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Pesquisa e Material Desenvolvidos
com Base em Critérios
Linguísticos para a Prática
Fonoaudiológica nas Afasias
Organizadores
Ricardo Joseh Lima
Solange Iglesias de Lima
P474
Ficha catalográfica eleborada pela BIBLIOTECA CENTRAL DA UVA
Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho
Pesquisa e material desenvolvidos com base em critérios lin-
guísticos para a prática fonoaudiológica nas afasias / organiza-
dores Ricardo Joseh Lima, Solange Iglesias de Lima. – Rio de
Janeiro: UVA, 2009.
104 p. : 30cm.
ISBN 978-85-61698-03-4
1. Afasia. 2. Linguística. 3. Fonoaudiologia. I. Lima, Ricardo
Nota sobre os organizadores
Ricardo Joseh Lima
Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, docente da graduação em Letras e Pós-
graduação Stricto Sensu em Letras, área de concentração - Linguística, coordenador do Programa Linguagem em
Condições Diferenciadas, do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Solange Iglesias de Lima
Mestre em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), fonoaudióloga, docente dos
Cursos de Graduação em Fonoaudiologia e em Psicologia e membro do Comitê de Pesquisa do Programa de Iniciação
Científica da Universidade Veiga de Almeida, diretora técnica e administrativa da Clínica de Fonoaudiologia do Centro de
Saúde Veiga de Almeida, bolsista Proatec do Programa Linguagem em Condições Diferenciadas, do Instituto de Letras da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Parte I
Capítulo I – Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias
Parte II
Capítulo II – Aspectos Quantitativos e Qualitativos da Fala Afásica
Capítulo III – Nomeação de Figuras por Afásicos no Português Brasileiro
Capítulo IV – Aspectos Metodológicos na Avaliação da Compreensão de
Agramáticos Afásicos de Broca
Capítulo V – Aspectos Metodológicos na Avaliação da Produção de Afásicos de Broca
Apêndice da parte II
Parte III
Advertência
Material FonoLing
Agradecimentos
À Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), por ter possibilitado, com a cessão de espaço
(sala 11.111 bloco F) e de bolsas de extensão, as condições estruturais para que as atividades do Programa
Linguagem em Condições Diferenciadas (PLCD) venham sendo realizadas.
À Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pela concessão do incentivo por meio do pro-
grama Proatec, que possibilitou a inclusão e permanência da fonoaudióloga Solange Iglesias de Lima.
Ao Centro de Saúde Veiga de Almeida, que, por meio da Clínica de Fonoaudiologia, possibilitou a
criação do Centro de Recuperação do Paciente Afásico (CRPA) e o incentivo a essa publicação.
Às professoras Letícia Maria Sicuro Corrêa (PUC-Rio) e Marina Rosa Ana Augusto (Uerj), cujos con-
vívios e experiência acadêmica em muito contribuíram para a elaboração das pesquisas, sem que, no entanto,
sejam responsáveis por erros que tenham sido cometidos em sua realização.
Aos bolsistas de extensão, colaboradores e voluntários que auxiliaram na coordenação das atividades
e no contato com os afásicos nos últimos três anos: Juliana Chagas, Andréia Brandão, Carolina Ferreira, Aline
Dias, Suzana Vieira, Daniele Kazan, Clara Villarinho, Renê Forster, Helena Santos, Juliana Adauto, Daniele Rosa,
Cláudia Nascimento, Queila Martins e Victoria Haddad.
Às pessoas afásicas que participaram (e ainda participam) desse projeto, pela confiança e paciência
que tiveram (e têm) ao demonstrar suas dificuldades. Este trabalho é para vocês.
Prefácio
Em dezembro de 2007, por força do Ato Executivo 17/2007-Reitoria, foi criado o Programa Lingua-
gem em Condições Diferenciadas (PLCD), com o objetivo de estender o alcance de atividades realizadas por
seu predecessor, o Programa Surdez. Com isso, estavam criadas as bases para a concretização de pesquisas
que tivessem como escopo outras situações além da surdez, como as afasias, tema deste livro, e o Déficit
Específico da Linguagem (DEL)
.
Este livro é o resultado dos trabalhos realizados pela equipe que compõe o Projeto Linguagem em
Circunstâncias Excepcionais, que integra o PLCD e focaliza aspectos linguísticos das afasias. Uma de suas
atividades foi a confecção da cartilha “Falando sobre afasia, entendendo o afásico”, com a finalidade de divul-
gar, em linguagem informal, informações sobre afasia para afásicos, familiares, profissionais e interessados
no tema. A equipe do Projeto Linguagem em Circunstâncias Excepcionais é composta atualmente por um lin-
guista (coordenador), uma fonoaudióloga e alunos de graduação e pós-graduação. Essa configuração permitiu
a concretização desta obra, que contém o Material elaborado com a finalidade de servir de apoio ao trabalho do
fonoaudiólogo e a apresentação de resultados de pesquisas realizadas pela sua equipe.
A primeira parte deste livro é dedicada a um capítulo único, que apresenta as bases e as justificativas
para a concepção de um trabalho que construa elos entre a Linguística e a Fonoaudiologia. Na segunda parte,
são apresentadas as pesquisas realizadas por bolsistas de extensão e por alunos de Mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Letras da Uerj. Os dois primeiros capítulos (II e III) dessa parte foram escritos pelos
bolsistas, em colaboração com o coordenador do projeto e com uma fonoaudióloga. Esses capítulos focalizam
os passos para a realização de uma pesquisa com afásicos seguindo critérios linguísticos. Os outros dois
capítulos dessa parte (IV e V) foram escritos a partir das dissertações de mestrado defendidas em março de
2008 por Clara Villarinho e Renê Forster. A terceira parte traz os materiais que compõem o que chamamos,
informalmente, de FonoLing – atividades e testes linguisticamente orientados a partir dos níveis gramaticais
(Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Semântica).
A ideia do Material FonoLing surgiu da necessidade, sentida pelo coordenador do projeto e pela
fonoaudióloga, de constituir um conjunto de situações de avaliação que conjugasse tanto aspectos linguísticos
quanto fonoaudiológicos como sua característica principal e definidora. Desse modo, por exemplo, mencio-
nam-se os níveis linguísticos ao mesmo tempo em que se concedem liberdades na aplicação do Material que
estejam compatíveis com a prática fonoaudiológica. Com o auxílio dos bolsistas, foram realizadas as etapas de
levantamento de dados, elaboração de versões, aplicações prévias, até chegar-se à forma final.
Essa forma final, no entanto, não significa que o Material está terminado, sem direito a revisão. Pelo
contrário. O Material, tal como está constituído e apresentado, não possui a ambição de ser comparado a out-
ros que são utilizados com frequência na prática fonoaudiológica no Brasil e no exterior. No momento, ele se
situa como uma indicação de caminhos a serem seguidos, uma proposta de visualização das relações entre
Linguística e Fonoaudiologia e uma aposta nos frutos que essa relação pode trazer para o principal interessado:
o afásico. O futuro dirá se estamos longe ou não deste sonho.
 Este tema é atualmente abordado no projeto “DEL: conhecendo populações em condições diferenciadas de aquisição da língua”, coordenado pela
Profa. Marina Rosa Ana Augusto (Uerj).
Parte I
Linguística e
Fonoaudiologia: um
diálogo possível nos
estudos de afasias
Capítulo I
Solange Iglesias de Lima (UVA- Proatec Uerj)
Ricardo Joseh Lima (Uerj)
Capítulo I - Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias
D
entre os estudos propostos pela ciência fonoaudiológica, está a ênfase nos estu-
dos afasiológicos. Devido à complexidade das manifestações afásicas, os modelos
de caracterização foram baseados em critérios desenvolvidos por áreas correlatas,
as quais também enfrentam diferentes condições e possibilidades de entendimento
dessa instigante ocorrência: a afasia.
Esta ciência, contemporânea na sua existência, também se ocupa em reordenar, reativar ou
recuperar os problemas identificados na linguagem motivados por problemas de origem neurológica
ou mesmo os atribuídos às desordens na aquisição e ou desenvolvimento linguístico que não estejam
creditados aos problemas neurogênicos. Sendo uma ciência de ordem prática, necessita de suporte
teórico que sustente e alimente as etapas metodológicas descritas para o adequado restabelecimento da
faculdade comunicativa, independentemente da sua natureza. Assim, ao tratar a linguagem como foco
das manifestações que pretende analisar, supõe a existência de argumentos teóricos suficientes para
poder considerar e identificar certas condições de irregularidade.
Ao “isolar” o fenômeno afásico, identifica que essa manifestação é determinada por um acon-
tecimento orgânico (acidente vascular cerebral hemorrágico ou isquêmico, traumas crânio-encefálicos)
no córtex cerebral (hemisfério esquerdo, preferencialmente), interrompendo as vias de informações ner-
vosas entre centros reguladores da linguagem humana. Descritas dessa forma, as afasias pertencem
ao repertório das impossibilidades decorrentes daquelas enfermidades, sendo estas uma condição es-
pecífica para identificação do diagnóstico afásico. Porém, nem toda alteração no córtex adulto provoca
um estado afásico: as condições neuroanatomofisiológicas que determinam as afasias são especiais,
regulares e possíveis de serem identificadas a partir de exames clínicos e instrumentais. Essa descrição
favorece e indica que, ao emprestar os conhecimentos anatômicos, fisiológicos e funcionais, a Neuro-
ciência contribui com seu escopo teórico, determinando, assim, uma forma de descrição das afasias.
Esse modelo de apresentação de uma manifestação afásica identifica a etiologia do problema,
porém, apenas a etiologia, fator que não é menos importante para caracterização das afasias, contudo,
desvia o que, de fato, pode ser recuperado por meio da atuação fonoaudiológica. Por meio dos tempos,
a prática clínica fonoaudiológica, que se ocupa desses transtornos, foi baseada em princípios fornecidos
pelas escolas médicas mundiais, as quais orientaram durante décadas os procedimentos de avaliação,
descrição, diagnósticos e conduta terapêutica nas afasias.
Com o avanço das técnicas de intervenção fonoaudiológica nesses quadros, novos rumos
foram tomados pelos profissionais que atuam diretamente com esses sujeitos e, assim, outros pos-
síveis diálogos foram iniciados. Um desses diálogos pode vir a se revelar extremamente frutífero para a
Fonoaudiologia. O contato mais estreito com a metodologia e os objetivos da ciência Linguística traria
benefícios não apenas para as questões com as quais a Fonoaudiologia trabalha. Em um ato de alta
generosidade científica, a Fonoaudiologia poderia contribuir também, com sua experiência e interdisci-
Parte I10
plinaridade natural, para a (in)formação da Linguística. Desse modo, o diálogo pode ser estabelecido em
seu aspecto pleno, em que ambos os lados ouvem e se pronunciam.
Para demonstrar que esse diálogo não apenas é viável, mas também proveitoso, é que essa
publicação foi idealizada. O Material FonoLing, que consta da terceira parte, foi pensado e elaborado a
partir da construção desse diálogo. Ao mesmo tempo em que contempla de modo sistemático os níveis
de análise linguística (Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Semântica), apresenta-se como ferramenta de
diagnóstico e instrumento de auxílio ao tratamento das afasias. A advertência, que introduz esta parte
do livro, apresenta com mais detalhes as bases e os objetivos desse Material.
Ainda, pesquisas que utilizaram parte do Material FonoLing compõem a segunda parte do livro.
O aspecto morfológico está contemplado no capítulo de Forster, que aborda especificamente a morfolo-
gia verbal. Esse capítulo contém também uma abordagem do aspecto sintático, ao focalizar a repetição
de estruturas sintáticas que variam das mais simples às mais complexas. O aspecto morfossintático
também é o foco do artigo de Lima, Martins, Nascimento e Garrão: a análise de narrativas de afásicos se
dá por meio de critérios formais, tais como presença de flexão, elaboração do sintagma verbal, presença
de oração subordinada, entre outros. A fronteira entre sintaxe e semântica está presente no capítulo de
Villarinho, que estuda a compreensão de sentenças por meio de testes, utilizando gravuras e encenações.
Essa fronteira é ultrapassada no capítulo de Lima, Adauto, Rosa e Lima, que, por meio de um teste de
nomeação, busca caracterizar os problemas semânticos que podem surgir em decorrência da afasia.
Afasia no contexto fonoaudiológico
Para o profissional responsável pela avaliação e diagnósticos de sujeitos afásicos e conse-
quente acompanhamento, talvez, um dos maiores desafios seja a seleção de um instrumento adequado
para a realização dessas ações. Pelas características que envolvem as síndromes afásicas, podemos
afirmar que são também diversos os modos e parâmetros capazes de categorizar esses impedimentos
na linguagem. Entende-se por afasia uma perda ou prejuízo da habilidade linguística causada por lesão
no córtex cerebral adulto (ARDILA, A.  BENSON, F. 1996. trad.).
Tradicionalmente, os modelos de descrição dos sintomas relacionados às afasias estiveram
sempre impregnados por uma nomenclatura médica que se mantinha fiel às características clínicas
da lesão. Assim, os resultados obtidos por meio da aplicação de protocolos estavam, na verdade, ob-
jetivando compreender como o cérebro estruturava as habilidades linguísticas e cognitivas a partir da
identificação dos sintomas afásicos, independentemente de sua natureza.
A criação de protocolos de avaliação submetida a esse modelo de descrição estabelecia os cri-
térios de categorização dos sintomas e, a partir daí, sugeria um tipo ou subtipo de afasia. As evidências
que ocorriam na linguagem estavam na dependência de um local anatômico previsto para ocorrência de
uma forma afásica. Desta forma, um déficit funcional na área de Broca provocaria o tipo afasia de Broca;
um déficit na área funcional de Wernicke provocaria afasia de Wernicke e, assim por diante. A estreita
relação lesão-sintoma configurava a forma adequada de entendimento de como o cérebro processava a
produção e compreensão de linguagem e também servia de base para a classificação de um tipo afásico.
Esse ponto de vista orientou (e ainda orienta) os procedimentos de avaliação, descrição e diagnose de
síndromes afásicas.
As distinções classificatórias baseavam-se em certas dicotomias do tipo motor/sensorial
(GOLDSTEIN 1948), anterior/posterior (WERNICKE, 1881; LICHTHEIM, 1885), expressiva/receptiva (MC-
BRIDE, 1935) não fluente/fluente (BENSON, 1967), eferente/aferente (LURIA, 1966) e mais uma sequência
de subtipos que foram surgindo à medida que novas características e particularidades eram considera-
das. Assim, os efeitos causados por diferentes modelos e princípios de análise e descrição criaram mais
controvérsias do que soluções. Nesse cenário, as terminologias afasia e síndrome afásica passaram a
representar manifestações idênticas, sendo seu uso um caso de opção terminológica. Importante notar
que o termo afasia pode variar entre um uso marcado pela herança neurológica ou apropriar-se de um
significado privilegiado pelo sintoma linguístico. Talvez o que deva ser considerado, no âmbito da ciência
11Capítulo I - Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias
Fonoaudiológica, não seja necessariamente a controvérsia terminológica, porém, o que se entende sobre
linguagem, sua natureza teórica e implicações metodológicas.
O diagnóstico de afasia não é uma tarefa complexa, de forma geral; se houver um dano no
tecido cortical em áreas instrumentais da linguagem, e o indivíduo demonstrar dificuldades em produzir
e/ou compreender o que lhe é dito, este pode ser considerado afásico. O problema está justamente na
diversidade das manifestações linguísticas, o que leva a crer que o substrato que se modifica, ou seja,
a linguagem, possui critérios e condições que deverão ser submetidas à ótica clinica de quem avalia
e diagnostica. É nesse sentido, portanto, que a opção por uma teoria de linguagem se faz necessária.
Embora particulares, as metodologias de investigação da linguagem tornam-se (quase sempre) coad-
juvantes quando se pretende dar um tratamento linguístico às síndromes afásicas. Em alguns casos, e
não raros, os protocolos de avaliação da linguagem são utilizados como forma de roteirizar um fato que
já é observável, seja pelo fonoaudiólogo, médico, familiares, ou mesmo pelo próprio indivíduo, que, em
certas condições, reconhece suas dificuldades.
Os resultados obtidos com base nesses protocolos passam a legitimar as circunstâncias em
que o discurso está sendo produzido/interpretado. Por outro lado, a falta da aplicação de um instrumento
formal de investigação para esses casos torna inviável o estabelecimento de um diagnóstico objetivo. A
clínica fonoaudiológica que atua nessa dimensão tem utilizado alguns protocolos que, em sua maioria,
foram elaborados nos idiomas inglês e francês e, adequadamente, traduzidos para o idioma Português.
No entanto, entende-se que as diferenças, ou seja, os parâmetros individuais de cada língua, que inter-
ferem e determinam o processamento das informações no cérebro humano, não devam ser desconsid-
erados.
Testes tradicionais, como os de Goodglass  Kaplan (1983), Schuell (1955), Luria (1970), Sarno
(1969), entre inúmeros outros indicadores, são utilizados como instrumentos de detecção das violações
na produção e/ou interpretação da linguagem. As tarefas propostas incluem a capacidade de nomear,
produzir sentenças, repetir elementos de menor ou maior complexidade e identificar argumentos semân-
ticos, desta forma, propondo-se a alcançar todos os níveis considerados verbais e/ou não verbais. Se
observarmos os critérios de análise e padronização dos resultados, podemos identificar os propósitos
pelos quais esses testes foram elaborados. Reconhecendo as diferentes épocas em que foram produzi-
dos, entendemos que as condições e parâmetros das tarefas idealizadas foram instrumentos inovadores
para o entendimento da forma como a linguagem se ordenava no cérebro humano. Portanto, como taxo-
nomia de um fenômeno linguístico-cognitivo, os scores obtidos proporcionavam o estabelecimento de
uma nova visão para um problema, até então, de difícil solução.
Durante alguns anos, os estudos fonoaudiológicos das afasias aderiram a essas condições
de mensuração. A abrangência dos testes internacionais somados à informação clínica-médica sobre a
origem do problema afásico compunha e determinava os procedimentos de recuperação da linguagem.
Dentre todos os argumentos defendidos em favor de uma classificação dos sintomas, e a partir dela, o
consequente diagnóstico – em alguns casos, por exclusão –, as afasias receberam várias nomenclaturas,
que pouco contribuíam para uma terapêutica eficiente, objetiva e rápida. Os sintomas que receberam
tratamento linguístico (parafasias, perseverações, jargões, agramatismo, ecolalia etc.) compunham uma
série de fenômenos que determinavam a forma de exibição do problema e, assim, poderiam categori-
zar um tipo ou subtipo afásico. De certa forma, esses critérios de classificação, diagnóstico e acom-
panhamento deixaram de lado o que, na verdade, justificava todo esse empreendimento. Se a afasia é
um problema na linguagem, entendida como impedimento de comunicação, por meio da utilização de
elementos de uma dada língua, então, muitos fatores linguísticos foram deixados de lado, compromet-
endo o entendimento do acesso e processamento dessas informações. É claro e determinante que as
afasias são decorrentes de dano do material neurológico e, nesses casos, torna-se impossível assumir
essa manifestação sem privilegiar esse conhecimento. A ênfase dada apenas a essa circunstância clínica
distanciou o aspecto do conhecimento linguístico em situações discursivas.
A prática fonoaudiológica está comprometida com ambas as situações etiológicas, porém, o
material de investigação disponível é composto por critérios determinados por um instrumental orig-
inário da tecnologia por imagem (tomografia computadorizada do crânio, ressonância magnética de
Parte I12
emissão isótopos) e/ou por um modelo de linguagem independente da sua referência teórica. Entender
que a observação da imagem cerebral determina e informa o local da lesão deve ser ponto de partida da
análise. O rastreamento cerebral, sem a menor dúvida, torna explícita a alteração fisiológica, mas não
indica se há ou não um quadro afásico. Em outras palavras, a imagem cerebral permite, com grande
segurança, a visualização do estado e condições físicas da massa cerebral. Entretanto, muitas vezes,
essa possibilidade se confunde como “determinismo” para o diagnóstico afásico. Se, por exemplo, essa
análise fisiológica considera que a área de Broca (terceira circunvolução frontal ascendente – esquerda)
seja responsável pela elaboração dos atos motores da fala, numa análise neurolinguística, essa mesma
área e suas adjacências são responsáveis por parte da elaboração da sintaxe de uma língua (GRODZIN-
SKY 2000). O dinamismo que compõe a linguagem humana parece permanecer “estático” quando anali-
sado por uma vertente clínica, impondo-lhe um alto grau de responsabilidade, quando, na verdade, o que
se manifesta é a alteração do funcionamento da comunicação. Para dar conta desse impedimento, apro-
pria-se, então, de uma análise que interfere tanto na modelagem clínica quanto num modelo indistinto
sobre a linguagem. Uma condição teórica que privilegie a linguagem em uso ou a forma de habilitação de
uma dada língua, independentemente de ser o pressuposto inato, cognitivo ou social, também oferece
critérios metodológicos exatos e controlados, capazes de servir às necessidades da prática fonoaudi-
ológica em síndromes afásicas. Esses empréstimos não interferem na consolidação da responsabilidade
de ser o fonoaudiólogo o profissional apto para conduzir a terapêutica com esses sujeitos. À medida que
o “diálogo” se torna possível, não apenas como discurso interdisciplinar, mas também como criação de
instrumentos ajustados e controlados cientificamente, talvez, uma nova forma de “pensar” as afasias
possa ser frutífera para essa população.
Referências
ARDILA, A.; BENSON, F. Aphasia – A clinical perspective. Oxford: Oxford University Press, 1996.
BENSON, D. F. Fluency in Aphasia: correlation with radioactive scan localization. Cortex, 3:373-394,
1967.
GOLDSTEIN, K. Language and language disturbances. New York, 1968.
GOODGLASS, H.; KAPLAN, E. The assessment of aphasia and related disorders. Philadelphia, 1983.
GRODZINSKY, Y. The neurology of syntax: language without broca’s area. Tel-Aviv University, 2000.
LICHTHEIM, L. On Aphasia. Brain, 7:433-484, 1885.
LURIA, A.R. Higher cortical functions in man. New York: Basic Books, 1966.
_________. Traumatic Aphasia. Mouton: The Hague, 1970.
MCBRIDE, K. L.; WEISENBURG, T.S. Aphasia. New York: Hafner, 1935.
SARNO, M.T. The Communication Profile: Manual of directions. New York, 1969.
SCHUELL, H. Minnesota test for the differential diagnosis of aphasia. Minnesopolis: University of Min-
nesota Press, 1955.
WERNICKE, C. Lehrbuch der gehirnkrankheitein. Berlim: Theodor Fischer, 1881.
Parte II
Parte II14
Aspectos
Quantitativos e
Qualitativos da
Fala Afásica no
Português Brasileiro
Capítulo II
Ricardo Joseh Lima (Uerj)
Queila Castro Martins (UERJ - BIG-FAPERJ)
Cláudia Cristina Nascimento (UERJ - BIG-FAPERJ)
Elisabeth Maia Garrão (UVA - UERJ - COPAT 2006/2007)
15Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
Introdução
E
ste capítulo traz os resultados de uma pesquisa iniciada em julho de 2007, com o
objetivo de realizar observações quantitativas e qualitativas da fala afásica no Portu-
guês Brasileiro. Para tanto, adotaram-se como bases metodológicas as propostas de
Saffran et al. (1989) e Rochon et al. (2000). Com isso, buscou-se prover a análise do
conceito de fluência (e suas ramificações) com dados que, por serem mensuráveis e obtidos a partir de
instâncias concretas, podem auxiliar na decisão da classificação de um paciente afásico ou no agrupa-
mento de pacientes.
A seção 2 traz uma descrição das bases metodológicas utilizadas, bem como a motivação para
sua utilização. Na seção 3, são apresentadas as etapas que constituíram a presente pesquisa e os resul-
tados gerais. A seção 4 encerra o capítulo com comentários sobre esse tipo de pesquisa, seus resultados
e sua importância para o diálogo que pode ser desenvolvido entre Linguística e Fonoaudiologia.
Análise Quantitativa da Produção (AQP) Afásica
Procedimentos para a análise das narrativas
Participaram desta pesquisa os afásicos JM, RC e RP 
. Para cada um, foi selecionado um
controle, que possuísse o mesmo perfil etário e educacional do afásico. Para cada controle e afásico,
foram elaboradas fichas contendo informações sobre eles: iniciais (que ficam no lugar do nome do par-
ticipante), idade, sexo, escolaridade, a data de gravação da narrativa, o bolsista que gravou, datas de
transcrição e tempo da gravação. Segue um exemplo de ficha de um controle e um afásico
:
 Ver detalhes sobre idade, local da lesão, etiologia etc. no Apêndice.
