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COLÉGIO ARGUMENTO OBJETIVO
ARISTÓTELES
Ione Caroline Teixeira
Leonardo Lopes Seara
Camilla Pessonia Cortez
Jéssica Gonçalves Mendes
Marcela Cristina Lima da Silva
Kelvin Hiromiti Albuquerque Yokota
Professora Orientadora: Marcela Braga
São Paulo
2008
6
Agradecemos o apoio e a orientação da professora Marcela
Braga, que nos incentivou e nos auxiliou durante a realização desta
monografia e, sem a qual, este trabalho jamais poderia ter sido
concretizado.
Agradecemos, ainda, a algumas pessoas que nos
acompanharam e nos ajudaram durante a realização do presente
texto: Raul da Silvia Cortez, Cleide Pessonia Cortez, Edivaldo
Mendes da Silva, Edilene Magalhães Gonçalves Mendes, Luís Sérgio
Gonçalves Mendes, Ana Maria Araújo Lima, Marcelo Nascimento da
Silva e Jorge Miklos.
7
“O estudo da verdade é, num sentido, difícil e, noutro, fácil. A prova disto
é que ninguém pode alcançar plenamente a verdade, mas ninguém pode
perdê-la inteiramente. Cada filósofo tem algo a dizer sobre a Natureza em
si mesma; esta contribuição não é nada ou é pouca coisa, mas o conjunto
de todas as reflexões produz um resultado profundo.
(...) Que a filosofia não é uma ciência prática, mas teorética, mostra-se
pela história dos mais antigos filósofos. Como efeito, outrora, como hoje,
foi, e é, pelo espanto (tò thaumázein) que os homens chegaram, e chegam,
ao filosofar (...) Aperceber-se de uma dificuldade e espantar-se é
reconhecer sua própria ignorância e, por isso, amar os mitos (philómytos)
é, de certa maneira, mostrar-se filósofo (philósophos), pois o mito está
repleto do espantoso. Foi para escapar à ignorância que os primeiros
filósofos entregavam-se à filosofia, buscavam a ciência para conhecer e
não para usá-la.”
(ARISTÓTELES in CHAUÍ, 1994).
8
SUMÁRIO
1 OBJETIVOS................................................................................................................... 6
2 A VIDA DE ARISTÓTELES ....................................................................................... 7
3 FILOSOFIA E IDEOLOGIA ..................................................................................... 15
3.1 As Ciências Teoréticas .............................................................................................. 16
3.1.1 Física ........................................................................................................................ 17
3.1.1.1 Cosmologia .......................................................................................................... 17
3.1.1.2 Biologia ................................................................................................................. 28
3.1.1.2.1 Psicologia ........................................................................................................... 37
3.1.2 Matemática ............................................................................................................... 41
3.1.3 Filosofia Primeira ..................................................................................................... 46
3.1.3.1 Metafísica .............................................................................................................. 47
3.1.3.2 Teologia ................................................................................................................. 58
3.2 As Ciências Práticas .................................................................................................. 64
3.2.1 Ética .......................................................................................................................... 64
3.2.2 Política ...................................................................................................................... 71
3.2.2.1 Justiça .................................................................................................................... 84
3.2.2.2 Economia ............................................................................................................... 98
3.3 As Ciências Poéticas ................................................................................................. 107
3.4 As Ciências Lógicas .................................................................................................. 118
3.4.1 Lógica ...................................................................................................................... 118
3.4.2 Dialética ................................................................................................................... 132
2.4.3 Retórica .................................................................................................................... 146
4 OBRAS ......................................................................................................................... 155
4.1 As Obras Exotéricas ................................................................................................. 155
9
4.2 As Obras Acroamáticas ............................................................................................ 156
4.2.1 Organon .................................................................................................................. 156
4.2.2 O Estudo da Natureza .............................................................................................. 160
4.2.3 Teórica ..................................................................................................................... 164
4.2.4 Prática ...................................................................................................................... 169
4.2.5 Poética ..................................................................................................................... 174
4.2.6 Outras ...................................................................................................................... 176
5 INFLUÊNCIAS ........................................................................................................... 177
5.1 Pensadores que influenciaram Aristóteles ............................................................. 177
5.1.1 Platão ....................................................................................................................... 178
5.1.1.1 A Influência Platônica sobre o Liceu ................................................................... 181
5.1.2 Sócrates ................................................................................................................... 184
5.1.3 Empédocles ............................................................................................................. 190
5.1.4 Eudóxio ................................................................................................................... 197
5.2 Pensadores influenciados por Aristóteles .............................................................. 199
5.2.1 Ptolomeu ................................................................................................................. 199
5.2.2 Averróis .................................................................................................................. 208
5.2.3 Tomás de Aquino ................................................................................................... 227
5.2.4 Montesquieu ........................................................................................................... 245
6 OPOSIÇÕES E CRÍTICAS ...................................................................................... 250
6.1 O Idealismo Platônico .............................................................................................. 251
6.1.1 O Liceu e sua Nova Educação .............................................................................. 254
6.2 O Antagonismo Socrático ........................................................................................ 257
6.3 O Atomismo ............................................................................................................. 260
6.4 A Questão do Infinito ............................................................................................... 269
6.5 O Maquiavelismo ..................................................................................................... 277
6.6 O Declínio da Metafísica ......................................................................................... 282
10
6.7 A Revolução Científica ........................................................................................... 292
6.7.1 Copérnico ............................................................................................................. 293
6.7.2 Brahe .................................................................................................................... 297
6.7.3 Kepler ................................................................................................................... 300
6.7.4 Galileu .................................................................................................................. 305
6.7.5 Descartes .............................................................................................................. 312
6.7.6 Newton ................................................................................................................. 316
6.8 A Revolução Filosófica .......................................................................................... 319
6.8.1 Bacon ................................................................................................................... 320
6.9 A Doutrina Econômica de Adam Smith ................................................................. 325
7 O LEGADO DE ARISTÓTELES .......................................................................... 331
8 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 334
9 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 336
11
1 OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho são:
• abordar a vida de Aristóteles, um dos grandes filósofos da Grécia Antiga;
• explicar sua filosofia e ideologia de uma maneira simples e exemplificada;
• traçar um paralelo entre suas idéias e as de outros cientistas e pensadores;
• fazer uma síntese de suas principais obras;
• demonstrar a importância e a influência de suas idéias na sociedade atual.
12
2 A VIDA DE ARISTÓTELES
Aristóteles nasceu em 384 a.C. em Estagira, colônia grega da Trácia localizada na
Macedônia, a 320 quilômetros de Atenas.
Na época, a Macedônia era governada pelo rei Amintas II, em cuja corte Nicômaco, pai
de Aristóteles, trabalhava.
Aristóteles foi criado junto com um grupo de médicos, amigos de seu pai e chegou a
servir a corte macedônica, a serviço do rei Amintas. Segundo o site da PUC (Pontifícia
Univerdade Católica) – www.pucsp.br – o fato de ser filho de médico poderia ter dado a
Aristóteles o gosto pelos conhecimentos experimentais e da natureza, proporcionando-lhe
também o sucesso como metafísico.
Figura 1: Aristóteles, o filósofo nascido em Estagira.
Fonte: http://www.biografiasyvidas.com
Dois anos após o nascimento de Aristóteles, nasceu Filipe, filho de Amintas. Mesmo
tendo aspirações muito distintas,os dois dividiram a infância, como pode-se notar no seguinte
trecho: “Enquanto o filho de Amintas se exercita na cavalaria, no tiro ao arco, na caça, o de
13
Nicômaco não é brilhante em tais artes. Ambos,porém, tinham a paixão da natureza, percorrem as
florestas, conhecem as plantas, os animais do chão, as aves, os peixes (...)”.
(http://www.vidaslusofonas.pt).
Aos onze anos, os pais de Aristóteles morreram, por causa desconhecida, e ele foi viver
com sua irmã, Arimnesta, tendo o marido desta, Proxénos, como tutor. Durante a adolescência,
passou a maior parte do tempo estudando seus livros, se questionando e achando respostas para
as suas próprias questões.
Em 367 a.C., aos dezoito anos, Aristóteles foi para Atenas, atraído pela intensa vida
cultural da cidade e pela oportunidade de continuar seus estudos. Nessa época, havia disputa
entre duas instituições educacionais atenienses: a primeira, de Isócrates, que seguia a trilha dos
sofistas e, a segunda, a Academia de Platão.
Isócrates, “propunha-se a desenvolver no educando a aretê política - ou seja, a “virtude”
ou capacitação para lidar com os assuntos relativos à polis -transmitindo-lhe a arte de 'emitir
opiniões prováveis sobre coisas úteis'.” (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999).
Em concorrência a Isócrates estava Platão que via na investigação científica e de índole
matemática a base para toda ação, seja de caráter político ou qualquer outro.
Em sua Academia, fundada em 387 a.C., Platão “mostrava a seus discípulos que a
atividade humana, desde que pretendesse ser correta e responsável, não poderia ser norteada por
valores instáveis, formulados segundo o relativismo e a diversidade de opiniões. (...) O educando
deveria ser levado, por via do socrático exame do significado das essências, estáveis e perenes:
núcleos de significação dos vocábulos porque razão de ser das próprias coisas, padrões para a
conduta humana porque modelos de todos os existentes do mundo físico. (...) Platão apontava um
ideal de linguagem, construída em função das idéias, essas justas medidas de significação e de
realidade.” (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999).
Aristóteles ingressou, sem hesitação na Academia, onde, devido à ausência de Platão
naquela ano, a principal figura era Eudoxo de Cnido, matemático e astrônomo que defendia uma
ética baseada na noção de prazer.
Platão não se encontrava em Atenas em 367 a.C. devido à morte de Dionísio I, tirano de
Siracusa, para onde este se dirigia, a chamado de seu amigo Dion, na esperança de que o novo
tirano, Dionísio II, pudesse ser convencido a adotar uma linha política mais justa e condizente
14
com os interesses helênicos. Platão retornou cerca de um ano depois, cansado da viagem e da
experiência política frustrada na Sicília e, só então é que Aristóteles e ele foram apresentados.
Figura 2: Platão, o fundador da Academia.
Fonte: http://greciantiga.org
Embora tenha apreciado o convívio com seu mestre, amadurecido e consolidado-se como
filósofo, em Atenas, Aristóteles teve dificuldades de se adequar, como pode-se notar neste trecho:
“Aristóteles tem dificuldades na língua do povo com quem convive e encontra nas ruas, não é
conhecido por ninguém. Além disso, na concepção dele, a cidade seria poeirenta, com ar
sufocante, úmido fazendo com que se respirasse mal. As pessoas falavam muito depressa e
usavam expressões que Aristóteles não decifrava.” (http://www.vidaslusofonas.pt).
Não havia um período certo de permanência na Academia, o aluno poderia ficar lá pelo
tempo que achasse necessário. Aristóteles permaneceu nela por 20 anos, inicialmente como aluno
e, mais tarde, devido ao seu destaque, como professor de retórica.
15
Aristóteles começou a sua carreira examinando a retórica, exatamente como Sócrates
havia feito. Este sucesso inicial foi recebido como um insulto pessoal por muitos dos seus
colegas, embora a retórica fosse uma ciência teorética muito disseminada na época, devido ao
fato de ser muito útil para a política. Aristóteles, no entanto, dominou-a muito bem, sendo um dos
primeiros a fazer dela uma especulação teórica.
A sua capacidade de trabalho era considerável “A fim de reduzir a duração do seu sono e
aumentar conseqüentemente o seu tempo de trabalho, tinha o hábito de, antes de adormecer, pôr
na mão uma bola de bronze, segurando-a por sobre uma bacia, a fim de que, ao cair, o ruído feito
pela bola o despertasse.” (CRESSON, 1988).
Em 347 a.C., com a morte de Platão, Aristóteles não aceita Euspeusipo, sobrinho de
Platão, como novo diretor e deixou a Academia, partindo para Assos, onde se dedicou ao trabalho
e a leitura, permanecendo na corte de Hérmias, que reinava sobre Assos e Atarneo.
Com o assassinato de Hérmias, três anos depois, Aristóteles deixou a cidade,
acompanhado pela sobrinha do tirano morto, Pítias, que tornou se sua primeira esposa. Enviuvou
e, pouco tempo depois, casou com Herpília, com quem teve o filho Nicômaco, a quem dedicou
uma das suas obras fundamentais: Ética a Nicômaco.
A morte de Hérmias afetou dolorosamente Aristóteles, que traduziu o que sentia no hino à
virtude: “Virtude, bem de tão difícil aquisição, o bem mais precioso que todo o homem pode
ambicionar, tu és bela, ó jovem virgem, sendo por ti que os Gregos desafiam a morte e suportam
as piores desgraças. Tu inundas as almas de um fruto imortal, superior ao ouro, melhor que os
laços de sangue, melhor que o mais doce sono... Foi por amor à tua beleza que um cidadão de
Atarne, ilustre pelos seus grandes feitos, veio a perder a vida. As Musas, filhas de Mnemósina,
imortalizarão o seu nome, pois elas exaltam a amizade” (ARISTÓTELES in CRESSON, 1988).
Ao sair de Assos, retirou-se para Mitilene, onde foi chamado por Filipe, filho de Amintas,
para ser preceptor de seu filho, o jovem Alexandre, que mais tarde seria conhecido como
Alexandre, o Grande. Aristóteles desempenhou essa função por dois anos, até 336 a.C, quando
Filipe foi assassinado por Pausânias.
No intervalo em que permaneceu com Alexandre, ocorreram grandes feitos, por parte de
Filipe, como: a vitória dos macedônios sobre os gregos na Queronéia, o fim da autonomia das
cidades-Estados que havia caracterizado a Grécia durante todo o período helênico e diversos
16
outros acontecimentos que foram de grande importância para a estruturação política e cultural da
época.
Figura 3: Representação de Alexandre, o Grande.
Fonte: http://www.colegiolondrinense.com.br
A derrota dos gregos foi de grande importância para o contato cultural e para a
miscigenação não só de povos como de ideais. Essa importância é ressaltada no trecho a seguir:
“A partir de então - dominada pela Macedônia e, mais tarde por Roma -, a Grécia integrará
amplos organismos políticos que diluirão suas fronteiras e atenuarão as distinções culturais que
tradicionalmente separavam os gregos de outros povos, sobretudo dos ‘bárbaros’ orientais.”
(Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999).
Filipe da Macedônia foi grande contribuinte para o sucesso de seu filho, Alexandre. Foi
descrito como: “Guerreiro brilhante, tático e diplomata, lutou muito nos seus 20 anos de governo
para alcançar seu sonho de ter um império poderoso. O seu grande êxito foi mudar a maneira de
guerrear, criando uma infantaria bem treinada e pesada, equipada com lanças de 4,2 metros, que
17
lutava numa formação falange retangular fechada. Seus exércitos tomaram o mundo grego por
surpresa, conquistando primeiro a terra continental da Grécia e voltando a atenção para a Trácia,
Liria e os pontos longínquos do norte do Egeu. (...) Filipe foi assassinado por um nobre, aos 46
anos, no momento em que tinha transformado a Macedônia no reinado mais poderoso do mundo
grego. (http://www.discoverybrasil.com).
Com a morte do pai, Alexandre decidiu assumir o trono com apenas 20 anos,
abandonando as aulas de Aristóteles. Sendo assim, auxiliado por Alexandre, Aristóteles voltou
para Atenas, onde fundou sua escola, o Liceu, onde lecionou durante 12 anos.
“Para começar com essa escola, que seria a rival da já meio decadente Academia,
Aristóteles alugou alguns edifícios próximos ao templo em honra a Apolo Lício, por causa disso,
a escola de Aristóteles ficou sendo conhecida como Liceu. Os estudantes receberam o nome de
Peripatéticos, pois aprendiam passeando com o seu mestre nos jardins do Liceu. A pesquisa
realizada por Aristóteles e seus discípulos foi um projeto monumental”
(http://www.consciencia.org).
Ao contrário da Academia, voltada principalmente para investigações matemáticas, o
Liceu transformou-se num centro de estudos dedicados principalmente às ciências naturais, que
não marcaram apenas a perspectiva da escola, como também a visão científica e filosófica de
Aristóteles, que transpôs para toda a natureza categorias explicativas pertencentes
originariamente ao domínio da vida.
Alexandre conquistou seu império com grande velocidade e nível de estratégia altíssimo.
Ele possuía um incansável vigor pela expansão de seu império, tendo como seu maior sucesso a
conquista da Pérsia, naquela época, maior rival da Grécia. Seu império estendeu-se não apenas
pela Grécia, como também pelo Egito (onde ele fundou a cidade de Alexandria) e pelo Paquistão.
Além disso, ficou conhecido pela chamada política de fusão: Alexandre não destruía os países
conquistados, mas os regia com justiça e assimilava seus habitantes em seu governo e em seu
exército, promovendo a miscigenação entre todos os povos que conquistara. Em suma, suas
conquistas não se deram apenas pelo poder de seu exército, mas também por sua inteligência em
estratégia e administração dos povos conquistados. Contudo, Alexandre lutou até a exaustão, não
poupando o seu corpo, bebia demais e não tinha grandes preocupações com a saúde. Morreu aos
18
32 anos, de febre, sem deixar herdeiros. O seu império entrou em colapso pouco depois a sua
morte, vindo a se desmembrar logo em seguida.
Aristóteles e Alexandre haviam mantido sua ligação, tendo Alexandre dado indicações
aos seus súditos para ajudarem Aristóteles colhendo material botânico das terras distantes,
conquistadas em suas expedições, para enviar-lhe exemplares que pudessem enriquecer as
coleções do Liceu. Também mandou a Aristóteles, da Ásia, todos os animais que pudessem lhe
interessar, o que proporcionou a Aristóteles o conhecimento necessário para escrever A Natureza
dos Animais.
“Essa ligação com o Império Macedônico fez com que Aristóteles sofresse com a grande
reação que houve em Atenas após a morte de Alexandre, sob a alegação de ter sido o mestre
daquele que conquistara a Grécia.” (www.consciencia.org).
Devido à situação que se estabelecera na Grécia, após a morte de Alexandre, em 323 a.C.,
e a hostilidade da facção antimacedônica, Aristóteles deixou o Liceu na responsabilidade de um
de seus discípulos, Teofrasto, e deixou Atenas, dirigindo-se para Cálcis, local de nascimento de
sua mãe, na ilha de Eubéia. Lá ele permanece até 322 a.C. quando morreu aos 62 anos, poucos
meses depois de ter se exilado. A provável causa de sua morte foi a doença de estômago com que
sofrera a vida toda.Com sua morte, deixou seus dois filhos que ainda não haviam atingido a
maioridade, Pítias, nome herdado de sua primeira mulher, e Nicômaco.
Suas cinzas “foram inumadas em Estagira, e, tal como fora pedido, as ossadas de Pítias,
sua mulher, foram igualmente colocadas em seu túmulo.” (CRESSON, 1988).
Aristóteles escreveu cerca de cento e vinte obras, das quais quarenta preservaram-se até
hoje. Seus livros fundamentais são: Retórica, Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo, Organon,
Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos, Física, Metafísica, Tratado do Céu, Crescimento e
Decadência, Tratado de Anima (ou Tratado da Alma), Historiae Animalium (ou História
Animal), Política, entre outros.
Aristóteles foi o primeiro filósofo que verdadeiramente separou a filosofia da ciência. Ele
inventou o primeiro sistema de lógica, estabeleceu as ciências da biologia e zoologia, fundou a
sua própria universidade e esteve entre os primeiros cientistas políticos. Como pensador, as
contribuições de Aristóteles foram únicas e sem paralelos até o século XIX
(www.discoverybrasil.com).
19
O organizador da Biblioteca de Alexandria, Andrônico de Rodes - que também foi o
décimo sucessor de Aristóteles no Liceu - conseguiu organizar um edição de suas obras em
meados do século I. (http://www.consciencia.org).
Figura 4: A estátua de Aristóteles.
Fonte: http://filosofiagrega.zip.net
Segundo o site da PUC, a estátua que dele se conserva o apresenta com a testa e a cabeça
menor que a de Platão, cabelo aparado, sem ser calvo como Sócrates, barba não alongada, boca
pequena entre lábios finos.
“Tal foi o maior dos mestres” (http://www.pucsp.br).
20
3 FILOSOFIA E IDEOLOGIA
A filosofia surgiu na Grécia, quando o homem passou a buscar uma explicação racional
para o mundo, não se contentando com as explicações míticas e lendárias, em que todos os
fenômenos eram atribuídos à ação dos deuses. (MARTINS FILHO, 2000).
A palavra filosofia deriva de duas palavras gregas (philos + sophia) e significa amor a
sabedoria. A filosofia assenta-se no pensamento e faz-se colocando questões, argumentando,
ensaiando idéias e pensando em argumentos possíveis contra elas. A filosofia procura saber como
funcionam os nossos conceitos.
No livro Manual Esquemático de Filosofia, Ives Gandra diz que na Grécia Antiga, a
filosofia, mais do que uma matéria de estudo, era um caminho e uma maneira de vida. A
sabedoria deveria ser o objeto de amor do filósofo e, consistiria numa permanente vontade de
saber unida a um respeito intelectual pela verdade. Já para Thomas Nagel, autor do artigo do site
‘O que quer dizer tudo isso?’, a preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos
e compreendermos idéias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas.
(http://ocanto.webcindario.com)
Para Aristóteles, assim como para Platão, a filosofia deveria estudar o universal e o
necessário, uma vez que não poderia haver uma ciência que tivesse como objetivo estudar o
individual e o que pode ser desprezado.
Para Aristóteles a filosofia é essencialmente teorética, ou seja, tem como dever decifrar o
enigma do universo, e o seu problema fundamental é o problema do ser, não o problema da vida.
Assim sendo, o objeto próprio da filosofia são as essências imutáveis e a razão última das coisas,
isto é, o que as coisas são e qual a sua natureza. Filosofia seria, portanto, a compreensão do
mundo e de tudo o que o compõe de forma racional, e é exercida por aqueles desejosos de
conhecimento.
As idéias filosóficas de Aristóteles partem do problema do valor objetivo dos conceitos,
assim como as de Platão, seu mestre. Contudo, Aristóteles não utiliza a mesma solução que seu
mestre, criando um sistema de raciocínio totalmente original.Sua característica principal como
filósofo “é um robusto bom senso, que se recusava a acreditar que este mundo fosse algo que não
fosse completamente real. A filosofia, tal como se lhe apresentava, era uma tentativa para
21
explicar o mundo natural, e se não o conseguisse fazer, ou se o pudesse explicar apenas pela
introdução de um misterioso mundo-modelo transcendente, destituído de propriedade tipicamente
natural do movimento, devia, pois, considerar-se que tinha fracassado.” (GUTHRIE, 1987).
