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A CIDADE NO JORNALISMO ACTUAL
Prof. Dr. Miquel Tresserras i Majó
97.05.23
Universidade Pontifícia de SALAMANCA
Curso Doctorado en Ciencias de la Información
Trabalho de Rui Manuel Estrela Ribeiro de Melo
Doutorando do 1º Ano
2
1. INTRODUÇÃO - COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE
Qualquer grupo social tende, no seu processo de adaptação (transformação)
ao meio, a conhecer, de maneira adequada, a realidade. Tal conhecimento,
porém, não pode ultrapassar um limite compatível com a quantidade de
informação acumulada ao longo da sua existência.
Para além desse limite, as novas informações recebidas só podem passar,
se se transformar a estrutura do grupo. Exactamente como no caso dos
obstáculos individuais, em que os conhecimentos não podem ser
assimilados, se não se transformar a estrutura psicológica do indivíduo.
Para passar, isto é, ser entendida, a informação não pode, portanto, ser
ambígua ou excessiva, já que necessita de ser captada rápida e
correctamente e integrada num campo de conhecimento dos indivíduos,
altamente dependente de um universo de valores acumulados que os torna
(ou aos grupos) permeáveis (ou não) à inovação. A legibilidade da maior
parte das informações que recebemos conscientemente, depende da
existência de conotações iguais (ou aproximadas) para todos os que
recebem as mensagens. A síntese, ou seja, a eliminação das partes
desnecessárias a uma correcta e acessível transmissão de conhecimentos,
ideais e experiências, torna essencial, na medida em que facilita a
compreensão da mensagem, veiculada através de uma linguagem (verbal,
sonora, visual e, em menor grau, gestual e olfactiva).
A linguagem é, assim, um simples recurso comunicativo com que o homem
conta naturalmente, e evolui desde as suas formas primitivas e puras até à
leitura e à escrita.
A gestualidade, os diversos sinais de natureza não verbal, as imagens visuais
dos diferentes meios de comunicação, são outras tantas linguagens. E estas
últimas acabarão por ser determinantes, a partir de meados do século XIX,
para a cidade conhecer o social e para este conhecer a cidade.
2. - A COMUNICAÇÃO VISUAL DAS CIDADES
3
O provérbio chinês "uma imagem é melhor que mil palavras" continua a ser
verdadeiro no nosso tempo.
Surge neste contexto a importância das formas de comunicação não verbal e,
destas, a comunicação visual, como meios de informação e conhecimento,
paralelos, alternativos e, em determinados casos, supletivos da comunicação
assente na palavra.
A linguagem visual é, certamente, mais limitada do que a verbal no plano das
relações interpessoais, onde esta permanece como veículo essencial da
comunicação e desenvolvimento humanos. Mas aquela linguagem é
inegavelmente mais directa e acessível do que a verbal, num sem número de
situações da vida comunitária.
As imagens visuais normalmente associadas às artes plásticas, à TV, ao
cinema, à fotografia, etc., não ficam, no entanto, limitadas a estes meios.
Ambientes, objectos, espectáculos e cenários, instrumentos publicitários,
formas de vestuário, adornos, ilustrações, etc., em graus mais ou menos
intensos, utilizam a criação de símbolos destinados fundamentalmente a
estimular a percepção visual dos espectadores. A aptidão icónica supera
rapidamente a observação facultada pelos restantes sentidos. No
comportamento humano, não é difícil detectar uma propensão para entender,
manipular e utilizar a comunicação visual como a forma mais expedita de
comunicação em sociedade.
Mas, para ser eficaz, a comunicação visual deve possuir um valor objectivo.
Na verdade, as imagens ou são arbitrárias em relação à realidade, ou são
equivalentes dela. Para o grande público, a eficácia de uma imagem
depende da medida em que ela seja fiel ou signifique a entidade, a partir de
traços que a identifiquem facilmente.
À imagem têm de estar inerentes qualidades como a dimensão, a ubiquidade
e a cor, que favorecem a sua leitura.
Uma só imagem pode ter interpretações distintas conforme os observadores.
Isto é óbvio. Daí que a imagem quando é simples, quando expressa um
equivalente objectivo do modelo, percebe-se mais facilmente.
Desde a mais remota antiguidade, as imagens têm sido insubstituíveis
ferramentas de relacionamento humano.
A vida social impõe processos claros e efectivos de criação de símbolos,
predominantemente de carácter visual.
No que respeita aos símbolos de comunicação visual, graficamente criados,
é evidente que, quanto mais semelhantes forem à imagem que pretendem
representar, mais reconhecíveis se tornam para o público e, por isso, mais
4
facilmente serão aprendidos e aceites. Simplicidade, objectividade e clareza
são, em última análise, os atributos básicos para que a criação de um
símbolo corresponda àquele propósito.
3. - UMA FORMA VISUAL DE DIZER AS COISAS
Reflectindo condições sociais e económicas que definem necessidades e
solicitações concretas de expressão e comunicação, existe na cultura popular
uma área de criação de símbolos visuais.
As formas visuais de linguagem, erudita e popular, podem examinar-se sob
dois aspectos fundamentais: o da informação prática em que a componente
estética é secundária (sinais de trânsito, p. ex.) e o da informação estética,
envolvendo linhas, cores, texturas que determinam formas em superfície, e
ainda as componentes volumétricas, que corporizam formas tridimensionais.
A intencionalidade aqui é determinante.
As artes populares são rigorosamente funcionais e úteis para a vida das
populações que as praticam.
A comunicação visual criada por artesãos espontâneos, e frequentemente
ingénuos no manuseamento dos ingredientes dos símbolos, é-o também no
mais pleno sentido. Há nela, aliás, uma tendência permanente para o
funcionalismo.
A mensagem informativa a transmitir pretende ser sempre directa, objectiva,
não deixando grandes margens para dúvidas interpretativas ou conotações
que apartem o observador do significado efectivo da ideia apresentada.
Os elementos gráficos que suportam a mensagem desprezam, nas
manifestações populares, o "decorativismo", os efeitos sintéticos e as
preocupações estéticas que não cumpram as necessidades específicas da
comunicação. A simplificação formal é, aqui, um produto da clareza e da
essencialidade e não da elaboração que conduz à síntese e, de maneira
ainda mais depurada, à abstracção.
O designer popular sabe, por tradição, por instinto , pela sua prática social,
que os símbolos gráficos análogos à imagem que referem, por semelhança,
os objectos e as situações são a resposta mais lógica para a necessidade
de informações operatórias.
