SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
O AMOR NÃO TEM COR Autora: Elizete Vasconcelos Arantes Filha Começo este texto citando um provérbio popular que faz muito sucesso entre os mais velhos: água mole pedra dura tanto bate até que fura! Os jovens talvez não saibam o que quer dizer, no entanto não vou desistir de citá-lo sempre que possa e também não vou desistir de contar esta história, aos velhos, aos jovens e às crianças, quem sabe, um dia todos aprendem. Recentemente eu contei para um grupo de crianças entre 10 e 12 anos e pedi para elas interpretarem em forma de desenho e pintura e o resultado vocês podem conferir e, se ainda não entenderam, conto-lhes quantas vezes for necessário.A história começou após várias conversas sobre adoção de crianças e, inconformada com a ignorância da sociedade quando o assunto é raça, ou seja, cor da pele, já que só existe uma única raça, a humana, resolvi contar esta história que aconteceu há, exatamente, 25 anos no interior de Pernambuco. Vou omitir os nomes verdadeiros dos envolvidos, mas a essência da história será conservada. No início da década de 80, um repórter fotográfico (também estudante de jornalismo) acompanhou uma jornalista que fazia reportagem sobre trabalho infantil numa carvoaria em uma cidade do interior de Pernambuco, abandonada por Deus e pelos políticos. Ao iniciar a matéria, a dupla sofreu várias perseguições e quase foi morta por causa da ousadia de registrar acontecimentos desumanos que, de certa forma, eram comuns na região – se ainda é hoje, imaginem 25 anos atrás. Terminada a matéria, as belas fotografias renderam ao fotógrafo vários prêmios e um contrato num jornal de grande circulação em outro estado, abrindo-lhe portas para exercer, mais tarde, várias funções importantes em muitos jornais e revistas do país. Bem, voltemos à história. Concluída a reportagem, o fotógrafo voltou para casa trazendo nos braços uma garotinha de apenas 11 meses de idade, envolvida em trapos. Imaginem o “furdunço” no jornal, na família e entre os seus amigos. Após procurar o Juizado de Menores para concretizar a adoção, imediata e sem restrições, o fotógrafo, que já era casado e pai de dois filhos, foi apoiado tanto por alguns de seus familiares quanto por sua mulher. No entanto, houve reservas por parte de alguns amigos de trabalho, parentes, vizinhos e até mesmo de alguns fiéis e do pastor da igreja que a família freqüentava, através de críticas, risadas e cotoveladas entre as pessoas (principalmente mulheres e mocinhas) quando a família chegava ou saía de um recinto público. Eram comuns dizeres desse tipo: “Um casal de negros com uma menina branca no colo não combina”. E outra: “As pessoas deveriam adotar crianças que se parecem com elas, branco adota branco, negro adota negro, pardo adota pardo.” E certa vez foi dito, para magoar mesmo, conta a mãe adotiva da menininha, relembrando: “A menina loira com cabelos de cachinhos dourados, olhos azuis, uma verdadeira “nórdica”, foi adotada por um negro”.Esta era a cena que as pessoas não aceitavam. A maldade e a ignorância humana não tinham limite. Quando aquela mãe apresentava a filha e dizia “esta é a minha filha”, sempre havia constrangimento... Pois as pessoas que se diziam bem educadas e civilizadas logo indagavam: “Como ela pode ser sua filha?”, “Você é negra e a menina é branca?”