Este documento descreve a infância e adolescência da autora em Portugal. Sua mãe é de Angola e sua família costumava viajar entre Angola, Brasil e Portugal. Quando começou a guerra em Angola, seus avós foram para o Brasil e depois seus pais foram para a África do Sul, onde a autora foi concebida. Sua mãe então viajou para o Brasil e Portugal, onde a autora nasceu.
3. A minha mãe é de Angola. E la e os meus avós
faziam muito o triângulo, como lhe chamavam,
entre Angola, o Brasil e Portugal.
Os meus avós eram portugueses e o meu pai
também. A minha mãe era portuguesa de Angola.
Quando estalou a guerra em Angola, eles estavam
lá todos. Em 1975 Os meus avós foram viver para o
Brasil, Para Manaus, onde o meu avô tinha trabalho,
no INPA, o Instituto Nacional de Protecção da
Amazónia.
Pouco tempo depois, os meus pais também se
vieram embora, já no fim, para irem ter com os
meus avós ao Brasil mas decidiram Ir de automóvel
para a Africa do Sul. Tiveram muitas peripécias pelo
caminho, o País estava em guerra e os meus pais a
atravessá-lo sozinhos de automóvel. Lá foram
resolvendo os problemas que surgiram e
conseguiram chegar a Cape Town, a Cidade do Cabo
de hoje.
4. Aí tinham a questão do Apartheid. A minha mãe conta que chegou a
estar 2 horas à espera da chave da casa de banho das brancas…
Foram tempos conturbados e ainda bem que alguns se resolveram…
Segundo a minha mãe, eu fui concebida lá, Em Cape Town.
Já grávida, embarcou com o meu pai para o Brasil para se juntar aos
meus avós.
Viveu a gravidez toda em Manaus e já no final da gravidez, o meu pai
teve que regressar a Portugal por causa dos negócios que cá tinha, a
minha mãe quis vir com ele, claro.
Embarcou no avião grávida de 9 meses, o que era proibido, mas
conseguiu disfarçar a gravidez. Dentro do avião, as águas rebentaram
às 4 da manhã e eu nasci já em Portugal às 5 para as 9 da noite. Tive
“azar” porque se tivesse nascido no avião, teria viagens gratuitas
para o resto da vida e presentes no aniversário.
5. Nasci dia 1 de Abril de 1976, em Lisboa, onde ficámos a morar.
Os meus pais não tinham qualquer problema financeiro, viviam bem
devido aos negócios do meu pai. Era uma vida de bem estar financeiro.
Quando tinha 3 anos, os meus pais foram visitar um casal de amigos
nossos vizinhos, pois ela fazia anos. Eles tinham um Grand Danois, uma
raça de cães, tão grandes, que parecem burros pequenos, em casa e eu,
pequenita, fui mexer-lhe na comida. Ele virou o focinho para me afastar
mas raspou os dentes na minha cara e rasgou-a toda. Levaram-me logo
para as urgências mas o cirurgião que estava de plantão não sabia cozer-
me. A sorte é que o dono do cão, o nosso amigo, era um cirurgião muito
conceituado e cozeu-me ele. Segundo a minha mãe conta, as instalações e
condições eram péssimas e o cirurgião teve que cozer-me com agulha e
linha de costura. Levei 36 pontos na zona dos olhos. Fiquei sem um
bocado de sobrancelha e tudo. Estive 2 meses cega, estava em constantes
tratamentos para que não ficasse desfigurada e andei assim uns largos
meses. Queriam fazer-me uma cirurgia plástica mas como era pequena, na
altura só davam anestesia local e a minha mãe não quis, ficou cá a marca.
6. Os meus pais tinham divergências que com os anos se foram
agravando. O meu pai não entendia a minha mãe e ela não o
entendia a ele. Infelizmente assisti a cenas de violência
doméstica e bem pequenina tentava defender a minha mãe,
sem sucesso, claro, mas ele lá se acalmava. Comigo nunca houve
nada, nunca me levantou a mão.
A minha mãe ainda chegou a sair de casa mas ele foi busca-la. A
minha mãe era uma pessoa que sofria de constantes
depressões, ainda hoje, e tinha uma percepção diferente das
coisas. Não estou a falar mal dela, estou a relatar o que me
aconteceu. Ela ficava tão envolta nos problemas dela que às
vezes se esquecia de me ir buscar ao colégio, vinham as
educadoras trazer-me, esquecia-se de me dar o almoço, ou não
comia ou era a empregada que tínhamos que o fazia…Enfim…
Isto chegou a tal ponto, que aos meus 7 anos, ela tentou o
suicídio para se livrar dos problemas, segundo ela. Mas
esqueceu que tinha uma filha pequena, que precisava da mãe.
7. Fui eu que a encontrei quase morta na cama. Imaginam o que é?
Não queiram!
Chamei os vizinhos, percebi que a coisa não era boa, pedi ajuda e
fiquei em casa de uns vizinhos que não conhecia à espera.
Os meus avós vieram para Portugal logo a seguir à minha mãe, o
meu avô era muito agarrado à filha. Arranjou colocação como
professor universitário em Vila Real mas como achava que estava
muito longe dela, pediu transferência para Évora, para ficar mais
perto de Lisboa.