Em zonas geográficas limitadas, em períodos históricos definidos e para um
público culturalmente caracterizado no contexto em que a comunicação visual
popular se manifesta, a criação simbólica representando as coisas -
pretensamente como o são - raramente é arbitrária, raramente expressa a
5
ideia e o conceito. Os homens, os animais, os objectos, as formas realistas
da natureza são largamente utilizados. Frequentemente, é o próprio artefacto
ou a forma natural autênticos que assumem a mensagem que de si próprios
comunicam.
Não vivendo o criador da comunicação popular num estrato social submetido
aos padrões de consumo e às regras de economia (competitiva) do
mercado, é, talvez, paradoxalmente, no campo dos símbolos da publicidade
comercial, do anúncio e promoção dos produtos e dos serviços, que a sua
linguagem visual com maior variedade de expressões e mais força criativa se
manifesta.
A observação da qualidade intrínseca dos materiais, recolhidos ao acaso no
ambiente caseiro ou próximo, pode inspirar, a quem os recolheu, um sem
número de associações criadoras de novas funções e novos desenhos. Estes
surgem quando os objectos são usados dentro de contextos visuais
diferentes daqueles para que foram originariamente pensados. A imaginação
do "artista" transforma os objectos e as suas formas inúteis em componentes
úteis de meios de comunicação, contendo uma óbvia funcionalidade
representativa ou decorativa. A simbologia visual define um autêntico diálogo
com o invisível, num plano em que, por vezes, a superstição utiliza a lógica
com o pragmatismo de quem comunica para obter uma contrapartida.
Nesta breve aproximação à comunicação visual popular, é de destacar a
criação de símbolos intencionalmente afectivos e subjectivamente lúdicos.
Através deles, as pessoas jogam com os elementos plásticos para
expressarem a outrem a amizade, a ternura, a paixão ou a ironia, o desprezo
e a indiferença.
Atitudes humanas que caracterizam, noutros géneros, um aspecto
considerável e profundo da nossa cultura, estão na base da simbologia de
carácter amoroso ou com intenções de crítica social ou maldizer pessoal, de
que muitas espontâneas inscrições em paredes são exemplo.
SENTIDOS CORPORAIS
Os sentidos corporais são cinco, a saber:
Primeiro - que é ver as coisas que mais desejo;
quando passo à tua porta, sempre
penso que te vejo.
Segundo - que é ouvir: eu de ti não ouço nada;
e quando dizem alguma coisa, até
o coração se me abrasa.
Terceiro - que é cheirar um raminho de alecrim;
peço-te, amor da minha alma, que
não te esqueças de mim.
Quarto - que é gostar: que gosto poderei ter?
Estar ausente do amor, mais me
6
valia morrer.
Quinto - que é apalpar: ofício que nunca usei;
se me concede licença, consigo aprenderei.
Pinelo (Vimioso)
(poeta popular)
4. - O Jornalismo na Cidade
À medida que a construção se desenvolve, normalizada pelos modernos
processos tecnológicos e pressionada pelas premências de habitação, o
homem altera cada vez mais profundamente o seu envolvimento natural,
adaptando-o às suas necessidades.
No século XX, a intervenção do homem, maciçamente apoiada pela máquina,
tornou-se radical. É na cidade que encontramos o somatório de praticamente
todas as formas de actuação criativa (construtiva e destrutiva) praticadas pelo
homem sobre o ambiente.
O conceito de "cidade-máquina", segundo o qual o fundamento da sua
existência é o de conceder aos habitantes espaços funcionais para viverem e
trabalharem, está em conflito com os valores mais profundos da cultura
popular e da própria vida.
Tal perspectiva conduz ainda (e a história recente prova-o) à destruição
irreversível dos valores culturais, pois a preservação do património
arquitectónico, etnográfico, industrial, etc., torna os problemas de construção
urbana muito mais difíceis de resolver, em aglomerados de onde os homens
foram afastados e onde a vivência colectiva das culturas locais se
desagregou.
Por estes interstícios têm penetrado os media da cidade do Porto, por forma
a que a memória da urbe se não perdesse. São vários os jornalistas a
publicarem livros alusivos às tradições do Porto a par de presenças regulares
nas páginas dos jornais de investigadores, arquitectos, urbanistas e autarcas.
É um caleidoscópio de intervenções, que alargam à rádio e à televisão, e que
têm constituído um revitalizador da consciência de ser, de estar, de viver, de
sentir o Porto e de não deixar perder a sua memória. Explicar o Porto aos
portuenses tem-se colocado como desempenho prioritário de jornalistas e
dos media em que se expressam.
7
Cada urbe tem por conteúdo uma convivência, uma simultaneidade. A cidade
do Porto não foge à regra. Surgem questões como a coordenação de
diferentes funções, tanto para harmonizar actividades as mais diversas, como
para as organizar com critérios técnico-estéticos em áreas de diferentes
procedências, idades, qualidades artísticas, densidades, etc.. Procura-se
compensar terapeuticamente os desníveis e fricções funcionais. E até se
alinda o que está feio, ajustando as peças do espaço visual, valorizando
factores monumentais, articulando perspectivas, remendando e compondo
aqui e ali de uma forma mais ou menos acertada...
A "doença do dinamismo" (como alguém denominou) parece-se
urbanisticamente com tudo quanto há de imprevisível na coincidência de
diferentes níveis generativos que se vão renovando segundo constantes
mudanças de signo e de composição. Como se irão operar as interacções
entre os grupos e os estratos humanos, e a anatomia e a fisiologia dos
organismos urbanísticos? O que se passará nos domínios da ciência e da
técnica?
Perante esta "doença incurável", sem outro remédio que não seja a
contenção do processo, urbanistas, arquitectos e sociólogos tenderão a
conhecer resultados pobres com as providências que possam tomar. Mas a
"doença incurável" pode converter-se num processo regido por normas
diferentes, noutra doença distinta cujas irremediáveis imperfeições e
descompensações podem renovar-se, mas num contexto novo e rodeado de
esperança. E para abrir caminho à cura do que parecia mortal, os media
portuenses têm constituído um forum importante para o confronto de ideias,
para o levantar de problemas e, como consequência, para o encontro de
várias soluções. E a cidade tem-no sentido e retribui com a fidelidade da sua
audiência. Não é por acaso que um jornal do Porto, o Jornal de Notícias, é o
de maior audiência em todo o país. E nem é tablóide, nem recorre às
primeiras páginas de sangue e não tem espaço para as “pin-ups”. O seu
sentir as populações através de inúmeras reportagens que faz para o
levantamento de problemas e respectiva difusão, aproximam o jornal das
pessoas que fazem da sua leitura um hábito com muitos anos.