. Aquela mãe humildemente contava e recontava a história da sua adoção esperando compreensão das pessoas, na esperança que elas percebessem que o amor de mãe não vê cor, nem raça, que se ama com o coração, não com os olhos. Mesmo assim aquelas pessoas não entendiam nada, pois o preconceito e o sentimento racista, ou seja, a ignorância, eram maiores do que a inteligência para compreender motivos tão nobres que levaram àquela adoção. E na igreja ocorria o seguinte: os “irmãos” de fé, aqueles que geralmente a gente teme mais a língua do que a fúria de Deus, diziam: “Fulano querendo embranquecer a família, adotou uma menina branca”. A família sofria diante de tanta ignorância manifestada nos lugares que freqüentava. No entanto, com muita dignidade, manteve o relacionamento familiar, cuidando da menina da mesma forma que cuidava dos filhos legítimos, com todo amor de pai e mãe que cabia num coração. Além de comida, zelo, escola, amor, respeito, dignidade, deu àquela criança a oportunidade de ter uma FAMÍLIA, pessoas dignas, independente da cor da pele para serem chamadas de MÃE e de PAI. O tempo passou, a menina cresceu muito esperta, muito inteligente, muito amorosa. Retornava para os pais adotivos o amor incondicional que recebia. Era uma família feliz!Hoje, 25 anos após esse acontecimento, aquela menininha é uma jovem senhora de 26 anos, casada e mãe de um casal de filhos. Formou-se recentemente em jornalismo, seguindo a carreira do seu amado pai, e trabalha num conceituado jornal. Mais: é proprietária de uma casa e paga as contas em dia. É uma cidadã.Fui testemunha na adoção, pois era professora primária dos demais filhos do casal e sabia os motivos que sensibilizaram aquele fotógrafo e, futuramente, sua esposa, seus filhos, o juiz e as pessoas de bem que fizeram parte da melhor parte da história. Aquela menininha aos 11 meses de idade foi violentada pelo seu pai legítimo, homem branco, que vivia alcoolizado. Ao ser socorrida, ainda estava sangrando. O homem branco, que era pai e esposo legítimo, espancava a esposa e os filhos maiores. A mãe, mulher branca e também alcoólatra, fumava cigarro de palha e apagava no corpo dos filhos.Na região, todas as crianças trabalhavam na carvoaria, enquanto a polícia, os políticos e a população fechavam os olhos para a situação. As crianças trabalhadoras tinham o corpo queimado e algumas tinham membros do corpo amputados. Aquela criança, ao ser socorrida pelo fotografo, estava desnutrida, abaixo do peso, com poucas chances de sobrevivência e com marcas de queimadura de cigarro por todo o corpo, inclusive perto dos olhos. Os médicos que a socorreram afirmaram que por pouco não atingira o olho, cegando-a. Ainda bem que aquele fotógrafo não olhou para a cor da pele da menininha, apenas para a situação dela e percebeu que poderia fazer a diferença!!! Já pensou se ele tivesse pensado assim: “Não vou ajudar esta criança porque ela não combina com a cor da minha pele!”Quantas crianças negras, brancas, mulatas, pardas, saudáveis e não saudáveis, com ou sem necessidades especiais estão nas creches, nas ruas e até no trabalho infantil. Algumas ainda bebês, outras já bem grandinhas e todas precisando de adoção. Bem amigos, a situação da adoção no Brasil é um fato para se refletir, a maioria dos casais brasileiros que querem adotar uma criança dá preferência a meninas, brancas, de olhos claros de até um ano de idade, enquanto os estrangeiros não escolhem sexo, idade ou cor. Adotam até crianças com doenças crônicas conhecidas. Que possamos ter a mesma atitude. Não adotar uma criança só porque ela não combina com a nossa cor da pele, ou com a cor dos nossos olhos. Filhos não são acessórios de vaidade. Devemos adotar para fazer a diferença. Amar com amor de mãe e de pai. INCONDICIONAL. Para que nós possamos fazer a diferença não é necessário adotar uma criança, já que para adotar é constitucional querer e poder. No entanto, podemos fazer a diferença combatendo a infâmia do racismo relembrando e fazendo uso de uma célebre frase que nunca fica fora de moda e fez parte da maioria de nós na adolescência. “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...” Antóine de Saint-Exupéry, em 
O pequeno Príncipe”. Referências: Jornal Folha de São Paulo/ 11/07/97 emwww.filhosadotivos.com.br/acessado em 29/07/2007 as 14h00min tags: Natal RN cultura-e-sociedade adocao criancas racismo Postado por PROFESSORA ELIZETE ARANTES às 18:25  Marcadores: Amor, Elizete Arantes, Racismo, tolerância
O AMOR NÃO TEM COR
O AMOR NÃO TEM COR

