Este paper aborda as interações afetivas de estudantes africanos residentes em Fortaleza. No contexto dessa migração estudantil, os africanos não estão inteirados dos limites sociais tradicionais existentes na sociedade fortalezense. Sua presença e interações afetivas rompem com algumas fronteiras, socialmente estabelecidas nesta metrópole. Seus relacionamentos articulam dimensões como gênero, raça, classe, etnia, formato de corpo e de cabelo e outras interseccionalidades, que se sobrepõem e se intersectam como atributos desejáveis e/ou atraentes. Assim, indago-me sobre o que a experiência de migração produz nas suas identidades étnicoraciais e afetivo-sexuais? Desenvolvo essa pesquisa através de observações etnográficas, com recurso a conversas informais e entrevistas abertas com esses sujeitos.
PRESENÇA AFRICANA EM FORTALEZA NO SÉCULO XXI: SEXUALIDADE, GÊNERO, RAÇA E OUT...Ercilio Langa
Este artigo analisa sexualidade, gênero, raça e outras interseccionalidades entre africanas e africanos residentes em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos, imigrantes africanas(os) apresentam identidades multiculturais e distinções de várias ordens, não estando inteirados dos limites sociais de raça e classe tradicionalmente construídos, rompendo as fronteiras estabelecidas e transitando em espaços brancos. Nesse contexto, cearenses e africanos(as) olham-se de forma ambivalente, discriminando-se e sexualizando-se, verificando-se preferência afetiva de homens africanos por mulheres brasileiras brancas, em encontros que articulam gênero, raça, etnicidade. Durante as interações, há esforço de africanos(as) e de brasileiros(as) para encarnar estereótipos existentes sobre a sexualidade do outro, onde raça, formas corporais e cabelos apresentam-se peças fundamentais da diferença cultural. Partindo dos conceitos de liminaridade de Turner (1974) e de interseccionalidade de Crenshaw (2002) estudo as sexualidades interétnicas e interaciais entre africanas(os), entre africanas(os) e brasileiras(os), as ressignificações sexuais ocorridas, as consequências produzidas pela experiência de migração nas identidades sexuais num contexto marcado pela discriminação racial.
A escravidão foi implantada no Brasil durante a década de 1530, e, durante grande parte da colonização, a escravidão indígena e a africana coexistiram em quase toda a colônia. ... Ao longo da história colonial e imperial do Brasil, os grupos escravizados foram, primeiramente, os indígenas e, depois, os africanos.
FICHAMENTO: BRANDALISE, Roberta. A Televisão Brasileira nas Fronteiras do Brasil com o Paraguai, a Argentina e o Uruguai: um estudo sobre como as Representações Televisivas participam da articulação das Identidades Culturais no cotidiano fronteiriço. Universidade de São Paulo, 2011.
PROFESSOR: Professor Doutor Paulo Celso da Silva
ALUNO: Luiz Guilherme Leite Amaral. E-mail: luiz.amaral.mestrado@gmail.com
PRESENÇA AFRICANA EM FORTALEZA NO SÉCULO XXI: SEXUALIDADE, GÊNERO, RAÇA E OUT...Ercilio Langa
Este artigo analisa sexualidade, gênero, raça e outras interseccionalidades entre africanas e africanos residentes em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos, imigrantes africanas(os) apresentam identidades multiculturais e distinções de várias ordens, não estando inteirados dos limites sociais de raça e classe tradicionalmente construídos, rompendo as fronteiras estabelecidas e transitando em espaços brancos. Nesse contexto, cearenses e africanos(as) olham-se de forma ambivalente, discriminando-se e sexualizando-se, verificando-se preferência afetiva de homens africanos por mulheres brasileiras brancas, em encontros que articulam gênero, raça, etnicidade. Durante as interações, há esforço de africanos(as) e de brasileiros(as) para encarnar estereótipos existentes sobre a sexualidade do outro, onde raça, formas corporais e cabelos apresentam-se peças fundamentais da diferença cultural. Partindo dos conceitos de liminaridade de Turner (1974) e de interseccionalidade de Crenshaw (2002) estudo as sexualidades interétnicas e interaciais entre africanas(os), entre africanas(os) e brasileiras(os), as ressignificações sexuais ocorridas, as consequências produzidas pela experiência de migração nas identidades sexuais num contexto marcado pela discriminação racial.
