Este artigo tem por objetivo apresentar a trajetória desastrosa e antidemocrática do governo Donald Trump que durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos fez com que o fascismo crescesse enormemente, atentou contra o meio ambiente global, enfraqueceu o papel dos Estados Unidos na cena mundial, tornou o sistema internacional mais instável com sua política antiglobalização, anti-ONU, anti-OMS, anti-OTAN, fracassou no combate ao novo Coronavirus e está assumindo um posicionamento golpista ao não reconhecer a vitória de Joe Biden e pretender se manter no poder apesar de sua derrota no colégio eleitoral e ser rejeitado pela grande maioria da população norte-americana.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O governo Trump e o crescimento do neofascismo nos EUA
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O DESASTROSO E ANTIDEMOCRÁTICO GOVERNO DONALD TRUMP
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo apresentar a trajetória desastrosa e antidemocrática do
governo Donald Trump que durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos
fez com que o fascismo crescesse enormemente, atentou contra o meio ambiente global,
enfraqueceu o papel dos Estados Unidos na cena mundial, tornou o sistema internacional
mais instável com sua política antiglobalização, anti-ONU, anti-OMS, anti-OTAN,
fracassou no combate ao novo Coronavirus e está assumindo um posicionamento golpista
ao não reconhecer a vitória de Joe Biden e pretender se manter no poder apesar de sua
derrota no colégio eleitoral e ser rejeitado pela grande maioria da população norte-
americana.
Nas eleições presidenciais de 2016, Donald Trump apresentou sua campanha para a
presidência dos Estados Unidos afirmando que ele era a voz "de quem trabalha duro
enquanto ninguém fala por eles" e que essas vítimas de um "sistema manipulado"
beneficiam apenas as "elites" como se ele próprio não fosse integrante da elite. Trump se
apresentou como o "campeão do povo", o único capaz de mudar tudo. Disse que
“tristemente, o sonho americano estava morto” e que só ele poderia restaurá-lo. Foi
baseado neste fato que a campanha de Trump de 2016 cunhou a ideia de que ele era “uma
nova manhã na América”, isto é, ele era a solução para os problemas dos Estados Unidos.
Donald Trump afirmou que quando fizesse seu juramento presidencial, iria restaurar a lei
e a ordem na qual deixavam evidenciados seus traços de personalidade autoritária,
neofascista. Ao afirmar “America First”, Trump mostrou a face mais visível de um
fenômeno mundial: a ascensão do populismo nacionalista e xenófobo.
Todas as mensagens de Donald Trump em 2016 apontavam na direção de que, se fosse
eleito presidente dos Estados Unidos, poderia fazer com que renascesse o fascismo nos
Estados Unidos como de fato aconteceu. Cabe observar que o fascismo é uma forma de
comportamento político marcado pela preocupação obsessiva com o declínio da
comunidade, com a humilhação e a vitimização do país que busca através de violência
redentora e sem controles éticos ou legais alcançar os objetivos de limpeza interna e
expansão externa como ocorreu com o nazifascismo. O fascismo surge para restaurar uma
ordem social rompida, como sempre usando temas como unidade, ordem e pureza. O
fascismo tem raiz na restauração do orgulho nacional perdido pela ressurreição dos mitos
e valores tradicionais da cultura e na purificação da sociedade das influências tóxicas de
estrangeiros e de intelectuais, os quais seriam culpados pela miséria em que vive a nação.
É o caso dos Estados Unidos diante de uma crise econômica insuperável como a atual, de
comprometimento do american way of life e de perda de sua hegemonia mundial para a
China.
O renascimento do fascismo sob o comando de Donald Trump nos Estados Unidos
resulta, fundamentalmente, de seu declinio econômico e da perda de sua hegemonia na
cena mundial em um prazo temporal muito curto. Todas as relações mundiais dos Estados
Unidos se modificaram profundamente nos últimos tempos sendo obrigado a
compartilhar com outros países o poder em escala mundial. A era em que os Estados
Unidos procuravam impor sua vontade no cenário internacional nos planos econômico e
militar acabou. Foi o que ocorreu a partir do governo Barack Obama. A crise geral do
sistema capitalista mundial em curso está acelerando a mudança geopolítica de longo
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prazo, anunciando o declínio do poder americano e da influência europeia. Donald Trump
representou uma reação nos Estados Unidos visando reverter esta tendência. Sua atuação
levou, na prática, ao crescimento do neofascismo nos Estados Unidos.
Robert Paxton afirma que o sucesso do fascismo depende da fraqueza do estado liberal
que condena a nação à desordem, declínio ou humilhação e à falta de consenso político.
Paxton acrescenta que a profundidade da crise política e econômica induz a elite a
cooperar com os fascistas (PAXTON, Robert. The anatomy of fascism. New York:
Vintage Books, 2005). Esta situação aconteceu na Itália fascista na década de 1920, na
Alemanha nazista na década de 1930 e está acontecendo, atualmente, nos Estados Unidos.