4.1. CIDADES - TRADIÇÃO DE MUDANÇA
Na última metade do século XIX, durante um período de um relativo
desenvolvimento industrial de algumas regiões, a urbanização e o
8
crescimento do Porto, e de outros aglomerados, operou-se num ritmo cada
vez maior, que a expansão dos transportes veio também promover.
Depois tornou-se num foco de atracção, até pela sua situação junto ao litoral.
O declínio da agricultura e o progresso e concentração das indústrias e
serviços fazem com que as pessoas abandonem o campo.
Muitas delas transportaram para o novo ambiente as suas crenças, tradições,
hábitos que, entretanto, ou se foram perdendo, ou se enquistaram noutros
corpos sociais, um tanto desenraizados da sua origem, ou se
desmultiplicaram em formas modernas de criação cultural.
Uma aglomeração humana pode formar-se e expandir-se de duas maneiras:
ou pela integração no desenvolvimento natural, crescendo harmoniosamente
nele e com ele (como aconteceu normalmente na construção urbana limitada;
ou rebentando os limites desse envolvimento, causando a sua destruição ou
degradação (como acontece a algum urbanismo "moderno" prevalecente nas
nossas cidades).
De acordo com as mais recentes perspectivas de intervenção neste campo,
foram sendo construídos objectivos de uma política de reconstrução,
conservação, protecção ou renovação dos conjuntos urbanos significativos de
uma determinada herança cultural, num contexto humano que lhe é próprio:
a) Foram elaborados projectos para planificar, construir ou renovar um
envolvimento e considerá-lo, de forma completa e integrada, como essencial
ao aumento da qualidade do viver das populações (no seu sentido mais
amplo), com os menores custos materiais e sociais e em íntima colaboração
e contacto com elas;
b) Foram assegurados, tanto quanto possível, a manutenção das
tradições mais representativas (religiosas, festivas, artesanais, comerciais,
de recreio e associativismo, etc.) das características que definiam a
identidade comunitária e das suas relações históricas com as áreas e
comunidades circundantes, sem rupturas ou soluções de continuidade;
c) Foram realojados, nos mesmos locais após as obras de
conservação ou renovação, alguns dos habitantes que neles viviam,
respeitando os laços familiares e de vizinhança, os relacionamentos e
contactos que definiam os padrões, usos e modos de vida ali existentes, que
se pretendia não fossem quebrados ou agredidos (por várias razões este
propósito ficará sempre por completar);
d) Tem-se vindo a explorar (estética, cultural e urbanisticamente) o
carácter físico dos locais, especialmente a sua relação com o ambiente
natural e a paisagem circundante, valorizando o mais possível a fisionomia
que melhor caracterize a sua individualidade histórica.
9
Convém, a propósito, referir uma situação concreta que nos ajude a reflectir
sobre o que fica dito.
Assim, o que dá carácter e coerência aos núcleos urbanos antigos (Miragaia,
S. Nicolau e Vitória, no Porto; Alfama, Madragoa, Belem, a Costa do Castelo,
em Lisboa; Guimarães, a baixa Coimbrã, Viana do Castelo, Évora, etc.) ?
Talvez o acordo, a conjugação do ambiente construído, com o envolvimento
primitivo. Talvez o sentido da proporção e da dimensão humanizadas (o que
não exclui, por vezes, certa grandeza) das construções. Talvez a facilidade da
comunicação interpessoal, pela relação dos espaços com os habitantes e
destes entre si. E, também, a qualidade estética dos conjuntos e edifícios
isolados, baseada na simplicidade, clareza e depuração de um desenho
despido de factores aleatórios, mas provido de grande eficácia estrutural
relativamente às funções a que se destina e à adequação ao contexto físico a
que se subordinou.
Qualquer intervenção, particular ou oficial, susceptível de provocar alterações
em tecidos e padrões arquitectónicos tão habilmente construídos, tem sido
maduramente estudada e tecnicamente planificada e fundamentada, de
maneira a salvaguardar o significado histórico e cultural de tais conjuntos. O
que não inviabiliza, nem contradiz, pelo contrário, a possibilidade e a
necessidade da modernização e reconversão dos equipamentos
habitacionais, de modo a assegurar às populações o conforto e a dignidade
cívica que os processos de desenvolvimento não podem ignorar.
Para que as recuperações começassem a ser encaradas e, posteriormente
executadas, dois factores se apresentaram como determinantes: o
ressurgimento do municipalismo em Portugal e a consciencialização dos
media face aos problemas sociais que afectavam a cidade. Sobretudo a
imprensa usou a imagem para mostrar zonas degradadas, fez reportagens,
entrevistou políticos, confrontou especialistas. O ambiente impôs-se como
tema obrigatório dos media. Sacudiu os políticos, deu outro ânimo e
responsabilidade aos técnicos e consciencializou populações.
O trabalho dos media está apenas no início. Os desequilíbrios são frequentes
e renovam-se em subterfúgios.
A "civilização do automóvel", o envenenamento atmosférico, a ruptura de uma
ecologia normal e razoavelmente de acordo com a natureza humana, incidem
de modo implacável sobre a vida da cidade. O mundo técnico não se limita a
enquadrar a existência no modo de vida urbano, dado que pretende ainda
que as formas urbanizadas de existir mudem o tipo de vida. O homem, ser
social, transformando-se em partícula multitudinária e numérica. Como
qualquer espécie animal, evolui sempre que o meio ambiente se transforma.
10
A multiplicidade e a velocidade dos transportes, a quantidade e a rapidez das
informações, a capacidade de crescimento e mudança, instituem um novo
ambiente natural que criou uma humanidade cada vez mais ajustada ao clima
tecnológico.
Os aspectos negativos desta situação "urbanizada", são bem conhecidos.
Mas também existem vertentes positivas, uma vez que a vida se apresenta
com maior quantidade de estímulos, as informações são mais acessíveis e
mais amplas certas possibilidades fundamentais como a instrução e o
transporte. Naturalmente, há defesas contra o que é negativo, formas de
intensificar o que é positivo, embora as nossas sociedades, tão dinâmicas e
mutáveis em certos aspectos, propendam a estabilizar as situações
humanas, os enquadramentos em classes, níveis e grupos sociais.
