SlideShare uma empresa Scribd logo
21 - A MOLÉSTIA SALVADORA
Voltara Antonino Tinoco da reunião habitual; entretanto, a palavra amorosa e sábia dos
amigos espirituais não lhe aliviara o coração atormentado, como sucedia de outras vezes.
Generosas entidades lhe falaram ao íntimo, da beleza da consciência pura, exalçando a
felicidade no dever cumprido, e, contudo, parecia agora inabilitado à compreensão.
Aquele vulto de mulher ocupava-lhe a mente, como se fosse uma obcecação doentia. Não
lhe dera Deus o lar honesto, o afeto caricioso da companheira e dos filhinhos? Que lhe
faltava ao coração? Agora, sentia-se quase sem forças. Conhecera-a numa festa elegante,
íntima. Recordava nitidamente o instante em que se cumprimentaram pela primeira vez. Não
tencionava dançar, mas alguém insistira, apresentando-lhe Gildete. Entendeu-lhe de pronto o
temperamento original. Conversaram envolvidos em simpatia franca, embalados em sons
musicais, dentro da noite linda, sob árvores tranquilas e balouçadas de vento descuidoso.
A história de Gildete comovera-o e os dias enlaçaram ambos cada vez mais, em repetidos
encontros.
Não valeram explicações, advertências e conselhos de sua parte. Abandonara-se-lhe a
jovem teimosamente, enredando-o em maravilhosa teia de seduções. Contara-lhe
complicado romance de sua vida, que Antonino aceitou com a boa-fé que lhe caracterizava o
espírito fraternal. Gildete, no entanto, vinha de mais longe. Espírito envenenado de aventuras
inconfessáveis, presumia em Tinoco outra presa fácil.
A princípio, encontravam-se duas vezes por semana, como bons amigos plenamente
identificados entre si; mas a gentileza excessiva embebedara-o, devagarinho, e não se sentiu
surpreendido quando entraram a falar de atração, desejos, amor. A partir dessa noite,
tornara-se mais assíduo e interessado.
De quando em quando, advertia-o a consciência nos recessos do ser. Seria crível que,
integrado no conhecimento de sublimes revelações espirituais, se entregasse inerme a
condenáveis aventuras, quando assumira sagrados compromissos de família? Por vezes,
acentuava-se-lhe o impulso de resistência, beijava ardentemente os filhinhos, alegrava a
esposa, renovando delicadezas cariciosas; subitamente, porém, lembrava a outra e, qual
animalzinho magnetizado, inventava pretextos para ausentar-se.
Gildete obcecara-o. Cada noite, lia-lhe novas páginas de ternura, que afirmava escritas
somente para ele, na soledade do coração. Dirigia-lhe olhares súplices, lacrimosos, tímidos,
de criança ingênua, e que Tinoco interpretava como carícias de primeiro e único amor. Em
vão tentava referir-se à dedicação platônica que lhe competia, aos sagrados compromissos
que o prendiam. A sereia destacava sempre novas possibilidades e descobria diferentes
caminhos para satisfação dos criminosos desejos. Antonino escutava-lhe os apelos, sob
emoções fortes, devorando cigarros avidamente. Em determinadas ocasiões, cedera quase.
Mas no instante preciso, quando a perigosa criatura se julgava triunfante na batalha oculta,
algo lhe ocorria ao espírito bem-intencionado, impedindo a total rendição. Eram lembranças
vagas dos filhos queridos, recordações de gestos amorosos da companheira; outras vezes,
parecia-lhe escutar de novo as preleções evangélicas das reuniões espiritistas que
costumava frequentar periodicamente. Gildete exasperava-se, sentindo-se espicaçada pela
vaidade ferida.
Mais de um ano decorrera, no qual Antonino perdera energias e tranqüilidade. Emagrecera.
Nunca mais se lhe observara o olhar sereno de outros tempos. Ele próprio não sabia explicar a
causa de sua resistência moral, ante a situação complicada e indefinida.
É que o abnegado Ornar, velho companheiro de existências transcorridas, seguia-o
espiritualmente de há muitos séculos e permanecia vigilante. À tirania da mulher inconsciente
sobrepunha-se uma influência superior. Se Gildete emitia conceitos tendentes a desintegrar o
caráter de Antonino, oferecia-lhe Ornar pensamentos nobres. A imaginação do rapaz
convertera-se em campo raso de luta.
Naquela noite, todavia, Tinoco revelava-se mais fraco. Era-lhe quase impossível resistir por
mais tempo.
Debalde aproximou-se o benfeitor trazendo-lhe socorro. Cérebro escaldando, Antonino
refletia: não via tantos amigos, aparentemente respeitáveis, sustentando episódios afetivos
longe do lar? Possuindo recursos financeiros para atender às suas obrigações, como deixar
Gildete em abandono? Afinal, não seria generosidade amparar uma criatura sem arrimo e
sem família? O nosso Antonino aproximava-se da capitulação integral.
Preocupado, nervoso, esperou o dia imediato e, à noite, procurou ansiosamente a perigosa
diva.
Depois de trivialidades usuais, penetraram o terreno das considerações afetivas. Gildete
parecia-lhe mais sedutora que nunca.
- O dever é cruz bem pesada - suspirou ele com amargura.
- Mas não se trata de fugir ao dever - tentou ela esclarecer sutilmente -, longe de mim a
idéia de comprometer teu nome, arruinar tua paz doméstica. Não achas, porém, que também
eu tenho direito à vida? Sou o faminto atormentado, junto ao celeiro rico de afetos. Teus
escrúpulos são naturais e respeitáveis e sou a primeira a louvar a nobreza do teu proceder;
entretanto, não podes desconhecer minha condição de mendigo batendo-te à porta. Há