 Todos os sujeitos participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual afirmavam estar cientes dos objetivos
da pesquisa e permitiam a divulgação dos resultados obtidos. Estes termos estão registrados na Comissão de Ética em Pesquisa (COEP) da
Uerj, sob o número 067/2007.
 As demais fichas estão no Anexo deste capítulo.
FICHA DE INFORMANTE – AFÁSICO JM
Iniciais: JM
Idade: 58 anos
Sexo: F	
Escolaridade: 5ª série do EF
Data de gravação: 17/10/2007
Bolsista: Queila Martins
Datas de transcrição: 06/11/2007
Tempo de gravação: 2.14 min
Narrativa: Chapeuzinho vermelho
FICHA DE INFORMANTE – CONTROLE ZC
Iniciais: ZC
Idade: 48 anos
Sexo: F
Escolaridade: 5ª série do EF
Data de gravação: 20/08/2007
Bolsista: Queila Martins
Datas de transcrição: 21/08/2007
Tempo de gravação: 3.45 min
Narrativa: Chapeuzinho Vermelho
Parte II16
Após as gravações realizadas com o auxílio de um gravador digital, partimos para uma outra
etapa, que era a da transcrição e contagem de palavras dentro do tempo de narrativa do controle e tam-
bém do afásico. Nosso objetivo era encontrar cento e cinquenta palavras que servissem de teste para
nossa pesquisa. Vejamos a transcrição total (contendo todas as palavras narradas) de um controle e um
afásico:
Transcrição total controle ZC
“Então era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito então resolveu fazer um um gorrinho
vermelho então ela foi apelidada de Chapeuzinho Vermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atare-
fada falou assim Chapeuzinho leva um uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó então a Chapeuzinho Vermelho
saiu e a mãe explicou filha você não não conversa com ninguém no bosque porque é muito perigoso então Chapeu-
zinho Vermelho encontrou com um sua vó com o lobo e ficou conversando com ele e o lobo tentou comê-la mas
aí ele pensou não eu vou se passar pelo eu vou eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou
então o lobo o lobo foi pelo caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto
e chegando lá na casa da vó da Chapeuzinho Vermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a Chapeuzinho
Vermelho mandou entrar então ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou
as roupas da da vó da Chapeuzinho Vermelho e deitou na cama fingindo está muito doente então a Chapeuzinho
Vermelho chegou e bateu na porta e a vó que na verdade era o lobo falou pode entrar é só tirar a tranca da porta
e entrar então quando a Chapeuzinho Vermelho chegou ela estranhou porque é muito tempo ela não não a via né
visto a vó mas ela estranhou que este estava pouco diferente aí ela falou vó que olho tão grande que a senhora tá
aí ele falou assim é pra te ver melhor minha netinha aí mas que nariz que nariz tão grande que a senhora tá é pra
te cheirar melhor minha netinha aí depois ela falou mas que boca tão grande vó aí o lobo se levantou falou é pra te
comer melhor então a Chapeuzinho pulou saiu começou a gritar gritar pois pela sorte da Chapeuzinho Vermelho é
que ia passando um um caçador pelo bosque e escutou o grito da Chapeuzinho Vermelho então ele correndo aden
adentrou pela casa e salvou a Chapeuzinho Vermelho do lobo e a ma matou o lobo e abriu a barriga do lobo e e
tirou e tirou a vó que ele tinha engolido e e e todos foram felizes para sempre”
NTP=397
Transcrição total afásico JM
“é de (risos) (risos) É :: da vovó aí tinha a vovó arranjou o o o o outro como é o nome dele do (risos)
também vou esquecer desse aqui né do do :: como é que é isso :: pera aí isso isso agora eu pensei aí ele vem aí
ele quer quer os doce os doce entendeu aí o que que aconteceu a do a vovó a vovó pe :: jun sentou ela né aí pera
aí deixa eu mostrar como acontece pra você aí a aí ela pegou o ra o o outro né aí pegou e falou assim não não eu
quero eu (pausa) (aí) aí o o o o primeiro né primeiro não isso primeiro é a mãe primeiro é a a menina a menina né aí
vem vem ele né aí depois ele quer falar assim falar assim ah vovó a menina fala ah vovó oh vovó vou comprar umas
doces pra você ah então tá aí quando o lo quando o lo é :: o que que aconteceu ele pegou a velhinha e se segurou
aí quando chegou na casa dela ela fala vovó vovó oh vovó aí quando foi isso veio veio um um senhor entendeu aí
ele pegou a ele pá matou ele foi isso é lindo eu adorava fazer essa história isso (risos) aí aí o que que aconteceu ela
ela tirou aí vem a vovó e a menina entendeu aí pegou né os doces e tudo (risos)”
NTP = 261
A transcrição total foi feita da seguinte forma: os bolsistas escutaram a gravação e tran-
screveram palavra por palavra proferidas pelo narrador. Todas as palavras foram transcritas fielmente
ao que foi dito. Sem haver neste momento preocupação com o que se diz, transcreve-se tudo que é
narrado.
Feitas as transcrições, seguimos critérios de exclusões, eliminando as palavras que não ser-
17Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
viriam para o teste. Dentre as palavras que ficaram para análise(denominadas palavras de narrativa,
definidas como palavras que apresentam conteúdo proporcional para contagem e análise), seleciona-
mos, então, as primeiras cento e cinquenta. Desta etapa, retiramos, então, o número de palavras total
(NPT), o número de palavras de narrativa (NPN) e as cento e cinquenta primeiras palavras de narrativa.
De todos esses números, ainda obtivemos o tempo da narrativa e marcamos o número de palavras por
minuto de narração.
A exclusão das palavras após a transcrição foi feita, como dito anteriormente, seguindo alguns
critérios específicos, que nos levaram a cortar alguns tipos de palavra, tais como: neologismos (A),
respostas diretas a uma pergunta feita pelo pesquisador (B), comentários realizados pelo controle ou
afásico (C), iniciadores habituais (D) de discurso (aí, então, entre outros), conjunções (E), introdutores
de discurso direto (F) e materiais reparados (repetições [G1], interrupções [G2], emendas [G3] e elabo-
rações [G4]).
Observe a seguir um exemplo de cada tipo de marcação para as palavras que foram excluídas:
A (figou); B (a fada deu um vestido para a Cinderela em resposta à pergunta O que a fada deu à Cindere-
la?); C (como é o nome dele do...); D (entendeu); E (ele foi e ele falou); F (a menina fala); G1 (a do a vó);
G2 (isso isso); G3 (primeiro é não isso primeiro) e G4 (é de).
Com esta etapa, chegamos às transcrições com marcações dos tipos de exclusão que deveriam
ser feitos. Ao lado de cada exclusão a ser feita, colocamos os números respectivos do tipo de exclusão.
Observe, abaixo, um exemplo de texto marcado de um controle e de um afásico:
Transcrição com marcações - Controle ZC
“Então(D) era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito então(D) resolveu fazer um(G2) um
gorrinho vermelho então(D) ela foi apelidada de Chapeuzinho Vermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe
muito atarefada falou assim(F) Chapeuzinho leva um(G2) uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó então(D) a
Chapeuzinho Vermelho saiu e a mãe explicou(F) filha você não(G1) não conversa com ninguém no bosque porque
é muito perigoso então(D) Chapeuzinho Vermelho encontrou com um sua vó(G3) com o lobo e(E) ficou conver-
sando com ele e o lobo tentou comê-la mas aí(D) ele pensou(F) não eu vou se passar pelo(G3) eu vou(G2) eu
vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou então(D) o lobo(G1) o lobo foi pelo caminho e a
Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da vó da Cha-
peuzinho Vermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a Chapeuzinho Vermelho mandou entrar então(D)
ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da(G4) da vó da
Chapeuzinho Vermelho e deitou na cama fingindo está muito doente então(D) a Chapeuzinho Vermelho chegou e
bateu na porta e a vó que na verdade era o lobo falou(F) pode entrar é só tirar a tranca da porta e entrar então(D)
quando a Chapeuzinho Vermelho chegou ela estranhou porque é muito tempo ela não(G1) não a via né(D) visto
a vó mas ela estranhou que este estava pouco diferente aí(D) ela falou(F) vó que olho tão grande que a senhora
tá aí(D) ele falou assim(F) é pra te ver melhor minha netinha aí(D) mas que nariz(G1) que nariz tão grande que a
senhora tá é pra te cheirar melhor minha netinha aí(D) depois ela falou(F) mas que boca tão grande vó aí o lobo
se levantou falou(F) é pra te comer melhor então(D) a Chapeuzinho pulou saiu começou a gritar gritar pois pela
sorte da Chapeuzinho Vermelho é que ia passando um(G4) um caçador pelo bosque e escutou o grito da Chapeu-
zinho Vermelho então(D) ele correndo aden(G4) adentrou pela casa e salvou a Chapeuzinho Vermelho do lobo e a
ma(G4) matou o lobo e abriu a barriga do lobo e(G2) e tirou(G1) e tirou a vó que ele tinha engolido e e(G2) e todos
foram felizes para sempre”
Nº de marcações = 41
Transcrição com marcações - Afásico JM
“É de(G4) ( risos ) ( risos )(D) É :: da vovó aí(D) tinha a vovó arranjou o o o(G1) o outro como é o nome
dele do (C) ( risos )(D) também vou esquecer desse aqui(C) né(D) do do (C) :: como é que é isso :: (C) pera
aí(D) isso(G2) isso agora eu pensei(C) aí(D) ele vem aí(D) ele quer quer os doce(G1) os doce entendeu(D) aí(D)
Parte II18
o que que aconteceu(G4) a do a vovó(G1) a vovó pe :: (G3) jun(G3) sentou ela né(D) aí(D) pera aí(D) deixa eu
mostrar como acontece pra você(C) aí(D) a aí(D) ela pegou o ra o(G3) o outro né(D) aí(D) pegou e falou assim(F)
não não(D) eu quero(G4) eu(G4) (pausa) (aí)(D) aí(D) o o o(G1) o(G4) primeiro(G1) né(D) primeiro é não isso
primeiro(G3) é a mãe primeiro(G3) é(G3) a(G1) a menina(G1) a menina né(D) aí(D) vem vem ele né(D) aí(D)
depois ele quer falar assim falar assim(F) ah vovó a menina fala(F) ah vovó(G3) oh vovó vou comprar umas
doces pra você ah então(D) tá aí(D) quando o lo quando(G1) o lo é :: (G1) o que que aconteceu(C) ele pegou
a velhinha e se segurou aí(D) quando chegou na casa dela ela fala(F) vovó vovó oh vovó aí(D) quando foi isso
veio(G1) veio um(G1) um senhor entendeu(D) aí(D) ele pegou a(G3) ele pá matou ele foi isso lindo eu adorava
fazer essa história isso(C) (risos)(D) aí(D) aí(D) o que que aconteceu(C) ela(G1) ela tirou aí(D) vem a vovó e a
menina entendeu(D) aí(D) pegou né(D) os doces e tudo (risos)(D)”
Nº de marcações = 77
Chegamos ao texto contendo apenas as palavras de narrativa (aquelas palavras que não são
excluídas e que servem para análise do pesquisador). Os textos dos controles e afásicos passaram,
então, de muitas palavras a um número bem menor. No caso dos afásicos, algumas transcrições das
cento e cinquenta palavras são compatíveis às transcrições após cortes, devido ao baixo número de
palavras de narrativa, não obtendo, muitas vezes, nem mesmo as cento e cinquenta:
Transcrição com cortes - Controle ZC
“Era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito resolveu fazer um gorrinho vermelho ela foi
apelidada de Chapeuzinho Vermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atarefada Chapeuzinho leva
uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó a Chapeuzinho Vermelho saiu e filha você não conversa com ninguém
no bosque porque é muito perigoso Chapeuzinho Vermelho encontrou com o lobo ficou conversando com ele e o
lobo tentou comê-la mas não eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou o lobo foi pelo
caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da
vó da Chapeuzinho Vermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a Chapeuzinho Vermelho mandou entrar
ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da vó da Chapeuzinho
Vermelho e deitou na cama fingindo está muito doente a Chapeuzinho Vermelho chegou e bateu na porta e a vó que
na verdade era o lobo pode entrar é só tirar a tranca da porta e entrar quando a Chapeuzinho Vermelho chegou ela
estranhou porque é muito tempo ela não a via visto a vó mas ela estranhou que este estava pouco diferente vó que
olho tão grande que a senhora tá é pra te ver melhor minha netinha mas que nariz tão grande que a senhora tá é
pra te cheirar melhor minha netinha depois mas que boca tão grande vó aí o lobo se levantou é pra te comer mel-
hor a Chapeuzinho pulou saiu começou a gritar gritar pois pela sorte da Chapeuzinho Vermelho é que ia passando
um caçador pelo bosque e escutou o grito da Chapeuzinho Vermelho ele correndo adentrou pela casa e salvou a
Chapeuzinho Vermelho do lobo e matou o lobo e abriu a barriga do lobo e tirou a vó que ele tinha engolido e todos
foram felizes para sempre”
Nº de palavras de narrativa: 334
Transcrição com cortes - Afásico JM
“É :: da vovó tinha a vovó arranjou o outro ele vem ele quer quer os doce a vovó sentou ela ela pegou
o outro a menina vem vem ele ah vovó oh vovó vou comprar umas doces pra você ah tá ele pegou a velhinha e se
segurou quando chegou na casa dela vovó vovó oh vovó quando foi isso veio um senhor ele pá matou ele foi isso
ela tirou vem a vovó e a menina pegou os doces e tudo”
Nº de palavras de narrativa: 82
19Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
Observe-se, como dito, que, nos textos dos afásicos, não obtivemos as cento e cinquenta
palavras requeridas, mas, mesmo assim, realizamos as análises e alcançamos nosso ideal primeiro: o
de comparar suas narrativas às dos controles. O número menor de palavras não causou problemas ou
dificuldades em nossa pesquisa. Lembramos que, por razões de compreensão, entre os controles, há al-
gumas palavras acrescidas às cento e cinquenta, contendo em média cento e cinquenta, mas, em alguns
casos, há algumas palavras a mais para completar o enunciado. Veja abaixo as palavras separadas para
análise do controle ZC e do afásico JM:
Controle - ZC
“Era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito resolveu fazer um gorrinho vermelho ela foi
apelidada de ChapeuzinhoVermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atarefada Chapeuzinho leva
uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó a ChapeuzinhoVermelho saiu e filha você não conversa com ninguém
no bosque porque é muito perigoso ChapeuzinhoVermelho encontrou com o lobo ficou conversando com ele e o
lobo tentou comê-la mas não eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou o lobo foi pelo
caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da
vó da ChapeuzinhoVermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a ChapeuzinhoVermelho mandou entrar
ele avançou na vó da ChapeuzinhoVermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da vó da Chapeuz-
inhoVermelho”
AFÁSICO: JM
“É :: da vovó tinha a vovó arranjou o outro ele vem ele quer quer os doce a vovó sentou ela ela pegou o
outro a menina vem vem ele ah vovó oh vovó vou comprar umas doces pra você ah ta ele pegou a velhinha e se
segurou quando chegou na casa dela vovó vovó oh vovó quando foi isso veio um senhor ele pá matou ele foi isso
ela tirou vem a vovó e a menina pegou os doces e tudo”
Uma pequena observação na contagem das palavras é que palavras compostas são contadas
como apenas uma. É o que ocorre com as palavras Chapeuzinho Vermelho, que são contadas como
apenas uma palavra. Após a fase de transcrição total, marcação, cortes e palavras finais, obtivemos a
seguinte tabela para cada participante (controle ou afásico):
Controles
CM RM ZC
NPT 284 613 397
TEMPO NARRATIVA 2.36 MIN 5.20 MIN 3.45 MIN
NPT/TEMPO 112.2 115,66 105.86
NPN 260 566 334
EXCLUÍDAS 24 47 41
Afásicos
RP JM RC
NPT 216 261 243
TEMPO NARRATIVA 2.78 MIN 2.14 MIN 4.50 MIN
NPT/TEMPO 65.4 121,9 31,04
NPN 141 82 149
EXCLUÍDAS 75 77 94
Parte II20
Sendo:
NPT – número de palavras total;
Tempo de Narrativa – tempo que durou a narrativa;
NPT/TEMPO – o número de palavras total pelo Tempo de Narrativa;
NPN – o número de palavras de narrativas (obtidas depois das exclusões);
EXCLUÍDAS – o número de marcações de exclusão de acordo com os critérios vistos acima. Note-se que nem sempre cada
marcação contém somente uma palavra.
	
Resultados
Separamos as NPN em enunciados, definidos como conjunto de palavras que contivesse um
sentido fechado; assim, não fizemos a divisão baseada na definição tradicional de orações. A partir de
então, demos início a um outro momento, que foi a fase da análise desses enunciados e classificação de
cada tipo de palavra que compunha esses enunciados.
Os enunciados separados foram colocados em tabelas com os seguintes itens de classificação:
tipo de enunciado em sentença (TE), tópico-comentário e outros; palavras de narrativa (PN); quantidade
de palavras consideradas de classe aberta (substantivos, verbos, adjetivos e advérbios) (CA); quantidade
de substantivos (S); número de substantivos que exigem artigo (Sart); número de substantivos que exigem
artigo e estão precedidos de artigo (SART); número de pronomes (Pro); número de verbos (V); número de
verbos principais (VP); número de verbos que deveriam estar flexionados (Vf); número de verbos que es-
tão flexionados (VF); taxa de auxiliares (cálculo de verbos que há em cada enunciado e relação entre eles)
(AUX); número de sentenças encaixadas (subordinadas) (ENC); verificação de sentença gramatical (OK);
número de constituintes do sintagma nominal (CSN) e verbal (CSV). Abaixo, demonstramos as tabelas de
um controle e de um afásico, nas quais aparecem os dezesseis itens mencionados acima:
	
CONTROLE - ZC
ENUNCIADOS TE PN CA S Sart SART Pro V VP Vf VF AUX ENC OK CSN CSV
Era uma vez uma linda menina S 6 4 2 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 0 4
a sua mãe a amava muito S 6 3 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 2
resolveu fazer um gorrinho
vermelho
S 5 4 1 1 1 0 2 1 1 1 3 0 1 1 4
ela foi apelidada de Chapeuzinho
Vermelho
S 5 3 1 0 0 1 1 1 1 1 2 0 1 1 3
a sua vó andava muito doente S 6 4 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 3
e a sua mãe muito atarefada 0 6 3 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 / /
Chapeuzinho leva uns docinho
delicioso que eu fiz para tua vó
S 11 6 3 2 2 1 2 1 2 2 4 1 1 1 6
a Chapeuzinho Vermelho saiu S 3 2 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 1
e filha você não conversa com nin-
guém no bosque porque é muito
perigoso
S 13 5 2 0 0 0 2 1 2 2 5 1 1 1 7
Chapeuzinho Vermelho encontrou
com o lobo
S 5 3 2 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 2
ficou conversando com ele S 4 2 0 0 0 1 2 1 2 2 4 0 1 1 3
e o lobo tentou comê-la S 5 3 1 1 1 1 2 1 2 2 4 0 1 1 2
mas não eu vou pedir pra acom-
panhar ela
S 8 4 0 0 0 1 3 1 1 1 5 1 1 1 4
mas num instante ela não aceitou S 6 3 0 1 1 1 1 1 1 1 3 0 1 1 2
o lobo foi pelo caminho S 5 3 2 2 2 0 1 1 1 1 2 0 1 1 2
e a Chapeuzinho foi por outro S 6 2 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 1
sendo que o lobo pegou um
caminho mais curto
S 9 5 2 2 2 0 1 1 1 1 2 0 1 1 4
21Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
e chegando lá na casa da vó da
Chapeuzinho Vermelho ele bateu
na porta
S 13 7 4 4 4 1 2 1 2 2 4 1 1 1 2
e a vó pensando que era a Chapeu-
zinho Vermelho mandou entrar
S 10 6 2 2 2 0 4 1 2 2 7 1 1 1 2
ele avançou na vó da Chapeuzinho
Vermelho
S 6 3 2 2 2 1 1 1 1 1 2 0 1 1 3
E a engoliu S 3 1 0 0 0 1 1 1 1 1 2 0 1 1 2
E rapidamente ele colocou as
roupas da vó da Chapeuzinho
Vermelho
S 10 5 3 3 3 1 1 1 1 1 2 0 1 1 4
TOTAL 151 81 32 27 27 10 32 21 27 27 63 5 22 20 63
AFÁSICO - JM
ENUNCIADOS TE PN CA S Sart SART Pro V VP Vf VF AUX ENC OK CSN CSV
É :: da vovó / 3 1 1 / / / 1 1 1 1 2 / / / 2
tinha a vovó S 3 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 / 2
arrranjou S 1 1 / / / / 1 1 1 1 2 / 1 1 1
o outro / 2 / / / / / / / / / / / / / /
ele vem S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1
ele quer S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1
quer os doce S 3 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 1 2
a vovó sentou ela S 4 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 / 1 1 2
ela pegou o outro S 4 1 / 1 1 1 1 1 1 1 2 / 1 1 2
a menina vem S 3 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 1 1
vem ele S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1
ah vovó, oh vovó vou comprar
umas doces pra você
S 10 5 3 1 / / 2 1 1 1 3 / 1 1 3
ah tá / 2 / / / / / / / / / / / / / /
ele pegou a velhinha e se segurou S 7 3 1 1 2 1 2 2 2 2 4 / 1 2 4
quando chegou na casa dela S 5 2 1 / / / 1 1 1 1 2 / 1 1 3
vovó vovó oh vovó / 4 3 3 / / / / / / / / / / / /
quando foi isso, veio um senhor S 6 3 1 / / / 2 1 2 2 4 1 1 1 3
ele pá matou ele S 4 1 / / / 2 1 1 1 1 2 / 1 1 2
foi isso S 2 2 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 / 2
ela tirou S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1
vem a vovó e a menina S 6 3 2 2 2 / 1 1 1 1 2 / 1 2 1
pegou os doces e tudo S 5 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 1 3
TOTAL 82 39 10 10 10 20 21 21 43 1 18 18 37
Todo o trabalho realizado até aqui e os que seguem foram feitos por duas bolsistas, para
comparação e segurança de dados. Gravação, transcrição, classificação e demais tarefas foram feitas
duas vezes, comparadas e, ainda, reclassificadas, mediante divergências. É importante ressaltar que as
diferenças apresentadas foram de um número baixo.
Após a etapa das classificações de cada enunciado, partimos para uma nova etapa, de acordo
com o texto de Rochon et al. (2000), que é a de classificação de acordo com treze itens. São números
e cálculos baseados nas tabelas de classificação, como foi visto acima. Nessas tabelas, demonstramos
números gerais e completos para cada controle e afásico.
