O documento conta a história de Jesus pedindo a Pedro para ajudar a filha do curtidor Jeremias que estava doente. Quando Pedro vai à casa de Jeremias, ele encontra uma família desunida e viciada, onde ninguém se importa com a filha doente. Pedro retorna frustrado para Jesus, mas Jesus diz que só pediu que Pedro ajudasse, não que julgasse a família.
2. Com base no conto “A Petição de Jesus”, do livro Cartas e Crônicas, pelo
Espírito Irmão X.
Conta-nos assim o autor espiritual:
E Jesus, retido por deveres constrangedores, junto da multidão, em
Cafarnaum, falou a Simão, num gesto de bênção:
- Vai, Pedro! Peço-te! Vai à casa de Jeremias, o curtidor, para ajudar. Sara, a
filha dele, prostrada no leito, tem a cabeça conturbada e o corpo abatido.
Vai sem delonga, ora ao lado dela, e o Pai, a quem rogamos apoio,
socorrerá a doente por tuas mãos. Na manhã ensolarada, pôs-se o discípulo
em marcha, entusiasmado e sorridente com a perspectiva de servir.
3. À tarde, quando o sol cedia as últimas posições à sombra noturna, vinha de
retorno enunciando inquietação e pesar no rosto áspero.
- Ah! Senhor! Disse ao Mestre que lhe escutava os apontamentos. Todo
esforço baldado, tudo em vão!
- Como assim?
E o apóstolo explicou amargamente, qual se fora um odre de fel a
derramar-se:
- A casa de Jeremias é um antro de perdição. Antes fosse um pasto
selvagem. O abastado curtidor é um homem que ajuntou dinheiro, a fim de
corromper-se.
4. De entrada, dei com ele bebericando vinho num paiol, a cuja porta bati, na
esperança de obter informações para demandar o recinto doméstico. Não
parecia um patriarca e sim um gozador desavergonhado. Sentava-se na
palha de trigo e, de momento a momento, colava os lábios ao gargalo de
pesada botelha, desferindo gargalhadas, ao pé de serva bonita e jovem, que
se refestelava no chão, positivamente embriagada. Ao receber-me, começou
perguntando quantos piolhos trago à cabeça e acabou mandando-me ao
primogênito. Saí à procura de Zoar, o filho mais idoso, e o achei,
enfurecido, no jogo de dados em que perdia largas somas para conhecido
traficante de Jope. Acolheu-me aos berros, explicando que a sorte da irmã
não lhe despertava o menor interesse.
5. Por fim, expulsou-me aos coices, dando a ideia de uma besta-fera solta no
campo . Afastava-me, apressado, quando esbarrei com a dona da casa. Dei-
lhe a razão de minha presença; contudo, antes de atender-me, passou a
espancar esquelética menina, alegando que a criança lhe havia surrupiado
um figo, enquanto a pequena chorosa tentava esclarecer que a fruta havia
sido devorada por galos de estimação. Somente após ensanguentar a vítima,
resolveu a megera designar o aposento em que poderia avistar-me com a
filha enferma. Ante o olhar melancólico do ouvinte, o discípulo prosseguiu:
- A dificuldade, porém, não ficou nisso... Visivelmente transtornada por
bagatela, a velha sovina errou na indicação, pois entrei numa alcova
estreita, onde fui defrontada por Josué, o filho mais moço do curtidor, que
mergulhava a mão num cofre de joias.
6. Desagradavelmente surpreendido, fez-se amarelo de raiva, acreditando
decerto que eu não passava de alguém a serviço da família, a fim de
espionar-lhe os movimentos. Quando ergueu o braço para esmurrar-me,
supliquei-lhe considerasse a minha situação de visitante em missão de paz e
socorro fraterno. Embora contrafeito, conduzindo-me ao quarto da irmã.
Ah! Mestre, que tremenda desilusão! Não duvido de que se trata de uma
doente, mas, logo me viu, a estranha criatura se tornou inconveniente,
articulando gestos indecorosos e pronunciando frases indignas. Não
aguentei mais. Fugi, horrorizado, e regressei pelo mesmo caminho.
Observando que o Amigo Sublime se resguardava, triste e silencioso,
volveu Simão, após comprido intervalo:
7. - Senhor, não fui, acaso, bastante claro? Porventura, não terei procurado
cumprir-te honestamente os desejos? Seria justo, Mestre, pronunciar o
nome de Deus, ali, entre vícios e deboche, avareza e obscenidade?