A escravidão foi implantada no Brasil durante a década de 1530, e, durante grande parte da colonização, a escravidão indígena e a africana coexistiram em quase toda a colônia. ... Ao longo da história colonial e imperial do Brasil, os grupos escravizados foram, primeiramente, os indígenas e, depois, os africanos.
FICHAMENTO: BRANDALISE, Roberta. A Televisão Brasileira nas Fronteiras do Brasil com o Paraguai, a Argentina e o Uruguai: um estudo sobre como as Representações Televisivas participam da articulação das Identidades Culturais no cotidiano fronteiriço. Universidade de São Paulo, 2011.
PROFESSOR: Professor Doutor Paulo Celso da Silva
ALUNO: Luiz Guilherme Leite Amaral. E-mail: luiz.amaral.mestrado@gmail.com
Africanos e Africanas em Fortaleza: sexualidade, gênero, raça e outras inters...Ercilio Langa
Neste artigo analiso sexualidade, gênero, raça e suas interseccionalidades entre imigrantes africanos(as) residentes em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos, tais sujeitos apresentam identidades multiculturais e distinções de várias ordens a marcar suas vidas no Ceará, constituindo uma diáspora. Nesse cenário, os africanos não estão inteirados dos limites sociais de raça e classe existentes, rompendo fronteiras estabelecidas, verificando-se preferência afetiva de homens africanos por mulheres brasileiras brancas. Partindo dos conceitos de diáspora de Gilroy (2001) e de interseccionalidade de Crenshaw (2002), analiso as sexualidades entre africanos e africanas, entre africanos(as) e brasileiras(os) e, as ressignificações sexuais ocorridas no contexto migratório. Nas interações afetivas, africanos(as) na condição de negros(as) são colocados em posição inferior e de subalternidade, ocupando lugar secundarizado para relacionamentos estáveis. Ao mesmo tempo, são objeto de desejo sexual para encontros fortuitos sem compromissos afetivos. Para compreensão do fenómeno avanço como questões: o que a experiência de imigração produz nas identidades sexuais dos imigrantes africanos? Como pensar sociabilidades afetivas entre africanos e brasileiros num contexto marcado pela discriminação racial? Adentrando esse universo, utilizo como via metodológica a observação etnográfica, entrevistas abertas e conversas informais, com registro sistemático no caderno de campo.
Diáspora Africana no Ceará: experiências de inserção de estudantes imigrantes...Ercilio Langa
Resumo: Neste paper, abordo as experiências de inserção de estudantes africanos em universidades públicas e privadas brasileiras. A partir da análise da situação desses sujeitos inseridos no contexto universitário vivenciado em Fortaleza-CE, abordo o seu cotidiano, o encontro com a alteridade, o preconceito e discriminação raciais, as dificuldades de inserção nas faculdades, assim como seus dramas sociais ao final dos cursos, quanto à possibilidade de regresso ao seu país de origem ou, de permanência em território brasileiro. De fato, as universidades brasileiras, muitas vezes desconhecem as realidades desses estudantes e de seus países de origem, vistos apenas, como consumidores de conhecimento, cujas experiências são subaproveitadas ou desperdiçadas. Essa migração estudantil tem gerados grupos, movimentos e associações estudantis a congregar estudantes africanos baseados em distinções nacionais, portanto, bastante estéreis e sem capacidade de negociação com as instituições de ensino superior brasileiras. Colocados na posição de estrangeiros e negros, muitas vezes, os estudantes africanos vivenciam um estado de anomia social, onde tem que “se virar” sozinhos, acabando por adotar uma identidade capitalista, baseada no consumo.
