SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
Baixar para ler offline
REVISÃO 2002 - C/SS/BARRAGENS:5 PERCOLAÇÃO INTERFACES 2006.doc 1
5 - PERCOLAÇÃO POR INTERFACES
5.1 - Junções entre Aterros e Muros
A barragem de Davis (Justin, 1932), construída em 1914 em Turlock, EUA, rompeu por
entubamento, ao longo da interface entre o aterro e o muro do vertedouro, durante o
primeiro enchimento. Como mostrado na figura 5.1, o muro do vertedouro tinha paredes
lisas e verticais e o re-enchimento da escavação foi feito com solo arenoso apenas
lançado. O maciço, praticamente sem compactação, possuía uma membrana de
concreto, na face de montante, que se solidarizava ao vertedouro. Apenas 7 horas
transcorreram entre os primeiros sinais de percolação excessiva e a perda total da
barragem.
O projeto de Davis é claramente inadequado. Hoje em dia não seria utilizado um muro
liso e vertical, não se lançaria areia para preenchimento da cava de fundação junto ao
muro e, ainda, não se colocaria uma laje de concreto sobre aterro (muito menos, se
este aterro não fosse compactado). A interface, vertical e lisa, representa um "plano de
fraqueza" quanto à percolação porque o aterro pode se separar do muro (retração,
deslocamentos devidos a recalques, etc.). A areia ligando montante a jusante é um
óbvio convite ao entubamento. A laje sobre aterro mal compactado trincou como seria
de se esperar. Ou seja, as posturas de projeto utilizadas na barragem de Davis, no
início do século passado, seriam rejeitadas hoje em dia.
Quanto ao que é considerado adequado, como postura de projeto para as junções entre
aterros e muros, há várias posturas. O que se deseja é evitar que a interface (o contato
entre o aterro e o muro, também denominado "junção") se constitua numa rota
preferencial de percolação, ao longo da qual exista risco de carreamento. Para tanto,
utilizam-se diferentes formas geométricas para a superfície de contato e projetam-se
sistemas de drenagem interna reforçados, de maneira que a percolação seja
disciplinada.
Uma das geometrias usuais consiste em apoio plano direto do aterro no muro (também
chamada de “junção chapada”), com uma protuberância que sai do muro e penetra no
aterro (o chamado "muro corta-águas"). Esta postura de projeto é utilizada em obras até
uma certa altura. A protuberância consiste, normalmente, de uma parede de concreto
que penetra no aterro (em geral, nas proximidades do eixo da barragem). Um exemplo
de muro corta águas está mostrado na figura 5.2. Às vezes opta-se por geometrias mais
elaboradas para o corta águas, como foi o caso da junção mostrada na figura 5.3,
utilizada na barragem de Itaipú. Observe-se, neste caso, o alargamento do núcleo nas
imediações da interface e a inclinação em planta que foi dada à face do muro
(supostamente para favorecer a compressão do aterro contra o muro sob a pressão do
reservatório, postura esta rara e sem aceitação geral).
No caso de barragens altas (digamos, com altura superior a 35 metros), a junção em
apoio plano do aterro no muro da estrutura, pode se tornar anti-econômica, por exigir
muros de contenção que se prolongam muito para montante e para jusante. Nestes
REVISÃO 2002 - C/SS/BARRAGENS:5 PERCOLAÇÃO INTERFACES 2006.doc 2
casos costuma ser mais econômica a chamada junção "em abraço", como aquela
mostrada esquematicamente na figura 5.4.
Qualquer que seja a geometria escolhida para a junção, cuidado especial deve ser
dedicado à drenagem interna, que deve ser reforçada e concebida de forma a cobrir
(com ampla margem de segurança) todas as rotas de percolação imagináveis além de,
obviamente, atender rigidamente aos critérios de filtragem.
É interessante notar que são raros os casos reportados de acidentes de percolação em
junções aterro-muro (nenhum importante no Brasil). Isto se deve, provavelmente, à
particular atenção e aos cuidados especiais que se costuma dedicar a essas partes das
obras de barramento.
5.2 - Junções entre Aterros e Galerias
A barragem de Table Rock Cove (Justin, 1932; ICOLD, 1974), em Greenville, EUA,
sofreu um grave acidente durante o primeiro enchimento. O projeto continha uma
tubulação de ferro fundido com diâmetro de 1,05 metros destinada a atuar como galeria
de desvio durante a construção e como descarga de fundo durante a operação. Como
mostrado na figura 5,5 a tubulação foi implantada em uma trincheira aberta na rocha e
