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6 – ESTABILIDADE GEOTÉCNICA DE BARRAGENS
6.1 – ASSUNTOS ABORDADOS
Os assuntos de estabilidade são tratados nos seguintes itens:
6.2 – estabilidade dos aterros durante a construção;
6.3 – estabilidade pela fundação dos aterros durante a construção
6.4 – estabilidade dos aterros perante rebaixamento rápido
6.5 – estabilidade dos aterros com reservatório cheio
6.6 – subpressões em estruturas de peso de concreto
6.7 – cargas na junção entre aterros e estruturas de concreto
Os aspectos relacionados com tremores de terra não foram incluídos nas presentes
notas. Os terremotos no Brasil são de baixa intensidade. Com exceção da região
Atlântica de alto mar (a centenas de quilômetros da costa) e da região mais próxima
aos Andes (extremidade Oeste da Amazônia) há pouquíssimos registros de sismos
com intensidade maior do 5 na escala Richter (que são os que causam problemas
para as barragens) e nenhum (que seja do conhecimento do autor) com intensidade
maior do que 5,5. Não se tem notícia de nenhum acidente em barragens, mesmo
sem gravidade, causado por sismos em território Brasileiro. A exclusão deste
assunto é provisória, pretendendo-se no futuro incluí-lo nas notas. Em áreas
fortemente sísmicas de outros países, onde os engenheiros Brasileiros muitas vezes
são chamados a atuar, os efeitos sísmicos são, com freqüência, determinantes da
segurança da barragem.
Os deslizamentos de taludes de ombreiras e cortes, durante a construção, e os
deslizamentos dos taludes da periferia reservatório durante a operação não foram
incluídos nas presentes notas por se tratar de assunto enfocado na cadeira de
Taludes.
Os parâmetros de resistência dos aterros e das fundações (seja dos solos naturais,
seja dos planos de fraqueza em rochas) também não são enfocados, por dois
motivos: (a) trata-se de assunto amplo demais, que requereria um curso específico
do mesmo porte do presente; (b) o assunto é enfocado em outras cadeiras do curso
de mestrado da COPPE.
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 2
6.2 – ESTABILIDADE DE ATERROS DURANTE A CONSTRUÇÃO
6.2.1 – Aspectos Conceituais
A instabilidade no interior de um aterro compactado pode se manifestar de duas
maneiras: (a) deslizamento ao longo de uma superfície de ruptura definida; (b)
deformações laterais excessivas promovendo um "estufamento lateral" do maciço
sem que se consiga perceber uma superfície definida de ruptura. Vaughan (1971)
associou cada um destes dois comportamentos ao que se observa em laboratório,
ver figura 6.1. No primeiro caso estão os materiais cuja trajetória de tensões efetivas
sob condições não drenadas atinge a envoltória de ruptura apenas durante um breve
intervalo de deformações e, em seguida, passam a perder resistência e, por
conseqüência, a trajetória de tensões se afasta da envoltória. Estes materiais
costumam apresentar superfície de ruptura bem definida nos ensaios de laboratório.
Ao segundo caso, parte (b) da figura 6.1, pertencem aqueles materiais cujas
trajetórias de tensões efetivas sob condições não drenadas após atingir a envoltória
de resistência permanecem mais ou menos sobre ela por um longo intervalo de
deformações. Estes materiais costumam apresentar ruptura por "embarrigamento"
nos ensaios.
Seja qual for o tipo de comportamento na ruptura, estufamento ou superfícies
definidas, a situação de instabilidade só costuma ser atingida, em aterros
corretamente compactados de barragens, se existirem poropressões positivas
consideráveis no interior do maciço de terra. Se não existirem poropressões
positivas significativas, dificilmente haverá instabilidade durante a construção, pois
os solos utilizados na construção de barragens, quando corretamente compactados,
apresentam resistência superior à necessária para garantir a estabilidade dos
aterros com as inclinações usuais (tipicamente, V:H = 1:2 a 1:3 em aterros
homogêneos, não havendo problema de resistência na fundação). E assim é porque
a compactação visa, principalmente, facilitar o tráfego dos equipamentos e evitar o
colapso perante submersão, sendo a boa resistência do aterro um bem-vindo
subproduto.
Dependendo do coeficiente de adensamento do aterro, da velocidade de alteamento
e da geometria das fronteiras drenantes, os excessos de poropressão gerados
durante a construção podem permanecer, caracterizando uma situação não
drenada, ou se dissipar (equalizar), caracterizando uma situação drenada. Vaughan
(1974) sugeriu que se o fator tempo, definido por T = c . tc / D2
(onde,c = coeficiente
de adensamento, tc = tempo de construção e D = distância de drenagem), for menor
do que 0,05 não haverá quase nenhuma dissipação e, se T for maior do que 2, a
dissipação será praticamente completa. Como os aterros compactados possuem
rigidez relativamente alta (E = módulo de elasticidade = 10 a 80 MPa), seu
coeficiente de adensamento também costuma ser elevado. Assim, só acontece uma
situação nitidamente não drenada quando o aterro é constituído por solo de
permeabilidade muito baixa ou o alteamento é realizado de maneira particularmente
rápida. A figura 6.2 mostra um exemplo de estudo que indica zonas típicas em
função da permeabilidade e da distância D, para o caso em que tc = 1 ano e E = 40
MPa (400 kg/cm2
). Vê-se que nessas condições, para uma distância de drenagem
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 3
(distância até uma fronteira drenante) entre 10 e 30 metros a situação só seria não
drenada em aterros com permeabilidade da ordem de 1x10-7
cm/s ou menos.
Evidentemente, estimativas como essa são aproximações grosseiras da realidade e,
em cada caso, o projetista deverá estudar o assunto com base em suas preferências
e no nível de prudência que julgar cabível, utilizando, se necessário, os poderosos
recursos experimentais e computacionais de que se dispõe atualmente.
A geração de poro-pressão não drenada (nem ao ar nem à água) depende,
basicamente, da relação entre a compressibilidade do fluido (ar e água) dos vazios e
a compressibilidade do arcabouço de grãos do solo. O parâmetro B, para uma
solicitação isotrópica não drenada, é dado teoricamente (Skempton, 1954) por:
B = dU / dσ1 = 1 / [ 1 + (n.Cvz / Cas)
onde, n = porosidade
C = compressibilidade, definida como a relação entre a variação
específica de volume e a variação de tensão
Cvz = compressibilidade do fluido dos vazios
Cas = compressibilidade do arcabouço de grãos, ou seja, do solo
com a mesma densidade caso estivesse seco
Se o fluido dos vazios é muito mais compressível do que o arcabouço de grãos (Cvz
>> Cas) o valor de B tende para zero (caso do solo seco). Se, em vez, Cvz << Cas,
o valor de B aproxima-se de 1 (caso do solo saturado).
Quando a quantidade de ar nos vazios é alta e sua pressão é baixa, a
compressibilidade do fluido é alta e a maior parte da carga vai para o arcabouço de
grãos, de maneira que B é baixo. À medida que o ar vai sendo comprimido, sua
compressibilidade vai diminuindo até que a compressibilidade do fluido dos vazios
torna-se menor do que a do arcabouço de grãos. Nesse processo, o valor de B vai
crescendo e tende a 1. Mas, para que o ar dos vazios seja comprimido é preciso que
ele não possa escapar. Enquanto o material do aterro está no estado ABERTO, isto
é, com os vazios de ar contínuos e em contato com a atmosfera, o ar pode escapar
porque a permeabilidade ao ar é elevada (cerca de 104
a 105
vezes maior do que a
permeabilidade à água). Assim, a pressão no ar praticamente não aumenta,
permanecendo próxima à atmosférica. Esta situação se mantém até que a
compressão do arcabouço de grãos induza à OCLUSÃO. No estado OCLUSO os
vazios de ar não são contínuos, passando a prevalecer a permeabilidade do solo à
água de maneira que (tratando-se de situação não drenada à água) o ar não pode
mais escapar.
No processo de geração de poro pressões em um solo compactado submetido a
carregamento não drenado à água, devem ser distinguidas duas etapas: antes da
oclusão e a partir da oclusão. Na primeira etapa, evidentemente, quanto mais rígido
for o material maior será a sobrecarga necessária para levar o solo ao estado
ocluso. Uma vez atingida a oclusão, quanto maior a rigidez menor a parcela de
carga transferida para os fluidos dos poros, pois o arcabouço de grãos (rígido)
absorve uma parte considerável da mesma.
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 4
Assim, o desenvolvimento de poropressões positivas depende das condições iniciais
do fluido dos vazios (que podem ser expressas pelo grau de aeração, Var/V), da
rigidez do solo que compõe o aterro (que pode ser expressa por seu módulo de
elasticidade, E) e do momento em que o ar dos vazios se torna ocluso.
A oclusão ocorre entre o ponto ótimo da curva de compactação e o ponto que
corresponde ao valor mínimo do grau de aeração como indicado pela “região A” na
figura 6.3. Gilbert (1959) verificou que “os vazios de ar em um solo coesivo
compactado deixam de ser conectados por volta da umidade ótima”. Lins & Sandroni
(1994) apresentam evidências, obtidas por Lins (1991), através de um conjunto de
ensaios triaxiais especiais em amostras compactadas estaticamente, de que as
poropressões na água se tornam positivas para um grau de aeração praticamente
constante, independente do grau de aeração original das amostras. Este grau de
aeração foi, nos ensaios de Lins, um pouco mais baixo do que o grau de aeração
correspondente ao ponto ótimo da curva de compactação (ou seja, do “lado úmido”)
obtida com ensaios Proctor Normal. O solo ensaiado por Lins foi uma argila silto-
arenosa residual, com LL = 78%, LP = 32% e, fração argila = 62%, 4% de silte e
34% de grãos tamanho areia.
Quatro formas típicas da curva poro-pressão versus sobrecarga (γh, onde γ é o peso
específico do aterro e h é a altura de aterro acima do ponto) estão mostradas na
figura 6.4. Os casos A e B representam um solo compactado no estado ocluso e
com compressibilidade alta e baixa respectivamente. Nos casos C e D estão
representados solos inicialmente no estado aberto e com compressibilidade alta e
baixa, respectivamente. Como se vê, o espectro de respostas de poropressões é
muito amplo.
6.2.2 – Pressão negativa na água dos vazios - Sucção
Por causa da tensão superficial na interface entre o ar e a água, que coexistem nos
vazios de um solo parcialmente saturado, a pressão no ar é maior do que a pressão
na água. A diferença entre a pressão no ar e a pressão na água (Uar-Uw) é
denominada “sucção”. Logo após a compactação, a pressão no ar é (em termos
práticos) igual à zero (ou seja, é igual à atmosférica, posto que, por convenção na
engenharia civil, toda e qualquer pressão é considerada como excesso em relação à
atmosférica) e a pressão na água é, portanto, negativa.
A seguir são brevemente abordados alguns dos aspectos mais relevantes relativos à
sucção:
• A sucção é, na verdade, uma complexa função da geometria dos vazios e de
forças elétricas que existem junto à superfície dos grãos do solo. Existem
diversas técnicas de ensaio para medir a sucção em solos. Uma síntese
atualizada sobre o assunto pode ser encontrada em Cruz (1996, Capítulo 5).
• A sucção nos solos compactados nas vizinhanças da condição ótima varia,
dependendo do tipo de solo, entre praticamente zero e valores acima de 300
kPa. A figura 6.5.a mostra valores de sucção em função do desvio de umidade
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 5
(w-wot) medidos em solos compactados de diversos tipos e procedências. Vê-se
que a sucção varia amplamente em um certo solo com o desvio de umidade e,
de um solo para o outro no mesmo desvio de umidade;
• Há muitas evidências experimentais mostrando que a sucção em um certo solo
varia muito com a técnica de moldagem da amostra. Lambe (1961) observou
diferenças da ordem de 50 kPa na sucção em amostras com umidade e peso
específico iguais, compactadas por diferentes procedimentos. Ou seja, não há
porque esperar que a sucção em amostras de laboratório seja representativa da
que ocorre nos aterros;
• Utilizando um procedimento padronizado de compactação no laboratório, Cruz e
Ferreira (1993), mediram a sucção em diversos solos com graus de
compactação entre 95% e 100%. Os valores de sucção obtidos por esses
autores estão lançados contra o grau de aeração e a % de grãos argila nas
figuras 6.5.b e 6.5.c. Vê-se que o valor da sucção é função principalmente do
tamanho dos vazios do solo (correlaciona-se bem com a % de grãos argila,
figura 6.5.c) e que não se correlaciona com a quantidade de ar nos vazios do
solo (ou seja, não se correlaciona com Var/V, figura 6.5.b). Outra evidência de
que a sucção depende (até certo ponto) da granulometria e não correlaciona
bem com o volume de ar nos vazios são os dados obtidos por Lins (1991) que
ensaiou uma argila siltosa de região gnáissica e observou que a sucção (por
volta de 100 kPa) variava muito pouco para umidades variando entre –2% e +3%
da ótima. Note-se que, devido à influência da técnica de moldagem e das
características micro-estruturais dos solos, não é de se esperar que exista uma
relação simples (muito menos, com dispersão pequena) entre granulometria e
sucção. Os pontos com símbolos preenchidos lançados na figura 6.5.c, que
fogem totalmente da relação de Cruz & Ferreira (1993), ilustram este aspecto.
6.2.3 – Metodologias de Análise
Uma vez decidido que os excessos de poropressão não sofrerão dissipação
apreciável (ou seja, que a situação será não drenada), é preciso verificar a
segurança através de análises de estabilidade. São utilizadas diversas metodologias
diferentes que estão explicadas e comentadas a seguir:
1. Com tensões totais (ver, por exemplo, Lowe, 1967) – Realizam-se ensaios
triaxiais adensados não drenados (CU) convencionais (ruptura por carregamento
axial) em amostras compactadas nas condições previstas para colocação no
aterro. Utilizam-se análises de estabilidade em termos de tensões totais, com os
parâmetros de resistência obtidos nesses ensaios. Esta metodologia admite,
implicitamente, que as poropressões que existirão nas amostras durante os
ensaios são representativas daquelas que ocorrerão no campo;
2. Considerando a compressão do ar nos vazios – Esta metodologia, proposta
por Hilf (1948) a partir de estudos de Brahtz, Zangar & Bruggeman (1939),
consiste em aplicar as leis de Boyle (compressão dos gases) e de Henry
(solubilidade dos gases), considerando que não ocorre qualquer drenagem ou
dissipação. A variação da pressão do ar dos poros, dU, é dada pela expressão:
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 6
dU = (Pari . dV/Vo) / (Viar/Vo + h . Vw/Vo – dV/Vo)
onde,
Pari = pressão no ar dos vazios logo após a compactação
(praticamente igual à atmosférica e, para efeitos práticos, suposta igual
à atmosférica = 100 kPa);
dV = variação de volume;
Vo = volume total inicial;
Viar = volume de ar nos vazios logo após a compactação. A relação
Var/Vo, dita “grau de aeração” é dada, em termos das propriedades
índice usuais, por n(1-S), onde n é a porosidade e S é o grau de
saturação;
h = constante de Henry = 0,02 (desprezando a variação de
temperatura);
Vw = volume de água nos vazios (constante por força da hipótese de
drenagem nula). A relação Vw/Vo, que poderia ser chamada de “grau
de umidade” é dada, em termos das propriedades índice usuais, por
nS, onde n é a porosidade e S é o grau de saturação;
Hilf (1948) dá exemplos de diversas barragens em que poropressões foram
medidas. Essas medições foram realizadas com piezômetros dotados de pedras
porosas grossas e, portanto, o grosso do que se media eram as pressões no ar
dos vazios. As medições mostraram, segundo o autor, boa concordância com os
valores calculados pela fórmula acima. Nos casos estudados, a
compressibilidade (dV/Vo) foi obtida de observações de recalques no campo nas
proximidades dos piezômetros, mas Hilf sugere que resultados de ensaios de
adensamento podem ser utilizados.
A teoria de Hilf pode ser verificada aplicando-a a ensaios. Um exercício desses
foi realizado utilizando os ensaios PH (triaxiais isotrópicos) e PC (compressão
unidimensional) de Casagrande & Hirschfeld (1960), que apresentam as curvas
individuais de tensão axial-deformação (volumétrica nos ensaios PH e axial nos
ensaios unidimensionais) e de tensão axial-poropressão dos ensaios. Os valores
médios da relação entre a poropressão obtida pela fórmula de Hilf (U est Hilf) e a
poropressão medida nos ensaios (Umed) situaram-se entre 20% e 73%, como
apresentado na tabela 1. Em todos os ensaios examinados (4 PHs e 4 PCs) as
curvas [tensão]x[poropressão estimada pela fórmula de Hilf] situam-se abaixo
das curvas [tensão]x[poropressão medida]. Portanto, para o conjunto de ensaios
em foco, a fórmula de Hilf subestima as poropressões.
Uma vez dispondo dos valores de poro pressão estimadas, realizam-se análises
de estabilidade utilizando parâmetros efetivos de resistência. Os parâmetros
efetivos são, em geral, obtidos através de ensaios CDsat (triaxiais adensados
drenados saturados) ou Cusat (triaxiais adensados não drenados saturados) com
medição de pressão neutra, em amostras compactadas em laboratório. A
saturação das amostras para os ensaios é feita utilizando contrapressões (ver,
por exemplo, Lowe & Jonhson, 1960).
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 7
3. Com parâmetros de poropressão – Skempton (1954) e Bishop (1954) definiram
parâmetros de poro pressão A e B, para uma solicitação não drenada, dados
pela expressão:
dU = B [dσ3 + A (dσ1 - dσ3)]
onde,
dU = variação da poro pressão
dσ3 = variação da tensão total principal menor
dσ1 = variação da tensão total principal maior
A aplicação desta metodologia requer a realização (em amostras
representativas) de ensaios triaxiais não drenados com medição de poro
pressões nos quais são aplicadas solicitações tão parecidas com as do campo
quanto possível. Os parâmetros A e B são obtidos aplicando a fórmula acima
aos resultados desses ensaios. Um procedimento nessa linha, utilizado em
diversas barragens brasileiras (Cruz & Massad, 1966), consiste em realizar
ensaios triaxiais não drenados, com medição de poro pressão, com relação
constante entre as tensões principais (K = dσ3 / dσ1 = constante = 0,5 a 0,7),
denominados ensaios PN (Casagrande e Hirschfeld, 1960). Desses ensaios são
obtidos valores de B = dU / dσ1 (Bishop, 1954). As análises de estabilidade são
realizadas utilizando os parâmetros efetivos de resistência e obtendo as
poropressões através de B, considerando que dσ1 = dγh. A hipótese de que a
tensão principal maior é igual ao peso acima do ponto, se apresenta razoável na
maioria dos casos (Costa Filho et al, 1982).
Considerando os conceitos expostos acima quanto aos estados aberto e ocluso,
os ensaios visando estudar a estabilidade durante a construção deveriam, em
princípio, ser livres para drenar o ar para a atmosfera até que a oclusão
ocorresse espontaneamente na amostra. Os ensaios PN usualmente utilizados
não são abertos para a atmosfera: a amostra fica oclusa (dentro da membrana
de borracha) desde o início do ensaio, de maneira que existe uma tendência à
geração prematura de poropressões positivas. Este procedimento “fechado”,
utilizado nos ensaios PN usuais, embora conservador costuma ser aceitável,
porque a maioria dos aterros de grandes barragens no Brasil é compactado do
lado seco da ótima e, por conseqüência, as poropressões durante a construção
são muito baixas. Mas é importante ressaltar que o procedimento “fechado”
constitui-se em procedimento de limite superior que leva às maiores
poropressões. Para se ter resultados de limite inferior (menores poro pressões)
os ensaios precisam ser do tipo PNA (PN abertos) como sugerido por Sandroni
& Silva (1989). Nesses ensaios há uma tubulação ligando os vazios da amostra
à atmosfera, a qual só é fechada quando se observa o início do fluxo de água
para fora da amostra (pressões positivas na água dos vazios). As figuras 6.6.a e
6.6.b mostram exemplos numéricos de valores de B em ensaios PN e PNA
hipotéticos imaginando amostras com grau de compactação 99% e umidade
0,5% abaixo da ótima. As curvas de poropressão após a oclusão foram
calculadas usando a fórmula de Hilf (acima apresentada), supondo que a
oclusão ocorre no ponto ótimo da curva de compactação e representando o solo
como linear elástico com E = 100 kg/cm2
(10 MPa) e 400 kg/cm2
(40 MPa).
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 8
Como se vê na figura 6.6.b, para aterro com E = 400 kg/cm2
, a poropressões
são pequenas (B < 10%) praticamente para qualquer altura de aterro. Já na
figura 6.6.a, onde E = 100 kg/cm2
(um aterro compactado de compressibilidade
elevada), as poropressões se apresentam elevadas a partir dos 30 a 40 m de
altura de aterro. A figura 6.6.c mostra resultados de ensaios PN e PNA em
amostras do mesmo solo compactado em condição igual (Sandroni & Silva,
1989), podendo-se observar a confirmação experimental do que foi exposto
acima. No caso geral de campo, em que a drenagem do ar no estado aberto não
é perfeita, as poro pressões deverão ficar entre os dois limites representados
pelas curvas do ensaio PN e do ensaio PNA.
Os conceitos acima expostos serviram como base para o desenvolvimento da
metodologia descrita a seguir.