Africanos e Africanas em Fortaleza: sexualidade, gênero, raça e outras inters...Ercilio Langa
Neste artigo analiso sexualidade, gênero, raça e suas interseccionalidades entre imigrantes africanos(as) residentes em Fortaleza. Pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos, tais sujeitos apresentam identidades multiculturais e distinções de várias ordens a marcar suas vidas no Ceará, constituindo uma diáspora. Nesse cenário, os africanos não estão inteirados dos limites sociais de raça e classe existentes, rompendo fronteiras estabelecidas, verificando-se preferência afetiva de homens africanos por mulheres brasileiras brancas. Partindo dos conceitos de diáspora de Gilroy (2001) e de interseccionalidade de Crenshaw (2002), analiso as sexualidades entre africanos e africanas, entre africanos(as) e brasileiras(os) e, as ressignificações sexuais ocorridas no contexto migratório. Nas interações afetivas, africanos(as) na condição de negros(as) são colocados em posição inferior e de subalternidade, ocupando lugar secundarizado para relacionamentos estáveis. Ao mesmo tempo, são objeto de desejo sexual para encontros fortuitos sem compromissos afetivos. Para compreensão do fenómeno avanço como questões: o que a experiência de imigração produz nas identidades sexuais dos imigrantes africanos? Como pensar sociabilidades afetivas entre africanos e brasileiros num contexto marcado pela discriminação racial? Adentrando esse universo, utilizo como via metodológica a observação etnográfica, entrevistas abertas e conversas informais, com registro sistemático no caderno de campo.
Diáspora Africana no Ceará: experiências de inserção de estudantes imigrantes...Ercilio Langa
Resumo: Neste paper, abordo as experiências de inserção de estudantes africanos em universidades públicas e privadas brasileiras. A partir da análise da situação desses sujeitos inseridos no contexto universitário vivenciado em Fortaleza-CE, abordo o seu cotidiano, o encontro com a alteridade, o preconceito e discriminação raciais, as dificuldades de inserção nas faculdades, assim como seus dramas sociais ao final dos cursos, quanto à possibilidade de regresso ao seu país de origem ou, de permanência em território brasileiro. De fato, as universidades brasileiras, muitas vezes desconhecem as realidades desses estudantes e de seus países de origem, vistos apenas, como consumidores de conhecimento, cujas experiências são subaproveitadas ou desperdiçadas. Essa migração estudantil tem gerados grupos, movimentos e associações estudantis a congregar estudantes africanos baseados em distinções nacionais, portanto, bastante estéreis e sem capacidade de negociação com as instituições de ensino superior brasileiras. Colocados na posição de estrangeiros e negros, muitas vezes, os estudantes africanos vivenciam um estado de anomia social, onde tem que “se virar” sozinhos, acabando por adotar uma identidade capitalista, baseada no consumo.
Trabalho apresentado na conclusão do curso A Cor da Cultura - Ações Interventivas.
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Na sequência das Eleições Europeias realizadas em 26 de maio de 2019, Portugal elegeu 21 eurodeputados ao Parlamento Europeu para um mandato de cinco ano (2019-2024).
Desde essa data, alguns eurodeputados saíram e foram substituídos, pelo que esta é a nova lista atualizada em maio de 2024.
Para mais informações, consulte o dossiê temático Eleições Europeias no portal Eurocid:
https://eurocid.mne.gov.pt/eleicoes-europeias
Autor: Centro de Informação Europeia Jacques Delors
Fonte: https://infoeuropa.mne.gov.pt/Nyron/Library/Catalog/winlibimg.aspx?doc=52295&img=11583
Data de conceção: maio 2019.
Data de atualização: maio 2024.
Livro de conscientização acerca do autismo, através de uma experiência pessoal.
O autismo não limita as pessoas. Mas o preconceito sim, ele limita a forma com que as vemos e o que achamos que elas são capazes. - Letícia Butterfield.
América Latina: Da Independência à Consolidação dos Estados NacionaisValéria Shoujofan
Aula voltada para alunos do Ensino Médio focando nos processos de Independência da América Latina a partir dos antecedentes até a consolidação dos Estados Nacionais.