apoiava-se em 13 colares de concreto. Sob a tubulação, numa altura de cerca de 45cm,
a trincheira foi preenchida com terra compactada manualmente. Durante a construção a
tubulação foi fortemente flexionada pelo peso do aterro (cuja altura era da ordem de 40
metros) pois os colares de apoio eram muito mais rígidos do que o preenchimento de
solo. O reservatório ainda não estava completamente cheio quando, em 4 de maio de
1928, ocorreu uma súbita surgência de água um pouco acima da extremidade de
jusante da tubulação que, rapidamente, foi erodindo internamente o maciço terroso.
Cerca de 10% do maciço foram erodidos mas, não adveio o desastre porque o nível de
montante não foi atingido pelo processo de erosão. A tubulação só tinha válvula de
controle a jusante, de forma que não foi possível interromper o processo. Após
rebaixamento do reservatório, foi examinado o trecho remanescente da tubulação,
evidenciando-se que os tubos haviam sofrido quebras, trincamentos e abertura de
juntas, como indicado na figura 5.5.
O desastre por entubamento no aterro ocorrido em 1981 na barragem de Mulungú em
Buíque, PE, deveu-se ao fluxo ao longo da interface entre o aterro homogêneo (não
dotado de sistemas adequados de drenagem interna) e a galeria de concreto cuja altura
(4 a 6m) era muito grande em relação à largura (1,65m). Esta geometria incomum,
mostrada esquematicamente na figura 5.6, parece ter resultado do fato do material de
fundação encontrado quando da escavação para a galeria ser pior do que o desejado.
Na busca (desprovida de adequada adaptação) de “atender ao projeto”, a posição de
apoio da galeria foi aprofundada até encontrar terreno duro, sem que se tomasse
qualquer outra medida. A resultante protuberância, que penetrava no aterro como uma
faca, certamente gerou tensões de tração nas imediações da galeria. Durante o
primeiro enchimento observou-se a formação, a partir de jusante, de dois "tubos" de
REVISÃO 2002 - C/SS/BARRAGENS:5 PERCOLAÇÃO INTERFACES 2006.doc 3
erosão interna com intenso carreamento de sólidos nas quinas superiores da galeria.
Em poucas horas o aterro foi brechado.
A seguir são apresentadas algumas recomendações básicas para o projeto de galerias
e tubulações sob aterros de barragens:
(a) forma da galeria: é preferível ter o contorno adoçado mostrado na parte inferior da
figura 5.7 do que forma retangular com quinas vivas;
(b) a escolha do material de apoio (e do tipo de elemento de fundação, se for o caso)
deve ser tal que galeria não sofra contrastes bruscos de recalques;
(c) a drenagem interna do aterro deve envolver totalmente a galeria, como mostrado na
figura 5.8. O sistema de "anéis interceptadores de fluxo", mostrado na parte de cima da
figura 5.7, vem caindo em desuso;
(d) na junção entre o aterro impermeável e a galeria, a montante do sistema de
drenagem interna, deve ser utilizado solo mais úmido (digamos 2% acima da ótima).
5.3 - Interfaces entre Aterros e Fundações
Para apoio de barragens de terra sobre solo (resguardadas as questões de estabilidade
e recalque, não abordadas aqui), após a remoção (“expurgo”) da camada superficial
orgânica, escarifica-se e recompacta-se a superficial do terreno.
Para apoio de barragens de terra sobre rocha sã de fundação, atenta-se para a limpeza
da superfície, remoção de blocos soltos, proteção contra a penetração de material do
aterro em fraturas superficiais da rocha (utilizando tratamentos com “pintura” com calda
de cimento e concreto de enchimento de fraturas).
Quando a barragem de terra se apóia em ombreira muito íngreme e com irregularidades
na rocha de apoio, costuma-se adoçar por escavação e/ou utilizar preenchimentos com
concreto (“concreto dental”). Pode-se utilizar solo mais úmido no contato entre a
barragem e a ombreira, como ilustrado pelo caso (extremo) da barragem de Chicoasen,
figura 3.7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ICOLD (1974), "Lessons from Dam Incidents", Comitê Internacional de Grandes
Barragens.
JUSTIN, J.D. (1932), "Earth dam projects", John Wiley & Sons.
SIMPÓSIO DA BACIA DO ALTO PARANÁ (19??) – “Tratamento superficial de
fundações”, ABMS.
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra
Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Hote7 unid05 barragens-terra
Hote7 unid05 barragens-terraHote7 unid05 barragens-terra
Hote7 unid05 barragens-terraDiego Santos
 