4. Considerando o solo como linear e aplicando os conceitos de estado aberto
e ocluso. Sandroni (1985) sugeriu uma metodologia, para estimar as
poropressões construtivas, baseada nas seguintes hipóteses:
• A relação tensão efetiva-deformação do solo é linear. Em particular, para o
caso isotrópico, tem-se D = [variação da tensão isotrópica efetiva] /
[deformação volumétrica];
• A oclusão ocorre no grau de aeração (Var/V = n.(1-S)) do ponto ótimo da
curva de compactação Proctor Normal;
• Não há variação de umidade, ou seja, o carregamento é não drenado para
a água;
• Antes da oclusão a pressão no ar permanece atmosférica e toda a
variação de volume se deve ao ar que escapa para fora do solo;
• Após a oclusão, toda a variação de volume se deve à compressão do ar
nos vazios, aplicando-se a lei de Boyle. Ou seja, despreza-se a solução do
ar na água dos vazios.
A aplicação dessas hipóteses na prática é simples. A seguir estão os passos que
devem ser seguidos:
A. Obter D = δσ`o/(δV/V) em ensaios triaxiais drenados isotrópicos sobre
amostras saturadas (por contrapressão) ou em ensaios triaxiais não
drenados isotrópicos com medição de poropressão e de variação
volumétrica. Se os ensaios forem triaxiais tipo PN com um certo valor de
K, considerar σ`o = σ`1 ((1+2K)/3). No caso de utilizar ensaios
unidimensionais (adensamento) considerar K = 0,50;
B. Obter o grau de aeração de oclusão, (Var/V)ocl, que é igual ao grau de
aeração no ponto ótimo da curva de compactação Proctor Normal. Com os
valores do peso específico seco máximo (γdmax), da umidade ótima (wot) e
da densidade dos grãos (G), o grau de aeração pode ser obtido com as
bem conhecidas fórmulas:
eot = (G/γdmax) γágua – 1
not = e/(1+e) e, (Var/V)ocl = not (1-Sot)
Sot = G.wot/e
C. Obter o grau de aeração inicial, que existirá no campo logo após a
compactação, (Var/V)c, com as fórmulas de B, para os valores de peso
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 9
específico seco e umidade especificados para o aterro. As especificações,
em geral, estabelecem grau de compactação (GC= γdc/γdmax) e desvio de
umidade (dw = wc-wot) a partir dos quais podem ser fixados um ou mais
pares de γdc e wc para cálculo do valor do grau de aeração inicial. Para
cada par de γdc e wc selecionado será feito um estudo separado. Se os
estudos indicarem poropressões inaceitavelmente altas, poder-se-á até
mudar as especificações;
D. Comparar o grau de aeração inicial com o grau de aeração na oclusão,
para fixar em qual dos dois casos seguintes a situação se insere:
CASO 1 - (Var/V)c maior do que (Var/V)ocl
CASO 2 - (Var/V)c igual ou menor que (Var/V)ocl
E. No CASO 1, as poropressões são calculadas da seguinte maneira:
• Poropressão nula até à oclusão que ocorrerá na seguinte tensão:
σ`ocl = D . [(Var/V)c - (Var/V)ocl]
• Poropressão após a oclusão dada pela fórmula (Sandroni, 1985);
δU=[(δσ`o+Patm-M+(δσ`o+Patm-M)2
+4Mpatm)1/2
]/2-Patm
onde:
δU=variação da poropressão
δσ`o=variação da pressão total, definida como em A
Patm = pressão atmosférica (1 kg/cm2
ou 100 kPa)
M = D x (Var/V)ocl
Neste caso a curva tensão x poropressão terá a forma das curvas C e
D da figura 6.4.
F. No CASO 2, considerar σ`ocl = zero e calcular δU com a fórmula de E
acima, utilizando M = D x (Var/V)c, ou seja, com o grau de aeração inicial
previsto para o campo.
Neste caso a curva tensão x poropressão terá a forma das curvas A e B
da figura 6.4.
Esta metodologia, tal como a de Hilf, pode ser verificada aplicando-a a ensaios. A
verificação foi feita por aplicação aos mesmos ensaios PH e PC de Casagrande
& Hirschfeld (1960) utilizados acima para testar a metodologia de Hilf. Os valores
médios da relação entre a poropressão obtida pela aplicação da metodologia
(notar que todos os ensaios, por não serem conectados ao ar, caem no CASO 2)
e a poropressão medida nos ensaios (Umed) situaram-se entre 41% e 106%,
como apresentado na tabela 1. Nos oito ensaios examinados, as curvas
[tensão]x[poropressão estimada] situaram-se um pouco abaixo ou praticamente
em coincidência com as curvas [tensão]x[poropressão medida]. Portanto, para o
conjunto de ensaios em foco, a metodologia em foco conseguiu uma estimativa
razoável das poropressões.
Sandroni (1985) apresenta alguns casos de campo nos quais esta metodologia
resultou em estimativas razoáveis por comparação com poropressões medidas
em aterros.
A vantagem desta metodologia sobre as demais é permitir que verifique,
numericamente, os efeitos de diferentes graus de compactação e desvios de
umidade, sobre a estabilidade do aterro na fase construtiva.
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 10
Evidentemente, em casos que disponham do tempo e dos recursos, podem ser
realizados ensaios tipo PNA, como sugerido por Sandroni & Barbosa, 1988).
NOTA: depois de publicado o trabalho, Sandroni & Barbosa tomaram
conhecimento dos trabalhos de Pacheco Silva, da década de 60, nos quais os
conceitos de estado aberto e ocluso, bem como os ensaios drenados ao ar,
foram estabelecidos.
6.2.4 – Casos históricos
Existem registrados, no Brasil, dois casos de deslizamento de maciços de terra
durante a construção: os de Cocorobó e Açú. Em ambos os casos a ruptura se deu
segundo superfície de ruptura bem definida e os maciços eram compostos por solos
argilosos de plasticidade alta e compressibilidade relativamente elevada, oriundos
de jazidas aluvionares nas quais as argilas se encontravam praticamente saturadas
(ou seja, em condição oclusa).
Sobre o acidente de Cocorobó encontra-se alguma informação em Mello (1976). A
barragem de terra homogênea, com 35 m de altura, sofreu um deslizamento em final
de construção, no talude de montante. A seção da barragem, com a posição da
superfície de ruptura, está mostrada na figura 6.7.a. O talude médio era por volta de
1:3,3 (V:H). O solo utilizado possuía hot = 20 a 22%, γdmax = 1,62 a 1,68 t/m3
, LL =
57% e LP = 19% e sua compactação teria sido controlada ao redor de 1% abaixo da
ótima. Para corrigir o acidente, uma parte do aterro foi removida com trator formando
uma ”ensecadeira” de emergência a montante (que veio a funcionar também como
berma) e a seção foi reconstruída com talude mais suave do que o original, como
indicado na figura 6.7.b.
Para o caso de Açú, rompida em 15 de dezembro de 1981, foram desenvolvidos,
depois da ruptura, diversos estudos visando apurar as causas e definir o projeto de
reconstrução (Nunes & Mello, 1982; Sandroni, 1985 e 1986). A seguir são
comentados alguns aspectos desse deslizamento:
• A ruptura do maciço principal ocorreu em uma largura de 700 m, com altura de
35 m, com talude médio de 1:3,7 (V:H) e envolveu um volume da ordem de 2
milhões de m3
. A geometria típica dessa ruptura está mostrada na parte superior
da figura 6.8, observando-se que ocorreu um movimento rotacional na parte
superior e deslocamentos translacionais na parte inferior. A superfície de ruptura
(cuja posição exata foi verificada em poços escavados em diversos pontos da
massa rompida) desenvolveu-se em sua quase totalidade no material 2, uma
argila siltosa de cor cinza escura esverdeada com LL = 55% (40 a 70%) e IP =
32% (20 a 42%). Só na região do pé o movimento envolveu o material 1,
cascalho argiloso, o qual, no trecho em que passou a superfície de ruptura,
havia sido lançado em água. O grosso dos movimentos levou cerca de 30
minutos, findos os quais tinha ocorrido um deslocamento translacional horizontal
da ordem de 25 m na parte inferior tendo-se observado, conforme relato de
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 11
testemunhas, os eventos resumidos na parte central da figura 6.8;
• Antes da ruptura do maciço principal, ocorreram duas rupturas rotacionais
(contíguas e praticamente simultâneas), com 150 m de largura cada, na
ensecadeira incorporada cuja altura era de 14 m e cujo talude era 1:1,5 (V:H).
Esta geometria está mostrada no detalhe da parte superior da figura 6.8. A retro-
análise dessas rupturas, considerando coeficiente de segurança igual a 1 e φ =
0, resulta em Cu = 49 kPa. Aplicando esse valor de Cu à ruptura maior obtém-se
coeficiente de segurança praticamente igual a 1. Qualquer outro par de
parâmetros de resistência obtido por retroanálise da ensecadeira, considerando
φ diferente de zero, se aplicado à ruptura maior, resulta em coeficiente de
segurança superior à unidade;
• O material argiloso, um aluvião obtido na planície de enchente do rio, possuía,
na jazida, elevado grau de saturação e densidade seca semelhante à de Proctor
Normal. Essas características de densidade e saturação não foram
significativamente modificadas durante as operações de carregamento,
transporte, lançamento, espalhamento e “compactação” (com rolo pé de
carneiro), de maneira que o solo não foi compactado e sim apenas retrabalhado
quando colocado no aterro. Os exames posteriores indicaram a existência,
freqüente e disseminada, de laminações na argila. O material argiloso do aterro
exibia grau de saturação entre 92% e 95%, porcentagem de compactação entre
96% e 104% e desvio de umidade entre -2% e +1% (em relação ao Proctor
Normal);
• As especificações construtivas iniciais exigiam desvios de umidade entre -1,5%
e +1,5% e grau de compactação médio maior do que 98%. A partir de março de
1981, após a ruptura das ensecadeiras e já com toda a argila abaixo da
elevação 38 m colocada, o limite superior de desvio de umidade foi reduzido
para +0,5%;
• As especificações de projeto recomendaram, ainda, compactar as primeiras três
camadas de argila, junto à fundação, com desvio de umidade entre +2% e +4%,
facultando a criação de uma superfície preferencial de fraqueza. As observações
diretas em poços mostraram, contudo, que a superfície de ruptura passou 2 a 3
metros acima desta região. É provável que o trecho de maior umidade tenha
drenado para a areia sotoposta, propiciando que a parte horizontal da superfície
de ruptura se desenvolvesse mais acima, na elevação onde a poropressão foi
máxima;
• As análises da ruptura com tensões efetivas apontaram dois mecanismos
igualmente passíveis de terem ocorrido, não sendo possível definir qual
prevaleceu (ou se ambos ocorreram simultaneamente em diferentes trechos da
superfície de ruptura), a saber: (a) parâmetros efetivos de resistência de pico (φ’
= 19o
e c’ = 10 a 35 kPa) e poropressões elevadas (B = 0,4 a 0,5); (b) resistência
efetiva reduzida por ruptura progressiva e poropressões baixas ou nulas
(ensaios tipo cisalhamento anular resultaram em envoltória residual dada por φ’
= 8o
e c’ = 0);
• A barragem foi reconstruída removendo-se a parte central da massa deslizada e
substituindo-a por cascalho argiloso, como mostrado na parte inferior da figura
6.8.
Um caso de plastificação generalizada com "estufamento lateral" é o da barragem de
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 12
Otter Brook, mostrado na figura 6.9 (Linell & Shea, 1960). O estado de ruptura é
nitidamente demonstrado pelos deslocamentos do pilar de ponte, situado no talude
de montante. O acompanhamento piezométrico evidenciou poropressões elevadas,
destacando-se os valores de B da ordem de 40 a 60 % e os níveis piezométricos
muito acima do nível do aterro. Outros dois casos, das barragens de Truscott e
Skiatook, são apresentados por Walker & Duncan (1984).
Um outro tipo de maciço terroso que sofreu diversos acidentes dispendiosos durante
a construção foram os aterros hidráulicos. Esta técnica, muito em voga na primeira
metade do século, inclusive no Brasil, seria hoje em dia econômica em diversas
situações. Ela segue sendo utilizada no Leste Europeu. Nas Américas porém, devido
a acidentes como o de Alexander, Fort Peck, Necaxa e outros, os aterros hidráulicos
foram abandonados. Os acidentes ocorreram por instabilidade dos espaldares de
material grosseiro sob os empuxos do material mais fino em estado semilíquido da
zona central. Hoje se dispõe de conhecimentos sobre os fenômenos envolvidos
(resistência ao cisalhamento, empuxos, liquefação, adensamento, etc.) suficientes
para tornar anacrônicas as incertezas de há décadas.
6.3 – ESTABILIDADE PELA FUNDAÇÃO DO MACIÇO DURANTE A
CONSTRUÇÃO
A ampla maioria dos acidentes por deslizamento durante a construção ocorre em
locais com fundações compostas por materiais de baixa resistência, contendo
camadas ou superfícies de fraqueza. O caso de Carsington na Inglaterra, figura 6.10,
foi explicado por Skempton et al (1985) como devido à existência, na camada de
argila amarela superficial da fundação, de paleosuperfícies de ruptura cuja
resistência fora reduzida ao valor residual. O deslizamento construtivo da barragem
de Waco, figura 6.11, deveu-se à existência de um folhelho de baixa resistência
(Pepper), em um trecho da fundação.
No Brasil não se conhece registro de instabilidade de barragem de terra grande pela
fundação durante a construção. Existe reportado um caso de tendência à
instabilidade por cisalhamento pela fundação na barragem Água Vermelha (Silveira
et. al., 1978), onde deslocamentos concentrados em planos de fraqueza na
fundação basáltica, detectados por inclinômetros, levaram à antecipação da
execução e ao re-dimensionamento de bermas anteriormente previstas. O reforço foi
adotado como medida preventiva e antes que se caracterizasse uma situação de
instabilidade franca.
O apoio de barragens e aterros de menor porte em depósitos argilosos moles é
responsável por diversas rupturas reportadas na literatura. A concepção de aterros
sobre solos moles envolve técnicas específicas que não são abordadas no presente
texto.
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 13
6.4 – ESTABILIDADE DE ATERROS PERANTE REBAIXAMENTO RÁPIDO
6.4.1 – Aspectos conceituais
Os deslizamentos de montante perante rebaixamento, embora graves, em geral, não
colocam a barragem sob risco de desastre imediato, pois o nível d'água fica abaixo
da crista da massa afetada. Sherard (1953) estudou 12 casos com ruptura deste tipo
e concluiu que os acidentes ocorreram durante variações do lago entre o nível
máximo e a meia altura da barragem, com velocidades entre 9 e 15 cm/dia e que se
constituíram nos rebaixamentos mais rápidos ou de maior amplitude que já haviam
ocorrido na obra. Sherard menciona que tais escorregamentos costumam ser
profundos e estar associados a fundações de baixa resistência e, que a ocorrência
de rupturas superficiais é bem menos freqüente.
No Brasil ocorreu justamente um caso de deslizamento superficial, o da barragem de
Banabuiú, na qual a capa superficial de rip-rap deslizou em um trecho no qual a
compactação do solo sob o rip-rap, próximo à face externa do maciço, foi deficiente.
Convém notar que, embora não se constituindo em ameaça imediata de desastre, os
escorregamentos de montante costumam implicar em despesas consideráveis, em
atrasos e em inconveniências graves para a operação da obra.
A estabilidade do talude de montante perante rebaixamento depende das
poropressões que existirão no maciço argiloso após o rebaixamento. A estimativa
dessas poropressões pode, em princípio, ser feita a partir dos valores de
poropressão existentes antes do rebaixamento (obtidos da rede de fluxo em regime
permanente, como mostrado na figura 6.12, equação [1]) somando-se
algebricamente a variação de poropressão, ∆U, induzida pelo rebaixamento (figura
6.12, equação [2]).
A situação de fluxo permanente pode levar muito tempo para se instalar em aterros
constituídos por solos finos. Considerações teóricas simples utilizando a lei de
d`Arcy (Vaughan, 1974) podem ser utilizadas para mostrar que o regime de
percolação permanente pode levar vários séculos para se desenvolver em um aterro
argiloso compactado. Mesmo em solo siltoso, podem ser necessárias várias
décadas.
O valor de ∆U que ocorre por causa do rebaixamento rápido depende de diversos
fatores, a saber:
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 14
1. da variação não drenada de U causada pelas variações das tensões totais
induzidas pelo rebaixamento. A variação de tensões totais perante
rebaixamento compreende uma diminuição da tensão principal maior e uma
diminuição maior da tensão principal menor, de modo que a tensão cisalhante
aumenta. Além de se estimar as variações de tensões totais, tem-se que
dispor de parâmetros de poropressão (tipo A e B de Skempton (1954), por
exemplo) relacionando-as com as variações de poropressão para o tipo de
solicitação em pauta;
2. da drenagem durante o rebaixamento, que é governada pela relação entre a
velocidade de rebaixamento do lago (VRR) e a permeabilidade do maciço (k).
Os trabalhos de Reinius (1948 e 1954) mostram que a questão é
adequadamente representada pelo parâmetro adimensional k/(n.VRR), onde n
é a porosidade do maciço. Valores deste parâmetro inferiores 2,5 indicam
uma situação “não drenada”, isto é, na qual o nível de água do maciço
permanece muito acima do nível de água rebaixado do lago. Já valores de
k/(n.VRR) maiores do que 25 correspondem às situações “drenadas”, ou seja,
aquelas nas quais o nível de água do maciço desce praticamente junto com o
do lago. A figura 6.13 mostra uma relação aproximada entre a velocidade de
rebaixamento e a permeabilidade, indicando as zonas drenadas e não
drenadas, segundo os critérios acima. Para as situações intermediárias,
Casagrande (ver Sherard et al, 1963, pgs. 375 e 376) desenvolveu uma
metodologia aproximada que permite determinar a posição do nível de água
no maciço em qualquer tempo “t” após rebaixamento total e instantâneo. É de
se ressaltar a natureza muito aproximada das considerações teóricas acima
apresentadas;
3. do estado em que o solo se encontrava antes do rebaixamento, o qual pode
ser ocluso ou saturado. O simples estabelecimento da rede de percolação
garante que o solo estará no estado ocluso. Nos maciços de maior
permeabilidade (arenosos) o fluxo pode “lavar” o ar dos vazios porque a
capilaridade é baixa. Sherard et al (1963, pg 246) sugerem que em maciços
com permeabilidade maior do que 1x10-4
cm/s (100 ft/year), o fluxo,
provavelmente, lavará todo o ar dos vazios e o solo ficará saturado. Nos
maciços de menor permeabilidade (argilosos) a capilaridade impedirá que
o fluxo leve o ar dos vazios e a saturação só será atingida se o solo tiver sido
pressurizado até níveis que dissolvam o ar dos vazios. Sabe-se, da prática
em laboratório (ver, por exemplo, Lowe & Johnson, 1960), que são
necessárias pressões elevadas na água dos poros para saturar os vazios de
um solo argiloso (digamos, 2 kg/cm2
, para um solo do lado úmido da ótima, a
6 a 8 kg/cm2
, para um solo do lado seco). Assim, no interior da porção de
montante de um aterro argiloso durante a operação, haverá, no caso geral,
pontos saturados (os submetidos às poropressões mais elevadas) e pontos
oclusos (parcialmente saturados) como indicado esquematicamente na parte
superior da figura 6.14;
4. da dissipação ou equalização das pressões neutras durante o rebaixamento
no caso dos maciços em que prevalece uma condição “não drenada”. Este
fator não costuma ser de grande importância porque, se a taxa de
rebaixamento é rápida o suficiente para que a situação seja não drenada, ela
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 15
será rápida também em comparação com o coeficiente de adensamento
aplicável ao caso.
Visando investigar os valores de ∆U em laboratório, Cruz (1973, 1996) realizou uma
série de ensaios especiais em amostras de quatro diferentes locais, compactadas
por pisoteamento próximo às condições ótimas de Proctor Normal. Os ensaios,
realizados em células triaxiais que podiam controlar as tensões principais e a
pressão neutra (por contrapressão), procuravam simular toda a história de tensões
de elementos de solo situados no corpo de uma barragem para as situações de
construção, de percolação com reservatório cheio e de rebaixamento. Tal como
Lowe & Karafiath (1959) e Lowe (1967), Cruz escolheu cinco pontos situados na
base de lamelas de uma hipotética análise de estabilidade e obteve as tensões
principais nesses pontos através de hipóteses simplificadoras razoáveis. As
poropressões construtivas foram calculadas considerando B = 0,12 e as
poropressões de regime permanente de fluxo e de fluxo perante rebaixamento foram
obtidas de redes de fluxo. Quanto à fase de ruptura dos ensaios, Cruz optou por três
procedimentos: A – pressão neutra no início da fase de ruptura igual à da rede de
rebaixamento e ruptura provocada pela redução da tensão confinante, registrando-
se as pressões neutras; B – pressão neutra no início da fase de ruptura estabelecida
livremente no estágio anterior do ensaio (correspondente ao lago com nível máximo)
e ruptura provocada pela redução da pressão na câmara registrando-se as pressões
neutras; C – pressão neutra durante a fase de ruptura mantida igual à da rede de
fluxo de rebaixamento e ruptura provocada pela redução da pressão confinante. As
principais conclusões desse estudo experimental foram as seguintes: (a) a envoltória
efetiva para o caso de rebaixamento rápido se apresentou um pouco mais alta do
que a envoltória convencional (obtida em ensaios triaxiais CD ou CU com medição
de poropressões, com compressão axial e velocidade controlada). Os resultados
sugerem c` algo como 5 a 20 kPa mais alto e φ` algo como 1 a 2 graus mais alto; (b)
excluindo o procedimento de ruptura C (que impõe a poropressão), os excessos de
poropressão observados nos ensaios foram menores (entre 60% e 80%) do que os
da rede de rebaixamento.
