―, e em Bali os
                                                          inclusive os acordos no âmbito das Nações Unidas.
países membro da Conferência das Nações Unidas que
                                                                   Ao mesmo tempo, a crise tem visibilizado de
vêm discutindo a mudança de clima do planeta ― as
                                                          forma mais aguda as contradições entre os países
chamadas COPs ou Conferências das Partes ― apro-
                                                          mais ricos e as chamadas economias “emergentes”
varam o “Mapa do Caminho” para ir elaborando um
                                                          e suas próprias necessidades de crescimento. Assim,
acordo vinculante entre os países e dar seguimento ao
                                                          a falta de acordo global tem prevalecido, ao mesmo
Protocolo de Quioto.
                                                          tempo em que cresce a voracidade das empresas e
         Desde então, muita água passou debaixo da
                                                          corporações, o que na América Latina tem significado
ponte e sobretudo, a crise econômica mundial mudou
                                                          o acirramento do modelo extrativista, exportador de
radicalmente a agenda política dos países, enfraque-
                                                          minérios e matérias primas.
cendo muito a sua vontade em comprometer-se finan-
                                                                   No Brasil, a tendência ao aprofundamento
ceiramente para o desenvolvimento sustentável e fo-
                                                          desse modelo econômico traz como consequência,
cando, ao contrário, seus interesses no crescimento
                                                          entre outros, a flexibilização do Código Florestal, a
econômico. De fato, nos últimos anos temos assistido
                                                          redução das limitações para aprovação do licencia-
a um sério retrocesso das políticas a favor do meio am-
                                                          mento ambiental e o autoritarismo demonstrado na
biente ao nível internacional, começando pelo fracasso
                                                          condução do projeto de construção da barragem de
da reunião de Copenhague (COP15) e da subseqüente,
                                                          Belo Monte no Estado do Pará.
em Cancum (COP16), onde foram desvinculados os
                                                                   As forças que estarão em conflito na Rio +20
compromissos dos países no combate ao aquecimento
                                                          já são visíveis e estão claramente posicionadas: go-
global tornando-os voluntários. O Protocolo de Quioto,
                                                          vernos com pouco interesse em limitar o crescimento
compromisso que prevê metas de redução de emis-
                                                          econômico com acordos de sustentabilidade, setores
sões de gases contaminantes pelos países, vencerá
                                                          empresariais e corporações com fortes interesses em
no próximo ano sem que tenha sido ainda negociado
                                                          empurrar a agenda de negócios ambientais ou da
um substituto. Isso nos dá uma mostra da gravidade
                                                          “economia verde” para permitir um novo ciclo de acu-
da crise com que nos deparamos e da falta de com-
                                                          mulação de capital e, fazendo frente a tudo isso, os
promisso de muitos governos,                              movimentos sociais globais, dispostos a se mobilizar
especialmente dos países in-       “A civilização         para dar um basta a esse paradigma socioeconômico
dustrializados ― os grandes                               injusto e insustentável.
contaminadores e depreda-          baseada no
dores da natureza e impor-         modelo da
tantes responsáveis o empo-        energia do
brecimento global ― com a                                 I Seminário Internacional em prepara-
agenda negociada em 1992.          petróleo está          ção à Cúpula dos Povos
         O que se aprofundou       chegando ao
desde a ECO92, apesar das                                          Entre os dias 30 de Junho e 2 de Julho de 2011,
                                   seu fim, e a
grandes lutas e avanços pro-                              no Rio de Janeiro, o Comitê Facilitador da Sociedade
movidos pelos movimentos           transição para         Civil para a Rio+20 (CFSC) organizou o Seminário In-
sociais globais, foi a expansão    outro modelo
do livre comércio e dos fluxos     tem se torna-
de investimento que têm le-
vado o mundo a uma extrema         do inadiável.”
concentração do poder econômico, e promovido a
mercantilização da vida e da natureza. São exemplos
o chamado Mercado de Carbono e a Economia dos
Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB). E é nessa
linha de pensamento que as soluções à múltipla crise
que o mundo vive atualmente estão sendo procura-
das na lógica do crescimento econômico ili-mitado.