Parte II22
Os treze itens que compõem estas tabelas são os seguintes:
1. Taxa de classe fechada (palavras que são classificadas como classe fechada);
2. Taxa de artigos por substantivos (relação de substantivos que foram corretamente determi-
nados por artigos);
3. Proporção de pronomes nos enunciados;
4. Proporção de verbos utilizados;
5. Índice de flexão dos verbos;
6. Elaboração de auxiliares (relação dos verbos entre si dentro dos enunciados);
7. Proporção de palavras por sentenças;
8. Proporção de sentenças bem formadas;
9. Elaboração estrutural das sentenças;
10. Índice de encaixamento (quantidade e relação das orações subordinadas com principais);
11. Média de palavras por enunciado;
12. Taxa de fala (palavras por minuto de narração);
13. Medida de esforço do falante.
Vale, aqui, apresentar as tabelas de treze itens de cada participante, controles e afásicos. En-
tendemos a importância de se apresentar a tabela final de treze itens de todos os informantes (controles
e afásicos) para questão de comparação e comprovação de nossa pesquisa. Abaixo, seguem as tabelas
formuladas após o fechamento das tabelas de classificação de enunciados de cada pesquisado:
Controles
Tabela dos Treze Itens - CM
Taxa de CF 0,42
Taxa de Artigos/Substantivos 1
Proporção de Pronomes 0,1
Proporção de Verbos 0,53
Índice de Flexão 1
Elaboração de Aux 2,11
Proporção de Palavras em Sentenças 0,98
Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,94
Elaboração Estrutural das Sentenças 4,55
Índice de Encaixamento 0,38
Média de Palavras do Enunciado 8,44
Taxa de Fala 101,92
Medida de Esforço 0,93
Tabela dos Treze Itens - RM
Taxa de CF 0,43
Taxa de Artigos/Substantivos 1
Proporção de Pronomes 0,06
Proporção de Verbos 0,39
Índice de Flexão 1
Elaboração de Aux 2,35
Proporção de Palavras em Sentenças 0,98
Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,93
Elaboração Estrutural das Sentenças 5,9
Índice de Encaixamento 0,43
Média de Palavras do Enunciado 10,12
Taxa de Fala 106,19
23Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
Medida de Esforço 0,92
Tabela dos Treze Itens - ZC
Taxa de CF 0,46
Taxa de Artigos/Substantivos 1
Proporção de Pronomes 0,23
Proporção de Verbos 0,5
Índice de Flexão 1
Elaboração de Aux 2
Proporção de Palavras em Sentenças 0,96
Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,95
Elaboração Estrutural das Sentenças 4
Índice de Encaixamento 0,22
Média de Palavras do Enunciado 6,86
Taxa de Fala 89,06
Medida de Esforço 0,82
Afásicos
Tabela dos Treze Itens - RC
Taxa de CF 0,31
Taxa de Artigos/Substantivos 1
Proporção de Pronomes 0,38
Proporção de Verbos 0,65
Índice de Flexão 1
Elaboração de Aux 1,26
Proporção de Palavras em Sentenças 0,92
Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,86
Elaboração Estrutural das Sentenças 2,91
Índice de Encaixamento 0,08
Média de Palavras do Enunciado 4,02
Taxa de Fala 33,11
Medida de Esforço 0,57
Tabela dos Treze Itens - RP
Taxa de CF 0,36
Taxa de Artigos/Substantivos 1
Proporção de Pronomes 0,66
Proporção de Verbos 0,86
Índice de Flexão 1
Elaboração de Aux 1,75
Proporção de Palavras em Sentenças 0,84
Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,82
Elaboração Estrutural das Sentenças 2,68
Índice de Encaixamento 0
Média de Palavras do Enunciado 4,7
Taxa de Fala 62.42
Medida de Esforço 0,68
Parte II24
Tabela dos Treze Itens - JM
Taxa de CF 0,52
Taxa de Artigos/Substantivos 1
Proporção de Pronomes 0,37
Proporção de Verbos 0,56
Índice de Flexão 1
Elaboração de Aux 1,15
Proporção de Palavras em Sentenças 0,9
Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,81
Elaboração Estrutural das Sentenças 3,07
Índice de Encaixamento 0,05
Média de Palavras do Enunciado 4,55
Taxa de Fala 38,31
Medida de Esforço 0,31
Agora, de forma esquematizada, e para melhor visualização das comparações que podem ser
traçadas entre a fala afásica e a dos controles, apresentamos uma tabela única, com os 13 itens e os
gráficos de cada um deles:
Afásicos Controles
Itens RP JM RC Itens RM ZC CM
1 0,36 0,52 0,31 1 0,43 0,46 0,42
2 1 1 1 2 1 1 1
3 0,66 0,37 0,38 3 0,06 0,23 0,1
4 0,86 0,56 0,65 4 0,39 0,5 0,53
5 1 1 1 5 1 1 1
6 1,75 1,15 1,26 6 2,35 2 2,11
7 0,84 0,9 0,92 7 0,98 0,96 0,98
8 0,82 0,81 0,86 8 0,93 0,95 0,94
9 2,68 3,07 2,91 9 5,9 4 4,55
10 0 0, 05 0,08 10 0,43 0,22 0,38
11 4,7 4,55 4,02 11 10,12 6,86 8,44
12 62,42 38,31 33,11 12 106,19 89,06 101,92
13 0,68 0,31 0,57 13 0,92 0,82 0,93
25Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
Parte II26
27Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
Parte II28
29Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
Resultados e Comentários
O intuito deste capítulo foi apresentar os resultados gerais de uma pesquisa que investiga o
conceito de fluência nas afasias. O termo “gerais” refere-se aos números superficiais, não trabalhados,
gerados pelas classificações realizadas de acordo com a proposta metodológica apontada na Introdução.
Com isso, não se pensou em realizar um trabalho que pudesse ser comparado com os realizados por
grupos de pesquisa que se aprofundam em análises dos resultados. Qual foi, então, o real intuito deste
capítulo?
Pode-se dizer que foi trazer à tona a discussão sobre uma opção metodológica de definição do
conceito de “fluência”. Ao levantar a hipótese de aspectos morfológicos, sintáticos e outros relacionados
à taxa de palavras por minuto, este estudo deseja fornecer ferramentas para que se possa pensar em
uma prática de conceitualizar fluência. Essa prática reflete a disposição do diálogo entre Fonoaudiologia
e Linguística, que pode ser realizado a contento. Desse modo, de posse de tal proposta metodológica,
o fonoaudiólogo pode detalhar melhor o perfil de seu paciente e entender o foco de seus problemas. Ao
se apresentar a divisão entre morfologia e sintaxe, poderá o fonoaudiólogo observar qual desses níveis
encontra-se mais afetado em determinado paciente. Além disso, uma vez tendo descrito o desempenho
de determinado paciente, pode-se pensar em proceder a uma análise de grupos de pacientes, com a
finalidade de verificar se alguns sintomas (como problemas exclusivamente sintáticos, por exemplo)
ocorrem com frequência ou não. Agindo desse modo, o fonoaudiólogo ainda estará contribuindo com as
pesquisas linguísticas, uma vez que terá um conjunto de dados significativos que servirão de base para
o refinamento das classificações e dos critérios a serem adotados em futuras pesquisas. Nesse ponto,
o linguista pode fornecer novas propostas metodológicas, partindo da contribuição do fonoaudiólogo,
fechando e continuando o diálogo produtivo entre essas duas áreas.
Referências
ROCHON, E., SAFFRAN, E., BERNDT, R., SCHWARTZ, M. (2000). Quantitative analysis of aphasic sen-
tence production: further development and new data. Brain and Language 72: 193-218.
SAFFRAN, E. M., BERNDT, R. S., SCHWARTZ, M. F. (1989). The quantitative analysis of agrammatic pro-
duction: Procedure and data. Brain and Language 37: 440–479.
Parte II30
Nomeação de
figuras por afásicos
no português
brasileiro
Capítulo III
Ricardo Joseh Lima (Uerj)
Daniele Caiafa Rosa (Uerj - Extensão)
Juliana da Adauto Pereira (Uerj - Extensão)
Solange Iglesias de Lima (UVA - Proatec - Uerj)
31Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro
Introdução
E
ste capítulo traz os resultados de uma pesquisa iniciada em fevereiro de 2008 com o
objetivo de avaliar habilidades de nomeação de figuras em falantes afásicos. Sua preo-
cupação central foi construir um material que estabelecesse as bases para pesquisas
mais aprofundadas, que consigam se aprofundar na análise da seletividade dos erros
cometidos pelos afásicos nesse tipo de tarefa.
A seção 2 descreve os aspectos metodológicos da pesquisa e, na seção 3, apresentamos os
resultados. A seção 4 encerra o capítulo com comentários gerais a respeito desse tipo de pesquisa.
Metodologia
Nesta seção, serão apresentadas algumas considerações sobre a metodologia que serviu de
base a esta pesquisa. Em primeiro lugar, no próximo item, é apresentada a descrição dos materiais, em
seguida, os sujeitos e, por fim, detalhamos os procedimentos de aplicação do teste.
Materiais
Para confecção do teste de nomeação, foram elaboradas 19 categorias, cada qual com 8 nomes
correspondentes, totalizando, portanto, 152 desenhos. Essa quantidade de desenhos foi necessária para
que se tivesse um número razoável de nomes em cada categoria. Caso houvesse um baixo número (ap-
enas dois ou três) em cada categoria, em caso de erro pelo afásico, não se poderia concluir se o afásico
tem problemas em nomear elementos de determinada categoria. A tabela com as categorias e os nomes
está na Terceira Parte deste livro.
Durante a elaboração das categorias, algumas palavras foram pensadas, mas, depois, retiradas
do material por serem consideradas raras ou difíceis de desenhar. Esse foi o caso da palavra PRESUNTO,
que ao ser desenhado, ficou difícil de ser reconhecido, e das palavras CAMALEÃO e LAGARTIXA, que
quando desenhados, tiveram difícil reconhecimento por não haver diferenças marcantes à primeira vista
entre estes animais.
Em outra situação, categorias inteiras tiveram que ser unidas, transformando-se em uma nova
categoria. Foi o caso das categorias dos ANFÍBIOS e dos RÉPTEIS, que se uniram na categoria OUTROS.
Essa união foi necessária porque não se conseguiu preencher a quantidade estipulada de oito nomes que
obedecessem aos critérios de frequência e identificabilidade por categoria.
Parte II32
Para a confecção do material, foram pesquisados outros testes de moldes parecidos, como o
conhecido teste da ABFW (ANDRADE, BEFI-LOPES, FERNANDES  WERTZNER, 2000), que, no entanto,
foi elaborado de modo a ser voltado para crianças, o teste de BOSTON (GOODGLASS  KAPLAN, 1972)
e o teste “dos 400” (CYCOWICZ et al., 1997), que além de apresentar desenhos de difícil reconhecimento,
continha palavras com certo distanciamento cultural, como, por exemplo, as palavras LUVA DE BASE-
BALL, CAPACETE DE FUTEBOL AMERICANO, TACO DE BASEBALL etc.
Com as categorias já completas e definidas, buscou-se uma pessoa para desenhar os objetos.
A aluna da Uerj Elaine Mendes da Silva aceitou o trabalho e confeccionou de forma manual os desenhos,
que depois foram passados para o computador pelo processo de digitalização de imagens, por meio de
um scanner.
Sujeitos
A pesquisa contou com dois grupos de participantes. O primeiro, composto pelos não afásicos
(controles), os quais nos ofereceram instrumento para comparação do desempenho dos pacientes afási-
cos, ao passo que o segundo grupo corresponde aos sujeitos investigados.
O grupo de afásicos participante nesta pesquisa é formado por três homens e duas mulheres.
Para preservar suas identidades, eles serão identificados como CL, RC, ZB, CS e RP 
.
Os controles foram divididos em dois grupos, sendo o primeiro de 32 alunos universitários (es-
tudantes de Letras) e o segundo, de cinco que têm perfil semelhante aos dos pacientes afásicos. Foram,
portanto, SA, do sexo masculino, na idade de 53 anos e Ensino Médio; RQ, homem, 54 anos, Nível Médio;
EX, mulher, 49 anos, Ensino Médio; CQ, mulher, 50 anos, Nível Médio; WJ, homem, 21 anos, Nível Médio.
O primeiro grupo foi criado para avaliar se havia figuras que estariam causando dificuldades na nomea-
ção e se havia nomes alternativos ao que havíamos pensado para as figuras. Assim, por exemplo, a figura
do ”tomate” levou a um número razoável de incertezas (com muitos nomeando-a como “abóbora”), e a
figura da ”salsicha” foi nomeada como “cachorro-quente”, que passou a ser aceito como nome correto.
Com isso, pôde-se aplicar o teste ao segundo grupo e, em seguida, aos afásicos.
Procedimentos de aplicação
Com o objetivo de evitar repetição de erros na nomeação das figuras devido a cansaço dos
participantes, elaboraram-se quatro arquivos nos quais as figuras apareciam organizadas de maneiras
diferentes. Estes arquivos foram nomeados COND. O total de figuras era de 152, e na COND. 1, estavam
organizadas sequencialmente de 1-76 e de 77-152. A COND. 2, tinha as figuras distribuídas de 1-76 e de
152-77. Na COND. 3, a sequência era de 76-1 e de 77-152. Finalmente, na COND. 4, apresentavam-se de
76-1 e de 152-77. Desta maneira, na aplicação da avaliação, as sequências eram distribuídas de acordo
com o número de participantes, para que não houvesse excesso de aplicação de uma mesma sequên-
cia.
Todas as avaliações foram aplicadas por estudantes de Letras bolsistas do PLCD e gravadas
em áudio, para posterior avaliação da nomeação.
O material foi inicialmente apresentado aos 32 controles (estudantes universitários), na sala do
PLCD, na Uerj. Para a maioria, foi dividido em duas etapas: a primeira até a metade da apresentação, e a
segunda até o fim, havendo um pequeno intervalo, de aproximadamente 5 minutos, entre uma e outra. O
tempo de duração das gravações foi, em média, de 6 min 29 seg.
 Ver detalhes sobre idade, local da lesão, etiologia etc. no Apêndice.
 Todos os sujeitos participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual afirmavam estar
cientes dos objetivos da pesquisa e permitiam a divulgação dos resultados obtidos. Estes termos estão registrados na
Comissão de Ética em Pesquisa (COEP) da Uerj, sob o número 067/2007.
33Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro
Para os controles RQ, AS, WJ, EX e CQ, as avaliações foram feitas em suas residências, e
buscou-se um ambiente tranquilo, protegido de barulho e ruídos, com o objetivo de não desviar a aten-
ção dos participantes e tampouco comprometer a qualidade da gravação. Antes de iniciar as sessões, o
objetivo da pesquisa e a relevância de suas participações foram esclarecidos para estes controles. Além
disso, visto que nenhum deles conhecia o termo afasia, e todos queriam saber se havia a possibilidade
de serem afásicos, aproveitou-se o momento para elucidar dúvidas sobre o quadro clinico de pacientes
afásicos. Posteriormente, explicadas as etapas, foram informados de que seriam gravados e da neces-
sidade do preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Todos os controles optaram por não fazer o intervalo na apresentação e prosseguiram a aval-
iação em uma única etapa. O controle RQ concluiu em 5min 47s, AS, em 8min 26s e WJ, em 7min 44s.
As mulheres EX e CQ efetuaram em 7min 03s e 5min 31s, respectivamente.
Os encontros com os afásicos foram na própria clínica onde faziam seus tratamentos. As ses-
sões para aplicação da avaliação eram individuais e conduzidas por um estudante de Letras.
O período de aplicação e a quantidade de sessões necessárias para o encerramento da aval-
iação variaram de acordo com o desempenho e vontade (pois tinham a liberdade de pedir para encerrar
a avaliação no momento em desejassem) de cada paciente. A participante RC concluiu em apenas uma
etapa, em uma sessão de 11min 57s, enquanto o CL, em duas etapas, que duraram somadas 16min 41s,
pois este se serviu de um intervalo de aproximadamente 4 min. E a participante ZB, em uma sessão com
um pequeno intervalo entre uma sequência de slides e outra, realizando por completo em 26min 33s.
Os outros dois participantes precisaram de duas sessões, em dias alternados, para concluir
a avaliação. Ambos utilizaram um intervalo de aproximadamente cinco minutos entre cada etapa. O
paciente CM concluiu em duas etapas, com o total de 26min 72s. RB realizou em quatro etapas, sendo
a primeira sessão dividida em duas etapas, somando 27min 11s, e a segunda sessão, também em duas
etapas, que totalizaram 51min 63s.
Resultados
Como apontado na Introdução, não foi o objetivo desta pesquisa realizar análises e aprofunda-
mentos dos resultados aqui obtidos. Seu intuito foi o de enfatizar as práticas metodológicas que surgem
do diálogo entre a Linguística e a Fonoaudiologia e direcionar análises de resultados a partir dessa par-
ceria.
Desse modo, nos limitamos a apresentar de forma geral e esquematizada alguns resultados,
que serão comentados brevemente, em particular:
Nomes que levaram ao erro
Na tabela 1, observamos os nomes, separados por categoria, que levaram os participantes da
pesquisa a cometerem erros em sua nomeação. Os nomes que estão em negrito levaram ao erro tanto
controles quanto afásicos; os que estão sem formatação levaram ao erro apenas os afásicos.
Tabela 1 – Nomes que levaram ao erro
Alvo Quantidade Categoria
Tucano 2 Aves
Pombo 1 Aves
Pica-pau 2 Aves
Beija-flor 1 Aves
Pinguim 1 Aves
Patins 1 Brinquedos
Parte II34
Gangorra 1 Brinquedos
Pião 1 Brinquedos
Dominó 1 Brinquedos
Chuveiro 3 Objetos do lar
Pia 1 Objetos do lar
Colher 1 Objetos do lar
Machado 3 Ferramentas
Chave de fenda 2 Ferramentas
Hospital 2 Imóveis
Estádio 2 Imóveis
Escola 1 Imóveis
Violino 2 Instrumentos musicais
Sanfona 1 Instrumentos musicais
Pandeiro 1 Instrumentos musicais
Ovelha 1 Animais domésticos
Gato 1 Animais domésticos
Tigre 2 Animais selvagens
Golfinho 2 Animais marinhos
Lagartixa 1 Animais (outros)
Orelha 1 Partes do corpo
Cozinheiro 1 Profissões
Policial 1 Profissões
Calça 2 Roupa
Saia 1 Roupa
Camisa 1 Roupa
Metrô 1 Meios de transporte
Pente 1 Objetos de uso pessoal
Escova de dente 1 Objetos de uso pessoal
Chuchu 1 Vegetais
Detalhamento dos erros dos afásicos
Na tabela 2, são apresentados os erros cometidos por cada afásico. Considerou-se erro so-
mente a nomeação que não era idêntica à esperada e que não era fruto de problemas no desenho do nome
ou que fosse um nome alternativo. Assim, as nomeações do “tomate” como “abóbora” e de “quadro ne-
gro” como “professor” não foram contadas como erros. Essa decisão também valeu para as respostas
fornecidas pelos indivíduos controles.
Tabela 2 – Erros cometidos pelos afásicos
Alvo Erro Afásico
Golfinho Peixe CL
Pandeiro Tamborim CL
Chuchu Fruta CL
Policial Caçador CL
Chuveiro Banheiro CS
Calça Jeans CS
Patins Patinete CS
Violino Violão CS
Golfinho Foca CS
Sanfona Piano CS
35Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro
Tucano Arara CS
Machado Martelo CS
Pombo Passarinho CS
Pente Escova CS
Ovelha Zebra CS
Hospital Médico CS
Pica-pau Passarinho CS
Tigre Pantera CS
Cozinheiro Restaurante CS
Chuveiro Guarda-chuva RC
Violino Violão RC
Tucano Pica-pau RC
Machado Martelo RC
Hospital Ambulância c/ cara na cadeira RC
Pica-pau Papagaio RC
Tigre Onça RC
Gangorra Brinquedo RC
Escova de dente Pasta RC
Estádio Futebol RC
Pião Brinquedo RC
Pia Água com copo RC
Colher Panela RC
Lagartixa Besouro RC
Chave de fenda Gira fenda RC
Dominó Brinquedo RC
Beija-flor Pica-pau RC
Gato Onça RC
 
Chuveiro Chuva RP
Calça Roupa RP
Machado Pá RP
Estádio Bola RP
Chave de fenda Chaves RP
Saia Roupa RP
Metrô Direto RP
Escola Os meninos andando para lá, para comer RP
Camisa Roupa RP
Orelha Olho RP
Pinguim Pinto RP
Frequência dos nomes do teste
A título de ilustração, seguem as médias e medianas das frequências dos nomes que formaram
cada categoria. As frequências foram obtidas a partir do corpus NILC/São Carlos (disponível na Internet,
no endereço http://www.linguateca.pt/acdc/, acessado em novembro de 2008):
Tabela 3 - Médias e medianas das frequências dos nomes que formaram cada categoria
Categorias Média Mediana
Imóveis 5079,375 3131
Profissões 3387 1974
Meios de transporte 3071,875 1176,5
Partes do corpo 2534,125 1598,5
Elementos da natureza 1256,125 1085
Parte II36
Brinquedos 666,875 65
Roupas 661,375 527
Animais domésticos 486,5 367,5
Objetos do lar 415,375 302,5
Objetos de uso pessoal 372,75 349
Alimentos feitos pelo homem 331 296,5
Vegetais 270,5 166,5
Instrumentos musicais 201 134
Animais (outros) 175,8 165,5
Animais marinhos 160,25 156,5
Frutas 144,75 139
Animais selvagens 140 123
Ferramentas 94,75 80
Aves 53,5 40
Estudos posteriores poderão revelar se há alguma tendência tanto em controles como em
afásicos em nomear erradamente figuras que correspondem a nomes pouco frequentes. De modo geral
isso, é o que parece acontecer com os controles, mas não com os afásicos, se levarmos em conta a
média, mas com os dois grupos, se levarmos em conta a mediana. A média de frequência dos 152 itens
do teste é 1026,4 (com mediana 230); a média de frequência das nomeações erradas dos controles foi de
264,33 (com mediana 125); já a média de frequência das nomeações erradas dos afásicos foi de 873,5
(com mediana de 118).
Categorias que induziram ao erro
Na tabela 4, contabilizaram-se os erros divididos por categoria, a fim de comparar afásicos
e controles. Como se pode perceber, algumas categorias não produziram nenhum erro por parte de
nenhum grupo (Alimentos feitos pelo homem e Natureza); outras categorias apresentaram mais dificul-
dades somente para um grupo (caso dos Instrumentos musicais para os controles, mas não para os
afásicos, e caso das Roupas para os afásicos, mas não para os controles).
Tabela 4 – Comparação do número de erros por categoria entre controles e afásicos
Categoria Afásicos Controles
Aves 5 7
Brinquedos 4 4
Objetos do lar 3 0
Imóveis 3 2
Instrumentos musicais 3 6
Roupas 3 0
Ferramentas 2 4
Animais domésticos 2 3
Profissões 2 2
Objetos de uso pessoal 2 0
Animais selvagens 1 3
Animais marinhos 1 7
Animais (outros) 1 2
Partes do corpo 1 0
Meios de transporte 1 2
Vegetais 1 2
Alimentos feitos pelo homem 0 0
Frutas 0 1
Elementos da natureza 0 0
37Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro
Comentários finais
Conforme apontado na Introdução, não foi objetivo deste estudo realizar uma pesquisa apro-
fundada e detalhada sobre as características dos processos que envolvem a nomeação em afásicos.
Nosso intuito foi o de apresentar questões metodológicas que auxiliarão nas análises linguísticas deste
tema.
Alguns itens merecem destaque. Em primeiro lugar, a busca por um número razoável de ocor-
rências de nomes em uma classe é essencial para se ter noção se o afásico possui dificuldades em
nomear elementos pertencentes a essa classe. O controle da frequência do item também pode ter rele-
vância: itens que ocorrem muito frequentemente na fala podem ser mais facilmente acessados pelos
afásicos do que aqueles que raramente são pronunciados ou ouvidos. A criação de listas de aplicação
também é um critério importante: se todos os itens forem apresentados na mesma ordem para vários
afásicos, corre-se o risco de os itens que aparecerem por último apresentarem maior dificuldade na no-
meação porque estão por último, e fatores como cansaço podem ocasionar erros. O balanceamento dos
itens em diversas ordens inibe esses fatores.
	 Por fim, não se deve deixar de mencionar que o teste de nomeação não admite em uma
primeira etapa pistas para o afásico, quer elas sejam fonológicas (os primeiros sons da palavra) ou
semânticas (para que um item serve, qual é sua forma etc.). Isso porque a dificuldade do afásico pode
estar justamente em um desses aspectos. O uso de pistas pode vir em uma segunda etapa, somente
a partir da análise do desempenho do afásico na primeira etapa. Em nossos dados, observamos que o
afásico CS nomeia “golfinho” como “foca”, uma troca que pode ser analisada como semântica, já que
são animais marinhos e a estrutura fonológica das palavras não é semelhante. Já o afásico RP nomeia
“pinguim” como “pinto” – embora sejam animais, a maior semelhança aparente entre eles é a sílaba
inicial (“pin”).
Referências
ANDRADE, C.; BEFI-LOPES, D.; FERNANDES, F.; WERTZNER, H. ABFW - Teste de linguagem infantil: nas
áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática. Pro Fono: São Paulo, 2000.
GOODGLASS, H., KAPLAN, E. The assessment of aphasia and related disorders. Philadelphia, PA: Lea
and Febirger, 1972.
CYCOWICZ, Y. M., FRIEDMAN, D., ROTHSTEIN, M.,  SNODGRASS, J.G. Picture naming by young chil-
dren: norms for name agreement, familiarity, and visual complexity. Journal of Experimental Child Psy-
chology, 65:171-237, 1997.