quanto tempo suplico migalhas de amor que te sobram no lar? Encontrando-te, supus-me
acompanharam a vida e os pensamentos. Nossa primeira noite de baile pareceu-me a
entrada em paraísos maravilhosos. Guardei a impressão de que tua voz chegava de longe,
do pais delicioso do sonho... Depois, Antonino, informei-me da tua vida. Estavas preso a
outra, eras pai de filhinhos que não são meus. A realidade encheu-me de sombras e, não
obstante a sorte adversa, nunca desanimei. Amo-te com ardor sempre novo, esperando-te
ansiosa.
E porque o rapaz lhe guardava as mãos entre as dele, a revelar carinho, Gildete tinha os
olhos úmidos, brilhando à luz cariciosa e discreta, e continuava:
- Não exijo que sacrifiques teus deveres, não desejo te transformes em marido execrado,
mas suplico a migalha de afeto, algo que alivie os pesares imensos desta minha solidão
angustiosa...
A essa altura, desfez-se em pranto convulsivo, que Tinoco procurava estancar
carinhosamente. Abraçando-a, comovido, renovou protestos amorosos e tudo prometeu,
decidido a todas as conseqüências :
- Não chores assim; deves saber que vives comigo em toda a parte, no coração e no
pensamento. Ouve, Gildete! Iremos amanhã para Petrópolis, organizaremos nossa vida. Não
posso desprezar a família, mas passarei a manter o lar e o ninho, a mãe de meus filhos e a
companheira ideal.
A pérfida criatura exibia gestos de felicidade imensa.
Depois de venturosos votos muitas vezes renovados, separaram-se com a promessa de
união definitiva, para o dia seguinte.
Nessa noite, todavia, enquanto Tinoco tentava a custo conciliar o sono, absorvido em
projetos de voluptuosa exaltação, Omar, aflito, trazia um nobre amigo da Espiritualidade,
mais experiente que ele próprio, a fim de opinar na difícil conjuntura.
Anacleto, o venerando guia, examinou Antonino atentamente meneou a cabeça e esclareceu
:
- Toda a zona mental está invadida de larvas venenosas. As zonas de receptividade
permanecem fechadas à influenciação superior. Teu protegido está absolutamente
hipnotizado pela mulher que lhe armou o laço de mel.
Abismando-se Ornar em amargurosa tristeza, Anacleto explicou :
- Só há um meio de salvá-lo.
- Qual? - perguntou o generoso amigo.
- A enfermidade grave e longa, algo que, abalando-o nos recessos da personalidade, lhe
esgote o terrível conteúdo psíquico.
Trocaram idéias durante alguns minutos e, voltando Anacleto à esfera superior, podia-se ver
Omar em agitação intensa.
Alta madrugada, Tinoco despertou de breve sono, experimentando dores agudas. Levantouse,
mas as cólicas e vômitos incoercíveis obrigaram-no a deitar-se novamente.
A esposa abnegada, depois de mobilizar os recursos possíveis, telefonou inquieta ao médico
da casa. O facultativo atendeu prontamente. Após minucioso exame, prescreveu banhos
quentes e injeções intravenosas de água salgada. Ao despedir-se, falou à Sr Tinoco em
caráter confidencial:
- O caso é muito grave. Tenho a perfeita impressão da cólera morbus. A fraqueza, a algidez, os
vômitos e contrações, são sintomáticos. Voltarei mais tarde para colher elementos
necessários ao exame bacteriológico.
Mal clareava o dia e Antonino já apresentava lividez cadavérica.
O dia correu entre inquietudes angustiosas. À noite apareceu Gildete, acompanhada de
amigos, para visita aparentemente sem significação. Acercando-se do leito, não dissimulou a
surpresa profunda ao ver Antonino palidíssimo, ofegante, aguilhoado de cólicas dolorosas.
Não obstante as pesquisas de laboratório e renovação de tratamento, Tinoco piorava dia a
dia.
Acabrunhado e lacrimoso, na fase culminante do sofrimento, suplicou a presença da
mãezinha querida, que desencarnara dois anos antes. Evocado com veemência, o Espírito
materno não se fez demorado. Reconhecendo-lhe os padecimentos rudes, a velhinha
venerável abraçava-o, rezando. Nesse instante, aproximou-se Omar e lhe falou entre
enérgico e compassivo :
- Minha irmã, não implore a Deus providências favoráveis à saúde de seu filho.
- Oh! generoso amigo - objetou emocionada -, acaso não sou mãe afetuosa? Como poderia
ver meu filho atormentado, sem rogar a Deus lhe devolva o equilíbrio indispensável à vida?
- Sim, você foi mãe dele por trinta e cinco anos, mas eu estou em serviço ativo pela saúde
espiritual de Antonino há mais de quinze séculos. A moléstia não o abandonará, até que se
anulem os perigos. Enquanto há condensação de vapores, a nuvem não desaparece do céu.
De fato, somente depois de onze meses voltava Tinaco do consultório, fisionomia radiante, ao
lado da esposa carinhosa. O médico afirmara, abraçando-o:
- Você deve orgulhar-se do organismo que possui.
A princípio, alarmei-me com os sintomas da cólera; todavia, embora lhe descobrisse a forma
benigna, eram tantas as complicações que cheguei a duvidar da sua resistência. Na verdade, a
Natureza o dotou de reservas vigorosas.
Tinoco, restabelecido, não sabia como agradecer a Deus a bênção da harmonia orgânica, e
quando, mais tarde, perguntou por Gildete, soube que a perigosa mulher residia em
Madureira, ligada a outro homem. Só então compreendeu que, se o amor é capaz de todos os
sacrifícios, o desejo costuma extinguir-se ao primeiro sinal de falência orgânica, ou de
mocidade evanescente.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A petição de jesus
A petição de jesusA petição de jesus
A petição de jesus
Helio Cruz
 