Concreto reservatorio elevado
Concreto reservatorio elevadoConcreto reservatorio elevado
Concreto reservatorio elevadoPaulo Marcelo
 
Galerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concreto
Galerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concretoGalerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concreto
Galerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concretoJupira Silva
 
Apontamentos fundacao
Apontamentos fundacaoApontamentos fundacao
Apontamentos fundacaoJosiel Penha
 
Drenagem de Taludes
Drenagem de TaludesDrenagem de Taludes
Drenagem de Taludescamilapasta
 
1º resumo túneis e obras subterrâneas
1º  resumo túneis e obras subterrâneas1º  resumo túneis e obras subterrâneas
1º resumo túneis e obras subterrâneasLuciano José Rezende
 
Complementos de fundacoes
Complementos de fundacoesComplementos de fundacoes
Complementos de fundacoesHumberto Magno
 
Apostila de mec solos ba ii
Apostila de mec solos ba iiApostila de mec solos ba ii
Apostila de mec solos ba iiislenrocha
 
4.3. escolha de fundações
4.3. escolha de fundações4.3. escolha de fundações
4.3. escolha de fundaçõesantoniocleiton
 
3e estudos de casos acidentes
3e  estudos de casos acidentes3e  estudos de casos acidentes
3e estudos de casos acidentesJho05
 
MARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdf
MARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdfMARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdf
MARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdfAnaPaulaMagalhesMach
 
Estabilidade de escavações subterrâneas
Estabilidade de escavações subterrâneasEstabilidade de escavações subterrâneas
Estabilidade de escavações subterrâneasIgor Henry
 
UNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLO
UNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLOUNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLO
UNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLORodrigo Andrade Brígido
 

Mais procurados (19)

Hote7 unid05 barragens-terra
Hote7 unid05 barragens-terraHote7 unid05 barragens-terra
Hote7 unid05 barragens-terra
 
3 Barragens1
3 Barragens13 Barragens1
3 Barragens1
 
Concreto reservatorio elevado
Concreto reservatorio elevadoConcreto reservatorio elevado
Concreto reservatorio elevado
 
Galerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concreto
Galerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concretoGalerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concreto
Galerias de drenagem de águas pluviais com tubos de concreto
 
Apontamentos fundacao
Apontamentos fundacaoApontamentos fundacao
Apontamentos fundacao
 
Drenagem de Taludes
Drenagem de TaludesDrenagem de Taludes
Drenagem de Taludes
 
1º resumo túneis e obras subterrâneas
1º  resumo túneis e obras subterrâneas1º  resumo túneis e obras subterrâneas
1º resumo túneis e obras subterrâneas
 
UNIDADE III - PLASTICIDADE DOS SOLOS
UNIDADE III - PLASTICIDADE DOS SOLOSUNIDADE III - PLASTICIDADE DOS SOLOS
UNIDADE III - PLASTICIDADE DOS SOLOS
 