5. CONCLUSÃO
Vale a pena cultivar a ideia de tentar uma rectificação ou uma reorganização
que devolva aos homens uma liberdade completa ante as coacções implícitas
no meio técnico. Mas como tentar isso sem uma oposição à realidade e sem
cair em utopias?
Cidade de intelectuais com trabalho e prestígio reconhecidos além fronteiras,
como José Augusto Seabra, ensaísta e o maior estudioso de Fernando
Pessoa, Agustina Bessa-Luís, a melhor romancista portuguesa, Eugénio
Andrade, o maior de todos os poetas vivos, Óscar Lopes, crítico literário de
referência e o grande historiador da literatura portuguesa, dos Arquitectos
Siza Vieira e Alcindo Soutinho, dos pintores Júlio Resende e António
Quadros, dos escultores Gustavo Bastos e Laureano e do filósofo da “aporia”,
Delfim dos Santos.
Espaço de liberdade criado e desenvolvido pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto e pela Escola de Belas Artes. No Porto germinam
ideias e projectam-se na diáspora, numa tradição de liberdade de quem fez
nascer Portus Cale para o Portugal do mundo. A cidade venera os seus
intelectuais e faz da Universidade a sua referência de renovação de ideias
numa entranhada tradição de liberdade.
No mundo das ideias, também os meios de comunicação social, ao
constituírem um dos múltiplos campos autónomos das sociedades modernas,
11
podem projectar e ser eco daqueles e de outros estímulos à interactividade
de ideias.
Sabemos que, tal como os restantes campos sociais, os media são uma
instituição delimitada pela sua própria esfera de legitimidade na definição, na
imposição e na defesa de uma determinada hierarquia de valores, na
regulação do seu mercado, na sua transcrição em formas simbólicas que se
impõem socialmente ao conjunto dos campos sociais como relativamente
indiscutíveis. A questão está em não singularizar a sua acção e, pelo
contrário, fazer do pluralismo o “quid” que abre debates, rompe perspectivas,
alarga o círculo e os círculos, liberta espaço para o voo do pensamento e
alimenta o confronto de ideias.
Mas, ao contrário dos restantes campos sociais, a instituição dos media
distingue-se pela natureza dos seus valores legítimos, pelo modo de
regulação do seu mercado, pela forma dos seus símbolos e pelos processos
de definição e de defesa da sua ordem legítima. Questão axiológica que
aparece como fulcral para dar sentido à vida da cidade e dos homens no seu
viver social.
De facto, o campo dos media institucionaliza-se a partir do processo de
autonomização da prática social discursiva numa legitimidade que é,
simultaneamente, derivada e distinta. É esta contradição que alimenta a
natureza complexa das relações da comunicação social com os restantes
campos sociais.
E então podemos vislumbrar que os efeitos de sentido constituem a natureza
específica da legitimidade do campo dos media. Facilmente se reconhecem
escolhos, se confundem interesses, se levantam barreiras. Mas também se
descobrem outros caminhos, se clarificam ideias e se saltam as barreiras.
 O Professor Adriano Duarte Rodrigues formula uma reflexão, situando a
questão das relações entre os media e a sociedade a três níveis.
“1. Os media constituem uma instituição social à parte, autónoma das outras
instituições sociais. Como tal, ocupa um corpo distinto da legitimidade social,
assente numa ordem específica de dominação, a dominação discursiva, garante da
sua hierarquia de valores, manifestada por todo um conjunto de formas simbólicas,
desde as figuras retóricas da titulagem da imprensa escrita, radiofónica e televisiva,
até às modas de vestir ou à desenvoltura dos gestos dos profissionais.
A forma objectivante do seu discurso traduz-se na camuflagem do sujeito da
enunciação, criando uma autêntica mais-valia simbólica de credibilidade do
enunciado, pela anulação do lugar de onde se fala, universalizando e naturalizando
aquilo que se diz.
2. Os media recebem toda a legitimidade das outras instituições sociais. O
seu lugar institucional é derivado das outras instituições.
(...)É o espelho de todos os outros campos sociais.
12
3. A forma especular e espectacular do campo dos media é o resultado lógico
da sua autonomia, como o reverso da sua autonomia em relação aos restantes
campos sociais.
É o limite da conquista da liberdade de expressão, do processo de autonomização
de um campo à parte das múltiplas ordens discursivas. Cortado hoje de qualquer
referência, o campo dos media torna-se puro processo de produção de modelos,
maquinaria de fabrico de imagens, no sentido de imagens de marca de produtos, de
serviços, de programas políticos.
Os media, na sua modalidade mais genuína de funcionamento, acabam por
valorizar não importa o quê, até os seus próprios modelos puros, isto é , sem
referente, vazios, tais como o próprio tempo de antena ou o seu papel impresso.”
Não acompanho o pessimismo de uniformizar os media pela bitola dos
“cortados de qualquer referência” e de “valorizar não importa o quê”. O facto
de neste momento histórico a tendência ser generalizante neste domínio,
também é verdade que ainda há inúmeros meios identificados com valores e
referências de uma forma muito clara. E vão ser estes com que a cidade vai
poder contar. Porque também ela precisa de valores para não perder as suas
referências.
6. Bibliografia
Carvalho, C., "Comunicação e Informação", Ed. Areal, Porto, 1994.
Cebrián Herreros, M., “Información Audiovisual”, Ed. Sintesis, Madrid, 1995.
Jeoffroy-Faggianelli, P. e Plazolles, R., "Techniques de l'expression et de la
communication", Jeoffroy-Faggianelli, P. e Plazolles, R., Ed. Université Informacio-
Formation, Paris, 1980.
Pacheco, H.,"Portugal - Património Cultural Popular", Ed. Areal, Porto, 1985.
Rubio Royo, E. e Ocón Carreras, A., “Novas Tecnologias da Informação” VV. AA.
“Manual de Periodismo”, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, 1995.
Valbuena de La Fuente, F., “La Comunicación como negociación”, VV. AA. “Manual
de Periodismo”, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, 1995.
Williams, F., Strover S., Grant, A. E. (University of Texas at Austin), “Aspectos Sociais
das tecnologias dos novos media”, in “Los efectos de los medios de comunicación”,
Ed. Paidós, Barcelona, 1996.