Sexo e Destino cap14
Sexo e Destino cap14Sexo e Destino cap14
Sexo e Destino cap14
Patricia Farias
 
Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7
Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7
Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7
Patricia Farias
 
Burned pccast pt
Burned pccast ptBurned pccast pt
Burned pccast ptbardolivro
 
Sexo Destino 2a parte Cap2
Sexo Destino 2a parte Cap2Sexo Destino 2a parte Cap2
Sexo Destino 2a parte Cap2
Patricia Farias
 
28 a queixosa
28   a queixosa28   a queixosa
28 a queixosa
Fatoze
 
Sexo e Destino cap.11
Sexo e Destino cap.11Sexo e Destino cap.11
Sexo e Destino cap.11
Patricia Farias
 
Boletim informativo jul2015
Boletim informativo jul2015Boletim informativo jul2015
Boletim informativo jul2015fespiritacrista
 
Alegria e mau humor (1)
Alegria e mau humor (1)Alegria e mau humor (1)
Alegria e mau humor (1)
Alice Lirio
 
Livro Sexo e Destino Cap.7
Livro Sexo e Destino Cap.7Livro Sexo e Destino Cap.7
Livro Sexo e Destino Cap.7
Patricia Farias
 
Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...
Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...
Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...
Cynthia Castro
 
Crises e Dores Coletivas e Familiares
Crises e Dores Coletivas e FamiliaresCrises e Dores Coletivas e Familiares
Crises e Dores Coletivas e Familiares
ADALBERTO COELHO DA SILVA JR
 
19 quando felisberto voltou
19   quando felisberto voltou19   quando felisberto voltou
19 quando felisberto voltou
Fatoze
 
18 narrador apenas
18   narrador apenas18   narrador apenas
18 narrador apenas
Fatoze
 
Sexo e Destino Cap.2
Sexo e Destino Cap.2Sexo e Destino Cap.2
Sexo e Destino Cap.2
Patricia Farias
 
02.edgar allan poe - morela
02.edgar allan poe  -  morela02.edgar allan poe  -  morela
02.edgar allan poe - morelaTalles Lisboa
 

Mais procurados (18)

A petição de jesus
A petição de jesusA petição de jesus
A petição de jesus
 
24. adega dos anjos
24. adega dos anjos24. adega dos anjos
24. adega dos anjos
 
Sexo e Destino cap14
Sexo e Destino cap14Sexo e Destino cap14
Sexo e Destino cap14
 
Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7
Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7
Sexo e destino Parte Segunda Cap. 7
 
Burned pccast pt
Burned pccast ptBurned pccast pt
Burned pccast pt
 
Sexo Destino 2a parte Cap2
Sexo Destino 2a parte Cap2Sexo Destino 2a parte Cap2
Sexo Destino 2a parte Cap2
 
28 a queixosa
28   a queixosa28   a queixosa
28 a queixosa
 
Sexo e Destino cap.11
Sexo e Destino cap.11Sexo e Destino cap.11
Sexo e Destino cap.11
 
Romance
RomanceRomance
Romance
 
Boletim informativo jul2015
Boletim informativo jul2015Boletim informativo jul2015
Boletim informativo jul2015
 
Alegria e mau humor (1)
Alegria e mau humor (1)Alegria e mau humor (1)
Alegria e mau humor (1)
 
Livro Sexo e Destino Cap.7
Livro Sexo e Destino Cap.7Livro Sexo e Destino Cap.7
Livro Sexo e Destino Cap.7
 
Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...
Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...
Seminário Memórias de Um Suicida - Capítulo IV - Jerônimo de Araújo Silveira ...
 