Projeto de articulação curricular:
"aLeR+ o Ambiente - Os animais são nossos amigos" - Seleção de poemas da obra «Bicho em perigo», de Maria Teresa Maia Gonzalez
UM OLHAR SOBRE AS INTERAÇOES AFETIVAS HOMENS AFRICANOS NO CONTEXTO DE MIGRAÇÃO ESTUDANTIL EM FORTALEZA. Curta Genero 2014. Ercílio Langa
1. 1
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL GÊNERO, CULTURA E MUDANÇA
UM OLHAR SOBRE AS INTERAÇOES AFETIVAS HOMENS AFRICANOS NO CONTEXTO DE
MIGRAÇÃO ESTUDANTIL EM FORTALEZA
A VIEW OF AFFECTIVE INTERACTIONS RELATED TO AFRICAN MALES WITHIN THE
CONTEXT OF STUDENT MIGRATION IN FORTALEZA
LANGA, Ercílio Neves Brandão1
Resumo
Este paper aborda as interações afetivas de estudantes africanos residentes em Fortaleza. No contexto dessa migração
estudantil, os africanos não estão inteirados dos limites sociais tradicionais existentes na sociedade fortalezense. Sua
presença e interações afetivas rompem com algumas fronteiras, socialmente estabelecidas nesta metrópole. Seus
relacionamentos articulam dimensões como gênero, raça, classe, etnia, formato de corpo e de cabelo e outras
interseccionalidades, que se sobrepõem e se intersectam como atributos desejáveis e/ou atraentes. Assim, indago-me
sobre o que a experiência de migração produz nas suas identidades étnicoraciais e afetivo-sexuais? Desenvolvo essa
pesquisa através de observações etnográficas, com recurso a conversas informais e entrevistas abertas com esses
sujeitos.
Palavras-chave: Migração estudantil africana, Interações afetivo-sexuais, Interseccionalidades.
Abstract
This paper approaches affective interactions related to male African students living in Fortaleza. Within the context of
that student migration, the Africans are not aware of traditional social limits existing in the local society. The presence of
those nationals and their affective interactions burst open some frontiers that were socially established in this metropolis.
Their relationships articulate dimensions such as gender, race, social class, ethnics, body and hair configurations and
other intersectionalities that overlap and intercept as desired and/or attractive features. What is it, then, the upshot of the
migration experience on those identities characterized by ethnic, racial and sexual hues? This research is developed by
means of ethnographic observations, informal dialogues and open interviews involving the subjects.
Key Words: Migration of African Students, Affective-Sexual Interactions, Intersectionalities.
Introdução: contextualizando as interações afetivas entre africanos e brasileiras em
Fortaleza
A presença de estudantes africanos no estado do Ceará teve início na segunda metade da
década de 1990, com o primeiro grupo oriundo de Angola. Nesse período, vinham somente
estudantes de países africanos que falam a língua portuguesa para integrar-se na Universidade
Federal do Ceará (UFC), através do Programa de Estudantes Convênio – de Graduação (PEC-G).
A partir de 1998, inicia-se a imigração de estudantes bissau-guineenses e cabo-verdianos e, dois
anos depois, estudantes são-tomenses, angolanos e moçambicanos. No início dos anos 2000, há
um aumento significativo do número de estudantes africanos residentes no Ceará, cuja maioria
vem estudar em faculdades particulares, com contratos firmados em seus países de origem, a
partir de publicidade e vestibulares realizados em Guiné-Bissau.
O aumento da imigração de estudantes africanos para o Brasil, no início do século XXI,
1
Doutorando em Sociologia, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza-Ce. E-mail: ercilio.langa@gmail.com.
2. 2
também foi impulsionado pelo discurso governamental do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
sua política de cooperação e aproximação com a África. Tal política de cooperação, em curso,
visa particularmente atingir o ensino superior, através de criação de distintos mecanismos, como
estágios profissionais, bolsas de estudo e convênios, no sentido de viabilizar a vinda de africanos
para estudar no Brasil. Nesse contexto da migração estudantil, nos encontros cotidianos, em
diferentes situações e circunstâncias, cearenses e africanos, de ambos os sexos, olham-se de
forma ambivalente, discriminando-se e sexualizando-se.