Complementos de fundacoes
Complementos de fundacoesComplementos de fundacoes
Complementos de fundacoes
 
Unidade i
Unidade iUnidade i
Unidade i
 
Apostila fundacoes
Apostila fundacoesApostila fundacoes
Apostila fundacoes
 
Apostila de mec solos ba ii
Apostila de mec solos ba iiApostila de mec solos ba ii
Apostila de mec solos ba ii
 
4.3. escolha de fundações
4.3. escolha de fundações4.3. escolha de fundações
4.3. escolha de fundações
 
3e estudos de casos acidentes
3e  estudos de casos acidentes3e  estudos de casos acidentes
3e estudos de casos acidentes
 
MARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdf
MARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdfMARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdf
MARANGON-M.-Dez-2018-Capítulo-07-Capacidade-de-Carga-dos-Solos1.pdf
 
Estabilidadede taludes
Estabilidadede taludesEstabilidadede taludes
Estabilidadede taludes
 
Estabilidade de escavações subterrâneas
Estabilidade de escavações subterrâneasEstabilidade de escavações subterrâneas
Estabilidade de escavações subterrâneas
 
Apostila fundacoes
Apostila fundacoesApostila fundacoes
Apostila fundacoes
 
UNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLO
UNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLOUNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLO
UNIDADE II - CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SOLO
 

Destaque

Grandes Barragens Parte 1
Grandes Barragens   Parte 1Grandes Barragens   Parte 1
Grandes Barragens Parte 1UFV2004
 
Barragens E FundaçõEs Pi0914409
Barragens E FundaçõEs Pi0914409Barragens E FundaçõEs Pi0914409
Barragens E FundaçõEs Pi0914409InformaGroup
 
Tcc -barragens_-_rev._10-06-2007
Tcc  -barragens_-_rev._10-06-2007Tcc  -barragens_-_rev._10-06-2007
Tcc -barragens_-_rev._10-06-2007Gislaine Bianchi
 
Orientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragem
Orientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragemOrientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragem
Orientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragemiicabrasil
 
Barragens e Reservatórios
Barragens e Reservatórios Barragens e Reservatórios
Barragens e Reservatórios Ozi Carvalho
 

Destaque (9)

Liquefação
LiquefaçãoLiquefação
Liquefação
 
Grandes Barragens Parte 1
Grandes Barragens   Parte 1Grandes Barragens   Parte 1
Grandes Barragens Parte 1
 
Barragens E FundaçõEs Pi0914409
Barragens E FundaçõEs Pi0914409Barragens E FundaçõEs Pi0914409
Barragens E FundaçõEs Pi0914409
 
Barragens
BarragensBarragens
Barragens
 
Tcc -barragens_-_rev._10-06-2007
Tcc  -barragens_-_rev._10-06-2007Tcc  -barragens_-_rev._10-06-2007
Tcc -barragens_-_rev._10-06-2007
 
Orientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragem
Orientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragemOrientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragem
Orientações para a elaboração e apresentação de projeto de barragem
 
Barragens e Reservatórios
Barragens e Reservatórios Barragens e Reservatórios
Barragens e Reservatórios
 
Barragens
BarragensBarragens
Barragens
 
Gravity dam
Gravity damGravity dam
Gravity dam
 

Semelhante a Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra

Galerias de drenagem de guas pluviais com tubos
Galerias de drenagem de guas pluviais com tubosGalerias de drenagem de guas pluviais com tubos
Galerias de drenagem de guas pluviais com tubosJupira Silva
 
Fundações e obras de terra - Parte 01
Fundações e obras de terra - Parte 01Fundações e obras de terra - Parte 01
Fundações e obras de terra - Parte 01Andre Luiz Vicente
 
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoesLukasSeize
 
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoesLukasSeize
 
Aspectos construtivos.pptx
Aspectos construtivos.pptxAspectos construtivos.pptx
Aspectos construtivos.pptxtassiatlms
 
Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1
Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1
Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1Denny Santana
 