O sistema criado por Aristóteles parte de três princípios básicos:
- Observação fiel da natureza: enquanto Platão rejeitava a experiência como fonte de
conhecimento certo, Aristóteles toma o fato como ponto de partida para as suas teorias e busca na
realidade um apóio sólido para as suas especulações metafísicas.
- Rigor no método: Aristóteles substituiu a linguagem figurada de Platão por um estilo
conciso e de terminologia filosófica precisa. Ao estudar uma questão, Aristóteles procede por
partes começando por definir o objeto da questão, para depois enumerar soluções históricas,
propor as dúvidas, indicar a própria solução e, por último, debater sobre as sentenças contrárias à
solução encontrada. Esse rigor no método de estudo proporciona um entendimento mais profundo
e amplo sobre a questão escolhida.
- Unidade do conjunto: Todas as suas obras constituem um sistema, uma síntese. Todas
as partes se confirmam, se compõem, e se correspondem.
A filosofia, de Aristóteles, dividir-se-ia em três áreas: a teorética, a prática e a poética. O
estudo dessas três áreas abrangeria todo o saber humano e racional. Contudo, foi criada mais uma
divisão da filosofia aristotélica, denominada ciências especiais na qual está inclusa a lógica,
criada por Aristóteles, a retórica e a dialética, que se encontram dissolvidas nas demais obras.
Para possibilitar um estudo mais profundo e específico da ideologia aristotélica, utiliza-se,
nesse trabalho, a divisão citada a cima.
3.1 As Ciências Teoréticas
O termo “teorético” é uma derivação de “teoria”, proveniente do verbo grego theorein,
cujo significado é “contemplar”, como consta no site www.olavodecarvalho.org. As ciências
teoréticas, sendo assim, são aquelas cuja finalidade é tratar do real após uma observação do
mesmo.
22
Elas são aquelas capazes de explicar fenômenos que chegam a nós através dos sentidos,
criando um conceito que define o que algo é.
Aristóteles classificou a física, a matemática e a filosofia primeira, que engloba a
metafísica e teologia, como sendo ciências teoréticas.
3.1.1 Física
Entende-se por física a ciência das coisas naturais, aquela que estuda a composição dos
materiais e os fenômenos por eles evidenciados.
Atualmente, o significado de física é mais específico do que na Antigüidade. Segundo a
definição do Dicionário Aurélio, 1975, física é a ciência que investiga as propriedades do campo,
que estuda os meios materiais, além das propriedades e leis fundamentais de ambos. No entanto,
a concepção grega e a de Aristóteles é de que “a física é o mundo dos fenômenos - o mundo que
se apresenta diante de nós, considerado na sua totalidade”. (http://www.olavodecarvalho.org).
Por conseguinte, o que é definido, atualmente, como biologia e química, antes era
integrado aos estudos físicos.
A física, por ser ampla, era divida em duas partes: a primeira referente aos processos
cósmicos, o que atualmente denominamos como cosmologia; a segunda, por sua vez, referia-se
aos seres vivos e deu origem à biologia.
3.1.1.1 Cosmologia
Aristóteles foi autor de diversas teorias que explicavam a formação da matéria, a forma
com que se davam os movimentos, além de conceituar espaço e tempo.
Com Aristóteles a Cosmologia grega atingiu seu desenvolvimento mais abrangente e
sistemático. Sua visão do Cosmo era uma síntese das instituições de seus inúmeros predecessores,
das idéias dos jônicos e de Empédocles relacionadas aos elementos naturais, à Astronomia e o
problema dos planetas de Platão. (TARNAS, 2000).
23
Em relação ao estudo do universo e de seus elementos, Aristóteles defendia um sistema
filosófico para a explicação do mundo físico que o cercava baseado na ideologia de Empédocles,
de que toda e qualquer matéria seria composta de cinco elementos: terra, ar, fogo, água e éter.
Entende-se por matéria quaisquer substâncias sólida, líquida ou gasosa que ocupam lugar
no espaço.
Os quatro elementos materiais básicos (fogo, ar, água e terra) representam, no pensamento
grego, aquilo que chamamos de estados da matéria: “água” não se refere apenas à água
propriamente dita, mas a qualquer líquido (vinho, vinagre, óleo, etc.), assim como “terra”
representa qualquer sólido. A água, ao se congelar, torna-se terra (gelo); ao ser aquecida, torna-se
ar (vapor); e o fogo é o estado de maior aquecimento do ar, que se torna luminoso. Essas quatro
possibilidades esgotam tudo o que se conhecia e serviam para descrever todos os tipos de
materiais da natureza (http://www.colegiosaofrancisco.com.br).
O universo físico poderia ser divido em duas regiões distintas de acordo com a sua
composição e tendo como marco a esfera em que a Lua se encontraria: a sublunar e a supralunar.
A primeira, constituída pelos quatro primeiros elementos, compreenderia a Terra e sua atmosfera.
Estes elementos possuiriam, cada qual, qualidades distintas, como peso, temperatura e umidade.
O fogo seria quente e seco, a água, fria e úmida, o ar, quente e úmido e a terra, fria e seca. O
resultado da união deles, em diferentes proporções, corresponderia à formação os corpos.
Dessa forma, e ainda segundo a concepção de Aristóteles, o mundo sublunar seria aquele
submetido à mudança e degradação; nele os seres estariam submetidos ao tempo: nasceriam,
cresceriam e morreriam e, portanto, não seriam dignos de maiores estudos ou análises.
(http://www.geocities.com).
A pouca importância dada ao mundo sublunar é devido ao fato de que seria impossível
conhecer o que está sujeito à constantes modificações.
Opondo-se a essa região mutável e imperfeita estaria o mundo supralunar, composto pela
quinta essência, o éter, substância invisível mais pura do que o fogo e, por conseguinte,
representava o elemento superior, definido como divino. Tal região compreenderia o espaço
celeste, incluindo desde os planetas visíveis até a esfera em que estariam situadas as estrelas
fixas. O mundo supralunar era considerado o mais próximo da perfeição devido à eternidade dos
corpos celestes, suas trajetórias físicas e suas propriedades inalteráveis.
24
Segundo a ideologia aristotélica, a região classificada como supralunar apresentava-se
composta por esferas, no total de 56, umas dentro das outras, que giravam cada qual em seu
respectivo eixo. Baseada na concepção de Aristóteles, a Terra, situada no centro, era imóvel,
esférica e circundada pelos planetas e estrelas, fixos em suas respectivas esferas. O que
determinaria, pois, o movimento irregular dos planetas era a diferença no eixo e na velocidade de
rotação de cada uma das estruturas esféricas em que estavam situados. Cada uma delas mover-se-
ia em função da esfera imediatamente superior, responsável por atuar como um motor, desta
maneira, entende-se como sendo “o movimento de todas as esferas (...) uma combinação de sua
própria rotação com os movimentos das esferas que estão acima dela.” (GUTHRIE, 1987).
Aristóteles concluiu que a Terra era redonda observando que a sombra da Terra sobre a
face da Lua, num eclipse lunar, era um arco. (http://www.oba.org.br).
Figura 5: O Universo para Aristóteles
Fonte: http://www.scielo.br
A única exceção era a camada exterior, esfera em que se situavam as estrelas, que não
apresentaria rotação.
25
O movimento da grande esfera do universo, segundo Aristóteles, seria perfeito, sendo o
único movimento circular capaz de se perpetuar eternamente sem nunca voltar.
Com o objetivo de explicar os movimentos rotatórios propostos pelo filósofo grego,
vários astrônomos antigos propuseram soluções matemáticas engenhosas.
Enquanto o universo apresentaria movimento circular, a Terra permaneceria imóvel, isso
porque, segundo argumentação de Aristóteles, este não seria o movimento natural do pesado
elemento que a compõe. Explicando sua teoria, ele adicionou a isso raciocínios como: se a Terra
girasse, uma pedra lançada no alto de uma torre cairia longe desta. Também afirmou que, com o
movimento anti-natural, formar-se-ia uma ventania na superfície terrestre. Os argumentos citados
justificavam a imobilidade da Terra entorno de seu eixo, quanto à sua movimentação ao redor do
Sol, Aristóteles dizia que se ocorresse de fato, a posição aparente das estrelas se modificaria, e,
como a posição permanecesse a mesma, logo a Terra era inerte.
Devido a isso, justifica-se a crença de estruturação do universo ser baseada na teoria
geocêntrica, que era defendida por muitos contemporâneos seus.
Figura 6: Representação do modelo geocêntrico.
Fonte: http://www.arikah.net
26
Os elementos situados abaixo das esferas celestes, por sua vez, teriam o seu lugar
específico, também denominado de natural. A terra estaria no centro, a água sobre ela, seguida
pelo ar e o fogo, estando o último apenas abaixo do éter. Com a filosofia fundamentada nesse
conceito, Aristóteles definia o movimento como a tentativa de distensão dos elementos, ou seja,
quando estes procuravam seus locais naturais.
Cada elemento teria um movimento natural: o do éter seria circular, e os dos pares terra-
água e ar-fogo seriam para baixo e para cima, respectivamente.
Como exemplo pode-se mencionar a chuva, cujo movimento é em direção ao solo e as
rochas que, quando abandonadas, caem; em contrapartida têm-se as bolhas de ar na água que
sempre vão rumo à superfície e o fogo que se eleva. “É assim que a terra tende a precipitar-se (...)
ao centro do universo.” (GUTHRIE, 1987).
Fenômenos estes que se explicavam pelo local específico de cada essência. O fogo e o ar,
situados acima da água e da terra, buscavam o seu lugar natural indo para cima e o inverso
ocorria com os outros dois elementos.
Para Aristóteles, quanto maior a tendência de chegar ao local de origem, tanto maior seria
o seu peso. O discípulo de Platão era um dos adeptos do pensamento de que corpos mais pesados
caem mais rapidamente do que corpos mais leves. Em um de seus livros sobre Física ele
escreveu:
“Vemos que corpos com maior tendência de peso ou de leveza, mas
semelhantes em todos os outros aspectos, se movem mais rapidamente no mesmo
espaço e isto na razão que tenham entre si os valores dessas tendências. Por isso
mover-se-ão também no vazio com esta razão de velocidades.” (ARISTÓTELES
in http://www.jcpaiva.net).
Entretanto, Aristóteles não encontrou uma explicação plausível do porquê de corpos mais
pesados caírem mais rapidamente do que os mais leves no vazio, pois, para ele, parecia lógico
que no vácuo isso não aconteceria uma vez que o peso não teria valor nesta situação, porém, seu
raciocínio o conduzia a uma conclusão diferente. Assim sendo, ele conclui que não existe o vazio
e inicia-se o horror ao vácuo dos gregos, que evitavam considerar a hipótese de sua existência.
27
A formação de Aristóteles era filosófica e não experimental, o que justifica a falta de
experiências que comprovassem suas suposições. Atrelado a isso, a precariedade dos
instrumentos tornava as experiências mais difíceis e, algumas vezes, até inviáveis, fortalecendo o
método desse grande filósofo de deduzir, a partir da lógica, a estruturação do mundo, porém sem
provas.
Aristóteles propunha, ainda, o estudo dos movimentos, que poderiam ser naturais ou
forçados. O movimento natural ocorre de uma ação deliberada e o forçado, da execução de uma
força, como exemplo soltar e lançar uma pedra, representando, respectivamente, a deliberação e a
força aplicada. (http://calendario.incubadora.fapesp.br).
A visão aristotélica de ser é que este “não é apenas o que já existe, em ato; ser é também o
que pode ser, a virtualidade, a potência. Assim, sem contrariar nenhum princípio lógico, poder-
se-ia compreender que uma substância apresentasse, num dado momento, certas características, e
noutra ocasião manifestasse características diferentes. (...) Essa passagem da potência ao ato é
que constitui, segundo a teoria Aristotélica, o movimento.” (Coleção “Os Pensadores” -
Aristóteles, 1999).
Os movimentos eram divididos em quatro tipos distintos: o substancial, o qualitativo, o
quantitativo e o espacial.
• Movimento substancial – mudança de forma, nascimento e morte, ou seja, a
passagem do não-ser ao ser e o seu inverso, a passagem do ser para o não-ser;
• Movimento qualitativo – mudança de propriedade (qualidade), como a alteração
de cor;
• Movimento quantitativo – mudança de quantidade, como exemplo o aumento do
volume de uma planta em crescimento;
• Movimento especial – transporte através do espaço, como, por exemplo, o
movimento em linha reta.
Aristóteles se contradisse “ao afirmar em seu terceiro livro sobre física que o nascimento
e morte são um tipo de movimento e, depois, ao declarar em seu quinto livro sobre física, que
para haver movimento é necessário um sujeito. Quando ele assevera que nascer é a transição do
28
não-ser para o ser, o não-ser representa a ausência do sujeito e, portanto, não teria como realizar
um movimento.” (CRESSON, 1988).
O movimento especial é, de todos, o mais importante, pois dele dependem todos os
outros. Ele afirma, ainda, que o movimento, por ser eterno, não apresenta princípio ou fim,
afirmando a mesma coisa do mundo e da vida.
Aristóteles admitiu fortemente que o mundo é eterno: “ele não teve início. E não terá fim.
Portanto, se percorrermos a cadeia das causas eficientes de que depende o aparecimento de um
dado indivíduo, a lógica sugere-nos que esta cadeia é como o próprio mundo. Seria inútil
procurarmos descobrir-lhe um princípio.” (CRESSON, 1988).
Uma vida gera outra e um movimento gera outro. É, portanto, impossível determinar, um
início para a sucessão. Uma pessoa nasceu da união de outras duas, cada uma dessas, pela união
de mais duas, e estas, pela de mais duas, e assim infinitamente, pois segue o princípio lógico de
que um ser é gerado pela união de outros dois. O mesmo acontece com os movimentos, seguindo
o mesmo ideal um sempre será originado de um outro, sendo impossível determinar o começo da
seqüência.
Figura 7: O movimento, para Aristóteles, sempre originaria outro.
Fonte: http://cfsjm.com
29
Aristóteles conclui, então, que havia um Motor Imóvel que daria origem aos Motores
Movidos, que originariam outros e assim sucessivamente. Em resumo, Motor Imóvel seria um
movimento não gerado por outro definido e que daria origem a outros movimentos, enquanto
Motor Móvel é aquele que, já impulsionado, estaria em movimento e originaria outros novos.
O amor originado pela beleza é um movimento que, para Aristóteles, demonstrava
claramente a animação do mundo. Quem ama dirigi-se ao amado porque este o atrai. O objeto
amado não foi responsável pela criação do primeiro movimento, ele não se move, o que é
provado por ele poder desconhecer o fato de ser amado. Logo, há um Motor Imóvel do qual todos
dependem: Deus. (CRESSON, 1988).
O Motor Imóvel exerceria sua influência e instigaria os movimentos de uma localização
além do mundo subralunar, denominado mundo supraceleste.
Os estudos dos movimentos compõem a dinâmica, que, ao analisá-los, relaciona suas
causas e efeitos.
O filósofo estabelece que potência e ação, ambos constituintes do fundamento de sua
dinâmica, se encontram no mesmo ser, contrapondo-se à matéria e a forma que representam os
princípios básicos da estática, situação na qual o corpo encontra-se em equilíbrio estático e,
portanto, não há movimento.
O conceito básico da dinâmica de Aristóteles é de que um corpo inanimado não pode
permanecer em movimento sem a ação constante de uma força. (http://br.geocities.com).
A definição de força, no caso, é a mesma de impulsão. Quando mencionado o Motor
Imóvel, seria este o responsável por impulsionar a seqüência de movimentos, que seria gerada
através das forças transmitidas de um corpo a outro. Quando esgotada a força os corpos
procurariam o seu lugar natural.
O princípio aristotélico foi acatado durante milênios, e, posteriormente criticado por
alguns nomes como Jean Phi-lopon, Jean Buridan e Nicole Oresme, da Escola dos Nominalistas
de Paris (século XIV), Leonardo da Vinci, Benedetti e Galileu (séculos XVI e XVII), dentre
outros, que atentavam para o fato de que o movimento continuava mesmo quando cessada a
força. Newton provou o erro do princípio aristotélico quando demonstrou que mesmo na ausência
de forças um corpo poderia permanecer em movimento. (http://www.scielo.br).
30
Além deste princípio, Aristóteles defendia outra teoria, a de que todo movimento próximo
a Terra se dava ao longo de uma linha reta. Ao analisar o movimento de uma flecha segundo esse
princípio, a fecha mover-se-ia em uma linha reta impulsionada pela força do arco e,
posteriormente, pela força transmitida através de sucessivas camadas de ar, até que esta última
força se esgotasse, e a flecha tombaria verticalmente, independente de ser sido ou não lançada
nesta direção.
Figura 8: O lançamento de um projétil através de um canhão segundo o princípio
aristotélico.
Fonte: http://www.fsc.ufsc.br
Para esse movimento ocorrer, o meio, no caso o ar, transmitia a força, mas também
resistia ao movimento, que se dava, portanto, somente se essa força vencesse a resistência.
Assim, o movimento uniforme necessitava de um equilíbrio entre esses dois fatores opostos. Em
outras palavras, quanto maior a força, mais rápido o movimento; quanto maior a resistência, mais
31
lento o movimento. Uma conseqüência interessante dessas idéias é a impossibilidade da
existência do vácuo, pois nele não haveria resistência e a velocidade dos corpos se tornaria
infinita, o que é absurdo. Todo o espaço devia estar cheio de um meio: o éter.
(http://br.monografias.com).
O filósofo grego afirmava ainda que o movimento natural próximo a Terra devia-se às
qualidades próprias de seu peso e que seria este o responsável por determinar o movimento
retilíneo de corpos nas suas proximidades.
Figura 9: O movimento retilíneo dos corpos.
Fonte: http://www.fsc.ufsc.br
Outra especial questão da física aristotélica é a concernente ao espaço e ao tempo.
O espaço no conceito dos atomistas era uma realidade separada e absoluta na qual os
corpos se moveriam. Aristóteles, opondo-se a este pensamento, tem como espaço a determinação
dos corpos, e que ele não coincide com a essência principal do corpo, não sendo a substância,
mas a determinação desta. (http://www.cfh.ufsc.br).
32
O espaço, segundo o filósofo grego, seria pleno e contínuo e os lugares particulares
seriam limitados por outros, que os rodeiam e os contêm. O universo representaria o espaço que
continha tudo, não existindo nenhum lugar em torno dele.
Conclui-se, pois, que o espaço, no conceito de Aristóteles, é aquilo que delimita os corpos
e cada corpo é rodeado por outros espaços que os contém, chegando ao limite: o universo. Sendo
assim, matéria e espaço são inseparáveis, uma vez que sem o primeiro não existe o segundo.
Segundo Aristóteles, o vazio não existe. No vazio, assim como no espaço geométrico, não
existem lugares nem direções privilegiadas. Conseqüentemente, as figuras geométricas não
podem descrever os corpos materiais: a física não pode ser descrita pela matemática. Seria até
mesmo perigoso, segundo Aristóteles, misturar física e geometria, aplicar o raciocínio
matemático ao estudo da realidade física. (http://www.scielo.br).
Também o tempo, para Aristóteles, é uma determinação objetiva dos corpos, e não existe
um tempo absoluto. “O tempo é o número - isto é, a medida - do movimento segundo a razão, o
aspecto, do ‘antes’ e do ‘depois’”. (http://www.mundodosfilosofos.com.br).
O movimento é que determinaria o tempo. Um movimento já concluído o classificaria
como passado, o “antes”; o que ocorre, está em um tempo definido como “agora” ou presente; e o
que ocorrerá, como futuro, o “depois”. Sem os seres e, conseqüentemente, sem os movimentos
não haveria como existir um conceito de tempo.
A natureza do tempo se revela ainda como algo que está dividido e unido; dividido em
passado e presente; unido na continuidade da duração. Resulta este fato do princípio aristotélico
de que na mudança há algo que permanece, enquanto uma parte muda. Resultando o tempo das
fases do movimento, sua medida é o próprio movimento, cada novo movimento é novo tempo.
(http://www.cfh.ufsc.br).
Segundo o princípio proposto por Aristóteles, por se tratar de uma continuidade, aquilo
que sofre uma mudança ou transição não teria como mudar completamente, pois, se isso
acontecesse, deixaria de ser o mesmo e quebraria a continuidade proposta pelo tempo.
Aristóteles dedicou muito dos seus estudos ao movimento, sua natureza e assuntos
relacionados ao tema. Devido às suas teorias serem fundadas em princípios lógicos, mesmo
quando equivocados, as idéias aristotélicas foram difundidas em sua totalidade pela Europa e
Ásia.
33
A Europa cristã descobriu Aristóteles através dos árabes, passando assim a traduzir os
seus livros para o latim. Dessas traduções, as suas teorias começaram a ser aceitas com uma
autoridade quase divina, inclusive as suas incorreções. Quando eclodiu a Revolução Científica
dos séculos XVI e XVII, suas primeiras vitórias envolveram a derrubada da Física Aristotélica, e
Aristóteles, a partir disso, começou a ser visto como um inimigo da ciência, quando na verdade
foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, que mesmo errado, sempre permaneceu
racional e lógico. (http://br.geocities.com).
Algumas teorias propostas por Aristóteles foram defendidas por muito tempo, sendo,
posteriormente, aprimoradas ou revogadas. Mesmo quando errado, Aristóteles tinha sua ideologia
fundada em uma lógica sem igual e com uma perfeita linha de raciocínio, o que provava seu
estudo detalhado do mundo que o cercava. O que é evidente é a diversidade do pensamento do
filósofo em campos diversos e seu legado e influências que são inquestionáveis. Sem um
primeiro pensamento seria impossível haver contestação.
3.1.1.2 Biologia
Além dos estudos relativos à cosmologia, Aristóteles também se dedicou a entender a vida
e organismos vivos. O resultado foram várias pesquisas que hoje definimos como biológicas, uma
vez que compreendem o estudo dos seres vivos e das leis da vida.
Seu interesse e a sua curiosidade sobre a natureza viva o induziram a escrever sobre esse
assunto, sendo considerado o primeiro a escrever sobre biologia e o primeiro biólogo da Europa,
embora este conceito não existisse na época em que viveu. Ele foi o responsável pela criação da
linguagem técnica da ciência e de sua sistematização e organização. Seus estudos foram feitos,
principalmente, nos últimos doze anos de sua vida.
Segundo ele, existiam dois princípios que associados dariam origem à vida: o passivo –
matéria – e o ativo – forma. A matéria corresponderia à estrutura corporal, enquanto a forma, à
alma. A diferença entre os seres vivos se daria, não pelo princípio passivo, que era idêntico a
todos, mas ao princípio ativo. O princípio da vida concentrava-se na alma, pois a matéria estaria
presente tanto nas formas vivas quando nas não vivas. Completando esses dois princípios
34
existiria o pneuma, elemento intermediário entre o corpo e a alma, que poderia ser encontrado em
qualquer forma viva.