13
ÍNDICE
1. Introdução
2. A comunicação visual das cidades
3. Uma forma visual de dizer as coisas
4. - O Jornalismo na Cidade
5. Conclusão
6. Bibliografia
14
Rui Manuel Estrela Ribeiro de Melo
Doutorando do 1º Ano
Curso de Doctorado en Ciencias de la Información

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A cidade no jornalismo actual

  • 1. 1 A CIDADE NO JORNALISMO ACTUAL Prof. Dr. Miquel Tresserras i Majó 97.05.23 Universidade Pontifícia de SALAMANCA Curso Doctorado en Ciencias de la Información Trabalho de Rui Manuel Estrela Ribeiro de Melo Doutorando do 1º Ano
  • 2. 2 1. INTRODUÇÃO - COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE Qualquer grupo social tende, no seu processo de adaptação (transformação) ao meio, a conhecer, de maneira adequada, a realidade. Tal conhecimento, porém, não pode ultrapassar um limite compatível com a quantidade de informação acumulada ao longo da sua existência. Para além desse limite, as novas informações recebidas só podem passar, se se transformar a estrutura do grupo. Exactamente como no caso dos obstáculos individuais, em que os conhecimentos não podem ser assimilados, se não se transformar a estrutura psicológica do indivíduo. Para passar, isto é, ser entendida, a informação não pode, portanto, ser ambígua ou excessiva, já que necessita de ser captada rápida e correctamente e integrada num campo de conhecimento dos indivíduos, altamente dependente de um universo de valores acumulados que os torna (ou aos grupos) permeáveis (ou não) à inovação. A legibilidade da maior parte das informações que recebemos conscientemente, depende da existência de conotações iguais (ou aproximadas) para todos os que recebem as mensagens. A síntese, ou seja, a eliminação das partes desnecessárias a uma correcta e acessível transmissão de conhecimentos, ideais e experiências, torna essencial, na medida em que facilita a compreensão da mensagem, veiculada através de uma linguagem (verbal, sonora, visual e, em menor grau, gestual e olfactiva). A linguagem é, assim, um simples recurso comunicativo com que o homem conta naturalmente, e evolui desde as suas formas primitivas e puras até à leitura e à escrita. A gestualidade, os diversos sinais de natureza não verbal, as imagens visuais dos diferentes meios de comunicação, são outras tantas linguagens. E estas últimas acabarão por ser determinantes, a partir de meados do século XIX, para a cidade conhecer o social e para este conhecer a cidade. 2. - A COMUNICAÇÃO VISUAL DAS CIDADES
  • 3. 3 O provérbio chinês "uma imagem é melhor que mil palavras" continua a ser verdadeiro no nosso tempo. Surge neste contexto a importância das formas de comunicação não verbal e, destas, a comunicação visual, como meios de informação e conhecimento, paralelos, alternativos e, em determinados casos, supletivos da comunicação assente na palavra. A linguagem visual é, certamente, mais limitada do que a verbal no plano das relações interpessoais, onde esta permanece como veículo essencial da comunicação e desenvolvimento humanos. Mas aquela linguagem é inegavelmente mais directa e acessível do que a verbal, num sem número de situações da vida comunitária. As imagens visuais normalmente associadas às artes plásticas, à TV, ao cinema, à fotografia, etc., não ficam, no entanto, limitadas a estes meios. Ambientes, objectos, espectáculos e cenários, instrumentos publicitários, formas de vestuário, adornos, ilustrações, etc., em graus mais ou menos intensos, utilizam a criação de símbolos destinados fundamentalmente a estimular a percepção visual dos espectadores. A aptidão icónica supera rapidamente a observação facultada pelos restantes sentidos. No comportamento humano, não é difícil detectar uma propensão para entender, manipular e utilizar a comunicação visual como a forma mais expedita de comunicação em sociedade. Mas, para ser eficaz, a comunicação visual deve possuir um valor objectivo. Na verdade, as imagens ou são arbitrárias em relação à realidade, ou são equivalentes dela. Para o grande público, a eficácia de uma imagem depende da medida em que ela seja fiel ou signifique a entidade, a partir de traços que a identifiquem facilmente. À imagem têm de estar inerentes qualidades como a dimensão, a ubiquidade e a cor, que favorecem a sua leitura. Uma só imagem pode ter interpretações distintas conforme os observadores. Isto é óbvio. Daí que a imagem quando é simples, quando expressa um equivalente objectivo do modelo, percebe-se mais facilmente. Desde a mais remota antiguidade, as imagens têm sido insubstituíveis ferramentas de relacionamento humano. A vida social impõe processos claros e efectivos de criação de símbolos, predominantemente de carácter visual. No que respeita aos símbolos de comunicação visual, graficamente criados, é evidente que, quanto mais semelhantes forem à imagem que pretendem representar, mais reconhecíveis se tornam para o público e, por isso, mais