Crises e Dores Coletivas e Familiares
Crises e Dores Coletivas e FamiliaresCrises e Dores Coletivas e Familiares
Crises e Dores Coletivas e Familiares
 
19 quando felisberto voltou
19   quando felisberto voltou19   quando felisberto voltou
19 quando felisberto voltou
 
18 narrador apenas
18   narrador apenas18   narrador apenas
18 narrador apenas
 
Sexo e Destino Cap.2
Sexo e Destino Cap.2Sexo e Destino Cap.2
Sexo e Destino Cap.2
 
02.edgar allan poe - morela
02.edgar allan poe  -  morela02.edgar allan poe  -  morela
02.edgar allan poe - morela
 

Semelhante a 21 a moléstia salvadora

Nos domínios da mediunidade aula10
Nos domínios da mediunidade aula10Nos domínios da mediunidade aula10
Nos domínios da mediunidade aula10
Leonardo Pereira
 
25 tragédia oculta
25   tragédia oculta25   tragédia oculta
25 tragédia oculta
Fatoze
 
Nuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdfNuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdfGabriel171
 
12 a cura completa
12   a cura completa12   a cura completa
12 a cura completa
Fatoze
 
Aula 19 - Nos domínios da mediunidade
Aula 19  - Nos domínios da mediunidadeAula 19  - Nos domínios da mediunidade
Aula 19 - Nos domínios da mediunidade
Leonardo Pereira
 
O vaso de porcelana (richard simonetti)
O vaso de porcelana (richard simonetti)O vaso de porcelana (richard simonetti)
O vaso de porcelana (richard simonetti)Andreia Miranda
 
Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17
Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17
Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17
ClaraAndrade44
 
Alexandra ana rita_caroliny_o_branquinho
Alexandra ana rita_caroliny_o_branquinhoAlexandra ana rita_caroliny_o_branquinho
Alexandra ana rita_caroliny_o_branquinho
Escola Secundária Eça de Queirós
 
4 Assistência no Plano Terreno.
4 Assistência no Plano Terreno.4 Assistência no Plano Terreno.
4 Assistência no Plano Terreno.
ThiagoPereiraSantos2
 
5 o natal diferente
5   o natal diferente5   o natal diferente
5 o natal diferente
Fatoze
 
A Bela e a Fera
A Bela e a FeraA Bela e a Fera
A Bela e a Fera
GQ Shows e Eventos
 
Ceu e inferno o castigo
Ceu e inferno o castigoCeu e inferno o castigo
Ceu e inferno o castigo
Iasmine Ally
 
20 o valor do trabalho
20   o valor do trabalho20   o valor do trabalho
20 o valor do trabalho
Fatoze
 
30 mania de enfermidade
30   mania de enfermidade30   mania de enfermidade
30 mania de enfermidade
Fatoze
 
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan PoeO Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
FelipeCorra10
 
Boletim informativo mai2014
Boletim informativo mai2014Boletim informativo mai2014
Boletim informativo mai2014fespiritacrista
 
Cartas de amor
Cartas de amorCartas de amor
Cartas de amor
Isabel Brito
 
O gato preto
O gato pretoO gato preto
O gato pretobibliomag
 

Semelhante a 21 a moléstia salvadora (20)

Nos domínios da mediunidade aula10
Nos domínios da mediunidade aula10Nos domínios da mediunidade aula10
Nos domínios da mediunidade aula10
 
( Espiritismo) # - amag ramgis - dominacao telepatica
( Espiritismo)   # - amag ramgis - dominacao telepatica( Espiritismo)   # - amag ramgis - dominacao telepatica
( Espiritismo) # - amag ramgis - dominacao telepatica
 
25 tragédia oculta
25   tragédia oculta25   tragédia oculta
25 tragédia oculta
 
Nuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdfNuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdf
 
12 a cura completa
12   a cura completa12   a cura completa
12 a cura completa
 
Aula 19 - Nos domínios da mediunidade
Aula 19  - Nos domínios da mediunidadeAula 19  - Nos domínios da mediunidade
Aula 19 - Nos domínios da mediunidade
 
O vaso de porcelana (richard simonetti)
O vaso de porcelana (richard simonetti)O vaso de porcelana (richard simonetti)
O vaso de porcelana (richard simonetti)
 
Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17
Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17
Os Mensageiros - Chico Xavier - capítulo 17
 
Alexandra ana rita_caroliny_o_branquinho
Alexandra ana rita_caroliny_o_branquinhoAlexandra ana rita_caroliny_o_branquinho
Alexandra ana rita_caroliny_o_branquinho
 
4 Assistência no Plano Terreno.
4 Assistência no Plano Terreno.4 Assistência no Plano Terreno.
4 Assistência no Plano Terreno.
 