Este princípio, que tem guiado a lógica da expansão e        Intervenção de Bernardete Ferreira (AMB) em mesa
aproveitamento sem limites da natureza, vê-se agora          do Seminário Internacional do CFSC


                                            Realização                                                          Apoio
ternacional e a Plenária em preparação à Cúpula dos Po-      organizações nacionais com o objetivo de fortalecer a
vos da Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, um even-       participação das mulheres no processo preparatório da
to da sociedade civil que será rea-lizado em paralelo à      Rio+20.
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento                   Partindo do contexto da crise econômica fi-
Sustentável em Junho 2012. No marco do Seminário,            nanceira global, aprofundamos a discussão sobre sus-
integrantes da AMB e ou-tras companheiras convidadas         tentabilidade, mudanças climáticas e negociações de
realizaram um encontro para definição de estratégias         clima no âmbito da ONU, bem como ampliamos o de-
no processo da Rio+20 (ver informe mais detalhado na         bate sobre o processo da Rio+20. Também realizamos
matéria seguinte). Também no dia 29 de Junho aconte-         um debate em torno aos conceitos de economia verde
ceu um seminário de formação sobre a conferência e           e governança global para o desenvolvimento susten-
seus temas, promovido pelo GT Rio de Janeiro do CFSC.        tável, temas oficiais da conferência da ONU em 2012.
Esses eventos juntaram mais de 300 participantes de                   Ao refletirmos juntas sobre o formato e a es-
distintas áreas de atuação, incluindo ambientalistas,        tratégia da nossa participação na Rio+20, não pode-
trabalhadores/as rurais e urbanos, mulheres, juven-          ria faltar um momento de memória e homenagem ao
tude, movimentos populares, povos originários, etnias        Planeta Fêmea, espaço que marcou a presença exitosa
discriminadas, empreendedores da economia solidária          dos movimentos feminista e de mulheres mundiais na
etc. com uma significativa presença de organizações e        ECO 92. E é a partir daí que queremos construir, rumo
movimentos sociais internacionais.                           a junho de 2012, um evento inclusivo e de convergên-
        As atividades em grupo e em plenárias desses         cia das lutas feministas globais e das críticas ao atual
dias contribuíram para delinear o posicionamento da ar-      modelo de desenvolvimento desigual e insustentável,
ticulação e a estratégia de incidência e participação da     que conta para o seu funcionamento com o trabalho
sociedade civil brasileira e mundial na Rio+20. Assim,       não remunerado e invisibilizado das mulheres.
a Cúpula dos Povos será construída como espaço plural                 Nesse sentido, nossa agenda para a Rio+20
de articulação e convergência dos movimentos sociais,        insistirá nos aspectos da “crise dos cuidados”, como
organizações e redes globais que buscarão amplificar         também da “crise climática” e seus impactos sobre
sua mensagem.                                                as mulheres, a justiça sócioambiental e o racismo am-
        O rechaço à mercantilização da vida e da na-         biental.
tureza, às soluções de mercado, a defesa dos bens co-
muns, a visibilização das iniciativas existentes de práti-
cas sustentáveis e comércio justo são, entre outras, as
propostas que serão questões de debate rumo a 2012.
“Do jeito que o mundo vai, não haverá uma Rio + 40”,
declarou Fátima Mello, membro do CFSC, em entrevista
à imprensa. “O nosso planeta não agüentaria. O nosso
recado para a sociedade e para os governos é que es-
tamos cansados de conferências sem capacidade de
implementação e de compromissos que não são condi-
zentes com a crise do planeta”. Nesse sentido, o CFSC
pretende fazer uma avaliação sobre as lacunas, efetivi-
dade e cumprimento dos tratados e convenções assina-
dos durante os últimos vinte anos e também denunciar
os retrocessos nas políticas sócio-ambientais no Brasil e
                                                                     Para isso, definimos no Seminário estratégias
no mundo.