6.4.2 – Metodologias de análise
A determinação do valor de ∆U é, como visto acima, complexa e sujeita a grande
incertezas. Por esta razão (principalmente), alguns projetistas de barragens de terra
preferem evitar métodos que exijam a estimativa da poropressão. Resulta que as
análises de estabilidade para o caso de rebaixamento rápido são enfocadas de três
maneiras, quais sejam: (a) metodologias que utilizam envoltórias de resistência
obtidas diretamente de ensaios; (b) metodologias que utilizam envoltória de tensões
efetivas e valores de poropressões obtidos de ensaios triaxiais não drenados e, (c)
metodologias que fazem análises de estabilidade com a envoltória efetiva e com
valores estimados de poropressões. Cada um desses partidos é examinado
separadamente a seguir.
Lowe & Karafiath (1959) e Lowe (1967) apresentam metodologia segundo a qual a
envoltória deve ser obtida, em termos de tensões totais, com ensaios triaxiais
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 16
adensados não drenados, cujas tensões da etapa de adensamento são estimadas
para a situação de reservatório cheio e regime permanente de percolação instalado.
Essa estimativa de tensões é feita, para algumas das lamelas, por equilíbrio limite,
considerando os parâmetros efetivos de resistência e as poropressões de
percolação. O adensamento das amostras pode ser anisotrópico e a trajetória de
tensões deve ser compatível com o que ocorre durante o rebaixamento no ponto em
foco. Obtida a envoltória, realiza-se a análise de estabilidade (em termos de tensões
totais) considerando o nível rebaixado do lago.
Johnson (1975) apresenta uma metodologia utilizada pelo Corps of Engineers, que
consiste em realizar análises de estabilidade com o reservatório rebaixado e com
uma envoltória de resistência bi-linear constituída pela envoltoria triaxial adensada-
drenada (CD) para baixas tensões e, pela envoltória adensada-não drenada (CU)
para tensões mais altas. Wilson & Marsal (1979) também recomendam este
procedimento. As análises são realizadas em termos de tensões totais, isto é, sem
considerar as poropressões. A idéia básica da utilização da envoltória efetiva no
trecho inicial é evitar a consideração implícita das poropressões negativas que,
sabidamente, ocorrem nos solos compactados sob níveis baixos de tensão. Johnson
ressalta que o uso dessa envoltória bi-linear pode levar a excesso de
conservadorismo se o solo impermeável está muito perto do talude de montante,
pois, nesse caso, costuma-se encontrar superfícies críticas rasas, paralelas ao
talude e com coeficiente de segurança baixo.
As metodologias que utilizam envoltória de tensões efetivas e valores de
poropressões obtidos de ensaios, requerem a realização de estudos de percolação e
de ensaios especiais, como explicado anteriormente (Cruz, 1973, 1996; Lowe &
Karafiath, 1959; Lowe, 1967).
A utilização de partidos com valores estimados da poropressão implica em fazer
hipóteses simplificadoras para a determinação de ∆U. Bishop (1952 e 1954)
recomenda usar B = 1, ou seja, ∆U = ∆γh, onde ∆γh é a variação de tensão devida à
redução de peso na vertical acima do ponto (que, em muitos casos, é praticamente
igual à variação da tensão principal maior). No cálculo de ∆γh deve ser levado em
conta a variação da coluna de água e a variação de peso específico de solo cujo
nível de água tenha sido rebaixado. O valor ∆U assim obtido deve ser deduzido da
poropressão obtida da rede de fluxo de regime permanente existente antes do
rebaixamento. O valor de ∆γh é, evidentemente, negativo implicando em uma
redução da poropressão. A análise de estabilidade é conduzida com os parâmetros
efetivos de resistência e com as poropressões obtidas. Morgenstern (1963)
apresenta ábacos para o cálculo expedito da estabilidade a partir da hipótese de
Bishop.
A sugestão de Bishop é deliberadamente aproximada, procurando constituir-se em
envoltória prudente e não levando em conta a existência de zonas não saturadas
(embora Bishop estivesse perfeitamente consciente do fato e o tenha mencionado
no supracitado trabalho de 1954). A reação da poropressão ao rebaixamento será
diferente nos trechos saturados e nos trechos com ar ocluso. Nos pontos em estado
ocluso o ar dos vazios poderá expandir sob a tendência à diminuição da
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 17
poropressão e, assim, o valor de ∆U tenderá a ser pequeno (ou nulo). Nos pontos
saturados a queda de poropressão será mais acentuada pois a tendência à
expansão aliviará significativamente a poropressão. A quantificação, no entanto, é
muito difícil devido aos aspectos mencionados anteriormente e, sua confirmação só
poderia ser justificada à luz de medições em diversas obras (dados de que não se
dispõe).
Quando se utiliza a envoltória efetiva para superfícies rasas, em geral, costuma-se
encontrar coeficientes de segurança baixos. Quando isto ocorrer, convém exercer
julgamento em cada caso, para evitar abater desnecessariamente o talude de
montante da barragem. Deve-se lembrar que, junto à periferia, a drenagem (ou a
dissipação) são muito rápidas. Também a ser considerado é o fato de que para
baixos níveis de tensão a envoltória tende a ser curva, podendo ser representada
por parâmetros de resistência mais altos do que para tensões mais elevadas. Há
muitos casos em que as rupturas rasas podem ser tratadas com análise tipo talude
infinito, considerando fluxo horizontal para fora do talude e parâmetros adaptados
para o caso. Em outros casos, revela-se econômico aumentar a espessura de
material granular que capeia o talude.
Para concluir, sugere-se a seguinte metodologia (com tensões efetivas e estimativa
teórica das poropressões): (a) utilizar parâmetros efetivos de resistência; (b) a
distribuição de poropressões deve ser obtida partindo da rede de fluxo permanente
com reservatório cheio e aplicando ∆U = 0 à zona oclusa e ∆U = ∆γh à zona
saturada; (c) as zonas oclusa e saturada devem ser definidas a partir das pressões
da rede de fluxo escolhendo-se valor de contrapressão de saturação prudente (um
pouco mais baixo do que o médio esperável); (d) deve-se estudar em separado as
superfícies de ruptura mais rasas. De qualquer forma, é de se ressaltar que a
questão de estabilidade de taludes de montante de barragens de terra perante
rebaixamento rápido é um aspecto que se ressente profundamente de uma maior
quantidade dados de observação direta em obras.
6.4.3 – Casos históricos
Existem poucos relatos publicados sobre medições de poropressões, em aterros
argilosos, durante rebaixamento rápido. Um dos raros exemplos é o da barragem de
Alcova (Glover, Gibbs & Daehn, 1948). Este caso, apresentado na parte inferior da
figura 6.14, com taxa de rebaixamento da ordem de 1 m/dia e depleção de 38
metros, parece confirmar que ∆U é pequeno ou nulo na zona oclusa e elevado na
zona saturada. Em outro caso encontrado na literatura, o do dique Sir Adam Beck
(Bazzet, 1961), as alturas de água são pequenas (cerca de 8 metros) de maneira
que apenas a zona oclusa deve ter ocorrido, não havendo pressões suficientes para
induzir a saturação. Coerentemente, as variações de poropressão durante o
rebaixamento foram pequenas (valores de B entre 0 e 0,5). Um terceiro caso
encontrado na literatura, o da barragem de Lower Glenn Shira (Paton & Semple,
1960), além de ter alturas de água pequenas (da ordem de 9 metros) parece
padecer de problemas com a instrumentação. Em suma, as parcas evidências
disponíveis sugerem que considerar ∆U = 0 é conservador e considerar ∆U = ∆γh é
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 18
uma hipótese razoável mas que pode ser contra a segurança.
6.5 – ESTABILIDADE COM RESERVATÓRIO CHEIO
Os escorregamentos do talude de jusante de barragens de terra com reservatório
cheio são acidentes extremamente graves por terem tendências degenerativas, isto
é, uma vez ocorrido o deslizamento a massa remanescente costuma se apresentar
mais instável ainda e o processo volta a ocorrer até que advenha um desastre. A
técnica atual, de projeto, construção e controle, permite a virtual eliminação de
eventos deste tipo. Os acidentes reportados são antigos (anteriores à década de 60
do século passado). Não foi possível encontrar nenhum caso brasileiro de ruptura
por cisalhamento do talude de jusante de barragem em operação.
6.6 – SUBPRESSÕES EM ESTRUTURAS DE PESO DE CONCRETO
6.6.1 – Aspectos Conceituais
A estabilidade das barragens de peso concreto (ou seja, barragens de concreto cuja
estabilidade estrutural não depende de armaduras de aço) deve ser calculada de
forma a garantir segurança quanto ao deslizamento, quanto à capacidade de carga e
quanto ao tombamento, tal como qualquer muro de peso. A grande diferença é a
carga de água e a subpressão que ela exerce sob a barragem, tanto na superfície
de apoio do concreto como em qualquer plano de fraqueza que exista no terreno
(rocha, em geral) de fundação.
Até o final do século 19 o assunto de subpressões em barragens de peso estava
pouco explorado, não existindo conceituações claras para projeto nem
procedimentos consagrados para utilização nas obras. Diversos acidentes
importantes exigiram atenção para o assunto e resultaram em muito estudo e
experimentação na primeira metade do século 20. A partir da década de 30 as
subpressões na base de diversas barragens de concreto nos EUA foram medidas,
principalmente pelo USBR (United States Bureau of Reclamation), pela TVA
(Tenessee Valley Authority) e pelo Corps of Engineers. No início da década de 50
havia sido acumulado um considerável volume de dados e o assunto já se
encontrava em discussão em termos semelhantes aos atualmente tidos como
válidos. No clássico trabalho do Subcommittee on Uplift in Mansonry Dams (ASCE,
1952) a maioria dos membros optou por considerar 100% de “area ratio” (% da área
em que atua a subpressão) e aplicar um “intensity factor” (um fator de redução do
diagrama máximo de subpressão) “obtido a partir de uma detalhada análise da
geologia e das condições de fundação da barragem em questão”.
Hoje em dia, a maioria dos projetos enfrenta a questão da subpressão sob
barragens de concreto utilizando drenos a partir de galeria(s) construída(s) na base
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 19
do maciço de concreto e implantando cortina(s) de injeções para reduzir as vazões
nos drenos. Tanto a posição como a profundidade das galerias, dos drenos e das
injeções são definidas a partir de detalhado estudo das condições geológicas do
maciço em que se apoia a barragem. Em muitos casos a água dos drenos é
coletada em nível inferior ao nível de água externo de jusante e removida por
bombeamento. Os drenos possuem diâmetro entre 5 e 7,5 cm e seu espaçamento é,
em quase todas as obras Brasileiras, igual a 3 m. A cortinas de injeções possuem
tipicamente três linhas paralelas ao eixo da barragem, executando-se as externas
(montante e jusante) primeiro e a central por último. Em cada linha, cuja distância
inicial entre furos é tipicamente entre 12 e 6 m, podendo chegar aos 3 m, costuma-
se alternar os furos diminuindo gradativamente o espaçamento à luz das tomadas de
calda observadas. Diversos dos aspectos envolvidos e uma detalhada análise sobre
a geometria e os princípios de projeto utilizados em barragens Brasileiras podem
ser encontrados em Guidicini & Andrade (1983).
A figura 6.15, extraída do trabalho de Casagrande (1961), mostra a distribuição de
subpressões em algumas situações hipotéticas. A distribuição de subpressão para o
caso de fundação homogênea e nenhum tratamento (ou seja, sem drenos e sem
injeções), denominada de “subpressão plena” está indicada por linha tracejada em
todos os esquemas desta figura. Cabem os seguintes comentários:
caso (a) mostra uma situação de fundação homogênea, com injeções e sem
drenagem. Vê-se que a injeção sozinha tem algum efeito de redução das
subpressões, por criar uma barreira de permeabilidade mais baixa. A figura 6.16
(ASCE, 1952) mostra as subpressões em 3 barragens (Willwood, Wheeler e
Neye) com injeções e sem drenagem e as compara com as médias das
barragens com drenos e com injeções do USBR e da TVA. Vê-se que as
subpressões, para os casos em que só havia injeções, são mais altas do QUE
nos casos com drenos porem, são consideravelmente mais baixas do que a
situação de subpressão plena;
o caso (b) mostra uma situação com drenos perfeitamente eficientes cuja saída
(boca dos drenos na galeria de drenagem) se encontra em nível mais baixo do
que o nível de água de jusante. A distribuição de subpressão para este caso
hipotético é uma reta entre montante e a linha de drenos e é nula entre este
ponto e o paramento de jusante. A realidade é diferente porque a linha de drenos
nunca é perfeitamente eficiente. A figura 6.16 mostra as médias das subpressões
observadas em 8 barragens do USBR e 4 barragens da TVA, todas dotadas de
linhas de injeções e drenos. Persistem, portanto, subpressões a jusante da linha
de drenos, como esquematicamente indicado no caso (c). Daí resultaram as
muito divulgadas regras de subpressão do USBR e da TVA, mostradas na figura
6.17;
os casos (d), (e) e (f) mostram situações hipotéticas nas quais os drenos não
penetram toda a camada permeável de uma fundação homogênea ou não
alcançam a camada de maior permeabilidade de uma fundação heterogênea.
Estes são alguns exemplos visando ilustrar casos de heterogeneidade da
fundação. Evidentemente, uma quantidade praticamente ilimitada de exemplos
poderia ser imaginada.
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 20
A figura 6.18 mostra o caso (Abraham & Lundim, 1976) da barragem Wheeler (que é
uma das 3 barragens sem drenos da figura 6.16) na qual os drenos foram colocados
com a obra em operação. Pode-se observar a expressiva queda da subpressão
depois da instalação dos drenos.
Outro caso interessante (Rhodes & Dixon, 1976), que ressalta a importância do
espaçamento entre drenos para a eficiência do sistema de drenagem, é o da
barragem de Chief Joseph mostrado na figura 6.19. Observa-se a queda das
subpressões nesta barragem (que entrou em operação em 1954) na qual o
espaçamento dos drenos foi diminuído em duas ocasiões: de 6 para 3 m, em 1959,
e para 1,5 m, em 1961. A figura mostra que, 1 ano após a diminuição do
espaçamento dos drenos para 3 m, as subpressões voltaram a subir. Os autores
relatam (em 1976) que depois que o espaçamento foi diminuído para 1,5 m a
subpressão se manteve baixa.
6.6.2 – Definição das subpressões em projeto
A definição do diagrama de subpressões a utilizar em cada caso deve se basear, na
prática, em precedentes e em avaliacões geológicas. Não existe ainda, apesar do
muito que foi estudado e escrito sobre o assunto, um conjunto de estipulações que
permitam ao projetista definir de maneira padronizada o diagrama de subpressões
nas situações práticas mais complexas. No que se segue são enfocados alguns
aspectos desta questão.
Nas acima mencionadas barragens do TVA e do USBR havia uma única galeria
próxima do paramento de montante (dele distante de cerca de 20% da largura da
base). A figura 6.17 mostra as indicações utilizadas por essas duas entidades para
considerar a subpressão em casos desse tipo. A maioria dos casos práticos não é
tão simples quanto o dessa figura, pelos seguintes motivos:
a superfície de maior risco de deslizamento, em muitos casos, não coincide com
o contato entre o concreto e a rocha. Em geral, o maior risco de deslizamento
reside em superfície(s) de fraqueza no interior do terreno;
em algumas obras utiliza-se mais do que uma galeria de drenagem ou utiliza-se
galeria de drenagem no interior da rocha de fundação;
em diversas obras a superfície de contato entre a estrutura de concreto e a
fundação apresenta degraus e diferenças de nível, tanto transversal como
longitudinalmente.
O trabalho de Cruz & Barbosa (1981) sugere, com base em subpressões
observadas em diversas obras, critérios de projeto para algumas situações práticas
mais complicadas, uma das quais está mostrada na figura 6.20. Andrade (1982)
procurou encontrar expressões analíticas para determinar o diagrama de
subpressões em função da geometria da linha de drenos.
Outro dois aspectos que costumam vir à tona quando se está definindo o diagrama
de subpressões em projeto, são os seguintes:
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 21
a ocorrência ou não de “trincas de tração” no pé de montante, que permitiriam a
comunicação integral da pressão de montante abaixo da superfície. O critério da
figura 6.20, por exemplo, considera que isto ocorre. Em algumas obras foi
utilizada laje a montante (ligada à estrutura por junta estanque articulada) para
fazer frente a este (suposto) problema. Encontram-se na literatura diversos casos
de observações de obras atestando que esta “trinca de montante” não ocorreu;
as trincas e fissuras de contorno e a relaxação de descontinuidades da rocha,
causados pelas detonações realizadas para as escavações. Guidicini & Andrade
(1983) estimam que, em basaltos, essa faixa superficial tenha espessura da
ordem de 2 a 3 m e permeabilidade dezenas (e até centenas) de vezes maior do
que a do resto do maciço rochoso.
No caso geral devem ser realizados estudos detalhados da geologia da fundação e,
à luz desses estudos, da geometria da obra e das experiências disponíveis, devem
ser fixados os níveis das galerias, a posição, a profundidade e a geometria das
linhas de drenos e das cortinas de injeção. Como parte dos estudos, alguns
projetistas, alem de montar modelos geológicos da fundação, realizam análises
teóricas numéricas de subpressão.
Seja qual for a postura de projeto e a profundidade ou sofisticação dos estudos
realizados, deve-se sempre:
Instalar piezômetros em pontos representativos do contato e da fundação e em
pontos sobre os quais tenham pairado dúvidas no projeto. Os piezômetros
devem ser acompanhados até que se assegure que as subpressões que
ocorrem são inferiores àquelas utilizadas no projeto. Caso isto não aconteça,
novos drenos e injeções podem se fazer necessários. Os piezômetros devem
ser acompanhados por toda a vida da obra e substituídos quando apresentarem
defeito;
Medir as vazões nos drenos individualmente e manter histórico. Uma queda de
vazão um certo dreno, em relação às vazões nele observadas para os mesmos
níveis de reservatório, pode significar que há necessidade de limpar ou
substituir este dreno. Uma queda de vazão continuada e lenta em um conjunto
de drenos pode resultar da natural colmatação dos caminhos de percolação ou
da vedação por siltagem do terreno a montante da barragem. No entanto, se
esta queda de vazão vier acompanhada de uma elevação da subpressão,
particular atenção deverá ser dada ao trecho;
Garantir que as galerias permitirão acesso para equipamentos de perfuração e
terão dimensões que permitam as perfurações e operações necessárias para
instalação de novos drenos ou de injeções adicionais.
Em suma, o sistema de drenagem das subpressões de barragens de concreto tem
vida útil limitada e requer acompanhamento e manutenção persistentes.
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 22
6.6.3 – Casos de rupturas por subpressão
Está apresentado na figura 6.21(a) o caso da barragem de Bouzey, na França.
Completada em 1880, esta barragem sofreu um acidente estrutural em 1884 e, após
reparos, sofreu desastre em 1895. O primeiro acidente consistiu numa separação
entre a cortina incorporada de montante e o corpo barrante, situado a jusante da
cortina (ponto 2 da figura). Os reparos consistiram em lançamentos de material
impermeabilizante a montante e na construção de um apoio no pé de jusante. A
segunda (e desastrosa) ruptura se deu por cisalhamento através do corpo da
barragem (ponto 4 da figura). A análise de acidentes como este trouxe à baila as
questões de pressão de água no interior e na base de estruturas de concreto.
O caso da barragem de Gleno, construída e desastrosamente rompida em 1923 na
Itália, está apresentado na figura 6.21(b). A barragem foi originalmente concebida
como uma estrutura maciça de concreto (barragem de peso) e a correspondente
base de apoio foi construída. Sobre a base, porém, foi erigida uma barragem de
arcos múltiplos, muito mais leve, sem que providenciassem o correspondente
indispensável alívio de subpressões. A barragem rompeu bruscamente por
tombamento no primeiro enchimento. Como se vê na figura 6.21(b) a resultante das
forças incidiu praticamente na aresta externa da base de apoio.
Um dos mais impressionantes e traumáticos desastres que já ocorreram em
barragem de concreto foi o de Malpasset (ICOLD,1974) ocorrido em 1959 na França,
cujos principais elementos estão mostrados na figura 6.22. Trata-se de uma
barragem em arco, com 66 metros de altura máxima e 222 metros de coroamento
construída em 1954. A barragem foi destruída de maneira quase instantânea em 2
de dezembro de 1959 restando apenas uma parte do seu lado direito. Do lado
esquerdo a barragem foi totalmente destruída, observando-se uma grande
indentação (largura 40 metros, profundidade 30 metros) em forma de diedro na
rocha de fundação. Partes do concreto do trecho destruído, ainda perfeitamente
solidárias à rocha de fundação, foram encontradas a centenas de metros a jusante.