Paxton afirma que os fascistas estão arraigados no Partido Republicano que representa
grandes interesses corporativos com ampla influência na cena política nos Estados
Unidos. Donald Trump mostrou seu caráter fascista ou neofascista com sua postura
ultranacionalista defendendo um princípio, "A América, primeiro" e sua truculência nas
relações políticas nos planos interno e internacional.
Contra todas as previsões, Trump se tornou o 45º presidente dos Estados Unidos, na
eleição indireta pelo colégio eleitoral, apesar de ter tido 3 milhões de votos a menos que
sua concorrente Hillary Clinton. Os americanos escolheram o candidato antissistema,
anti-elite e anti-administração e defensor das mudanças. O seu programa econômico teve
apenas um lema: protecionismo. Ele prometeu e conduziu uma guerra comercial contra a
China, incluindo em especial as empresas americanas que estavam nos Estados Unidos e
se deslocaram para a China. Trump marcou pontos com slogans odiosos contra o chamado
establishment político e a mídia. Ele conquistou uma classe média branca que ficou
empobrecida e desestabilizada pela globalização. "Só eu posso consertar isso", foi o lema
de campanha de Trump.
No poder, Donald Trump perseguiu a mídia hostil, atacou as mulheres que o acusaram de
assédio sexual, insultou estrangeiros, mulheres e pessoas com deficiências, pregou o ódio,
incentivou o racismo ao apoiar os supremacistas brancos, esnobou os parceiros mundiais
mais importantes dos Estados Unidos, aboliu o programa de seu antecessor e sua medida
mais simbólica, Obamacare, aboliu a reforma da saúde promovida por Obama deixando
24 milhões de pessoas sem cobertura médica que estão à mercê da pandemia do novo
Coronavirus, reduziu os impostos, especialmente para os super-ricos, jogou por terra
todos os regulamentos ambientais, relançou a indústria do carvão, deportou imigrantes
ilegais aos milhões e lotou a Suprema Corte de conservadores ideológicos à medida que
foram surgindo vagas. Trump deslanchou seu ataque à democracia liberal durante seu
governo.
No governo dos Estados Unidos, Donald Trump criou uma perigosa fase de instabilidade
política internacional. Donald Trump prometeu e cancelou o acordo climático assinado
pelos Estados Unidos em Paris e o arduamente negociado pacto nuclear com o Irã, além
de acordos comerciais diversos, bem como deixou de pagar bilhões de dólares para ONU
desenvolver os programas de combate às mudanças climáticas. Trump trabalhou para
dotar a Arábia Saudita e o Japão de armas nucleares, enfraqueceu a "obsoleta" OTAN ao
obrigar os aliados europeus a pagarem por proteção militar dos Estados Unidos criando,
com isso, o risco de uma incursão russa nos países bálticos, iniciou uma guerra comercial
com a China por meio do protecionismo, deu início à construção de um muro de 3.200
quilômetros de extensão ao longo da fronteira mexicana, barrou a entrada de muçulmanos
no país, renegociou todos os grandes acordos comerciais e elevou bastante os gastos
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militares. Isso desencadeou conflitos significativos, incitou novas rivalidades e motivou
novas crises internacionais.
Ao longo de seu mandato presidencial, Trump tentou estabelecer uma marca própria nas
relações internacionais ao se engajar em uma guerra comercial com a China, tentar
promover a desnuclearização e o fim dos testes de lançamento de mísseis com a Coreia
do Norte, reformular o acordo de livre comércio com México e Canadá e desfazer o
acordo nuclear com o Irã. À exceção da reformulação do acordo de livre comércio com
México e Canadá, as demais ações não têm sido bem sucedidas. Os Estados Unidos não
está vencendo a guerra comercial com a China, não conseguiu impor sua vontade diante
da Coreia do Norte e não teve sucesso em impor suas condições relativas ao acordo
nuclear com o Irã. Todo este insucesso acima descrito se soma ao fiasco da participação
dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico. Além de todos estes resultados
negativos de sua política externa, Trump respondeu a processo de impeachment no
Congresso no qual foi acusado de ter usado o aparato diplomático americano para
benefício pessoal e político.
A irresponsabilidade de Trump ficou evidenciada quando ele decidiu não respeitar o
acordo nuclear assinado pelo governo Obama e potências europeias com o Irã, além de
tomar a decisão de levar a cabo um ataque aéreo ao Aeroporto Internacional de Bagdá,
no Iraque, que levou ao assassinato por drones do general iraniano Qasem Soleimani,
chefe da Força de inteligência Quds do Irã no dia 2/1/2020, fato este que poderia
desencadear um conflito militar na região. A atitude irresponsável de Trump contribuiu
para que o governo iraniano se convencesse de que só a verdadeira posse de armas
nucleares pode livrá-lo de um ataque externo, seja pelos Estados Unidos, seja por Israel.