                                                             de formação e também o fortalecimento da FJSA ―
        De fato, a Rio+20 representa uma etapa num
                                                             Fente de Justiça Sócioambiental ― no âmbito da AMB e
processo histórico de luta por justiça social e ambiental
                                                             do GT Gênero da REBRIP como espaços de articulação
que começou com a ECO92 e que inclui as mobilizações
                                                             para levar adiante o processo organizativo até junho
durante o “ciclo social” das Nações Unidas durante a
                                                             de 2012. Outra importante tarefa que assumimos foi
década de 90, o enfrentamento aos tratados de livre
                                                             a de realizar contato com redes nacionais, regionais,
comércio na ALCA e na OMC, as lutas nas negociações
                                                             e globais, ampliando ao máximo a convocação das
climáticas nas diversas COPs, e em dezembro próximo,
                                                             mulheres do campo e da cidade, mulheres indígenas,
em Durban (COP17), as atuais mobilizações contra o
                                                             negras, quilombolas, da economia solidária, lésbicas e
G20, e em momentos de construção de agendas alter-
                                                             outras.
nativas como as várias edições do FSM, a Conferência
                                                                     Chamamos, assim, todas as organizações fe-
de Cochabamba etc.
                                                             ministas, organizações de mulheres, do campo e da ci-
        A procura por um novo paradigma de vida e or-
                                                             dade, a participar na construção deste espaço amplo e
ganização social, econômica e política está em pauta
                                                             que buscará ser o âmbito de visibilização das lutas das
rumo a 2012.
                                                             mulheres.

Seminário das Mulheres em prepara-
                                                             Matérias: Érika Masinara e Lucía Santalices
ção para a Rio+20                                            Revisão e diagramação: Lucía Santalices
                                                             Edição: Graciela Rodriguez
        Entre 1 e 3 de Julho de 2011, a AMB, em par-
                                                             Para assinatura ou cancelamento: erika@equit.org.br
ceria com o GT Gênero da REBRIP (Rede Brasileira pela        Para ler os boletins anteriores acesse:
Integração dos Povos) realizou um Seminário Nacional         www.articulacaodemulheres.org.br ou www.equit.org.br
com a participação de 22 mulheres de diversas redes e

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Rio+20 Boletim analisa contexto político e seminário da sociedade civil

  • 1. Boletim Rio+20 Edição número 2 Outubro 2011 O contexto político da Rio+20 com clareza, não pode mais guiar a atividade huma- na. A civilização baseada no modelo da energia do Em 2007, por iniciativa do então Presidente petróleo está chegando ao seu fim, e a transição para Lula, foi lançada a proposta de realização da Rio+20 outro modelo tem se tornado inadiá-vel. em um momento de particular interesse e preocupa- Entretanto, o poder das corporações, cujos in- ção com as causas ambientais. De fato, nesse ano foi teresses são representados fundamentalmente pelos publicado o IV e último relatório do IPCC ― Painel In- países do Norte e alguns países do Sul, tem impedido ternacional sobre Mudanças Climáticas ―, e em Bali os inclusive os acordos no âmbito das Nações Unidas. países membro da Conferência das Nações Unidas que Ao mesmo tempo, a crise tem visibilizado de vêm discutindo a mudança de clima do planeta ― as forma mais aguda as contradições entre os países chamadas COPs ou Conferências das Partes ― apro- mais ricos e as chamadas economias “emergentes” varam o “Mapa do Caminho” para ir elaborando um e suas próprias necessidades de crescimento. Assim, acordo vinculante entre os países e dar seguimento