  • 4. 4 facilmente serão aprendidos e aceites. Simplicidade, objectividade e clareza são, em última análise, os atributos básicos para que a criação de um símbolo corresponda àquele propósito. 3. - UMA FORMA VISUAL DE DIZER AS COISAS Reflectindo condições sociais e económicas que definem necessidades e solicitações concretas de expressão e comunicação, existe na cultura popular uma área de criação de símbolos visuais. As formas visuais de linguagem, erudita e popular, podem examinar-se sob dois aspectos fundamentais: o da informação prática em que a componente estética é secundária (sinais de trânsito, p. ex.) e o da informação estética, envolvendo linhas, cores, texturas que determinam formas em superfície, e ainda as componentes volumétricas, que corporizam formas tridimensionais. A intencionalidade aqui é determinante. As artes populares são rigorosamente funcionais e úteis para a vida das populações que as praticam. A comunicação visual criada por artesãos espontâneos, e frequentemente ingénuos no manuseamento dos ingredientes dos símbolos, é-o também no mais pleno sentido. Há nela, aliás, uma tendência permanente para o funcionalismo. A mensagem informativa a transmitir pretende ser sempre directa, objectiva, não deixando grandes margens para dúvidas interpretativas ou conotações que apartem o observador do significado efectivo da ideia apresentada. Os elementos gráficos que suportam a mensagem desprezam, nas manifestações populares, o "decorativismo", os efeitos sintéticos e as preocupações estéticas que não cumpram as necessidades específicas da comunicação. A simplificação formal é, aqui, um produto da clareza e da essencialidade e não da elaboração que conduz à síntese e, de maneira ainda mais depurada, à abstracção. O designer popular sabe, por tradição, por instinto , pela sua prática social, que os símbolos gráficos análogos à imagem que referem, por semelhança, os objectos e as situações são a resposta mais lógica para a necessidade de informações operatórias. Em zonas geográficas limitadas, em períodos históricos definidos e para um público culturalmente caracterizado no contexto em que a comunicação visual popular se manifesta, a criação simbólica representando as coisas - pretensamente como o são - raramente é arbitrária, raramente expressa a
  • 5. 5 ideia e o conceito. Os homens, os animais, os objectos, as formas realistas da natureza são largamente utilizados. Frequentemente, é o próprio artefacto ou a forma natural autênticos que assumem a mensagem que de si próprios comunicam. Não vivendo o criador da comunicação popular num estrato social submetido aos padrões de consumo e às regras de economia (competitiva) do mercado, é, talvez, paradoxalmente, no campo dos símbolos da publicidade comercial, do anúncio e promoção dos produtos e dos serviços, que a sua linguagem visual com maior variedade de expressões e mais força criativa se manifesta. A observação da qualidade intrínseca dos materiais, recolhidos ao acaso no ambiente caseiro ou próximo, pode inspirar, a quem os recolheu, um sem número de associações criadoras de novas funções e novos desenhos. Estes surgem quando os objectos são usados dentro de contextos visuais diferentes daqueles para que foram originariamente pensados. A imaginação do "artista" transforma os objectos e as suas formas inúteis em componentes úteis de meios de comunicação, contendo uma óbvia funcionalidade representativa ou decorativa. A simbologia visual define um autêntico diálogo com o invisível, num plano em que, por vezes, a superstição utiliza a lógica com o pragmatismo de quem comunica para obter uma contrapartida. Nesta breve aproximação à comunicação visual popular, é de destacar a criação de símbolos intencionalmente afectivos e subjectivamente lúdicos. Através deles, as pessoas jogam com os elementos plásticos para expressarem a outrem a amizade, a ternura, a paixão ou a ironia, o desprezo e a indiferença. Atitudes humanas que caracterizam, noutros géneros, um aspecto considerável e profundo da nossa cultura, estão na base da simbologia de carácter amoroso ou com intenções de crítica social ou maldizer pessoal, de que muitas espontâneas inscrições em paredes são exemplo. SENTIDOS CORPORAIS Os sentidos corporais são cinco, a saber: Primeiro - que é ver as coisas que mais desejo; quando passo à tua porta, sempre penso que te vejo. Segundo - que é ouvir: eu de ti não ouço nada; e quando dizem alguma coisa, até o coração se me abrasa. Terceiro - que é cheirar um raminho de alecrim; peço-te, amor da minha alma, que não te esqueças de mim. Quarto - que é gostar: que gosto poderei ter? Estar ausente do amor, mais me
  • 6. 6 valia morrer. Quinto - que é apalpar: ofício que nunca usei; se me concede licença, consigo aprenderei. Pinelo (Vimioso) (poeta popular) 4. - O Jornalismo na Cidade À medida que a construção se desenvolve, normalizada pelos modernos processos tecnológicos e pressionada pelas premências de habitação, o homem altera cada vez mais profundamente o seu envolvimento natural, adaptando-o às suas necessidades. No século XX, a intervenção do homem, maciçamente apoiada pela máquina, tornou-se radical. É na cidade que encontramos o somatório de praticamente todas as formas de actuação criativa (construtiva e destrutiva) praticadas pelo homem sobre o ambiente. O conceito de "cidade-máquina", segundo o qual o fundamento da sua existência é o de conceder aos habitantes espaços funcionais para viverem e trabalharem, está em conflito com os valores mais profundos da cultura popular e da própria vida. Tal perspectiva conduz ainda (e a história recente prova-o) à destruição irreversível dos valores culturais, pois a preservação do património arquitectónico, etnográfico, industrial, etc., torna os problemas de construção urbana muito mais difíceis de resolver, em aglomerados de onde os homens foram afastados e onde a vivência colectiva das culturas locais se desagregou. Por estes interstícios têm penetrado os media da cidade do Porto, por forma a que a memória da urbe se não perdesse. São vários os jornalistas a publicarem livros alusivos às tradições do Porto a par de presenças regulares nas páginas dos jornais de investigadores, arquitectos, urbanistas e autarcas. É um caleidoscópio de intervenções, que alargam à rádio e à televisão, e que têm constituído um revitalizador da consciência de ser, de estar, de viver, de sentir o Porto e de não deixar perder a sua memória. Explicar o Porto aos portuenses tem-se colocado como desempenho prioritário de jornalistas e dos media em que se expressam.