Composição das Barragens, partes e conceitos
Composição das Barragens, partes e conceitosComposição das Barragens, partes e conceitos
Composição das Barragens, partes e conceitosDenny Santana
 
Sistemas de rebaixamento de lençol freatico
Sistemas de rebaixamento de lençol freaticoSistemas de rebaixamento de lençol freatico
Sistemas de rebaixamento de lençol freaticoJaeferson Batista
 
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoesLuiz Carlos
 
Catalogo helice continua
Catalogo helice continuaCatalogo helice continua
Catalogo helice continuaThiago Maciel
 
Cadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terra
Cadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terraCadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terra
Cadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terraUniversidade Federal Fluminense
 
Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...
Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...
Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...Portal Propex
 
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoesNbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoesJosue Carvalho
 
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoesNbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoesVinicius Lss
 

Semelhante a Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra (20)

Obras subterraneas
Obras subterraneasObras subterraneas
Obras subterraneas
 
Galerias de drenagem de guas pluviais com tubos
Galerias de drenagem de guas pluviais com tubosGalerias de drenagem de guas pluviais com tubos
Galerias de drenagem de guas pluviais com tubos
 
Fundações e obras de terra - Parte 01
Fundações e obras de terra - Parte 01Fundações e obras de terra - Parte 01
Fundações e obras de terra - Parte 01
 
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
 
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
 
Aspectos construtivos.pptx
Aspectos construtivos.pptxAspectos construtivos.pptx
Aspectos construtivos.pptx
 
Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1
Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1
Composição_Barragem1_Continuação da Aula 1
 
Composição das Barragens, partes e conceitos
Composição das Barragens, partes e conceitosComposição das Barragens, partes e conceitos
Composição das Barragens, partes e conceitos
 
Sistemas de rebaixamento de lençol freatico
Sistemas de rebaixamento de lençol freaticoSistemas de rebaixamento de lençol freatico
Sistemas de rebaixamento de lençol freatico
 
Apostila meso e infra
Apostila meso e infraApostila meso e infra
Apostila meso e infra
 
2º resumo estradas
2º resumo estradas2º resumo estradas
2º resumo estradas
 
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
1901103rev0 apostila soldagemtubulacoes
 
Catalogo helice continua
Catalogo helice continuaCatalogo helice continua
Catalogo helice continua
 
Catalogo helice continua_monitorada
Catalogo helice continua_monitoradaCatalogo helice continua_monitorada
Catalogo helice continua_monitorada
 
Cadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terra
Cadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terraCadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terra
Cadernos de Seguro: Critérios para avaliação de obras de terra
 
Recalque
RecalqueRecalque
Recalque
 
FUNDAÇÕES.pptx
FUNDAÇÕES.pptxFUNDAÇÕES.pptx
FUNDAÇÕES.pptx
 
Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...
Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...
Potencialidades dos aterros reforçados na recuperação de taludes em Blumenau ...
 
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoesNbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoes
 
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoesNbr 06122   1996 - projeto e execucao de fundacoes
Nbr 06122 1996 - projeto e execucao de fundacoes
 

Último

DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERDeiciane Chaves
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasillucasp132400
 
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comumUniversidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comumPatrícia de Sá Freire, PhD. Eng.
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...ArianeLima50
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSlides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSilvana Silva
 

Último (20)

DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comumUniversidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSlides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
 