ao a falta de acordo global tem prevalecido, ao mesmo Protocolo de Quioto. tempo em que cresce a voracidade das empresas e Desde então, muita água passou debaixo da corporações, o que na América Latina tem significado ponte e sobretudo, a crise econômica mundial mudou o acirramento do modelo extrativista, exportador de radicalmente a agenda política dos países, enfraque- minérios e matérias primas. cendo muito a sua vontade em comprometer-se finan- No Brasil, a tendência ao aprofundamento ceiramente para o desenvolvimento sustentável e fo- desse modelo econômico traz como consequência, cando, ao contrário, seus interesses no crescimento entre outros, a flexibilização do Código Florestal, a econômico. De fato, nos últimos anos temos assistido redução das limitações para aprovação do licencia- a um sério retrocesso das políticas a favor do meio am- mento ambiental e o autoritarismo demonstrado na biente ao nível internacional, começando pelo fracasso condução do projeto de construção da barragem de da reunião de Copenhague (COP15) e da subseqüente, Belo Monte no Estado do Pará. em Cancum (COP16), onde foram desvinculados os As forças que estarão em conflito na Rio +20 compromissos dos países no combate ao aquecimento já são visíveis e estão claramente posicionadas: go- global tornando-os voluntários. O Protocolo de Quioto, vernos com pouco interesse em limitar o crescimento compromisso que prevê metas de redução de emis- econômico com acordos de sustentabilidade, setores sões de gases contaminantes pelos países, vencerá empresariais e corporações com fortes interesses em no próximo ano sem que tenha sido ainda negociado empurrar a agenda de negócios ambientais ou da um substituto. Isso nos dá uma mostra da gravidade “economia verde” para permitir um novo ciclo de acu- da crise com que nos deparamos e da falta de com- mulação de capital e, fazendo frente a tudo isso, os promisso de muitos governos, movimentos sociais globais, dispostos a se mobilizar especialmente dos países in- “A civilização para dar um basta a esse paradigma socioeconômico dustrializados ― os grandes injusto e insustentável. contaminadores e depreda- baseada no dores da natureza e impor- modelo da tantes responsáveis o empo- energia do brecimento global ― com a I Seminário Internacional em prepara- agenda negociada em 1992. petróleo está ção à Cúpula dos Povos O que se aprofundou chegando ao desde a ECO92, apesar das Entre os dias 30 de Junho e 2 de Julho de 2011, seu fim, e a grandes lutas e avanços pro- no Rio de Janeiro, o Comitê Facilitador da Sociedade movidos pelos movimentos transição para Civil para a Rio+20 (CFSC) organizou o Seminário In- sociais globais, foi a expansão outro modelo do livre comércio e dos fluxos tem se torna- de investimento que têm le- vado o mundo a uma extrema do inadiável.” concentração do poder econômico, e promovido a mercantilização da vida e da natureza. São exemplos o chamado Mercado de Carbono e a Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB). E é nessa linha de pensamento que as soluções à múltipla crise que o mundo vive atualmente estão sendo procura- das na lógica do crescimento econômico ili-mitado. Este princípio, que tem guiado a lógica da expansão e Intervenção de Bernardete Ferreira (AMB) em mesa aproveitamento sem limites da natureza, vê-se agora do Seminário Internacional do CFSC Realização Apoio
  • 2. ternacional e a Plenária em preparação à Cúpula dos Po- organizações nacionais com o objetivo de fortalecer a vos da Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, um even- participação das mulheres no processo preparatório da to da sociedade civil que será rea-lizado em paralelo à Rio+20. Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Partindo do contexto da crise econômica fi- Sustentável em Junho 2012. No marco do Seminário, nanceira global, aprofundamos a discussão sobre sus- integrantes da AMB e ou-tras companheiras convidadas tentabilidade, mudanças climáticas e negociações de realizaram um encontro para definição de estratégias clima no âmbito da ONU, bem como ampliamos o de- no processo da Rio+20 (ver informe mais detalhado na bate sobre o processo da Rio+20. Também realizamos matéria seguinte). Também no dia 29 de Junho aconte- um debate em torno aos conceitos de economia verde ceu um seminário de formação sobre a conferência e e governança global para o desenvolvimento