  • 7. 7 Cada urbe tem por conteúdo uma convivência, uma simultaneidade. A cidade do Porto não foge à regra. Surgem questões como a coordenação de diferentes funções, tanto para harmonizar actividades as mais diversas, como para as organizar com critérios técnico-estéticos em áreas de diferentes procedências, idades, qualidades artísticas, densidades, etc.. Procura-se compensar terapeuticamente os desníveis e fricções funcionais. E até se alinda o que está feio, ajustando as peças do espaço visual, valorizando factores monumentais, articulando perspectivas, remendando e compondo aqui e ali de uma forma mais ou menos acertada... A "doença do dinamismo" (como alguém denominou) parece-se urbanisticamente com tudo quanto há de imprevisível na coincidência de diferentes níveis generativos que se vão renovando segundo constantes mudanças de signo e de composição. Como se irão operar as interacções entre os grupos e os estratos humanos, e a anatomia e a fisiologia dos organismos urbanísticos? O que se passará nos domínios da ciência e da técnica? Perante esta "doença incurável", sem outro remédio que não seja a contenção do processo, urbanistas, arquitectos e sociólogos tenderão a conhecer resultados pobres com as providências que possam tomar. Mas a "doença incurável" pode converter-se num processo regido por normas diferentes, noutra doença distinta cujas irremediáveis imperfeições e descompensações podem renovar-se, mas num contexto novo e rodeado de esperança. E para abrir caminho à cura do que parecia mortal, os media portuenses têm constituído um forum importante para o confronto de ideias, para o levantar de problemas e, como consequência, para o encontro de várias soluções. E a cidade tem-no sentido e retribui com a fidelidade da sua audiência. Não é por acaso que um jornal do Porto, o Jornal de Notícias, é o de maior audiência em todo o país. E nem é tablóide, nem recorre às primeiras páginas de sangue e não tem espaço para as “pin-ups”. O seu sentir as populações através de inúmeras reportagens que faz para o levantamento de problemas e respectiva difusão, aproximam o jornal das pessoas que fazem da sua leitura um hábito com muitos anos. 4.1. CIDADES - TRADIÇÃO DE MUDANÇA Na última metade do século XIX, durante um período de um relativo desenvolvimento industrial de algumas regiões, a urbanização e o
  • 8. 8 crescimento do Porto, e de outros aglomerados, operou-se num ritmo cada vez maior, que a expansão dos transportes veio também promover. Depois tornou-se num foco de atracção, até pela sua situação junto ao litoral. O declínio da agricultura e o progresso e concentração das indústrias e serviços fazem com que as pessoas abandonem o campo. Muitas delas transportaram para o novo ambiente as suas crenças, tradições, hábitos que, entretanto, ou se foram perdendo, ou se enquistaram noutros corpos sociais, um tanto desenraizados da sua origem, ou se desmultiplicaram em formas modernas de criação cultural. Uma aglomeração humana pode formar-se e expandir-se de duas maneiras: ou pela integração no desenvolvimento natural, crescendo harmoniosamente nele e com ele (como aconteceu normalmente na construção urbana limitada; ou rebentando os limites desse envolvimento, causando a sua destruição ou degradação (como acontece a algum urbanismo "moderno" prevalecente nas nossas cidades). De acordo com as mais recentes perspectivas de intervenção neste campo, foram sendo construídos objectivos de uma política de reconstrução, conservação, protecção ou renovação dos conjuntos urbanos significativos de uma determinada herança cultural, num contexto humano que lhe é próprio: a) Foram elaborados projectos para planificar, construir ou renovar um envolvimento e considerá-lo, de forma completa e integrada, como essencial ao aumento da qualidade do viver das populações (no seu sentido mais amplo), com os menores custos materiais e sociais e em íntima colaboração e contacto com elas; b) Foram assegurados, tanto quanto possível, a manutenção das tradições mais representativas (religiosas, festivas, artesanais, comerciais, de recreio e associativismo, etc.) das características que definiam a identidade comunitária e das suas relações históricas com as áreas e comunidades circundantes, sem rupturas ou soluções de continuidade; c) Foram realojados, nos mesmos locais após as obras de conservação ou renovação, alguns dos habitantes que neles viviam, respeitando os laços familiares e de vizinhança, os relacionamentos e contactos que definiam os padrões, usos e modos de vida ali existentes, que se pretendia não fossem quebrados ou agredidos (por várias razões este propósito ficará sempre por completar); d) Tem-se vindo a explorar (estética, cultural e urbanisticamente) o carácter físico dos locais, especialmente a sua relação com o ambiente natural e a paisagem circundante, valorizando o mais possível a fisionomia que melhor caracterize a sua individualidade histórica.
  • 9. 9 Convém, a propósito, referir uma situação concreta que nos ajude a reflectir sobre o que fica dito. Assim, o que dá carácter e coerência aos núcleos urbanos antigos (Miragaia, S. Nicolau e Vitória, no Porto; Alfama, Madragoa, Belem, a Costa do Castelo, em Lisboa; Guimarães, a baixa Coimbrã, Viana do Castelo, Évora, etc.) ? Talvez o acordo, a conjugação do ambiente construído, com o envolvimento primitivo. Talvez o sentido da proporção e da dimensão humanizadas (o que não exclui, por vezes, certa grandeza) das construções. Talvez a facilidade da comunicação interpessoal, pela relação dos espaços com os habitantes e destes entre si. E, também, a qualidade estética dos conjuntos e edifícios isolados, baseada na simplicidade, clareza e depuração de um desenho despido de factores aleatórios, mas provido de grande eficácia estrutural relativamente às funções a que se destina e à adequação ao contexto físico a que se subordinou. Qualquer intervenção, particular ou oficial, susceptível de provocar alterações em tecidos e padrões arquitectónicos tão habilmente construídos, tem sido maduramente estudada e tecnicamente planificada e fundamentada, de maneira a salvaguardar o significado histórico e cultural de tais conjuntos. O que não inviabiliza, nem contradiz, pelo contrário, a possibilidade e a necessidade da modernização e reconversão dos equipamentos habitacionais, de modo a assegurar às populações o conforto e a dignidade cívica que os processos de desenvolvimento não podem ignorar. Para que as recuperações começassem a ser encaradas e, posteriormente executadas, dois factores se apresentaram como determinantes: o ressurgimento do municipalismo em Portugal e a consciencialização dos media face aos problemas sociais que afectavam a cidade. Sobretudo a imprensa usou a imagem para mostrar zonas degradadas, fez reportagens, entrevistou políticos, confrontou especialistas. O ambiente impôs-se como tema obrigatório dos media. Sacudiu os políticos, deu outro ânimo e responsabilidade aos técnicos e consciencializou populações. O trabalho dos media está apenas no início. Os desequilíbrios são frequentes e renovam-se em subterfúgios. A "civilização do automóvel", o envenenamento atmosférico, a ruptura de uma ecologia normal e razoavelmente de acordo com a natureza humana, incidem de modo implacável sobre a vida da cidade. O mundo técnico não se limita a enquadrar a existência no modo de vida urbano, dado que pretende ainda que as formas urbanizadas de existir mudem o tipo de vida. O homem, ser social, transformando-se em partícula multitudinária e numérica. Como qualquer espécie animal, evolui sempre que o meio ambiente se transforma.