Parte II38
Aspectos
metodológicos
na avaliação da
compreensão
de agramáticos
afásicos de broca
Capítulo IV
Clara Villarinho (Doutoranda PUC-Rio)
39Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca
Introdução
A
metodologia experimental usada com fins de pesquisa fundamenta-se na utilização
de testes que permitam isolar os fatores que se intentam estudar de outras possíveis
influências, e, por isso, requer uma atenção minuciosa a uma série de aspectos rela-
cionados aos procedimentos e materiais utilizados. A escolha do tipo de teste a ser
empregado torna-se essencial, a depender dos objetivos buscados nessa investigação, e cada uma de
suas partes deve ser pensada mantendo-se esse objetivo em foco. No caso de uma pesquisa linguística,
os testes devem levar em conta não apenas o tipo de tarefa, que deve ser adequado à realidade do indi-
víduo que o realizará e coerente para as estruturas investigadas, mas também o tipo de sentença
que
constará do teste e sua formação. Este capítulo tem como objetivo apresentar um processo de elabora-
ção de experimentos voltados para a avaliação linguística de pacientes afásicos, além de discutir alguns
pontos relevantes a respeito das questões metodológicas envolvidas na construção e aplicação desses
testes, em especial quando estas podem se refletir nos resultados da pesquisa.
Os experimentos apresentados nesse capítulo são os utilizados na pesquisa de Villarinho (2008)
para testar a compreensão de afásicos de Broca, clinicamente classificados como agramáticos, em sen-
tenças ativas, passivas, e interrogativas QU de sujeito e objeto, com o intuito de avaliar em que medida
os resultados dos pacientes poderiam ser condizentes com um padrão geral que os caracterizaria como
um grupo, o que não é consensual entre os autores da área e vem sendo amplamente discutido por meio
de diversos trabalhos (cf. VILLARINHO, 2008, para uma revisão). Essas sentenças foram escolhidas,
pois permitem a oposição entre as versões com e sem movimento de sintagmas (respectivamente, as
passivas e interrogativas de objeto, e as ativas e interrogativas de sujeito), que seria crucial para a car-
acterização desse padrão, no qual se preveria que o grupo, de forma homogênea, apresentaria um des-
empenho problemático nas primeiras e um comportamento quase perfeito nas segundas (GRODZINSKY,
1990 e trabalhos subsequentes), o que se deveria a uma dificuldade na atribuição de papéis temáticos
aos sintagmas nominais movidos
.
Para essa avaliação, foram escolhidos dois tipos de teste – o teste de correspondência sen-
tença-gravura e um tipo de teste de encenação –, que, como se verá adiante, podem ser considerados os
mais adequados às estruturas testadas e às dificuldades dos pacientes afásicos. Assim, neste capítulo,
os detalhes de ambos os paradigmas experimentais e sua influência nos resultados serão discutidos.
Para tal, a próxima seção trará uma descrição geral dos dois testes e de sua metodologia geral e ex-
plicará os principais motivos para sua escolha. As duas seções seguintes apresentarão de forma mais
especifica os experimentos utilizados na pesquisa de Villarinho (2008), demonstrando sua elaboração
e procedimentos de aplicação, além dos problemas metodológicos encontrados em cada um deles e
 O termo sentença é utilizado, nos estudos linguísticos, para designar uma unidade gramatical composta por uma ou mais orações (expres-
sando uma proposição e incluindo minimamente um predicado e um sujeito, explícito ou implícito).
 Alguns trechos desse capítulo são adaptações do texto no trabalho original em Villarinho (2008), especialmente nas seções de descrição
dos dois experimentos da pesquisa.
Parte II40
os resultados obtidos. A última seção do capítulo trará alguns comentários finais acerca das questões
discutidas aqui.
Apresentação das metodologias
Como foi mencionado anteriormente, os testes empregados na pesquisa foram escolhidos
por demonstrarem-se os mais adequados, em termos metodológicos, às sentenças investigadas e aos
participantes da tarefa. Tendo-se em vista que esses testes podem ser aplicados também, com algu-
mas alterações, a outros tipos de estrutura e com outros grupos de indivíduos
, considerou-se que um
teste simples de correspondência sentença-gravura seria o ideal para a testagem das sentenças ativas
e passivas, enquanto as interrogativas deveriam ser investigadas em um tipo de teste de encenação,
uma vez que outras metodologias têm se apresentado problemáticas, por não atenderem às restrições
necessárias para uma adequação metodológica (VILLARINHO E FORSTER, 2007). Assim, essa seção
será dedicada à explicitação das características gerais dos dois tipos de testes, bem como os motivos
que levaram à sua escolha.
Correspondência sentença-gravura
De um modo geral, no teste de correspondência sentença-gravura (doravante CSG), é apre-
sentado ao participante um dado número de figuras que refletem o assunto investigado, e uma sentença
é falada ou reproduzida pelo experimentador. O participante é, então, solicitado a escolher, dentre as
gravuras apresentadas, aquela que possui um significado correspondente à sentença-teste. Pode-se
dizer que esse seja o tipo de paradigma experimental mais utilizado na literatura sobre o agramatismo,
na avaliação do desempenho desses pacientes em diferentes tipos de estrutura (CARAMAZZA E ZURIF,
1976; GRODZINSKY, 1989; HICKOK, ZURIF E CANSECO-GONZALEZ, 1993; LUKATELA, SHANKWEILER
E CRAIN, 1995; BERETTA ET AL,1996; HERMONT, 1999; LAW E LEUNG, 2000; BURCHERT, BLESER E
SONNTAG, 2001). Por esse motivo, as particularidades desse teste costumam variar de acordo com os
objetivos de cada estudo, principalmente com relação ao tipo e quantidade de gravuras apresentadas
ao participante, embora algumas variações dessa espécie possam se mostrar problemáticas se a es-
colha das figuras em relação às sentenças não for cuidadosa, uma vez que, em uma tarefa de escolha
obrigatória entre respostas já dadas, diferentes possibilidades de opções geram diferentes padrões de
resposta, dependendo de como a língua está afetada (GRODZINSKY E MAREK, 1988).
Esse problema é, no entanto, minimizado, ao se utilizar esse tipo de teste na avaliação de estru-
turas não muito complexas, como as ativas e as passivas, para as quais se mostra bastante adequado,
já que, como ficará claro mais adiante, pode ser aplicado em uma versão simples, motivo pelo qual foi
o paradigma experimental escolhido para testá-las. Além disso, esse tipo de teste mostra vantagens em
comparação a outras metodologias, pois não requer habilidades que poderiam ser processualmente, ou
mesmo fisicamente, custosas para os afásicos (já que, como se sabe, os déficits linguísticos podem ser
acompanhados de outros tipos de deficiência), e por permitir um amplo controle de possíveis fatores
que poderiam influenciar seu resultado final. Dessa forma, pode-se considerar que essas tenham sido as
características que levaram o paradigma de correspondência sentença-gravura a ser o mais largamente
utilizado na literatura para testar especificamente esses tipos de sentença (MIERA E CUETOS, 1998;
BERETTA E MUNN, 1998; HERMONT, 1999; BURCHERT, DE BLESER E SONNTAG, 2001; CARAMAZZA
ET AL., 2005, entre outros).
	 	 Na literatura em psicolinguística, ambos os testes são comumente utilizados para testar, por exemplo,
crianças em fase de desenvolvimento linguístico, e indivíduos com déficits que envolvam a língua, como o Déficit Espe-
cificamente Linguístico e o Déficit de Aprendizagem (cf. CORRÊA, 2006).
41Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca
Encenação
Existem, nas pesquisas sobre o agramatismo e a afasia de Broca, dois tipos de metodologia de
encenação. Em um dos tipos, que talvez seja o mais comumente utilizado para testar diferentes tipos de
estrutura, especialmente as estruturas relativas e clivadas (CAPLAN, HILDEBRANDT E MAKRIS, 1996;
CAPLAN E FUTTER, 1986; HAGIWARA E CAPLAN, 1990, RIGALLEAU, BAUDIFFIER E CAPLAN 2004, en-
tre outros), uma sentença é dita pelo experimentador, e o participante deve realizar uma cena, utilizando
bonecos, que corresponda à sentença (algumas vezes, o experimentador pode realizar parte da cena, que
deve ser completada pelo participante [FIGUEIREDO, 1999]). No outro tipo, é o experimentador quem
realiza a cena, a respeito da qual, em seguida, é feita ao participante uma pergunta, que deve ser re-
spondida apontando-se algum dos personagens envolvidos na encenação. Os materiais utilizados nesse
teste, portanto, são apenas os bonecos necessários à encenação, sendo sua quantidade e tipo variáveis
de acordo com os objetivos do estudo, o que deve ser adequadamente pensado, para que não surjam
problemas de ordem metodológica, como no caso mencionado no paradigma de correspondência sen-
tença-gravura (cf. GRODZINSKY, 1986b).
Naturalmente, para uma investigação sobre sentenças interrogativas, o teste mais adequado
é o do segundo tipo descrito, nos moldes de Hickok e Avrutin (1996). Apesar de essas estruturas serem
ainda pouco estudadas na literatura da área, esse é o tipo de experimento mais comumente utilizado
nos estudos existentes (HICKOK E AVRUTIN, 1996; THOMPSON ET AL., 1999), especialmente por se ad-
equar à realidade representada pela sentença, e por ser, como apontam Hickok e Avrutin (1996), menos
computacionalmente custoso que o teste de CSG, o que faz com que seus resultados não possam ser
atribuídos a influências das demandas da tarefa. Isso é assumido pelos autores com base na interpreta-
ção de que, enquanto a correspondência sentença-gravura envolveria não apenas o processamento da
sentença testada, mas também o processamento das duas figuras, o estabelecimento de comparações
e a formação de alguns julgamentos, a encenação exigiria um menor processamento da tarefa, sendo
menos metalinguístico.
Conforme foi mencionado, a maior parte das características específicas dos paradigmas ex-
perimentais são determinadas em função de sua aplicação em cada pesquisa. Assim, os detalhes dos
dois tipos de teste introduzidos nesta seção são apresentados mais aprofundadamente nas próximas
seções, que são dedicadas aos métodos utilizados por Villarinho (2008) nos testes de CSG e encenação,
respectivamente, e a seus resultados.
Experimento 1: Testando Ativas e Passivas com correspondência sentença-gravura
Na introdução deste capítulo, foi brevemente discutido que o objetivo de nossa pesquisa era o
de verificar a possível existência de um padrão de desempenho entre os pacientes agramáticos afásicos
de Broca, caracterizado pelo bom desempenho em sentenças sem movimento sintagmático e pela má
compreensão de sentenças com esse tipo de movimento. Desde a década de 80, os principais argumen-
tos contra ou a favor da validade do agrupamento de pacientes de acordo com esse perfil têm sido busca-
dos principalmente em resultados de estudos com sentenças ativas e passivas, em que os defensores da
existência do grupo consideram encontrar um padrão homogêneo, e os outros autores acreditam numa
grande variação individual que impossibilitaria a existência do grupo. Por esse motivo, essas estruturas
foram o foco da pesquisa apresentada aqui.
Assim, avaliou-se, nesse teste, se o tipo de estrutura afetaria o desempenho do paciente e
se a reversibilidade das estruturas teria alguma influência na compreensão dos indivíduos, já que a
não reversibilidade semântica poderia funcionar como uma “pista” que facilitaria a compreensão dos
indivíduos (cf. seção Sentenças). Para tal, consideraram-se como variáveis independentes o tipo de es-
trutura (ativa e passiva), a reversibilidade (reversível e não reversível) e, secundariamente, a posição do
personagem correspondente ao agente da sentença na figura (à esquerda ou à direita). A variável depen-
dente é o número de acertos na escolha da gravura correspondente à sentença (em oposição à gravura
que representa a sentença com papéis temáticos invertidos). Foram submetidos ao teste quatro pacien-
Parte II42
tes que potencialmente formariam um grupo com perfil homogêneo, uma vez que foram selecionados
de acordo com os critérios tradicionais de seleção, que incluem sua classificação como agramáticos de
acordo com o Teste de Boston (GOODGLASS E KAPLAN, 1972), e o diagnóstico clínico, realizado por
uma fonoaudióloga, que se baseou nas manifestações linguísticas dos pacientes (desempenho clássico
de agramáticos, marcado por fala telegráfica constituída principalmente de sentenças simples em ordem
canônica e marcada pela omissão de itens funcionais [preposições, determinantes] e afixos), bem como
no seu local de lesão (que deveria afetar a área de Broca).
Método
Como foi dito anteriormente, há, nos diversos estudos que utilizam esse teste, alguma variação
quanto ao número de figuras exibidas aos sujeitos, a depender dos objetivos da pesquisa e do controle
metodológico utilizado. No caso da pesquisa de Villarinho (2008), que buscava investigar a designação
de papéis temáticos a sintagmas nominais, eram apresentadas ao participante três figuras: uma correta,
uma que representava a sentença com os papéis temáticos invertidos e uma sem nenhuma relação com
a sentença. Essa terceira figura tem uma função de controle, e torna possível verificar se um desem-
penho aleatório apresentado pelo paciente (numa escolha indiscriminada das figuras) seria derivado de
problemas na compreensão da sintaxe ou na compreensão do teste ou do conteúdo semântico da sen-
tença, já que, no primeiro caso, o paciente jamais escolheria a figura controle e, no segundo, sim. Assim,
ao se testar uma sentença como “A mulher beijou a menina” ou “A menina foi beijada pela mulher”, as
figuras apresentadas ao paciente seriam (a) uma mulher beijando uma menina, (b) uma menina beijando
uma mulher e (c) um homem assaltando um menino.
Sentenças
No que diz respeito às sentenças utilizadas, foram testadas 12 estruturas semanticamente
reversíveis na voz ativa e 12 na voz passiva, exemplificadas em (01), além de 12 ativas e 12 passivas não
reversíveis, exemplificadas em (02).
(1)	 a. O menino assaltou o homem.
b. O homem foi assaltado pelo menino.
(2)	 a. O homem tocou o sino.
b. O sino foi tocado pelo homem.
Com o objetivo de se uniformizarem as sentenças, em especial as passivas, todas as estruturas
eram formadas com verbos da primeira conjugação (para que não houvesse diferenças nas flexões de
tempo) e continham sempre dois DPs
de mesmo gênero (para que o morfema de gênero no particípio
não pudesse denunciar a resposta correta), sendo seis entre as 12 sentenças sempre no feminino e seis
no masculino. Dentre as seis de cada gênero, em quatro sentenças, foram utilizados personagens huma-
nos (homem, mulher, menino, menina, rapaz, moça) e, em duas, foram utilizados animais (sempre com
gêneros compatíveis com o nome, como vaca, cobra, zebra, para o feminino, ou gato, cachorro, leão,
para o masculino), pois esses são os tipos de personagem comumente usados na literatura nesse tipo
de teste. Na figura 1, são ilustrados os personagens utilizados.
 Esses pacientes foram disponibilizados por uma parceria estabelecida entre o Programa Linguagem em Condições Dife-
renciadas (Uerj) e o Ambulatório de Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, por meio do trabalho da fonoaudiólo-
ga Solange Lima, cuja colaboração foi fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa.
 Ver detalhes sobre idade, local da lesão, etiologia etc. no Apêndice.
 DP é a abreviação para Determiner Phrase (Sintagma Determinador). É uma notação utilizada recentemente na Teoria
Gerativa para fazer referência ao que tradicionalmente se conhece como Sintagma Nominal.
43Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca
Figura 1 – Personagens utilizados no Experimento 1
Tendo-se em vista que a utilização de estruturas não reversíveis em testes, especialmente na
CSG, requer algumas considerações metodológicas específicas (uma vez que sua natureza semântica
demanda um maior cuidado na formulação dos materiais do experimento), a próxima subseção será
dedicada a explicar algumas dessas especificidades e determinar as principais medidas necessárias a
serem tomadas ao se testarem essas estruturas.
Estruturas não reversíveis
Apesar de o foco dos estudos sobre o agramatismo e a afasia de Broca ser, naturalmente, as
sentenças semanticamente reversíveis, nas quais é possível observar a designação de papéis temáticos
aos dois DPs, o desempenho de pacientes neste tipo de sentença costuma ser também avaliado, com
o intuito de investigar a assunção de que afásicos agramáticos não teriam problemas em compreender
essas estruturas, pois se sustentariam em uma “pista” semântica (a animacidade dos DPs) para in-
terpretar a sentença. A ideia seria a de que essa “pista” impediria uma interpretação do DP inanimado
como agente da sentença, logo fazendo com que o paciente compreenda os papéis temáticos dos DPs
corretamente, com base nessa estratégia e não necessariamente por seu conhecimento sintático. Esse
seria o caso das sentenças apresentadas em (02), nas quais o afásico não precisaria conseguir atribuir
os papéis temáticos de agente a “o homem” e de tema a “o sino” por meio do processamento sintático,
pois apenas seria necessário que ele soubesse que um sino não pode tocar um homem (CARAMAZZA
E ZURIF, 1976).
Parte II44
Apesar de esse tipo de estrutura já ter sido testado por diversos autores, alguns problemas
metodológicos recorrentes nesses estudos podem ter afetado seus resultados. Esses problemas são
consequências da utilização do paradigma de CSG, já que, ao se apresentar a figura com os papéis
temáticos invertidos, é possível que se perca o referencial do que seria ou não possível de ser repre-
sentado. Isso ocorre porque, se uma sentença como “o menino comeu a maçã” fosse testada, seria
necessária a existência de uma figura (a com os papéis temáticos invertidos) representando uma maçã
comendo um menino, o que pode demonstrar ao sujeito que o teste está inserido em um universo em que
maçãs podem comer meninos. Além de trazerem a representação de imagens bizarras, como uma maçã
comendo um menino (CARAMAZZA E ZURIF, 1976) ou um banco empurrando uma senhora (SU, LEE E
CHUNG, 2007), um teste nesses moldes faz com que a proposta do experimento perca o sentido, visto
que a reversibilidade se define em um dado universo, e esses desenhos demonstram que, no universo do
teste, essas sentenças são, de fato, reversíveis (GRODZINSKY E MAREK, 1988).
Para contornar esse problema, as sentenças não reversíveis utilizadas nesse teste foram for-
madas apenas com verbos inacusativos com alternância causativa, e as figuras incorretas não represen-
tavam uma inversão de papéis temáticos, mas os personagens e os objetos envolvidos na ação lado a
lado, com o objeto sofrendo a ação independentemente da atuação do personagem. Assim, para testar
uma sentença como (02), a figura incorreta apresentaria um sino tocando e um homem, ao lado, alheio à
situação. Essa modificação faz com que seja possível investigar uma atribuição errada de papéis temáti-
cos ou uma impossibilidade de se atribuírem papéis temáticos sem que a reversibilidade da sentença
seja perdida, já que, nessas condições, haveria duas possíveis interpretações: o paciente pode atribuir o
papel de tema ao objeto interpretando o verbo ou como transitivo, atribuindo o papel de agente ao per-
sonagem (o que seria o correto), ou como inacusativo, sendo o personagem apenas coadjuvante na ação
(PIÑANGO E ZURIF, 2001). É verdade, contudo, que, nas passivas, que são as sentenças críticas para o
afásico, pois apresentam alteração de ordem canônica, a informação lexical da preposição no PP (“pelo
homem”) poderia informar ao sujeito que o DP deve receber papel de agente, fazendo com que haja uma
tendência de se interpretarem as sentenças da forma correta.
Figuras
As figuras utilizadas nesse experimento foram planejadas de forma a tornarem o teste simples
e acessível para os afásicos, e, ainda, serem um instrumento de maior controle dos fatores extralinguísti-
cos que poderiam influenciar o desempenho do sujeito ao realizar a tarefa. Dessa maneira, foram feitos
desenhos simples, em preto e branco ou escala de cinza, que, como foi explicado, eram apresentados
em grupos de três: a figura correta, a incorreta e a controle. Cada um dos desenhos encontrava-se em
um cartão medindo cerca de 10 X 15 cm.
No que concerne ao controle de fatores extralinguísticos, a principal preocupação durante a
confecção do material foi com a possível influência de uma estratégia interpretativa baseada na dis-
posição dos personagens nos desenhos. Como se sabe, a utilização de estratégias não linguísticas é
um recurso naturalmente empregado pelos indivíduos para lidar com tarefas processualmente muito
custosas (BEVER, 1970), e sujeitos afásicos são impelidos a explorar ainda mais essas estratégias, de
forma a compensar as faltas causadas por seu déficit, que os impediriam de realizar eficientemente a
tarefa (GRODZINSKY, 1986). O uso dessas estratégias por pacientes afásicos tem sido bastante investi-
gado, em especial nos estudos sobre a produção (CAPLAN, 1983; HARTSUIKER E KOLK, 1998), embora
a maioria dos estudos a respeito da compreensão agramática não pareça levar em conta essa possibili-
dade quando da elaboração dos materiais utilizados em seus testes.
Dessa forma, o emprego de estratégias durante a realização de uma tarefa pode interferir nos
resultados, visto que eles não refletirão o desempenho linguístico do participante, mas o padrão resul-
tante da associação do conhecimento linguístico à tendência de resposta gerada pela estratégia. É por
esse motivo que a elaboração desse experimento precisou considerar esses aspectos, de forma a torná-
lo mais isento de influências externas ao uso linguístico.
45Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca
Especificamente, observou-se que as estratégias de produção reportadas por Caplan (1983)
e Hartsuiker e Kolk (1998) poderiam ser relevantes em um teste que envolvesse a interpretação de figu-
ras, como o proposto aqui. Esses autores sugerem que existem três estratégias que são empregadas,
tanto por afásicos quanto por indivíduos neurologicamente intactos, ao produzir uma sentença em uma
situação experimental: (1) produzir sentenças preferencialmente na voz ativa; (2) colocar o DP com papel
temático de agente à esquerda do verbo; (3) colocar a entidade animada à esquerda do verbo. Com base
nos dados encontrados por Flores d’Arcais (1975 apud HARTSUIKER E KOLK, 1998)
, Hartsuiker e Kolk
(1998) adicionam, ainda, que, em tarefas de descrição de figuras, uma quarta é observada: os indivíduos
tendem a começar a resposta com o elemento à esquerda da figura.
Sendo assim, não é difícil imaginar que algumas dessas estratégias poderiam também, de
alguma forma, atuar na compreensão, especialmente em uma tarefa como a de CSG: os indivíduos
poderiam, por exemplo, inferir, a partir da associação dessas estratégias, que o agente da sentença deve
ser o personagem representado à esquerda da figura, o que influenciaria a compreensão das sentenças
dependendo da posição do agente na figura (se todas as figuras tivessem o agente desenhado à direita,
por exemplo, a interpretação de uma sentença ativa poderia ser prejudicada). No entanto, em geral, os
estudos que utilizam esse paradigma experimental não costumam controlar o posicionamento dos per-
sonagens nas figuras e, muitas vezes, sequer citam como essa distribuição está organizada, como é o
caso, por exemplo, dos trabalhos de Friederici e Graetz (1987), Hagiwara (1993), Beretta e Munn (1998),
Beretta et al. (1999), Law e Leung (2000), Beretta et al. (2001), Luzzatti, Toraldo e Guasti (2001), Love e
Oster (2002) e Caramazza et al. (2005).
Por esse motivo, para nossa pesquisa, foram realizadas algumas modificações no formato
clássico da tarefa de CSG. Nesse trabalho, optou-se por controlar esse fator, e, para tal, utilizaram-se
dois tipos de figura: um em que o personagem que representa o agente aparecia à esquerda do desenho
(nas três figuras do teste) e outro em que o personagem aparecia à direita. Assim, cada sentença rever-
sível
desse teste foi aplicada duas vezes (em sessões diferentes), uma vez para ser comparada a um
grupo de figuras com o agente à esquerda e uma outra vez para ser comparada com figuras com o agente
à direita, como exemplificado na figura 2, na qual são apresentadas as duas condições em que a sentença
“a mulher beijou a menina” apareceria no teste.
Figura 2 – Condições experimentais da sentença “a mulher beijou a menina”
Condição 1: Agente correto à es-
querda
Condição 2: Agente correto à
direta
Figura correta Figura correta
 Esses dados foram obtidos em um estudo com indivíduos não lesionados.
 Como fica evidente, não haveria motivo para fazer o mesmo com as não reversíveis.
Parte II46
Figura incorreta
Figura incorreta
Figura controle Figura controle
Procedimentos de aplicação do teste
Tendo-se em vista a quantidade de itens que formavam a tarefa, esse teste foi aplicado aos
quatro afásicos em duas sessões. A primeira delas constava de 48 sentenças, sendo essas as 12 de
cada um dos quatro tipos de sentenças testados (ativas e passivas, reversíveis e não reversíveis). Nesta
sessão, metade das sentenças ativas e passivas reversíveis aparecia na Condição 1 e a outra metade na
Condição 2, de forma a se evitar uma tendência de resposta ao se apresentar sempre o mesmo padrão
de distribuição dos desenhos. Na segunda sessão, que era formada apenas pelas estruturas reversíveis,
as sentenças testadas na primeira sessão eram repetidas, dessa vez, aparecendo na condição oposta à
que apareceram na primeira sessão.