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar teatro
A chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar   teatroA chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar   teatro
A chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar teatroAndrea Alves
 
Personagens do folclore brasileiro
Personagens do folclore brasileiro Personagens do folclore brasileiro
Personagens do folclore brasileiro Mary Alvarenga
 
Literatura Infantil Slides
Literatura Infantil   SlidesLiteratura Infantil   Slides
Literatura Infantil Slidesestercotrim
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
CONTAÇÃO DE HISTÓRIASCONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
CONTAÇÃO DE HISTÓRIASPedagogo Santos
 
Apresentação Projeto leitura
Apresentação Projeto leituraApresentação Projeto leitura
Apresentação Projeto leituraSHEILA MONTEIRO
 
Exercicios elementos da narratica 2015
Exercicios elementos da narratica 2015Exercicios elementos da narratica 2015
Exercicios elementos da narratica 2015Olivier Fausti Olivier
 
Slide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão Prof André Moraes
Slide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão  Prof  André MoraesSlide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão  Prof  André Moraes
Slide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão Prof André MoraesAndré Moraes
 
Aula De Literatura Infantil
Aula De Literatura InfantilAula De Literatura Infantil
Aula De Literatura Infantilroessencia
 
Conto de mistério
Conto de mistérioConto de mistério
Conto de mistériofernandavsm
 
Projeto identidade
Projeto identidadeProjeto identidade
Projeto identidadeGraça Sousa
 

Mais procurados (20)

Gibi bullying escolar
Gibi bullying escolarGibi bullying escolar
Gibi bullying escolar
 
A chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar teatro
A chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar   teatroA chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar   teatro
A chapeuzinho vermelho que não gostava de estudar teatro
 
Personagens do folclore brasileiro
Personagens do folclore brasileiro Personagens do folclore brasileiro
Personagens do folclore brasileiro
 
Literatura Infantil Slides
Literatura Infantil   SlidesLiteratura Infantil   Slides
Literatura Infantil Slides
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
CONTAÇÃO DE HISTÓRIASCONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
 
Galinha conto-a galinha ruiva
Galinha  conto-a galinha ruivaGalinha  conto-a galinha ruiva
Galinha conto-a galinha ruiva
 
Poema "pequeno-almoço"
Poema "pequeno-almoço"Poema "pequeno-almoço"
Poema "pequeno-almoço"
 
Apresentação Projeto leitura
Apresentação Projeto leituraApresentação Projeto leitura
Apresentação Projeto leitura
 
Livro de personagens de monteiro lobato sitio
Livro de personagens de monteiro lobato   sitioLivro de personagens de monteiro lobato   sitio
Livro de personagens de monteiro lobato sitio
 
Exercicios elementos da narratica 2015
Exercicios elementos da narratica 2015Exercicios elementos da narratica 2015
Exercicios elementos da narratica 2015
 
Slide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão Prof André Moraes
Slide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão  Prof  André MoraesSlide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão  Prof  André Moraes
Slide Atividades Pacto 2º ano Camilão, o comilão Prof André Moraes
 
Sequencia didatica a_princesa_e_a_ervilha
Sequencia didatica a_princesa_e_a_ervilhaSequencia didatica a_princesa_e_a_ervilha
Sequencia didatica a_princesa_e_a_ervilha
 
Aula De Literatura Infantil
Aula De Literatura InfantilAula De Literatura Infantil
Aula De Literatura Infantil
 
Projeto de Leitura _ História em Quadrinhos
Projeto de Leitura _  História em QuadrinhosProjeto de Leitura _  História em Quadrinhos
Projeto de Leitura _ História em Quadrinhos
 
Conto de mistério
Conto de mistérioConto de mistério
Conto de mistério
 
Projeto identidade
Projeto identidadeProjeto identidade
Projeto identidade
 
Gabarito: Atividade de Português – conto de aventura – 6º ano – Com respostas
Gabarito: Atividade de Português – conto de aventura – 6º ano – Com respostasGabarito: Atividade de Português – conto de aventura – 6º ano – Com respostas
Gabarito: Atividade de Português – conto de aventura – 6º ano – Com respostas
 