Figura 10: Aristóteles se destacou em seu estudo sobre a vida.
Fonte: http://scientificillustration.files.wordpress.com
O pneuma seria algo material, porém de natureza muito especial. Segundo Aristóteles,
como consta no site http://ghtc.ifi.unicamp.br, o pneuma era uma substância análoga ao quinto e
“mais nobre” elemento, do qual os corpos celestiais eram feitos, o éter.
No seu entendimento, os seres vivos eram organismos por possuírem um dinamismo
interior e próprio denominado physis ou Natureza. Essa característica os diferenciaria de seres
inanimados que, por sua vez, não possuíam qualquer dinamismo interno.
No site http://ghtc.ifi.unicamp.br, consta que, Aristóteles, como tentativa de explicar a
imensurável variedade de seres vivos existentes, criou a hipótese de Geração Espontânea,
baseada na crença de que alguns seres vivos formar-se-iam espontaneamente da matéria
ambiente, sem necessidade de gametas para formá-los. Essa teoria justificar-se-ia pela existência
do pneuma, que possuiria calor vital de poder gerativo. Segundo o filósofo grego, o calor seria
35
essencialmente a natureza da vida. A teoria de Geração Espontânea foi a primeira teoria científica
de origem da vida.
Segue um trecho do livro V, de Aristóteles, em História dos Animais:
“Em relação aos animais, alguns nascem de pais animais conforme seu
tipo, enquanto outros crescem espontaneamente e não de uma linhagem
semelhante; e desses exemplos de geração espontânea alguns provém da matéria
vegetal ou terra em putrefação, como é o caso de certo número de insetos,
enquanto outros são gerados espontaneamente no interior de animais a partir de
secreções de seus diversos órgãos.” (ARISTÓTELES in http://ghtc.ifi.unicamp.br).
Com essa teoria Aristóteles atribuía a formação de insetos ao redor de carnes em estado
de decomposição à crença de que elas nasceriam da própria carne e não de descendentes da
mesma espécie através da fecundação, assim como algumas plantas surgiriam da decomposição
da terra ou de algumas partes de outras plantas, sendo algumas produzidas sobre as outras, como
o musgo.
O filósofo grego conceituou o estado de putrefação como perda de calor interno, pela
influência do calor externo, o que gerava a possibilidade de formarem-se novos seres vivos.
Haveria uma restrição aos seres que poderiam ser concebidos espontaneamente através de
matérias inertes. “Segundo Aristóteles, eram gerados espontaneamente alguns peixes, como a
tainha e enguia, os testáceos, esponjas e determinados insetos”. (http://ghtc.ifi.unicamp.br).
Em relação às lesmas, faltava a certeza ao filósofo quanto a sua origem natural e, embora
admitisse que a maioria dos organismos vivos fosse gerada sexuadamente, chegou a discutir a
possibilidade dos homens e quadrúpedes terem se originado do lodo.
Aristóteles não foi o único a defender essa teoria, muitos outros pensadores de renome
escreveram obras a esse respeito e difundiram essa crença durante anos, tais como São Tomás de
Aquino, René Descartes, Santo Agostinho e Isaac Newton. Porém, com o tempo, essa idéia foi
refutada.
Um dos primeiros opositores de destaque à “teoria oficial” da Geração Espontânea foi o
médico e naturalista florentino Francesco Redi (1626-1698). Em resposta a Aristóteles, Redi
36
demonstrou experimentalmente que só aparecem larvas de moscas na carne podre, quando
deixamos moscas pousar nessa carne. (http://www.observatorio.ufmg.br).
A refutação definitiva de tal teoria, todavia, se deu com Louis Pasteur, por volta de 1860,
que provou o equívoco pronunciado por Aristóteles e afirmou que nenhuma forma de vida surge
espontaneamente.
Além da reprodução sexuada e espontânea, Aristóteles identificou em suas pesquisas a
reprodução assexuada, ou seja, sem troca gamética entre dois seres da mesma espécie e, portanto,
sem fecundação.
Aristóteles usava o princípio de ordem e hierarquia para explicar a vida. Ele fez a
classificação de aproximadamente 540 espécies de animais, estabelecendo graus de perfeição
entre elas (...) Os graus de perfeição cresceriam na medida da complexidade dos organismos. Os
animais superiores não seriam homogêneos e seriam dotados de matéria, forma, movimento,
sensibilidade e capacidade de captar a realidade (no caso do ser humano, essa capacidade é a
inteligência, ou nous). (PEREIRA, 1994).
Tendo os graus de perfeição de Aristóteles como princípio para a classificação de seres
vivos, as plantas seriam organismos mais simples e mais longe da perfeição, por não possuírem
sensibilidade, movimento próprio e nem habilidade de perceber e interpretar o mundo à sua volta.
Estas seriam seguidas pelos animais irracionais, que, não possuindo capacidade de captar a
realidade, seriam mais evoluídos por possuírem movimento. No topo da pirâmide da vida
encontrar-se-iam os animais racionais, únicos hábeis para interpretar o mundo.
Na hierarquia por ele construída, também havia a divisão dos animais em relação ao tipo
de desenvolvimento embrionário: vivíparos, ovovivíparos e ovíparos.
Os primeiros eram considerados mais desenvolvidos por formarem-se e serem nutridos
inteiramente no interior da fêmea. Os ovovivíparos representavam o grupo intermediário por
desenvolverem-se no interior da fêmea, mas nutrirem-se através dos ovos. E, finalizando, os
ovíparos, sendo menos desenvolvidos por terem desenvolvimento e nutrição no interior de ovos,
tem toda a fase de formação transcorrida exteriormente à fêmea. Os ovíparos poderiam ser
divididos entre perfeitos e imperfeitos, sendo os últimos àqueles que precisariam passar pelo
processo de metamorfose, como as larvas.
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Aristóteles, dentre outras divisões, classificou os animais em dois grupos: os possuidores
de sangue e os que não possuidores. Essa denominação corresponde, respectivamente, ao que
denominamos, atualmente, como animais vertebrados e invertebrados. O filósofo considerava que
aqueles animais que não possuíssem sangue eram os mesmos que, no tempo presente,
denominamos como invertebrados e, os atuais vertebrados, Aristóteles acreditava que pertenciam
ao grupo dos dotados de sangue. Aqueles que eram classificados como tendo o tecido sanguíneo,
por sua vez, dividiam-se em relação ao tipo de sangue, podendo ser quente ou frio.
Para fazer suas classificações, o filósofo partiu das definições dos entes. A definição é
construída a partir da união de dois elementos, um mais geral (o gênero) e outro mais particular
(a diferença específica, incluída no gênero). (PEREIRA, 1994).
Entende-se por gênero grupos de animálias que possuem características comuns, mas que
são subdivididos em espécies diferentes, como, por exemplo, os pássaros. Esse maior grupo é um
gênero (pássaro) e em subdivisões há diversas espécies (como a andorinha).
Utilizando um método de sistemática de classificação de espécies juntamente com os
alunos do Liceu, Aristóteles pode observar que “diferentes espécies se apresentam como
variações de um mesmo tema, o gênero”. (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999).
Figura 11: Espécies diferentes pertencentes a um mesmo gênero.
Fonte: http://www.elgoldfish.com
38
Todos os animais de um determinado gênero, por conseguinte, possuem uma mesma
estrutura básica, porém cada um a manifestaria de uma maneira. Essas diferentes formas de
manifestação de uma mesma característica é que determinaria as espécies.
Ainda se consideram válidas algumas de suas afirmações, como a da existência de órgãos
homólogos, (que se apresentam em diferentes espécies de organismo e que foram herdados de um
ancestral comum) e órgãos análogos (que se apresentam em diferentes espécies de organismos e
têm função similar). (http://www.cwb.matrix.com.br).
Aristóteles, com a observação e avaliação das espécies e gêneros animais, foi o primeiro a
determinar que baleias não eram peixes e morcegos não eram aves, mas que ambos pertenciam ao
reino mamífero. Porém, seus estudos concentraram-se nas abelhas, uma vez que os gregos era
exímios apicultores, o que lhe proporcionava facilidade para estudar tais animais.
Habilmente dissecou abelhas descobrindo que as “abelhas escravas” tinham apenas os
ovários vestigiais (...) Estudou, também, os caracóis, descrevendo, inclusive, a rádula (rastelo),
minúscula parte do aparelho bucal do caracol de jardim, na função de alimentação.
(http://br.monografias.com).
Ele, em seus estudos sobre esses insetos, fez a classificação da colméia em: rainha,
escravas e zangões. Atualmente avaliamos a divisão de uma colméia da mesma maneira que
Aristóteles havia feito outrora.
Figura 12: Aristóteles estudou e classificou as abelhas.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt
39
De todas as espécies estudadas, o filósofo dissecou aproximadamente 50, entretanto nunca
dissecou um ser humano. A isso se deve a justificativa de seus erros quando, segundo o site
www.vidaslusofonas.pt, considerou que o homem tinha oito pares de costelas, não reconheceu os
ossos do crânio humano (três para o homem, um, circular, para a mulher), supôs que as artérias
estavam cheias de ar (como, aliás, supunham os médicos gregos) e pensou que o homem tinha
um só pulmão.
Aristóteles também cometeu um erro referente à genética ao afirmar que um feto receberia
apenas as características do pai, sendo a mãe irrelevante para determiná-las.
Em seus estudos sobre o corpo humano, Aristóteles estabeleceu uma relação entre os
quatro elementos constituintes do mundo sublunar e os elementos desse organismo. Tem-se o
sangue, que sendo quente e úmido, estaria associado ao ar; a fleuma, fria e úmida, portanto faria
alusão à água; a bílis negra, que é considerada fria e, devido à cor, remetida à terra; por fim, a
bílis amarela, tida como “ardente” estar-se-ia associada ao fogo.
Com base em seus estudos e reflexões formulou o princípio de que todos os organismos
estão completamente adaptados ao meio que habitam.
Já mencionada a forma como elemento constituinte da vida, evidencia-se, então, um
conceito primordial de Aristóteles: a alma ou psyche, que seria um aperfeiçoamento da vida e não
um fenômeno distinto.
Devido a esse pensamento, Aristóteles foi considerado um “filósofo particularmente apto
a ser aceito no mundo cristão, porque o cristianismo é a religião da encarnação, da união
inseparável entre alma e corpo. (http://www.olavodecarvalho.org).
O Dicionário Aurélio, 1975, expõe 26 definições distintas de alma, dentre as quais diz-se
que a alma é o princípio da vida.
Sendo os seres vivos seres capazes de se alimentarem, crescerem, reproduzirem-se e
definharem, a alma é a responsável por garantir a continuidade da vida por os órgãos
funcionarem. Ela seria o pensamento puro e existiria eternamente.
Avaliando-se matéria e forma nos seres vivos conclui-se que estas são inseparáveis, pois
aqueles constituem uma unidade rígida e indivisível, senão mentalmente.
O problema de saber se a alma e o corpo são uma única e mesma coisa não é mais
legítimo que o de saber se a cera e a impressão do selo sobre aquela são o mesmo, ou, sem geral,
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se a matéria de uma coisa é o mesmo que a coisa de que é matéria. (ARISTÓTELES in
GUTHRIE, 1987).
Sendo as almas diferentes, segundo os conceitos aristotélicos, elas foram dividas de
acordo com o seu grau de perfeição. Nos vegetais, a alma tem função exclusiva de manter-lhes a
vida através da nutrição e da geração e, portanto, tratam-se de almas vegetativas ou nutritivas.
Como é natural, almas desse tipo não possuem entendimento, nem sequer sensibilidade.
Limitam-se a assegurar o crescimento de acordo com um determinado tipo, carvalho ou oliveira,
não contendo um si qualquer outra faculdade. (CRESSON, 1988).
Aquelas almas possuidoras de sensibilidade pertenceriam aos animais, que, também, têm
alma nutritiva. As almas sensitivas, além de fornecerem sensibilidade, permitem o movimento, e
estão presentes nos animais, mesmo quando estes estão incapacitados de se moverem por algum
motivo. O grau de complexidade das almas animais é variável: há os que possuem apenas
sensibilidade tátil e há os dotados de sentidos especiais e complexos.
A alma sensitiva compreende os cinco sentidos que Aristóteles distinguiu entre externos e
internos. Sua diferença principal, além da localização dos órgãos que irão captá-los, mas como
eles são afetados pelos seus objetos.Os sentidos externos necessitam da presença imediata objeto,
sem o qual não podem identificá-lo. Estes são cinco: visão, olfato, audição, tato e paladar.
Opondo-se aos sentidos externos encontram-se os internos – imaginação, estimativa e sensação.
Estes não precisam da presença do objeto, pois são capazes de conservar as sensações e de
reproduzi-las.
A alma do ser humano, para o filósofo grego, não era apenas uma fusão das propriedades
vegetativas e sensitivas, mas também possuidora de aptidão para as operações racionais. Esta
seria a alma intelectiva, ou intelecto, e só os homens, por serem capazes de assimilar
conhecimento, poderiam tê-la.
Segundo a definição do próprio Aristóteles, o intelecto era a parte da alma que permitia
conhecer e pensar e que teria capacidade de receber a forma ou algo enquanto forma. Tudo o que
é assimilado pelos sentidos é, conseqüentemente, atingido pela inteligência, diferente da alma
apenas sensitiva, cuja percepção do mundo se restringe a sentir.
Com efeito, cada alma contém em si as propriedades, as potências, as aspirações de um
determinado tipo. (...) E todas as almas possuem uma essência própria (...), que as transforma na
41
forma substancial de uma dada espécie de vegetal ou de animal. Esta (...) se traduz entre o
inorgânico por determinadas propriedades, adquire no caso dos seres vivos o caráter de aptidões,
de disposições, de necessidades, de tendências. (CRESSON, 1988).
A alma é, portanto, a responsável por determinar as características determinantes de cada
indivíduo.
Assim, composto por forma e matéria é que se tem a vida, e, através de dissecações, o
filósofo grego considerado o primeiro biólogo foi capaz de fazer estudos profundos sobre
diversas espécies de seres vivos, o que mostrava seu interesse em entender o complexo
mecanismo que rege a existência de formas de vida animadas.
Ele acreditava que as sensações estavam concentradas no coração e não no cérebro, mas,
em compensação, foi ele quem definiu os cinco sentidos, o que comprova sua importância para a
biologia mesmo tendo cometido equívocos.
Figura 13: Os cinco sentidos definidos por Aristóteles.
Fonte: http://www.thespiderawards.com
42
Aristóteles não desenvolveu uma teoria médica; mas sua concepção geral de ciência e
seus princípios básicos sobre a natureza dos componentes orgânicos serviram de base para os
médicos que, após ele, tentaram formular uma medicina racionalista.
(http://www.colegiosaofrancisco.com.br).
A medicina racionalista baseava-se em um pensamento racional e sistemático, o que fazia
a medicina ser tratada como ciência. Essa base racional exigia uma teoria elaborada que fosse
capaz de explicar as causas e sintomas das doenças, assim como os efeitos dos procedimentos
terapêuticos.
O grande pensador grego foi, durante toda a Idade Média, considerado o mais importante
filósofo, e sua doutrina tida como verdade inatacável. (http://jus2.uol.com.br).
Em síntese, Aristóteles foi o pioneiro em relação à curiosidade sobre os seres vivos e o
seu funcionamento orgânico e, com a sua morte, os estudos a respeito da vida foram praticamente
abandonados, sendo resgatados, posteriormente, na Renascença.
Sua importância para a biologia é indelével. Além de iniciar esse tipo de estudo,
Aristóteles estipulou muitos conceitos e divisões que continuam sendo usadas. Suas teorias,
mesmo quando comprovadamente incorretas, incentivaram outros cientistas a estudarem o tema e
a questioná-lo, o que desencadeou um avanço nas pesquisas e nos experimentos biológicos.
Julgá-lo pelos enganos seria irrelevar sua importância para os conhecimentos atuais e, a verdade,
é que sem seus primeiros pensamentos poderíamos não ter todo o conhecimento que
armazenamos.
3.1.1. 2.1 Psicologia
A palavra psicologia, no sentido grego, é o “estudo da psyche, que é o elemento vital das
criaturas (...), desde as plantas aos seres superiores, e inclui, pelo menos, as faculdades de
nutrição e de reprodução e, também, nas criaturas que o possuem, os desejos e as emoções, os
sentidos e a razão.” (GUTHRIE,1987).
O conceito aristotélico de psyche é polissêmico. Para tentar defini-lo, Aristóteles emprega
basicamente estes três termos complementares:
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“ - A psyche como sinônimo de Natureza (phisis);
- A psyche como princípio de ação (próte enérgeia);
- A psyche como sinônimo de princípio da individuação ou da realização de todas as
potencialidades de todo ser vivo (próte enteléquia).”
(http://www.scielo.br)
Em suma, a psyche, na concepção aristotélica, é o princípio de todas as funções ou ações
de qualquer ser vivo. Segue a definição de Aristóteles:
“Nesse momento basta lembrar que a psyche é o princípio (próte enérgeia)
de todas as funções que acabamos de mencionar e que se define por elas, ou seja,
pelas faculdades da nutrição, da sensação, do intelecto e do movimento.”
(ARISTÓTELES in http://www.scielo.br).
Sendo assim, os gregos atribuíam à psicologia o estudo da alma, sendo as três almas
definidas por Aristóteles (vegetativa, sensitiva e intelectiva) objetos de seu estudo.
Aristóteles, ao contrário de muitos contemporâneos seus, afirmava que a alma era uma em
cada ser, mesmo possuindo diferentes faculdades ou potências, e que ela estaria em união com o
corpo e seria inseparável deste. Para ele, o corpo seria como um instrumento mediante o qual ela
se expressaria. Compreende-se, pois, que o intelecto, para Aristóteles, era a união da psyche com
o corpo. Também, discordando de outros filósofos, ele define a alma como tendo uma natureza
real, física e orgânica, e não sobrenatural e ideológica.
Alma e corpo são aspectos de uma mesma substância. Substância é definida como uma
composição de matéria e forma. Matéria é potencialidade e forma é realização. Temos, portanto,
uma teoria que é realista, mas não materialista. (http://www.ufrgs.br).
O filósofo grego estabeleceu a diferença entre princípios físicos e psíquicos, expondo que
o segundo apresenta uma reação na alma quando sofrida uma ação, o que diferencia os seres
animados dos inanimados, pois os que não possuem vida reagem apenas fisicamente. Ele
afirmava que a alma atua através dos órgãos e que havia uma impressão material que estimulava
44
os sentidos, por conseguinte, Aristóteles acreditava que a carne se tornava quente quando o
indivíduo sentia calor e que os olhos ficavam coloridos quando percebiam a cor. A sensação
seria, pois, resultado da alteração material dos órgãos.
Nos seus estudos psicológicos, Aristóteles desenvolveu conceitos a respeito da
imaginação e da memória.
A imaginação desempenharia um papel importante no intelecto, ao fazer o intermédio
entre as sensações e a razão, e está em ligação com a memória. A sensação envolve um ato que
contém um objeto real enquanto a imaginação lida com as ausências. Quando os sentidos estão
inativos, como no sono, o intelecto continua em atividade ligando a função sensível à função
imaginativa, produzindo o sonho. Os sonhos não eram entendidos como mensagens dos deuses,
pois os animais também sonhavam. (MUELLER, 1968 in http://www.ufrgs.br).
Já a memória seria uma maneira de conservar-se o passado e “é constituída de imagens
cópia de experiências anteriores que preservam a continuidade vivida, podendo ser evocadas
voluntariamente.” (MUELLER, 1968 in http://www.ufrgs.br).
Aristóteles criou a teoria de que os movimentos sensoriais prolongavam-se mesmo
quando cessado o estímulo físico. Isso devia-se à memória que atuava recordando o ocorrido,
estimulando, assim, os movimentos sensitivos, ocorrendo uma associação que estimularia a
imaginação.
Observando-se a capacidade de assimilação de informações produzindo, assim, a
memória, ela teria, também, nos seres humanos a faculdade que lhes permitiria ponderar e avaliar
idéias, que se denomina razão. Há uma distinção em relação aos tipos de razão, podendo ser ela
passiva ou ativa. A primeira é a que sintetiza as informações transmitidas pelos sentidos e pela
imaginação. A segunda, por sua vez, “é aquela capaz de abstrair, organizar e transcender.
Aristóteles não encontrou um meio de explicar a razão ativa, a não ser atribuir-lhe uma natureza
divina.” (http://www.ufrgs.br).
Por assim ser, em suas funções mais elevadas, a alma não recebeu uma explicação
empírica.
Aristóteles foi o primeiro a estabelecer uma teoria psicológica, que se baseava na união da
alma com o corpo e da formação das sensações. Todavia, ele foi igualmente responsável por
desenvolver uma teoria de psicopatologia quando afirmava que a confusão entre memória e
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imaginação produziria desequilíbrios, fazendo com que o indivíduo confundisse situações
imaginários com fatos.
O autoconhecimento fora, também, objeto de estudo aristotélico. Atualmente, utilizamos a
palavra “consciência” para definir autoconhecimento. “Consciência em sentido psicológico
significa ter conhecimento do que se está fazendo em um determinado momento. Aristóteles
entendia que uma pessoa em estado de vigília estava ciente de suas sensações. Ele fala
claramente que quem ouve percebe que ouve e quem anda percebe que anda, e que perceber que
percebemos é perceber que existimos. ” (http://www.ufrgs.br).
Sobre o intelecto, Aristóteles também afirmou que a ação é impulsionada pelo desejo,
sendo ela voluntária quando procedente de um ente que tem ciência de seus atos, todavia, com a
má utilização da razão, alguém pode ser levado a agir exclusivamente pelo desejo, definindo-se
um limite perigoso entre o racional e a vontade.
É necessário, pois, sempre manter um equilíbrio de ambos, já que, sem o desejo, nenhum
ser é motivado a agir e, no entanto, há a necessidade de ponderar sobre o que se quer antes de
simplesmente agir em sua busca.
Aristóteles dedicou-se a estudar, ainda, a emoção, atribuindo-lhe três componentes: “um
componente sensorial como a audácia e o medo; um componente cognitivo como uma
antecipação de uma conseqüência futura; e um componente afetivo que afeta o julgamento e é
regulada pela dor e pelo prazer. (HEARNSHAW, 1989 in http://www.ufrgs.br).
Os componentes geram emoções opostas dependendo a maneira como o ser interage com
o meio, sendo cada momento da vida propenso a fazer o indivíduo sentir uma determinada
emoção, sendo elas fundamentais aos seres racionais.
Os estudos de psicologia de Aristóteles baseavam-se na compreensão da alma e de sua
finalidade, sendo a de todo ser vivendo crescer e reproduzir-se e, do homem especificamente,
buscar a razão. É por estudar a alma e, sendo esta fundamental a um ser vivo, é que a psicologia
apresentava-se como uma subdivisão da biologia no conceito aristotélico.