  • 10. 10 A multiplicidade e a velocidade dos transportes, a quantidade e a rapidez das informações, a capacidade de crescimento e mudança, instituem um novo ambiente natural que criou uma humanidade cada vez mais ajustada ao clima tecnológico. Os aspectos negativos desta situação "urbanizada", são bem conhecidos. Mas também existem vertentes positivas, uma vez que a vida se apresenta com maior quantidade de estímulos, as informações são mais acessíveis e mais amplas certas possibilidades fundamentais como a instrução e o transporte. Naturalmente, há defesas contra o que é negativo, formas de intensificar o que é positivo, embora as nossas sociedades, tão dinâmicas e mutáveis em certos aspectos, propendam a estabilizar as situações humanas, os enquadramentos em classes, níveis e grupos sociais. 5. CONCLUSÃO Vale a pena cultivar a ideia de tentar uma rectificação ou uma reorganização que devolva aos homens uma liberdade completa ante as coacções implícitas no meio técnico. Mas como tentar isso sem uma oposição à realidade e sem cair em utopias? Cidade de intelectuais com trabalho e prestígio reconhecidos além fronteiras, como José Augusto Seabra, ensaísta e o maior estudioso de Fernando Pessoa, Agustina Bessa-Luís, a melhor romancista portuguesa, Eugénio Andrade, o maior de todos os poetas vivos, Óscar Lopes, crítico literário de referência e o grande historiador da literatura portuguesa, dos Arquitectos Siza Vieira e Alcindo Soutinho, dos pintores Júlio Resende e António Quadros, dos escultores Gustavo Bastos e Laureano e do filósofo da “aporia”, Delfim dos Santos. Espaço de liberdade criado e desenvolvido pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e pela Escola de Belas Artes. No Porto germinam ideias e projectam-se na diáspora, numa tradição de liberdade de quem fez nascer Portus Cale para o Portugal do mundo. A cidade venera os seus intelectuais e faz da Universidade a sua referência de renovação de ideias numa entranhada tradição de liberdade. No mundo das ideias, também os meios de comunicação social, ao constituírem um dos múltiplos campos autónomos das sociedades modernas,
  • 11. 11 podem projectar e ser eco daqueles e de outros estímulos à interactividade de ideias. Sabemos que, tal como os restantes campos sociais, os media são uma instituição delimitada pela sua própria esfera de legitimidade na definição, na imposição e na defesa de uma determinada hierarquia de valores, na regulação do seu mercado, na sua transcrição em formas simbólicas que se impõem socialmente ao conjunto dos campos sociais como relativamente indiscutíveis. A questão está em não singularizar a sua acção e, pelo contrário, fazer do pluralismo o “quid” que abre debates, rompe perspectivas, alarga o círculo e os círculos, liberta espaço para o voo do pensamento e alimenta o confronto de ideias. Mas, ao contrário dos restantes campos sociais, a instituição dos media distingue-se pela natureza dos seus valores legítimos, pelo modo de regulação do seu mercado, pela forma dos seus símbolos e pelos processos de definição e de defesa da sua ordem legítima. Questão axiológica que aparece como fulcral para dar sentido à vida da cidade e dos homens no seu viver social. De facto, o campo dos media institucionaliza-se a partir do processo de autonomização da prática social discursiva numa legitimidade que é, simultaneamente, derivada e distinta. É esta contradição que alimenta a natureza complexa das relações da comunicação social com os restantes campos sociais. E então podemos vislumbrar que os efeitos de sentido constituem a natureza específica da legitimidade do campo dos media. Facilmente se reconhecem escolhos, se confundem interesses, se levantam barreiras. Mas também se descobrem outros caminhos, se clarificam ideias e se saltam as barreiras.  O Professor Adriano Duarte Rodrigues formula uma reflexão, situando a questão das relações entre os media e a sociedade a três níveis. “1. Os media constituem uma instituição social à parte, autónoma das outras instituições sociais. Como tal, ocupa um corpo distinto da legitimidade social, assente numa ordem específica de dominação, a dominação discursiva, garante da sua hierarquia de valores, manifestada por todo um conjunto de formas simbólicas, desde as figuras retóricas da titulagem da imprensa escrita, radiofónica e televisiva, até às modas de vestir ou à desenvoltura dos gestos dos profissionais. A forma objectivante do seu discurso traduz-se na camuflagem do sujeito da enunciação, criando uma autêntica mais-valia simbólica de credibilidade do enunciado, pela anulação do lugar de onde se fala, universalizando e naturalizando aquilo que se diz. 2. Os media recebem toda a legitimidade das outras instituições sociais. O seu lugar institucional é derivado das outras instituições. (...)É o espelho de todos os outros campos sociais.
  • 12. 12 3. A forma especular e espectacular do campo dos media é o resultado lógico da sua autonomia, como o reverso da sua autonomia em relação aos restantes campos sociais. É o limite da conquista da liberdade de expressão, do processo de autonomização de um campo à parte das múltiplas ordens discursivas. Cortado hoje de qualquer referência, o campo dos media torna-se puro processo de produção de modelos, maquinaria de fabrico de imagens, no sentido de imagens de marca de produtos, de serviços, de programas políticos. Os media, na sua modalidade mais genuína de funcionamento, acabam por valorizar não importa o quê, até os seus próprios modelos puros, isto é , sem referente, vazios, tais como o próprio tempo de antena ou o seu papel impresso.” Não acompanho o pessimismo de uniformizar os media pela bitola dos “cortados de qualquer referência” e de “valorizar não importa o quê”. O facto de neste momento histórico a tendência ser generalizante neste domínio, também é verdade que ainda há inúmeros meios identificados com valores e referências de uma forma muito clara. E vão ser estes com que a cidade vai poder contar. Porque também ela precisa de valores para não perder as suas referências. 6. Bibliografia Carvalho, C., "Comunicação e Informação", Ed. Areal, Porto, 1994. Cebrián Herreros, M., “Información Audiovisual”, Ed. Sintesis, Madrid, 1995. Jeoffroy-Faggianelli, P. e Plazolles, R., "Techniques de l'expression et de la communication", Jeoffroy-Faggianelli, P. e Plazolles, R., Ed. Université Informacio- Formation, Paris, 1980. Pacheco, H.,"Portugal - Património Cultural Popular", Ed. Areal, Porto, 1985. Rubio Royo, E. e Ocón Carreras, A., “Novas Tecnologias da Informação” VV. AA. “Manual de Periodismo”, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, 1995. Valbuena de La Fuente, F., “La Comunicación como negociación”, VV. AA. “Manual de Periodismo”, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, 1995. Williams, F., Strover S., Grant, A. E. (University of Texas at Austin), “Aspectos Sociais das tecnologias dos novos media”, in “Los efectos de los medios de comunicación”, Ed. Paidós, Barcelona, 1996.
  • 13. 13 ÍNDICE 1. Introdução 2. A comunicação visual das cidades 3. Uma forma visual de dizer as coisas 4. - O Jornalismo na Cidade 5. Conclusão 6. Bibliografia
  • 14. 14 Rui Manuel Estrela Ribeiro de Melo Doutorando do 1º Ano Curso de Doctorado en Ciencias de la Información