Ao invés de apaziguar a situação no Oriente Médio, Trump fez com que o Irã afirmasse
em comunicado no dia 5/1/2020 que seu trabalho de enriquecimento de urânio não
respeitará mais o acordo nuclear de 2015, que limitava o nível de enriquecimento a 3,6%,
e que sua produção não terá mais restrições. Para o Irã produzir uma arma nuclear, o
urânio teria que ser enriquecido para mais de 90%. O governo de Teerã afirmou na nota
que retornaria ao acordo nuclear se as sanções impostas pelos Estados Unidos contra o
país por Donald Trump fossem removidas e os interesses do Irã fossem garantidos.
Um fato é evidente: os Estados Unidos ampliaram demais o seu império, ao ponto de não
conseguirem mais administrá-lo, como aconteceu com a Espanha no século XVII e o
Reino Unido no século XX. A grande potência em declínio relativo, como os Estados
Unidos, reage, instintivamente, gastando mais do que pode com a “segurança”. As duas
primeiras décadas do século XXI mostraram os limites do poder norte-americano na cena
mundial. O poder dos Estados Unidos é grande, porém não é mais determinante como era
após a 2ª Guerra Mundial e, principalmente, com o fim da ex-União Soviética em 1989. O
mundo se tornou mais hostil para os Estados Unidos devido à sua política imperialista no
passado e no presente e, também, porque outras potências cresceram mais rápido,
econômica e militarmente, e estão se tornando mais fortes, como é o caso da China e da
Rússia. O governo Trump contribuiu para aumentar ainda mais a hostilidade em relação
aos Estados Unidos. Estados Unidos está vivendo seu ocaso como grande potência.
Além de atuar de forma desastrosa nos planos interno e internacional, Donald Trump
fracassou rotundamente ao lidar com a pandemia do novo Coronavirus. A fragilidade do
sistema de saúde americano, o mais caro do mundo, contribuiu de forma indireta para
uma maior expansão do Covid-19 nos Estados Unidos. O sistema de saúde do país
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fracassou na forma como respondeu aos novos casos de Covid-19. Trump designou seu
vice-presidente, Mike Pence que não possuía nenhuma experiência em assuntos de saúde
para comandar uma "tropa de choque" que executaria as tarefas para combater o vírus no
país. A incompetência do governo Trump é tão grande que não apresentou nenhum plano
concreto do governo para tentar lidar com o vírus. Isto explica o fato de os Estados Unidos
apresentarem o maior número de pessoas infectadas e mortas em todo o mundo. O
fracasso no combate ao Covid 19 foi determinante para a derrota de Donald Trump para
Joe Biden nas últimas eleições presidenciais.
A vitória de Joe Biden é um acontecimento auspicioso porque ele derrotou a maior
expressão do neofascismo no mundo representada por Donald Trump para fazer
prevalecer a democracia e os valores mais elevados da civilização nos Estados Unidos.
Apesar dos resultados das eleições, Donald Trump age irresponsavelmente não
reconhecendo a vitória de Joe Biden insistindo em ser ele o verdadeiro vencedor das
eleições e acusar, sem apresentar provas, que os democratas fraudaram as eleições. Trump
está tentando reverter o resultado das eleições com batalhas em tribunais, recontagens de
votos e campanhas de mídia. Muitas ações judiciais já foram rejeitadas por diversos juízes
ao redor dos Estados Unidos por falta de evidências dessas supostas fraudes.
Um comunicado oficial divulgado no dia 12/11/2020, por altos funcionários da Agência
de Segurança Cibernética e Infraestrutura dos Estados Unidos, afirmou que “a eleição
presidencial de 2020 foi a mais segura da história americana". Neste momento, por todo
o país, autoridades eleitorais estão revisando e verificando todo o processo das eleições
antes de finalizar o resultado, diz trecho do documento. O órgão responsável pelo
comunicado, é ligado ao Departamento de Segurança Interna, que integra o próprio
governo dos Estados Unidos. Essas informações apontam que "não há evidências de que
qualquer sistema de votação excluiu ou perdeu votos, alterou votos ou foi de alguma
forma comprometido". O comunicado contradiz as alegações do presidente Donald
Trump que não aceita a derrota e insiste que houve fraude no país. O democrata Joe Biden
foi declarado vencedor da disputa segundo projeções de institutos que trabalham nas
eleições americanas há décadas. Ao não aceitar os resultados das eleições Donald Trump
coloca, irresponsavelmente, em dúvidas a própria democracia americana. Ao incentivar e
apoiar manifestações da horda neofascista que o apoia contra o resultado das eleições
como ocorreu no dia 14 /11/2020, Donald Trump contribui para criar nos Estados Unidos
um ambiente de convulsão política sem precedentes na história do País.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização
e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século
XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions
of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
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Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).