Embora a psicologia atual tenha se desvinculado da filosofia, ela tem origem nesta última.
O conceito atual de psicologia é o estudo do comportamento humano e dos processos mentais.
Esta psicologia, no entanto, não difere substancialmente da de Aristóteles, visto que ambas
46
buscam compreender o que move o ser humano, cada qual com o seu conceito a respeito da
mente e da alma, respectivamente. Evidencia-se, pois, a atualidade do pensamento aristotélico.
3.1.2 Matemática
Há dificuldade em definir precisamente o conceito de matemática. Entre as diversas
definições já atribuídas a esse termo pode-se citar algumas, como a que afirmava que a
matemática é uma linguagem perfeita e exata ou a definição de Frankfort: “a matemática é uma
forma de poesia que transcende a poesia em si mesma no fato de que proclama uma verdade.”
(FRANKFORT, 1946 in http://www.ufes.br).
Contudo, nenhuma dessas definições se tornam compreensíveis para um leigo por não
serem claras e nem precisas e nem especificam a natureza desta ciência.
Entre as primeiras definições, encontra-se a de Aristóteles: “matemática é a ciência das
grandezas”. Essa visão de matemática perdurou por muitos séculos e, no Renascimento,
começaram a surgir versões modificadas daquela de Aristóteles: “matemática é a ciência da
medida das grandezas”. Com o decorrer dos séculos, a matemática começou a ser entendida
como aquele corpo de conhecimento que lida com números, grandezas, figuras, com medições,
quantidade, ordem e inferências. (http://www.ufes.br).
Mesmo atribuindo uma definição à matemática, Aristóteles afirmava que nem tudo era
definível.
Compreender o pensamento de Aristóteles sobre a matemática torna-se difícil pelo fato de
ele ter escrito muito pouco sobre este assunto. Mesmo assim, Andrônico de Rodes, ao dividir as
obras e os temas tratados por Aristóteles, acrescentou a matemática, o que demonstra que a sua
divisão não foi feita considerando apenas suas grandes obras, mas seu pensamento como um
todo.
Para um entendimento preciso a respeito das idéias matemáticas de Aristóteles, é
necessário compreender o que ele considerava como sendo real. Tem-se por real tudo aquilo que
existe, incluindo, portanto, objetos da natureza ou matemáticos. Evidencia-se a realidade de algo
natural porque podemos enxergá-lo e senti-lo. Quanto ao que é matemático é baseado em fatos
fundados no raciocínio, como a soma de dois e dois ser quatro, sendo que este resultado não foi
47
por opção do indivíduo que fez o cálculo, mas pela estruturação numérica. Analisando-se a
geometria, a conclusão é a mesma, pois, por exemplo, ao dividir um quadrado pela diagonal o
resultado será sempre dois triângulos isósceles. Este resultado é fruto de uma dedução lógica
fundamentada na estrutura pré-determinada de um quadrado e de um triângulo.
A diferença entre ambos é, pois, a maneira como se fazem perceptíveis, o primeiro,
através dos sentidos e o segundo, racionalmente. É, portanto, que se atribui a eles a diferença
entre objetos naturais ou não-naturais, sendo estes fruto de uma dedução lógica, e aqueles,
resultado da percepção sensorial. Aristóteles considera tais objetos, como abstratos, porque o
matemático e o biológico são aspectos da realidade, mas são separados em seus estudos para
maior compreensão. Sendo assim, eles “só são percebidos como distintos mediante uma
abstração mental que separa o natural do não natural, embora ambos sejam igualmente reais”.
(http://www.olavodecarvalho.org).
Figura 14: Para Aristóteles, objetos matemáticos eram abstratos, porém reais.
Fonte: http://www.livre.escolabr.com
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O que os caracteriza como sendo abstratos é a diferença do plano e do modo de existência.
O que é biológico não pode existir matematicamente, assim como, o que é matemático, não pode
existir biologicamente.
Há, no entanto, uma diferenciação quanto à qualidade de real, não podendo se caracterizar
algo como sendo mais ou menos real do que outro, mas podendo, sim, distinguir o tipo de
realidade ao qual um objeto pertence. Um ser biológico pode sofrer mutações gênicas que
proporcionam uma variação quanto à sua estrutura física ou sua natureza, enquanto não há
qualquer mudança possível nas relações matemáticas. Para que estas ocorram seria necessário
recriar os conceitos matemáticos, o que se resumiria na mudança de nomes, porque os princípios
permaneceriam os mesmos. Sendo assim, a soma de duas unidades iguais é o seu dobro, não
podendo ser qualquer outro valor, enquanto um ser vivo que tem brânquias pode, como resultado
de uma mutação, desenvolver pulmões. Além desses aspectos, tem-se que os elementos
biológicos não existiam antes de nascer ou depois de morrer. É, por conseguinte, que distingui-se
a forma que cada objeto existe. Os matemáticos são eternos e invariáveis, enquanto os biológicos
são efêmeros e mutáveis.
Feita tal distinção, compreende-se a concepção de Aristóteles sobre os elementos
matemáticos, considerando que estes tinham um grau mais elevado por serem estáveis e exatos.
Aristóteles acreditava que a matemática era uma ciência axiomática na qual os teoremas
derivavam de princípios básicos. (http://cwx.prenhall.com).
Teoremas são proposições que para serem tidas como verdadeiras devem ser
demonstradas, e que, após demonstração, podem ser aplicados em qualquer caso prescrito por
eles.
Para ele, a matemática era uma ciência que se relacionava com o mundo físico e, portanto,
ele a aplicou para a explicação deste último. Quando mencionado que o universo possuía
movimento circular, constata-se a aplicação da geometria para explicar o meio físico, já que, para
Aristóteles, o círculo era uma forma perfeita e, portanto, para indicar um movimento também
considerado igualmente perfeito e infinito, era necessário basear-se na forma que possuísse as
mesmas características.
49
Segundo Aristóteles, a matemática seria resultado da percepção e interpretação do mundo
e, em vista disso, as verdades matemáticas poderiam ser provadas com experiências realizadas no
meio físico.
Um dos mais importantes conceitos relacionados à matemática já debatido por Aristóteles
foi o do infinito. Antes do seu nascimento, já havia teorias a respeito desse tema. “O infinito
aparece pela primeira vez na história do pensamento quando os filósofos gregos tentam exprimir
por um número a medida da diagonal do quadrado de lado um.” (http://triplov.com).
Para os gregos era inexplicável que um seguimento de reta definido tivesse como medida
um número de infinitos algarismos.
Especificamente sobre a questão do infinito, ele desenvolveu dois conceitos para
caracterizá-lo: "Aristóteles tratou de enfrentar o problema do infinito através de duas
representações, duas concepções complementares e cuja interação dialética influenciou no
próprio desenvolvimento da matemática. No terceiro livro de sua obra Física, Aristóteles
distinguiu dois tipos de infinito; o infinito como processo de crescimento sem final ou de
subdivisão sem final e o infinito como uma totalidade completa." (ORTIZ, 1994 in
http://www.fae.ufmg.br).
Figura 15: O símbolo de representação do infinito surgiu apenas em 1655, com John
Wallis, embora o tema tenha sido abordado séculos antes.
Fonte: http://cognoscomm.com
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Esses conceitos dividiam o infinito em atual e potencial. Entende-se por infinito atual uma
entidade completa e não constituída por partes e que seria o que é maior, no tempo presente de
análise, do que qualquer qualidade dada da mesma natureza. O infinito atual existiria, seria um
fato. Entretanto, a existência desse infinito foi negada pelo próprio Aristóteles, que acreditava
que o mundo estaria limitado pela abóbada celeste e, assim, não poderia haver nada sem fim no
meio físico, como propunha o infinito atual.
Outras estudiosos e pensadores confirmaram a opinião de Aristóteles sobre esta forma de
infinito: “Galileu (1564-1642), por exemplo, observou que, se em matemática fossem admitidos
conjuntos infinitos completos, haveria tantos número inteiros para quantos pares e ímpares
reunidos.” (http://www.fae.ufmg.br).
Segundo as observações de Galileu, se houvesse algo infinito para cada elemento, no caso
da matemática, seria necessário uma quantidade de números inteiros equivalentes a quantos
números pares e ímpares, o que se mostra impossível e, constatando que isso não é verdade, logo
o infinito atual não existiria segundo a sua concepção.
Kant, no século XIX, também foi partidário da opinião aristotélica sobre o infinito atual.
Gauss, em 1831, enfatizou seu protesto contra o uso do infinito como algo consumado:
“Protesto contra o uso de uma quantidade infinita como uma entidade
atual, esta nunca se pode permitir em matemática. O infinito é só uma forma de
falar, quando na realidade deveríamos falar de limites aos quais certas razões
podem aproximar-se tanto quanto se deseje, enquanto outras são permitidas
crescer ilimitadamente” (GAUSS in http://www.fae.ufmg.br).
Contrapondo-se a esta forma de definir o infinito, Aristóteles mencionou a existência do
infinito potencial que, segundo ele, não apresenta nenhuma realidade física, sendo constituído
com a finalidade de resolver determinados problemas matemáticos, restringindo-se apenas aos
casos de grandezas contínuas extremamente pequenas ou de número exageradamente grandes.
O infinito, neste caso, existiria em potência, ou seja, uma entidade poderia vir a se tornar
infinita, embora não se encontrasse neste estado no tempo presente. Potência é a uma
característica que está contida no objeto de análise, mas que ainda não se manifesta, ou contrário
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do ato, palavra que deu nome ao chamado infinito atual, que é a manifestação do que existe em
potência.
A análise de um segmento de reta, partindo deste princípio, sugere que infinitos pontos
estejam nela em potência e só podem se tornar atuais através de operações matemáticas, como a
divisão.
Um tema tão complexo como o infinito gera, até mesmo atualmente, muitas discussões e
polêmicas. Discussões sobre se 0,999 é o mesmo que 1, evidenciando a existência de um infinito
atual, porque ele pode ser representado um “objeto”, no caso o 1, ou se 1 dividido pelo infinito é
0, estão em pauta e possuem adeptos nas divergentes opiniões que tratam disso.
O infinito sempre gerou fascínio e medo por não ser compreendido inteiramente e
Aristóteles, por viver em uma época na qual certos conceitos a respeito desse tema ainda não
tinham sido estipulados, teve a oportunidade de refletir sobre a natureza do infinito e como ele se
apresentaria. Assim surgiram suas teorias de infinito atual e potencial, fazendo com que
matemáticos concordassem ou discordassem de sua opinião a respeito dessas duas formas.
O matemático David Hilbert, em uma frase, resumiu a complexidade do infinito para o
homem: “O infinito atormentou, desde sempre, a sensibilidade dos homens; mais do qualquer
outra idéia, a de infinito solicitou e fecundou a sua inteligência; mais do que nenhum, o conceito
de infinito tem que ser elucidado.” (HILBERT, 1921 in http://triplov.com).
Aristóteles não se aprofundou em seus estudos matemáticos, visto que esta não era a área
que o mais atraía, tanto que discordava da importância dada aos estudos matemáticos na
Academia, sendo este um ponto de divergência entre a ideologia aristotélica e platônica. Os
estudos de Aristóteles tiveram como foco a compreensão do ser e a sua existência.
3.1.3 Filosofia Primeira
A Filosofia Primeira é o estudo do ser, daquilo que lhe é fundamental (a sua essência) e
das causas de sua formação. Portanto, tem-se este nome, uma vez que são as causas primeiras da
existência de um indivíduo.
O estudo das causas, para Aristóteles, é de grande importância, pois, apenas entendendo o
porquê das coisas serem o que são, é possível obter um conhecimento exato e, assim, poder
52
transmiti-lo aos outros, pois conhecer-se-ia o princípio daquilo que se ensina e,
conseqüentemente, o ensinamento seria completo.
Assim, a Filosofia Primeira é o estudo (...) do ser real e verdadeiro das coisas, daquilo que
elas são em si mesmas, apesar das aparências que possam ter e das mudanças que possam sofrer.
(http://br.geocities.com).
Em comparação dessa ciência com as demais, Aristóteles escreveu: “Todas as outras são,
pois, mais necessárias do que ela, mas nenhuma se lhe sobreleva em excelência. E o estado em
que nos deve deixar a sua aquisição é inteiramente contrário ao do das primitivas indagações,
pois (...) todas começam pela admiração de como as coisas são. (...) É, pois, manifesto que a
ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente
quando julgamos conhecer a sua primeira causa) ”. (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles,
1973).
Este campo do pensamento aristotélico é dividido em metafísica e teologia, cabendo à
primeira abordar a essência da matéria e à segundo o Primeiro Motor Imóvel, responsável por
gerar tudo o que existe.
3.1.3.1 Metafísica
Antes de conceituar o que é metafísica, cabe definir o conceito do ser. A definição contida
no Dicionário Aurélio, 1975, é de que o ser é “o que existe ou o que supomos existir; ente”.
O ser, no seu sentido mais lato, é tudo o que possa surgir, numa qualquer frase verdadeira,
antes da forma verbal “é”. (http://www.pucsp.br).
Por conseguinte, ser é tudo o que existe e ao qual se pode atribuir uma qualidade.
Para Aristóteles este era dividido em existência e essência. A existência é o fato do ente
estar presente no mundo físico e, essência é um modo do existir. Ele também o dividiu em causas
e em ato e potência, que serão esclarecidos no decorrer do capítulo.
A palavra metafísica foi empregada pela primeira vez por Andrônico de Rodes, por volta
do ano 50 a.C., quando recolheu e classificou as obras de Aristóteles que, durante muitos séculos,
haviam ficado dispersas e perdidas. Com essa palavra - ta meta ta physika - o organizador dos
textos aristotélicos indicava um conjunto de escritos que, em sua classificação, localizavam-se
53
após os tratados sobre a física ou sobre a Natureza, pois a palavra grega meta quer dizer: depois
de, após, acima de. (http://br.geocities.com).
Uma vez que ta significa “aqueles” e physika, “física”, ta meta ta physika tem significado
literal: aqueles que estão após os da física, ou seja, aqueles escritos catalogados após os da física.
Aristóteles já havia designado estes escritos como sendo pertencentes à Filosofia
Primeira e compreendiam o estudo da essência do ser, a ousia, que em latim significa essentia.
(http://br.geocities.com).
Posteriormente, no século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thomasius, considerou a
palavra ontologia mais adequada para designar os estudos compreendidos na Filosofia Primeira.
Onto deriva-se de dois substantivos gregos: ta onta (aquilo que é possuído por alguém), e ta
eonta (aquilo que existe), ambas derivações do verbo einai, que, em português, significa “ser”.
Logia, por sua vez, significa estudo. Portanto, ontologia é o estudo ou conhecimento do ser, das
coisas como são em si mesmas, real e verdadeiramente. (http://br.geocities.com).
O ser opõe-se à aparência, pois é a essência, algo que realmente é, o que há de íntimo,
perene e verdadeiro nos entes. Os antecessores de Aristóteles julgavam o mundo aparente e
ilusório, enquanto ele o tinha como sendo real e cuja essência seria a multiplicidade dos seres e a
mudança incessante.
Thomasius considerou que ontologia seria mais adequada do que metafísica, porque a esta
seria a indicação da ordem dos estudos aristotélicos, no caso, após os tratados sobre física e
Natureza; enquanto aquela indicaria o assunto tratado na Filosofia Primeira.
Entretanto, mesmo com a definição de Thomasius de que a palavra ontologia possui um
significado mais completo do que metafísica, a tradição filosófica optou pela segunda. Isso se
deve porque Aristóteles, ao definir a Filosofia Primeira, afirmou que esta era o estudo dos
primeiros princípios e as causas primeiras de todos os seres ou de todas as essências, estudo, o
qual, deve vir antes de todos os demais, por ser a condição de existência deles. Definição esta que
está inclusa na palavra metafísica, uma vez que meta é o que está além ou acima de, o que vem
depois, entretanto, “o que vem depois” está no sentido de ser superior ou de ser a condição de
alguma coisa. Portanto, metafísica é mais do que um lugar em um catálogo de obras, é o estudo
do que está acima de tudo que é físico, por ser sua condição de existência e de conhecimento. E,
54
dessa forma, foi consagrada como tendo definição mais completa e exata do que ontologia para
designar a Física Primeira.
O objeto de estudo da física é tudo o que é real, porém todo o real possui uma essência,
objeto, este, de estudo da metafísica. Logo, todos os estudos pertencentes à física são resultado do
que compõe a metafísica.
O filósofo grego afirmava que a essência do ser estava contida nele próprio e que a função
da Filosofia era estudá-las exatamente onde ela existia.
Figura 16: O ser humano, um exemplo de ente e, portanto, teria uma essência.
Fonte: http://www.santaedwiges.org.br
Para Aristóteles, a metafísica era a ciência mais elevada, porque não tem finalidades
práticas e não está ligada a nenhum bem material. A própria filosofia é uma atividade que
depende do ócio intelectual para poder existir. (http://www.consciencia.org).
A essência pode ser dividida em várias modalidades. Tem-se a essência dos seres vivos ou
naturais, cujo modo se caracteriza por nascer, viver, mudar, reproduzir-se e morrer. A essência
dos seres matemáticos, que não existem em si mesmos, mas como forma do que é natural,
podendo, porém, ser separada do que é natural pelo pensamento; são seres que, por essência, não
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nascem, mudam, transformam-se ou sequer perecem pelo simples fato de não serem objetos
vivos. Também existe a essência dos seres humanos, que, embora compartilhe qualidades da
essência dos seres naturais, diferenciam-se destes por serem essencialmente racionais, dotados de
vontade e de linguagem. E, por fim, a essência de um ser eterno, imutável, imperecível, perfeito,
imaterial, conhecido apenas pelo intelecto e que encontra-se superior a tudo o que existe: o ser
divino.
Cada ciência, como a biologia, psicologia, entre outras, estuda uma essência. O estudo do
que é a essência, por que elas existem e o que as faz serem particulares e diferenciadas, assim
como o estudo da maneira como elas são investigadas pelas diferentes ciências, por sua vez, cabe
à metafísica, que estuda todas sem distingui-las.
Todavia não há nada que seja apenas o ser sem mais nenhum complemento. Nada é
apenas só essência, mas está é a parte mais importante que compõe tudo o que é natural.
Em uma definição clara, essência “é a unidade interna e indissolúvel entre uma matéria e
uma forma, unidade que lhe dá um conjunto de propriedades ou atributos que a fazem ser
necessariamente aquilo que ela é. Assim, por exemplo, um ser humano é por essência ou
essencialmente um animal mortal racional dotado de vontade, gerado por outros semelhantes a
ele e capaz de gerar outros semelhantes a ele” (http://br.geocities.com).
Aristóteles determinou que a essência é o componente fundamental do ser, sem a qual ele
não existiria, no entanto cabe definir o que é ser na visão aristotélica. Tendo conhecimento da
opinião de Platão a respeito do ser, Aristóteles é categórico ao discordar de seu mestre. O ser
platônico é universal, não havendo diferença de sua essência de um para outro indivíduo, já o ser
aristotélico é formado por sustâncias individuais. Em sua concepção uma pessoa do sexo
masculino, como substância, é o ser, e ser homem é um atributo dessa pessoa.
Definido o conceito de metafísica, tem-se, a seguir, os seus objetivos:
• Investigar as causas e princípios primeiros ou supremos;
• Investigar o ser enquanto ser;
• Investigar a substância;
• Investigar Deus e o supra-sensível.
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O primeiro objetivo, segundo Aristóteles, só pode ser explicado pela existência de um
Deus, que seria a causa primeira de todas as coisas e, portanto, faz com que este objetivo esteja
associado à teologia, assim como o último dos objetivos, que investiga não mais a origem dos
princípios, mas o que os origina: Deus.
Sem o princípio primeiro não haveria coisa alguma, pois é este princípio o formador de
tudo o que existe, sem ele nada se originaria e, portanto, o grau de importância de seu estudo é
tão elevado.
Os princípios primeiros não podem ser demonstrados, pois sua demonstração seria infinita
e, não tendo fim, não se pode considerar algo provado.
Aristóteles afirmava que o que é natural sofre transformações porque busca sua essência
total, perfeita e imutável, como a essência divina. Seu objetivo é mudar até atingir o ponto
perfeito, no qual não ocorrem mais mutações porque estas não são necessárias. Tal fim, dizia
Aristóteles, seria impossível ser alcançado, pois aquilo que é natural jamais rá divino.
O modo imperfeito seria a forma de existir daquilo que pertence ao mundo natural e não a
forma perfeita e imutável.
O estudo do ser enquanto ser investiga a realidade em si. É o estudo do ser e de suas
propriedades essenciais, a sua essência, enquanto as demais ciências estudam as suas
particularidades. Nada mais é do que o próprio estudo da metafísica.
A essência ou ousia é a realidade primeira e última de um ser, aquilo sem o qual um ser
não poderá existir ou sem o qual deixará de ser o que é. (http://br.geocities.com).
Aristóteles constatou que a realidade consiste em várias coisas isoladas, que representam
uma unidade de forma e substância. A “substância” é o material de que a coisa se compõe, ao
passo que a “forma” são as características peculiares da coisa. (GAARDER, 2006).
Como a metafísica se preocupa em compreender o ser como um ente vivo, e não como
indivíduo único, seus estudos estão voltados para a substância em lugar da forma.
Aristóteles conceituou a substância como o que existe em um ser independente de suas
qualidades, aquilo que a ele é necessário. Portanto, substância é a matéria sem a essência. O seu
estudo, por conseguinte, é o estudo daquilo considerado básico e primordial a tudo o que existe,
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pois nada é composto sem a presença da substância e, sem esta, a essência também não se faria
existir.
Aristóteles definiu “a questão da substância como a unidade indivisível de matéria e
forma, do particular e universal, de potência e ato. A substância (...) está presente em todos os
entes e consiste naquilo que é comum em todos eles.” (http://www.artigos.com).
Seguindo esse princípio, avaliando-se o tempo e o movimento, cujas essências estão na
substância, tem-se que eles são eternos e incorruptíveis e, portanto, são características atribuídas
a eles por uma substância primeira que, além de determinar a qualidade de todas as outras, é
imóvel e incorruptível, e move todas as substâncias em sua direção. Se não o fosse, ela seria
móvel como as demais.
Se não houvesse outra substância além da que compõe na natureza caberia à física ser
definida como ciência primeira, mas com a existência de uma substância imóvel e superior a
todas as outras, a metafísica passa a ser a ciência primeira.
Aristóteles conceituou substância de duas maneiras. Na primeira, substância é o sujeito
individual, um ser ou objeto em particular; na segunda definição, substância é o gênero ou a
espécie a que um determinado sujeito individual pertence, ou seja, toda classificação que pode ser
atribuída a mais de um ser, como animal, grego, bípede, erva, ferro, entre outros. Ou seja, é o
conjunto das características gerais que todos os membros de uma mesma espécie possuem.