Jesus, porém, depois de fitar longamente o céu, a inflamar-se de lumes
distantes, fixou no companheiro o olhar profundamente lúcido e exclamou
com serenidade:
- Pedro, conheço Jeremias, a esposa e os filhos, há muito tempo! Quando te
incumbi de ir ao encontro deles, apenas te pedi para auxiliar!
REFLEXÃO:
8. O homem está acostumado aos próprios problemas e aflições e acaba
fechando-se em uma vida medíocre de satisfação dos sentidos físicos, não
percebendo as necessidades do seu próximo, resguardando-se numa
couraça de indiferença a fim de poupar-se de dores maiores.
Lutamos por títulos, dinheiro, posição social. Depositamos a felicidade na
ilusão, na adoração às coisas materiais. E assim, vamos experimentando
certa apatia em relação ao bem que podemos edificar, porque nos
encarceramos no egocentrismo infeliz.
O individualismo é uma barreira que impede o desenvolvimento das
potencialidades da vida, e, endurecidos pela indiferença, afastamo-nos dos
que estão ao nosso redor em aflição.
9. “Temei conservar-vos indiferentes quando puderdes ser úteis”, nos alertam
os Espíritos iluminados em O Evangelho segundo o Espiritismo, no
capítulo VIII, o que é corroborado pela resposta dada a Kardec na questão
657 de O Livro dos Espíritos: “Deus lhe pedirá contas do bem que tenhais
feito”.
Não nos faltam avisos convocando-nos à observância da nossa participação
no mundo, alertando-nos quanto à necessidade de transcender a nós
mesmos e desenvolvermos o sentimento de compaixão. É mediante o
hábito da compaixão que o homem aprende a sacrificar os sentimentos
inferiores e abrir o coração. Se o beneficiado não o valoriza, não o
reconhece ou identifica, pouco importa.
10. O essencial é o sentimento de alegria que o benfeitor sente. Expandir esse
sentimento é dar significação à vida.
A compaixão está acima da emotividade desequilibrada e vazia. Ela age,
enquanto a outra lamenta; ela realiza o socorro, enquanto a outra sente
pena. É a virtude que mais nos aproxima dos anjos. É a irmã da caridade. E
bem sentida é amor. É o sentimento mais apropriado para dominar o
egoísmo, pois nos comove aos sofrimentos dos nossos irmãos,
impulsionando-nos a estender-lhes a mão.
Grande, porém, é a compensação quando damos coragem e esperança a um
irmão infeliz, porque estamos todos mergulhados em regime de
interdependência de uns para com os outros.
11. E considerando que tudo está ligado a tudo e todos os seres estão
conectados entre si, então o sofrimento do próximo é o nosso sofrimento, e
a felicidade do próximo é a nossa própria felicidade.
Quantas são as vezes que nos preocupamos mais com o reconhecimento e
com a gratidão do que com nosso ato? E quantas são as vezes em que
julgamos a quem estendemos a mão?
Jesus nos convida ao trabalho porque essa é a nossa herança na jornada
evolutiva. Se queremos um mundo melhor para nossa próxima existência, e
se queremos um mundo melhor para nossos filhos e netos, o que estamos
fazendo para isso?
12. Somente a compaixão garantirá a felicidade à Terra, fazendo finalmente
reinar a concórdia, a paz e o amor. Assim nos ensina o capítulo VIII de O
Evangelho segundo o Espiritismo. O fato é que podemos fazer muito mais
do que estamos fazendo, pois não se conhece nenhuma conquista que
chegue ao espírito sem estar apoiada na prática.
Excelência da compaixão é viver impregnado pelo amor do Cristo, sabendo
que “amor é devotamento; devotamento é olvido de si mesmo e esse
olvido, essa abnegação em favor dos necessitados é a virtude por
excelência, a que Jesus praticou por toda sua vida”, conforme verificamos
no livro Encontro Marcado, lição 45.
13. Muita Paz!
O Amanhã é sempre um dia a ser conquistado!
Pense nisso!
Visite o meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados de O Livro dos
Espíritos, de O Livro dos Médiuns, e de O Evangelho Segundo o
Espiritismo.