5 o natal diferente
5   o natal diferente5   o natal diferente
5 o natal diferente
 
Bela e a fera
Bela e a feraBela e a fera
Bela e a fera
 
A Bela e a Fera
A Bela e a FeraA Bela e a Fera
A Bela e a Fera
 
Ceu e inferno o castigo
Ceu e inferno o castigoCeu e inferno o castigo
Ceu e inferno o castigo
 
20 o valor do trabalho
20   o valor do trabalho20   o valor do trabalho
20 o valor do trabalho
 
30 mania de enfermidade
30   mania de enfermidade30   mania de enfermidade
30 mania de enfermidade
 
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan PoeO Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
 
Boletim informativo mai2014
Boletim informativo mai2014Boletim informativo mai2014
Boletim informativo mai2014
 
Cartas de amor
Cartas de amorCartas de amor
Cartas de amor
 
O gato preto
O gato pretoO gato preto
O gato preto
 

Mais de Fatoze

Evangelho animais 95
Evangelho animais 95Evangelho animais 95
Evangelho animais 95
Fatoze
 
Evangelho animais 94
Evangelho animais 94Evangelho animais 94
Evangelho animais 94
Fatoze
 
Evangelho animais 93
Evangelho animais 93Evangelho animais 93
Evangelho animais 93
Fatoze
 
Evangelho animais 92
Evangelho animais 92Evangelho animais 92
Evangelho animais 92
Fatoze
 
Evangelho animais 91
Evangelho animais 91Evangelho animais 91
Evangelho animais 91
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (68)
Evangelho no lar com crianças (68)Evangelho no lar com crianças (68)
Evangelho no lar com crianças (68)
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (67)
Evangelho no lar com crianças (67)Evangelho no lar com crianças (67)
Evangelho no lar com crianças (67)
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (66)
Evangelho no lar com crianças (66)Evangelho no lar com crianças (66)
Evangelho no lar com crianças (66)
Fatoze
 
68 oitava categoria - caso 14
68   oitava categoria - caso 1468   oitava categoria - caso 14
68 oitava categoria - caso 14
Fatoze
 
67 oitava categoria - caso 12 e caso 13
67   oitava categoria - caso 12 e caso 1367   oitava categoria - caso 12 e caso 13
67 oitava categoria - caso 12 e caso 13
Fatoze
 
66 oitava categoria - caso 10 e caso 11
66   oitava categoria - caso 10 e caso 1166   oitava categoria - caso 10 e caso 11
66 oitava categoria - caso 10 e caso 11
Fatoze
 
65 oitava categoria - caso 08 e caso 09
65   oitava categoria - caso 08 e caso 0965   oitava categoria - caso 08 e caso 09
65 oitava categoria - caso 08 e caso 09
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (65)
Evangelho no lar com crianças (65)Evangelho no lar com crianças (65)
Evangelho no lar com crianças (65)
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (64)
Evangelho no lar com crianças (64)Evangelho no lar com crianças (64)
Evangelho no lar com crianças (64)
Fatoze
 
Evangelho no lar com crianças (63)
Evangelho no lar com crianças (63)Evangelho no lar com crianças (63)
Evangelho no lar com crianças (63)
Fatoze
 
Evangelho animais 90
Evangelho animais 90Evangelho animais 90
Evangelho animais 90
Fatoze
 
Evangelho animais 89
Evangelho animais 89Evangelho animais 89
Evangelho animais 89
Fatoze
 
Evangelho animais 88
Evangelho animais 88Evangelho animais 88
Evangelho animais 88
Fatoze
 
Aula 15 irmaos
Aula 15   irmaosAula 15   irmaos
Aula 15 irmaos
Fatoze
 

Mais de Fatoze (20)

Evangelho animais 95
Evangelho animais 95Evangelho animais 95
Evangelho animais 95
 
Evangelho animais 94
Evangelho animais 94Evangelho animais 94
Evangelho animais 94
 
Evangelho animais 93
Evangelho animais 93Evangelho animais 93
Evangelho animais 93
 
Evangelho animais 92
Evangelho animais 92Evangelho animais 92
Evangelho animais 92
 
Evangelho animais 91
Evangelho animais 91Evangelho animais 91
Evangelho animais 91
 
Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)Evangelho no lar com crianças (69)
Evangelho no lar com crianças (69)
 
Evangelho no lar com crianças (68)
Evangelho no lar com crianças (68)Evangelho no lar com crianças (68)
Evangelho no lar com crianças (68)
 
Evangelho no lar com crianças (67)
Evangelho no lar com crianças (67)Evangelho no lar com crianças (67)
Evangelho no lar com crianças (67)
 
Evangelho no lar com crianças (66)
Evangelho no lar com crianças (66)Evangelho no lar com crianças (66)
Evangelho no lar com crianças (66)
 
68 oitava categoria - caso 14
68   oitava categoria - caso 1468   oitava categoria - caso 14
68 oitava categoria - caso 14
 
67 oitava categoria - caso 12 e caso 13
67   oitava categoria - caso 12 e caso 1367   oitava categoria - caso 12 e caso 13
67 oitava categoria - caso 12 e caso 13
 
66 oitava categoria - caso 10 e caso 11
66   oitava categoria - caso 10 e caso 1166   oitava categoria - caso 10 e caso 11
66 oitava categoria - caso 10 e caso 11
 
65 oitava categoria - caso 08 e caso 09
65   oitava categoria - caso 08 e caso 0965   oitava categoria - caso 08 e caso 09
65 oitava categoria - caso 08 e caso 09
 
Evangelho no lar com crianças (65)
Evangelho no lar com crianças (65)Evangelho no lar com crianças (65)
Evangelho no lar com crianças (65)
 
Evangelho no lar com crianças (64)
Evangelho no lar com crianças (64)Evangelho no lar com crianças (64)
Evangelho no lar com crianças (64)
 