O estudo das substâncias é necessário por estas estarem presentes em toda a forma viva,
atribuindo-lhe qualidades. Portanto, para entender o ser enquanto qualidade de ser é necessário
compreender as substâncias de que é composto.
É no substrato ou suporte em que se realizam a matéria-potência e a forma-ato, onde estão
os atributos essências e acidentais, e é sobre o qual as causas primeiras agem.
Forma “é o que individualiza e determina uma matéria, fazendo existir as coisas ou os
seres particulares”. (http://br.geocities.com)
A forma é a responsável por atualizar as virtudes contidas na matéria, em vista disso ela é
o resultado da essência, traduzindo a maneira como ela se encontra em um determinado
momento.
O ato é a forma em um determinado momento, é a forma que atualizou uma informação
da matéria, uma potência contida nela, como, por exemplo, o adulto é o ato da criança.
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Aristóteles - monografia
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  • 1. COLÉGIO ARGUMENTO OBJETIVO ARISTÓTELES Ione Caroline Teixeira Leonardo Lopes Seara Camilla Pessonia Cortez Jéssica Gonçalves Mendes Marcela Cristina Lima da Silva Kelvin Hiromiti Albuquerque Yokota Professora Orientadora: Marcela Braga São Paulo 2008 6
  • 2. Agradecemos o apoio e a orientação da professora Marcela Braga, que nos incentivou e nos auxiliou durante a realização desta monografia e, sem a qual, este trabalho jamais poderia ter sido concretizado. Agradecemos, ainda, a algumas pessoas que nos acompanharam e nos ajudaram durante a realização do presente texto: Raul da Silvia Cortez, Cleide Pessonia Cortez, Edivaldo Mendes da Silva, Edilene Magalhães Gonçalves Mendes, Luís Sérgio Gonçalves Mendes, Ana Maria Araújo Lima, Marcelo Nascimento da Silva e Jorge Miklos. 7
  • 3. “O estudo da verdade é, num sentido, difícil e, noutro, fácil. A prova disto é que ninguém pode alcançar plenamente a verdade, mas ninguém pode perdê-la inteiramente. Cada filósofo tem algo a dizer sobre a Natureza em si mesma; esta contribuição não é nada ou é pouca coisa, mas o conjunto de todas as reflexões produz um resultado profundo. (...) Que a filosofia não é uma ciência prática, mas teorética, mostra-se pela história dos mais antigos filósofos. Como efeito, outrora, como hoje, foi, e é, pelo espanto (tò thaumázein) que os homens chegaram, e chegam, ao filosofar (...) Aperceber-se de uma dificuldade e espantar-se é reconhecer sua própria ignorância e, por isso, amar os mitos (philómytos) é, de certa maneira, mostrar-se filósofo (philósophos), pois o mito está repleto do espantoso. Foi para escapar à ignorância que os primeiros filósofos entregavam-se à filosofia, buscavam a ciência para conhecer e não para usá-la.” (ARISTÓTELES in CHAUÍ, 1994). 8
  • 4. SUMÁRIO 1 OBJETIVOS................................................................................................................... 6 2 A VIDA DE ARISTÓTELES ....................................................................................... 7 3 FILOSOFIA E IDEOLOGIA ..................................................................................... 15 3.1 As Ciências Teoréticas .............................................................................................. 16 3.1.1 Física ........................................................................................................................ 17 3.1.1.1 Cosmologia .......................................................................................................... 17 3.1.1.2 Biologia ................................................................................................................. 28 3.1.1.2.1 Psicologia ........................................................................................................... 37 3.1.2 Matemática ............................................................................................................... 41 3.1.3 Filosofia Primeira ..................................................................................................... 46 3.1.3.1 Metafísica .............................................................................................................. 47 3.1.3.2 Teologia ................................................................................................................. 58 3.2 As Ciências Práticas .................................................................................................. 64 3.2.1 Ética .......................................................................................................................... 64 3.2.2 Política ...................................................................................................................... 71 3.2.2.1 Justiça .................................................................................................................... 84 3.2.2.2 Economia ............................................................................................................... 98 3.3 As Ciências Poéticas ................................................................................................. 107 3.4 As Ciências Lógicas .................................................................................................. 118 3.4.1 Lógica ...................................................................................................................... 118 3.4.2 Dialética ................................................................................................................... 132 2.4.3 Retórica .................................................................................................................... 146 4 OBRAS ......................................................................................................................... 155 4.1 As Obras Exotéricas ................................................................................................. 155 9
  • 5. 4.2 As Obras Acroamáticas ............................................................................................ 156 4.2.1 Organon .................................................................................................................. 156 4.2.2 O Estudo da Natureza .............................................................................................. 160 4.2.3 Teórica ..................................................................................................................... 164 4.2.4 Prática ...................................................................................................................... 169 4.2.5 Poética ..................................................................................................................... 174 4.2.6 Outras ...................................................................................................................... 176 5 INFLUÊNCIAS ........................................................................................................... 177 5.1 Pensadores que influenciaram Aristóteles ............................................................. 177 5.1.1 Platão ....................................................................................................................... 178 5.1.1.1 A Influência Platônica sobre o Liceu ................................................................... 181 5.1.2 Sócrates ................................................................................................................... 184 5.1.3 Empédocles ............................................................................................................. 190 5.1.4 Eudóxio ................................................................................................................... 197 5.2 Pensadores influenciados por Aristóteles .............................................................. 199 5.2.1 Ptolomeu ................................................................................................................. 199 5.2.2 Averróis .................................................................................................................. 208 5.2.3 Tomás de Aquino ................................................................................................... 227 5.2.4 Montesquieu ........................................................................................................... 245 6 OPOSIÇÕES E CRÍTICAS ...................................................................................... 250 6.1 O Idealismo Platônico .............................................................................................. 251 6.1.1 O Liceu e sua Nova Educação .............................................................................. 254 6.2 O Antagonismo Socrático ........................................................................................ 257 6.3 O Atomismo ............................................................................................................. 260 6.4 A Questão do Infinito ............................................................................................... 269 6.5 O Maquiavelismo ..................................................................................................... 277 6.6 O Declínio da Metafísica ......................................................................................... 282 10
  • 6. 6.7 A Revolução Científica ........................................................................................... 292 6.7.1 Copérnico ............................................................................................................. 293 6.7.2 Brahe .................................................................................................................... 297 6.7.3 Kepler ................................................................................................................... 300 6.7.4 Galileu .................................................................................................................. 305 6.7.5 Descartes .............................................................................................................. 312 6.7.6 Newton ................................................................................................................. 316 6.8 A Revolução Filosófica .......................................................................................... 319 6.8.1 Bacon ................................................................................................................... 320 6.9 A Doutrina Econômica de Adam Smith ................................................................. 325 7 O LEGADO DE ARISTÓTELES .......................................................................... 331 8 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 334 9 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 336 11
  • 7. 1 OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho são: • abordar a vida de Aristóteles, um dos grandes filósofos da Grécia Antiga; • explicar sua filosofia e ideologia de uma maneira simples e exemplificada; • traçar um paralelo entre suas idéias e as de outros cientistas e pensadores; • fazer uma síntese de suas principais obras; • demonstrar a importância e a influência de suas idéias na sociedade atual. 12
  • 8. 2 A VIDA DE ARISTÓTELES Aristóteles nasceu em 384 a.C. em Estagira, colônia grega da Trácia localizada na Macedônia, a 320 quilômetros de Atenas. Na época, a Macedônia era governada pelo rei Amintas II, em cuja corte Nicômaco, pai de Aristóteles, trabalhava. Aristóteles foi criado junto com um grupo de médicos, amigos de seu pai e chegou a servir a corte macedônica, a serviço do rei Amintas. Segundo o site da PUC (Pontifícia Univerdade Católica) – www.pucsp.br – o fato de ser filho de médico poderia ter dado a Aristóteles o gosto pelos conhecimentos experimentais e da natureza, proporcionando-lhe também o sucesso como metafísico. Figura 1: Aristóteles, o filósofo nascido em Estagira. Fonte: http://www.biografiasyvidas.com Dois anos após o nascimento de Aristóteles, nasceu Filipe, filho de Amintas. Mesmo tendo aspirações muito distintas,os dois dividiram a infância, como pode-se notar no seguinte trecho: “Enquanto o filho de Amintas se exercita na cavalaria, no tiro ao arco, na caça, o de 13
  • 9. Nicômaco não é brilhante em tais artes. Ambos,porém, tinham a paixão da natureza, percorrem as florestas, conhecem as plantas, os animais do chão, as aves, os peixes (...)”. (http://www.vidaslusofonas.pt). Aos onze anos, os pais de Aristóteles morreram, por causa desconhecida, e ele foi viver com sua irmã, Arimnesta, tendo o marido desta, Proxénos, como tutor. Durante a adolescência, passou a maior parte do tempo estudando seus livros, se questionando e achando respostas para as suas próprias questões. Em 367 a.C., aos dezoito anos, Aristóteles foi para Atenas, atraído pela intensa vida cultural da cidade e pela oportunidade de continuar seus estudos. Nessa época, havia disputa entre duas instituições educacionais atenienses: a primeira, de Isócrates, que seguia a trilha dos sofistas e, a segunda, a Academia de Platão. Isócrates, “propunha-se a desenvolver no educando a aretê política - ou seja, a “virtude” ou capacitação para lidar com os assuntos relativos à polis -transmitindo-lhe a arte de 'emitir opiniões prováveis sobre coisas úteis'.” (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999). Em concorrência a Isócrates estava Platão que via na investigação científica e de índole matemática a base para toda ação, seja de caráter político ou qualquer outro. Em sua Academia, fundada em 387 a.C., Platão “mostrava a seus discípulos que a atividade humana, desde que pretendesse ser correta e responsável, não poderia ser norteada por valores instáveis, formulados segundo o relativismo e a diversidade de opiniões. (...) O educando deveria ser levado, por via do socrático exame do significado das essências, estáveis e perenes: núcleos de significação dos vocábulos porque razão de ser das próprias coisas, padrões para a conduta humana porque modelos de todos os existentes do mundo físico. (...) Platão apontava um ideal de linguagem, construída em função das idéias, essas justas medidas de significação e de realidade.” (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999). Aristóteles ingressou, sem hesitação na Academia, onde, devido à ausência de Platão naquela ano, a principal figura era Eudoxo de Cnido, matemático e astrônomo que defendia uma ética baseada na noção de prazer. Platão não se encontrava em Atenas em 367 a.C. devido à morte de Dionísio I, tirano de Siracusa, para onde este se dirigia, a chamado de seu amigo Dion, na esperança de que o novo tirano, Dionísio II, pudesse ser convencido a adotar uma linha política mais justa e condizente 14
  • 10. com os interesses helênicos. Platão retornou cerca de um ano depois, cansado da viagem e da experiência política frustrada na Sicília e, só então é que Aristóteles e ele foram apresentados. Figura 2: Platão, o fundador da Academia. Fonte: http://greciantiga.org Embora tenha apreciado o convívio com seu mestre, amadurecido e consolidado-se como filósofo, em Atenas, Aristóteles teve dificuldades de se adequar, como pode-se notar neste trecho: “Aristóteles tem dificuldades na língua do povo com quem convive e encontra nas ruas, não é conhecido por ninguém. Além disso, na concepção dele, a cidade seria poeirenta, com ar sufocante, úmido fazendo com que se respirasse mal. As pessoas falavam muito depressa e usavam expressões que Aristóteles não decifrava.” (http://www.vidaslusofonas.pt). Não havia um período certo de permanência na Academia, o aluno poderia ficar lá pelo tempo que achasse necessário. Aristóteles permaneceu nela por 20 anos, inicialmente como aluno e, mais tarde, devido ao seu destaque, como professor de retórica. 15
  • 11. Aristóteles começou a sua carreira examinando a retórica, exatamente como Sócrates havia feito. Este sucesso inicial foi recebido como um insulto pessoal por muitos dos seus colegas, embora a retórica fosse uma ciência teorética muito disseminada na época, devido ao fato de ser muito útil para a política. Aristóteles, no entanto, dominou-a muito bem, sendo um dos primeiros a fazer dela uma especulação teórica. A sua capacidade de trabalho era considerável “A fim de reduzir a duração do seu sono e aumentar conseqüentemente o seu tempo de trabalho, tinha o hábito de, antes de adormecer, pôr na mão uma bola de bronze, segurando-a por sobre uma bacia, a fim de que, ao cair, o ruído feito pela bola o despertasse.” (CRESSON, 1988). Em 347 a.C., com a morte de Platão, Aristóteles não aceita Euspeusipo, sobrinho de Platão, como novo diretor e deixou a Academia, partindo para Assos, onde se dedicou ao trabalho e a leitura, permanecendo na corte de Hérmias, que reinava sobre Assos e Atarneo. Com o assassinato de Hérmias, três anos depois, Aristóteles deixou a cidade, acompanhado pela sobrinha do tirano morto, Pítias, que tornou se sua primeira esposa. Enviuvou e, pouco tempo depois, casou com Herpília, com quem teve o filho Nicômaco, a quem dedicou uma das suas obras fundamentais: Ética a Nicômaco. A morte de Hérmias afetou dolorosamente Aristóteles, que traduziu o que sentia no hino à virtude: “Virtude, bem de tão difícil aquisição, o bem mais precioso que todo o homem pode ambicionar, tu és bela, ó jovem virgem, sendo por ti que os Gregos desafiam a morte e suportam as piores desgraças. Tu inundas as almas de um fruto imortal, superior ao ouro, melhor que os laços de sangue, melhor que o mais doce sono... Foi por amor à tua beleza que um cidadão de Atarne, ilustre pelos seus grandes feitos, veio a perder a vida. As Musas, filhas de Mnemósina, imortalizarão o seu nome, pois elas exaltam a amizade” (ARISTÓTELES in CRESSON, 1988). Ao sair de Assos, retirou-se para Mitilene, onde foi chamado por Filipe, filho de Amintas, para ser preceptor de seu filho, o jovem Alexandre, que mais tarde seria conhecido como Alexandre, o Grande. Aristóteles desempenhou essa função por dois anos, até 336 a.C, quando Filipe foi assassinado por Pausânias. No intervalo em que permaneceu com Alexandre, ocorreram grandes feitos, por parte de Filipe, como: a vitória dos macedônios sobre os gregos na Queronéia, o fim da autonomia das cidades-Estados que havia caracterizado a Grécia durante todo o período helênico e diversos 16
  • 12. outros acontecimentos que foram de grande importância para a estruturação política e cultural da época. Figura 3: Representação de Alexandre, o Grande. Fonte: http://www.colegiolondrinense.com.br A derrota dos gregos foi de grande importância para o contato cultural e para a miscigenação não só de povos como de ideais. Essa importância é ressaltada no trecho a seguir: “A partir de então - dominada pela Macedônia e, mais tarde por Roma -, a Grécia integrará amplos organismos políticos que diluirão suas fronteiras e atenuarão as distinções culturais que tradicionalmente separavam os gregos de outros povos, sobretudo dos ‘bárbaros’ orientais.” (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999). Filipe da Macedônia foi grande contribuinte para o sucesso de seu filho, Alexandre. Foi descrito como: “Guerreiro brilhante, tático e diplomata, lutou muito nos seus 20 anos de governo para alcançar seu sonho de ter um império poderoso. O seu grande êxito foi mudar a maneira de guerrear, criando uma infantaria bem treinada e pesada, equipada com lanças de 4,2 metros, que 17
  • 13. lutava numa formação falange retangular fechada. Seus exércitos tomaram o mundo grego por surpresa, conquistando primeiro a terra continental da Grécia e voltando a atenção para a Trácia, Liria e os pontos longínquos do norte do Egeu. (...) Filipe foi assassinado por um nobre, aos 46 anos, no momento em que tinha transformado a Macedônia no reinado mais poderoso do mundo grego. (http://www.discoverybrasil.com). Com a morte do pai, Alexandre decidiu assumir o trono com apenas 20 anos, abandonando as aulas de Aristóteles. Sendo assim, auxiliado por Alexandre, Aristóteles voltou para Atenas, onde fundou sua escola, o Liceu, onde lecionou durante 12 anos. “Para começar com essa escola, que seria a rival da já meio decadente Academia, Aristóteles alugou alguns edifícios próximos ao templo em honra a Apolo Lício, por causa disso, a escola de Aristóteles ficou sendo conhecida como Liceu. Os estudantes receberam o nome de Peripatéticos, pois aprendiam passeando com o seu mestre nos jardins do Liceu. A pesquisa realizada por Aristóteles e seus discípulos foi um projeto monumental” (http://www.consciencia.org). Ao contrário da Academia, voltada principalmente para investigações matemáticas, o Liceu transformou-se num centro de estudos dedicados principalmente às ciências naturais, que não marcaram apenas a perspectiva da escola, como também a visão científica e filosófica de Aristóteles, que transpôs para toda a natureza categorias explicativas pertencentes originariamente ao domínio da vida. Alexandre conquistou seu império com grande velocidade e nível de estratégia altíssimo. Ele possuía um incansável vigor pela expansão de seu império, tendo como seu maior sucesso a conquista da Pérsia, naquela época, maior rival da Grécia. Seu império estendeu-se não apenas pela Grécia, como também pelo Egito (onde ele fundou a cidade de Alexandria) e pelo Paquistão. Além disso, ficou conhecido pela chamada política de fusão: Alexandre não destruía os países conquistados, mas os regia com justiça e assimilava seus habitantes em seu governo e em seu exército, promovendo a miscigenação entre todos os povos que conquistara. Em suma, suas conquistas não se deram apenas pelo poder de seu exército, mas também por sua inteligência em estratégia e administração dos povos conquistados. Contudo, Alexandre lutou até a exaustão, não poupando o seu corpo, bebia demais e não tinha grandes preocupações com a saúde. Morreu aos 18
  • 14. 32 anos, de febre, sem deixar herdeiros. O seu império entrou em colapso pouco depois a sua morte, vindo a se desmembrar logo em seguida. Aristóteles e Alexandre haviam mantido sua ligação, tendo Alexandre dado indicações aos seus súditos para ajudarem Aristóteles colhendo material botânico das terras distantes, conquistadas em suas expedições, para enviar-lhe exemplares que pudessem enriquecer as coleções do Liceu. Também mandou a Aristóteles, da Ásia, todos os animais que pudessem lhe interessar, o que proporcionou a Aristóteles o conhecimento necessário para escrever A Natureza dos Animais. “Essa ligação com o Império Macedônico fez com que Aristóteles sofresse com a grande reação que houve em Atenas após a morte de Alexandre, sob a alegação de ter sido o mestre daquele que conquistara a Grécia.” (www.consciencia.org). Devido à situação que se estabelecera na Grécia, após a morte de Alexandre, em 323 a.C., e a hostilidade da facção antimacedônica, Aristóteles deixou o Liceu na responsabilidade de um de seus discípulos, Teofrasto, e deixou Atenas, dirigindo-se para Cálcis, local de nascimento de sua mãe, na ilha de Eubéia. Lá ele permanece até 322 a.C. quando morreu aos 62 anos, poucos meses depois de ter se exilado. A provável causa de sua morte foi a doença de estômago com que sofrera a vida toda.Com sua morte, deixou seus dois filhos que ainda não haviam atingido a maioridade, Pítias, nome herdado de sua primeira mulher, e Nicômaco. Suas cinzas “foram inumadas em Estagira, e, tal como fora pedido, as ossadas de Pítias, sua mulher, foram igualmente colocadas em seu túmulo.” (CRESSON, 1988). Aristóteles escreveu cerca de cento e vinte obras, das quais quarenta preservaram-se até hoje. Seus livros fundamentais são: Retórica, Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo, Organon, Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos, Física, Metafísica, Tratado do Céu, Crescimento e Decadência, Tratado de Anima (ou Tratado da Alma), Historiae Animalium (ou História Animal), Política, entre outros. Aristóteles foi o primeiro filósofo que verdadeiramente separou a filosofia da ciência. Ele inventou o primeiro sistema de lógica, estabeleceu as ciências da biologia e zoologia, fundou a sua própria universidade e esteve entre os primeiros cientistas políticos. Como pensador, as contribuições de Aristóteles foram únicas e sem paralelos até o século XIX (www.discoverybrasil.com). 19