Nas interações, os estudantes africanos, na condição de negros e imigrantes, portanto,
sujeitos marginais, são colocados em posição inferior e de subalternidade, ocupando um lugar
secundarizado em termos de preferências afetivas para relacionamentos estáveis. Ao mesmo
tempo em que são objeto de estigma, os estudantes africanos são também objeto de desejo
sexual para encontros fortuitos, sem compromissos afetivos. Por sua vez, africanos também
desenvolvem olhares estigmatizantes em relação, sobretudo, à população composta por lésbicas,
gays, bissexuais e travestis (LGBT). No entanto, no âmbito da presença africana, tem-se, ainda
com menor expressão e visibilidade, trocas de olhares entre africanos(as) e brasileiros(as) do
mesmo sexo que, assumem distintas identidades como homossexuais, gays, e lésbicas, em
relações veladas, subterrâneas, não assumidas em público.
Uma via investigativa fecunda é considerar o universo simbólico que circunscreve os
negros no imaginário brasileiro. A rigor, os olhares que discriminam e, ao mesmo tempo,
sexualizam negros e negras africanas têm raízes históricas no Brasil, remontando ao período da
escravidão, com ressignificações contemporâneas.
De fato, as relações afetivo-sexuais entre africanos(as) e brasileiros(as) são dominadas
por representações hipersexualizadas acerca do “outro”, no tocante às performances, aptidão e
tamanho dos órgãos sexuais, revelando desejo e fetiche sexual acerca do homem africano, tido,
no imaginário social, como “bom de cama”, insaciável, com performances sexuais acima da média
e sempre disponível para satisfazer fantasias de mulheres e homens cearenses. Entre os
africanos, o Brasil é visto como um lugar exótico, país do carnaval e da sexualidade liberada,
caracterizado pela diversidade sexual e de gênero. Durante os momentos de interação, há esforço
de africanos e de brasileiros para encarnar estereótipos existentes acerca da sexualidade do
outro, dominados por curiosidade e interesses mútuos onde a raça é peça fundamental da
diferença cultural. Nesse tipo de busca, e aproximações, a iniciativa pode partir tanto de africanos,
assim como de brasileiros. Tais encontros articulam gênero, raça, etnicidade e são mediados por
sexo, afetos, presentes e dinheiro (PISCITELLI et al., 2011).2
2
Em seu trabalho, Piscitelli et al., (2011) interessam-se, particularmente, pelas interações afetivo-sexuais entre imigrantes do sexo
masculino de países pobres com mulheres, gays e travestis de outros mais desenvolvidos, que envolvem estereótipos, relações de
dominação, casamentos binacionais etc.
3. 3
É fato inconteste que raça, sexo, formas corporais e cabelos apresentam-se como fatores
de atração, existindo preferência de africanos por mulheres brasileiras corpulentas, de pernas
grossas, de pele mais clara e, particularmente, por mulheres louras. Nesse mercado sexual,
africanos têm preferência por mulheres brasileiras brancas em detrimento das brasileiras negras e
das mulheres africanas. Nessas relações, as mulheres brasileiras bancam quase tudo, ou seja,
pagam as contas no cotidiano, em supermercados, lojas, restaurantes, aluguel de apartamentos,
mensalidades das faculdades e outras formas de ajuda.
O fato de mulheres brasileiras não assumirem, publicamente, o relacionamento afetivo com
africanos, o caráter descartável das relações, o ficar – relações fugazes e fluídas que podem durar
de algumas horas a uma semana, ou um mês no máximo, são outras situações que representam
violência simbólica3
que, atinge os homens africanos na sua autoestima, ao mesmo tempo que
viabilizam melhores condições de vivência na diáspora. Nesse padrão de interação, são as
brasileiras quem mandam e ditam os momentos, as circunstâncias e os lugares em que estas
relações podem ocorrer. Nesses processos, os homens africanos terminam por experienciar
posições inversas que as assumidas no contexto das suas terras de origem, perpassadas de
configurações machistas, de dominância e mando.