Uma caixa de leitura
Uma caixa de leituraUma caixa de leitura
Uma caixa de leitura
 
Projeto leitura
Projeto leituraProjeto leitura
Projeto leitura
 
Projeto Contos
Projeto  ContosProjeto  Contos
Projeto Contos
 

Semelhante a O AMOR NÃO TEM COR

Semelhante a O AMOR NÃO TEM COR (20)

PRINCESA DO DESEJO: desventuras de uma jovem
PRINCESA DO DESEJO: desventuras de uma jovemPRINCESA DO DESEJO: desventuras de uma jovem
PRINCESA DO DESEJO: desventuras de uma jovem
 
Dra. Rosa Célia x Adriane Galisteu
Dra. Rosa Célia x Adriane GalisteuDra. Rosa Célia x Adriane Galisteu
Dra. Rosa Célia x Adriane Galisteu
 
Livro victorjijij
Livro victorjijijLivro victorjijij
Livro victorjijij
 
Bandeja a trecho
Bandeja a trechoBandeja a trecho
Bandeja a trecho
 
PRINCESA DO DESEJO.docx
PRINCESA DO DESEJO.docxPRINCESA DO DESEJO.docx
PRINCESA DO DESEJO.docx
 
Princesa-do-Desejo.pdf
Princesa-do-Desejo.pdfPrincesa-do-Desejo.pdf
Princesa-do-Desejo.pdf
 
Jornal online - 2
Jornal   online - 2Jornal   online - 2
Jornal online - 2
 
Realidade Escondida
Realidade EscondidaRealidade Escondida
Realidade Escondida
 
perfil_natalia_queiros
perfil_natalia_queirosperfil_natalia_queiros
perfil_natalia_queiros
 
535 an 04 agosto_2015.ok (1)
535 an 04 agosto_2015.ok (1)535 an 04 agosto_2015.ok (1)
535 an 04 agosto_2015.ok (1)
 
Carta aberta aos_jovens
Carta aberta aos_jovensCarta aberta aos_jovens
Carta aberta aos_jovens
 
Revista azt 2 jovens
Revista azt 2   jovensRevista azt 2   jovens
Revista azt 2 jovens
 
Jornal Mente Ativa 7
Jornal Mente Ativa 7Jornal Mente Ativa 7
Jornal Mente Ativa 7
 
23 a voz_da_estrela pdf
23 a voz_da_estrela pdf23 a voz_da_estrela pdf
23 a voz_da_estrela pdf
 
Pais maus z
Pais maus zPais maus z
Pais maus z
 
Pais Maus
Pais MausPais Maus
Pais Maus
 
Pais maus
Pais mausPais maus
Pais maus
 
Pais Maus
Pais MausPais Maus
Pais Maus
 
Trabalho alice[1]
Trabalho alice[1]Trabalho alice[1]
Trabalho alice[1]
 
Meu museu
Meu museuMeu museu
Meu museu
 

Mais de elizetearantes

Tutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamental
Tutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamentalTutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamental
Tutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamentalelizetearantes
 
Utilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e música
Utilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e músicaUtilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e música
Utilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e músicaelizetearantes
 
Reflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamental
Reflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamentalReflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamental
Reflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamentalelizetearantes
 
Ensaio fotográfico na fazenda bom jardim
Ensaio fotográfico na fazenda bom jardimEnsaio fotográfico na fazenda bom jardim
Ensaio fotográfico na fazenda bom jardimelizetearantes
 
Ensaio fotográfico no parque das dunas (bosque
Ensaio fotográfico no parque das dunas (bosqueEnsaio fotográfico no parque das dunas (bosque
Ensaio fotográfico no parque das dunas (bosqueelizetearantes
 
Quarta aula de fotografia digital
Quarta aula de fotografia digitalQuarta aula de fotografia digital
Quarta aula de fotografia digitalelizetearantes
 
Resultado Parcial Da Terceira Aula
Resultado Parcial  Da Terceira AulaResultado Parcial  Da Terceira Aula
Resultado Parcial Da Terceira Aulaelizetearantes
 