  • 15. O organizador da Biblioteca de Alexandria, Andrônico de Rodes - que também foi o décimo sucessor de Aristóteles no Liceu - conseguiu organizar um edição de suas obras em meados do século I. (http://www.consciencia.org). Figura 4: A estátua de Aristóteles. Fonte: http://filosofiagrega.zip.net Segundo o site da PUC, a estátua que dele se conserva o apresenta com a testa e a cabeça menor que a de Platão, cabelo aparado, sem ser calvo como Sócrates, barba não alongada, boca pequena entre lábios finos. “Tal foi o maior dos mestres” (http://www.pucsp.br). 20
  • 16. 3 FILOSOFIA E IDEOLOGIA A filosofia surgiu na Grécia, quando o homem passou a buscar uma explicação racional para o mundo, não se contentando com as explicações míticas e lendárias, em que todos os fenômenos eram atribuídos à ação dos deuses. (MARTINS FILHO, 2000). A palavra filosofia deriva de duas palavras gregas (philos + sophia) e significa amor a sabedoria. A filosofia assenta-se no pensamento e faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando idéias e pensando em argumentos possíveis contra elas. A filosofia procura saber como funcionam os nossos conceitos. No livro Manual Esquemático de Filosofia, Ives Gandra diz que na Grécia Antiga, a filosofia, mais do que uma matéria de estudo, era um caminho e uma maneira de vida. A sabedoria deveria ser o objeto de amor do filósofo e, consistiria numa permanente vontade de saber unida a um respeito intelectual pela verdade. Já para Thomas Nagel, autor do artigo do site ‘O que quer dizer tudo isso?’, a preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos idéias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. (http://ocanto.webcindario.com) Para Aristóteles, assim como para Platão, a filosofia deveria estudar o universal e o necessário, uma vez que não poderia haver uma ciência que tivesse como objetivo estudar o individual e o que pode ser desprezado. Para Aristóteles a filosofia é essencialmente teorética, ou seja, tem como dever decifrar o enigma do universo, e o seu problema fundamental é o problema do ser, não o problema da vida. Assim sendo, o objeto próprio da filosofia são as essências imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o que as coisas são e qual a sua natureza. Filosofia seria, portanto, a compreensão do mundo e de tudo o que o compõe de forma racional, e é exercida por aqueles desejosos de conhecimento. As idéias filosóficas de Aristóteles partem do problema do valor objetivo dos conceitos, assim como as de Platão, seu mestre. Contudo, Aristóteles não utiliza a mesma solução que seu mestre, criando um sistema de raciocínio totalmente original.Sua característica principal como filósofo “é um robusto bom senso, que se recusava a acreditar que este mundo fosse algo que não fosse completamente real. A filosofia, tal como se lhe apresentava, era uma tentativa para 21
  • 17. explicar o mundo natural, e se não o conseguisse fazer, ou se o pudesse explicar apenas pela introdução de um misterioso mundo-modelo transcendente, destituído de propriedade tipicamente natural do movimento, devia, pois, considerar-se que tinha fracassado.” (GUTHRIE, 1987). O sistema criado por Aristóteles parte de três princípios básicos: - Observação fiel da natureza: enquanto Platão rejeitava a experiência como fonte de conhecimento certo, Aristóteles toma o fato como ponto de partida para as suas teorias e busca na realidade um apóio sólido para as suas especulações metafísicas. - Rigor no método: Aristóteles substituiu a linguagem figurada de Platão por um estilo conciso e de terminologia filosófica precisa. Ao estudar uma questão, Aristóteles procede por partes começando por definir o objeto da questão, para depois enumerar soluções históricas, propor as dúvidas, indicar a própria solução e, por último, debater sobre as sentenças contrárias à solução encontrada. Esse rigor no método de estudo proporciona um entendimento mais profundo e amplo sobre a questão escolhida. - Unidade do conjunto: Todas as suas obras constituem um sistema, uma síntese. Todas as partes se confirmam, se compõem, e se correspondem. A filosofia, de Aristóteles, dividir-se-ia em três áreas: a teorética, a prática e a poética. O estudo dessas três áreas abrangeria todo o saber humano e racional. Contudo, foi criada mais uma divisão da filosofia aristotélica, denominada ciências especiais na qual está inclusa a lógica, criada por Aristóteles, a retórica e a dialética, que se encontram dissolvidas nas demais obras. Para possibilitar um estudo mais profundo e específico da ideologia aristotélica, utiliza-se, nesse trabalho, a divisão citada a cima. 3.1 As Ciências Teoréticas O termo “teorético” é uma derivação de “teoria”, proveniente do verbo grego theorein, cujo significado é “contemplar”, como consta no site www.olavodecarvalho.org. As ciências teoréticas, sendo assim, são aquelas cuja finalidade é tratar do real após uma observação do mesmo. 22
  • 18. Elas são aquelas capazes de explicar fenômenos que chegam a nós através dos sentidos, criando um conceito que define o que algo é. Aristóteles classificou a física, a matemática e a filosofia primeira, que engloba a metafísica e teologia, como sendo ciências teoréticas. 3.1.1 Física Entende-se por física a ciência das coisas naturais, aquela que estuda a composição dos materiais e os fenômenos por eles evidenciados. Atualmente, o significado de física é mais específico do que na Antigüidade. Segundo a definição do Dicionário Aurélio, 1975, física é a ciência que investiga as propriedades do campo, que estuda os meios materiais, além das propriedades e leis fundamentais de ambos. No entanto, a concepção grega e a de Aristóteles é de que “a física é o mundo dos fenômenos - o mundo que se apresenta diante de nós, considerado na sua totalidade”. (http://www.olavodecarvalho.org). Por conseguinte, o que é definido, atualmente, como biologia e química, antes era integrado aos estudos físicos. A física, por ser ampla, era divida em duas partes: a primeira referente aos processos cósmicos, o que atualmente denominamos como cosmologia; a segunda, por sua vez, referia-se aos seres vivos e deu origem à biologia. 3.1.1.1 Cosmologia Aristóteles foi autor de diversas teorias que explicavam a formação da matéria, a forma com que se davam os movimentos, além de conceituar espaço e tempo. Com Aristóteles a Cosmologia grega atingiu seu desenvolvimento mais abrangente e sistemático. Sua visão do Cosmo era uma síntese das instituições de seus inúmeros predecessores, das idéias dos jônicos e de Empédocles relacionadas aos elementos naturais, à Astronomia e o problema dos planetas de Platão. (TARNAS, 2000). 23
  • 19. Em relação ao estudo do universo e de seus elementos, Aristóteles defendia um sistema filosófico para a explicação do mundo físico que o cercava baseado na ideologia de Empédocles, de que toda e qualquer matéria seria composta de cinco elementos: terra, ar, fogo, água e éter. Entende-se por matéria quaisquer substâncias sólida, líquida ou gasosa que ocupam lugar no espaço. Os quatro elementos materiais básicos (fogo, ar, água e terra) representam, no pensamento grego, aquilo que chamamos de estados da matéria: “água” não se refere apenas à água propriamente dita, mas a qualquer líquido (vinho, vinagre, óleo, etc.), assim como “terra” representa qualquer sólido. A água, ao se congelar, torna-se terra (gelo); ao ser aquecida, torna-se ar (vapor); e o fogo é o estado de maior aquecimento do ar, que se torna luminoso. Essas quatro possibilidades esgotam tudo o que se conhecia e serviam para descrever todos os tipos de materiais da natureza (http://www.colegiosaofrancisco.com.br). O universo físico poderia ser divido em duas regiões distintas de acordo com a sua composição e tendo como marco a esfera em que a Lua se encontraria: a sublunar e a supralunar. A primeira, constituída pelos quatro primeiros elementos, compreenderia a Terra e sua atmosfera. Estes elementos possuiriam, cada qual, qualidades distintas, como peso, temperatura e umidade. O fogo seria quente e seco, a água, fria e úmida, o ar, quente e úmido e a terra, fria e seca. O resultado da união deles, em diferentes proporções, corresponderia à formação os corpos. Dessa forma, e ainda segundo a concepção de Aristóteles, o mundo sublunar seria aquele submetido à mudança e degradação; nele os seres estariam submetidos ao tempo: nasceriam, cresceriam e morreriam e, portanto, não seriam dignos de maiores estudos ou análises. (http://www.geocities.com). A pouca importância dada ao mundo sublunar é devido ao fato de que seria impossível conhecer o que está sujeito à constantes modificações. Opondo-se a essa região mutável e imperfeita estaria o mundo supralunar, composto pela quinta essência, o éter, substância invisível mais pura do que o fogo e, por conseguinte, representava o elemento superior, definido como divino. Tal região compreenderia o espaço celeste, incluindo desde os planetas visíveis até a esfera em que estariam situadas as estrelas fixas. O mundo supralunar era considerado o mais próximo da perfeição devido à eternidade dos corpos celestes, suas trajetórias físicas e suas propriedades inalteráveis. 24
  • 20. Segundo a ideologia aristotélica, a região classificada como supralunar apresentava-se composta por esferas, no total de 56, umas dentro das outras, que giravam cada qual em seu respectivo eixo. Baseada na concepção de Aristóteles, a Terra, situada no centro, era imóvel, esférica e circundada pelos planetas e estrelas, fixos em suas respectivas esferas. O que determinaria, pois, o movimento irregular dos planetas era a diferença no eixo e na velocidade de rotação de cada uma das estruturas esféricas em que estavam situados. Cada uma delas mover-se- ia em função da esfera imediatamente superior, responsável por atuar como um motor, desta maneira, entende-se como sendo “o movimento de todas as esferas (...) uma combinação de sua própria rotação com os movimentos das esferas que estão acima dela.” (GUTHRIE, 1987). Aristóteles concluiu que a Terra era redonda observando que a sombra da Terra sobre a face da Lua, num eclipse lunar, era um arco. (http://www.oba.org.br). Figura 5: O Universo para Aristóteles Fonte: http://www.scielo.br A única exceção era a camada exterior, esfera em que se situavam as estrelas, que não apresentaria rotação. 25
  • 21. O movimento da grande esfera do universo, segundo Aristóteles, seria perfeito, sendo o único movimento circular capaz de se perpetuar eternamente sem nunca voltar. Com o objetivo de explicar os movimentos rotatórios propostos pelo filósofo grego, vários astrônomos antigos propuseram soluções matemáticas engenhosas. Enquanto o universo apresentaria movimento circular, a Terra permaneceria imóvel, isso porque, segundo argumentação de Aristóteles, este não seria o movimento natural do pesado elemento que a compõe. Explicando sua teoria, ele adicionou a isso raciocínios como: se a Terra girasse, uma pedra lançada no alto de uma torre cairia longe desta. Também afirmou que, com o movimento anti-natural, formar-se-ia uma ventania na superfície terrestre. Os argumentos citados justificavam a imobilidade da Terra entorno de seu eixo, quanto à sua movimentação ao redor do Sol, Aristóteles dizia que se ocorresse de fato, a posição aparente das estrelas se modificaria, e, como a posição permanecesse a mesma, logo a Terra era inerte. Devido a isso, justifica-se a crença de estruturação do universo ser baseada na teoria geocêntrica, que era defendida por muitos contemporâneos seus. Figura 6: Representação do modelo geocêntrico. Fonte: http://www.arikah.net 26
  • 22. Os elementos situados abaixo das esferas celestes, por sua vez, teriam o seu lugar específico, também denominado de natural. A terra estaria no centro, a água sobre ela, seguida pelo ar e o fogo, estando o último apenas abaixo do éter. Com a filosofia fundamentada nesse conceito, Aristóteles definia o movimento como a tentativa de distensão dos elementos, ou seja, quando estes procuravam seus locais naturais. Cada elemento teria um movimento natural: o do éter seria circular, e os dos pares terra- água e ar-fogo seriam para baixo e para cima, respectivamente. Como exemplo pode-se mencionar a chuva, cujo movimento é em direção ao solo e as rochas que, quando abandonadas, caem; em contrapartida têm-se as bolhas de ar na água que sempre vão rumo à superfície e o fogo que se eleva. “É assim que a terra tende a precipitar-se (...) ao centro do universo.” (GUTHRIE, 1987). Fenômenos estes que se explicavam pelo local específico de cada essência. O fogo e o ar, situados acima da água e da terra, buscavam o seu lugar natural indo para cima e o inverso ocorria com os outros dois elementos. Para Aristóteles, quanto maior a tendência de chegar ao local de origem, tanto maior seria o seu peso. O discípulo de Platão era um dos adeptos do pensamento de que corpos mais pesados caem mais rapidamente do que corpos mais leves. Em um de seus livros sobre Física ele escreveu: “Vemos que corpos com maior tendência de peso ou de leveza, mas semelhantes em todos os outros aspectos, se movem mais rapidamente no mesmo espaço e isto na razão que tenham entre si os valores dessas tendências. Por isso mover-se-ão também no vazio com esta razão de velocidades.” (ARISTÓTELES in http://www.jcpaiva.net). Entretanto, Aristóteles não encontrou uma explicação plausível do porquê de corpos mais pesados caírem mais rapidamente do que os mais leves no vazio, pois, para ele, parecia lógico que no vácuo isso não aconteceria uma vez que o peso não teria valor nesta situação, porém, seu raciocínio o conduzia a uma conclusão diferente. Assim sendo, ele conclui que não existe o vazio e inicia-se o horror ao vácuo dos gregos, que evitavam considerar a hipótese de sua existência. 27
  • 23. A formação de Aristóteles era filosófica e não experimental, o que justifica a falta de experiências que comprovassem suas suposições. Atrelado a isso, a precariedade dos instrumentos tornava as experiências mais difíceis e, algumas vezes, até inviáveis, fortalecendo o método desse grande filósofo de deduzir, a partir da lógica, a estruturação do mundo, porém sem provas. Aristóteles propunha, ainda, o estudo dos movimentos, que poderiam ser naturais ou forçados. O movimento natural ocorre de uma ação deliberada e o forçado, da execução de uma força, como exemplo soltar e lançar uma pedra, representando, respectivamente, a deliberação e a força aplicada. (http://calendario.incubadora.fapesp.br). A visão aristotélica de ser é que este “não é apenas o que já existe, em ato; ser é também o que pode ser, a virtualidade, a potência. Assim, sem contrariar nenhum princípio lógico, poder- se-ia compreender que uma substância apresentasse, num dado momento, certas características, e noutra ocasião manifestasse características diferentes. (...) Essa passagem da potência ao ato é que constitui, segundo a teoria Aristotélica, o movimento.” (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999). Os movimentos eram divididos em quatro tipos distintos: o substancial, o qualitativo, o quantitativo e o espacial. • Movimento substancial – mudança de forma, nascimento e morte, ou seja, a passagem do não-ser ao ser e o seu inverso, a passagem do ser para o não-ser; • Movimento qualitativo – mudança de propriedade (qualidade), como a alteração de cor; • Movimento quantitativo – mudança de quantidade, como exemplo o aumento do volume de uma planta em crescimento; • Movimento especial – transporte através do espaço, como, por exemplo, o movimento em linha reta. Aristóteles se contradisse “ao afirmar em seu terceiro livro sobre física que o nascimento e morte são um tipo de movimento e, depois, ao declarar em seu quinto livro sobre física, que para haver movimento é necessário um sujeito. Quando ele assevera que nascer é a transição do 28
  • 24. não-ser para o ser, o não-ser representa a ausência do sujeito e, portanto, não teria como realizar um movimento.” (CRESSON, 1988). O movimento especial é, de todos, o mais importante, pois dele dependem todos os outros. Ele afirma, ainda, que o movimento, por ser eterno, não apresenta princípio ou fim, afirmando a mesma coisa do mundo e da vida. Aristóteles admitiu fortemente que o mundo é eterno: “ele não teve início. E não terá fim. Portanto, se percorrermos a cadeia das causas eficientes de que depende o aparecimento de um dado indivíduo, a lógica sugere-nos que esta cadeia é como o próprio mundo. Seria inútil procurarmos descobrir-lhe um princípio.” (CRESSON, 1988). Uma vida gera outra e um movimento gera outro. É, portanto, impossível determinar, um início para a sucessão. Uma pessoa nasceu da união de outras duas, cada uma dessas, pela união de mais duas, e estas, pela de mais duas, e assim infinitamente, pois segue o princípio lógico de que um ser é gerado pela união de outros dois. O mesmo acontece com os movimentos, seguindo o mesmo ideal um sempre será originado de um outro, sendo impossível determinar o começo da seqüência. Figura 7: O movimento, para Aristóteles, sempre originaria outro. Fonte: http://cfsjm.com 29
  • 25. Aristóteles conclui, então, que havia um Motor Imóvel que daria origem aos Motores Movidos, que originariam outros e assim sucessivamente. Em resumo, Motor Imóvel seria um movimento não gerado por outro definido e que daria origem a outros movimentos, enquanto Motor Móvel é aquele que, já impulsionado, estaria em movimento e originaria outros novos. O amor originado pela beleza é um movimento que, para Aristóteles, demonstrava claramente a animação do mundo. Quem ama dirigi-se ao amado porque este o atrai. O objeto amado não foi responsável pela criação do primeiro movimento, ele não se move, o que é provado por ele poder desconhecer o fato de ser amado. Logo, há um Motor Imóvel do qual todos dependem: Deus. (CRESSON, 1988). O Motor Imóvel exerceria sua influência e instigaria os movimentos de uma localização além do mundo subralunar, denominado mundo supraceleste. Os estudos dos movimentos compõem a dinâmica, que, ao analisá-los, relaciona suas causas e efeitos. O filósofo estabelece que potência e ação, ambos constituintes do fundamento de sua dinâmica, se encontram no mesmo ser, contrapondo-se à matéria e a forma que representam os princípios básicos da estática, situação na qual o corpo encontra-se em equilíbrio estático e, portanto, não há movimento. O conceito básico da dinâmica de Aristóteles é de que um corpo inanimado não pode permanecer em movimento sem a ação constante de uma força. (http://br.geocities.com). A definição de força, no caso, é a mesma de impulsão. Quando mencionado o Motor Imóvel, seria este o responsável por impulsionar a seqüência de movimentos, que seria gerada através das forças transmitidas de um corpo a outro. Quando esgotada a força os corpos procurariam o seu lugar natural. O princípio aristotélico foi acatado durante milênios, e, posteriormente criticado por alguns nomes como Jean Phi-lopon, Jean Buridan e Nicole Oresme, da Escola dos Nominalistas de Paris (século XIV), Leonardo da Vinci, Benedetti e Galileu (séculos XVI e XVII), dentre outros, que atentavam para o fato de que o movimento continuava mesmo quando cessada a força. Newton provou o erro do princípio aristotélico quando demonstrou que mesmo na ausência de forças um corpo poderia permanecer em movimento. (http://www.scielo.br). 30
  • 26. Além deste princípio, Aristóteles defendia outra teoria, a de que todo movimento próximo a Terra se dava ao longo de uma linha reta. Ao analisar o movimento de uma flecha segundo esse princípio, a fecha mover-se-ia em uma linha reta impulsionada pela força do arco e, posteriormente, pela força transmitida através de sucessivas camadas de ar, até que esta última força se esgotasse, e a flecha tombaria verticalmente, independente de ser sido ou não lançada nesta direção. Figura 8: O lançamento de um projétil através de um canhão segundo o princípio aristotélico. Fonte: http://www.fsc.ufsc.br Para esse movimento ocorrer, o meio, no caso o ar, transmitia a força, mas também resistia ao movimento, que se dava, portanto, somente se essa força vencesse a resistência. Assim, o movimento uniforme necessitava de um equilíbrio entre esses dois fatores opostos. Em outras palavras, quanto maior a força, mais rápido o movimento; quanto maior a resistência, mais 31
  • 27. lento o movimento. Uma conseqüência interessante dessas idéias é a impossibilidade da existência do vácuo, pois nele não haveria resistência e a velocidade dos corpos se tornaria infinita, o que é absurdo. Todo o espaço devia estar cheio de um meio: o éter. (http://br.monografias.com). O filósofo grego afirmava ainda que o movimento natural próximo a Terra devia-se às qualidades próprias de seu peso e que seria este o responsável por determinar o movimento retilíneo de corpos nas suas proximidades. Figura 9: O movimento retilíneo dos corpos. Fonte: http://www.fsc.ufsc.br Outra especial questão da física aristotélica é a concernente ao espaço e ao tempo. O espaço no conceito dos atomistas era uma realidade separada e absoluta na qual os corpos se moveriam. Aristóteles, opondo-se a este pensamento, tem como espaço a determinação dos corpos, e que ele não coincide com a essência principal do corpo, não sendo a substância, mas a determinação desta. (http://www.cfh.ufsc.br). 32
  • 28. O espaço, segundo o filósofo grego, seria pleno e contínuo e os lugares particulares seriam limitados por outros, que os rodeiam e os contêm. O universo representaria o espaço que continha tudo, não existindo nenhum lugar em torno dele. Conclui-se, pois, que o espaço, no conceito de Aristóteles, é aquilo que delimita os corpos e cada corpo é rodeado por outros espaços que os contém, chegando ao limite: o universo. Sendo assim, matéria e espaço são inseparáveis, uma vez que sem o primeiro não existe o segundo. Segundo Aristóteles, o vazio não existe. No vazio, assim como no espaço geométrico, não existem lugares nem direções privilegiadas. Conseqüentemente, as figuras geométricas não podem descrever os corpos materiais: a física não pode ser descrita pela matemática. Seria até mesmo perigoso, segundo Aristóteles, misturar física e geometria, aplicar o raciocínio matemático ao estudo da realidade física. (http://www.scielo.br). Também o tempo, para Aristóteles, é uma determinação objetiva dos corpos, e não existe um tempo absoluto. “O tempo é o número - isto é, a medida - do movimento segundo a razão, o aspecto, do ‘antes’ e do ‘depois’”. (http://www.mundodosfilosofos.com.br). O movimento é que determinaria o tempo. Um movimento já concluído o classificaria como passado, o “antes”; o que ocorre, está em um tempo definido como “agora” ou presente; e o que ocorrerá, como futuro, o “depois”. Sem os seres e, conseqüentemente, sem os movimentos não haveria como existir um conceito de tempo. A natureza do tempo se revela ainda como algo que está dividido e unido; dividido em passado e presente; unido na continuidade da duração. Resulta este fato do princípio aristotélico de que na mudança há algo que permanece, enquanto uma parte muda. Resultando o tempo das fases do movimento, sua medida é o próprio movimento, cada novo movimento é novo tempo. (http://www.cfh.ufsc.br). Segundo o princípio proposto por Aristóteles, por se tratar de uma continuidade, aquilo que sofre uma mudança ou transição não teria como mudar completamente, pois, se isso acontecesse, deixaria de ser o mesmo e quebraria a continuidade proposta pelo tempo. Aristóteles dedicou muito dos seus estudos ao movimento, sua natureza e assuntos relacionados ao tema. Devido às suas teorias serem fundadas em princípios lógicos, mesmo quando equivocados, as idéias aristotélicas foram difundidas em sua totalidade pela Europa e Ásia. 33
