24. TIRO AO ÁLVARO - 1973 [Primeira Gravação em 1980]
(Adoniran Barbosa e Oswaldo Moles)
De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece, sabe o que?
Táuba de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
Não tem mais
Teu olhar mata mais do que
Bala de carabina
Que veneno istriquinina
Que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais
Que atropelamento de artomórve
Mata mais que bala de revórve
25. ARUEIRA - 1967 [1971 na Coleção Abril HMPB]
(Geraldo Vandré)
Vim de longe vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar
Noite e dia vem de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado mandando dar
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar
Marinheiro, marinheiro quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro eu também sei governar
Madeira de dar em doido vai descer até quebrar
É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar
https://www.youtube.com/watch?v=EGyb1
1knYYo
26. BOI VOADOR NÃO PODE - 1973
(Chico Buarque e Ruy Guerra)
Quem foi, quem foi
Que falou no boi
voador Manda
prender esse boi Seja
esse boi o que for
O boi ainda dá bode
Qual é a do boi que
revoa Boi realmente
não pode Voar à toa
É fora, é fora, é fora
É fora da lei, é fora do
ar É fora, é fora, é fora
Segura esse boi
É proibido voar https://www.youtube.com/watch?v=tgQ_sz
gCKBA
27. ACORDA AMOR - 1974
(Leonel Paiva e Julinho da Adelaide)
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá
fora Batendo no portão, que
aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa
criatura Chame, chame,
chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de
escada Fazendo confusão,
que aflição
São os homens e eu aqui parado de
pijama Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você
Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho
pega Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, clame,
chame Chame o ladrão,
chame o ladrão Chame o
ladrão
Não esqueça a escova, o sabonete e o
violão
https://www.youtube.com/watch?v=kMmlX
CcRjJc
28.
29. ANGÉLICA - 1977
(Miltinho e Chico Buarque)
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
https://www.youtube.com/watch?v=bxsix8
bNfFE
30. SOLANGE [SO LONELY] - 1985
(Sting - versão: Leo Jaime e Leoni)
Eu tinha tanto pra dizer
Metade eu tive que
esquecer E quando eu
tento escrever
Seu nome vem me
interromper Eu tento me
esparramar
E você quer me esconder
Eu já não posso nem cantar
Meus dentes rangem por
você Solange, Solange
É o fim Solange
Eu penso que vai tudo bem
E você vem me reprovar
E eu já não posso nem pensar
Que um dia ainda eu vou me
vingar Você é bem capaz de
achar
Que o que eu mais gosto de
fazer Talvez só dê pra liberar
Com cortes pra depois do altar
Solange, Solange,
Solange É o fim,
Solange
https://www.youtube.com/watch?v=sV_cW
YMKxrI
31. CÁLICE – 1973 [Gravação em 1978]
(Gilberto Gil e Chico Buarque)
Pai, afasta de mim esse
cálice Pai, afasta de mim
esse cálice Pai, afasta de
mim esse cálice De vinho
tinto de sangue
Como beber dessa bebida
amarga Tragar a dor, engolir a
labuta Mesmo calada a boca,
resta o peito Silêncio na cidade
não se escuta De que me vale
ser filho da santa Melhor seria
ser filho da outra Outra
realidade menos morta Tanta
mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser
escutado Esse silêncio todo me
atordoa Atordoado eu permaneço
atento
32. CÁLICE - 1973 (cont.)
(Gilberto Gil e Chico
Buarque)
Pai, afasta de mim esse
cálice Pai, afasta de mim
esse cálice Pai, afasta de
mim esse cálice De vinho
tinto de sangue
De muito gorda a porca já não
anda De muito usada a faca já
não corta Como é difícil, pai,
abrir a porta Essa palavra presa
na garganta Esse pileque
homérico no mundo De que
adianta ter boa vontade Mesmo
calado o peito, resta a cuca Dos
bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio
pecado Quero morrer do meu
próprio veneno Quero perder de
vez tua cabeça Minha cabeça
perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
35. “Conta a teu filho, meu filho, daquilo que nós passamos
Que havia fitas gravadas, retratos de corpo inteiro
Conta que nos encolhemos como animais espancados
Que ninguém teve coragem, que respirávamos baixo
Olhos fugindo dos olhos, as mãos frias e suadas
E conta que faz dez anos que temos pouca esperança
Que pedimos testemunho e não aguentamos mais
Talvez teu filho, meu filho, viva em mundo mais aberto
Mas é grave que lhe contes calmamente e nos mínimos detalhes
A história desses punhais cravados em nossas tardes
Porém, se por tudo isso renuncias a ter filhos como (alguns) renunciamos
Deixa inscritos, como eu deixo, sinais em troncos de árvores
Letras em papéis esquivos
Pra que não escureça essa lâmpada mesquinha
Relâmpago, fogo fátuo
Pura lembrança dos dias em que livres,
Fomos filhos de pais muito mais felizes
Conta a quem possas, meu filho
O que em ti forem palavras
Nos outros serão raízes”.
Renata Pallottini / 1974
36. Em 1978,
Geisel acaba com o AI-5,
restaura o habeas-corpus
e abre caminho para a
volta da democracia no
Brasil