Evangelho no lar com crianças (63)
Evangelho no lar com crianças (63)Evangelho no lar com crianças (63)
Evangelho no lar com crianças (63)
 
Evangelho animais 90
Evangelho animais 90Evangelho animais 90
Evangelho animais 90
 
Evangelho animais 89
Evangelho animais 89Evangelho animais 89
Evangelho animais 89
 
Evangelho animais 88
Evangelho animais 88Evangelho animais 88
Evangelho animais 88
 
Aula 15 irmaos
Aula 15   irmaosAula 15   irmaos
Aula 15 irmaos
 

Último

Estudo sobre os quatro temperamentos.pptx
Estudo sobre os quatro temperamentos.pptxEstudo sobre os quatro temperamentos.pptx
Estudo sobre os quatro temperamentos.pptx
FabiodeMaria3
 
Zacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Zacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxZacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Zacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
lindalva da cruz
 
Bíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsx
Bíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsxBíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsx
Bíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsx
Igreja Jesus é o Verbo
 
A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]
A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]
A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]
ESCRIBA DE CRISTO
 
Simbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdf
Simbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdfSimbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdf
Simbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdf
MaurcioS8
 
Pregação sobre as 5 Lições De Gideão para nós
Pregação sobre as 5 Lições De Gideão para nósPregação sobre as 5 Lições De Gideão para nós
Pregação sobre as 5 Lições De Gideão para nós
Linho Zinho
 
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADASCARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
ESCRIBA DE CRISTO
 
Estudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introdução
Estudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introduçãoEstudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introdução
Estudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introdução
Pr. Welfany Nolasco Rodrigues
 
O VATICANO E A BÍBLIA - COM COMENTÁRIOS
O VATICANO E A BÍBLIA -  COM COMENTÁRIOSO VATICANO E A BÍBLIA -  COM COMENTÁRIOS
O VATICANO E A BÍBLIA - COM COMENTÁRIOS
ESCRIBA DE CRISTO
 
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptxBíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Igreja Jesus é o Verbo
 
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Janilson Noca
 
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
ESCRIBA DE CRISTO
 
Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - Inimigos
Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - InimigosEvangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - Inimigos
Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - Inimigos
Ricardo Azevedo
 
ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]
ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]
ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]
ESCRIBA DE CRISTO
 

Último (14)

Estudo sobre os quatro temperamentos.pptx
Estudo sobre os quatro temperamentos.pptxEstudo sobre os quatro temperamentos.pptx
Estudo sobre os quatro temperamentos.pptx
 
Zacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Zacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxZacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Zacarias - 005.ppt xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
 
Bíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsx
Bíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsxBíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsx
Bíblia Sagrada - Amós - slides powerpoint.ppsx
 
A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]
A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]
A CÚPULA DO VATICANO É HOMOSSEXUAL [CATOLICISMO]
 
Simbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdf
Simbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdfSimbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdf
Simbologia do Galo na Maçonaria - Roberto Lico.pdf
 
Pregação sobre as 5 Lições De Gideão para nós
Pregação sobre as 5 Lições De Gideão para nósPregação sobre as 5 Lições De Gideão para nós
Pregação sobre as 5 Lições De Gideão para nós
 
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADASCARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
CARTAS DE INÁCIO DE ANTIOQUIA ILUSTRADAS E COMENTADAS
 
Estudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introdução
Estudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introduçãoEstudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introdução
Estudo Bíblico da Carta aos Filipenses - introdução
 
O VATICANO E A BÍBLIA - COM COMENTÁRIOS
O VATICANO E A BÍBLIA -  COM COMENTÁRIOSO VATICANO E A BÍBLIA -  COM COMENTÁRIOS
O VATICANO E A BÍBLIA - COM COMENTÁRIOS
 
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptxBíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
Bíblia Sagrada - Odabias - slides powerpoint.pptx
 
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
Manual-do-PGM-Protótipo.docxManual-do-PGM-Protótipo.docx
 
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
CRISTO E EU [MENSAGEM DE CHARLES SPURGEON]
 
Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - Inimigos
Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - InimigosEvangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - Inimigos
Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 137 - Inimigos
 
ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]
ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]
ESTUDO SOBRE PREMONIÇÃO [PARAPSICOLOGIA]
 