O acidente se deveu a uma conjugação de fatores cuja atuação simultânea não foi
prevista. Havia uma falha, cujo plano se constituía numa superfície impermeável,
praticamente perpendicular ao vale mergulhando cerca de 45 graus de jusante para
montante. Agravando a presença da falha, a estrutura de foliação, contendo planos
de fraqueza, mergulhava de montante para jusante com disposição praticamente
paralela à tangente do arco na ombreira esquerda. O conhecimento destas
estruturas geológicas, porém, não bastaram para que se caracterizasse o risco de
ruptura que existia, pois as forças impostas pela barragem tenderiam até mesmo a
estabilizar o diedro formado por elas. Porém os efeitos físicos se associaram de
maneira muito desfavorável. As estruturas de foliação fizeram com que as forças
induzidas pela barragem ao invés de se espalharem pela massa de rocha, ficassem
concentradas em um prisma de espessura constante transmitindo compressões
elevadas até grande profundidade. Tais pressões fizeram com que a massa de
gnaisse, já de baixa permeabilidade, se comportasse como uma cortina impermeável
criando uma barreira sob a qual passou a atuar a pressão hidrostática total de
montante. Deu-se então o levantamento do diedro de rocha de fundação e a ruptura
catastrófica do conjunto. Os pedaços de concreto da barragem aderidos à rocha de
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 23
fundação encontrados a jusante, evidenciam que a ruptura não ocorreu na superfície
de contato concreto-rocha.
No Brasil ocorreu o desastre no vertedouro da barragem de Santa Helena, na Bahia,
devido à subpressão, cujos principais elementos estão mostrados na figura 6.23. A
laje do rápido do vertedouro era simplesmente apoiada sobre um aterro arenoso em
comunicação com o nível d'água a jusante (através do próprio sistema de drenagem
da laje). A ruptura adveio quando, para uma certa vazão (a maior registrada nos
cerca de 5 anos de vida da barragem, correspondente à maior abertura das
comportas), o ressalto hidráulico fez com que a subpressão fosse superior ao peso
da laje e da lâmina d'água que passava sobre ela. A laje foi levantada e removida
(ver detalhe na parte inferior da figura). A areia escapou e o vertedor colapsou para
o interior da cavidade assim formada. É interessante notar que o aterro da barragem
de terra de Santa Helena, homogêneo e com altura de cerca de 18 m, se apoiava
em sedimentos argilosos moles (ver seção AA na figura 6.23). O projeto da
barragem de terra foi cercado de grandes cuidados: foram utilizados drenos verticais
aceleradores de recalques e a construção do aterro foi realizada em etapas. A obra
foi instrumentada com piezômetros e medidores de recalque. Os resultados de
piezômetros foram utilizados para liberar as etapas de construção do aterro.
Recalques de até 2 m foram registrados no aterro durante a construção (ver planta,
figura 6.23) e foram observados diversos trincamentos. O resultado final foi bem
sucedido, não se registrando rupturas durante a construção, nem vazões excessivas
a jusante durante a operação. É de se imaginar que a complexidade geotécnica do
aterro tenha distraído a atenção dos projetistas dos perigosos “detalhes” do
vertedouro. Recentemente (2000) a barragem de Santa Helena foi recuperada,
construindo-se novo vertedouro e aproveitando-se praticamente todo o aterro
original.
6.7 – CARGAS EM JUNÇÕES ENTRE ATERROS E ESTRUTURAS DE
CONCRETO
O valor do esforço exercido por aterros compactados sobre estruturas é uma
questão complexa. Alem das incertezas geotécnicas usuais associadas à escolha de
parâmetros, homogeneidade, representatividade, etc dois aspectos contribuem
particularmente para a complexidade: (a) o fato da estrutura, em geral, não se
deslocar o suficiente para que se instale uma situação de plastificação (ativa ou
passiva), e (b) a influência das diferenças de geometria e procedimentos
construtivos (equipamentos e técnicas de compactação, seqüência executiva, forma
e natureza da estrutura e da fundação, etc). No processo de projeto de uma
barragem que contenha junção com estrutura, o engenheiro geotécnico é, em geral,
solicitado a definir o diagrama de empuxo (ou seja, a distribuição de tensões)
exercido pelo aterro compactado sobre a estrutura de concreto.
Uma situação freqüente são as junções entre aterros e muros com faces verticais ou
de inclinação muito íngreme, de estruturas tais como: barragens de concreto,
vertedouros, eclusas, casas de força, etc. Reconhecendo as dificuldades conceituais
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 24
envolvidas e aproveitando a disponibilidade de uma quantidade considerável de
medições de tensões com células de carga em obras Brasileiras e estrangeiras, foi
dado um tratamento empírico à questão. Através de uma seleção em que se isolou
as medições julgadas confiáveis (segundo critério em parte baseado no histórico das
medições e em parte no bom senso) foram reunidas medições em 63 células de
carga de 11 obras com aterro argiloso (Gould,1971; Wilson & Pimley, 1971; Vaughan
& Kennard, 1972; Jones & Sims, 1975; Mellios & Sverzut, 1975; Nakao, 1981; Viotti,
1980; Silveira et al, 1980; Eletronorte, 1988; Brandt, 1985) e medições de 32 células
de carga de 6 obras nas quais o aterro era arenoso (Muhs, 1947; Gould, 1971;
Broms & Ingelson, 1971 e 1972; Coyle & Butler, 1974). Em nenhum dos casos havia
nível de água ou poropressões significativas no interior dos aterros. Foram incluídos
casos nos quais os muros possuíam inclinações entre a vertical e 8:1 (V:H). Aos
dados referentes a aterros arenosos foi ajustada, de forma a se constituir como uma
envoltória, uma relação entre tensão total horizontal (σh , em kPa) e a profundidade
(z , em metros) dada por:
Profundidade z entre zero e 3,5 m - σh = 13,5 + 9z
Profundidade z entre 3,5 e 5,0 m - σh = 45
Profundidade z maior do que 5,0 m - σh = 9z
A relação envoltória ajustada aos dados de aterros argilosos foi a seguinte:
Profundidade z entre zero e 3,5 m - σh = 18 + 12z
Profundidade z entre 3,5 e 5,0 m - σh = 60
Profundidade z maior do que 5,0 m - σh = 12z
Cabem os seguintes comentários sobre as distribuições de tensão horizontal, acima
apresentadas:
Elas são puramente empíricas e, nesta medida, prestam-se apenas como
prescrições preliminares a serem utilizadas com tirocínio. O simples fato delas
não levarem em conta os parâmetros geotécnicos das diferentes areias ou
argilas é uma evidência desse caráter puramente empírico;
Elas se baseiam em situações em que a água estava ausente (fase de
construção dos aterros). As pressões de água que vierem a ocorrer na junção,
no caso geral, somar-se-ão a elas (ver, por exemplo, Herkenhoff & Dib, 1986),
aqui também sendo necessário exercer bom julgamento.
Outra situação comum de projeto é a estimativa de empuxos de aterros sobre
galerias. As galerias de concreto, muito mais rígidas do que os aterros que as
envolvem, constituem-se em inclusão rígida e, por conseqüência, ocorre
concentração de tensões em suas imediações. A tensão sobre o topo da galeria fica
mais alta do que a tensão média esperável (γh) e as tensões laterais ficam menores
do que as que existiriam se a galeria ali não estivesse (Koγh). Os cálculos costumam
ser conduzidos com estudos bidimensionais utilizando métodos numéricos como o
dos elementos finitos e considerando seção normal à galeria. Um procedimento
aproximado para considerar a condição tri-dimensional do problema foi proposto por
Cavalcanti & Sandroni (1992).
VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 25
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C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 1
ANEXO 6.1 - PARÂMETRO B EM SOLO PARCIALMENTE SATURADO
DEMONSTRAÇÃO DE SKEMPTON (1954)
Ensaio isotrópico não drenado em solo parcialmente saturado, no qual se aplica uma
variação de tensão total isotrópica δσ que causa uma variação de tensão no fluido
dos poros (ar + água) δUp e uma variação de volume δV.
Seja CS a compressibilidade do arcabouço de grãos do solo e, Cp a do fluido dos
vazios (ar + água) do solo. A compressibilidade é definida como a relação entre a
variação específica de volume (δV/V) e a variação de tensão isotrópica (δσ).
A variação de volume do arcabouço de grãos é:
)( UpVCsVs δδσδ −××−=
A variação de volume do fluido dos vazios é:
UpVnCpVp δδ ×××−=
lembrando que nV é o volume dos vazios.
Como os grâos do solo e a água são praticamente incompressíveis por comparação
com o arcabouço de grãos e a mistura de ar e água dos vazios, pode-se afirmar que:
δVs = δVp
logo,
=−× )( UpCs δδσ UpnCp δ××
portanto,
CsCpn
Cs
B
Up
+×
==
δσ
δ
ou,
Cs
Cpn
B
Up
×
+
==
1
1
δσ
δ
No caso de solo seco Cs >> Cp e, por consequência, 0⇒B .
No caso de solo saturado Cp >> Cs e, por consequência, 1⇒B .
C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 2
ANEXO 6.2 - POROPRESSÕES EM SOLO LINEAR ISOTRÓPICO,
PARCIALMENTE SATURADO OCLUSO, CARREGADO ISOTROPICAMENTE
(SANDRONI, 1985)
Seja um elemento de solo parcialmente saturado, no estado ocluso (água contínua,
ar em bolhas), com volume total V e volume de vazios nV (onde n é a porosidade),
submetido a uma variação de tensão total isotrópica δσ sem que se permita escape
de ar ou de água.
Considerando a água e os grãos sólidos como incompressíveis, a variação de
volume do elemento de solo (δV) será igual à variação de volume no ar dos vazios
(δVar), ou seja:
(δV) = (δVar) [1]
O volume inicial de ar, lembrando que a relação entre o volume de ar e o volume dos
poros é igual a 1-S (onde S é o grau de saturação), é igual a:
Vari = n (1-S) V [2]
Com a aplicação de δσ a pressão absoluta no ar dos vazios passa de um valor inicial
Po para um valor final P. Utilizando a lei de Boyle e desprezando a pressão parcial
de vapor d´água e a solução do ar na água, tem-se:
Var.Par = Vari. Pari [3]
Com [2] em [3], vem:
Var = n (1-S) V. Pari/Par [4]
Diferenciando [4] vem:
2
.).1.(
P
Par
PariSn
V
Var δδ
−−= [5]
Ou seja,
2
..).1.(
P
Par
PariVSnVar
δ
δ −−= [6]
No estado ocluso pode-se admitir que a variação de pressão na água e no ar dos
vazios é igual e, portanto:
Parδδσδσ −=' [7]
No caso de solo linear solicitado isotropicamente, o módulo de compressão é dado
por:
C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 3
D = -






V
Vδ
δσ '
= -
( )






−
V
V
Par
δ
δδσ
[8]
Ou seja,
).(.
1
ParV
D
V δδσδ −





−= [9]
Com [6] e [9] em [1], vem:
δσδ .
1).1.(.
1
2 











+−
=
P
Pari
SnD
P [10]
A fórmula [10] expressa o valor do parâmetro
δσ
δP
B = e esclarece a influência dos
diversos fatores que determinam o seu valor, a saber: a quantidade de ar existente
nos poros, expressa pelo grau de aeração = Var/V = n.(1-S), a compressibilidade do
arcabouço de grãos, D, e as pressões (absolutas) inicial (Pari) e final (P) no ar dos
vazios.
A expressão
PariSn
p
).1.(
2
−
é uma “compressibilidade equivalente” do fluido
(ar+água) existente nos poros, como se depreende da fórmula 6.
A relação entre a poropressão e a tensão total pode ser obtida da fórmula [10], por
integração:
P
P
PariSnD
tecons δδσ ).1
).1.(.
(tan 2
+
−
=+∫ ∫ [11]
ou seja,
P
PariSnD
Ptecons
).1.(.
tan
−
−=+σ [12]
quando, σ = σo, P = Pari, logo,
oSnDParitecons σ−−−= )1.(.tan [13]
Com [13] em [12], chega-se à equação:
( ) 0..2
=−−+−− PariMPMPariP oσσ [14]
onde,
C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 4
M = D.n.(1-S) [15]
Resolvendo a equação [14] e desprezando a raiz que daria P menor do que zero (o
que não é possível por se tratar de pressão absoluta), vem:
P = [( ) ( ) )..4
2
PariMMPariMPari oo +−+−+−+− σσσσ ]/2 [16]
Para obter o valor da poropressão com referência atmosférica (U = P - Patm, onde
Patm é a pressão atmosférica), evidentemente:
U = [( ) ( ) )..4
2
PariMMPariMPari oo +−+−+−+− σσσσ ]/2 - Patm [17]
onde,
σ = tensão total final;
σo = tensão total inicial
Pari = pressão inicial no ar dos poros (no caso mais comum, atmosférica)
M = D.n.(1-S), sendo D = módulo efetivo de compressão isotrópica,
n porosidade inicial e S grau de saturação inicial
Patm = pressão atmosférica.
Nos casos práticos de construção de aterro, tem-se as seguintes condições e
aproximações:
• A tensão total final é a carga de aterro acima do ponto que, em muitos casos,
pode ser expressa, sem grande perda de precisão, pelo produto do peso
específico do aterro pela altura de aterro acima do ponto (γ.h);
• A tensão total inicial, σo, é a tensão em que ocorre a oclusão. Se o solo estiver
ocluso desde o início, evidentemente, σo = 0;
• Quando o solo se encontra inicialmente no estado aberto a pressão no ar é
atmosférica. No instante da oclusão a pressão no ar permanece atmosférica de
modo que Pari = Patm. Quando o solo é compactado no estado ocluso, pode
restar uma pequena pressão no ar após a compactação, mas este valor, em
geral, será muito pequeno de maneira que se pode considerar Pari = Patm.
• O valor de D pode ser obtido a partir de E (módulo de Young) e ν (coeficiente de
Poisson), considerando o solo como linear e isotrópico, através de relação
simples, a saber:
D = E.(1- ν) /[(1 + ν).(1 - 2ν)]
FIG 6.1 – RELAÇÃO ENTRE O
COMPORTAMENTO NO
CAMPO E NO LABORATÓRIO
(Vaughan, 1971)
FIG 6.2 EXEMPLO DE ESTUDO DA DISSIPAÇÃO DE POROPRESSÕES DURANTE A CONSTRUÇÃO EM
BARRAGENS DE TERRA
( baseado em Vaughan. 1975)
E = 400kg/cm2 Tempo de construção = tc =1 ano
FIG 6.3
RESULTADOS
TÍPICOS DE ENSAIOS
DE COMPACTAÇÃO
FIG 6.4
DESENVOLVIMENTO
DE POROPRESSÕES
DURANTE A
CONSTRUÇÃO
FIG. 6.5
SUCCÇÃO APÓS A
COMPACTAÇÃO EM
LABORATÓRIO
FIG. 6.6
POROPRESSÕES
NAS CONDIÇÕES
ABERTA E FECHADA
FIG. 6.7 - BARRAGEM DE COCOROBÓ
FIG. 6.8
BARRAGEM DO AÇÚ
FIG. 6.9
BARRAGEM DE OTTER
BROOK
FIG. 6.10
BARRAGEM DE
CARSINGTON
FIG. 6.11
BARRAGEM DE
WACO
FIG. 6.12
POROPRESSÕES
TEÓRICAS PERANTE
REBAIXAMENTO
INSTANTÂNEO
FIG. 6.13
FIG. 6.14
POROPRESSÕES
PRÁTICAS PERANTE
REBAIXAMENTO
FIG. 6.15
CASOS HIPOTÉTICOS
DE SUBPRESSÃO EM
BARRAGENS DE
CONCRETO
(Casagrande ,1964)
FIG. 6.16
SUBPRESSÕES
OBSERVADAS EM 3
BARRAGENS DE
CONCRETO COM
INJEÇÕES E SEM
DRENOS
( ASCE, 1962)
FIG. 6.17 SUBPRESSÃO NA BASE DE BARRAGENS DE CONCRETO
FIG. 6.18
SUBPRESSÕES NA
BARRAGEN DE
WHEELER ANTES E
DEPOIS DOS DRENOS
FIG. 6.19
QUEDA NAS
SUBPRESSÕES DA
BARRAGEM DE CHIEF
JOSEPH POR CAUSA DA
DIMINUIÇÃO DO
ESPAÇAMENTO ENTRE
DRENOS
FIG. 6.20
PRESCRIÇÕES PARA
SUBPRESSÕES EM
CASO PRÁTICO
(Cruz e Barbosa,1961)
FIG. 6.21
RUPTURAS POR
SUBPRESSÃO EM
BARRAGENS DE
CONCRETO ANTIGAS
FIG. 6.22
BARRAGEM DE
MALPASSET
FIG. 6.23
BARRAGEM DE SANTA
HELENA

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Estabilidade geotécnica de barragens

  • 1. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 1 6 – ESTABILIDADE GEOTÉCNICA DE BARRAGENS 6.1 – ASSUNTOS ABORDADOS Os assuntos de estabilidade são tratados nos seguintes itens: 6.2 – estabilidade dos aterros durante a construção; 6.3 – estabilidade pela fundação dos aterros durante a construção 6.4 – estabilidade dos aterros perante rebaixamento rápido 6.5 – estabilidade dos aterros com reservatório cheio 6.6 – subpressões em estruturas de peso de concreto 6.7 – cargas na junção entre aterros e estruturas de concreto Os aspectos relacionados com tremores de terra não foram incluídos nas presentes notas. Os terremotos no Brasil são de baixa intensidade. Com exceção da região Atlântica de alto mar (a centenas de quilômetros da costa) e da região mais próxima aos Andes (extremidade Oeste da Amazônia) há pouquíssimos registros de sismos com intensidade maior do 5 na escala Richter (que são os que causam problemas para as barragens) e nenhum (que seja do conhecimento do autor) com intensidade maior do que 5,5. Não se tem notícia de nenhum acidente em barragens, mesmo sem gravidade, causado por sismos em território Brasileiro. A exclusão deste assunto é provisória, pretendendo-se no futuro incluí-lo nas notas. Em áreas fortemente sísmicas de outros países, onde os engenheiros Brasileiros muitas vezes são chamados a atuar, os efeitos sísmicos são, com freqüência, determinantes da segurança da barragem. Os deslizamentos de taludes de ombreiras e cortes, durante a construção, e os deslizamentos dos taludes da periferia reservatório durante a operação não foram incluídos nas presentes notas por se tratar de assunto enfocado na cadeira de Taludes. Os parâmetros de resistência dos aterros e das fundações (seja dos solos naturais, seja dos planos de fraqueza em rochas) também não são enfocados, por dois motivos: (a) trata-se de assunto amplo demais, que requereria um curso específico do mesmo porte do presente; (b) o assunto é enfocado em outras cadeiras do curso de mestrado da COPPE.