A ordem de apresentação das sentenças foi aleatorizada para as duas sessões, e as sentenças
foram reorganizadas para evitar casos em que as mesmas figuras fossem repetidas em até três rodadas
consecutivas. Também foi aleatorizada a distribuição das três figuras apresentadas em relação ao indi-
víduo: na posição (a), em cima, (b), ao centro, ou (c), embaixo, como mostra a figura 3, abaixo.
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Afasia livro fono

  • 1. Pesquisa e Material Desenvolvidos com Base em Critérios Linguísticos para a Prática Fonoaudiológica nas Afasias Organizadores Ricardo Joseh Lima Solange Iglesias de Lima
  • 2. P474 Ficha catalográfica eleborada pela BIBLIOTECA CENTRAL DA UVA Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho Pesquisa e material desenvolvidos com base em critérios lin- guísticos para a prática fonoaudiológica nas afasias / organiza- dores Ricardo Joseh Lima, Solange Iglesias de Lima. – Rio de Janeiro: UVA, 2009. 104 p. : 30cm. ISBN 978-85-61698-03-4 1. Afasia. 2. Linguística. 3. Fonoaudiologia. I. Lima, Ricardo
  • 3. Nota sobre os organizadores Ricardo Joseh Lima Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, docente da graduação em Letras e Pós- graduação Stricto Sensu em Letras, área de concentração - Linguística, coordenador do Programa Linguagem em Condições Diferenciadas, do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Solange Iglesias de Lima Mestre em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), fonoaudióloga, docente dos Cursos de Graduação em Fonoaudiologia e em Psicologia e membro do Comitê de Pesquisa do Programa de Iniciação Científica da Universidade Veiga de Almeida, diretora técnica e administrativa da Clínica de Fonoaudiologia do Centro de Saúde Veiga de Almeida, bolsista Proatec do Programa Linguagem em Condições Diferenciadas, do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
  • 4. Sumário Agradecimentos Prefácio Parte I Capítulo I – Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias Parte II Capítulo II – Aspectos Quantitativos e Qualitativos da Fala Afásica Capítulo III – Nomeação de Figuras por Afásicos no Português Brasileiro Capítulo IV – Aspectos Metodológicos na Avaliação da Compreensão de Agramáticos Afásicos de Broca Capítulo V – Aspectos Metodológicos na Avaliação da Produção de Afásicos de Broca Apêndice da parte II Parte III Advertência Material FonoLing
  • 5. Agradecimentos À Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), por ter possibilitado, com a cessão de espaço (sala 11.111 bloco F) e de bolsas de extensão, as condições estruturais para que as atividades do Programa Linguagem em Condições Diferenciadas (PLCD) venham sendo realizadas. À Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pela concessão do incentivo por meio do pro- grama Proatec, que possibilitou a inclusão e permanência da fonoaudióloga Solange Iglesias de Lima. Ao Centro de Saúde Veiga de Almeida, que, por meio da Clínica de Fonoaudiologia, possibilitou a criação do Centro de Recuperação do Paciente Afásico (CRPA) e o incentivo a essa publicação. Às professoras Letícia Maria Sicuro Corrêa (PUC-Rio) e Marina Rosa Ana Augusto (Uerj), cujos con- vívios e experiência acadêmica em muito contribuíram para a elaboração das pesquisas, sem que, no entanto, sejam responsáveis por erros que tenham sido cometidos em sua realização. Aos bolsistas de extensão, colaboradores e voluntários que auxiliaram na coordenação das atividades e no contato com os afásicos nos últimos três anos: Juliana Chagas, Andréia Brandão, Carolina Ferreira, Aline Dias, Suzana Vieira, Daniele Kazan, Clara Villarinho, Renê Forster, Helena Santos, Juliana Adauto, Daniele Rosa, Cláudia Nascimento, Queila Martins e Victoria Haddad. Às pessoas afásicas que participaram (e ainda participam) desse projeto, pela confiança e paciência que tiveram (e têm) ao demonstrar suas dificuldades. Este trabalho é para vocês.
  • 6. Prefácio Em dezembro de 2007, por força do Ato Executivo 17/2007-Reitoria, foi criado o Programa Lingua- gem em Condições Diferenciadas (PLCD), com o objetivo de estender o alcance de atividades realizadas por seu predecessor, o Programa Surdez. Com isso, estavam criadas as bases para a concretização de pesquisas que tivessem como escopo outras situações além da surdez, como as afasias, tema deste livro, e o Déficit Específico da Linguagem (DEL) . Este livro é o resultado dos trabalhos realizados pela equipe que compõe o Projeto Linguagem em Circunstâncias Excepcionais, que integra o PLCD e focaliza aspectos linguísticos das afasias. Uma de suas atividades foi a confecção da cartilha “Falando sobre afasia, entendendo o afásico”, com a finalidade de divul- gar, em linguagem informal, informações sobre afasia para afásicos, familiares, profissionais e interessados no tema. A equipe do Projeto Linguagem em Circunstâncias Excepcionais é composta atualmente por um lin- guista (coordenador), uma fonoaudióloga e alunos de graduação e pós-graduação. Essa configuração permitiu a concretização desta obra, que contém o Material elaborado com a finalidade de servir de apoio ao trabalho do fonoaudiólogo e a apresentação de resultados de pesquisas realizadas pela sua equipe. A primeira parte deste livro é dedicada a um capítulo único, que apresenta as bases e as justificativas para a concepção de um trabalho que construa elos entre a Linguística e a Fonoaudiologia. Na segunda parte, são apresentadas as pesquisas realizadas por bolsistas de extensão e por alunos de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras da Uerj. Os dois primeiros capítulos (II e III) dessa parte foram escritos pelos bolsistas, em colaboração com o coordenador do projeto e com uma fonoaudióloga. Esses capítulos focalizam os passos para a realização de uma pesquisa com afásicos seguindo critérios linguísticos. Os outros dois capítulos dessa parte (IV e V) foram escritos a partir das dissertações de mestrado defendidas em março de 2008 por Clara Villarinho e Renê Forster. A terceira parte traz os materiais que compõem o que chamamos, informalmente, de FonoLing – atividades e testes linguisticamente orientados a partir dos níveis gramaticais (Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Semântica). A ideia do Material FonoLing surgiu da necessidade, sentida pelo coordenador do projeto e pela fonoaudióloga, de constituir um conjunto de situações de avaliação que conjugasse tanto aspectos linguísticos quanto fonoaudiológicos como sua característica principal e definidora. Desse modo, por exemplo, mencio- nam-se os níveis linguísticos ao mesmo tempo em que se concedem liberdades na aplicação do Material que estejam compatíveis com a prática fonoaudiológica. Com o auxílio dos bolsistas, foram realizadas as etapas de levantamento de dados, elaboração de versões, aplicações prévias, até chegar-se à forma final. Essa forma final, no entanto, não significa que o Material está terminado, sem direito a revisão. Pelo contrário. O Material, tal como está constituído e apresentado, não possui a ambição de ser comparado a out- ros que são utilizados com frequência na prática fonoaudiológica no Brasil e no exterior. No momento, ele se situa como uma indicação de caminhos a serem seguidos, uma proposta de visualização das relações entre Linguística e Fonoaudiologia e uma aposta nos frutos que essa relação pode trazer para o principal interessado: o afásico. O futuro dirá se estamos longe ou não deste sonho. Este tema é atualmente abordado no projeto “DEL: conhecendo populações em condições diferenciadas de aquisição da língua”, coordenado pela Profa. Marina Rosa Ana Augusto (Uerj).
  • 8. Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias Capítulo I Solange Iglesias de Lima (UVA- Proatec Uerj) Ricardo Joseh Lima (Uerj)
  • 9. Capítulo I - Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias D entre os estudos propostos pela ciência fonoaudiológica, está a ênfase nos estu- dos afasiológicos. Devido à complexidade das manifestações afásicas, os modelos de caracterização foram baseados em critérios desenvolvidos por áreas correlatas, as quais também enfrentam diferentes condições e possibilidades de entendimento dessa instigante ocorrência: a afasia. Esta ciência, contemporânea na sua existência, também se ocupa em reordenar, reativar ou recuperar os problemas identificados na linguagem motivados por problemas de origem neurológica ou mesmo os atribuídos às desordens na aquisição e ou desenvolvimento linguístico que não estejam creditados aos problemas neurogênicos. Sendo uma ciência de ordem prática, necessita de suporte teórico que sustente e alimente as etapas metodológicas descritas para o adequado restabelecimento da faculdade comunicativa, independentemente da sua natureza. Assim, ao tratar a linguagem como foco das manifestações que pretende analisar, supõe a existência de argumentos teóricos suficientes para poder considerar e identificar certas condições de irregularidade. Ao “isolar” o fenômeno afásico, identifica que essa manifestação é determinada por um acon- tecimento orgânico (acidente vascular cerebral hemorrágico ou isquêmico, traumas crânio-encefálicos) no córtex cerebral (hemisfério esquerdo, preferencialmente), interrompendo as vias de informações ner- vosas entre centros reguladores da linguagem humana. Descritas dessa forma, as afasias pertencem ao repertório das impossibilidades decorrentes daquelas enfermidades, sendo estas uma condição es- pecífica para identificação do diagnóstico afásico. Porém, nem toda alteração no córtex adulto provoca um estado afásico: as condições neuroanatomofisiológicas que determinam as afasias são especiais, regulares e possíveis de serem identificadas a partir de exames clínicos e instrumentais. Essa descrição favorece e indica que, ao emprestar os conhecimentos anatômicos, fisiológicos e funcionais, a Neuro- ciência contribui com seu escopo teórico, determinando, assim, uma forma de descrição das afasias. Esse modelo de apresentação de uma manifestação afásica identifica a etiologia do problema, porém, apenas a etiologia, fator que não é menos importante para caracterização das afasias, contudo, desvia o que, de fato, pode ser recuperado por meio da atuação fonoaudiológica. Por meio dos tempos, a prática clínica fonoaudiológica, que se ocupa desses transtornos, foi baseada em princípios fornecidos pelas escolas médicas mundiais, as quais orientaram durante décadas os procedimentos de avaliação, descrição, diagnósticos e conduta terapêutica nas afasias. Com o avanço das técnicas de intervenção fonoaudiológica nesses quadros, novos rumos foram tomados pelos profissionais que atuam diretamente com esses sujeitos e, assim, outros pos- síveis diálogos foram iniciados. Um desses diálogos pode vir a se revelar extremamente frutífero para a Fonoaudiologia. O contato mais estreito com a metodologia e os objetivos da ciência Linguística traria benefícios não apenas para as questões com as quais a Fonoaudiologia trabalha. Em um ato de alta generosidade científica, a Fonoaudiologia poderia contribuir também, com sua experiência e interdisci-
  • 10. Parte I10 plinaridade natural, para a (in)formação da Linguística. Desse modo, o diálogo pode ser estabelecido em seu aspecto pleno, em que ambos os lados ouvem e se pronunciam. Para demonstrar que esse diálogo não apenas é viável, mas também proveitoso, é que essa publicação foi idealizada. O Material FonoLing, que consta da terceira parte, foi pensado e elaborado a partir da construção desse diálogo. Ao mesmo tempo em que contempla de modo sistemático os níveis de análise linguística (Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Semântica), apresenta-se como ferramenta de diagnóstico e instrumento de auxílio ao tratamento das afasias. A advertência, que introduz esta parte do livro, apresenta com mais detalhes as bases e os objetivos desse Material. Ainda, pesquisas que utilizaram parte do Material FonoLing compõem a segunda parte do livro. O aspecto morfológico está contemplado no capítulo de Forster, que aborda especificamente a morfolo- gia verbal. Esse capítulo contém também uma abordagem do aspecto sintático, ao focalizar a repetição de estruturas sintáticas que variam das mais simples às mais complexas. O aspecto morfossintático também é o foco do artigo de Lima, Martins, Nascimento e Garrão: a análise de narrativas de afásicos se dá por meio de critérios formais, tais como presença de flexão, elaboração do sintagma verbal, presença de oração subordinada, entre outros. A fronteira entre sintaxe e semântica está presente no capítulo de Villarinho, que estuda a compreensão de sentenças por meio de testes, utilizando gravuras e encenações. Essa fronteira é ultrapassada no capítulo de Lima, Adauto, Rosa e Lima, que, por meio de um teste de nomeação, busca caracterizar os problemas semânticos que podem surgir em decorrência da afasia. Afasia no contexto fonoaudiológico Para o profissional responsável pela avaliação e diagnósticos de sujeitos afásicos e conse- quente acompanhamento, talvez, um dos maiores desafios seja a seleção de um instrumento adequado para a realização dessas ações. Pelas características que envolvem as síndromes afásicas, podemos afirmar que são também diversos os modos e parâmetros capazes de categorizar esses impedimentos na linguagem. Entende-se por afasia uma perda ou prejuízo da habilidade linguística causada por lesão no córtex cerebral adulto (ARDILA, A. BENSON, F. 1996. trad.). Tradicionalmente, os modelos de descrição dos sintomas relacionados às afasias estiveram sempre impregnados por uma nomenclatura médica que se mantinha fiel às características clínicas da lesão. Assim, os resultados obtidos por meio da aplicação de protocolos estavam, na verdade, ob- jetivando compreender como o cérebro estruturava as habilidades linguísticas e cognitivas a partir da identificação dos sintomas afásicos, independentemente de sua natureza. A criação de protocolos de avaliação submetida a esse modelo de descrição estabelecia os cri- térios de categorização dos sintomas e, a partir daí, sugeria um tipo ou subtipo de afasia. As evidências que ocorriam na linguagem estavam na dependência de um local anatômico previsto para ocorrência de uma forma afásica. Desta forma, um déficit funcional na área de Broca provocaria o tipo afasia de Broca; um déficit na área funcional de Wernicke provocaria afasia de Wernicke e, assim por diante. A estreita relação lesão-sintoma configurava a forma adequada de entendimento de como o cérebro processava a produção e compreensão de linguagem e também servia de base para a classificação de um tipo afásico. Esse ponto de vista orientou (e ainda orienta) os procedimentos de avaliação, descrição e diagnose de síndromes afásicas. As distinções classificatórias baseavam-se em certas dicotomias do tipo motor/sensorial (GOLDSTEIN 1948), anterior/posterior (WERNICKE, 1881; LICHTHEIM, 1885), expressiva/receptiva (MC- BRIDE, 1935) não fluente/fluente (BENSON, 1967), eferente/aferente (LURIA, 1966) e mais uma sequência de subtipos que foram surgindo à medida que novas características e particularidades eram considera- das. Assim, os efeitos causados por diferentes modelos e princípios de análise e descrição criaram mais controvérsias do que soluções. Nesse cenário, as terminologias afasia e síndrome afásica passaram a representar manifestações idênticas, sendo seu uso um caso de opção terminológica. Importante notar que o termo afasia pode variar entre um uso marcado pela herança neurológica ou apropriar-se de um significado privilegiado pelo sintoma linguístico. Talvez o que deva ser considerado, no âmbito da ciência
  • 11. 11Capítulo I - Linguística e Fonoaudiologia: um diálogo possível nos estudos de afasias Fonoaudiológica, não seja necessariamente a controvérsia terminológica, porém, o que se entende sobre linguagem, sua natureza teórica e implicações metodológicas. O diagnóstico de afasia não é uma tarefa complexa, de forma geral; se houver um dano no tecido cortical em áreas instrumentais da linguagem, e o indivíduo demonstrar dificuldades em produzir e/ou compreender o que lhe é dito, este pode ser considerado afásico. O problema está justamente na diversidade das manifestações linguísticas, o que leva a crer que o substrato que se modifica, ou seja, a linguagem, possui critérios e condições que deverão ser submetidas à ótica clinica de quem avalia e diagnostica. É nesse sentido, portanto, que a opção por uma teoria de linguagem se faz necessária. Embora particulares, as metodologias de investigação da linguagem tornam-se (quase sempre) coad- juvantes quando se pretende dar um tratamento linguístico às síndromes afásicas. Em alguns casos, e não raros, os protocolos de avaliação da linguagem são utilizados como forma de roteirizar um fato que já é observável, seja pelo fonoaudiólogo, médico, familiares, ou mesmo pelo próprio indivíduo, que, em certas condições, reconhece suas dificuldades. Os resultados obtidos com base nesses protocolos passam a legitimar as circunstâncias em que o discurso está sendo produzido/interpretado. Por outro lado, a falta da aplicação de um instrumento formal de investigação para esses casos torna inviável o estabelecimento de um diagnóstico objetivo. A clínica fonoaudiológica que atua nessa dimensão tem utilizado alguns protocolos que, em sua maioria, foram elaborados nos idiomas inglês e francês e, adequadamente, traduzidos para o idioma Português. No entanto, entende-se que as diferenças, ou seja, os parâmetros individuais de cada língua, que inter- ferem e determinam o processamento das informações no cérebro humano, não devam ser desconsid- erados. Testes tradicionais, como os de Goodglass Kaplan (1983), Schuell (1955), Luria (1970), Sarno (1969), entre inúmeros outros indicadores, são utilizados como instrumentos de detecção das violações na produção e/ou interpretação da linguagem. As tarefas propostas incluem a capacidade de nomear, produzir sentenças, repetir elementos de menor ou maior complexidade e identificar argumentos semân- ticos, desta forma, propondo-se a alcançar todos os níveis considerados verbais e/ou não verbais. Se observarmos os critérios de análise e padronização dos resultados, podemos identificar os propósitos pelos quais esses testes foram elaborados. Reconhecendo as diferentes épocas em que foram produzi- dos, entendemos que as condições e parâmetros das tarefas idealizadas foram instrumentos inovadores para o entendimento da forma como a linguagem se ordenava no cérebro humano. Portanto, como taxo- nomia de um fenômeno linguístico-cognitivo, os scores obtidos proporcionavam o estabelecimento de uma nova visão para um problema, até então, de difícil solução. Durante alguns anos, os estudos fonoaudiológicos das afasias aderiram a essas condições de mensuração. A abrangência dos testes internacionais somados à informação clínica-médica sobre a origem do problema afásico compunha e determinava os procedimentos de recuperação da linguagem. Dentre todos os argumentos defendidos em favor de uma classificação dos sintomas, e a partir dela, o consequente diagnóstico – em alguns casos, por exclusão –, as afasias receberam várias nomenclaturas, que pouco contribuíam para uma terapêutica eficiente, objetiva e rápida. Os sintomas que receberam tratamento linguístico (parafasias, perseverações, jargões, agramatismo, ecolalia etc.) compunham uma série de fenômenos que determinavam a forma de exibição do problema e, assim, poderiam categori- zar um tipo ou subtipo afásico. De certa forma, esses critérios de classificação, diagnóstico e acom- panhamento deixaram de lado o que, na verdade, justificava todo esse empreendimento. Se a afasia é um problema na linguagem, entendida como impedimento de comunicação, por meio da utilização de elementos de uma dada língua, então, muitos fatores linguísticos foram deixados de lado, compromet- endo o entendimento do acesso e processamento dessas informações. É claro e determinante que as afasias são decorrentes de dano do material neurológico e, nesses casos, torna-se impossível assumir essa manifestação sem privilegiar esse conhecimento. A ênfase dada apenas a essa circunstância clínica distanciou o aspecto do conhecimento linguístico em situações discursivas. A prática fonoaudiológica está comprometida com ambas as situações etiológicas, porém, o material de investigação disponível é composto por critérios determinados por um instrumental orig- inário da tecnologia por imagem (tomografia computadorizada do crânio, ressonância magnética de
  • 12. Parte I12 emissão isótopos) e/ou por um modelo de linguagem independente da sua referência teórica. Entender que a observação da imagem cerebral determina e informa o local da lesão deve ser ponto de partida da análise. O rastreamento cerebral, sem a menor dúvida, torna explícita a alteração fisiológica, mas não indica se há ou não um quadro afásico. Em outras palavras, a imagem cerebral permite, com grande segurança, a visualização do estado e condições físicas da massa cerebral. Entretanto, muitas vezes, essa possibilidade se confunde como “determinismo” para o diagnóstico afásico. Se, por exemplo, essa análise fisiológica considera que a área de Broca (terceira circunvolução frontal ascendente – esquerda) seja responsável pela elaboração dos atos motores da fala, numa análise neurolinguística, essa mesma área e suas adjacências são responsáveis por parte da elaboração da sintaxe de uma língua (GRODZIN- SKY 2000). O dinamismo que compõe a linguagem humana parece permanecer “estático” quando anali- sado por uma vertente clínica, impondo-lhe um alto grau de responsabilidade, quando, na verdade, o que se manifesta é a alteração do funcionamento da comunicação. Para dar conta desse impedimento, apro- pria-se, então, de uma análise que interfere tanto na modelagem clínica quanto num modelo indistinto sobre a linguagem. Uma condição teórica que privilegie a linguagem em uso ou a forma de habilitação de uma dada língua, independentemente de ser o pressuposto inato, cognitivo ou social, também oferece critérios metodológicos exatos e controlados, capazes de servir às necessidades da prática fonoaudi- ológica em síndromes afásicas. Esses empréstimos não interferem na consolidação da responsabilidade de ser o fonoaudiólogo o profissional apto para conduzir a terapêutica com esses sujeitos. À medida que o “diálogo” se torna possível, não apenas como discurso interdisciplinar, mas também como criação de instrumentos ajustados e controlados cientificamente, talvez, uma nova forma de “pensar” as afasias possa ser frutífera para essa população. Referências ARDILA, A.; BENSON, F. Aphasia – A clinical perspective. Oxford: Oxford University Press, 1996. BENSON, D. F. Fluency in Aphasia: correlation with radioactive scan localization. Cortex, 3:373-394, 1967. GOLDSTEIN, K. Language and language disturbances. New York, 1968. GOODGLASS, H.; KAPLAN, E. The assessment of aphasia and related disorders. Philadelphia, 1983. GRODZINSKY, Y. The neurology of syntax: language without broca’s area. Tel-Aviv University, 2000. LICHTHEIM, L. On Aphasia. Brain, 7:433-484, 1885. LURIA, A.R. Higher cortical functions in man. New York: Basic Books, 1966. _________. Traumatic Aphasia. Mouton: The Hague, 1970. MCBRIDE, K. L.; WEISENBURG, T.S. Aphasia. New York: Hafner, 1935. SARNO, M.T. The Communication Profile: Manual of directions. New York, 1969. SCHUELL, H. Minnesota test for the differential diagnosis of aphasia. Minnesopolis: University of Min- nesota Press, 1955. WERNICKE, C. Lehrbuch der gehirnkrankheitein. Berlim: Theodor Fischer, 1881.