  • 29. A Europa cristã descobriu Aristóteles através dos árabes, passando assim a traduzir os seus livros para o latim. Dessas traduções, as suas teorias começaram a ser aceitas com uma autoridade quase divina, inclusive as suas incorreções. Quando eclodiu a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, suas primeiras vitórias envolveram a derrubada da Física Aristotélica, e Aristóteles, a partir disso, começou a ser visto como um inimigo da ciência, quando na verdade foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, que mesmo errado, sempre permaneceu racional e lógico. (http://br.geocities.com). Algumas teorias propostas por Aristóteles foram defendidas por muito tempo, sendo, posteriormente, aprimoradas ou revogadas. Mesmo quando errado, Aristóteles tinha sua ideologia fundada em uma lógica sem igual e com uma perfeita linha de raciocínio, o que provava seu estudo detalhado do mundo que o cercava. O que é evidente é a diversidade do pensamento do filósofo em campos diversos e seu legado e influências que são inquestionáveis. Sem um primeiro pensamento seria impossível haver contestação. 3.1.1.2 Biologia Além dos estudos relativos à cosmologia, Aristóteles também se dedicou a entender a vida e organismos vivos. O resultado foram várias pesquisas que hoje definimos como biológicas, uma vez que compreendem o estudo dos seres vivos e das leis da vida. Seu interesse e a sua curiosidade sobre a natureza viva o induziram a escrever sobre esse assunto, sendo considerado o primeiro a escrever sobre biologia e o primeiro biólogo da Europa, embora este conceito não existisse na época em que viveu. Ele foi o responsável pela criação da linguagem técnica da ciência e de sua sistematização e organização. Seus estudos foram feitos, principalmente, nos últimos doze anos de sua vida. Segundo ele, existiam dois princípios que associados dariam origem à vida: o passivo – matéria – e o ativo – forma. A matéria corresponderia à estrutura corporal, enquanto a forma, à alma. A diferença entre os seres vivos se daria, não pelo princípio passivo, que era idêntico a todos, mas ao princípio ativo. O princípio da vida concentrava-se na alma, pois a matéria estaria presente tanto nas formas vivas quando nas não vivas. Completando esses dois princípios 34
  • 30. existiria o pneuma, elemento intermediário entre o corpo e a alma, que poderia ser encontrado em qualquer forma viva. Figura 10: Aristóteles se destacou em seu estudo sobre a vida. Fonte: http://scientificillustration.files.wordpress.com O pneuma seria algo material, porém de natureza muito especial. Segundo Aristóteles, como consta no site http://ghtc.ifi.unicamp.br, o pneuma era uma substância análoga ao quinto e “mais nobre” elemento, do qual os corpos celestiais eram feitos, o éter. No seu entendimento, os seres vivos eram organismos por possuírem um dinamismo interior e próprio denominado physis ou Natureza. Essa característica os diferenciaria de seres inanimados que, por sua vez, não possuíam qualquer dinamismo interno. No site http://ghtc.ifi.unicamp.br, consta que, Aristóteles, como tentativa de explicar a imensurável variedade de seres vivos existentes, criou a hipótese de Geração Espontânea, baseada na crença de que alguns seres vivos formar-se-iam espontaneamente da matéria ambiente, sem necessidade de gametas para formá-los. Essa teoria justificar-se-ia pela existência do pneuma, que possuiria calor vital de poder gerativo. Segundo o filósofo grego, o calor seria 35
  • 31. essencialmente a natureza da vida. A teoria de Geração Espontânea foi a primeira teoria científica de origem da vida. Segue um trecho do livro V, de Aristóteles, em História dos Animais: “Em relação aos animais, alguns nascem de pais animais conforme seu tipo, enquanto outros crescem espontaneamente e não de uma linhagem semelhante; e desses exemplos de geração espontânea alguns provém da matéria vegetal ou terra em putrefação, como é o caso de certo número de insetos, enquanto outros são gerados espontaneamente no interior de animais a partir de secreções de seus diversos órgãos.” (ARISTÓTELES in http://ghtc.ifi.unicamp.br). Com essa teoria Aristóteles atribuía a formação de insetos ao redor de carnes em estado de decomposição à crença de que elas nasceriam da própria carne e não de descendentes da mesma espécie através da fecundação, assim como algumas plantas surgiriam da decomposição da terra ou de algumas partes de outras plantas, sendo algumas produzidas sobre as outras, como o musgo. O filósofo grego conceituou o estado de putrefação como perda de calor interno, pela influência do calor externo, o que gerava a possibilidade de formarem-se novos seres vivos. Haveria uma restrição aos seres que poderiam ser concebidos espontaneamente através de matérias inertes. “Segundo Aristóteles, eram gerados espontaneamente alguns peixes, como a tainha e enguia, os testáceos, esponjas e determinados insetos”. (http://ghtc.ifi.unicamp.br). Em relação às lesmas, faltava a certeza ao filósofo quanto a sua origem natural e, embora admitisse que a maioria dos organismos vivos fosse gerada sexuadamente, chegou a discutir a possibilidade dos homens e quadrúpedes terem se originado do lodo. Aristóteles não foi o único a defender essa teoria, muitos outros pensadores de renome escreveram obras a esse respeito e difundiram essa crença durante anos, tais como São Tomás de Aquino, René Descartes, Santo Agostinho e Isaac Newton. Porém, com o tempo, essa idéia foi refutada. Um dos primeiros opositores de destaque à “teoria oficial” da Geração Espontânea foi o médico e naturalista florentino Francesco Redi (1626-1698). Em resposta a Aristóteles, Redi 36
  • 32. demonstrou experimentalmente que só aparecem larvas de moscas na carne podre, quando deixamos moscas pousar nessa carne. (http://www.observatorio.ufmg.br). A refutação definitiva de tal teoria, todavia, se deu com Louis Pasteur, por volta de 1860, que provou o equívoco pronunciado por Aristóteles e afirmou que nenhuma forma de vida surge espontaneamente. Além da reprodução sexuada e espontânea, Aristóteles identificou em suas pesquisas a reprodução assexuada, ou seja, sem troca gamética entre dois seres da mesma espécie e, portanto, sem fecundação. Aristóteles usava o princípio de ordem e hierarquia para explicar a vida. Ele fez a classificação de aproximadamente 540 espécies de animais, estabelecendo graus de perfeição entre elas (...) Os graus de perfeição cresceriam na medida da complexidade dos organismos. Os animais superiores não seriam homogêneos e seriam dotados de matéria, forma, movimento, sensibilidade e capacidade de captar a realidade (no caso do ser humano, essa capacidade é a inteligência, ou nous). (PEREIRA, 1994). Tendo os graus de perfeição de Aristóteles como princípio para a classificação de seres vivos, as plantas seriam organismos mais simples e mais longe da perfeição, por não possuírem sensibilidade, movimento próprio e nem habilidade de perceber e interpretar o mundo à sua volta. Estas seriam seguidas pelos animais irracionais, que, não possuindo capacidade de captar a realidade, seriam mais evoluídos por possuírem movimento. No topo da pirâmide da vida encontrar-se-iam os animais racionais, únicos hábeis para interpretar o mundo. Na hierarquia por ele construída, também havia a divisão dos animais em relação ao tipo de desenvolvimento embrionário: vivíparos, ovovivíparos e ovíparos. Os primeiros eram considerados mais desenvolvidos por formarem-se e serem nutridos inteiramente no interior da fêmea. Os ovovivíparos representavam o grupo intermediário por desenvolverem-se no interior da fêmea, mas nutrirem-se através dos ovos. E, finalizando, os ovíparos, sendo menos desenvolvidos por terem desenvolvimento e nutrição no interior de ovos, tem toda a fase de formação transcorrida exteriormente à fêmea. Os ovíparos poderiam ser divididos entre perfeitos e imperfeitos, sendo os últimos àqueles que precisariam passar pelo processo de metamorfose, como as larvas. 37
  • 33. Aristóteles, dentre outras divisões, classificou os animais em dois grupos: os possuidores de sangue e os que não possuidores. Essa denominação corresponde, respectivamente, ao que denominamos, atualmente, como animais vertebrados e invertebrados. O filósofo considerava que aqueles animais que não possuíssem sangue eram os mesmos que, no tempo presente, denominamos como invertebrados e, os atuais vertebrados, Aristóteles acreditava que pertenciam ao grupo dos dotados de sangue. Aqueles que eram classificados como tendo o tecido sanguíneo, por sua vez, dividiam-se em relação ao tipo de sangue, podendo ser quente ou frio. Para fazer suas classificações, o filósofo partiu das definições dos entes. A definição é construída a partir da união de dois elementos, um mais geral (o gênero) e outro mais particular (a diferença específica, incluída no gênero). (PEREIRA, 1994). Entende-se por gênero grupos de animálias que possuem características comuns, mas que são subdivididos em espécies diferentes, como, por exemplo, os pássaros. Esse maior grupo é um gênero (pássaro) e em subdivisões há diversas espécies (como a andorinha). Utilizando um método de sistemática de classificação de espécies juntamente com os alunos do Liceu, Aristóteles pode observar que “diferentes espécies se apresentam como variações de um mesmo tema, o gênero”. (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1999). Figura 11: Espécies diferentes pertencentes a um mesmo gênero. Fonte: http://www.elgoldfish.com 38
  • 34. Todos os animais de um determinado gênero, por conseguinte, possuem uma mesma estrutura básica, porém cada um a manifestaria de uma maneira. Essas diferentes formas de manifestação de uma mesma característica é que determinaria as espécies. Ainda se consideram válidas algumas de suas afirmações, como a da existência de órgãos homólogos, (que se apresentam em diferentes espécies de organismo e que foram herdados de um ancestral comum) e órgãos análogos (que se apresentam em diferentes espécies de organismos e têm função similar). (http://www.cwb.matrix.com.br). Aristóteles, com a observação e avaliação das espécies e gêneros animais, foi o primeiro a determinar que baleias não eram peixes e morcegos não eram aves, mas que ambos pertenciam ao reino mamífero. Porém, seus estudos concentraram-se nas abelhas, uma vez que os gregos era exímios apicultores, o que lhe proporcionava facilidade para estudar tais animais. Habilmente dissecou abelhas descobrindo que as “abelhas escravas” tinham apenas os ovários vestigiais (...) Estudou, também, os caracóis, descrevendo, inclusive, a rádula (rastelo), minúscula parte do aparelho bucal do caracol de jardim, na função de alimentação. (http://br.monografias.com). Ele, em seus estudos sobre esses insetos, fez a classificação da colméia em: rainha, escravas e zangões. Atualmente avaliamos a divisão de uma colméia da mesma maneira que Aristóteles havia feito outrora. Figura 12: Aristóteles estudou e classificou as abelhas. Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt 39
  • 35. De todas as espécies estudadas, o filósofo dissecou aproximadamente 50, entretanto nunca dissecou um ser humano. A isso se deve a justificativa de seus erros quando, segundo o site www.vidaslusofonas.pt, considerou que o homem tinha oito pares de costelas, não reconheceu os ossos do crânio humano (três para o homem, um, circular, para a mulher), supôs que as artérias estavam cheias de ar (como, aliás, supunham os médicos gregos) e pensou que o homem tinha um só pulmão. Aristóteles também cometeu um erro referente à genética ao afirmar que um feto receberia apenas as características do pai, sendo a mãe irrelevante para determiná-las. Em seus estudos sobre o corpo humano, Aristóteles estabeleceu uma relação entre os quatro elementos constituintes do mundo sublunar e os elementos desse organismo. Tem-se o sangue, que sendo quente e úmido, estaria associado ao ar; a fleuma, fria e úmida, portanto faria alusão à água; a bílis negra, que é considerada fria e, devido à cor, remetida à terra; por fim, a bílis amarela, tida como “ardente” estar-se-ia associada ao fogo. Com base em seus estudos e reflexões formulou o princípio de que todos os organismos estão completamente adaptados ao meio que habitam. Já mencionada a forma como elemento constituinte da vida, evidencia-se, então, um conceito primordial de Aristóteles: a alma ou psyche, que seria um aperfeiçoamento da vida e não um fenômeno distinto. Devido a esse pensamento, Aristóteles foi considerado um “filósofo particularmente apto a ser aceito no mundo cristão, porque o cristianismo é a religião da encarnação, da união inseparável entre alma e corpo. (http://www.olavodecarvalho.org). O Dicionário Aurélio, 1975, expõe 26 definições distintas de alma, dentre as quais diz-se que a alma é o princípio da vida. Sendo os seres vivos seres capazes de se alimentarem, crescerem, reproduzirem-se e definharem, a alma é a responsável por garantir a continuidade da vida por os órgãos funcionarem. Ela seria o pensamento puro e existiria eternamente. Avaliando-se matéria e forma nos seres vivos conclui-se que estas são inseparáveis, pois aqueles constituem uma unidade rígida e indivisível, senão mentalmente. O problema de saber se a alma e o corpo são uma única e mesma coisa não é mais legítimo que o de saber se a cera e a impressão do selo sobre aquela são o mesmo, ou, sem geral, 40
  • 36. se a matéria de uma coisa é o mesmo que a coisa de que é matéria. (ARISTÓTELES in GUTHRIE, 1987). Sendo as almas diferentes, segundo os conceitos aristotélicos, elas foram dividas de acordo com o seu grau de perfeição. Nos vegetais, a alma tem função exclusiva de manter-lhes a vida através da nutrição e da geração e, portanto, tratam-se de almas vegetativas ou nutritivas. Como é natural, almas desse tipo não possuem entendimento, nem sequer sensibilidade. Limitam-se a assegurar o crescimento de acordo com um determinado tipo, carvalho ou oliveira, não contendo um si qualquer outra faculdade. (CRESSON, 1988). Aquelas almas possuidoras de sensibilidade pertenceriam aos animais, que, também, têm alma nutritiva. As almas sensitivas, além de fornecerem sensibilidade, permitem o movimento, e estão presentes nos animais, mesmo quando estes estão incapacitados de se moverem por algum motivo. O grau de complexidade das almas animais é variável: há os que possuem apenas sensibilidade tátil e há os dotados de sentidos especiais e complexos. A alma sensitiva compreende os cinco sentidos que Aristóteles distinguiu entre externos e internos. Sua diferença principal, além da localização dos órgãos que irão captá-los, mas como eles são afetados pelos seus objetos.Os sentidos externos necessitam da presença imediata objeto, sem o qual não podem identificá-lo. Estes são cinco: visão, olfato, audição, tato e paladar. Opondo-se aos sentidos externos encontram-se os internos – imaginação, estimativa e sensação. Estes não precisam da presença do objeto, pois são capazes de conservar as sensações e de reproduzi-las. A alma do ser humano, para o filósofo grego, não era apenas uma fusão das propriedades vegetativas e sensitivas, mas também possuidora de aptidão para as operações racionais. Esta seria a alma intelectiva, ou intelecto, e só os homens, por serem capazes de assimilar conhecimento, poderiam tê-la. Segundo a definição do próprio Aristóteles, o intelecto era a parte da alma que permitia conhecer e pensar e que teria capacidade de receber a forma ou algo enquanto forma. Tudo o que é assimilado pelos sentidos é, conseqüentemente, atingido pela inteligência, diferente da alma apenas sensitiva, cuja percepção do mundo se restringe a sentir. Com efeito, cada alma contém em si as propriedades, as potências, as aspirações de um determinado tipo. (...) E todas as almas possuem uma essência própria (...), que as transforma na 41
  • 37. forma substancial de uma dada espécie de vegetal ou de animal. Esta (...) se traduz entre o inorgânico por determinadas propriedades, adquire no caso dos seres vivos o caráter de aptidões, de disposições, de necessidades, de tendências. (CRESSON, 1988). A alma é, portanto, a responsável por determinar as características determinantes de cada indivíduo. Assim, composto por forma e matéria é que se tem a vida, e, através de dissecações, o filósofo grego considerado o primeiro biólogo foi capaz de fazer estudos profundos sobre diversas espécies de seres vivos, o que mostrava seu interesse em entender o complexo mecanismo que rege a existência de formas de vida animadas. Ele acreditava que as sensações estavam concentradas no coração e não no cérebro, mas, em compensação, foi ele quem definiu os cinco sentidos, o que comprova sua importância para a biologia mesmo tendo cometido equívocos. Figura 13: Os cinco sentidos definidos por Aristóteles. Fonte: http://www.thespiderawards.com 42
  • 38. Aristóteles não desenvolveu uma teoria médica; mas sua concepção geral de ciência e seus princípios básicos sobre a natureza dos componentes orgânicos serviram de base para os médicos que, após ele, tentaram formular uma medicina racionalista. (http://www.colegiosaofrancisco.com.br). A medicina racionalista baseava-se em um pensamento racional e sistemático, o que fazia a medicina ser tratada como ciência. Essa base racional exigia uma teoria elaborada que fosse capaz de explicar as causas e sintomas das doenças, assim como os efeitos dos procedimentos terapêuticos. O grande pensador grego foi, durante toda a Idade Média, considerado o mais importante filósofo, e sua doutrina tida como verdade inatacável. (http://jus2.uol.com.br). Em síntese, Aristóteles foi o pioneiro em relação à curiosidade sobre os seres vivos e o seu funcionamento orgânico e, com a sua morte, os estudos a respeito da vida foram praticamente abandonados, sendo resgatados, posteriormente, na Renascença. Sua importância para a biologia é indelével. Além de iniciar esse tipo de estudo, Aristóteles estipulou muitos conceitos e divisões que continuam sendo usadas. Suas teorias, mesmo quando comprovadamente incorretas, incentivaram outros cientistas a estudarem o tema e a questioná-lo, o que desencadeou um avanço nas pesquisas e nos experimentos biológicos. Julgá-lo pelos enganos seria irrelevar sua importância para os conhecimentos atuais e, a verdade, é que sem seus primeiros pensamentos poderíamos não ter todo o conhecimento que armazenamos. 3.1.1. 2.1 Psicologia A palavra psicologia, no sentido grego, é o “estudo da psyche, que é o elemento vital das criaturas (...), desde as plantas aos seres superiores, e inclui, pelo menos, as faculdades de nutrição e de reprodução e, também, nas criaturas que o possuem, os desejos e as emoções, os sentidos e a razão.” (GUTHRIE,1987). O conceito aristotélico de psyche é polissêmico. Para tentar defini-lo, Aristóteles emprega basicamente estes três termos complementares: 43
  • 39. “ - A psyche como sinônimo de Natureza (phisis); - A psyche como princípio de ação (próte enérgeia); - A psyche como sinônimo de princípio da individuação ou da realização de todas as potencialidades de todo ser vivo (próte enteléquia).” (http://www.scielo.br) Em suma, a psyche, na concepção aristotélica, é o princípio de todas as funções ou ações de qualquer ser vivo. Segue a definição de Aristóteles: “Nesse momento basta lembrar que a psyche é o princípio (próte enérgeia) de todas as funções que acabamos de mencionar e que se define por elas, ou seja, pelas faculdades da nutrição, da sensação, do intelecto e do movimento.” (ARISTÓTELES in http://www.scielo.br). Sendo assim, os gregos atribuíam à psicologia o estudo da alma, sendo as três almas definidas por Aristóteles (vegetativa, sensitiva e intelectiva) objetos de seu estudo. Aristóteles, ao contrário de muitos contemporâneos seus, afirmava que a alma era uma em cada ser, mesmo possuindo diferentes faculdades ou potências, e que ela estaria em união com o corpo e seria inseparável deste. Para ele, o corpo seria como um instrumento mediante o qual ela se expressaria. Compreende-se, pois, que o intelecto, para Aristóteles, era a união da psyche com o corpo. Também, discordando de outros filósofos, ele define a alma como tendo uma natureza real, física e orgânica, e não sobrenatural e ideológica. Alma e corpo são aspectos de uma mesma substância. Substância é definida como uma composição de matéria e forma. Matéria é potencialidade e forma é realização. Temos, portanto, uma teoria que é realista, mas não materialista. (http://www.ufrgs.br). O filósofo grego estabeleceu a diferença entre princípios físicos e psíquicos, expondo que o segundo apresenta uma reação na alma quando sofrida uma ação, o que diferencia os seres animados dos inanimados, pois os que não possuem vida reagem apenas fisicamente. Ele afirmava que a alma atua através dos órgãos e que havia uma impressão material que estimulava 44
  • 40. os sentidos, por conseguinte, Aristóteles acreditava que a carne se tornava quente quando o indivíduo sentia calor e que os olhos ficavam coloridos quando percebiam a cor. A sensação seria, pois, resultado da alteração material dos órgãos. Nos seus estudos psicológicos, Aristóteles desenvolveu conceitos a respeito da imaginação e da memória. A imaginação desempenharia um papel importante no intelecto, ao fazer o intermédio entre as sensações e a razão, e está em ligação com a memória. A sensação envolve um ato que contém um objeto real enquanto a imaginação lida com as ausências. Quando os sentidos estão inativos, como no sono, o intelecto continua em atividade ligando a função sensível à função imaginativa, produzindo o sonho. Os sonhos não eram entendidos como mensagens dos deuses, pois os animais também sonhavam. (MUELLER, 1968 in http://www.ufrgs.br). Já a memória seria uma maneira de conservar-se o passado e “é constituída de imagens cópia de experiências anteriores que preservam a continuidade vivida, podendo ser evocadas voluntariamente.” (MUELLER, 1968 in http://www.ufrgs.br). Aristóteles criou a teoria de que os movimentos sensoriais prolongavam-se mesmo quando cessado o estímulo físico. Isso devia-se à memória que atuava recordando o ocorrido, estimulando, assim, os movimentos sensitivos, ocorrendo uma associação que estimularia a imaginação. Observando-se a capacidade de assimilação de informações produzindo, assim, a memória, ela teria, também, nos seres humanos a faculdade que lhes permitiria ponderar e avaliar idéias, que se denomina razão. Há uma distinção em relação aos tipos de razão, podendo ser ela passiva ou ativa. A primeira é a que sintetiza as informações transmitidas pelos sentidos e pela imaginação. A segunda, por sua vez, “é aquela capaz de abstrair, organizar e transcender. Aristóteles não encontrou um meio de explicar a razão ativa, a não ser atribuir-lhe uma natureza divina.” (http://www.ufrgs.br). Por assim ser, em suas funções mais elevadas, a alma não recebeu uma explicação empírica. Aristóteles foi o primeiro a estabelecer uma teoria psicológica, que se baseava na união da alma com o corpo e da formação das sensações. Todavia, ele foi igualmente responsável por desenvolver uma teoria de psicopatologia quando afirmava que a confusão entre memória e 45
  • 41. imaginação produziria desequilíbrios, fazendo com que o indivíduo confundisse situações imaginários com fatos. O autoconhecimento fora, também, objeto de estudo aristotélico. Atualmente, utilizamos a palavra “consciência” para definir autoconhecimento. “Consciência em sentido psicológico significa ter conhecimento do que se está fazendo em um determinado momento. Aristóteles entendia que uma pessoa em estado de vigília estava ciente de suas sensações. Ele fala claramente que quem ouve percebe que ouve e quem anda percebe que anda, e que perceber que percebemos é perceber que existimos. ” (http://www.ufrgs.br). Sobre o intelecto, Aristóteles também afirmou que a ação é impulsionada pelo desejo, sendo ela voluntária quando procedente de um ente que tem ciência de seus atos, todavia, com a má utilização da razão, alguém pode ser levado a agir exclusivamente pelo desejo, definindo-se um limite perigoso entre o racional e a vontade. É necessário, pois, sempre manter um equilíbrio de ambos, já que, sem o desejo, nenhum ser é motivado a agir e, no entanto, há a necessidade de ponderar sobre o que se quer antes de simplesmente agir em sua busca. Aristóteles dedicou-se a estudar, ainda, a emoção, atribuindo-lhe três componentes: “um componente sensorial como a audácia e o medo; um componente cognitivo como uma antecipação de uma conseqüência futura; e um componente afetivo que afeta o julgamento e é regulada pela dor e pelo prazer. (HEARNSHAW, 1989 in http://www.ufrgs.br). Os componentes geram emoções opostas dependendo a maneira como o ser interage com o meio, sendo cada momento da vida propenso a fazer o indivíduo sentir uma determinada emoção, sendo elas fundamentais aos seres racionais. Os estudos de psicologia de Aristóteles baseavam-se na compreensão da alma e de sua finalidade, sendo a de todo ser vivendo crescer e reproduzir-se e, do homem especificamente, buscar a razão. É por estudar a alma e, sendo esta fundamental a um ser vivo, é que a psicologia apresentava-se como uma subdivisão da biologia no conceito aristotélico. Embora a psicologia atual tenha se desvinculado da filosofia, ela tem origem nesta última. O conceito atual de psicologia é o estudo do comportamento humano e dos processos mentais. Esta psicologia, no entanto, não difere substancialmente da de Aristóteles, visto que ambas 46