21 a moléstia salvadora

  • 1. 21 - A MOLÉSTIA SALVADORA Voltara Antonino Tinoco da reunião habitual; entretanto, a palavra amorosa e sábia dos amigos espirituais não lhe aliviara o coração atormentado, como sucedia de outras vezes. Generosas entidades lhe falaram ao íntimo, da beleza da consciência pura, exalçando a felicidade no dever cumprido, e, contudo, parecia agora inabilitado à compreensão. Aquele vulto de mulher ocupava-lhe a mente, como se fosse uma obcecação doentia. Não lhe dera Deus o lar honesto, o afeto caricioso da companheira e dos filhinhos? Que lhe faltava ao coração? Agora, sentia-se quase sem forças. Conhecera-a numa festa elegante, íntima. Recordava nitidamente o instante em que se cumprimentaram pela primeira vez. Não tencionava dançar, mas alguém insistira, apresentando-lhe Gildete. Entendeu-lhe de pronto o temperamento original. Conversaram envolvidos em simpatia franca, embalados em sons musicais, dentro da noite linda, sob árvores tranquilas e balouçadas de vento descuidoso. A história de Gildete comovera-o e os dias enlaçaram ambos cada vez mais, em repetidos encontros. Não valeram explicações, advertências e conselhos de sua parte. Abandonara-se-lhe a jovem teimosamente, enredando-o em maravilhosa teia de seduções. Contara-lhe complicado romance de sua vida, que Antonino aceitou com a boa-fé que lhe caracterizava o espírito fraternal. Gildete, no entanto, vinha de mais longe. Espírito envenenado de aventuras inconfessáveis, presumia em Tinoco outra presa fácil. A princípio, encontravam-se duas vezes por semana, como bons amigos plenamente identificados entre si; mas a gentileza excessiva embebedara-o, devagarinho, e não se sentiu surpreendido quando entraram a falar de atração, desejos, amor. A partir dessa noite, tornara-se mais assíduo e interessado. De quando em quando, advertia-o a consciência nos recessos do ser. Seria crível que, integrado no conhecimento de sublimes revelações espirituais, se entregasse inerme a condenáveis aventuras, quando assumira sagrados compromissos de família? Por vezes, acentuava-se-lhe o impulso de resistência, beijava ardentemente os filhinhos, alegrava a esposa, renovando delicadezas cariciosas; subitamente, porém, lembrava a outra e, qual animalzinho magnetizado, inventava pretextos para ausentar-se. Gildete obcecara-o. Cada noite, lia-lhe novas páginas de ternura, que afirmava escritas somente para ele, na soledade do coração. Dirigia-lhe olhares súplices, lacrimosos, tímidos, de criança ingênua, e que Tinoco interpretava como carícias de primeiro e único amor. Em vão tentava referir-se à dedicação platônica que lhe competia, aos sagrados compromissos que o prendiam. A sereia destacava sempre novas possibilidades e descobria diferentes caminhos para satisfação dos criminosos desejos. Antonino escutava-lhe os apelos, sob emoções fortes, devorando cigarros avidamente. Em determinadas ocasiões, cedera quase. Mas no instante preciso, quando a perigosa criatura se julgava triunfante na batalha oculta, algo lhe ocorria ao espírito bem-intencionado, impedindo a total rendição. Eram lembranças
  • 2. vagas dos filhos queridos, recordações de gestos amorosos da companheira; outras vezes, parecia-lhe escutar de novo as preleções evangélicas das reuniões espiritistas que costumava frequentar periodicamente. Gildete exasperava-se, sentindo-se espicaçada pela vaidade ferida. Mais de um ano decorrera, no qual Antonino perdera energias e tranqüilidade. Emagrecera. Nunca mais se lhe observara o olhar sereno de outros tempos. Ele próprio não sabia explicar a causa de sua resistência moral, ante a situação complicada e indefinida. É que o abnegado Ornar, velho companheiro de existências transcorridas, seguia-o espiritualmente de há muitos séculos e permanecia vigilante. À tirania da mulher inconsciente sobrepunha-se uma influência superior. Se Gildete emitia conceitos tendentes a desintegrar o caráter de Antonino, oferecia-lhe Ornar pensamentos nobres. A imaginação do rapaz convertera-se em campo raso de luta. Naquela noite, todavia, Tinoco revelava-se mais fraco. Era-lhe quase impossível resistir por mais tempo. Debalde aproximou-se o benfeitor trazendo-lhe socorro. Cérebro escaldando, Antonino refletia: não via tantos amigos, aparentemente respeitáveis, sustentando episódios afetivos longe do lar? Possuindo recursos financeiros para atender às suas obrigações, como deixar Gildete em abandono? Afinal, não seria generosidade amparar uma criatura sem arrimo e sem família? O nosso Antonino aproximava-se da capitulação integral. Preocupado, nervoso, esperou o dia imediato e, à noite, procurou ansiosamente a perigosa diva. Depois de trivialidades usuais, penetraram o terreno das considerações afetivas. Gildete parecia-lhe mais sedutora que nunca. - O dever é cruz bem pesada - suspirou ele com amargura. - Mas não se trata de fugir ao dever - tentou ela esclarecer sutilmente -, longe de mim a idéia de comprometer teu nome, arruinar tua paz doméstica. Não achas, porém, que também eu tenho direito à vida? Sou o faminto atormentado, junto ao celeiro rico de afetos. Teus escrúpulos são naturais e respeitáveis e sou a primeira a louvar a nobreza do teu proceder; entretanto, não podes desconhecer minha condição de mendigo batendo-te à porta. Há quanto tempo suplico migalhas de amor que te sobram no lar? Encontrando-te, supus-me acompanharam a vida e os pensamentos. Nossa primeira noite de baile pareceu-me a entrada em paraísos maravilhosos. Guardei a impressão de que tua voz chegava de longe, do pais delicioso do sonho... Depois, Antonino, informei-me da tua vida. Estavas preso a outra, eras pai de filhinhos que não são meus. A realidade encheu-me de sombras e, não obstante a sorte adversa, nunca desanimei. Amo-te com ardor sempre novo, esperando-te ansiosa.