  • 2. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 2 6.2 – ESTABILIDADE DE ATERROS DURANTE A CONSTRUÇÃO 6.2.1 – Aspectos Conceituais A instabilidade no interior de um aterro compactado pode se manifestar de duas maneiras: (a) deslizamento ao longo de uma superfície de ruptura definida; (b) deformações laterais excessivas promovendo um "estufamento lateral" do maciço sem que se consiga perceber uma superfície definida de ruptura. Vaughan (1971) associou cada um destes dois comportamentos ao que se observa em laboratório, ver figura 6.1. No primeiro caso estão os materiais cuja trajetória de tensões efetivas sob condições não drenadas atinge a envoltória de ruptura apenas durante um breve intervalo de deformações e, em seguida, passam a perder resistência e, por conseqüência, a trajetória de tensões se afasta da envoltória. Estes materiais costumam apresentar superfície de ruptura bem definida nos ensaios de laboratório. Ao segundo caso, parte (b) da figura 6.1, pertencem aqueles materiais cujas trajetórias de tensões efetivas sob condições não drenadas após atingir a envoltória de resistência permanecem mais ou menos sobre ela por um longo intervalo de deformações. Estes materiais costumam apresentar ruptura por "embarrigamento" nos ensaios. Seja qual for o tipo de comportamento na ruptura, estufamento ou superfícies definidas, a situação de instabilidade só costuma ser atingida, em aterros corretamente compactados de barragens, se existirem poropressões positivas consideráveis no interior do maciço de terra. Se não existirem poropressões positivas significativas, dificilmente haverá instabilidade durante a construção, pois os solos utilizados na construção de barragens, quando corretamente compactados, apresentam resistência superior à necessária para garantir a estabilidade dos aterros com as inclinações usuais (tipicamente, V:H = 1:2 a 1:3 em aterros homogêneos, não havendo problema de resistência na fundação). E assim é porque a compactação visa, principalmente, facilitar o tráfego dos equipamentos e evitar o colapso perante submersão, sendo a boa resistência do aterro um bem-vindo subproduto. Dependendo do coeficiente de adensamento do aterro, da velocidade de alteamento e da geometria das fronteiras drenantes, os excessos de poropressão gerados durante a construção podem permanecer, caracterizando uma situação não drenada, ou se dissipar (equalizar), caracterizando uma situação drenada. Vaughan (1974) sugeriu que se o fator tempo, definido por T = c . tc / D2 (onde,c = coeficiente de adensamento, tc = tempo de construção e D = distância de drenagem), for menor do que 0,05 não haverá quase nenhuma dissipação e, se T for maior do que 2, a dissipação será praticamente completa. Como os aterros compactados possuem rigidez relativamente alta (E = módulo de elasticidade = 10 a 80 MPa), seu coeficiente de adensamento também costuma ser elevado. Assim, só acontece uma situação nitidamente não drenada quando o aterro é constituído por solo de permeabilidade muito baixa ou o alteamento é realizado de maneira particularmente rápida. A figura 6.2 mostra um exemplo de estudo que indica zonas típicas em função da permeabilidade e da distância D, para o caso em que tc = 1 ano e E = 40 MPa (400 kg/cm2 ). Vê-se que nessas condições, para uma distância de drenagem
  • 3. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 3 (distância até uma fronteira drenante) entre 10 e 30 metros a situação só seria não drenada em aterros com permeabilidade da ordem de 1x10-7 cm/s ou menos. Evidentemente, estimativas como essa são aproximações grosseiras da realidade e, em cada caso, o projetista deverá estudar o assunto com base em suas preferências e no nível de prudência que julgar cabível, utilizando, se necessário, os poderosos recursos experimentais e computacionais de que se dispõe atualmente. A geração de poro-pressão não drenada (nem ao ar nem à água) depende, basicamente, da relação entre a compressibilidade do fluido (ar e água) dos vazios e a compressibilidade do arcabouço de grãos do solo. O parâmetro B, para uma solicitação isotrópica não drenada, é dado teoricamente (Skempton, 1954) por: B = dU / dσ1 = 1 / [ 1 + (n.Cvz / Cas) onde, n = porosidade C = compressibilidade, definida como a relação entre a variação específica de volume e a variação de tensão Cvz = compressibilidade do fluido dos vazios Cas = compressibilidade do arcabouço de grãos, ou seja, do solo com a mesma densidade caso estivesse seco Se o fluido dos vazios é muito mais compressível do que o arcabouço de grãos (Cvz >> Cas) o valor de B tende para zero (caso do solo seco). Se, em vez, Cvz << Cas, o valor de B aproxima-se de 1 (caso do solo saturado). Quando a quantidade de ar nos vazios é alta e sua pressão é baixa, a compressibilidade do fluido é alta e a maior parte da carga vai para o arcabouço de grãos, de maneira que B é baixo. À medida que o ar vai sendo comprimido, sua compressibilidade vai diminuindo até que a compressibilidade do fluido dos vazios torna-se menor do que a do arcabouço de grãos. Nesse processo, o valor de B vai crescendo e tende a 1. Mas, para que o ar dos vazios seja comprimido é preciso que ele não possa escapar. Enquanto o material do aterro está no estado ABERTO, isto é, com os vazios de ar contínuos e em contato com a atmosfera, o ar pode escapar porque a permeabilidade ao ar é elevada (cerca de 104 a 105 vezes maior do que a permeabilidade à água). Assim, a pressão no ar praticamente não aumenta, permanecendo próxima à atmosférica. Esta situação se mantém até que a compressão do arcabouço de grãos induza à OCLUSÃO. No estado OCLUSO os vazios de ar não são contínuos, passando a prevalecer a permeabilidade do solo à água de maneira que (tratando-se de situação não drenada à água) o ar não pode mais escapar. No processo de geração de poro pressões em um solo compactado submetido a carregamento não drenado à água, devem ser distinguidas duas etapas: antes da oclusão e a partir da oclusão. Na primeira etapa, evidentemente, quanto mais rígido for o material maior será a sobrecarga necessária para levar o solo ao estado ocluso. Uma vez atingida a oclusão, quanto maior a rigidez menor a parcela de carga transferida para os fluidos dos poros, pois o arcabouço de grãos (rígido) absorve uma parte considerável da mesma.
  • 4. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 4 Assim, o desenvolvimento de poropressões positivas depende das condições iniciais do fluido dos vazios (que podem ser expressas pelo grau de aeração, Var/V), da rigidez do solo que compõe o aterro (que pode ser expressa por seu módulo de elasticidade, E) e do momento em que o ar dos vazios se torna ocluso. A oclusão ocorre entre o ponto ótimo da curva de compactação e o ponto que corresponde ao valor mínimo do grau de aeração como indicado pela “região A” na figura 6.3. Gilbert (1959) verificou que “os vazios de ar em um solo coesivo compactado deixam de ser conectados por volta da umidade ótima”. Lins & Sandroni (1994) apresentam evidências, obtidas por Lins (1991), através de um conjunto de ensaios triaxiais especiais em amostras compactadas estaticamente, de que as poropressões na água se tornam positivas para um grau de aeração praticamente constante, independente do grau de aeração original das amostras. Este grau de aeração foi, nos ensaios de Lins, um pouco mais baixo do que o grau de aeração correspondente ao ponto ótimo da curva de compactação (ou seja, do “lado úmido”) obtida com ensaios Proctor Normal. O solo ensaiado por Lins foi uma argila silto- arenosa residual, com LL = 78%, LP = 32% e, fração argila = 62%, 4% de silte e 34% de grãos tamanho areia. Quatro formas típicas da curva poro-pressão versus sobrecarga (γh, onde γ é o peso específico do aterro e h é a altura de aterro acima do ponto) estão mostradas na figura 6.4. Os casos A e B representam um solo compactado no estado ocluso e com compressibilidade alta e baixa respectivamente. Nos casos C e D estão representados solos inicialmente no estado aberto e com compressibilidade alta e baixa, respectivamente. Como se vê, o espectro de respostas de poropressões é muito amplo. 6.2.2 – Pressão negativa na água dos vazios - Sucção Por causa da tensão superficial na interface entre o ar e a água, que coexistem nos vazios de um solo parcialmente saturado, a pressão no ar é maior do que a pressão na água. A diferença entre a pressão no ar e a pressão na água (Uar-Uw) é denominada “sucção”. Logo após a compactação, a pressão no ar é (em termos práticos) igual à zero (ou seja, é igual à atmosférica, posto que, por convenção na engenharia civil, toda e qualquer pressão é considerada como excesso em relação à atmosférica) e a pressão na água é, portanto, negativa. A seguir são brevemente abordados alguns dos aspectos mais relevantes relativos à sucção: • A sucção é, na verdade, uma complexa função da geometria dos vazios e de forças elétricas que existem junto à superfície dos grãos do solo. Existem diversas técnicas de ensaio para medir a sucção em solos. Uma síntese atualizada sobre o assunto pode ser encontrada em Cruz (1996, Capítulo 5). • A sucção nos solos compactados nas vizinhanças da condição ótima varia, dependendo do tipo de solo, entre praticamente zero e valores acima de 300 kPa. A figura 6.5.a mostra valores de sucção em função do desvio de umidade
  • 5. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 5 (w-wot) medidos em solos compactados de diversos tipos e procedências. Vê-se que a sucção varia amplamente em um certo solo com o desvio de umidade e, de um solo para o outro no mesmo desvio de umidade; • Há muitas evidências experimentais mostrando que a sucção em um certo solo varia muito com a técnica de moldagem da amostra. Lambe (1961) observou diferenças da ordem de 50 kPa na sucção em amostras com umidade e peso específico iguais, compactadas por diferentes procedimentos. Ou seja, não há porque esperar que a sucção em amostras de laboratório seja representativa da que ocorre nos aterros; • Utilizando um procedimento padronizado de compactação no laboratório, Cruz e Ferreira (1993), mediram a sucção em diversos solos com graus de compactação entre 95% e 100%. Os valores de sucção obtidos por esses autores estão lançados contra o grau de aeração e a % de grãos argila nas figuras 6.5.b e 6.5.c. Vê-se que o valor da sucção é função principalmente do tamanho dos vazios do solo (correlaciona-se bem com a % de grãos argila, figura 6.5.c) e que não se correlaciona com a quantidade de ar nos vazios do solo (ou seja, não se correlaciona com Var/V, figura 6.5.b). Outra evidência de que a sucção depende (até certo ponto) da granulometria e não correlaciona bem com o volume de ar nos vazios são os dados obtidos por Lins (1991) que ensaiou uma argila siltosa de região gnáissica e observou que a sucção (por volta de 100 kPa) variava muito pouco para umidades variando entre –2% e +3% da ótima. Note-se que, devido à influência da técnica de moldagem e das características micro-estruturais dos solos, não é de se esperar que exista uma relação simples (muito menos, com dispersão pequena) entre granulometria e sucção. Os pontos com símbolos preenchidos lançados na figura 6.5.c, que fogem totalmente da relação de Cruz & Ferreira (1993), ilustram este aspecto. 6.2.3 – Metodologias de Análise Uma vez decidido que os excessos de poropressão não sofrerão dissipação apreciável (ou seja, que a situação será não drenada), é preciso verificar a segurança através de análises de estabilidade. São utilizadas diversas metodologias diferentes que estão explicadas e comentadas a seguir: 1. Com tensões totais (ver, por exemplo, Lowe, 1967) – Realizam-se ensaios triaxiais adensados não drenados (CU) convencionais (ruptura por carregamento axial) em amostras compactadas nas condições previstas para colocação no aterro. Utilizam-se análises de estabilidade em termos de tensões totais, com os parâmetros de resistência obtidos nesses ensaios. Esta metodologia admite, implicitamente, que as poropressões que existirão nas amostras durante os ensaios são representativas daquelas que ocorrerão no campo; 2. Considerando a compressão do ar nos vazios – Esta metodologia, proposta por Hilf (1948) a partir de estudos de Brahtz, Zangar & Bruggeman (1939), consiste em aplicar as leis de Boyle (compressão dos gases) e de Henry (solubilidade dos gases), considerando que não ocorre qualquer drenagem ou dissipação. A variação da pressão do ar dos poros, dU, é dada pela expressão:
  • 6. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 6 dU = (Pari . dV/Vo) / (Viar/Vo + h . Vw/Vo – dV/Vo) onde, Pari = pressão no ar dos vazios logo após a compactação (praticamente igual à atmosférica e, para efeitos práticos, suposta igual à atmosférica = 100 kPa); dV = variação de volume; Vo = volume total inicial; Viar = volume de ar nos vazios logo após a compactação. A relação Var/Vo, dita “grau de aeração” é dada, em termos das propriedades índice usuais, por n(1-S), onde n é a porosidade e S é o grau de saturação; h = constante de Henry = 0,02 (desprezando a variação de temperatura); Vw = volume de água nos vazios (constante por força da hipótese de drenagem nula). A relação Vw/Vo, que poderia ser chamada de “grau de umidade” é dada, em termos das propriedades índice usuais, por nS, onde n é a porosidade e S é o grau de saturação; Hilf (1948) dá exemplos de diversas barragens em que poropressões foram medidas. Essas medições foram realizadas com piezômetros dotados de pedras porosas grossas e, portanto, o grosso do que se media eram as pressões no ar dos vazios. As medições mostraram, segundo o autor, boa concordância com os valores calculados pela fórmula acima. Nos casos estudados, a compressibilidade (dV/Vo) foi obtida de observações de recalques no campo nas proximidades dos piezômetros, mas Hilf sugere que resultados de ensaios de adensamento podem ser utilizados. A teoria de Hilf pode ser verificada aplicando-a a ensaios. Um exercício desses foi realizado utilizando os ensaios PH (triaxiais isotrópicos) e PC (compressão unidimensional) de Casagrande & Hirschfeld (1960), que apresentam as curvas individuais de tensão axial-deformação (volumétrica nos ensaios PH e axial nos ensaios unidimensionais) e de tensão axial-poropressão dos ensaios. Os valores médios da relação entre a poropressão obtida pela fórmula de Hilf (U est Hilf) e a poropressão medida nos ensaios (Umed) situaram-se entre 20% e 73%, como apresentado na tabela 1. Em todos os ensaios examinados (4 PHs e 4 PCs) as curvas [tensão]x[poropressão estimada pela fórmula de Hilf] situam-se abaixo das curvas [tensão]x[poropressão medida]. Portanto, para o conjunto de ensaios em foco, a fórmula de Hilf subestima as poropressões. Uma vez dispondo dos valores de poro pressão estimadas, realizam-se análises de estabilidade utilizando parâmetros efetivos de resistência. Os parâmetros efetivos são, em geral, obtidos através de ensaios CDsat (triaxiais adensados drenados saturados) ou Cusat (triaxiais adensados não drenados saturados) com medição de pressão neutra, em amostras compactadas em laboratório. A saturação das amostras para os ensaios é feita utilizando contrapressões (ver, por exemplo, Lowe & Jonhson, 1960).
  • 7. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 7 3. Com parâmetros de poropressão – Skempton (1954) e Bishop (1954) definiram parâmetros de poro pressão A e B, para uma solicitação não drenada, dados pela expressão: dU = B [dσ3 + A (dσ1 - dσ3)] onde, dU = variação da poro pressão dσ3 = variação da tensão total principal menor dσ1 = variação da tensão total principal maior A aplicação desta metodologia requer a realização (em amostras representativas) de ensaios triaxiais não drenados com medição de poro pressões nos quais são aplicadas solicitações tão parecidas com as do campo quanto possível. Os parâmetros A e B são obtidos aplicando a fórmula acima aos resultados desses ensaios. Um procedimento nessa linha, utilizado em diversas barragens brasileiras (Cruz & Massad, 1966), consiste em realizar ensaios triaxiais não drenados, com medição de poro pressão, com relação constante entre as tensões principais (K = dσ3 / dσ1 = constante = 0,5 a 0,7), denominados ensaios PN (Casagrande e Hirschfeld, 1960). Desses ensaios são obtidos valores de B = dU / dσ1 (Bishop, 1954). As análises de estabilidade são realizadas utilizando os parâmetros efetivos de resistência e obtendo as poropressões através de B, considerando que dσ1 = dγh. A hipótese de que a tensão principal maior é igual ao peso acima do ponto, se apresenta razoável na maioria dos casos (Costa Filho et al, 1982). Considerando os conceitos expostos acima quanto aos estados aberto e ocluso, os ensaios visando estudar a estabilidade durante a construção deveriam, em princípio, ser livres para drenar o ar para a atmosfera até que a oclusão ocorresse espontaneamente na amostra. Os ensaios PN usualmente utilizados não são abertos para a atmosfera: a amostra fica oclusa (dentro da membrana de borracha) desde o início do ensaio, de maneira que existe uma tendência à geração prematura de poropressões positivas. Este procedimento “fechado”, utilizado nos ensaios PN usuais, embora conservador costuma ser aceitável, porque a maioria dos aterros de grandes barragens no Brasil é compactado do lado seco da ótima e, por conseqüência, as poropressões durante a construção são muito baixas. Mas é importante ressaltar que o procedimento “fechado” constitui-se em procedimento de limite superior que leva às maiores poropressões. Para se ter resultados de limite inferior (menores poro pressões) os ensaios precisam ser do tipo PNA (PN abertos) como sugerido por Sandroni & Silva (1989). Nesses ensaios há uma tubulação ligando os vazios da amostra à atmosfera, a qual só é fechada quando se observa o início do fluxo de água para fora da amostra (pressões positivas na água dos vazios). As figuras 6.6.a e 6.6.b mostram exemplos numéricos de valores de B em ensaios PN e PNA hipotéticos imaginando amostras com grau de compactação 99% e umidade 0,5% abaixo da ótima. As curvas de poropressão após a oclusão foram calculadas usando a fórmula de Hilf (acima apresentada), supondo que a oclusão ocorre no ponto ótimo da curva de compactação e representando o solo como linear elástico com E = 100 kg/cm2 (10 MPa) e 400 kg/cm2 (40 MPa).
  • 8. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 8 Como se vê na figura 6.6.b, para aterro com E = 400 kg/cm2 , a poropressões são pequenas (B < 10%) praticamente para qualquer altura de aterro. Já na figura 6.6.a, onde E = 100 kg/cm2 (um aterro compactado de compressibilidade elevada), as poropressões se apresentam elevadas a partir dos 30 a 40 m de altura de aterro. A figura 6.6.c mostra resultados de ensaios PN e PNA em amostras do mesmo solo compactado em condição igual (Sandroni & Silva, 1989), podendo-se observar a confirmação experimental do que foi exposto acima. No caso geral de campo, em que a drenagem do ar no estado aberto não é perfeita, as poro pressões deverão ficar entre os dois limites representados pelas curvas do ensaio PN e do ensaio PNA. Os conceitos acima expostos serviram como base para o desenvolvimento da metodologia descrita a seguir. 4. Considerando o solo como linear e aplicando os conceitos de estado aberto e ocluso. Sandroni (1985) sugeriu uma metodologia, para estimar as poropressões construtivas, baseada nas seguintes hipóteses: • A relação tensão efetiva-deformação do solo é linear. Em particular, para o caso isotrópico, tem-se D = [variação da tensão isotrópica efetiva] / [deformação volumétrica]; • A oclusão ocorre no grau de aeração (Var/V = n.(1-S)) do ponto ótimo da curva de compactação Proctor Normal; • Não há variação de umidade, ou seja, o carregamento é não drenado para a água; • Antes da oclusão a pressão no ar permanece atmosférica e toda a variação de volume se deve ao ar que escapa para fora do solo; • Após a oclusão, toda a variação de volume se deve à compressão do ar nos vazios, aplicando-se a lei de Boyle. Ou seja, despreza-se a solução do ar na água dos vazios. A aplicação dessas hipóteses na prática é simples. A seguir estão os passos que devem ser seguidos: A. Obter D = δσ`o/(δV/V) em ensaios triaxiais drenados isotrópicos sobre amostras saturadas (por contrapressão) ou em ensaios triaxiais não drenados isotrópicos com medição de poropressão e de variação volumétrica. Se os ensaios forem triaxiais tipo PN com um certo valor de K, considerar σ`o = σ`1 ((1+2K)/3). No caso de utilizar ensaios unidimensionais (adensamento) considerar K = 0,50; B. Obter o grau de aeração de oclusão, (Var/V)ocl, que é igual ao grau de aeração no ponto ótimo da curva de compactação Proctor Normal. Com os valores do peso específico seco máximo (γdmax), da umidade ótima (wot) e da densidade dos grãos (G), o grau de aeração pode ser obtido com as bem conhecidas fórmulas: eot = (G/γdmax) γágua – 1 not = e/(1+e) e, (Var/V)ocl = not (1-Sot) Sot = G.wot/e C. Obter o grau de aeração inicial, que existirá no campo logo após a compactação, (Var/V)c, com as fórmulas de B, para os valores de peso
  • 9. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 9 específico seco e umidade especificados para o aterro. As especificações, em geral, estabelecem grau de compactação (GC= γdc/γdmax) e desvio de umidade (dw = wc-wot) a partir dos quais podem ser fixados um ou mais pares de γdc e wc para cálculo do valor do grau de aeração inicial. Para cada par de γdc e wc selecionado será feito um estudo separado. Se os estudos indicarem poropressões inaceitavelmente altas, poder-se-á até mudar as especificações; D. Comparar o grau de aeração inicial com o grau de aeração na oclusão, para fixar em qual dos dois casos seguintes a situação se insere: CASO 1 - (Var/V)c maior do que (Var/V)ocl CASO 2 - (Var/V)c igual ou menor que (Var/V)ocl E. No CASO 1, as poropressões são calculadas da seguinte maneira: • Poropressão nula até à oclusão que ocorrerá na seguinte tensão: σ`ocl = D . [(Var/V)c - (Var/V)ocl] • Poropressão após a oclusão dada pela fórmula (Sandroni, 1985); δU=[(δσ`o+Patm-M+(δσ`o+Patm-M)2 +4Mpatm)1/2 ]/2-Patm onde: δU=variação da poropressão δσ`o=variação da pressão total, definida como em A Patm = pressão atmosférica (1 kg/cm2 ou 100 kPa) M = D x (Var/V)ocl Neste caso a curva tensão x poropressão terá a forma das curvas C e D da figura 6.4. F. No CASO 2, considerar σ`ocl = zero e calcular δU com a fórmula de E acima, utilizando M = D x (Var/V)c, ou seja, com o grau de aeração inicial previsto para o campo. Neste caso a curva tensão x poropressão terá a forma das curvas A e B da figura 6.4. Esta metodologia, tal como a de Hilf, pode ser verificada aplicando-a a ensaios. A verificação foi feita por aplicação aos mesmos ensaios PH e PC de Casagrande & Hirschfeld (1960) utilizados acima para testar a metodologia de Hilf. Os valores médios da relação entre a poropressão obtida pela aplicação da metodologia (notar que todos os ensaios, por não serem conectados ao ar, caem no CASO 2) e a poropressão medida nos ensaios (Umed) situaram-se entre 41% e 106%, como apresentado na tabela 1. Nos oito ensaios examinados, as curvas [tensão]x[poropressão estimada] situaram-se um pouco abaixo ou praticamente em coincidência com as curvas [tensão]x[poropressão medida]. Portanto, para o conjunto de ensaios em foco, a metodologia em foco conseguiu uma estimativa razoável das poropressões. Sandroni (1985) apresenta alguns casos de campo nos quais esta metodologia resultou em estimativas razoáveis por comparação com poropressões medidas em aterros. A vantagem desta metodologia sobre as demais é permitir que verifique, numericamente, os efeitos de diferentes graus de compactação e desvios de umidade, sobre a estabilidade do aterro na fase construtiva.