  • 42. buscam compreender o que move o ser humano, cada qual com o seu conceito a respeito da mente e da alma, respectivamente. Evidencia-se, pois, a atualidade do pensamento aristotélico. 3.1.2 Matemática Há dificuldade em definir precisamente o conceito de matemática. Entre as diversas definições já atribuídas a esse termo pode-se citar algumas, como a que afirmava que a matemática é uma linguagem perfeita e exata ou a definição de Frankfort: “a matemática é uma forma de poesia que transcende a poesia em si mesma no fato de que proclama uma verdade.” (FRANKFORT, 1946 in http://www.ufes.br). Contudo, nenhuma dessas definições se tornam compreensíveis para um leigo por não serem claras e nem precisas e nem especificam a natureza desta ciência. Entre as primeiras definições, encontra-se a de Aristóteles: “matemática é a ciência das grandezas”. Essa visão de matemática perdurou por muitos séculos e, no Renascimento, começaram a surgir versões modificadas daquela de Aristóteles: “matemática é a ciência da medida das grandezas”. Com o decorrer dos séculos, a matemática começou a ser entendida como aquele corpo de conhecimento que lida com números, grandezas, figuras, com medições, quantidade, ordem e inferências. (http://www.ufes.br). Mesmo atribuindo uma definição à matemática, Aristóteles afirmava que nem tudo era definível. Compreender o pensamento de Aristóteles sobre a matemática torna-se difícil pelo fato de ele ter escrito muito pouco sobre este assunto. Mesmo assim, Andrônico de Rodes, ao dividir as obras e os temas tratados por Aristóteles, acrescentou a matemática, o que demonstra que a sua divisão não foi feita considerando apenas suas grandes obras, mas seu pensamento como um todo. Para um entendimento preciso a respeito das idéias matemáticas de Aristóteles, é necessário compreender o que ele considerava como sendo real. Tem-se por real tudo aquilo que existe, incluindo, portanto, objetos da natureza ou matemáticos. Evidencia-se a realidade de algo natural porque podemos enxergá-lo e senti-lo. Quanto ao que é matemático é baseado em fatos fundados no raciocínio, como a soma de dois e dois ser quatro, sendo que este resultado não foi 47
  • 43. por opção do indivíduo que fez o cálculo, mas pela estruturação numérica. Analisando-se a geometria, a conclusão é a mesma, pois, por exemplo, ao dividir um quadrado pela diagonal o resultado será sempre dois triângulos isósceles. Este resultado é fruto de uma dedução lógica fundamentada na estrutura pré-determinada de um quadrado e de um triângulo. A diferença entre ambos é, pois, a maneira como se fazem perceptíveis, o primeiro, através dos sentidos e o segundo, racionalmente. É, portanto, que se atribui a eles a diferença entre objetos naturais ou não-naturais, sendo estes fruto de uma dedução lógica, e aqueles, resultado da percepção sensorial. Aristóteles considera tais objetos, como abstratos, porque o matemático e o biológico são aspectos da realidade, mas são separados em seus estudos para maior compreensão. Sendo assim, eles “só são percebidos como distintos mediante uma abstração mental que separa o natural do não natural, embora ambos sejam igualmente reais”. (http://www.olavodecarvalho.org). Figura 14: Para Aristóteles, objetos matemáticos eram abstratos, porém reais. Fonte: http://www.livre.escolabr.com 48
  • 44. O que os caracteriza como sendo abstratos é a diferença do plano e do modo de existência. O que é biológico não pode existir matematicamente, assim como, o que é matemático, não pode existir biologicamente. Há, no entanto, uma diferenciação quanto à qualidade de real, não podendo se caracterizar algo como sendo mais ou menos real do que outro, mas podendo, sim, distinguir o tipo de realidade ao qual um objeto pertence. Um ser biológico pode sofrer mutações gênicas que proporcionam uma variação quanto à sua estrutura física ou sua natureza, enquanto não há qualquer mudança possível nas relações matemáticas. Para que estas ocorram seria necessário recriar os conceitos matemáticos, o que se resumiria na mudança de nomes, porque os princípios permaneceriam os mesmos. Sendo assim, a soma de duas unidades iguais é o seu dobro, não podendo ser qualquer outro valor, enquanto um ser vivo que tem brânquias pode, como resultado de uma mutação, desenvolver pulmões. Além desses aspectos, tem-se que os elementos biológicos não existiam antes de nascer ou depois de morrer. É, por conseguinte, que distingui-se a forma que cada objeto existe. Os matemáticos são eternos e invariáveis, enquanto os biológicos são efêmeros e mutáveis. Feita tal distinção, compreende-se a concepção de Aristóteles sobre os elementos matemáticos, considerando que estes tinham um grau mais elevado por serem estáveis e exatos. Aristóteles acreditava que a matemática era uma ciência axiomática na qual os teoremas derivavam de princípios básicos. (http://cwx.prenhall.com). Teoremas são proposições que para serem tidas como verdadeiras devem ser demonstradas, e que, após demonstração, podem ser aplicados em qualquer caso prescrito por eles. Para ele, a matemática era uma ciência que se relacionava com o mundo físico e, portanto, ele a aplicou para a explicação deste último. Quando mencionado que o universo possuía movimento circular, constata-se a aplicação da geometria para explicar o meio físico, já que, para Aristóteles, o círculo era uma forma perfeita e, portanto, para indicar um movimento também considerado igualmente perfeito e infinito, era necessário basear-se na forma que possuísse as mesmas características. 49
  • 45. Segundo Aristóteles, a matemática seria resultado da percepção e interpretação do mundo e, em vista disso, as verdades matemáticas poderiam ser provadas com experiências realizadas no meio físico. Um dos mais importantes conceitos relacionados à matemática já debatido por Aristóteles foi o do infinito. Antes do seu nascimento, já havia teorias a respeito desse tema. “O infinito aparece pela primeira vez na história do pensamento quando os filósofos gregos tentam exprimir por um número a medida da diagonal do quadrado de lado um.” (http://triplov.com). Para os gregos era inexplicável que um seguimento de reta definido tivesse como medida um número de infinitos algarismos. Especificamente sobre a questão do infinito, ele desenvolveu dois conceitos para caracterizá-lo: "Aristóteles tratou de enfrentar o problema do infinito através de duas representações, duas concepções complementares e cuja interação dialética influenciou no próprio desenvolvimento da matemática. No terceiro livro de sua obra Física, Aristóteles distinguiu dois tipos de infinito; o infinito como processo de crescimento sem final ou de subdivisão sem final e o infinito como uma totalidade completa." (ORTIZ, 1994 in http://www.fae.ufmg.br). Figura 15: O símbolo de representação do infinito surgiu apenas em 1655, com John Wallis, embora o tema tenha sido abordado séculos antes. Fonte: http://cognoscomm.com 50
  • 46. Esses conceitos dividiam o infinito em atual e potencial. Entende-se por infinito atual uma entidade completa e não constituída por partes e que seria o que é maior, no tempo presente de análise, do que qualquer qualidade dada da mesma natureza. O infinito atual existiria, seria um fato. Entretanto, a existência desse infinito foi negada pelo próprio Aristóteles, que acreditava que o mundo estaria limitado pela abóbada celeste e, assim, não poderia haver nada sem fim no meio físico, como propunha o infinito atual. Outras estudiosos e pensadores confirmaram a opinião de Aristóteles sobre esta forma de infinito: “Galileu (1564-1642), por exemplo, observou que, se em matemática fossem admitidos conjuntos infinitos completos, haveria tantos número inteiros para quantos pares e ímpares reunidos.” (http://www.fae.ufmg.br). Segundo as observações de Galileu, se houvesse algo infinito para cada elemento, no caso da matemática, seria necessário uma quantidade de números inteiros equivalentes a quantos números pares e ímpares, o que se mostra impossível e, constatando que isso não é verdade, logo o infinito atual não existiria segundo a sua concepção. Kant, no século XIX, também foi partidário da opinião aristotélica sobre o infinito atual. Gauss, em 1831, enfatizou seu protesto contra o uso do infinito como algo consumado: “Protesto contra o uso de uma quantidade infinita como uma entidade atual, esta nunca se pode permitir em matemática. O infinito é só uma forma de falar, quando na realidade deveríamos falar de limites aos quais certas razões podem aproximar-se tanto quanto se deseje, enquanto outras são permitidas crescer ilimitadamente” (GAUSS in http://www.fae.ufmg.br). Contrapondo-se a esta forma de definir o infinito, Aristóteles mencionou a existência do infinito potencial que, segundo ele, não apresenta nenhuma realidade física, sendo constituído com a finalidade de resolver determinados problemas matemáticos, restringindo-se apenas aos casos de grandezas contínuas extremamente pequenas ou de número exageradamente grandes. O infinito, neste caso, existiria em potência, ou seja, uma entidade poderia vir a se tornar infinita, embora não se encontrasse neste estado no tempo presente. Potência é a uma característica que está contida no objeto de análise, mas que ainda não se manifesta, ou contrário 51
  • 47. do ato, palavra que deu nome ao chamado infinito atual, que é a manifestação do que existe em potência. A análise de um segmento de reta, partindo deste princípio, sugere que infinitos pontos estejam nela em potência e só podem se tornar atuais através de operações matemáticas, como a divisão. Um tema tão complexo como o infinito gera, até mesmo atualmente, muitas discussões e polêmicas. Discussões sobre se 0,999 é o mesmo que 1, evidenciando a existência de um infinito atual, porque ele pode ser representado um “objeto”, no caso o 1, ou se 1 dividido pelo infinito é 0, estão em pauta e possuem adeptos nas divergentes opiniões que tratam disso. O infinito sempre gerou fascínio e medo por não ser compreendido inteiramente e Aristóteles, por viver em uma época na qual certos conceitos a respeito desse tema ainda não tinham sido estipulados, teve a oportunidade de refletir sobre a natureza do infinito e como ele se apresentaria. Assim surgiram suas teorias de infinito atual e potencial, fazendo com que matemáticos concordassem ou discordassem de sua opinião a respeito dessas duas formas. O matemático David Hilbert, em uma frase, resumiu a complexidade do infinito para o homem: “O infinito atormentou, desde sempre, a sensibilidade dos homens; mais do qualquer outra idéia, a de infinito solicitou e fecundou a sua inteligência; mais do que nenhum, o conceito de infinito tem que ser elucidado.” (HILBERT, 1921 in http://triplov.com). Aristóteles não se aprofundou em seus estudos matemáticos, visto que esta não era a área que o mais atraía, tanto que discordava da importância dada aos estudos matemáticos na Academia, sendo este um ponto de divergência entre a ideologia aristotélica e platônica. Os estudos de Aristóteles tiveram como foco a compreensão do ser e a sua existência. 3.1.3 Filosofia Primeira A Filosofia Primeira é o estudo do ser, daquilo que lhe é fundamental (a sua essência) e das causas de sua formação. Portanto, tem-se este nome, uma vez que são as causas primeiras da existência de um indivíduo. O estudo das causas, para Aristóteles, é de grande importância, pois, apenas entendendo o porquê das coisas serem o que são, é possível obter um conhecimento exato e, assim, poder 52
  • 48. transmiti-lo aos outros, pois conhecer-se-ia o princípio daquilo que se ensina e, conseqüentemente, o ensinamento seria completo. Assim, a Filosofia Primeira é o estudo (...) do ser real e verdadeiro das coisas, daquilo que elas são em si mesmas, apesar das aparências que possam ter e das mudanças que possam sofrer. (http://br.geocities.com). Em comparação dessa ciência com as demais, Aristóteles escreveu: “Todas as outras são, pois, mais necessárias do que ela, mas nenhuma se lhe sobreleva em excelência. E o estado em que nos deve deixar a sua aquisição é inteiramente contrário ao do das primitivas indagações, pois (...) todas começam pela admiração de como as coisas são. (...) É, pois, manifesto que a ciência a adquirir é a das causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada coisa somente quando julgamos conhecer a sua primeira causa) ”. (Coleção “Os Pensadores” - Aristóteles, 1973). Este campo do pensamento aristotélico é dividido em metafísica e teologia, cabendo à primeira abordar a essência da matéria e à segundo o Primeiro Motor Imóvel, responsável por gerar tudo o que existe. 3.1.3.1 Metafísica Antes de conceituar o que é metafísica, cabe definir o conceito do ser. A definição contida no Dicionário Aurélio, 1975, é de que o ser é “o que existe ou o que supomos existir; ente”. O ser, no seu sentido mais lato, é tudo o que possa surgir, numa qualquer frase verdadeira, antes da forma verbal “é”. (http://www.pucsp.br). Por conseguinte, ser é tudo o que existe e ao qual se pode atribuir uma qualidade. Para Aristóteles este era dividido em existência e essência. A existência é o fato do ente estar presente no mundo físico e, essência é um modo do existir. Ele também o dividiu em causas e em ato e potência, que serão esclarecidos no decorrer do capítulo. A palavra metafísica foi empregada pela primeira vez por Andrônico de Rodes, por volta do ano 50 a.C., quando recolheu e classificou as obras de Aristóteles que, durante muitos séculos, haviam ficado dispersas e perdidas. Com essa palavra - ta meta ta physika - o organizador dos textos aristotélicos indicava um conjunto de escritos que, em sua classificação, localizavam-se 53
  • 49. após os tratados sobre a física ou sobre a Natureza, pois a palavra grega meta quer dizer: depois de, após, acima de. (http://br.geocities.com). Uma vez que ta significa “aqueles” e physika, “física”, ta meta ta physika tem significado literal: aqueles que estão após os da física, ou seja, aqueles escritos catalogados após os da física. Aristóteles já havia designado estes escritos como sendo pertencentes à Filosofia Primeira e compreendiam o estudo da essência do ser, a ousia, que em latim significa essentia. (http://br.geocities.com). Posteriormente, no século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thomasius, considerou a palavra ontologia mais adequada para designar os estudos compreendidos na Filosofia Primeira. Onto deriva-se de dois substantivos gregos: ta onta (aquilo que é possuído por alguém), e ta eonta (aquilo que existe), ambas derivações do verbo einai, que, em português, significa “ser”. Logia, por sua vez, significa estudo. Portanto, ontologia é o estudo ou conhecimento do ser, das coisas como são em si mesmas, real e verdadeiramente. (http://br.geocities.com). O ser opõe-se à aparência, pois é a essência, algo que realmente é, o que há de íntimo, perene e verdadeiro nos entes. Os antecessores de Aristóteles julgavam o mundo aparente e ilusório, enquanto ele o tinha como sendo real e cuja essência seria a multiplicidade dos seres e a mudança incessante. Thomasius considerou que ontologia seria mais adequada do que metafísica, porque a esta seria a indicação da ordem dos estudos aristotélicos, no caso, após os tratados sobre física e Natureza; enquanto aquela indicaria o assunto tratado na Filosofia Primeira. Entretanto, mesmo com a definição de Thomasius de que a palavra ontologia possui um significado mais completo do que metafísica, a tradição filosófica optou pela segunda. Isso se deve porque Aristóteles, ao definir a Filosofia Primeira, afirmou que esta era o estudo dos primeiros princípios e as causas primeiras de todos os seres ou de todas as essências, estudo, o qual, deve vir antes de todos os demais, por ser a condição de existência deles. Definição esta que está inclusa na palavra metafísica, uma vez que meta é o que está além ou acima de, o que vem depois, entretanto, “o que vem depois” está no sentido de ser superior ou de ser a condição de alguma coisa. Portanto, metafísica é mais do que um lugar em um catálogo de obras, é o estudo do que está acima de tudo que é físico, por ser sua condição de existência e de conhecimento. E, 54
  • 50. dessa forma, foi consagrada como tendo definição mais completa e exata do que ontologia para designar a Física Primeira. O objeto de estudo da física é tudo o que é real, porém todo o real possui uma essência, objeto, este, de estudo da metafísica. Logo, todos os estudos pertencentes à física são resultado do que compõe a metafísica. O filósofo grego afirmava que a essência do ser estava contida nele próprio e que a função da Filosofia era estudá-las exatamente onde ela existia. Figura 16: O ser humano, um exemplo de ente e, portanto, teria uma essência. Fonte: http://www.santaedwiges.org.br Para Aristóteles, a metafísica era a ciência mais elevada, porque não tem finalidades práticas e não está ligada a nenhum bem material. A própria filosofia é uma atividade que depende do ócio intelectual para poder existir. (http://www.consciencia.org). A essência pode ser dividida em várias modalidades. Tem-se a essência dos seres vivos ou naturais, cujo modo se caracteriza por nascer, viver, mudar, reproduzir-se e morrer. A essência dos seres matemáticos, que não existem em si mesmos, mas como forma do que é natural, podendo, porém, ser separada do que é natural pelo pensamento; são seres que, por essência, não 55
  • 51. nascem, mudam, transformam-se ou sequer perecem pelo simples fato de não serem objetos vivos. Também existe a essência dos seres humanos, que, embora compartilhe qualidades da essência dos seres naturais, diferenciam-se destes por serem essencialmente racionais, dotados de vontade e de linguagem. E, por fim, a essência de um ser eterno, imutável, imperecível, perfeito, imaterial, conhecido apenas pelo intelecto e que encontra-se superior a tudo o que existe: o ser divino. Cada ciência, como a biologia, psicologia, entre outras, estuda uma essência. O estudo do que é a essência, por que elas existem e o que as faz serem particulares e diferenciadas, assim como o estudo da maneira como elas são investigadas pelas diferentes ciências, por sua vez, cabe à metafísica, que estuda todas sem distingui-las. Todavia não há nada que seja apenas o ser sem mais nenhum complemento. Nada é apenas só essência, mas está é a parte mais importante que compõe tudo o que é natural. Em uma definição clara, essência “é a unidade interna e indissolúvel entre uma matéria e uma forma, unidade que lhe dá um conjunto de propriedades ou atributos que a fazem ser necessariamente aquilo que ela é. Assim, por exemplo, um ser humano é por essência ou essencialmente um animal mortal racional dotado de vontade, gerado por outros semelhantes a ele e capaz de gerar outros semelhantes a ele” (http://br.geocities.com). Aristóteles determinou que a essência é o componente fundamental do ser, sem a qual ele não existiria, no entanto cabe definir o que é ser na visão aristotélica. Tendo conhecimento da opinião de Platão a respeito do ser, Aristóteles é categórico ao discordar de seu mestre. O ser platônico é universal, não havendo diferença de sua essência de um para outro indivíduo, já o ser aristotélico é formado por sustâncias individuais. Em sua concepção uma pessoa do sexo masculino, como substância, é o ser, e ser homem é um atributo dessa pessoa. Definido o conceito de metafísica, tem-se, a seguir, os seus objetivos: • Investigar as causas e princípios primeiros ou supremos; • Investigar o ser enquanto ser; • Investigar a substância; • Investigar Deus e o supra-sensível. 56
  • 52. O primeiro objetivo, segundo Aristóteles, só pode ser explicado pela existência de um Deus, que seria a causa primeira de todas as coisas e, portanto, faz com que este objetivo esteja associado à teologia, assim como o último dos objetivos, que investiga não mais a origem dos princípios, mas o que os origina: Deus. Sem o princípio primeiro não haveria coisa alguma, pois é este princípio o formador de tudo o que existe, sem ele nada se originaria e, portanto, o grau de importância de seu estudo é tão elevado. Os princípios primeiros não podem ser demonstrados, pois sua demonstração seria infinita e, não tendo fim, não se pode considerar algo provado. Aristóteles afirmava que o que é natural sofre transformações porque busca sua essência total, perfeita e imutável, como a essência divina. Seu objetivo é mudar até atingir o ponto perfeito, no qual não ocorrem mais mutações porque estas não são necessárias. Tal fim, dizia Aristóteles, seria impossível ser alcançado, pois aquilo que é natural jamais rá divino. O modo imperfeito seria a forma de existir daquilo que pertence ao mundo natural e não a forma perfeita e imutável. O estudo do ser enquanto ser investiga a realidade em si. É o estudo do ser e de suas propriedades essenciais, a sua essência, enquanto as demais ciências estudam as suas particularidades. Nada mais é do que o próprio estudo da metafísica. A essência ou ousia é a realidade primeira e última de um ser, aquilo sem o qual um ser não poderá existir ou sem o qual deixará de ser o que é. (http://br.geocities.com). Aristóteles constatou que a realidade consiste em várias coisas isoladas, que representam uma unidade de forma e substância. A “substância” é o material de que a coisa se compõe, ao passo que a “forma” são as características peculiares da coisa. (GAARDER, 2006). Como a metafísica se preocupa em compreender o ser como um ente vivo, e não como indivíduo único, seus estudos estão voltados para a substância em lugar da forma. Aristóteles conceituou a substância como o que existe em um ser independente de suas qualidades, aquilo que a ele é necessário. Portanto, substância é a matéria sem a essência. O seu estudo, por conseguinte, é o estudo daquilo considerado básico e primordial a tudo o que existe, 57
  • 53. pois nada é composto sem a presença da substância e, sem esta, a essência também não se faria existir. Aristóteles definiu “a questão da substância como a unidade indivisível de matéria e forma, do particular e universal, de potência e ato. A substância (...) está presente em todos os entes e consiste naquilo que é comum em todos eles.” (http://www.artigos.com). Seguindo esse princípio, avaliando-se o tempo e o movimento, cujas essências estão na substância, tem-se que eles são eternos e incorruptíveis e, portanto, são características atribuídas a eles por uma substância primeira que, além de determinar a qualidade de todas as outras, é imóvel e incorruptível, e move todas as substâncias em sua direção. Se não o fosse, ela seria móvel como as demais. Se não houvesse outra substância além da que compõe na natureza caberia à física ser definida como ciência primeira, mas com a existência de uma substância imóvel e superior a todas as outras, a metafísica passa a ser a ciência primeira. Aristóteles conceituou substância de duas maneiras. Na primeira, substância é o sujeito individual, um ser ou objeto em particular; na segunda definição, substância é o gênero ou a espécie a que um determinado sujeito individual pertence, ou seja, toda classificação que pode ser atribuída a mais de um ser, como animal, grego, bípede, erva, ferro, entre outros. Ou seja, é o conjunto das características gerais que todos os membros de uma mesma espécie possuem. O estudo das substâncias é necessário por estas estarem presentes em toda a forma viva, atribuindo-lhe qualidades. Portanto, para entender o ser enquanto qualidade de ser é necessário compreender as substâncias de que é composto. É no substrato ou suporte em que se realizam a matéria-potência e a forma-ato, onde estão os atributos essências e acidentais, e é sobre o qual as causas primeiras agem. Forma “é o que individualiza e determina uma matéria, fazendo existir as coisas ou os seres particulares”. (http://br.geocities.com) A forma é a responsável por atualizar as virtudes contidas na matéria, em vista disso ela é o resultado da essência, traduzindo a maneira como ela se encontra em um determinado momento. O ato é a forma em um determinado momento, é a forma que atualizou uma informação da matéria, uma potência contida nela, como, por exemplo, o adulto é o ato da criança. 58