  • 14. Parte II14 Aspectos Quantitativos e Qualitativos da Fala Afásica no Português Brasileiro Capítulo II Ricardo Joseh Lima (Uerj) Queila Castro Martins (UERJ - BIG-FAPERJ) Cláudia Cristina Nascimento (UERJ - BIG-FAPERJ) Elisabeth Maia Garrão (UVA - UERJ - COPAT 2006/2007)
  • 15. 15Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro Introdução E ste capítulo traz os resultados de uma pesquisa iniciada em julho de 2007, com o objetivo de realizar observações quantitativas e qualitativas da fala afásica no Portu- guês Brasileiro. Para tanto, adotaram-se como bases metodológicas as propostas de Saffran et al. (1989) e Rochon et al. (2000). Com isso, buscou-se prover a análise do conceito de fluência (e suas ramificações) com dados que, por serem mensuráveis e obtidos a partir de instâncias concretas, podem auxiliar na decisão da classificação de um paciente afásico ou no agrupa- mento de pacientes. A seção 2 traz uma descrição das bases metodológicas utilizadas, bem como a motivação para sua utilização. Na seção 3, são apresentadas as etapas que constituíram a presente pesquisa e os resul- tados gerais. A seção 4 encerra o capítulo com comentários sobre esse tipo de pesquisa, seus resultados e sua importância para o diálogo que pode ser desenvolvido entre Linguística e Fonoaudiologia. Análise Quantitativa da Produção (AQP) Afásica Procedimentos para a análise das narrativas Participaram desta pesquisa os afásicos JM, RC e RP . Para cada um, foi selecionado um controle, que possuísse o mesmo perfil etário e educacional do afásico. Para cada controle e afásico, foram elaboradas fichas contendo informações sobre eles: iniciais (que ficam no lugar do nome do par- ticipante), idade, sexo, escolaridade, a data de gravação da narrativa, o bolsista que gravou, datas de transcrição e tempo da gravação. Segue um exemplo de ficha de um controle e um afásico : Ver detalhes sobre idade, local da lesão, etiologia etc. no Apêndice. Todos os sujeitos participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual afirmavam estar cientes dos objetivos da pesquisa e permitiam a divulgação dos resultados obtidos. Estes termos estão registrados na Comissão de Ética em Pesquisa (COEP) da Uerj, sob o número 067/2007. As demais fichas estão no Anexo deste capítulo. FICHA DE INFORMANTE – AFÁSICO JM Iniciais: JM Idade: 58 anos Sexo: F Escolaridade: 5ª série do EF Data de gravação: 17/10/2007 Bolsista: Queila Martins Datas de transcrição: 06/11/2007 Tempo de gravação: 2.14 min Narrativa: Chapeuzinho vermelho FICHA DE INFORMANTE – CONTROLE ZC Iniciais: ZC Idade: 48 anos Sexo: F Escolaridade: 5ª série do EF Data de gravação: 20/08/2007 Bolsista: Queila Martins Datas de transcrição: 21/08/2007 Tempo de gravação: 3.45 min Narrativa: Chapeuzinho Vermelho
  • 16. Parte II16 Após as gravações realizadas com o auxílio de um gravador digital, partimos para uma outra etapa, que era a da transcrição e contagem de palavras dentro do tempo de narrativa do controle e tam- bém do afásico. Nosso objetivo era encontrar cento e cinquenta palavras que servissem de teste para nossa pesquisa. Vejamos a transcrição total (contendo todas as palavras narradas) de um controle e um afásico: Transcrição total controle ZC “Então era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito então resolveu fazer um um gorrinho vermelho então ela foi apelidada de Chapeuzinho Vermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atare- fada falou assim Chapeuzinho leva um uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó então a Chapeuzinho Vermelho saiu e a mãe explicou filha você não não conversa com ninguém no bosque porque é muito perigoso então Chapeu- zinho Vermelho encontrou com um sua vó com o lobo e ficou conversando com ele e o lobo tentou comê-la mas aí ele pensou não eu vou se passar pelo eu vou eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou então o lobo o lobo foi pelo caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da vó da Chapeuzinho Vermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a Chapeuzinho Vermelho mandou entrar então ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da da vó da Chapeuzinho Vermelho e deitou na cama fingindo está muito doente então a Chapeuzinho Vermelho chegou e bateu na porta e a vó que na verdade era o lobo falou pode entrar é só tirar a tranca da porta e entrar então quando a Chapeuzinho Vermelho chegou ela estranhou porque é muito tempo ela não não a via né visto a vó mas ela estranhou que este estava pouco diferente aí ela falou vó que olho tão grande que a senhora tá aí ele falou assim é pra te ver melhor minha netinha aí mas que nariz que nariz tão grande que a senhora tá é pra te cheirar melhor minha netinha aí depois ela falou mas que boca tão grande vó aí o lobo se levantou falou é pra te comer melhor então a Chapeuzinho pulou saiu começou a gritar gritar pois pela sorte da Chapeuzinho Vermelho é que ia passando um um caçador pelo bosque e escutou o grito da Chapeuzinho Vermelho então ele correndo aden adentrou pela casa e salvou a Chapeuzinho Vermelho do lobo e a ma matou o lobo e abriu a barriga do lobo e e tirou e tirou a vó que ele tinha engolido e e e todos foram felizes para sempre” NTP=397 Transcrição total afásico JM “é de (risos) (risos) É :: da vovó aí tinha a vovó arranjou o o o o outro como é o nome dele do (risos) também vou esquecer desse aqui né do do :: como é que é isso :: pera aí isso isso agora eu pensei aí ele vem aí ele quer quer os doce os doce entendeu aí o que que aconteceu a do a vovó a vovó pe :: jun sentou ela né aí pera aí deixa eu mostrar como acontece pra você aí a aí ela pegou o ra o o outro né aí pegou e falou assim não não eu quero eu (pausa) (aí) aí o o o o primeiro né primeiro não isso primeiro é a mãe primeiro é a a menina a menina né aí vem vem ele né aí depois ele quer falar assim falar assim ah vovó a menina fala ah vovó oh vovó vou comprar umas doces pra você ah então tá aí quando o lo quando o lo é :: o que que aconteceu ele pegou a velhinha e se segurou aí quando chegou na casa dela ela fala vovó vovó oh vovó aí quando foi isso veio veio um um senhor entendeu aí ele pegou a ele pá matou ele foi isso é lindo eu adorava fazer essa história isso (risos) aí aí o que que aconteceu ela ela tirou aí vem a vovó e a menina entendeu aí pegou né os doces e tudo (risos)” NTP = 261 A transcrição total foi feita da seguinte forma: os bolsistas escutaram a gravação e tran- screveram palavra por palavra proferidas pelo narrador. Todas as palavras foram transcritas fielmente ao que foi dito. Sem haver neste momento preocupação com o que se diz, transcreve-se tudo que é narrado. Feitas as transcrições, seguimos critérios de exclusões, eliminando as palavras que não ser-
  • 17. 17Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro viriam para o teste. Dentre as palavras que ficaram para análise(denominadas palavras de narrativa, definidas como palavras que apresentam conteúdo proporcional para contagem e análise), seleciona- mos, então, as primeiras cento e cinquenta. Desta etapa, retiramos, então, o número de palavras total (NPT), o número de palavras de narrativa (NPN) e as cento e cinquenta primeiras palavras de narrativa. De todos esses números, ainda obtivemos o tempo da narrativa e marcamos o número de palavras por minuto de narração. A exclusão das palavras após a transcrição foi feita, como dito anteriormente, seguindo alguns critérios específicos, que nos levaram a cortar alguns tipos de palavra, tais como: neologismos (A), respostas diretas a uma pergunta feita pelo pesquisador (B), comentários realizados pelo controle ou afásico (C), iniciadores habituais (D) de discurso (aí, então, entre outros), conjunções (E), introdutores de discurso direto (F) e materiais reparados (repetições [G1], interrupções [G2], emendas [G3] e elabo- rações [G4]). Observe a seguir um exemplo de cada tipo de marcação para as palavras que foram excluídas: A (figou); B (a fada deu um vestido para a Cinderela em resposta à pergunta O que a fada deu à Cindere- la?); C (como é o nome dele do...); D (entendeu); E (ele foi e ele falou); F (a menina fala); G1 (a do a vó); G2 (isso isso); G3 (primeiro é não isso primeiro) e G4 (é de). Com esta etapa, chegamos às transcrições com marcações dos tipos de exclusão que deveriam ser feitos. Ao lado de cada exclusão a ser feita, colocamos os números respectivos do tipo de exclusão. Observe, abaixo, um exemplo de texto marcado de um controle e de um afásico: Transcrição com marcações - Controle ZC “Então(D) era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito então(D) resolveu fazer um(G2) um gorrinho vermelho então(D) ela foi apelidada de Chapeuzinho Vermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atarefada falou assim(F) Chapeuzinho leva um(G2) uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó então(D) a Chapeuzinho Vermelho saiu e a mãe explicou(F) filha você não(G1) não conversa com ninguém no bosque porque é muito perigoso então(D) Chapeuzinho Vermelho encontrou com um sua vó(G3) com o lobo e(E) ficou conver- sando com ele e o lobo tentou comê-la mas aí(D) ele pensou(F) não eu vou se passar pelo(G3) eu vou(G2) eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou então(D) o lobo(G1) o lobo foi pelo caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da vó da Cha- peuzinho Vermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a Chapeuzinho Vermelho mandou entrar então(D) ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da(G4) da vó da Chapeuzinho Vermelho e deitou na cama fingindo está muito doente então(D) a Chapeuzinho Vermelho chegou e bateu na porta e a vó que na verdade era o lobo falou(F) pode entrar é só tirar a tranca da porta e entrar então(D) quando a Chapeuzinho Vermelho chegou ela estranhou porque é muito tempo ela não(G1) não a via né(D) visto a vó mas ela estranhou que este estava pouco diferente aí(D) ela falou(F) vó que olho tão grande que a senhora tá aí(D) ele falou assim(F) é pra te ver melhor minha netinha aí(D) mas que nariz(G1) que nariz tão grande que a senhora tá é pra te cheirar melhor minha netinha aí(D) depois ela falou(F) mas que boca tão grande vó aí o lobo se levantou falou(F) é pra te comer melhor então(D) a Chapeuzinho pulou saiu começou a gritar gritar pois pela sorte da Chapeuzinho Vermelho é que ia passando um(G4) um caçador pelo bosque e escutou o grito da Chapeu- zinho Vermelho então(D) ele correndo aden(G4) adentrou pela casa e salvou a Chapeuzinho Vermelho do lobo e a ma(G4) matou o lobo e abriu a barriga do lobo e(G2) e tirou(G1) e tirou a vó que ele tinha engolido e e(G2) e todos foram felizes para sempre” Nº de marcações = 41 Transcrição com marcações - Afásico JM “É de(G4) ( risos ) ( risos )(D) É :: da vovó aí(D) tinha a vovó arranjou o o o(G1) o outro como é o nome dele do (C) ( risos )(D) também vou esquecer desse aqui(C) né(D) do do (C) :: como é que é isso :: (C) pera aí(D) isso(G2) isso agora eu pensei(C) aí(D) ele vem aí(D) ele quer quer os doce(G1) os doce entendeu(D) aí(D)
  • 18. Parte II18 o que que aconteceu(G4) a do a vovó(G1) a vovó pe :: (G3) jun(G3) sentou ela né(D) aí(D) pera aí(D) deixa eu mostrar como acontece pra você(C) aí(D) a aí(D) ela pegou o ra o(G3) o outro né(D) aí(D) pegou e falou assim(F) não não(D) eu quero(G4) eu(G4) (pausa) (aí)(D) aí(D) o o o(G1) o(G4) primeiro(G1) né(D) primeiro é não isso primeiro(G3) é a mãe primeiro(G3) é(G3) a(G1) a menina(G1) a menina né(D) aí(D) vem vem ele né(D) aí(D) depois ele quer falar assim falar assim(F) ah vovó a menina fala(F) ah vovó(G3) oh vovó vou comprar umas doces pra você ah então(D) tá aí(D) quando o lo quando(G1) o lo é :: (G1) o que que aconteceu(C) ele pegou a velhinha e se segurou aí(D) quando chegou na casa dela ela fala(F) vovó vovó oh vovó aí(D) quando foi isso veio(G1) veio um(G1) um senhor entendeu(D) aí(D) ele pegou a(G3) ele pá matou ele foi isso lindo eu adorava fazer essa história isso(C) (risos)(D) aí(D) aí(D) o que que aconteceu(C) ela(G1) ela tirou aí(D) vem a vovó e a menina entendeu(D) aí(D) pegou né(D) os doces e tudo (risos)(D)” Nº de marcações = 77 Chegamos ao texto contendo apenas as palavras de narrativa (aquelas palavras que não são excluídas e que servem para análise do pesquisador). Os textos dos controles e afásicos passaram, então, de muitas palavras a um número bem menor. No caso dos afásicos, algumas transcrições das cento e cinquenta palavras são compatíveis às transcrições após cortes, devido ao baixo número de palavras de narrativa, não obtendo, muitas vezes, nem mesmo as cento e cinquenta: Transcrição com cortes - Controle ZC “Era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito resolveu fazer um gorrinho vermelho ela foi apelidada de Chapeuzinho Vermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atarefada Chapeuzinho leva uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó a Chapeuzinho Vermelho saiu e filha você não conversa com ninguém no bosque porque é muito perigoso Chapeuzinho Vermelho encontrou com o lobo ficou conversando com ele e o lobo tentou comê-la mas não eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou o lobo foi pelo caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da vó da Chapeuzinho Vermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a Chapeuzinho Vermelho mandou entrar ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da vó da Chapeuzinho Vermelho e deitou na cama fingindo está muito doente a Chapeuzinho Vermelho chegou e bateu na porta e a vó que na verdade era o lobo pode entrar é só tirar a tranca da porta e entrar quando a Chapeuzinho Vermelho chegou ela estranhou porque é muito tempo ela não a via visto a vó mas ela estranhou que este estava pouco diferente vó que olho tão grande que a senhora tá é pra te ver melhor minha netinha mas que nariz tão grande que a senhora tá é pra te cheirar melhor minha netinha depois mas que boca tão grande vó aí o lobo se levantou é pra te comer mel- hor a Chapeuzinho pulou saiu começou a gritar gritar pois pela sorte da Chapeuzinho Vermelho é que ia passando um caçador pelo bosque e escutou o grito da Chapeuzinho Vermelho ele correndo adentrou pela casa e salvou a Chapeuzinho Vermelho do lobo e matou o lobo e abriu a barriga do lobo e tirou a vó que ele tinha engolido e todos foram felizes para sempre” Nº de palavras de narrativa: 334 Transcrição com cortes - Afásico JM “É :: da vovó tinha a vovó arranjou o outro ele vem ele quer quer os doce a vovó sentou ela ela pegou o outro a menina vem vem ele ah vovó oh vovó vou comprar umas doces pra você ah tá ele pegou a velhinha e se segurou quando chegou na casa dela vovó vovó oh vovó quando foi isso veio um senhor ele pá matou ele foi isso ela tirou vem a vovó e a menina pegou os doces e tudo” Nº de palavras de narrativa: 82
  • 19. 19Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro Observe-se, como dito, que, nos textos dos afásicos, não obtivemos as cento e cinquenta palavras requeridas, mas, mesmo assim, realizamos as análises e alcançamos nosso ideal primeiro: o de comparar suas narrativas às dos controles. O número menor de palavras não causou problemas ou dificuldades em nossa pesquisa. Lembramos que, por razões de compreensão, entre os controles, há al- gumas palavras acrescidas às cento e cinquenta, contendo em média cento e cinquenta, mas, em alguns casos, há algumas palavras a mais para completar o enunciado. Veja abaixo as palavras separadas para análise do controle ZC e do afásico JM: Controle - ZC “Era uma vez uma linda menina a sua mãe a amava muito resolveu fazer um gorrinho vermelho ela foi apelidada de ChapeuzinhoVermelho a sua vó andava muito doente e a sua mãe muito atarefada Chapeuzinho leva uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó a ChapeuzinhoVermelho saiu e filha você não conversa com ninguém no bosque porque é muito perigoso ChapeuzinhoVermelho encontrou com o lobo ficou conversando com ele e o lobo tentou comê-la mas não eu vou pedir pra acompanhar ela mas num instante ela não aceitou o lobo foi pelo caminho e a Chapeuzinho foi por outro sendo que o lobo pegou um caminho mais curto e chegando lá na casa da vó da ChapeuzinhoVermelho ele bateu na porta e a vó pensando que era a ChapeuzinhoVermelho mandou entrar ele avançou na vó da ChapeuzinhoVermelho e a engoliu e rapidamente ele colocou as roupas da vó da Chapeuz- inhoVermelho” AFÁSICO: JM “É :: da vovó tinha a vovó arranjou o outro ele vem ele quer quer os doce a vovó sentou ela ela pegou o outro a menina vem vem ele ah vovó oh vovó vou comprar umas doces pra você ah ta ele pegou a velhinha e se segurou quando chegou na casa dela vovó vovó oh vovó quando foi isso veio um senhor ele pá matou ele foi isso ela tirou vem a vovó e a menina pegou os doces e tudo” Uma pequena observação na contagem das palavras é que palavras compostas são contadas como apenas uma. É o que ocorre com as palavras Chapeuzinho Vermelho, que são contadas como apenas uma palavra. Após a fase de transcrição total, marcação, cortes e palavras finais, obtivemos a seguinte tabela para cada participante (controle ou afásico): Controles CM RM ZC NPT 284 613 397 TEMPO NARRATIVA 2.36 MIN 5.20 MIN 3.45 MIN NPT/TEMPO 112.2 115,66 105.86 NPN 260 566 334 EXCLUÍDAS 24 47 41 Afásicos RP JM RC NPT 216 261 243 TEMPO NARRATIVA 2.78 MIN 2.14 MIN 4.50 MIN NPT/TEMPO 65.4 121,9 31,04 NPN 141 82 149 EXCLUÍDAS 75 77 94
  • 20. Parte II20 Sendo: NPT – número de palavras total; Tempo de Narrativa – tempo que durou a narrativa; NPT/TEMPO – o número de palavras total pelo Tempo de Narrativa; NPN – o número de palavras de narrativas (obtidas depois das exclusões); EXCLUÍDAS – o número de marcações de exclusão de acordo com os critérios vistos acima. Note-se que nem sempre cada marcação contém somente uma palavra. Resultados Separamos as NPN em enunciados, definidos como conjunto de palavras que contivesse um sentido fechado; assim, não fizemos a divisão baseada na definição tradicional de orações. A partir de então, demos início a um outro momento, que foi a fase da análise desses enunciados e classificação de cada tipo de palavra que compunha esses enunciados. Os enunciados separados foram colocados em tabelas com os seguintes itens de classificação: tipo de enunciado em sentença (TE), tópico-comentário e outros; palavras de narrativa (PN); quantidade de palavras consideradas de classe aberta (substantivos, verbos, adjetivos e advérbios) (CA); quantidade de substantivos (S); número de substantivos que exigem artigo (Sart); número de substantivos que exigem artigo e estão precedidos de artigo (SART); número de pronomes (Pro); número de verbos (V); número de verbos principais (VP); número de verbos que deveriam estar flexionados (Vf); número de verbos que es- tão flexionados (VF); taxa de auxiliares (cálculo de verbos que há em cada enunciado e relação entre eles) (AUX); número de sentenças encaixadas (subordinadas) (ENC); verificação de sentença gramatical (OK); número de constituintes do sintagma nominal (CSN) e verbal (CSV). Abaixo, demonstramos as tabelas de um controle e de um afásico, nas quais aparecem os dezesseis itens mencionados acima: CONTROLE - ZC ENUNCIADOS TE PN CA S Sart SART Pro V VP Vf VF AUX ENC OK CSN CSV Era uma vez uma linda menina S 6 4 2 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 0 4 a sua mãe a amava muito S 6 3 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 2 resolveu fazer um gorrinho vermelho S 5 4 1 1 1 0 2 1 1 1 3 0 1 1 4 ela foi apelidada de Chapeuzinho Vermelho S 5 3 1 0 0 1 1 1 1 1 2 0 1 1 3 a sua vó andava muito doente S 6 4 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 3 e a sua mãe muito atarefada 0 6 3 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 / / Chapeuzinho leva uns docinho delicioso que eu fiz para tua vó S 11 6 3 2 2 1 2 1 2 2 4 1 1 1 6 a Chapeuzinho Vermelho saiu S 3 2 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 1 e filha você não conversa com nin- guém no bosque porque é muito perigoso S 13 5 2 0 0 0 2 1 2 2 5 1 1 1 7 Chapeuzinho Vermelho encontrou com o lobo S 5 3 2 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 2 ficou conversando com ele S 4 2 0 0 0 1 2 1 2 2 4 0 1 1 3 e o lobo tentou comê-la S 5 3 1 1 1 1 2 1 2 2 4 0 1 1 2 mas não eu vou pedir pra acom- panhar ela S 8 4 0 0 0 1 3 1 1 1 5 1 1 1 4 mas num instante ela não aceitou S 6 3 0 1 1 1 1 1 1 1 3 0 1 1 2 o lobo foi pelo caminho S 5 3 2 2 2 0 1 1 1 1 2 0 1 1 2 e a Chapeuzinho foi por outro S 6 2 1 1 1 0 1 1 1 1 2 0 1 1 1 sendo que o lobo pegou um caminho mais curto S 9 5 2 2 2 0 1 1 1 1 2 0 1 1 4
  • 21. 21Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro e chegando lá na casa da vó da Chapeuzinho Vermelho ele bateu na porta S 13 7 4 4 4 1 2 1 2 2 4 1 1 1 2 e a vó pensando que era a Chapeu- zinho Vermelho mandou entrar S 10 6 2 2 2 0 4 1 2 2 7 1 1 1 2 ele avançou na vó da Chapeuzinho Vermelho S 6 3 2 2 2 1 1 1 1 1 2 0 1 1 3 E a engoliu S 3 1 0 0 0 1 1 1 1 1 2 0 1 1 2 E rapidamente ele colocou as roupas da vó da Chapeuzinho Vermelho S 10 5 3 3 3 1 1 1 1 1 2 0 1 1 4 TOTAL 151 81 32 27 27 10 32 21 27 27 63 5 22 20 63 AFÁSICO - JM ENUNCIADOS TE PN CA S Sart SART Pro V VP Vf VF AUX ENC OK CSN CSV É :: da vovó / 3 1 1 / / / 1 1 1 1 2 / / / 2 tinha a vovó S 3 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 / 2 arrranjou S 1 1 / / / / 1 1 1 1 2 / 1 1 1 o outro / 2 / / / / / / / / / / / / / / ele vem S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1 ele quer S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1 quer os doce S 3 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 1 2 a vovó sentou ela S 4 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 / 1 1 2 ela pegou o outro S 4 1 / 1 1 1 1 1 1 1 2 / 1 1 2 a menina vem S 3 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 1 1 vem ele S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1 ah vovó, oh vovó vou comprar umas doces pra você S 10 5 3 1 / / 2 1 1 1 3 / 1 1 3 ah tá / 2 / / / / / / / / / / / / / / ele pegou a velhinha e se segurou S 7 3 1 1 2 1 2 2 2 2 4 / 1 2 4 quando chegou na casa dela S 5 2 1 / / / 1 1 1 1 2 / 1 1 3 vovó vovó oh vovó / 4 3 3 / / / / / / / / / / / / quando foi isso, veio um senhor S 6 3 1 / / / 2 1 2 2 4 1 1 1 3 ele pá matou ele S 4 1 / / / 2 1 1 1 1 2 / 1 1 2 foi isso S 2 2 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 / 2 ela tirou S 2 1 / / / 1 1 1 1 1 2 / 1 1 1 vem a vovó e a menina S 6 3 2 2 2 / 1 1 1 1 2 / 1 2 1 pegou os doces e tudo S 5 2 1 1 1 / 1 1 1 1 2 / 1 1 3 TOTAL 82 39 10 10 10 20 21 21 43 1 18 18 37 Todo o trabalho realizado até aqui e os que seguem foram feitos por duas bolsistas, para comparação e segurança de dados. Gravação, transcrição, classificação e demais tarefas foram feitas duas vezes, comparadas e, ainda, reclassificadas, mediante divergências. É importante ressaltar que as diferenças apresentadas foram de um número baixo. Após a etapa das classificações de cada enunciado, partimos para uma nova etapa, de acordo com o texto de Rochon et al. (2000), que é a de classificação de acordo com treze itens. São números e cálculos baseados nas tabelas de classificação, como foi visto acima. Nessas tabelas, demonstramos números gerais e completos para cada controle e afásico.
