Um escritor lageano, ainda a ser pesquisado. Talvez em antigos jornais existentes em museus de Santa Catarina e de São Paulo existam registros dos escritos dele. Falecido em 1923.
1. Jornal O Planalto – Sabbado, 10 de Novembro de 1923, pg. 2 - Collaboração
Amadeu Moraes
Como a flôr que, ao desabrochar, se desprende da haste pelo tufão da tempestade, como a
estrêlla que, ao cahir da tarde, começa a expargir o seu brilho e é bruscamente eclypsada por
extensa nuvem negra; assim, em plena mocidade, cheia de vida e esperanças, fora arrebatada á
vida terrena pelo tufão da morte, fora eclypsada pela nuvem negra da fatalidade para subir às
regiões sideraes, a alma de um justo que neste orbe se chamou Amadeu Moraes. Moço, tendo
apenas 23 risonhas e floridas primaveras, alcançara o seu último marco natalício a 11 de Junho
p. p., no aconchego do lar querido, rodeado dos carinhos da mãe idolatrada, do affectuoso irmão
e das homenagens de seus dilecctos e innumeros amigos, destacando-se entre estes, 10 a 12
lageanos, estudantes e empregados na famosa capital paulista. N’aquelle dia, talvez um dos
mais felizes de sua curta existência, por entre expontaneas manifestações de franca alegria e
vivaz contentamento, sua residência, desde os primeiros clarões do astro rei até alta noite,
achara-se repleta de amigos e admiradores do ilustre extincto, que lá foram levar o testemunho
de sua amizade e gratidão ao amigo leal, ao protector emérito, ao distincto lageano que tanto
soubera amar e engrandecer a sua terra natal como admirar e glorificar a opulenta Paulicéa que
o fizera feliz. Espírito esclarecido por lúcida intelligencia, produto do esforço próprio, Amadeu
Moraes alcançara o alto posto de diretor de uma sessão de limpeza publica da capital paulista,
cujo trabalho dirigia com critério, rectidão e superioridade de vistas. Amigo dos livros, dedicava-
se às horas de lazer, ao estudo, estando estando a terminar o 3º anno da escola livre de direito,
do Rio. Descendente da raça de Cruz e Souza a José do Patrocínio, em bem elaborados artigos,
procurara, como aquelles, levantar a sua raça do pó da humilhação. Diversas correspondências
suas para “O Lageano”, sob o pseudônimo de Amaro Dumas, despertaram a atenção dos nossos
intellectuaes que bem surpresos ficaram ao saberem da procedência de tão brilhantes
producções. Residente há 9 ou 10 annos em S. Paulo era, por assim dizer, o consul lageano
naquela capital. Aos domingos, foi sempre sua residência o principal ponto de reunião dos
rapazes da colônia que na intimidade de um lar amigo, ligado pelos vínculos de fraternal
amizade, sorridentes e joviaes, ahi, em feliz convívio, passavam as horas, ouvindo os sábios
conselhos de seu consul, que se fazia pae extremoso, um verdadeiro guia e protector de seus
jovens conterrâneos, que o ouviam com respeito, que o amavam com veneração. Foi ele a
bondade e modéstia personificadas. Do fundo d’aquella modestia, porém, surgia a grandeza de
uma alma nobre e sem jaça; de um caracter são e raro; de um coração magnânimo, todo affecto.
Tendo terminado a sua sentença nesta masmorra de sofrimentos e provações, o seu corpo
material baixara a terra, ao ser devorado pelos vermes, e a sua alma, o seu ser real, ascendera
a mansão cerulea, onde brilhará, entre as refulgentes emanações divinas, entre os esplendores
eternos. E como não ser assim se ele, em passando pela vida material, soubera colher os louros
da verdadeira felicidade, deixando um passado luminoso de exemplos edificantes! Perdôa, caro
e inesquecível amigo, a pobreza de cujas palavras em cujo filtro enxergarás a sinceridade de uma
alma reconhecida e que jamais esquecerá a tua excelsa bondade e inexcedivel dedicação. De lá,
do paiz da luz, continuarás, assim o creio, a prodigalizar o teu carinhoso affecto, guiando, como
aqui o fazias, os que te são caros, por entre as trevas terrenas, ao seguro porto da salvação. Que
a tua vida exemplar e gloriosa seja imitada! Que a tua alma de justo seja conduzida pelos anjos
à eterna e suprema felicidade!
V. Godinho