Estive horas à espera que alguém me viesse buscar. O meu pai não
sabia de nada, nem sabiam onde ele podia estar e então chamaram
o meu avô, que estava em Évora e demorou horas a chegar a Lisboa
para me vir buscar e para tratar do internamento da minha mãe no
hospital.
A minha mãe ficou quase 5 meses internada e quem ficou comigo,
contra vontade dos meus avós e da minha mãe, foi o meu pai, que
foi metido em tribunal por causa do poder paternal.
8. Estive com o meu pai esses 5 meses, foram meses divertidos, eu
andava sempre com ele, contudo ele tinha a Judiciária à perna por
minha causa. Eu já os conhecia a todos, eram sempre os mesmos!
Chegava a cumprimenta-los no café e eles aproveitavam para me
perguntar se estava tudo bem comigo.
Em seguida a minha mãe veio viver com os meus avós para Évora, em
Junho, salvo erro e em Novembro o meu avô faleceu. Foi uma
desgraça para toda a gente, até para o meu pai pois gostava muito
dele e por isso, o meu pai resolveu devolver-me à minha mãe. Vim
para Évora em finais de Novembro.
Entrei para a 2ª. classe da escola primária a seguir às férias do Natal
e adaptei-me bem pois quando entrei na escola já sabia ler e
escrever com os ensinamentos da minha mãe e da minha avó.
9. O meus colegas é que não gostaram nada de mim, nem eu
deles. Era sistematicamente perseguida por ser filha de pais
divorciados, por ser de Lisboa, por ser gordinha, por ter uma
cicatriz na cara, por causa do meu apelido… E foi assim toda a
minha vida escolar…
Com a separação dos meus pais e a morte do meu avô, a nossa
situação financeira tornou-se quase nula! Eles eram as fontes
de rendimento.
A minha avó ficou apenas com uma mísera pensão de
sobrevivência que para pouco chegava. E a pensar que ainda há
muita gente a receber essas misérias…
No início foram vendendo a joias todas que tinham, quando se
acabaram as joias, acabou-se esse rendimento e já não restava
nada.
10. A minha mãe tinha sido criada para casar (as coisas eram
assim antigamente) e o meu avô nunca se preocupou e
tratar dos documentos de habilitações da minha mãe e
com a guerra, desapareceu tudo. A minha mãe nem o
comprovativo de 4ª classe tinha! E ela tinha o antigo 9º
ano, equivalente ao nosso 12º feito.
Devido a isso, nunca conseguiu arranjar emprego, saltitava
de emprego em emprego por poucos meses e não se
podia contar com esse dinheiro.
A nossa renda era só a pensão da minha avó.
Passámos muita fome, muito frio.
11. Lembro-me que chegávamos a dormir as 3 juntas para não termos muito
frio, o nosso quarto chegava ao 0 graus, não havia dinheiro para
aquecedores, electricidade e muitas vezes ficámos sem ela por falta de
pagamento, andávamos com velinhas e candeeiros a petróleo, quando
havia…
Punhamos os cobertores todos em cima da cama, metíamos os casacos
também, tudo para nos aquecermos um pouco.
Quanto à comida, íamos tendo mas muito pouquinha e graças ao punho de
ferro que a minha avó tinha na economia doméstica. Ela repartia irmãmente
tudo o que havia, eram às vezes umas sopinhas de caldo ou 3 batatinhas
para cada uma com um pedacinho de carne ou peixe… se reclamávamos com
fome, ela retorquia, bebe água que isso passa.
12. A minha avó era uma senhora fabulosa, nunca irei conhecer
ninguém como ela. Nasceu com problemas de surdez e de visão, foi
muitas vezes operada. Via muito mal e era muito surda, usava um
aparelho que ia ajudando. Mas ela não desistiu nunca na vida!
Sempre fez a vida dela, era muito culta, nasceu em 1912 e
conseguiu terminar o antigo 9º ano, coisa rara na época, trabalhou
como tradutora, foi secretária de um advogado, escreveu poemas
para um jornal, era fantástica!
Ela, além desses problemas de saúde que referi, tinha muitos outros
e alguns graves mas nunca aquela alminha se queixava! Nunca! Para
ela estava sempre tudo bem e queria os outros bem…
13. Ela entretinha-se a fazer e a ensinar-me a fazer bolinhos,
compotas, pão… De tudo fazia para que a fome fosse a menor
possível.
E assim fui crescendo, sempre com a minha avó e com a minha
mãe, sozinhas as 3, aliadas em tudo, a minha mãe sempre um
pouco mais ausente em algumas coisas devido à depressão mas
íamos indo…
Eu só tinha 3 vizinhas que eram manas e só podia brincar com
elas mas a minha mãe às vezes embirrava e não me deixava sair
de casa nas férias grandes, passava 3 meses sem amigos para
brincar. Mas isso não me impedia de me distrair, as minhas
amigas eram vizinhas da frente e brincávamos à janela,
conversando e descobrindo coisas novas em dicionários e outras
coisas.
Na escola, não havia dinheiro para livros e elas tinham vergonha
de pedir apoio social. Lembro que do 7º ao 9º anos não tive
nem um único livro, estudava pelos apontamentos e lá
conseguia passar de ano…
14. Quando terminei o 9º ano, decidi ir para a escola profissional onde
ganhava subsídios e podia ajudar em casa com algum dinheiro…
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