Percursos metodológicos: uma etnografia de “perto e de dentro” da migração estudantil
Na condição de estudante moçambicano integrante dessa migração, tenho observado as
interações afetivas entre africanos e africana e entre africano(a) e brasileiro(a)s no cotidiano e nas
festas africanas, bares, boates e discotecas. Tais locais constituem outro espaço privilegiado de
observação, tornando possível fazer uma “etnografia das noites”, descrevendo os rituais, as
interações e as performances dos atores envolvidos. Essa metodologia é inspirada em Magnani
(2002) em estudos sobre a juventude, cidade e etnografia, que o autor designa de olhares “de fora
e de longe” e “de perto e de dentro”. A partir desses olhares, Magnani analisa a dinâmica cultural
e formas de sociabilidade nas grandes cidades. As situações vivenciadas enquanto estudante
africano, que pesquisa, esse “pedaço” africano em Fortaleza nos termos de Magnani (2002), ou
seja, a comunidade em que estou inserido permite-me, privilegiar uma observação de “perto e de
dentro”. Ao mesmo tempo, o fato de pesquisar o cotidiano desses sujeitos na sociedade cearense,
com cultura, contexto e instituições diferentes das encontradas em África, proporciona um olhar
“de fora e de longe”.
3
De acordo com Bourdieu (2002), a violência simbólica se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de
conceder ao dominante quando ele dispõe – para pensar e para se pensar, ou para pensar a sua relação com ele- mais do que
instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo mais que a forma incorporada da relação de dominação,
faz esta relação ser vista como natural. Assim, as classificações são incorporadas e naturalizadas, como por exemplo, alto/baixo,
masculino/feminino, negro/branco.
4. 4
Preferências afetivas, interseccionalidades e a dominação nas interações dos africanos
As preferências afetivo-sexuais, fundadas em determinados atributos tidos como
desejáveis e atraentes – raça, origem, cor do cabelo, formato do corpo, classe, posição social,
renda e outras formas de afirmação e diferenciação – encarnam múltiplas expressões
discriminatórias, configurando aquilo que Crenshaw (2002) e Piscitelli (2008) designam de
“discriminação interseccional ou interseccionalidade”. Crenshaw (2002) argumenta que as
discriminações de raça, etnia, gênero, classe, renda, não são mutuamente excludentes, e assim,
muitas vezes se sobrepõem e se intersectam, criando complexas conexões onde se juntam dois,
três ou mais elementos. Assim, a autora propõe a noção de discriminação interseccional como
uma ferramenta capaz de circunscrever hibridizações nos processos discriminatórios. Tomando
como exemplo a discriminação racial, Crenshaw aponta que, em determinados contextos, esse
fenômeno se apresenta de maneira específica e diferenciada para os indivíduos, atingindo, de
formas distintas, homens e mulheres.
Já Piscitelli (2008) propõe a interseccionalidade como categoria analítica para apreender a
articulação de múltiplas formas de diferenças e desigualdades, esclarecendo que em muitas
situações, não se trata somente de discriminação racial, étnica, sexual, de gênero ou de classe
em esferas separadas, mas, sim, da diferença em seu sentido amplo a articular múltiplas
expressões de discriminação. Tal noção se baseia na premissa de que as pessoas têm
identidades múltiplas, derivadas das relações sociais, históricas e estruturas de poder,
experimentando de forma diferente as várias formas de dominação e discriminação nas suas
trajetórias.
Cumpre salientar que as interações entre jovens africanos e mulheres e homens brasileiros
também ocorrem em meio a tensões e choques culturais e, alguns africanos e africanas sentem-
se usados em relacionamentos permeados de poder e de dominação simbólicos (BOURDIEU,
2002). Nessas relações, as mulheres brasileiras bancam quase tudo, ou seja, pagam as contas no
cotidiano, em supermercados, lojas, restaurantes, aluguel de apartamentos, mensalidades das
faculdades e outras formas de ajuda.
Em seu habitus (BOURDIEU, 2003), os estudantes tendem a gostar de “mulheres
cheinhas”, com carne, com seios e bundas avantajadas, tal é tipo ideal de mulher gostosa,
propalada pelos africanos. Já entre mulheres brasileiras, existe a atração por africanos de pele
mais escura, pelos mais altos e de corpo atlético. Cabe considerar que essa migração assume
expressões heterogêneas, com estudantes de diferentes países, regiões e culturas, embora, ao
mesmo tempo, tais sujeitos apresentem aspectos comuns, um habitus africano, como princípio a
estruturar modos de viver, no contexto de imigração (BOURDIEU, 2003, p.125).