  • 10. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 10 Evidentemente, em casos que disponham do tempo e dos recursos, podem ser realizados ensaios tipo PNA, como sugerido por Sandroni & Barbosa, 1988). NOTA: depois de publicado o trabalho, Sandroni & Barbosa tomaram conhecimento dos trabalhos de Pacheco Silva, da década de 60, nos quais os conceitos de estado aberto e ocluso, bem como os ensaios drenados ao ar, foram estabelecidos. 6.2.4 – Casos históricos Existem registrados, no Brasil, dois casos de deslizamento de maciços de terra durante a construção: os de Cocorobó e Açú. Em ambos os casos a ruptura se deu segundo superfície de ruptura bem definida e os maciços eram compostos por solos argilosos de plasticidade alta e compressibilidade relativamente elevada, oriundos de jazidas aluvionares nas quais as argilas se encontravam praticamente saturadas (ou seja, em condição oclusa). Sobre o acidente de Cocorobó encontra-se alguma informação em Mello (1976). A barragem de terra homogênea, com 35 m de altura, sofreu um deslizamento em final de construção, no talude de montante. A seção da barragem, com a posição da superfície de ruptura, está mostrada na figura 6.7.a. O talude médio era por volta de 1:3,3 (V:H). O solo utilizado possuía hot = 20 a 22%, γdmax = 1,62 a 1,68 t/m3 , LL = 57% e LP = 19% e sua compactação teria sido controlada ao redor de 1% abaixo da ótima. Para corrigir o acidente, uma parte do aterro foi removida com trator formando uma ”ensecadeira” de emergência a montante (que veio a funcionar também como berma) e a seção foi reconstruída com talude mais suave do que o original, como indicado na figura 6.7.b. Para o caso de Açú, rompida em 15 de dezembro de 1981, foram desenvolvidos, depois da ruptura, diversos estudos visando apurar as causas e definir o projeto de reconstrução (Nunes & Mello, 1982; Sandroni, 1985 e 1986). A seguir são comentados alguns aspectos desse deslizamento: • A ruptura do maciço principal ocorreu em uma largura de 700 m, com altura de 35 m, com talude médio de 1:3,7 (V:H) e envolveu um volume da ordem de 2 milhões de m3 . A geometria típica dessa ruptura está mostrada na parte superior da figura 6.8, observando-se que ocorreu um movimento rotacional na parte superior e deslocamentos translacionais na parte inferior. A superfície de ruptura (cuja posição exata foi verificada em poços escavados em diversos pontos da massa rompida) desenvolveu-se em sua quase totalidade no material 2, uma argila siltosa de cor cinza escura esverdeada com LL = 55% (40 a 70%) e IP = 32% (20 a 42%). Só na região do pé o movimento envolveu o material 1, cascalho argiloso, o qual, no trecho em que passou a superfície de ruptura, havia sido lançado em água. O grosso dos movimentos levou cerca de 30 minutos, findos os quais tinha ocorrido um deslocamento translacional horizontal da ordem de 25 m na parte inferior tendo-se observado, conforme relato de
  • 11. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 11 testemunhas, os eventos resumidos na parte central da figura 6.8; • Antes da ruptura do maciço principal, ocorreram duas rupturas rotacionais (contíguas e praticamente simultâneas), com 150 m de largura cada, na ensecadeira incorporada cuja altura era de 14 m e cujo talude era 1:1,5 (V:H). Esta geometria está mostrada no detalhe da parte superior da figura 6.8. A retro- análise dessas rupturas, considerando coeficiente de segurança igual a 1 e φ = 0, resulta em Cu = 49 kPa. Aplicando esse valor de Cu à ruptura maior obtém-se coeficiente de segurança praticamente igual a 1. Qualquer outro par de parâmetros de resistência obtido por retroanálise da ensecadeira, considerando φ diferente de zero, se aplicado à ruptura maior, resulta em coeficiente de segurança superior à unidade; • O material argiloso, um aluvião obtido na planície de enchente do rio, possuía, na jazida, elevado grau de saturação e densidade seca semelhante à de Proctor Normal. Essas características de densidade e saturação não foram significativamente modificadas durante as operações de carregamento, transporte, lançamento, espalhamento e “compactação” (com rolo pé de carneiro), de maneira que o solo não foi compactado e sim apenas retrabalhado quando colocado no aterro. Os exames posteriores indicaram a existência, freqüente e disseminada, de laminações na argila. O material argiloso do aterro exibia grau de saturação entre 92% e 95%, porcentagem de compactação entre 96% e 104% e desvio de umidade entre -2% e +1% (em relação ao Proctor Normal); • As especificações construtivas iniciais exigiam desvios de umidade entre -1,5% e +1,5% e grau de compactação médio maior do que 98%. A partir de março de 1981, após a ruptura das ensecadeiras e já com toda a argila abaixo da elevação 38 m colocada, o limite superior de desvio de umidade foi reduzido para +0,5%; • As especificações de projeto recomendaram, ainda, compactar as primeiras três camadas de argila, junto à fundação, com desvio de umidade entre +2% e +4%, facultando a criação de uma superfície preferencial de fraqueza. As observações diretas em poços mostraram, contudo, que a superfície de ruptura passou 2 a 3 metros acima desta região. É provável que o trecho de maior umidade tenha drenado para a areia sotoposta, propiciando que a parte horizontal da superfície de ruptura se desenvolvesse mais acima, na elevação onde a poropressão foi máxima; • As análises da ruptura com tensões efetivas apontaram dois mecanismos igualmente passíveis de terem ocorrido, não sendo possível definir qual prevaleceu (ou se ambos ocorreram simultaneamente em diferentes trechos da superfície de ruptura), a saber: (a) parâmetros efetivos de resistência de pico (φ’ = 19o e c’ = 10 a 35 kPa) e poropressões elevadas (B = 0,4 a 0,5); (b) resistência efetiva reduzida por ruptura progressiva e poropressões baixas ou nulas (ensaios tipo cisalhamento anular resultaram em envoltória residual dada por φ’ = 8o e c’ = 0); • A barragem foi reconstruída removendo-se a parte central da massa deslizada e substituindo-a por cascalho argiloso, como mostrado na parte inferior da figura 6.8. Um caso de plastificação generalizada com "estufamento lateral" é o da barragem de
  • 12. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 12 Otter Brook, mostrado na figura 6.9 (Linell & Shea, 1960). O estado de ruptura é nitidamente demonstrado pelos deslocamentos do pilar de ponte, situado no talude de montante. O acompanhamento piezométrico evidenciou poropressões elevadas, destacando-se os valores de B da ordem de 40 a 60 % e os níveis piezométricos muito acima do nível do aterro. Outros dois casos, das barragens de Truscott e Skiatook, são apresentados por Walker & Duncan (1984). Um outro tipo de maciço terroso que sofreu diversos acidentes dispendiosos durante a construção foram os aterros hidráulicos. Esta técnica, muito em voga na primeira metade do século, inclusive no Brasil, seria hoje em dia econômica em diversas situações. Ela segue sendo utilizada no Leste Europeu. Nas Américas porém, devido a acidentes como o de Alexander, Fort Peck, Necaxa e outros, os aterros hidráulicos foram abandonados. Os acidentes ocorreram por instabilidade dos espaldares de material grosseiro sob os empuxos do material mais fino em estado semilíquido da zona central. Hoje se dispõe de conhecimentos sobre os fenômenos envolvidos (resistência ao cisalhamento, empuxos, liquefação, adensamento, etc.) suficientes para tornar anacrônicas as incertezas de há décadas. 6.3 – ESTABILIDADE PELA FUNDAÇÃO DO MACIÇO DURANTE A CONSTRUÇÃO A ampla maioria dos acidentes por deslizamento durante a construção ocorre em locais com fundações compostas por materiais de baixa resistência, contendo camadas ou superfícies de fraqueza. O caso de Carsington na Inglaterra, figura 6.10, foi explicado por Skempton et al (1985) como devido à existência, na camada de argila amarela superficial da fundação, de paleosuperfícies de ruptura cuja resistência fora reduzida ao valor residual. O deslizamento construtivo da barragem de Waco, figura 6.11, deveu-se à existência de um folhelho de baixa resistência (Pepper), em um trecho da fundação. No Brasil não se conhece registro de instabilidade de barragem de terra grande pela fundação durante a construção. Existe reportado um caso de tendência à instabilidade por cisalhamento pela fundação na barragem Água Vermelha (Silveira et. al., 1978), onde deslocamentos concentrados em planos de fraqueza na fundação basáltica, detectados por inclinômetros, levaram à antecipação da execução e ao re-dimensionamento de bermas anteriormente previstas. O reforço foi adotado como medida preventiva e antes que se caracterizasse uma situação de instabilidade franca. O apoio de barragens e aterros de menor porte em depósitos argilosos moles é responsável por diversas rupturas reportadas na literatura. A concepção de aterros sobre solos moles envolve técnicas específicas que não são abordadas no presente texto.
  • 13. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 13 6.4 – ESTABILIDADE DE ATERROS PERANTE REBAIXAMENTO RÁPIDO 6.4.1 – Aspectos conceituais Os deslizamentos de montante perante rebaixamento, embora graves, em geral, não colocam a barragem sob risco de desastre imediato, pois o nível d'água fica abaixo da crista da massa afetada. Sherard (1953) estudou 12 casos com ruptura deste tipo e concluiu que os acidentes ocorreram durante variações do lago entre o nível máximo e a meia altura da barragem, com velocidades entre 9 e 15 cm/dia e que se constituíram nos rebaixamentos mais rápidos ou de maior amplitude que já haviam ocorrido na obra. Sherard menciona que tais escorregamentos costumam ser profundos e estar associados a fundações de baixa resistência e, que a ocorrência de rupturas superficiais é bem menos freqüente. No Brasil ocorreu justamente um caso de deslizamento superficial, o da barragem de Banabuiú, na qual a capa superficial de rip-rap deslizou em um trecho no qual a compactação do solo sob o rip-rap, próximo à face externa do maciço, foi deficiente. Convém notar que, embora não se constituindo em ameaça imediata de desastre, os escorregamentos de montante costumam implicar em despesas consideráveis, em atrasos e em inconveniências graves para a operação da obra. A estabilidade do talude de montante perante rebaixamento depende das poropressões que existirão no maciço argiloso após o rebaixamento. A estimativa dessas poropressões pode, em princípio, ser feita a partir dos valores de poropressão existentes antes do rebaixamento (obtidos da rede de fluxo em regime permanente, como mostrado na figura 6.12, equação [1]) somando-se algebricamente a variação de poropressão, ∆U, induzida pelo rebaixamento (figura 6.12, equação [2]). A situação de fluxo permanente pode levar muito tempo para se instalar em aterros constituídos por solos finos. Considerações teóricas simples utilizando a lei de d`Arcy (Vaughan, 1974) podem ser utilizadas para mostrar que o regime de percolação permanente pode levar vários séculos para se desenvolver em um aterro argiloso compactado. Mesmo em solo siltoso, podem ser necessárias várias décadas. O valor de ∆U que ocorre por causa do rebaixamento rápido depende de diversos fatores, a saber:
  • 14. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 14 1. da variação não drenada de U causada pelas variações das tensões totais induzidas pelo rebaixamento. A variação de tensões totais perante rebaixamento compreende uma diminuição da tensão principal maior e uma diminuição maior da tensão principal menor, de modo que a tensão cisalhante aumenta. Além de se estimar as variações de tensões totais, tem-se que dispor de parâmetros de poropressão (tipo A e B de Skempton (1954), por exemplo) relacionando-as com as variações de poropressão para o tipo de solicitação em pauta; 2. da drenagem durante o rebaixamento, que é governada pela relação entre a velocidade de rebaixamento do lago (VRR) e a permeabilidade do maciço (k). Os trabalhos de Reinius (1948 e 1954) mostram que a questão é adequadamente representada pelo parâmetro adimensional k/(n.VRR), onde n é a porosidade do maciço. Valores deste parâmetro inferiores 2,5 indicam uma situação “não drenada”, isto é, na qual o nível de água do maciço permanece muito acima do nível de água rebaixado do lago. Já valores de k/(n.VRR) maiores do que 25 correspondem às situações “drenadas”, ou seja, aquelas nas quais o nível de água do maciço desce praticamente junto com o do lago. A figura 6.13 mostra uma relação aproximada entre a velocidade de rebaixamento e a permeabilidade, indicando as zonas drenadas e não drenadas, segundo os critérios acima. Para as situações intermediárias, Casagrande (ver Sherard et al, 1963, pgs. 375 e 376) desenvolveu uma metodologia aproximada que permite determinar a posição do nível de água no maciço em qualquer tempo “t” após rebaixamento total e instantâneo. É de se ressaltar a natureza muito aproximada das considerações teóricas acima apresentadas; 3. do estado em que o solo se encontrava antes do rebaixamento, o qual pode ser ocluso ou saturado. O simples estabelecimento da rede de percolação garante que o solo estará no estado ocluso. Nos maciços de maior permeabilidade (arenosos) o fluxo pode “lavar” o ar dos vazios porque a capilaridade é baixa. Sherard et al (1963, pg 246) sugerem que em maciços com permeabilidade maior do que 1x10-4 cm/s (100 ft/year), o fluxo, provavelmente, lavará todo o ar dos vazios e o solo ficará saturado. Nos maciços de menor permeabilidade (argilosos) a capilaridade impedirá que o fluxo leve o ar dos vazios e a saturação só será atingida se o solo tiver sido pressurizado até níveis que dissolvam o ar dos vazios. Sabe-se, da prática em laboratório (ver, por exemplo, Lowe & Johnson, 1960), que são necessárias pressões elevadas na água dos poros para saturar os vazios de um solo argiloso (digamos, 2 kg/cm2 , para um solo do lado úmido da ótima, a 6 a 8 kg/cm2 , para um solo do lado seco). Assim, no interior da porção de montante de um aterro argiloso durante a operação, haverá, no caso geral, pontos saturados (os submetidos às poropressões mais elevadas) e pontos oclusos (parcialmente saturados) como indicado esquematicamente na parte superior da figura 6.14; 4. da dissipação ou equalização das pressões neutras durante o rebaixamento no caso dos maciços em que prevalece uma condição “não drenada”. Este fator não costuma ser de grande importância porque, se a taxa de rebaixamento é rápida o suficiente para que a situação seja não drenada, ela
  • 15. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 15 será rápida também em comparação com o coeficiente de adensamento aplicável ao caso. Visando investigar os valores de ∆U em laboratório, Cruz (1973, 1996) realizou uma série de ensaios especiais em amostras de quatro diferentes locais, compactadas por pisoteamento próximo às condições ótimas de Proctor Normal. Os ensaios, realizados em células triaxiais que podiam controlar as tensões principais e a pressão neutra (por contrapressão), procuravam simular toda a história de tensões de elementos de solo situados no corpo de uma barragem para as situações de construção, de percolação com reservatório cheio e de rebaixamento. Tal como Lowe & Karafiath (1959) e Lowe (1967), Cruz escolheu cinco pontos situados na base de lamelas de uma hipotética análise de estabilidade e obteve as tensões principais nesses pontos através de hipóteses simplificadoras razoáveis. As poropressões construtivas foram calculadas considerando B = 0,12 e as poropressões de regime permanente de fluxo e de fluxo perante rebaixamento foram obtidas de redes de fluxo. Quanto à fase de ruptura dos ensaios, Cruz optou por três procedimentos: A – pressão neutra no início da fase de ruptura igual à da rede de rebaixamento e ruptura provocada pela redução da tensão confinante, registrando- se as pressões neutras; B – pressão neutra no início da fase de ruptura estabelecida livremente no estágio anterior do ensaio (correspondente ao lago com nível máximo) e ruptura provocada pela redução da pressão na câmara registrando-se as pressões neutras; C – pressão neutra durante a fase de ruptura mantida igual à da rede de fluxo de rebaixamento e ruptura provocada pela redução da pressão confinante. As principais conclusões desse estudo experimental foram as seguintes: (a) a envoltória efetiva para o caso de rebaixamento rápido se apresentou um pouco mais alta do que a envoltória convencional (obtida em ensaios triaxiais CD ou CU com medição de poropressões, com compressão axial e velocidade controlada). Os resultados sugerem c` algo como 5 a 20 kPa mais alto e φ` algo como 1 a 2 graus mais alto; (b) excluindo o procedimento de ruptura C (que impõe a poropressão), os excessos de poropressão observados nos ensaios foram menores (entre 60% e 80%) do que os da rede de rebaixamento. 6.4.2 – Metodologias de análise A determinação do valor de ∆U é, como visto acima, complexa e sujeita a grande incertezas. Por esta razão (principalmente), alguns projetistas de barragens de terra preferem evitar métodos que exijam a estimativa da poropressão. Resulta que as análises de estabilidade para o caso de rebaixamento rápido são enfocadas de três maneiras, quais sejam: (a) metodologias que utilizam envoltórias de resistência obtidas diretamente de ensaios; (b) metodologias que utilizam envoltória de tensões efetivas e valores de poropressões obtidos de ensaios triaxiais não drenados e, (c) metodologias que fazem análises de estabilidade com a envoltória efetiva e com valores estimados de poropressões. Cada um desses partidos é examinado separadamente a seguir. Lowe & Karafiath (1959) e Lowe (1967) apresentam metodologia segundo a qual a envoltória deve ser obtida, em termos de tensões totais, com ensaios triaxiais
  • 16. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 16 adensados não drenados, cujas tensões da etapa de adensamento são estimadas para a situação de reservatório cheio e regime permanente de percolação instalado. Essa estimativa de tensões é feita, para algumas das lamelas, por equilíbrio limite, considerando os parâmetros efetivos de resistência e as poropressões de percolação. O adensamento das amostras pode ser anisotrópico e a trajetória de tensões deve ser compatível com o que ocorre durante o rebaixamento no ponto em foco. Obtida a envoltória, realiza-se a análise de estabilidade (em termos de tensões totais) considerando o nível rebaixado do lago. Johnson (1975) apresenta uma metodologia utilizada pelo Corps of Engineers, que consiste em realizar análises de estabilidade com o reservatório rebaixado e com uma envoltória de resistência bi-linear constituída pela envoltoria triaxial adensada- drenada (CD) para baixas tensões e, pela envoltória adensada-não drenada (CU) para tensões mais altas. Wilson & Marsal (1979) também recomendam este procedimento. As análises são realizadas em termos de tensões totais, isto é, sem considerar as poropressões. A idéia básica da utilização da envoltória efetiva no trecho inicial é evitar a consideração implícita das poropressões negativas que, sabidamente, ocorrem nos solos compactados sob níveis baixos de tensão. Johnson ressalta que o uso dessa envoltória bi-linear pode levar a excesso de conservadorismo se o solo impermeável está muito perto do talude de montante, pois, nesse caso, costuma-se encontrar superfícies críticas rasas, paralelas ao talude e com coeficiente de segurança baixo. As metodologias que utilizam envoltória de tensões efetivas e valores de poropressões obtidos de ensaios, requerem a realização de estudos de percolação e de ensaios especiais, como explicado anteriormente (Cruz, 1973, 1996; Lowe & Karafiath, 1959; Lowe, 1967). A utilização de partidos com valores estimados da poropressão implica em fazer hipóteses simplificadoras para a determinação de ∆U. Bishop (1952 e 1954) recomenda usar B = 1, ou seja, ∆U = ∆γh, onde ∆γh é a variação de tensão devida à redução de peso na vertical acima do ponto (que, em muitos casos, é praticamente igual à variação da tensão principal maior). No cálculo de ∆γh deve ser levado em conta a variação da coluna de água e a variação de peso específico de solo cujo nível de água tenha sido rebaixado. O valor ∆U assim obtido deve ser deduzido da poropressão obtida da rede de fluxo de regime permanente existente antes do rebaixamento. O valor de ∆γh é, evidentemente, negativo implicando em uma redução da poropressão. A análise de estabilidade é conduzida com os parâmetros efetivos de resistência e com as poropressões obtidas. Morgenstern (1963) apresenta ábacos para o cálculo expedito da estabilidade a partir da hipótese de Bishop. A sugestão de Bishop é deliberadamente aproximada, procurando constituir-se em envoltória prudente e não levando em conta a existência de zonas não saturadas (embora Bishop estivesse perfeitamente consciente do fato e o tenha mencionado no supracitado trabalho de 1954). A reação da poropressão ao rebaixamento será diferente nos trechos saturados e nos trechos com ar ocluso. Nos pontos em estado ocluso o ar dos vazios poderá expandir sob a tendência à diminuição da
  • 17. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 17 poropressão e, assim, o valor de ∆U tenderá a ser pequeno (ou nulo). Nos pontos saturados a queda de poropressão será mais acentuada pois a tendência à expansão aliviará significativamente a poropressão. A quantificação, no entanto, é muito difícil devido aos aspectos mencionados anteriormente e, sua confirmação só poderia ser justificada à luz de medições em diversas obras (dados de que não se dispõe). Quando se utiliza a envoltória efetiva para superfícies rasas, em geral, costuma-se encontrar coeficientes de segurança baixos. Quando isto ocorrer, convém exercer julgamento em cada caso, para evitar abater desnecessariamente o talude de montante da barragem. Deve-se lembrar que, junto à periferia, a drenagem (ou a dissipação) são muito rápidas. Também a ser considerado é o fato de que para baixos níveis de tensão a envoltória tende a ser curva, podendo ser representada por parâmetros de resistência mais altos do que para tensões mais elevadas. Há muitos casos em que as rupturas rasas podem ser tratadas com análise tipo talude infinito, considerando fluxo horizontal para fora do talude e parâmetros adaptados para o caso. Em outros casos, revela-se econômico aumentar a espessura de material granular que capeia o talude. Para concluir, sugere-se a seguinte metodologia (com tensões efetivas e estimativa teórica das poropressões): (a) utilizar parâmetros efetivos de resistência; (b) a distribuição de poropressões deve ser obtida partindo da rede de fluxo permanente com reservatório cheio e aplicando ∆U = 0 à zona oclusa e ∆U = ∆γh à zona saturada; (c) as zonas oclusa e saturada devem ser definidas a partir das pressões da rede de fluxo escolhendo-se valor de contrapressão de saturação prudente (um pouco mais baixo do que o médio esperável); (d) deve-se estudar em separado as superfícies de ruptura mais rasas. De qualquer forma, é de se ressaltar que a questão de estabilidade de taludes de montante de barragens de terra perante rebaixamento rápido é um aspecto que se ressente profundamente de uma maior quantidade dados de observação direta em obras. 6.4.3 – Casos históricos Existem poucos relatos publicados sobre medições de poropressões, em aterros argilosos, durante rebaixamento rápido. Um dos raros exemplos é o da barragem de Alcova (Glover, Gibbs & Daehn, 1948). Este caso, apresentado na parte inferior da figura 6.14, com taxa de rebaixamento da ordem de 1 m/dia e depleção de 38 metros, parece confirmar que ∆U é pequeno ou nulo na zona oclusa e elevado na zona saturada. Em outro caso encontrado na literatura, o do dique Sir Adam Beck (Bazzet, 1961), as alturas de água são pequenas (cerca de 8 metros) de maneira que apenas a zona oclusa deve ter ocorrido, não havendo pressões suficientes para induzir a saturação. Coerentemente, as variações de poropressão durante o rebaixamento foram pequenas (valores de B entre 0 e 0,5). Um terceiro caso encontrado na literatura, o da barragem de Lower Glenn Shira (Paton & Semple, 1960), além de ter alturas de água pequenas (da ordem de 9 metros) parece padecer de problemas com a instrumentação. Em suma, as parcas evidências disponíveis sugerem que considerar ∆U = 0 é conservador e considerar ∆U = ∆γh é