Recomendações para projeto de interfaces em barragens de terra

  • 1. REVISÃO 2002 - C/SS/BARRAGENS:5 PERCOLAÇÃO INTERFACES 2006.doc 1 5 - PERCOLAÇÃO POR INTERFACES 5.1 - Junções entre Aterros e Muros A barragem de Davis (Justin, 1932), construída em 1914 em Turlock, EUA, rompeu por entubamento, ao longo da interface entre o aterro e o muro do vertedouro, durante o primeiro enchimento. Como mostrado na figura 5.1, o muro do vertedouro tinha paredes lisas e verticais e o re-enchimento da escavação foi feito com solo arenoso apenas lançado. O maciço, praticamente sem compactação, possuía uma membrana de concreto, na face de montante, que se solidarizava ao vertedouro. Apenas 7 horas transcorreram entre os primeiros sinais de percolação excessiva e a perda total da barragem. O projeto de Davis é claramente inadequado. Hoje em dia não seria utilizado um muro liso e vertical, não se lançaria areia para preenchimento da cava de fundação junto ao muro e, ainda, não se colocaria uma laje de concreto sobre aterro (muito menos, se este aterro não fosse compactado). A interface, vertical e lisa, representa um "plano de fraqueza" quanto à percolação porque o aterro pode se separar do muro (retração, deslocamentos devidos a recalques, etc.). A areia ligando montante a jusante é um óbvio convite ao entubamento. A laje sobre aterro mal compactado trincou como seria de se esperar. Ou seja, as posturas de projeto utilizadas na barragem de Davis, no início do século passado, seriam rejeitadas hoje em dia. Quanto ao que é considerado adequado, como postura de projeto para as junções entre aterros e muros, há várias posturas. O que se deseja é evitar que a interface (o contato entre o aterro e o muro, também denominado "junção") se constitua numa rota preferencial de percolação, ao longo da qual exista risco de carreamento. Para tanto, utilizam-se diferentes formas geométricas para a superfície de contato e projetam-se sistemas de drenagem interna reforçados, de maneira que a percolação seja disciplinada. Uma das geometrias usuais consiste em apoio plano direto do aterro no muro (também chamada de “junção chapada”), com uma protuberância que sai do muro e penetra no aterro (o chamado "muro corta-águas"). Esta postura de projeto é utilizada em obras até uma certa altura. A protuberância consiste, normalmente, de uma parede de concreto que penetra no aterro (em geral, nas proximidades do eixo da barragem). Um exemplo de muro corta águas está mostrado na figura 5.2. Às vezes opta-se por geometrias mais elaboradas para o corta águas, como foi o caso da junção mostrada na figura 5.3, utilizada na barragem de Itaipú. Observe-se, neste caso, o alargamento do núcleo nas imediações da interface e a inclinação em planta que foi dada à face do muro (supostamente para favorecer a compressão do aterro contra o muro sob a pressão do reservatório, postura esta rara e sem aceitação geral). No caso de barragens altas (digamos, com altura superior a 35 metros), a junção em apoio plano do aterro no muro da estrutura, pode se tornar anti-econômica, por exigir muros de contenção que se prolongam muito para montante e para jusante. Nestes
  • 2. REVISÃO 2002 - C/SS/BARRAGENS:5 PERCOLAÇÃO INTERFACES 2006.doc 2 casos costuma ser mais econômica a chamada junção "em abraço", como aquela mostrada esquematicamente na figura 5.4. Qualquer que seja a geometria escolhida para a junção, cuidado especial deve ser dedicado à drenagem interna, que deve ser reforçada e concebida de forma a cobrir (com ampla margem de segurança) todas as rotas de percolação imagináveis além de, obviamente, atender rigidamente aos critérios de filtragem. É interessante notar que são raros os casos reportados de acidentes de percolação em junções aterro-muro (nenhum importante no Brasil). Isto se deve, provavelmente, à particular atenção e aos cuidados especiais que se costuma dedicar a essas partes das obras de barramento. 