Terceira Aula De Fotografia
Terceira Aula De FotografiaTerceira Aula De Fotografia
Terceira Aula De Fotografiaelizetearantes
 
Curriculum Profª Elizete Arantes
Curriculum  Profª Elizete ArantesCurriculum  Profª Elizete Arantes
Curriculum Profª Elizete Aranteselizetearantes
 
2ª Aula De Fotografia
2ª Aula De Fotografia2ª Aula De Fotografia
2ª Aula De Fotografiaelizetearantes
 
PráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO Humana
PráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO HumanaPráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO Humana
PráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO Humanaelizetearantes
 
Aluna Sayonara Albuquerque
Aluna Sayonara AlbuquerqueAluna Sayonara Albuquerque
Aluna Sayonara Albuquerqueelizetearantes
 
ExposiçãO Da Aluna Cristina Melo
ExposiçãO Da Aluna Cristina MeloExposiçãO Da Aluna Cristina Melo
ExposiçãO Da Aluna Cristina Meloelizetearantes
 
Roteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na Escola
Roteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na EscolaRoteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na Escola
Roteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na Escolaelizetearantes
 
(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)elizetearantes
 
(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)elizetearantes
 
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na EscolaA ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escolaelizetearantes
 
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na EscolaA ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escolaelizetearantes
 

Mais de elizetearantes (20)

Falando sobre cinema
Falando sobre cinemaFalando sobre cinema
Falando sobre cinema
 
Tutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamental
Tutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamentalTutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamental
Tutorial simplificado do movie maker do windows para ensino fundamental
 
Utilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e música
Utilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e músicaUtilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e música
Utilizando o openshot do Linux-Editor de imagens e música
 
Reflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamental
Reflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamentalReflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamental
Reflexões sobre o estudo do cinema no ensino fundamental
 
Ensaio fotográfico na fazenda bom jardim
Ensaio fotográfico na fazenda bom jardimEnsaio fotográfico na fazenda bom jardim
Ensaio fotográfico na fazenda bom jardim
 
Ensaio fotográfico no parque das dunas (bosque
Ensaio fotográfico no parque das dunas (bosqueEnsaio fotográfico no parque das dunas (bosque
Ensaio fotográfico no parque das dunas (bosque
 
Quarta aula de fotografia digital
Quarta aula de fotografia digitalQuarta aula de fotografia digital
Quarta aula de fotografia digital
 
Resultado Parcial Da Terceira Aula
Resultado Parcial  Da Terceira AulaResultado Parcial  Da Terceira Aula
Resultado Parcial Da Terceira Aula
 
Terceira Aula De Fotografia
Terceira Aula De FotografiaTerceira Aula De Fotografia
Terceira Aula De Fotografia
 
Concurso Fotografico
Concurso FotograficoConcurso Fotografico
Concurso Fotografico
 
Curriculum Profª Elizete Arantes
Curriculum  Profª Elizete ArantesCurriculum  Profª Elizete Arantes
Curriculum Profª Elizete Arantes
 
2ª Aula De Fotografia
2ª Aula De Fotografia2ª Aula De Fotografia
2ª Aula De Fotografia
 
PráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO Humana
PráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO HumanaPráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO Humana
PráTicas PedagóGicas Inovadoras E Centradas Na FormaçãO Humana
 
Aluna Sayonara Albuquerque
Aluna Sayonara AlbuquerqueAluna Sayonara Albuquerque
Aluna Sayonara Albuquerque
 
ExposiçãO Da Aluna Cristina Melo
ExposiçãO Da Aluna Cristina MeloExposiçãO Da Aluna Cristina Melo
ExposiçãO Da Aluna Cristina Melo
 
Roteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na Escola
Roteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na EscolaRoteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na Escola
Roteiro Audiovisual Construindo A Leitura Do Cinema Na Escola
 
(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)
 
(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)(A comunicação interativa do jornal na escola)
(A comunicação interativa do jornal na escola)
 
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na EscolaA ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
 
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na EscolaA ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
A ComunicaçãO Interativa Do Jornal Na Escola
 