  • 22. Parte II22 Os treze itens que compõem estas tabelas são os seguintes: 1. Taxa de classe fechada (palavras que são classificadas como classe fechada); 2. Taxa de artigos por substantivos (relação de substantivos que foram corretamente determi- nados por artigos); 3. Proporção de pronomes nos enunciados; 4. Proporção de verbos utilizados; 5. Índice de flexão dos verbos; 6. Elaboração de auxiliares (relação dos verbos entre si dentro dos enunciados); 7. Proporção de palavras por sentenças; 8. Proporção de sentenças bem formadas; 9. Elaboração estrutural das sentenças; 10. Índice de encaixamento (quantidade e relação das orações subordinadas com principais); 11. Média de palavras por enunciado; 12. Taxa de fala (palavras por minuto de narração); 13. Medida de esforço do falante. Vale, aqui, apresentar as tabelas de treze itens de cada participante, controles e afásicos. En- tendemos a importância de se apresentar a tabela final de treze itens de todos os informantes (controles e afásicos) para questão de comparação e comprovação de nossa pesquisa. Abaixo, seguem as tabelas formuladas após o fechamento das tabelas de classificação de enunciados de cada pesquisado: Controles Tabela dos Treze Itens - CM Taxa de CF 0,42 Taxa de Artigos/Substantivos 1 Proporção de Pronomes 0,1 Proporção de Verbos 0,53 Índice de Flexão 1 Elaboração de Aux 2,11 Proporção de Palavras em Sentenças 0,98 Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,94 Elaboração Estrutural das Sentenças 4,55 Índice de Encaixamento 0,38 Média de Palavras do Enunciado 8,44 Taxa de Fala 101,92 Medida de Esforço 0,93 Tabela dos Treze Itens - RM Taxa de CF 0,43 Taxa de Artigos/Substantivos 1 Proporção de Pronomes 0,06 Proporção de Verbos 0,39 Índice de Flexão 1 Elaboração de Aux 2,35 Proporção de Palavras em Sentenças 0,98 Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,93 Elaboração Estrutural das Sentenças 5,9 Índice de Encaixamento 0,43 Média de Palavras do Enunciado 10,12 Taxa de Fala 106,19
  • 23. 23Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro Medida de Esforço 0,92 Tabela dos Treze Itens - ZC Taxa de CF 0,46 Taxa de Artigos/Substantivos 1 Proporção de Pronomes 0,23 Proporção de Verbos 0,5 Índice de Flexão 1 Elaboração de Aux 2 Proporção de Palavras em Sentenças 0,96 Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,95 Elaboração Estrutural das Sentenças 4 Índice de Encaixamento 0,22 Média de Palavras do Enunciado 6,86 Taxa de Fala 89,06 Medida de Esforço 0,82 Afásicos Tabela dos Treze Itens - RC Taxa de CF 0,31 Taxa de Artigos/Substantivos 1 Proporção de Pronomes 0,38 Proporção de Verbos 0,65 Índice de Flexão 1 Elaboração de Aux 1,26 Proporção de Palavras em Sentenças 0,92 Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,86 Elaboração Estrutural das Sentenças 2,91 Índice de Encaixamento 0,08 Média de Palavras do Enunciado 4,02 Taxa de Fala 33,11 Medida de Esforço 0,57 Tabela dos Treze Itens - RP Taxa de CF 0,36 Taxa de Artigos/Substantivos 1 Proporção de Pronomes 0,66 Proporção de Verbos 0,86 Índice de Flexão 1 Elaboração de Aux 1,75 Proporção de Palavras em Sentenças 0,84 Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,82 Elaboração Estrutural das Sentenças 2,68 Índice de Encaixamento 0 Média de Palavras do Enunciado 4,7 Taxa de Fala 62.42 Medida de Esforço 0,68
  • 24. Parte II24 Tabela dos Treze Itens - JM Taxa de CF 0,52 Taxa de Artigos/Substantivos 1 Proporção de Pronomes 0,37 Proporção de Verbos 0,56 Índice de Flexão 1 Elaboração de Aux 1,15 Proporção de Palavras em Sentenças 0,9 Proporção de Sentenças Bem Formadas 0,81 Elaboração Estrutural das Sentenças 3,07 Índice de Encaixamento 0,05 Média de Palavras do Enunciado 4,55 Taxa de Fala 38,31 Medida de Esforço 0,31 Agora, de forma esquematizada, e para melhor visualização das comparações que podem ser traçadas entre a fala afásica e a dos controles, apresentamos uma tabela única, com os 13 itens e os gráficos de cada um deles: Afásicos Controles Itens RP JM RC Itens RM ZC CM 1 0,36 0,52 0,31 1 0,43 0,46 0,42 2 1 1 1 2 1 1 1 3 0,66 0,37 0,38 3 0,06 0,23 0,1 4 0,86 0,56 0,65 4 0,39 0,5 0,53 5 1 1 1 5 1 1 1 6 1,75 1,15 1,26 6 2,35 2 2,11 7 0,84 0,9 0,92 7 0,98 0,96 0,98 8 0,82 0,81 0,86 8 0,93 0,95 0,94 9 2,68 3,07 2,91 9 5,9 4 4,55 10 0 0, 05 0,08 10 0,43 0,22 0,38 11 4,7 4,55 4,02 11 10,12 6,86 8,44 12 62,42 38,31 33,11 12 106,19 89,06 101,92 13 0,68 0,31 0,57 13 0,92 0,82 0,93
  • 25. 25Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
  • 27. 27Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro
  • 29. 29Capítulo II - Aspectos quantitativos e qualitativos da fala afásica no português brasileiro Resultados e Comentários O intuito deste capítulo foi apresentar os resultados gerais de uma pesquisa que investiga o conceito de fluência nas afasias. O termo “gerais” refere-se aos números superficiais, não trabalhados, gerados pelas classificações realizadas de acordo com a proposta metodológica apontada na Introdução. Com isso, não se pensou em realizar um trabalho que pudesse ser comparado com os realizados por grupos de pesquisa que se aprofundam em análises dos resultados. Qual foi, então, o real intuito deste capítulo? Pode-se dizer que foi trazer à tona a discussão sobre uma opção metodológica de definição do conceito de “fluência”. Ao levantar a hipótese de aspectos morfológicos, sintáticos e outros relacionados à taxa de palavras por minuto, este estudo deseja fornecer ferramentas para que se possa pensar em uma prática de conceitualizar fluência. Essa prática reflete a disposição do diálogo entre Fonoaudiologia e Linguística, que pode ser realizado a contento. Desse modo, de posse de tal proposta metodológica, o fonoaudiólogo pode detalhar melhor o perfil de seu paciente e entender o foco de seus problemas. Ao se apresentar a divisão entre morfologia e sintaxe, poderá o fonoaudiólogo observar qual desses níveis encontra-se mais afetado em determinado paciente. Além disso, uma vez tendo descrito o desempenho de determinado paciente, pode-se pensar em proceder a uma análise de grupos de pacientes, com a finalidade de verificar se alguns sintomas (como problemas exclusivamente sintáticos, por exemplo) ocorrem com frequência ou não. Agindo desse modo, o fonoaudiólogo ainda estará contribuindo com as pesquisas linguísticas, uma vez que terá um conjunto de dados significativos que servirão de base para o refinamento das classificações e dos critérios a serem adotados em futuras pesquisas. Nesse ponto, o linguista pode fornecer novas propostas metodológicas, partindo da contribuição do fonoaudiólogo, fechando e continuando o diálogo produtivo entre essas duas áreas. Referências ROCHON, E., SAFFRAN, E., BERNDT, R., SCHWARTZ, M. (2000). Quantitative analysis of aphasic sen- tence production: further development and new data. Brain and Language 72: 193-218. SAFFRAN, E. M., BERNDT, R. S., SCHWARTZ, M. F. (1989). The quantitative analysis of agrammatic pro- duction: Procedure and data. Brain and Language 37: 440–479.
  • 30. Parte II30 Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro Capítulo III Ricardo Joseh Lima (Uerj) Daniele Caiafa Rosa (Uerj - Extensão) Juliana da Adauto Pereira (Uerj - Extensão) Solange Iglesias de Lima (UVA - Proatec - Uerj)
  • 31. 31Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro Introdução E ste capítulo traz os resultados de uma pesquisa iniciada em fevereiro de 2008 com o objetivo de avaliar habilidades de nomeação de figuras em falantes afásicos. Sua preo- cupação central foi construir um material que estabelecesse as bases para pesquisas mais aprofundadas, que consigam se aprofundar na análise da seletividade dos erros cometidos pelos afásicos nesse tipo de tarefa. A seção 2 descreve os aspectos metodológicos da pesquisa e, na seção 3, apresentamos os resultados. A seção 4 encerra o capítulo com comentários gerais a respeito desse tipo de pesquisa. Metodologia Nesta seção, serão apresentadas algumas considerações sobre a metodologia que serviu de base a esta pesquisa. Em primeiro lugar, no próximo item, é apresentada a descrição dos materiais, em seguida, os sujeitos e, por fim, detalhamos os procedimentos de aplicação do teste. Materiais Para confecção do teste de nomeação, foram elaboradas 19 categorias, cada qual com 8 nomes correspondentes, totalizando, portanto, 152 desenhos. Essa quantidade de desenhos foi necessária para que se tivesse um número razoável de nomes em cada categoria. Caso houvesse um baixo número (ap- enas dois ou três) em cada categoria, em caso de erro pelo afásico, não se poderia concluir se o afásico tem problemas em nomear elementos de determinada categoria. A tabela com as categorias e os nomes está na Terceira Parte deste livro. Durante a elaboração das categorias, algumas palavras foram pensadas, mas, depois, retiradas do material por serem consideradas raras ou difíceis de desenhar. Esse foi o caso da palavra PRESUNTO, que ao ser desenhado, ficou difícil de ser reconhecido, e das palavras CAMALEÃO e LAGARTIXA, que quando desenhados, tiveram difícil reconhecimento por não haver diferenças marcantes à primeira vista entre estes animais. Em outra situação, categorias inteiras tiveram que ser unidas, transformando-se em uma nova categoria. Foi o caso das categorias dos ANFÍBIOS e dos RÉPTEIS, que se uniram na categoria OUTROS. Essa união foi necessária porque não se conseguiu preencher a quantidade estipulada de oito nomes que obedecessem aos critérios de frequência e identificabilidade por categoria.
  • 32. Parte II32 Para a confecção do material, foram pesquisados outros testes de moldes parecidos, como o conhecido teste da ABFW (ANDRADE, BEFI-LOPES, FERNANDES WERTZNER, 2000), que, no entanto, foi elaborado de modo a ser voltado para crianças, o teste de BOSTON (GOODGLASS KAPLAN, 1972) e o teste “dos 400” (CYCOWICZ et al., 1997), que além de apresentar desenhos de difícil reconhecimento, continha palavras com certo distanciamento cultural, como, por exemplo, as palavras LUVA DE BASE- BALL, CAPACETE DE FUTEBOL AMERICANO, TACO DE BASEBALL etc. Com as categorias já completas e definidas, buscou-se uma pessoa para desenhar os objetos. A aluna da Uerj Elaine Mendes da Silva aceitou o trabalho e confeccionou de forma manual os desenhos, que depois foram passados para o computador pelo processo de digitalização de imagens, por meio de um scanner. Sujeitos A pesquisa contou com dois grupos de participantes. O primeiro, composto pelos não afásicos (controles), os quais nos ofereceram instrumento para comparação do desempenho dos pacientes afási- cos, ao passo que o segundo grupo corresponde aos sujeitos investigados. O grupo de afásicos participante nesta pesquisa é formado por três homens e duas mulheres. Para preservar suas identidades, eles serão identificados como CL, RC, ZB, CS e RP . Os controles foram divididos em dois grupos, sendo o primeiro de 32 alunos universitários (es- tudantes de Letras) e o segundo, de cinco que têm perfil semelhante aos dos pacientes afásicos. Foram, portanto, SA, do sexo masculino, na idade de 53 anos e Ensino Médio; RQ, homem, 54 anos, Nível Médio; EX, mulher, 49 anos, Ensino Médio; CQ, mulher, 50 anos, Nível Médio; WJ, homem, 21 anos, Nível Médio. O primeiro grupo foi criado para avaliar se havia figuras que estariam causando dificuldades na nomea- ção e se havia nomes alternativos ao que havíamos pensado para as figuras. Assim, por exemplo, a figura do ”tomate” levou a um número razoável de incertezas (com muitos nomeando-a como “abóbora”), e a figura da ”salsicha” foi nomeada como “cachorro-quente”, que passou a ser aceito como nome correto. Com isso, pôde-se aplicar o teste ao segundo grupo e, em seguida, aos afásicos. Procedimentos de aplicação Com o objetivo de evitar repetição de erros na nomeação das figuras devido a cansaço dos participantes, elaboraram-se quatro arquivos nos quais as figuras apareciam organizadas de maneiras diferentes. Estes arquivos foram nomeados COND. O total de figuras era de 152, e na COND. 1, estavam organizadas sequencialmente de 1-76 e de 77-152. A COND. 2, tinha as figuras distribuídas de 1-76 e de 152-77. Na COND. 3, a sequência era de 76-1 e de 77-152. Finalmente, na COND. 4, apresentavam-se de 76-1 e de 152-77. Desta maneira, na aplicação da avaliação, as sequências eram distribuídas de acordo com o número de participantes, para que não houvesse excesso de aplicação de uma mesma sequên- cia. Todas as avaliações foram aplicadas por estudantes de Letras bolsistas do PLCD e gravadas em áudio, para posterior avaliação da nomeação. O material foi inicialmente apresentado aos 32 controles (estudantes universitários), na sala do PLCD, na Uerj. Para a maioria, foi dividido em duas etapas: a primeira até a metade da apresentação, e a segunda até o fim, havendo um pequeno intervalo, de aproximadamente 5 minutos, entre uma e outra. O tempo de duração das gravações foi, em média, de 6 min 29 seg. Ver detalhes sobre idade, local da lesão, etiologia etc. no Apêndice. Todos os sujeitos participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual afirmavam estar cientes dos objetivos da pesquisa e permitiam a divulgação dos resultados obtidos. Estes termos estão registrados na Comissão de Ética em Pesquisa (COEP) da Uerj, sob o número 067/2007.
  • 33. 33Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro Para os controles RQ, AS, WJ, EX e CQ, as avaliações foram feitas em suas residências, e buscou-se um ambiente tranquilo, protegido de barulho e ruídos, com o objetivo de não desviar a aten- ção dos participantes e tampouco comprometer a qualidade da gravação. Antes de iniciar as sessões, o objetivo da pesquisa e a relevância de suas participações foram esclarecidos para estes controles. Além disso, visto que nenhum deles conhecia o termo afasia, e todos queriam saber se havia a possibilidade de serem afásicos, aproveitou-se o momento para elucidar dúvidas sobre o quadro clinico de pacientes afásicos. Posteriormente, explicadas as etapas, foram informados de que seriam gravados e da neces- sidade do preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Todos os controles optaram por não fazer o intervalo na apresentação e prosseguiram a aval- iação em uma única etapa. O controle RQ concluiu em 5min 47s, AS, em 8min 26s e WJ, em 7min 44s. As mulheres EX e CQ efetuaram em 7min 03s e 5min 31s, respectivamente. Os encontros com os afásicos foram na própria clínica onde faziam seus tratamentos. As ses- sões para aplicação da avaliação eram individuais e conduzidas por um estudante de Letras. O período de aplicação e a quantidade de sessões necessárias para o encerramento da aval- iação variaram de acordo com o desempenho e vontade (pois tinham a liberdade de pedir para encerrar a avaliação no momento em desejassem) de cada paciente. A participante RC concluiu em apenas uma etapa, em uma sessão de 11min 57s, enquanto o CL, em duas etapas, que duraram somadas 16min 41s, pois este se serviu de um intervalo de aproximadamente 4 min. E a participante ZB, em uma sessão com um pequeno intervalo entre uma sequência de slides e outra, realizando por completo em 26min 33s. Os outros dois participantes precisaram de duas sessões, em dias alternados, para concluir a avaliação. Ambos utilizaram um intervalo de aproximadamente cinco minutos entre cada etapa. O paciente CM concluiu em duas etapas, com o total de 26min 72s. RB realizou em quatro etapas, sendo a primeira sessão dividida em duas etapas, somando 27min 11s, e a segunda sessão, também em duas etapas, que totalizaram 51min 63s. Resultados Como apontado na Introdução, não foi o objetivo desta pesquisa realizar análises e aprofunda- mentos dos resultados aqui obtidos. Seu intuito foi o de enfatizar as práticas metodológicas que surgem do diálogo entre a Linguística e a Fonoaudiologia e direcionar análises de resultados a partir dessa par- ceria. Desse modo, nos limitamos a apresentar de forma geral e esquematizada alguns resultados, que serão comentados brevemente, em particular: Nomes que levaram ao erro Na tabela 1, observamos os nomes, separados por categoria, que levaram os participantes da pesquisa a cometerem erros em sua nomeação. Os nomes que estão em negrito levaram ao erro tanto controles quanto afásicos; os que estão sem formatação levaram ao erro apenas os afásicos. Tabela 1 – Nomes que levaram ao erro Alvo Quantidade Categoria Tucano 2 Aves Pombo 1 Aves Pica-pau 2 Aves Beija-flor 1 Aves Pinguim 1 Aves Patins 1 Brinquedos
  • 34. Parte II34 Gangorra 1 Brinquedos Pião 1 Brinquedos Dominó 1 Brinquedos Chuveiro 3 Objetos do lar Pia 1 Objetos do lar Colher 1 Objetos do lar Machado 3 Ferramentas Chave de fenda 2 Ferramentas Hospital 2 Imóveis Estádio 2 Imóveis Escola 1 Imóveis Violino 2 Instrumentos musicais Sanfona 1 Instrumentos musicais Pandeiro 1 Instrumentos musicais Ovelha 1 Animais domésticos Gato 1 Animais domésticos Tigre 2 Animais selvagens Golfinho 2 Animais marinhos Lagartixa 1 Animais (outros) Orelha 1 Partes do corpo Cozinheiro 1 Profissões Policial 1 Profissões Calça 2 Roupa Saia 1 Roupa Camisa 1 Roupa Metrô 1 Meios de transporte Pente 1 Objetos de uso pessoal Escova de dente 1 Objetos de uso pessoal Chuchu 1 Vegetais Detalhamento dos erros dos afásicos Na tabela 2, são apresentados os erros cometidos por cada afásico. Considerou-se erro so- mente a nomeação que não era idêntica à esperada e que não era fruto de problemas no desenho do nome ou que fosse um nome alternativo. Assim, as nomeações do “tomate” como “abóbora” e de “quadro ne- gro” como “professor” não foram contadas como erros. Essa decisão também valeu para as respostas fornecidas pelos indivíduos controles. Tabela 2 – Erros cometidos pelos afásicos Alvo Erro Afásico Golfinho Peixe CL Pandeiro Tamborim CL Chuchu Fruta CL Policial Caçador CL Chuveiro Banheiro CS Calça Jeans CS Patins Patinete CS Violino Violão CS Golfinho Foca CS Sanfona Piano CS
  • 35. 35Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro Tucano Arara CS Machado Martelo CS Pombo Passarinho CS Pente Escova CS Ovelha Zebra CS Hospital Médico CS Pica-pau Passarinho CS Tigre Pantera CS Cozinheiro Restaurante CS Chuveiro Guarda-chuva RC Violino Violão RC Tucano Pica-pau RC Machado Martelo RC Hospital Ambulância c/ cara na cadeira RC Pica-pau Papagaio RC Tigre Onça RC Gangorra Brinquedo RC Escova de dente Pasta RC Estádio Futebol RC Pião Brinquedo RC Pia Água com copo RC Colher Panela RC Lagartixa Besouro RC Chave de fenda Gira fenda RC Dominó Brinquedo RC Beija-flor Pica-pau RC Gato Onça RC   Chuveiro Chuva RP Calça Roupa RP Machado Pá RP Estádio Bola RP Chave de fenda Chaves RP Saia Roupa RP Metrô Direto RP Escola Os meninos andando para lá, para comer RP Camisa Roupa RP Orelha Olho RP Pinguim Pinto RP Frequência dos nomes do teste A título de ilustração, seguem as médias e medianas das frequências dos nomes que formaram cada categoria. As frequências foram obtidas a partir do corpus NILC/São Carlos (disponível na Internet, no endereço http://www.linguateca.pt/acdc/, acessado em novembro de 2008): Tabela 3 - Médias e medianas das frequências dos nomes que formaram cada categoria Categorias Média Mediana Imóveis 5079,375 3131 Profissões 3387 1974 Meios de transporte 3071,875 1176,5 Partes do corpo 2534,125 1598,5 Elementos da natureza 1256,125 1085
  • 36. Parte II36 Brinquedos 666,875 65 Roupas 661,375 527 Animais domésticos 486,5 367,5 Objetos do lar 415,375 302,5 Objetos de uso pessoal 372,75 349 Alimentos feitos pelo homem 331 296,5 Vegetais 270,5 166,5 Instrumentos musicais 201 134 Animais (outros) 175,8 165,5 Animais marinhos 160,25 156,5 Frutas 144,75 139 Animais selvagens 140 123 Ferramentas 94,75 80 Aves 53,5 40 Estudos posteriores poderão revelar se há alguma tendência tanto em controles como em afásicos em nomear erradamente figuras que correspondem a nomes pouco frequentes. De modo geral isso, é o que parece acontecer com os controles, mas não com os afásicos, se levarmos em conta a média, mas com os dois grupos, se levarmos em conta a mediana. A média de frequência dos 152 itens do teste é 1026,4 (com mediana 230); a média de frequência das nomeações erradas dos controles foi de 264,33 (com mediana 125); já a média de frequência das nomeações erradas dos afásicos foi de 873,5 (com mediana de 118). Categorias que induziram ao erro Na tabela 4, contabilizaram-se os erros divididos por categoria, a fim de comparar afásicos e controles. Como se pode perceber, algumas categorias não produziram nenhum erro por parte de nenhum grupo (Alimentos feitos pelo homem e Natureza); outras categorias apresentaram mais dificul- dades somente para um grupo (caso dos Instrumentos musicais para os controles, mas não para os afásicos, e caso das Roupas para os afásicos, mas não para os controles). Tabela 4 – Comparação do número de erros por categoria entre controles e afásicos Categoria Afásicos Controles Aves 5 7 Brinquedos 4 4 Objetos do lar 3 0 Imóveis 3 2 Instrumentos musicais 3 6 Roupas 3 0 Ferramentas 2 4 Animais domésticos 2 3 Profissões 2 2 Objetos de uso pessoal 2 0 Animais selvagens 1 3 Animais marinhos 1 7 Animais (outros) 1 2 Partes do corpo 1 0 Meios de transporte 1 2 Vegetais 1 2 Alimentos feitos pelo homem 0 0 Frutas 0 1 Elementos da natureza 0 0
  • 37. 37Capítulo III - Nomeação de figuras por afásicos no português brasileiro Comentários finais Conforme apontado na Introdução, não foi objetivo deste estudo realizar uma pesquisa apro- fundada e detalhada sobre as características dos processos que envolvem a nomeação em afásicos. Nosso intuito foi o de apresentar questões metodológicas que auxiliarão nas análises linguísticas deste tema. Alguns itens merecem destaque. Em primeiro lugar, a busca por um número razoável de ocor- rências de nomes em uma classe é essencial para se ter noção se o afásico possui dificuldades em nomear elementos pertencentes a essa classe. O controle da frequência do item também pode ter rele- vância: itens que ocorrem muito frequentemente na fala podem ser mais facilmente acessados pelos afásicos do que aqueles que raramente são pronunciados ou ouvidos. A criação de listas de aplicação também é um critério importante: se todos os itens forem apresentados na mesma ordem para vários afásicos, corre-se o risco de os itens que aparecerem por último apresentarem maior dificuldade na no- meação porque estão por último, e fatores como cansaço podem ocasionar erros. O balanceamento dos itens em diversas ordens inibe esses fatores. Por fim, não se deve deixar de mencionar que o teste de nomeação não admite em uma primeira etapa pistas para o afásico, quer elas sejam fonológicas (os primeiros sons da palavra) ou semânticas (para que um item serve, qual é sua forma etc.). Isso porque a dificuldade do afásico pode estar justamente em um desses aspectos. O uso de pistas pode vir em uma segunda etapa, somente a partir da análise do desempenho do afásico na primeira etapa. Em nossos dados, observamos que o afásico CS nomeia “golfinho” como “foca”, uma troca que pode ser analisada como semântica, já que são animais marinhos e a estrutura fonológica das palavras não é semelhante. Já o afásico RP nomeia “pinguim” como “pinto” – embora sejam animais, a maior semelhança aparente entre eles é a sílaba inicial (“pin”). Referências ANDRADE, C.; BEFI-LOPES, D.; FERNANDES, F.; WERTZNER, H. ABFW - Teste de linguagem infantil: nas áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática. Pro Fono: São Paulo, 2000. GOODGLASS, H., KAPLAN, E. The assessment of aphasia and related disorders. Philadelphia, PA: Lea and Febirger, 1972. CYCOWICZ, Y. M., FRIEDMAN, D., ROTHSTEIN, M., SNODGRASS, J.G. Picture naming by young chil- dren: norms for name agreement, familiarity, and visual complexity. Journal of Experimental Child Psy- chology, 65:171-237, 1997.