5.2 - Junções entre Aterros e Galerias A barragem de Table Rock Cove (Justin, 1932; ICOLD, 1974), em Greenville, EUA, sofreu um grave acidente durante o primeiro enchimento. O projeto continha uma tubulação de ferro fundido com diâmetro de 1,05 metros destinada a atuar como galeria de desvio durante a construção e como descarga de fundo durante a operação. Como mostrado na figura 5,5 a tubulação foi implantada em uma trincheira aberta na rocha e apoiava-se em 13 colares de concreto. Sob a tubulação, numa altura de cerca de 45cm, a trincheira foi preenchida com terra compactada manualmente. Durante a construção a tubulação foi fortemente flexionada pelo peso do aterro (cuja altura era da ordem de 40 metros) pois os colares de apoio eram muito mais rígidos do que o preenchimento de solo. O reservatório ainda não estava completamente cheio quando, em 4 de maio de 1928, ocorreu uma súbita surgência de água um pouco acima da extremidade de jusante da tubulação que, rapidamente, foi erodindo internamente o maciço terroso. Cerca de 10% do maciço foram erodidos mas, não adveio o desastre porque o nível de montante não foi atingido pelo processo de erosão. A tubulação só tinha válvula de controle a jusante, de forma que não foi possível interromper o processo. Após rebaixamento do reservatório, foi examinado o trecho remanescente da tubulação, evidenciando-se que os tubos haviam sofrido quebras, trincamentos e abertura de juntas, como indicado na figura 5.5. O desastre por entubamento no aterro ocorrido em 1981 na barragem de Mulungú em Buíque, PE, deveu-se ao fluxo ao longo da interface entre o aterro homogêneo (não dotado de sistemas adequados de drenagem interna) e a galeria de concreto cuja altura (4 a 6m) era muito grande em relação à largura (1,65m). Esta geometria incomum, mostrada esquematicamente na figura 5.6, parece ter resultado do fato do material de fundação encontrado quando da escavação para a galeria ser pior do que o desejado. Na busca (desprovida de adequada adaptação) de “atender ao projeto”, a posição de apoio da galeria foi aprofundada até encontrar terreno duro, sem que se tomasse qualquer outra medida. A resultante protuberância, que penetrava no aterro como uma faca, certamente gerou tensões de tração nas imediações da galeria. Durante o primeiro enchimento observou-se a formação, a partir de jusante, de dois "tubos" de
  • 3. REVISÃO 2002 - C/SS/BARRAGENS:5 PERCOLAÇÃO INTERFACES 2006.doc 3 erosão interna com intenso carreamento de sólidos nas quinas superiores da galeria. Em poucas horas o aterro foi brechado. A seguir são apresentadas algumas recomendações básicas para o projeto de galerias e tubulações sob aterros de barragens: (a) forma da galeria: é preferível ter o contorno adoçado mostrado na parte inferior da figura 5.7 do que forma retangular com quinas vivas; (b) a escolha do material de apoio (e do tipo de elemento de fundação, se for o caso) deve ser tal que galeria não sofra contrastes bruscos de recalques; (c) a drenagem interna do aterro deve envolver totalmente a galeria, como mostrado na figura 5.8. O sistema de "anéis interceptadores de fluxo", mostrado na parte de cima da figura 5.7, vem caindo em desuso; (d) na junção entre o aterro impermeável e a galeria, a montante do sistema de drenagem interna, deve ser utilizado solo mais úmido (digamos 2% acima da ótima). 5.3 - Interfaces entre Aterros e Fundações Para apoio de barragens de terra sobre solo (resguardadas as questões de estabilidade e recalque, não abordadas aqui), após a remoção (“expurgo”) da camada superficial orgânica, escarifica-se e recompacta-se a superficial do terreno. Para apoio de barragens de terra sobre rocha sã de fundação, atenta-se para a limpeza da superfície, remoção de blocos soltos, proteção contra a penetração de material do aterro em fraturas superficiais da rocha (utilizando tratamentos com “pintura” com calda de cimento e concreto de enchimento de fraturas). Quando a barragem de terra se apóia em ombreira muito íngreme e com irregularidades na rocha de apoio, costuma-se adoçar por escavação e/ou utilizar preenchimentos com concreto (“concreto dental”). Pode-se utilizar solo mais úmido no contato entre a barragem e a ombreira, como ilustrado pelo caso (extremo) da barragem de Chicoasen, figura 3.7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ICOLD (1974), "Lessons from Dam Incidents", Comitê Internacional de Grandes Barragens. JUSTIN, J.D. (1932), "Earth dam projects", John Wiley & Sons. SIMPÓSIO DA BACIA DO ALTO PARANÁ (19??) – “Tratamento superficial de fundações”, ABMS.