  • 18. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 18 uma hipótese razoável mas que pode ser contra a segurança. 6.5 – ESTABILIDADE COM RESERVATÓRIO CHEIO Os escorregamentos do talude de jusante de barragens de terra com reservatório cheio são acidentes extremamente graves por terem tendências degenerativas, isto é, uma vez ocorrido o deslizamento a massa remanescente costuma se apresentar mais instável ainda e o processo volta a ocorrer até que advenha um desastre. A técnica atual, de projeto, construção e controle, permite a virtual eliminação de eventos deste tipo. Os acidentes reportados são antigos (anteriores à década de 60 do século passado). Não foi possível encontrar nenhum caso brasileiro de ruptura por cisalhamento do talude de jusante de barragem em operação. 6.6 – SUBPRESSÕES EM ESTRUTURAS DE PESO DE CONCRETO 6.6.1 – Aspectos Conceituais A estabilidade das barragens de peso concreto (ou seja, barragens de concreto cuja estabilidade estrutural não depende de armaduras de aço) deve ser calculada de forma a garantir segurança quanto ao deslizamento, quanto à capacidade de carga e quanto ao tombamento, tal como qualquer muro de peso. A grande diferença é a carga de água e a subpressão que ela exerce sob a barragem, tanto na superfície de apoio do concreto como em qualquer plano de fraqueza que exista no terreno (rocha, em geral) de fundação. Até o final do século 19 o assunto de subpressões em barragens de peso estava pouco explorado, não existindo conceituações claras para projeto nem procedimentos consagrados para utilização nas obras. Diversos acidentes importantes exigiram atenção para o assunto e resultaram em muito estudo e experimentação na primeira metade do século 20. A partir da década de 30 as subpressões na base de diversas barragens de concreto nos EUA foram medidas, principalmente pelo USBR (United States Bureau of Reclamation), pela TVA (Tenessee Valley Authority) e pelo Corps of Engineers. No início da década de 50 havia sido acumulado um considerável volume de dados e o assunto já se encontrava em discussão em termos semelhantes aos atualmente tidos como válidos. No clássico trabalho do Subcommittee on Uplift in Mansonry Dams (ASCE, 1952) a maioria dos membros optou por considerar 100% de “area ratio” (% da área em que atua a subpressão) e aplicar um “intensity factor” (um fator de redução do diagrama máximo de subpressão) “obtido a partir de uma detalhada análise da geologia e das condições de fundação da barragem em questão”. Hoje em dia, a maioria dos projetos enfrenta a questão da subpressão sob barragens de concreto utilizando drenos a partir de galeria(s) construída(s) na base
  • 19. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 19 do maciço de concreto e implantando cortina(s) de injeções para reduzir as vazões nos drenos. Tanto a posição como a profundidade das galerias, dos drenos e das injeções são definidas a partir de detalhado estudo das condições geológicas do maciço em que se apoia a barragem. Em muitos casos a água dos drenos é coletada em nível inferior ao nível de água externo de jusante e removida por bombeamento. Os drenos possuem diâmetro entre 5 e 7,5 cm e seu espaçamento é, em quase todas as obras Brasileiras, igual a 3 m. A cortinas de injeções possuem tipicamente três linhas paralelas ao eixo da barragem, executando-se as externas (montante e jusante) primeiro e a central por último. Em cada linha, cuja distância inicial entre furos é tipicamente entre 12 e 6 m, podendo chegar aos 3 m, costuma- se alternar os furos diminuindo gradativamente o espaçamento à luz das tomadas de calda observadas. Diversos dos aspectos envolvidos e uma detalhada análise sobre a geometria e os princípios de projeto utilizados em barragens Brasileiras podem ser encontrados em Guidicini & Andrade (1983). A figura 6.15, extraída do trabalho de Casagrande (1961), mostra a distribuição de subpressões em algumas situações hipotéticas. A distribuição de subpressão para o caso de fundação homogênea e nenhum tratamento (ou seja, sem drenos e sem injeções), denominada de “subpressão plena” está indicada por linha tracejada em todos os esquemas desta figura. Cabem os seguintes comentários: caso (a) mostra uma situação de fundação homogênea, com injeções e sem drenagem. Vê-se que a injeção sozinha tem algum efeito de redução das subpressões, por criar uma barreira de permeabilidade mais baixa. A figura 6.16 (ASCE, 1952) mostra as subpressões em 3 barragens (Willwood, Wheeler e Neye) com injeções e sem drenagem e as compara com as médias das barragens com drenos e com injeções do USBR e da TVA. Vê-se que as subpressões, para os casos em que só havia injeções, são mais altas do QUE nos casos com drenos porem, são consideravelmente mais baixas do que a situação de subpressão plena; o caso (b) mostra uma situação com drenos perfeitamente eficientes cuja saída (boca dos drenos na galeria de drenagem) se encontra em nível mais baixo do que o nível de água de jusante. A distribuição de subpressão para este caso hipotético é uma reta entre montante e a linha de drenos e é nula entre este ponto e o paramento de jusante. A realidade é diferente porque a linha de drenos nunca é perfeitamente eficiente. A figura 6.16 mostra as médias das subpressões observadas em 8 barragens do USBR e 4 barragens da TVA, todas dotadas de linhas de injeções e drenos. Persistem, portanto, subpressões a jusante da linha de drenos, como esquematicamente indicado no caso (c). Daí resultaram as muito divulgadas regras de subpressão do USBR e da TVA, mostradas na figura 6.17; os casos (d), (e) e (f) mostram situações hipotéticas nas quais os drenos não penetram toda a camada permeável de uma fundação homogênea ou não alcançam a camada de maior permeabilidade de uma fundação heterogênea. Estes são alguns exemplos visando ilustrar casos de heterogeneidade da fundação. Evidentemente, uma quantidade praticamente ilimitada de exemplos poderia ser imaginada.
  • 20. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 20 A figura 6.18 mostra o caso (Abraham & Lundim, 1976) da barragem Wheeler (que é uma das 3 barragens sem drenos da figura 6.16) na qual os drenos foram colocados com a obra em operação. Pode-se observar a expressiva queda da subpressão depois da instalação dos drenos. Outro caso interessante (Rhodes & Dixon, 1976), que ressalta a importância do espaçamento entre drenos para a eficiência do sistema de drenagem, é o da barragem de Chief Joseph mostrado na figura 6.19. Observa-se a queda das subpressões nesta barragem (que entrou em operação em 1954) na qual o espaçamento dos drenos foi diminuído em duas ocasiões: de 6 para 3 m, em 1959, e para 1,5 m, em 1961. A figura mostra que, 1 ano após a diminuição do espaçamento dos drenos para 3 m, as subpressões voltaram a subir. Os autores relatam (em 1976) que depois que o espaçamento foi diminuído para 1,5 m a subpressão se manteve baixa. 6.6.2 – Definição das subpressões em projeto A definição do diagrama de subpressões a utilizar em cada caso deve se basear, na prática, em precedentes e em avaliacões geológicas. Não existe ainda, apesar do muito que foi estudado e escrito sobre o assunto, um conjunto de estipulações que permitam ao projetista definir de maneira padronizada o diagrama de subpressões nas situações práticas mais complexas. No que se segue são enfocados alguns aspectos desta questão. Nas acima mencionadas barragens do TVA e do USBR havia uma única galeria próxima do paramento de montante (dele distante de cerca de 20% da largura da base). A figura 6.17 mostra as indicações utilizadas por essas duas entidades para considerar a subpressão em casos desse tipo. A maioria dos casos práticos não é tão simples quanto o dessa figura, pelos seguintes motivos: a superfície de maior risco de deslizamento, em muitos casos, não coincide com o contato entre o concreto e a rocha. Em geral, o maior risco de deslizamento reside em superfície(s) de fraqueza no interior do terreno; em algumas obras utiliza-se mais do que uma galeria de drenagem ou utiliza-se galeria de drenagem no interior da rocha de fundação; em diversas obras a superfície de contato entre a estrutura de concreto e a fundação apresenta degraus e diferenças de nível, tanto transversal como longitudinalmente. O trabalho de Cruz & Barbosa (1981) sugere, com base em subpressões observadas em diversas obras, critérios de projeto para algumas situações práticas mais complicadas, uma das quais está mostrada na figura 6.20. Andrade (1982) procurou encontrar expressões analíticas para determinar o diagrama de subpressões em função da geometria da linha de drenos. Outro dois aspectos que costumam vir à tona quando se está definindo o diagrama de subpressões em projeto, são os seguintes:
  • 21. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 21 a ocorrência ou não de “trincas de tração” no pé de montante, que permitiriam a comunicação integral da pressão de montante abaixo da superfície. O critério da figura 6.20, por exemplo, considera que isto ocorre. Em algumas obras foi utilizada laje a montante (ligada à estrutura por junta estanque articulada) para fazer frente a este (suposto) problema. Encontram-se na literatura diversos casos de observações de obras atestando que esta “trinca de montante” não ocorreu; as trincas e fissuras de contorno e a relaxação de descontinuidades da rocha, causados pelas detonações realizadas para as escavações. Guidicini & Andrade (1983) estimam que, em basaltos, essa faixa superficial tenha espessura da ordem de 2 a 3 m e permeabilidade dezenas (e até centenas) de vezes maior do que a do resto do maciço rochoso. No caso geral devem ser realizados estudos detalhados da geologia da fundação e, à luz desses estudos, da geometria da obra e das experiências disponíveis, devem ser fixados os níveis das galerias, a posição, a profundidade e a geometria das linhas de drenos e das cortinas de injeção. Como parte dos estudos, alguns projetistas, alem de montar modelos geológicos da fundação, realizam análises teóricas numéricas de subpressão. Seja qual for a postura de projeto e a profundidade ou sofisticação dos estudos realizados, deve-se sempre: Instalar piezômetros em pontos representativos do contato e da fundação e em pontos sobre os quais tenham pairado dúvidas no projeto. Os piezômetros devem ser acompanhados até que se assegure que as subpressões que ocorrem são inferiores àquelas utilizadas no projeto. Caso isto não aconteça, novos drenos e injeções podem se fazer necessários. Os piezômetros devem ser acompanhados por toda a vida da obra e substituídos quando apresentarem defeito; Medir as vazões nos drenos individualmente e manter histórico. Uma queda de vazão um certo dreno, em relação às vazões nele observadas para os mesmos níveis de reservatório, pode significar que há necessidade de limpar ou substituir este dreno. Uma queda de vazão continuada e lenta em um conjunto de drenos pode resultar da natural colmatação dos caminhos de percolação ou da vedação por siltagem do terreno a montante da barragem. No entanto, se esta queda de vazão vier acompanhada de uma elevação da subpressão, particular atenção deverá ser dada ao trecho; Garantir que as galerias permitirão acesso para equipamentos de perfuração e terão dimensões que permitam as perfurações e operações necessárias para instalação de novos drenos ou de injeções adicionais. Em suma, o sistema de drenagem das subpressões de barragens de concreto tem vida útil limitada e requer acompanhamento e manutenção persistentes.
  • 22. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 22 6.6.3 – Casos de rupturas por subpressão Está apresentado na figura 6.21(a) o caso da barragem de Bouzey, na França. Completada em 1880, esta barragem sofreu um acidente estrutural em 1884 e, após reparos, sofreu desastre em 1895. O primeiro acidente consistiu numa separação entre a cortina incorporada de montante e o corpo barrante, situado a jusante da cortina (ponto 2 da figura). Os reparos consistiram em lançamentos de material impermeabilizante a montante e na construção de um apoio no pé de jusante. A segunda (e desastrosa) ruptura se deu por cisalhamento através do corpo da barragem (ponto 4 da figura). A análise de acidentes como este trouxe à baila as questões de pressão de água no interior e na base de estruturas de concreto. O caso da barragem de Gleno, construída e desastrosamente rompida em 1923 na Itália, está apresentado na figura 6.21(b). A barragem foi originalmente concebida como uma estrutura maciça de concreto (barragem de peso) e a correspondente base de apoio foi construída. Sobre a base, porém, foi erigida uma barragem de arcos múltiplos, muito mais leve, sem que providenciassem o correspondente indispensável alívio de subpressões. A barragem rompeu bruscamente por tombamento no primeiro enchimento. Como se vê na figura 6.21(b) a resultante das forças incidiu praticamente na aresta externa da base de apoio. Um dos mais impressionantes e traumáticos desastres que já ocorreram em barragem de concreto foi o de Malpasset (ICOLD,1974) ocorrido em 1959 na França, cujos principais elementos estão mostrados na figura 6.22. Trata-se de uma barragem em arco, com 66 metros de altura máxima e 222 metros de coroamento construída em 1954. A barragem foi destruída de maneira quase instantânea em 2 de dezembro de 1959 restando apenas uma parte do seu lado direito. Do lado esquerdo a barragem foi totalmente destruída, observando-se uma grande indentação (largura 40 metros, profundidade 30 metros) em forma de diedro na rocha de fundação. Partes do concreto do trecho destruído, ainda perfeitamente solidárias à rocha de fundação, foram encontradas a centenas de metros a jusante. O acidente se deveu a uma conjugação de fatores cuja atuação simultânea não foi prevista. Havia uma falha, cujo plano se constituía numa superfície impermeável, praticamente perpendicular ao vale mergulhando cerca de 45 graus de jusante para montante. Agravando a presença da falha, a estrutura de foliação, contendo planos de fraqueza, mergulhava de montante para jusante com disposição praticamente paralela à tangente do arco na ombreira esquerda. O conhecimento destas estruturas geológicas, porém, não bastaram para que se caracterizasse o risco de ruptura que existia, pois as forças impostas pela barragem tenderiam até mesmo a estabilizar o diedro formado por elas. Porém os efeitos físicos se associaram de maneira muito desfavorável. As estruturas de foliação fizeram com que as forças induzidas pela barragem ao invés de se espalharem pela massa de rocha, ficassem concentradas em um prisma de espessura constante transmitindo compressões elevadas até grande profundidade. Tais pressões fizeram com que a massa de gnaisse, já de baixa permeabilidade, se comportasse como uma cortina impermeável criando uma barreira sob a qual passou a atuar a pressão hidrostática total de montante. Deu-se então o levantamento do diedro de rocha de fundação e a ruptura catastrófica do conjunto. Os pedaços de concreto da barragem aderidos à rocha de
  • 23. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 23 fundação encontrados a jusante, evidenciam que a ruptura não ocorreu na superfície de contato concreto-rocha. No Brasil ocorreu o desastre no vertedouro da barragem de Santa Helena, na Bahia, devido à subpressão, cujos principais elementos estão mostrados na figura 6.23. A laje do rápido do vertedouro era simplesmente apoiada sobre um aterro arenoso em comunicação com o nível d'água a jusante (através do próprio sistema de drenagem da laje). A ruptura adveio quando, para uma certa vazão (a maior registrada nos cerca de 5 anos de vida da barragem, correspondente à maior abertura das comportas), o ressalto hidráulico fez com que a subpressão fosse superior ao peso da laje e da lâmina d'água que passava sobre ela. A laje foi levantada e removida (ver detalhe na parte inferior da figura). A areia escapou e o vertedor colapsou para o interior da cavidade assim formada. É interessante notar que o aterro da barragem de terra de Santa Helena, homogêneo e com altura de cerca de 18 m, se apoiava em sedimentos argilosos moles (ver seção AA na figura 6.23). O projeto da barragem de terra foi cercado de grandes cuidados: foram utilizados drenos verticais aceleradores de recalques e a construção do aterro foi realizada em etapas. A obra foi instrumentada com piezômetros e medidores de recalque. Os resultados de piezômetros foram utilizados para liberar as etapas de construção do aterro. Recalques de até 2 m foram registrados no aterro durante a construção (ver planta, figura 6.23) e foram observados diversos trincamentos. O resultado final foi bem sucedido, não se registrando rupturas durante a construção, nem vazões excessivas a jusante durante a operação. É de se imaginar que a complexidade geotécnica do aterro tenha distraído a atenção dos projetistas dos perigosos “detalhes” do vertedouro. Recentemente (2000) a barragem de Santa Helena foi recuperada, construindo-se novo vertedouro e aproveitando-se praticamente todo o aterro original. 6.7 – CARGAS EM JUNÇÕES ENTRE ATERROS E ESTRUTURAS DE CONCRETO O valor do esforço exercido por aterros compactados sobre estruturas é uma questão complexa. Alem das incertezas geotécnicas usuais associadas à escolha de parâmetros, homogeneidade, representatividade, etc dois aspectos contribuem particularmente para a complexidade: (a) o fato da estrutura, em geral, não se deslocar o suficiente para que se instale uma situação de plastificação (ativa ou passiva), e (b) a influência das diferenças de geometria e procedimentos construtivos (equipamentos e técnicas de compactação, seqüência executiva, forma e natureza da estrutura e da fundação, etc). No processo de projeto de uma barragem que contenha junção com estrutura, o engenheiro geotécnico é, em geral, solicitado a definir o diagrama de empuxo (ou seja, a distribuição de tensões) exercido pelo aterro compactado sobre a estrutura de concreto. Uma situação freqüente são as junções entre aterros e muros com faces verticais ou de inclinação muito íngreme, de estruturas tais como: barragens de concreto, vertedouros, eclusas, casas de força, etc. Reconhecendo as dificuldades conceituais
  • 24. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 24 envolvidas e aproveitando a disponibilidade de uma quantidade considerável de medições de tensões com células de carga em obras Brasileiras e estrangeiras, foi dado um tratamento empírico à questão. Através de uma seleção em que se isolou as medições julgadas confiáveis (segundo critério em parte baseado no histórico das medições e em parte no bom senso) foram reunidas medições em 63 células de carga de 11 obras com aterro argiloso (Gould,1971; Wilson & Pimley, 1971; Vaughan & Kennard, 1972; Jones & Sims, 1975; Mellios & Sverzut, 1975; Nakao, 1981; Viotti, 1980; Silveira et al, 1980; Eletronorte, 1988; Brandt, 1985) e medições de 32 células de carga de 6 obras nas quais o aterro era arenoso (Muhs, 1947; Gould, 1971; Broms & Ingelson, 1971 e 1972; Coyle & Butler, 1974). Em nenhum dos casos havia nível de água ou poropressões significativas no interior dos aterros. Foram incluídos casos nos quais os muros possuíam inclinações entre a vertical e 8:1 (V:H). Aos dados referentes a aterros arenosos foi ajustada, de forma a se constituir como uma envoltória, uma relação entre tensão total horizontal (σh , em kPa) e a profundidade (z , em metros) dada por: Profundidade z entre zero e 3,5 m - σh = 13,5 + 9z Profundidade z entre 3,5 e 5,0 m - σh = 45 Profundidade z maior do que 5,0 m - σh = 9z A relação envoltória ajustada aos dados de aterros argilosos foi a seguinte: Profundidade z entre zero e 3,5 m - σh = 18 + 12z Profundidade z entre 3,5 e 5,0 m - σh = 60 Profundidade z maior do que 5,0 m - σh = 12z Cabem os seguintes comentários sobre as distribuições de tensão horizontal, acima apresentadas: Elas são puramente empíricas e, nesta medida, prestam-se apenas como prescrições preliminares a serem utilizadas com tirocínio. O simples fato delas não levarem em conta os parâmetros geotécnicos das diferentes areias ou argilas é uma evidência desse caráter puramente empírico; Elas se baseiam em situações em que a água estava ausente (fase de construção dos aterros). As pressões de água que vierem a ocorrer na junção, no caso geral, somar-se-ão a elas (ver, por exemplo, Herkenhoff & Dib, 1986), aqui também sendo necessário exercer bom julgamento. Outra situação comum de projeto é a estimativa de empuxos de aterros sobre galerias. As galerias de concreto, muito mais rígidas do que os aterros que as envolvem, constituem-se em inclusão rígida e, por conseqüência, ocorre concentração de tensões em suas imediações. A tensão sobre o topo da galeria fica mais alta do que a tensão média esperável (γh) e as tensões laterais ficam menores do que as que existiriam se a galeria ali não estivesse (Koγh). Os cálculos costumam ser conduzidos com estudos bidimensionais utilizando métodos numéricos como o dos elementos finitos e considerando seção normal à galeria. Um procedimento aproximado para considerar a condição tri-dimensional do problema foi proposto por Cavalcanti & Sandroni (1992).