  • 3. E porque o rapaz lhe guardava as mãos entre as dele, a revelar carinho, Gildete tinha os olhos úmidos, brilhando à luz cariciosa e discreta, e continuava: - Não exijo que sacrifiques teus deveres, não desejo te transformes em marido execrado, mas suplico a migalha de afeto, algo que alivie os pesares imensos desta minha solidão angustiosa... A essa altura, desfez-se em pranto convulsivo, que Tinoco procurava estancar carinhosamente. Abraçando-a, comovido, renovou protestos amorosos e tudo prometeu, decidido a todas as conseqüências : - Não chores assim; deves saber que vives comigo em toda a parte, no coração e no pensamento. Ouve, Gildete! Iremos amanhã para Petrópolis, organizaremos nossa vida. Não posso desprezar a família, mas passarei a manter o lar e o ninho, a mãe de meus filhos e a companheira ideal. A pérfida criatura exibia gestos de felicidade imensa. Depois de venturosos votos muitas vezes renovados, separaram-se com a promessa de união definitiva, para o dia seguinte. Nessa noite, todavia, enquanto Tinoco tentava a custo conciliar o sono, absorvido em projetos de voluptuosa exaltação, Omar, aflito, trazia um nobre amigo da Espiritualidade, mais experiente que ele próprio, a fim de opinar na difícil conjuntura. Anacleto, o venerando guia, examinou Antonino atentamente meneou a cabeça e esclareceu : - Toda a zona mental está invadida de larvas venenosas. As zonas de receptividade permanecem fechadas à influenciação superior. Teu protegido está absolutamente hipnotizado pela mulher que lhe armou o laço de mel. Abismando-se Ornar em amargurosa tristeza, Anacleto explicou : - Só há um meio de salvá-lo. - Qual? - perguntou o generoso amigo. - A enfermidade grave e longa, algo que, abalando-o nos recessos da personalidade, lhe esgote o terrível conteúdo psíquico. Trocaram idéias durante alguns minutos e, voltando Anacleto à esfera superior, podia-se ver Omar em agitação intensa. Alta madrugada, Tinoco despertou de breve sono, experimentando dores agudas. Levantouse, mas as cólicas e vômitos incoercíveis obrigaram-no a deitar-se novamente.
  • 4. A esposa abnegada, depois de mobilizar os recursos possíveis, telefonou inquieta ao médico da casa. O facultativo atendeu prontamente. Após minucioso exame, prescreveu banhos quentes e injeções intravenosas de água salgada. Ao despedir-se, falou à Sr Tinoco em caráter confidencial: - O caso é muito grave. Tenho a perfeita impressão da cólera morbus. A fraqueza, a algidez, os vômitos e contrações, são sintomáticos. Voltarei mais tarde para colher elementos necessários ao exame bacteriológico. Mal clareava o dia e Antonino já apresentava lividez cadavérica. O dia correu entre inquietudes angustiosas. À noite apareceu Gildete, acompanhada de amigos, para visita aparentemente sem significação. Acercando-se do leito, não dissimulou a surpresa profunda ao ver Antonino palidíssimo, ofegante, aguilhoado de cólicas dolorosas. Não obstante as pesquisas de laboratório e renovação de tratamento, Tinoco piorava dia a dia. Acabrunhado e lacrimoso, na fase culminante do sofrimento, suplicou a presença da mãezinha querida, que desencarnara dois anos antes. Evocado com veemência, o Espírito materno não se fez demorado. Reconhecendo-lhe os padecimentos rudes, a velhinha venerável abraçava-o, rezando. Nesse instante, aproximou-se Omar e lhe falou entre enérgico e compassivo : - Minha irmã, não implore a Deus providências favoráveis à saúde de seu filho. - Oh! generoso amigo - objetou emocionada -, acaso não sou mãe afetuosa? Como poderia ver meu filho atormentado, sem rogar a Deus lhe devolva o equilíbrio indispensável à vida? - Sim, você foi mãe dele por trinta e cinco anos, mas eu estou em serviço ativo pela saúde espiritual de Antonino há mais de quinze séculos. A moléstia não o abandonará, até que se anulem os perigos. Enquanto há condensação de vapores, a nuvem não desaparece do céu. De fato, somente depois de onze meses voltava Tinaco do consultório, fisionomia radiante, ao lado da esposa carinhosa. O médico afirmara, abraçando-o: - Você deve orgulhar-se do organismo que possui. A princípio, alarmei-me com os sintomas da cólera; todavia, embora lhe descobrisse a forma benigna, eram tantas as complicações que cheguei a duvidar da sua resistência. Na verdade, a Natureza o dotou de reservas vigorosas. Tinoco, restabelecido, não sabia como agradecer a Deus a bênção da harmonia orgânica, e quando, mais tarde, perguntou por Gildete, soube que a perigosa mulher residia em Madureira, ligada a outro homem. Só então compreendeu que, se o amor é capaz de todos os sacrifícios, o desejo costuma extinguir-se ao primeiro sinal de falência orgânica, ou de mocidade evanescente.