O AMOR NÃO TEM COR

  • 1. O AMOR NÃO TEM COR Autora: Elizete Vasconcelos Arantes Filha Começo este texto citando um provérbio popular que faz muito sucesso entre os mais velhos: água mole pedra dura tanto bate até que fura! Os jovens talvez não saibam o que quer dizer, no entanto não vou desistir de citá-lo sempre que possa e também não vou desistir de contar esta história, aos velhos, aos jovens e às crianças, quem sabe, um dia todos aprendem. Recentemente eu contei para um grupo de crianças entre 10 e 12 anos e pedi para elas interpretarem em forma de desenho e pintura e o resultado vocês podem conferir e, se ainda não entenderam, conto-lhes quantas vezes for necessário.A história começou após várias conversas sobre adoção de crianças e, inconformada com a ignorância da sociedade quando o assunto é raça, ou seja, cor da pele, já que só existe uma única raça, a humana, resolvi contar esta história que aconteceu há, exatamente, 25 anos no interior de Pernambuco. Vou omitir os nomes verdadeiros dos envolvidos, mas a essência da história será conservada. No início da década de 80, um repórter fotográfico (também estudante de jornalismo) acompanhou uma jornalista que fazia reportagem sobre trabalho infantil numa carvoaria em uma cidade do interior de Pernambuco, abandonada por Deus e pelos políticos. Ao iniciar a matéria, a dupla sofreu várias perseguições e quase foi morta por causa da ousadia de registrar acontecimentos desumanos que, de certa forma, eram comuns na região – se ainda é hoje, imaginem 25 anos atrás. Terminada a matéria, as belas fotografias renderam ao fotógrafo vários prêmios e um contrato num jornal de grande circulação em outro estado, abrindo-lhe portas para exercer, mais tarde, várias funções importantes em muitos jornais e revistas do país. Bem, voltemos à história. Concluída a reportagem, o fotógrafo voltou para casa trazendo nos braços uma garotinha de apenas 11 meses de idade, envolvida em trapos. Imaginem o “furdunço” no jornal, na família e entre os seus amigos. Após procurar o Juizado de Menores para concretizar a adoção, imediata e sem restrições, o fotógrafo, que já era casado e pai de dois filhos, foi apoiado tanto por alguns de seus familiares quanto por sua mulher. No entanto, houve reservas por parte de alguns amigos de trabalho, parentes, vizinhos e até mesmo de alguns fiéis e do pastor da igreja que a família freqüentava, através de críticas, risadas e cotoveladas entre as pessoas (principalmente mulheres e mocinhas) quando a família chegava ou saía de um recinto público. Eram comuns dizeres desse tipo: “Um casal de negros com uma menina branca no colo não combina”. E outra: “As pessoas deveriam adotar crianças que se parecem com elas, branco adota branco, negro adota negro, pardo adota pardo.” E certa vez foi dito, para magoar mesmo, conta a mãe adotiva da menininha, relembrando: “A menina loira com cabelos de cachinhos dourados, olhos azuis, uma verdadeira “nórdica”, foi adotada por um negro”.Esta era a cena que as pessoas não aceitavam. A maldade e a ignorância humana não tinham limite. Quando aquela mãe apresentava a filha e dizia “esta é a minha filha”, sempre havia constrangimento... Pois as pessoas que se diziam bem educadas e civilizadas logo indagavam: “Como ela pode ser sua filha?”, “Você é negra e a menina é branca?”