  • 38. Parte II38 Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca Capítulo IV Clara Villarinho (Doutoranda PUC-Rio)
  • 39. 39Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca Introdução A metodologia experimental usada com fins de pesquisa fundamenta-se na utilização de testes que permitam isolar os fatores que se intentam estudar de outras possíveis influências, e, por isso, requer uma atenção minuciosa a uma série de aspectos rela- cionados aos procedimentos e materiais utilizados. A escolha do tipo de teste a ser empregado torna-se essencial, a depender dos objetivos buscados nessa investigação, e cada uma de suas partes deve ser pensada mantendo-se esse objetivo em foco. No caso de uma pesquisa linguística, os testes devem levar em conta não apenas o tipo de tarefa, que deve ser adequado à realidade do indi- víduo que o realizará e coerente para as estruturas investigadas, mas também o tipo de sentença que constará do teste e sua formação. Este capítulo tem como objetivo apresentar um processo de elabora- ção de experimentos voltados para a avaliação linguística de pacientes afásicos, além de discutir alguns pontos relevantes a respeito das questões metodológicas envolvidas na construção e aplicação desses testes, em especial quando estas podem se refletir nos resultados da pesquisa. Os experimentos apresentados nesse capítulo são os utilizados na pesquisa de Villarinho (2008) para testar a compreensão de afásicos de Broca, clinicamente classificados como agramáticos, em sen- tenças ativas, passivas, e interrogativas QU de sujeito e objeto, com o intuito de avaliar em que medida os resultados dos pacientes poderiam ser condizentes com um padrão geral que os caracterizaria como um grupo, o que não é consensual entre os autores da área e vem sendo amplamente discutido por meio de diversos trabalhos (cf. VILLARINHO, 2008, para uma revisão). Essas sentenças foram escolhidas, pois permitem a oposição entre as versões com e sem movimento de sintagmas (respectivamente, as passivas e interrogativas de objeto, e as ativas e interrogativas de sujeito), que seria crucial para a car- acterização desse padrão, no qual se preveria que o grupo, de forma homogênea, apresentaria um des- empenho problemático nas primeiras e um comportamento quase perfeito nas segundas (GRODZINSKY, 1990 e trabalhos subsequentes), o que se deveria a uma dificuldade na atribuição de papéis temáticos aos sintagmas nominais movidos . Para essa avaliação, foram escolhidos dois tipos de teste – o teste de correspondência sen- tença-gravura e um tipo de teste de encenação –, que, como se verá adiante, podem ser considerados os mais adequados às estruturas testadas e às dificuldades dos pacientes afásicos. Assim, neste capítulo, os detalhes de ambos os paradigmas experimentais e sua influência nos resultados serão discutidos. Para tal, a próxima seção trará uma descrição geral dos dois testes e de sua metodologia geral e ex- plicará os principais motivos para sua escolha. As duas seções seguintes apresentarão de forma mais especifica os experimentos utilizados na pesquisa de Villarinho (2008), demonstrando sua elaboração e procedimentos de aplicação, além dos problemas metodológicos encontrados em cada um deles e O termo sentença é utilizado, nos estudos linguísticos, para designar uma unidade gramatical composta por uma ou mais orações (expres- sando uma proposição e incluindo minimamente um predicado e um sujeito, explícito ou implícito). Alguns trechos desse capítulo são adaptações do texto no trabalho original em Villarinho (2008), especialmente nas seções de descrição dos dois experimentos da pesquisa.
  • 40. Parte II40 os resultados obtidos. A última seção do capítulo trará alguns comentários finais acerca das questões discutidas aqui. Apresentação das metodologias Como foi mencionado anteriormente, os testes empregados na pesquisa foram escolhidos por demonstrarem-se os mais adequados, em termos metodológicos, às sentenças investigadas e aos participantes da tarefa. Tendo-se em vista que esses testes podem ser aplicados também, com algu- mas alterações, a outros tipos de estrutura e com outros grupos de indivíduos , considerou-se que um teste simples de correspondência sentença-gravura seria o ideal para a testagem das sentenças ativas e passivas, enquanto as interrogativas deveriam ser investigadas em um tipo de teste de encenação, uma vez que outras metodologias têm se apresentado problemáticas, por não atenderem às restrições necessárias para uma adequação metodológica (VILLARINHO E FORSTER, 2007). Assim, essa seção será dedicada à explicitação das características gerais dos dois tipos de testes, bem como os motivos que levaram à sua escolha. Correspondência sentença-gravura De um modo geral, no teste de correspondência sentença-gravura (doravante CSG), é apre- sentado ao participante um dado número de figuras que refletem o assunto investigado, e uma sentença é falada ou reproduzida pelo experimentador. O participante é, então, solicitado a escolher, dentre as gravuras apresentadas, aquela que possui um significado correspondente à sentença-teste. Pode-se dizer que esse seja o tipo de paradigma experimental mais utilizado na literatura sobre o agramatismo, na avaliação do desempenho desses pacientes em diferentes tipos de estrutura (CARAMAZZA E ZURIF, 1976; GRODZINSKY, 1989; HICKOK, ZURIF E CANSECO-GONZALEZ, 1993; LUKATELA, SHANKWEILER E CRAIN, 1995; BERETTA ET AL,1996; HERMONT, 1999; LAW E LEUNG, 2000; BURCHERT, BLESER E SONNTAG, 2001). Por esse motivo, as particularidades desse teste costumam variar de acordo com os objetivos de cada estudo, principalmente com relação ao tipo e quantidade de gravuras apresentadas ao participante, embora algumas variações dessa espécie possam se mostrar problemáticas se a es- colha das figuras em relação às sentenças não for cuidadosa, uma vez que, em uma tarefa de escolha obrigatória entre respostas já dadas, diferentes possibilidades de opções geram diferentes padrões de resposta, dependendo de como a língua está afetada (GRODZINSKY E MAREK, 1988). Esse problema é, no entanto, minimizado, ao se utilizar esse tipo de teste na avaliação de estru- turas não muito complexas, como as ativas e as passivas, para as quais se mostra bastante adequado, já que, como ficará claro mais adiante, pode ser aplicado em uma versão simples, motivo pelo qual foi o paradigma experimental escolhido para testá-las. Além disso, esse tipo de teste mostra vantagens em comparação a outras metodologias, pois não requer habilidades que poderiam ser processualmente, ou mesmo fisicamente, custosas para os afásicos (já que, como se sabe, os déficits linguísticos podem ser acompanhados de outros tipos de deficiência), e por permitir um amplo controle de possíveis fatores que poderiam influenciar seu resultado final. Dessa forma, pode-se considerar que essas tenham sido as características que levaram o paradigma de correspondência sentença-gravura a ser o mais largamente utilizado na literatura para testar especificamente esses tipos de sentença (MIERA E CUETOS, 1998; BERETTA E MUNN, 1998; HERMONT, 1999; BURCHERT, DE BLESER E SONNTAG, 2001; CARAMAZZA ET AL., 2005, entre outros). Na literatura em psicolinguística, ambos os testes são comumente utilizados para testar, por exemplo, crianças em fase de desenvolvimento linguístico, e indivíduos com déficits que envolvam a língua, como o Déficit Espe- cificamente Linguístico e o Déficit de Aprendizagem (cf. CORRÊA, 2006).
  • 41. 41Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca Encenação Existem, nas pesquisas sobre o agramatismo e a afasia de Broca, dois tipos de metodologia de encenação. Em um dos tipos, que talvez seja o mais comumente utilizado para testar diferentes tipos de estrutura, especialmente as estruturas relativas e clivadas (CAPLAN, HILDEBRANDT E MAKRIS, 1996; CAPLAN E FUTTER, 1986; HAGIWARA E CAPLAN, 1990, RIGALLEAU, BAUDIFFIER E CAPLAN 2004, en- tre outros), uma sentença é dita pelo experimentador, e o participante deve realizar uma cena, utilizando bonecos, que corresponda à sentença (algumas vezes, o experimentador pode realizar parte da cena, que deve ser completada pelo participante [FIGUEIREDO, 1999]). No outro tipo, é o experimentador quem realiza a cena, a respeito da qual, em seguida, é feita ao participante uma pergunta, que deve ser re- spondida apontando-se algum dos personagens envolvidos na encenação. Os materiais utilizados nesse teste, portanto, são apenas os bonecos necessários à encenação, sendo sua quantidade e tipo variáveis de acordo com os objetivos do estudo, o que deve ser adequadamente pensado, para que não surjam problemas de ordem metodológica, como no caso mencionado no paradigma de correspondência sen- tença-gravura (cf. GRODZINSKY, 1986b). Naturalmente, para uma investigação sobre sentenças interrogativas, o teste mais adequado é o do segundo tipo descrito, nos moldes de Hickok e Avrutin (1996). Apesar de essas estruturas serem ainda pouco estudadas na literatura da área, esse é o tipo de experimento mais comumente utilizado nos estudos existentes (HICKOK E AVRUTIN, 1996; THOMPSON ET AL., 1999), especialmente por se ad- equar à realidade representada pela sentença, e por ser, como apontam Hickok e Avrutin (1996), menos computacionalmente custoso que o teste de CSG, o que faz com que seus resultados não possam ser atribuídos a influências das demandas da tarefa. Isso é assumido pelos autores com base na interpreta- ção de que, enquanto a correspondência sentença-gravura envolveria não apenas o processamento da sentença testada, mas também o processamento das duas figuras, o estabelecimento de comparações e a formação de alguns julgamentos, a encenação exigiria um menor processamento da tarefa, sendo menos metalinguístico. Conforme foi mencionado, a maior parte das características específicas dos paradigmas ex- perimentais são determinadas em função de sua aplicação em cada pesquisa. Assim, os detalhes dos dois tipos de teste introduzidos nesta seção são apresentados mais aprofundadamente nas próximas seções, que são dedicadas aos métodos utilizados por Villarinho (2008) nos testes de CSG e encenação, respectivamente, e a seus resultados. Experimento 1: Testando Ativas e Passivas com correspondência sentença-gravura Na introdução deste capítulo, foi brevemente discutido que o objetivo de nossa pesquisa era o de verificar a possível existência de um padrão de desempenho entre os pacientes agramáticos afásicos de Broca, caracterizado pelo bom desempenho em sentenças sem movimento sintagmático e pela má compreensão de sentenças com esse tipo de movimento. Desde a década de 80, os principais argumen- tos contra ou a favor da validade do agrupamento de pacientes de acordo com esse perfil têm sido busca- dos principalmente em resultados de estudos com sentenças ativas e passivas, em que os defensores da existência do grupo consideram encontrar um padrão homogêneo, e os outros autores acreditam numa grande variação individual que impossibilitaria a existência do grupo. Por esse motivo, essas estruturas foram o foco da pesquisa apresentada aqui. Assim, avaliou-se, nesse teste, se o tipo de estrutura afetaria o desempenho do paciente e se a reversibilidade das estruturas teria alguma influência na compreensão dos indivíduos, já que a não reversibilidade semântica poderia funcionar como uma “pista” que facilitaria a compreensão dos indivíduos (cf. seção Sentenças). Para tal, consideraram-se como variáveis independentes o tipo de es- trutura (ativa e passiva), a reversibilidade (reversível e não reversível) e, secundariamente, a posição do personagem correspondente ao agente da sentença na figura (à esquerda ou à direita). A variável depen- dente é o número de acertos na escolha da gravura correspondente à sentença (em oposição à gravura que representa a sentença com papéis temáticos invertidos). Foram submetidos ao teste quatro pacien-
  • 42. Parte II42 tes que potencialmente formariam um grupo com perfil homogêneo, uma vez que foram selecionados de acordo com os critérios tradicionais de seleção, que incluem sua classificação como agramáticos de acordo com o Teste de Boston (GOODGLASS E KAPLAN, 1972), e o diagnóstico clínico, realizado por uma fonoaudióloga, que se baseou nas manifestações linguísticas dos pacientes (desempenho clássico de agramáticos, marcado por fala telegráfica constituída principalmente de sentenças simples em ordem canônica e marcada pela omissão de itens funcionais [preposições, determinantes] e afixos), bem como no seu local de lesão (que deveria afetar a área de Broca). Método Como foi dito anteriormente, há, nos diversos estudos que utilizam esse teste, alguma variação quanto ao número de figuras exibidas aos sujeitos, a depender dos objetivos da pesquisa e do controle metodológico utilizado. No caso da pesquisa de Villarinho (2008), que buscava investigar a designação de papéis temáticos a sintagmas nominais, eram apresentadas ao participante três figuras: uma correta, uma que representava a sentença com os papéis temáticos invertidos e uma sem nenhuma relação com a sentença. Essa terceira figura tem uma função de controle, e torna possível verificar se um desem- penho aleatório apresentado pelo paciente (numa escolha indiscriminada das figuras) seria derivado de problemas na compreensão da sintaxe ou na compreensão do teste ou do conteúdo semântico da sen- tença, já que, no primeiro caso, o paciente jamais escolheria a figura controle e, no segundo, sim. Assim, ao se testar uma sentença como “A mulher beijou a menina” ou “A menina foi beijada pela mulher”, as figuras apresentadas ao paciente seriam (a) uma mulher beijando uma menina, (b) uma menina beijando uma mulher e (c) um homem assaltando um menino. Sentenças No que diz respeito às sentenças utilizadas, foram testadas 12 estruturas semanticamente reversíveis na voz ativa e 12 na voz passiva, exemplificadas em (01), além de 12 ativas e 12 passivas não reversíveis, exemplificadas em (02). (1) a. O menino assaltou o homem. b. O homem foi assaltado pelo menino. (2) a. O homem tocou o sino. b. O sino foi tocado pelo homem. Com o objetivo de se uniformizarem as sentenças, em especial as passivas, todas as estruturas eram formadas com verbos da primeira conjugação (para que não houvesse diferenças nas flexões de tempo) e continham sempre dois DPs de mesmo gênero (para que o morfema de gênero no particípio não pudesse denunciar a resposta correta), sendo seis entre as 12 sentenças sempre no feminino e seis no masculino. Dentre as seis de cada gênero, em quatro sentenças, foram utilizados personagens huma- nos (homem, mulher, menino, menina, rapaz, moça) e, em duas, foram utilizados animais (sempre com gêneros compatíveis com o nome, como vaca, cobra, zebra, para o feminino, ou gato, cachorro, leão, para o masculino), pois esses são os tipos de personagem comumente usados na literatura nesse tipo de teste. Na figura 1, são ilustrados os personagens utilizados. Esses pacientes foram disponibilizados por uma parceria estabelecida entre o Programa Linguagem em Condições Dife- renciadas (Uerj) e o Ambulatório de Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, por meio do trabalho da fonoaudiólo- ga Solange Lima, cuja colaboração foi fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa. Ver detalhes sobre idade, local da lesão, etiologia etc. no Apêndice. DP é a abreviação para Determiner Phrase (Sintagma Determinador). É uma notação utilizada recentemente na Teoria Gerativa para fazer referência ao que tradicionalmente se conhece como Sintagma Nominal.
  • 43. 43Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca Figura 1 – Personagens utilizados no Experimento 1 Tendo-se em vista que a utilização de estruturas não reversíveis em testes, especialmente na CSG, requer algumas considerações metodológicas específicas (uma vez que sua natureza semântica demanda um maior cuidado na formulação dos materiais do experimento), a próxima subseção será dedicada a explicar algumas dessas especificidades e determinar as principais medidas necessárias a serem tomadas ao se testarem essas estruturas. Estruturas não reversíveis Apesar de o foco dos estudos sobre o agramatismo e a afasia de Broca ser, naturalmente, as sentenças semanticamente reversíveis, nas quais é possível observar a designação de papéis temáticos aos dois DPs, o desempenho de pacientes neste tipo de sentença costuma ser também avaliado, com o intuito de investigar a assunção de que afásicos agramáticos não teriam problemas em compreender essas estruturas, pois se sustentariam em uma “pista” semântica (a animacidade dos DPs) para in- terpretar a sentença. A ideia seria a de que essa “pista” impediria uma interpretação do DP inanimado como agente da sentença, logo fazendo com que o paciente compreenda os papéis temáticos dos DPs corretamente, com base nessa estratégia e não necessariamente por seu conhecimento sintático. Esse seria o caso das sentenças apresentadas em (02), nas quais o afásico não precisaria conseguir atribuir os papéis temáticos de agente a “o homem” e de tema a “o sino” por meio do processamento sintático, pois apenas seria necessário que ele soubesse que um sino não pode tocar um homem (CARAMAZZA E ZURIF, 1976).
  • 44. Parte II44 Apesar de esse tipo de estrutura já ter sido testado por diversos autores, alguns problemas metodológicos recorrentes nesses estudos podem ter afetado seus resultados. Esses problemas são consequências da utilização do paradigma de CSG, já que, ao se apresentar a figura com os papéis temáticos invertidos, é possível que se perca o referencial do que seria ou não possível de ser repre- sentado. Isso ocorre porque, se uma sentença como “o menino comeu a maçã” fosse testada, seria necessária a existência de uma figura (a com os papéis temáticos invertidos) representando uma maçã comendo um menino, o que pode demonstrar ao sujeito que o teste está inserido em um universo em que maçãs podem comer meninos. Além de trazerem a representação de imagens bizarras, como uma maçã comendo um menino (CARAMAZZA E ZURIF, 1976) ou um banco empurrando uma senhora (SU, LEE E CHUNG, 2007), um teste nesses moldes faz com que a proposta do experimento perca o sentido, visto que a reversibilidade se define em um dado universo, e esses desenhos demonstram que, no universo do teste, essas sentenças são, de fato, reversíveis (GRODZINSKY E MAREK, 1988). Para contornar esse problema, as sentenças não reversíveis utilizadas nesse teste foram for- madas apenas com verbos inacusativos com alternância causativa, e as figuras incorretas não represen- tavam uma inversão de papéis temáticos, mas os personagens e os objetos envolvidos na ação lado a lado, com o objeto sofrendo a ação independentemente da atuação do personagem. Assim, para testar uma sentença como (02), a figura incorreta apresentaria um sino tocando e um homem, ao lado, alheio à situação. Essa modificação faz com que seja possível investigar uma atribuição errada de papéis temáti- cos ou uma impossibilidade de se atribuírem papéis temáticos sem que a reversibilidade da sentença seja perdida, já que, nessas condições, haveria duas possíveis interpretações: o paciente pode atribuir o papel de tema ao objeto interpretando o verbo ou como transitivo, atribuindo o papel de agente ao per- sonagem (o que seria o correto), ou como inacusativo, sendo o personagem apenas coadjuvante na ação (PIÑANGO E ZURIF, 2001). É verdade, contudo, que, nas passivas, que são as sentenças críticas para o afásico, pois apresentam alteração de ordem canônica, a informação lexical da preposição no PP (“pelo homem”) poderia informar ao sujeito que o DP deve receber papel de agente, fazendo com que haja uma tendência de se interpretarem as sentenças da forma correta. Figuras As figuras utilizadas nesse experimento foram planejadas de forma a tornarem o teste simples e acessível para os afásicos, e, ainda, serem um instrumento de maior controle dos fatores extralinguísti- cos que poderiam influenciar o desempenho do sujeito ao realizar a tarefa. Dessa maneira, foram feitos desenhos simples, em preto e branco ou escala de cinza, que, como foi explicado, eram apresentados em grupos de três: a figura correta, a incorreta e a controle. Cada um dos desenhos encontrava-se em um cartão medindo cerca de 10 X 15 cm. No que concerne ao controle de fatores extralinguísticos, a principal preocupação durante a confecção do material foi com a possível influência de uma estratégia interpretativa baseada na dis- posição dos personagens nos desenhos. Como se sabe, a utilização de estratégias não linguísticas é um recurso naturalmente empregado pelos indivíduos para lidar com tarefas processualmente muito custosas (BEVER, 1970), e sujeitos afásicos são impelidos a explorar ainda mais essas estratégias, de forma a compensar as faltas causadas por seu déficit, que os impediriam de realizar eficientemente a tarefa (GRODZINSKY, 1986). O uso dessas estratégias por pacientes afásicos tem sido bastante investi- gado, em especial nos estudos sobre a produção (CAPLAN, 1983; HARTSUIKER E KOLK, 1998), embora a maioria dos estudos a respeito da compreensão agramática não pareça levar em conta essa possibili- dade quando da elaboração dos materiais utilizados em seus testes. Dessa forma, o emprego de estratégias durante a realização de uma tarefa pode interferir nos resultados, visto que eles não refletirão o desempenho linguístico do participante, mas o padrão resul- tante da associação do conhecimento linguístico à tendência de resposta gerada pela estratégia. É por esse motivo que a elaboração desse experimento precisou considerar esses aspectos, de forma a torná- lo mais isento de influências externas ao uso linguístico.
  • 45. 45Capítulo IV -Aspectos metodológicos na avaliação da compreensão de agramáticos afásicos de broca Especificamente, observou-se que as estratégias de produção reportadas por Caplan (1983) e Hartsuiker e Kolk (1998) poderiam ser relevantes em um teste que envolvesse a interpretação de figu- ras, como o proposto aqui. Esses autores sugerem que existem três estratégias que são empregadas, tanto por afásicos quanto por indivíduos neurologicamente intactos, ao produzir uma sentença em uma situação experimental: (1) produzir sentenças preferencialmente na voz ativa; (2) colocar o DP com papel temático de agente à esquerda do verbo; (3) colocar a entidade animada à esquerda do verbo. Com base nos dados encontrados por Flores d’Arcais (1975 apud HARTSUIKER E KOLK, 1998) , Hartsuiker e Kolk (1998) adicionam, ainda, que, em tarefas de descrição de figuras, uma quarta é observada: os indivíduos tendem a começar a resposta com o elemento à esquerda da figura. Sendo assim, não é difícil imaginar que algumas dessas estratégias poderiam também, de alguma forma, atuar na compreensão, especialmente em uma tarefa como a de CSG: os indivíduos poderiam, por exemplo, inferir, a partir da associação dessas estratégias, que o agente da sentença deve ser o personagem representado à esquerda da figura, o que influenciaria a compreensão das sentenças dependendo da posição do agente na figura (se todas as figuras tivessem o agente desenhado à direita, por exemplo, a interpretação de uma sentença ativa poderia ser prejudicada). No entanto, em geral, os estudos que utilizam esse paradigma experimental não costumam controlar o posicionamento dos per- sonagens nas figuras e, muitas vezes, sequer citam como essa distribuição está organizada, como é o caso, por exemplo, dos trabalhos de Friederici e Graetz (1987), Hagiwara (1993), Beretta e Munn (1998), Beretta et al. (1999), Law e Leung (2000), Beretta et al. (2001), Luzzatti, Toraldo e Guasti (2001), Love e Oster (2002) e Caramazza et al. (2005). Por esse motivo, para nossa pesquisa, foram realizadas algumas modificações no formato clássico da tarefa de CSG. Nesse trabalho, optou-se por controlar esse fator, e, para tal, utilizaram-se dois tipos de figura: um em que o personagem que representa o agente aparecia à esquerda do desenho (nas três figuras do teste) e outro em que o personagem aparecia à direita. Assim, cada sentença rever- sível desse teste foi aplicada duas vezes (em sessões diferentes), uma vez para ser comparada a um grupo de figuras com o agente à esquerda e uma outra vez para ser comparada com figuras com o agente à direita, como exemplificado na figura 2, na qual são apresentadas as duas condições em que a sentença “a mulher beijou a menina” apareceria no teste. Figura 2 – Condições experimentais da sentença “a mulher beijou a menina” Condição 1: Agente correto à es- querda Condição 2: Agente correto à direta Figura correta Figura correta Esses dados foram obtidos em um estudo com indivíduos não lesionados. Como fica evidente, não haveria motivo para fazer o mesmo com as não reversíveis.
  • 46. Parte II46 Figura incorreta Figura incorreta Figura controle Figura controle Procedimentos de aplicação do teste Tendo-se em vista a quantidade de itens que formavam a tarefa, esse teste foi aplicado aos quatro afásicos em duas sessões. A primeira delas constava de 48 sentenças, sendo essas as 12 de cada um dos quatro tipos de sentenças testados (ativas e passivas, reversíveis e não reversíveis). Nesta sessão, metade das sentenças ativas e passivas reversíveis aparecia na Condição 1 e a outra metade na Condição 2, de forma a se evitar uma tendência de resposta ao se apresentar sempre o mesmo padrão de distribuição dos desenhos. Na segunda sessão, que era formada apenas pelas estruturas reversíveis, as sentenças testadas na primeira sessão eram repetidas, dessa vez, aparecendo na condição oposta à que apareceram na primeira sessão. A ordem de apresentação das sentenças foi aleatorizada para as duas sessões, e as sentenças foram reorganizadas para evitar casos em que as mesmas figuras fossem repetidas em até três rodadas consecutivas. Também foi aleatorizada a distribuição das três figuras apresentadas em relação ao indi- víduo: na posição (a), em cima, (b), ao centro, ou (c), embaixo, como mostra a figura 3, abaixo.