susten- seus temas, promovido pelo GT Rio de Janeiro do CFSC. tável, temas oficiais da conferência da ONU em 2012. Esses eventos juntaram mais de 300 participantes de Ao refletirmos juntas sobre o formato e a es- distintas áreas de atuação, incluindo ambientalistas, tratégia da nossa participação na Rio+20, não pode- trabalhadores/as rurais e urbanos, mulheres, juven- ria faltar um momento de memória e homenagem ao tude, movimentos populares, povos originários, etnias Planeta Fêmea, espaço que marcou a presença exitosa discriminadas, empreendedores da economia solidária dos movimentos feminista e de mulheres mundiais na etc. com uma significativa presença de organizações e ECO 92. E é a partir daí que queremos construir, rumo movimentos sociais internacionais. a junho de 2012, um evento inclusivo e de convergên- As atividades em grupo e em plenárias desses cia das lutas feministas globais e das críticas ao atual dias contribuíram para delinear o posicionamento da ar- modelo de desenvolvimento desigual e insustentável, ticulação e a estratégia de incidência e participação da que conta para o seu funcionamento com o trabalho sociedade civil brasileira e mundial na Rio+20. Assim, não remunerado e invisibilizado das mulheres. a Cúpula dos Povos será construída como espaço plural Nesse sentido, nossa agenda para a Rio+20 de articulação e convergência dos movimentos sociais, insistirá nos aspectos da “crise dos cuidados”, como organizações e redes globais que buscarão amplificar também da “crise climática” e seus impactos sobre sua mensagem. as mulheres, a justiça sócioambiental e o racismo am- O rechaço à mercantilização da vida e da na- biental. tureza, às soluções de mercado, a defesa dos bens co- muns, a visibilização das iniciativas existentes de práti- cas sustentáveis e comércio justo são, entre outras, as propostas que serão questões de debate rumo a 2012. “Do jeito que o mundo vai, não haverá uma Rio + 40”, declarou Fátima Mello, membro do CFSC, em entrevista à imprensa. “O nosso planeta não agüentaria. O nosso recado para a sociedade e para os governos é que es- tamos cansados de conferências sem capacidade de implementação e de compromissos que não são condi- zentes com a crise do planeta”. Nesse sentido, o CFSC pretende fazer uma avaliação sobre as lacunas, efetivi- dade e cumprimento dos tratados e convenções assina- dos durante os últimos vinte anos e também denunciar os retrocessos nas políticas sócio-ambientais no Brasil e Para isso, definimos no Seminário estratégias no mundo. de formação e também o fortalecimento da FJSA ― De fato, a Rio+20 representa uma etapa num Fente de Justiça Sócioambiental ― no âmbito da AMB e processo histórico de luta por justiça social e ambiental do GT Gênero da REBRIP como espaços de articulação que começou com a ECO92 e que inclui as mobilizações para levar adiante o processo organizativo até junho durante o “ciclo social” das Nações Unidas durante a de 2012. Outra importante tarefa que assumimos foi década de 90, o enfrentamento aos tratados de livre a de realizar contato com redes nacionais, regionais, comércio na ALCA e na OMC, as lutas nas negociações e globais, ampliando ao máximo a convocação das climáticas nas diversas COPs, e em dezembro próximo, mulheres do campo e da cidade, mulheres indígenas, em Durban (COP17), as atuais mobilizações contra o negras, quilombolas, da economia solidária, lésbicas e G20, e em momentos de construção de agendas alter- outras. nativas como as várias edições do FSM, a Conferência Chamamos, assim, todas as organizações fe- de Cochabamba etc. ministas, organizações de mulheres, do campo e da ci- A procura por um novo paradigma de vida e or- dade, a participar na construção deste espaço amplo e ganização social, econômica e política está em pauta que buscará ser o âmbito de visibilização das lutas das rumo a 2012. mulheres. Seminário das Mulheres em prepara- Matérias: Érika Masinara e Lucía Santalices ção para a Rio+20 Revisão e diagramação: Lucía Santalices Edição: Graciela Rodriguez Entre 1 e 3 de Julho de 2011, a AMB, em par- Para assinatura ou cancelamento: erika@equit.org.br ceria com o GT Gênero da REBRIP (Rede Brasileira pela Para ler os boletins anteriores acesse: Integração dos Povos) realizou um Seminário Nacional www.articulacaodemulheres.org.br ou www.equit.org.br com a participação de 22 mulheres de diversas redes e