5. 5
Normalmente, as brasileiras que se interessam pelos estudantes africanos são mulheres
brancas mais velhas, coroas, mas também moças das classes populares, mulheres gordas, ou
que não se enquadram no ideal estético e de beleza vigentes na sociedade brasileira. A noção de
coroa configura uma categoria nativa brasileira com que se designam mulheres e homens mais
velhos(as). Entretanto, essa categoria é ressignificada pelos estudantes africanos, que passam a
chamar de coroas não somente ás mulheres mais velhas, mas também aquelas que não se
enquadram no ideal estético vigentes no Brasil
Algumas dessas mulheres possuem uma renda mediana ou alta, poder de compra e de
consumo, carro, casa própria, carreira profissional, condições que, muitas vezes, atraem os caça-
brasileiras,4
jovens estudantes africanos que somente se relacionam afetiva e sexualmente com
mulheres brasileiras. Nesses processos, os homens africanos terminam por experienciar posições
inversas que as assumidas no contexto das suas terras de origem, perpassadas de configurações
machistas, de dominância e mando. Por fim, torna-se necessário ressaltar o papel da violência,
que parece permear e estruturar suas relações afetivas com homens africanos, tidos como
“brutos”. De fato, são notórias as queixas de mulheres africanas e brasileiras sobre a violência nos
relacionamentos com homens africanos.5
Considerações finais
Neste artigo, analisei as interações afetivas vivenciadas por jovens africanos de ambos os
sexos, no contexto da imigração estudantil em Fortaleza. Até ao momento, concluo que as festas
e as relações afetivas abrem preciosas janelas para apreciar e compreender processos de
negociações identitárias em relação à classe, raça, gênero, sexualidade e outros atributos,
engendrados pelos os estudantes africanos na diáspora. Durante as interações, tais atributos se
sobrepõem e se intersectam criando correlações diversas que atingem homens e mulheres de
formas distintas. Nesses processos, os rapazes experienciam posições inversas que as
assumidas no contexto de suas terras de origem, já as moças, se envolvem em nítidas relações
de submissão, a envolver dependência econômico-financeira, em seus relacionamentos tanto com
africanos, como com brasileiros, em relações não estão isentas de choques culturais, assim como
de relações de poder e dominação. Mesmo assim, esses padrões de interações não impedem os
sujeitos de negociar suas posições sociais.
4
Termo inspirado em Cantalice (2009), na sua análise acerca das interações afetivo-sexuais entre jovens brasileiros e turistas do sexo
feminino de países nórdico-europeus.
5
São incontestes os episódios de violência física de homens africanos em seus relacionamentos com mulheres africanas e brasileiras.
Tal fato torna-se visível pela quantidade de denúncias feitas por amigos e vizinhos, assim como pelos Boletins de Ocorrência abertos
por mulheres brasileiras, na única Delegacia da Mulher existente em Fortaleza. Se as mulheres brasileiras denunciam essas situações
e dirigem-se à delegacia, as mulheres africanas parecem consentir tal violência. Assim, torna-se necessária uma pesquisa sobre a
violência no namoro e no ficar com homens africanos e, o diferencial nas reações entre mulheres africanas e brasileiras diante da
violência.
6. 6
Referências
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2008.
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______. A Dominação Masculina. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
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interações afetivo–sexuais em contextos de viagem turística (Pipa-RN). 2009. 260 p.
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Federal de Pernambuco- RE, 2009.
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da
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GEERTZ, Clifford. “Do Ponto de Vista dos Nativos”: a natureza do entendimento antropológico.
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PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes
brasileiras. Revista Sociedade e Cultura, v.11, n.2, jul./dez. 2008. p. 263-274.
__________________. Introdução: transitando através de fronteiras. In:________ et al. (orgs.).
Gênero, sexo, amor e dinheiro: mobilidades transnacionais envolvendo o Brasil.
Campinas/São Paulo: UNICAMP/PAGU, 2011. p. 5-30.