  • 25. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHAM, T.J. & LUNDIN, L.W. (1976), “TVA`s design practices and experiences in dam and foundation drainage systems”, 12o ICOLD, Q.45 R.7, Mexico ALMEIDA, M.S.S. DE (1996) “Aterros sobre solos moles - Da concepção á avaliação do desempenho”, Editora UFRJ, Rio de Janeiro. ANDRADE, R.M. (1982), “A drenagem nas fundações das estruturas hidráulicas”, Engevix, Rio de Janeiro ASCE (1952) “Uplift in mansonry dams – Final report of the subcommittee on uplift in mansonry dams of the committee on mansonry dams of the power division, 1951”, Transactions, Paper No. 2531 ASCE (1967) "Current United States Practice on the Design and Construction of Arch Dams, Embankment dams and Concrete Gravity Dams", American Society of Civil Engineers. BAZZET, D.J. (1961), “Written discussion”, Conf on Pore Pressure and Suction in Soils, ICE, Butterworks, London, pg 134. BISHOP, A.W. (1952), “The stability of earth dams”, Tese de Doutorado, Imperial College, Universidade de Londres BISHOP, A.W. (1954), “The use of pore pressure coefficients in practice”, Geotechnique, Vol. 4 BISHOP, A .W. & BLIGHT, G.E. (1963), “Some aspects of effective stress in saturated and partly saturated soils”, Geotechnique, Vol. 13 BRANDT, J.R.T. (1985), “Behaviour of soil-concrete interfaces”, Ph.D. Thesis, University of Alberta, Edmonton, Canada. BRAHTZ, J.H.A., ZANGAR, C.N. & BRUGGEMAN, J.R. (1939), “Notes on analytical soil mechanics”, Technical memorandum No. 592, USBR – citado por Hilf (1948) BROMS, B.B. & INGELSON, I. (1971), “Earth pressure against the abutment of a rigid frame bridge”, Geotechnique, Vol 21, No. 1. BROMS, B.B. & INGELSON, I. (1972), “Lateral earth pressure on a bridge abutment”, 5a Conf Européia de Mec Solos, Madrid. CASAGRANDE, A. (1961), “Control of seepage through foundations and abutments of dams”, Primeira Aula Rankine, Gotechnique. CASAGRANDE, A & HIRSCHFELD, R.C. (1960), “Stress-deformation and strength characteristics of a clay compacted to a constant dry unit weight”, Research Conf on Shear Strength of Cohesive Soils, ASCE, Boulder. CAVALCANTE, M.C.R. & SANDRONI, S.S. (1992), “Estudos pseudo-tridimensionais das tensões em galerias no interior de barragens de terra utilizando o método dos elementos finitos”, XX Seminário Nacional de Grandes Barragens, Curitiba. COSTA FILHO, L.M., ORGLER, B. & CRUZ, P.T. (1982), “Algumas considerações sobre a previsão de pressões neutras no final de construção de barragens por ensaios de laboratório”, 7o Cong. Bras. Mec Solos e Eng Fundações, Recife, Volume 4 COYLE, H.M. & BUTLER, H.D. (1974), “Filed measurements of lateral earth pressures on a cantilever retaining wall”, Transportation Research Board, No. 517, TRB, USA. CRUZ, P.T. (1967), “Propriedades de engenharia de solos residuais compactados da região centro- sul; do Brasil”, DLP/EPUSP CRUZ, P.T. (1973), “Estabilidade de taludes”, DLP/EPUSP CRUZ, P.T. (1996), “100 Barragens Brasileiras”, Oficina de Textos, São Paulo. CRUZ, P.T. & MASSAD, F. (1966), “O parâmetro B em solos compactados”, 3o Cong. Bras. Mec Solos e Eng Fundações, Belo Horizonte, Volume 1 CRUZ, P.T. & BARBOSA, J.A. (1981), “Critérios de cálculo para subpressões e análises de estabilidade ao escorregamento em barragens de concreto gravidade”, XVI Sem Nac Grandes Barragens, Recife ELETRONORTE (1988), Arquivos da UHE Tucuruí. GIBBS, H.J., HILF, J.W., HOLTZ, W.G. & WALKER, F.C. (1960), “Shear strength of cohesive soil”, Research Conf on Shear Strength of Cohesive Soils, ASCE, Boulder. GILBERT, O.H. (1959), “The influence of negative pore water pressures on the strength of compacted clays”, S.M. Thesis MIT. Trabalho citado por Gibbs et al (1960)
  • 26. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 26 GLOVER, R.E., GIBBS, H.J. & DAEHN, W.W. (1948), “Deformability of earth materials and its effect on the stability of earth dams following a rapid drawdown”, 2nd Int. Conf. Soil Mechanics and Foundation Engineering, Vol. V, Rotterdam. GOULD, J.P. (1971), “Lateral pressures on rigid permanent structures”, Specialty Conference on Lateral Stress, ASCE, Ithaca, NY. ICOLD (1974) "Lessons from Dam Incidents", Int. Com. On Large Dams, Paris. HERKENHOFF, C.S. & DIB, P.S. (1986), “UHE Tucuruí: percolação d`água nas interfaces aterros/muros de concreto”, 8o Cong. Bras. Mec Solos e Eng Fundações, Porto Alegre, Volume 4 HILF, J. (1948), “Estimating construction pore pressures in rolled earth dams, 2nd Int. Conf. Soil Mechanics and Foundation Engineering, Vol. IV, Rotterdam. JONES, C.J.F.P. & SIMS, F.A. (1975), “Earth pressure against the abutment and wing walls of standart motorway bridges”, Geotechnique, Vol 25, No. 4. JOHNSON, S.J. (1975), “Analysis and design relatimg to embankments: A state-of-the-art review”, Miscellaneous Paper S-75-3, U.S. Army Engineer Waterways Experiment Station, Vicksburg, EUA LAMBE, T.W. (1961), “Residual pore pressures in compacted clay”, 5th Int. Conf. Soil Mechanics and Foundation Engineering, Vol. 1, Paris. LINELL, K.A. & SHEA, H.F. (1960), “Strength and deformation characteristics of various glacial tills in New England”, Research Conf on Shear Strength of Cohesive Soils, ASCE, Boulder. LINS, A.H.P. (1991), “Resistência e poro-pressões desenvolvidas em um solo compactado não saturado em laboratório”, Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro. LINS, A.H.P. & SANDRONI, S.S. (1994), “The development of pore-water pressure in a compacted soil”, XIII ICSMFE, Vol. 1, New Delhi, India. LOWE III, J. & KARAFIATH, L. (1959), “Stabilkity of earth dams upon drawdown”, 1o Cong. Panamericano Mec Solos e Eng de Fundações, México. LOWE III, J. (1967), “Stability analysis of embankments”, Journal ASCE, Vol. 93 SM 4 julho, 1967 LOWE III, J. & JOHNSON, S.J. (1960), “Use of back pressure to increase degree of saturation of triaxial test specimem”, Research Conf on Shear Strength of Cohesive Soils, ASCE, Boulder. MELLIOS, G. & SVERZUT Jr, H. (1975), “Observações de empuxos de terra sobre os muros de ligação – Ila Solteira”, X Seminário Nacional de Grandes Barragens, Curitiba. MELLO, V.F.B. (1976), “Algumas experiências Brasileiras e contribuições a engenharia de barragens”, Revista Latinoamericana de Geotecnia, Caracas, Vol III, No. 2 MORGENSTERN, N. (1963), “Stability charts for earth slopes during drawdown”, Geotechnique, Vol. 13 MUHS, H. (1947), “Erdruckmessugen na Einer 24 m hohen starren Wand”, Bauplanung und Bautechnik, Vol 1, No. 1. Citado por Tschebotarioff, 1973. NAKAO, H. (1981), “Pressões de terra na superfície de muros de concreto em contato com barragens de terra”, XIV Seminário Nacional de Grandes Barragens, Recife. NUNES, A.J.C. & MELLO, V.F.B. (1982), “Barragem de Açu – Estudo sobre deslizamento em período construtivo”, Revista Andrade Gutierrez; PATON,J. & SEMPLE, N.G. (1961), “Investigation of the stability of na earth dam subject to rapid drawdown including details of pore pressures recorded during a controlled drawdown test”, Conf on Pore Pressure and Suction in Soils, ICE, Butterworks, London. REINIUS, E. (1948), “The stability of upsteam slopes of earth dams”, Swedish State Committee for Building Research, Bull. No. 12 REINIUS, E. (1954), “The stability of the slopes of earth dams, Geotechnique, Vol. 4 RHODES, J.A. & DIXON, N.A. (1976), “Performance of foundation drain systems for concrete gravity dams”, 12o ICOLD, Q.45 R.5, Mexico SANDRONI, S.S. (1985), “Estimativa de poro-pressões positivas em maciços de terra compactada durante a construção”, XVI Seminário Nacional de Grandes Barragens, Belo Horizonte. SANDRONI, S.S. (1986), "Aspectos geotécnicos de uma ruptura de maciço de barragem durante a construção", VIII Congresso Brasileiro de Mecânica de Solos, Porto Alegre. SANDRONI, S.S. & SILVA, S.R.B. (1989), “Estimativa de poropressões construtivas em aterros argilosos - Os ensaios PN abertos”, Simpósio sobre Novos Conceitos de Ensaios de Laboratório e Campo em Geotecnia, Vol. 1, Rio de Janeiro. SHERARD, J.L. (1953), "Influence of Soil Properties and Construction Methods on the Performance of Homogeneous Earth Dams", USBR, Tech Memo no 645, Denver. SILVEIRA, J.F.A., MACEDO, S. & MYIA, S. (1978), “Observações de deslocamentos e deformações na fundação da barragem de terra de Água Vermelha”, XII Seminário Nacional de Grandes
  • 27. VER 2002-C/SS/BARRAGENS:BARRAGENS - SANDRONI - 2006 - 6 ESTABILIDADE.doc 27 Barragens, Vol. 1, São Paulo. SILVEIRA, J.F.A., MYIA, S. & MARTINS, C.R.S. (1980), “Análise das tensões medidas na interface solo-concreto dos muros de ligação da barragem de Água Vermelha”, XIII Seminário Nacional de Grandes Barragens, Rio de Janeiro. SKEMPTON, A.W. (1954), “The pore pressure coefficients A and B”, Geotechnique SKEMPTON, A.W. ET AL (1985), " Carsington Dam Failure", Institution of Civil Engineers, Londres. VAUGHAN, P.R. (1971), " Undrained Failure of Clay Embankments", Stress-Strain Behaviour of Soils, Roscoe Memorial Symposium, G.T. Foulis & Co., Cambridge. VAUGHAN, P.R. (1974), “Notas de aula, Mestrado em Mecânica dos Solos, Imperial College, Universidade de Londres”, não publicado VAUGHAN, P.R. & KENNARD, M.F. (1972), “Earth pressure at a junction between na embankment dam and a concrete dam”, 5a Conf Européia de Mec Solos, Madrid. VIOTTI, C.B. (1980), “Estudo das interfaces barragens de terra – estruturas de concreto: Jaguara, Volta Grande e São Simão”, XIII Seminário Nacional de Grandes Barragens, Rio de Janeiro. WALKER, W.L. & DUNCAN, J.M. (1984), “Lateral bulging of earth dams”, Journal Geot Eng ASCE, Vol. 110 No. 7, julho, 1984 WILSON, D.S. & PIMLEY, B. (1971), “Earth pressure measurement in pulverized fuel ash behind a rigid retaining wall”, Road Research Laboratory, Department of the Environment, Report No. 392, UK. WILSON, S.D. & MARSAL, R.J. (1979), “Current trends in the design and construction of embankment dams”, ASCE, ICOLD, New York, USA
  • 28. C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 1 ANEXO 6.1 - PARÂMETRO B EM SOLO PARCIALMENTE SATURADO DEMONSTRAÇÃO DE SKEMPTON (1954) Ensaio isotrópico não drenado em solo parcialmente saturado, no qual se aplica uma variação de tensão total isotrópica δσ que causa uma variação de tensão no fluido dos poros (ar + água) δUp e uma variação de volume δV. Seja CS a compressibilidade do arcabouço de grãos do solo e, Cp a do fluido dos vazios (ar + água) do solo. A compressibilidade é definida como a relação entre a variação específica de volume (δV/V) e a variação de tensão isotrópica (δσ). A variação de volume do arcabouço de grãos é: )( UpVCsVs δδσδ −××−= A variação de volume do fluido dos vazios é: UpVnCpVp δδ ×××−= lembrando que nV é o volume dos vazios. Como os grâos do solo e a água são praticamente incompressíveis por comparação com o arcabouço de grãos e a mistura de ar e água dos vazios, pode-se afirmar que: δVs = δVp logo, =−× )( UpCs δδσ UpnCp δ×× portanto, CsCpn Cs B Up +× == δσ δ ou, Cs Cpn B Up × + == 1 1 δσ δ No caso de solo seco Cs >> Cp e, por consequência, 0⇒B . No caso de solo saturado Cp >> Cs e, por consequência, 1⇒B .
  • 29. C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 2 ANEXO 6.2 - POROPRESSÕES EM SOLO LINEAR ISOTRÓPICO, PARCIALMENTE SATURADO OCLUSO, CARREGADO ISOTROPICAMENTE (SANDRONI, 1985) Seja um elemento de solo parcialmente saturado, no estado ocluso (água contínua, ar em bolhas), com volume total V e volume de vazios nV (onde n é a porosidade), submetido a uma variação de tensão total isotrópica δσ sem que se permita escape de ar ou de água. Considerando a água e os grãos sólidos como incompressíveis, a variação de volume do elemento de solo (δV) será igual à variação de volume no ar dos vazios (δVar), ou seja: (δV) = (δVar) [1] O volume inicial de ar, lembrando que a relação entre o volume de ar e o volume dos poros é igual a 1-S (onde S é o grau de saturação), é igual a: Vari = n (1-S) V [2] Com a aplicação de δσ a pressão absoluta no ar dos vazios passa de um valor inicial Po para um valor final P. Utilizando a lei de Boyle e desprezando a pressão parcial de vapor d´água e a solução do ar na água, tem-se: Var.Par = Vari. Pari [3] Com [2] em [3], vem: Var = n (1-S) V. Pari/Par [4] Diferenciando [4] vem: 2 .).1.( P Par PariSn V Var δδ −−= [5] Ou seja, 2 ..).1.( P Par PariVSnVar δ δ −−= [6] No estado ocluso pode-se admitir que a variação de pressão na água e no ar dos vazios é igual e, portanto: Parδδσδσ −=' [7] No caso de solo linear solicitado isotropicamente, o módulo de compressão é dado por:
  • 30. C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 3 D = -       V Vδ δσ ' = - ( )       − V V Par δ δδσ [8] Ou seja, ).(. 1 ParV D V δδσδ −      −= [9] Com [6] e [9] em [1], vem: δσδ . 1).1.(. 1 2             +− = P Pari SnD P [10] A fórmula [10] expressa o valor do parâmetro δσ δP B = e esclarece a influência dos diversos fatores que determinam o seu valor, a saber: a quantidade de ar existente nos poros, expressa pelo grau de aeração = Var/V = n.(1-S), a compressibilidade do arcabouço de grãos, D, e as pressões (absolutas) inicial (Pari) e final (P) no ar dos vazios. A expressão PariSn p ).1.( 2 − é uma “compressibilidade equivalente” do fluido (ar+água) existente nos poros, como se depreende da fórmula 6. A relação entre a poropressão e a tensão total pode ser obtida da fórmula [10], por integração: P P PariSnD tecons δδσ ).1 ).1.(. (tan 2 + − =+∫ ∫ [11] ou seja, P PariSnD Ptecons ).1.(. tan − −=+σ [12] quando, σ = σo, P = Pari, logo, oSnDParitecons σ−−−= )1.(.tan [13] Com [13] em [12], chega-se à equação: ( ) 0..2 =−−+−− PariMPMPariP oσσ [14] onde,
  • 31. C/SS/BARRAGENS:ANEXOS 6-1 E 6-2 ESTAB REV 2006 -PARTE 3.doc 4 M = D.n.(1-S) [15] Resolvendo a equação [14] e desprezando a raiz que daria P menor do que zero (o que não é possível por se tratar de pressão absoluta), vem: P = [( ) ( ) )..4 2 PariMMPariMPari oo +−+−+−+− σσσσ ]/2 [16] Para obter o valor da poropressão com referência atmosférica (U = P - Patm, onde Patm é a pressão atmosférica), evidentemente: U = [( ) ( ) )..4 2 PariMMPariMPari oo +−+−+−+− σσσσ ]/2 - Patm [17] onde, σ = tensão total final; σo = tensão total inicial Pari = pressão inicial no ar dos poros (no caso mais comum, atmosférica) M = D.n.(1-S), sendo D = módulo efetivo de compressão isotrópica, n porosidade inicial e S grau de saturação inicial Patm = pressão atmosférica. Nos casos práticos de construção de aterro, tem-se as seguintes condições e aproximações: • A tensão total final é a carga de aterro acima do ponto que, em muitos casos, pode ser expressa, sem grande perda de precisão, pelo produto do peso específico do aterro pela altura de aterro acima do ponto (γ.h); • A tensão total inicial, σo, é a tensão em que ocorre a oclusão. Se o solo estiver ocluso desde o início, evidentemente, σo = 0; • Quando o solo se encontra inicialmente no estado aberto a pressão no ar é atmosférica. No instante da oclusão a pressão no ar permanece atmosférica de modo que Pari = Patm. Quando o solo é compactado no estado ocluso, pode restar uma pequena pressão no ar após a compactação, mas este valor, em geral, será muito pequeno de maneira que se pode considerar Pari = Patm. • O valor de D pode ser obtido a partir de E (módulo de Young) e ν (coeficiente de Poisson), considerando o solo como linear e isotrópico, através de relação simples, a saber: D = E.(1- ν) /[(1 + ν).(1 - 2ν)]
  • 32.
  • 33. FIG 6.1 – RELAÇÃO ENTRE O COMPORTAMENTO NO CAMPO E NO LABORATÓRIO (Vaughan, 1971)
  • 34. FIG 6.2 EXEMPLO DE ESTUDO DA DISSIPAÇÃO DE POROPRESSÕES DURANTE A CONSTRUÇÃO EM BARRAGENS DE TERRA ( baseado em Vaughan. 1975) E = 400kg/cm2 Tempo de construção = tc =1 ano
  • 35. FIG 6.3 RESULTADOS TÍPICOS DE ENSAIOS DE COMPACTAÇÃO
  • 37. FIG. 6.5 SUCCÇÃO APÓS A COMPACTAÇÃO EM LABORATÓRIO
  • 39. FIG. 6.7 - BARRAGEM DE COCOROBÓ
  • 41. FIG. 6.9 BARRAGEM DE OTTER BROOK
  • 47. FIG. 6.15 CASOS HIPOTÉTICOS DE SUBPRESSÃO EM BARRAGENS DE CONCRETO (Casagrande ,1964)
  • 48. FIG. 6.16 SUBPRESSÕES OBSERVADAS EM 3 BARRAGENS DE CONCRETO COM INJEÇÕES E SEM DRENOS ( ASCE, 1962)
  • 49. FIG. 6.17 SUBPRESSÃO NA BASE DE BARRAGENS DE CONCRETO
  • 50. FIG. 6.18 SUBPRESSÕES NA BARRAGEN DE WHEELER ANTES E DEPOIS DOS DRENOS
  • 51. FIG. 6.19 QUEDA NAS SUBPRESSÕES DA BARRAGEM DE CHIEF JOSEPH POR CAUSA DA DIMINUIÇÃO DO ESPAÇAMENTO ENTRE DRENOS
  • 52. FIG. 6.20 PRESCRIÇÕES PARA SUBPRESSÕES EM CASO PRÁTICO (Cruz e Barbosa,1961)
  • 53. FIG. 6.21 RUPTURAS POR SUBPRESSÃO EM BARRAGENS DE CONCRETO ANTIGAS
  • 55. FIG. 6.23 BARRAGEM DE SANTA HELENA