. Aquela mãe humildemente contava e recontava a história da sua adoção esperando compreensão das pessoas, na esperança que elas percebessem que o amor de mãe não vê cor, nem raça, que se ama com o coração, não com os olhos. Mesmo assim aquelas pessoas não entendiam nada, pois o preconceito e o sentimento racista, ou seja, a ignorância, eram maiores do que a inteligência para compreender motivos tão nobres que levaram àquela adoção. E na igreja ocorria o seguinte: os “irmãos” de fé, aqueles que geralmente a gente teme mais a língua do que a fúria de Deus, diziam: “Fulano querendo embranquecer a família, adotou uma menina branca”. A família sofria diante de tanta ignorância manifestada nos lugares que freqüentava. No entanto, com muita dignidade, manteve o relacionamento familiar, cuidando da menina da mesma forma que cuidava dos filhos legítimos, com todo amor de pai e mãe que cabia num coração. Além de comida, zelo, escola, amor, respeito, dignidade, deu àquela criança a oportunidade de ter uma FAMÍLIA, pessoas dignas, independente da cor da pele para serem chamadas de MÃE e de PAI. O tempo passou, a menina cresceu muito esperta, muito inteligente, muito amorosa. Retornava para os pais adotivos o amor incondicional que recebia. Era uma família feliz!Hoje, 25 anos após esse acontecimento, aquela menininha é uma jovem senhora de 26 anos, casada e mãe de um casal de filhos. Formou-se recentemente em jornalismo, seguindo a carreira do seu amado pai, e trabalha num conceituado jornal. Mais: é proprietária de uma casa e paga as contas em dia. É uma cidadã.Fui testemunha na adoção, pois era professora primária dos demais filhos do casal e sabia os motivos que sensibilizaram aquele fotógrafo e, futuramente, sua esposa, seus filhos, o juiz e as pessoas de bem que fizeram parte da melhor parte da história. Aquela menininha aos 11 meses de idade foi violentada pelo seu pai legítimo, homem branco, que vivia alcoolizado. Ao ser socorrida, ainda estava sangrando. O homem branco, que era pai e esposo legítimo, espancava a esposa e os filhos maiores. A mãe, mulher branca e também alcoólatra, fumava cigarro de palha e apagava no corpo dos filhos.Na região, todas as crianças trabalhavam na carvoaria, enquanto a polícia, os políticos e a população fechavam os olhos para a situação. As crianças trabalhadoras tinham o corpo queimado e algumas tinham membros do corpo amputados. Aquela criança, ao ser socorrida pelo fotografo, estava desnutrida, abaixo do peso, com poucas chances de sobrevivência e com marcas de queimadura de cigarro por todo o corpo, inclusive perto dos olhos. Os médicos que a socorreram afirmaram que por pouco não atingira o olho, cegando-a. Ainda bem que aquele fotógrafo não olhou para a cor da pele da menininha, apenas para a situação dela e percebeu que poderia fazer a diferença!!! Já pensou se ele tivesse pensado assim: “Não vou ajudar esta criança porque ela não combina com a cor da minha pele!”Quantas crianças negras, brancas, mulatas, pardas, saudáveis e não saudáveis, com ou sem necessidades especiais estão nas creches, nas ruas e até no trabalho infantil. Algumas ainda bebês, outras já bem grandinhas e todas precisando de adoção. Bem amigos, a situação da adoção no Brasil é um fato para se refletir, a maioria dos casais brasileiros que querem adotar uma criança dá preferência a meninas, brancas, de olhos claros de até um ano de idade, enquanto os estrangeiros não escolhem sexo, idade ou cor. Adotam até crianças com doenças crônicas conhecidas. Que possamos ter a mesma atitude. Não adotar uma criança só porque ela não combina com a nossa cor da pele, ou com a cor dos nossos olhos. Filhos não são acessórios de vaidade. Devemos adotar para fazer a diferença. Amar com amor de mãe e de pai. INCONDICIONAL. Para que nós possamos fazer a diferença não é necessário adotar uma criança, já que para adotar é constitucional querer e poder. No entanto, podemos fazer a diferença combatendo a infâmia do racismo relembrando e fazendo uso de uma célebre frase que nunca fica fora de moda e fez parte da maioria de nós na adolescência. “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...” Antóine de Saint-Exupéry, em O pequeno Príncipe”. Referências: Jornal Folha de São Paulo/ 11/07/97 emwww.filhosadotivos.com.br/acessado em 29/07/2007 as 14h00min tags: Natal RN cultura-e-sociedade adocao criancas racismo Postado por PROFESSORA ELIZETE ARANTES às 18:25 Marcadores: Amor, Elizete Arantes, Racismo, tolerância