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Interação Psicol., 15(2), 239-248 239
Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica:
Revisão de Estudos Empíricos
Carolina Baptista Menezes*
, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
RESUMO
A meditação sentada e silenciosa pode ser descrita como um treinamento mental, o qual tem sido
tradicionalmente associado ao bem-estar. O crescente interesse científico pela prática tem ajudado a
demonstrar esta relação através de diferentes metodologias. Este trabalho objetiva discutir a interface
entre alguns pressupostos da meditação e da ciência psicológica no que tange ao bem-estar, assim
como resultados empíricos que parecem apoiar o efeito da prática sobre experiências emocionais
positivas. O artigo também propõe que esta relação ocorre mediada por três processos psicológicos
principais e interdependentes: relaxamento, metacognição/mindfulness e autorregulação. Discute-se
que a investigação destes, assim como dos efeitos da meditação em geral, pode auxiliar na sua
aplicação no campo da psicologia, assim como no desenvolvimento da ciência psicológica.
Palavras-chave: meditação; bem-estar; relaxamento; mindfulness; autorregulação.
ABSTRACT
Meditation, Well-Being and Psychological Science:
A Review of Empirical Studies
Sitting and silent meditation can be described as a mental training, which has been traditionally
associated with well-being. The growing scientific interest in it has helped confirm this association
through various methodologies. This work aims to discuss the interface between some of the tenets of
meditation and psychological science concerning well-being, as well as empirical results supporting
the effects of this practice on positive emotional experiences. It also proposes that this relationship is
mediated by three main and interdependent psychological processes: relaxation, metacognition/
mindfulness, and self-regulation. We discuss that the investigation of such mechanisms and the
general effects of meditation can contribute to its application in the field of psychology, as well as to
the development of the psychological science.
Keywords: meditation; well-being; relaxation; mindfulness; self-regulation.
*
Endereço para correspondência: Carolina Baptista Menezes: menezescarolina@hotmail.com
MEDITAÇÃO – O QUE É?
Meditação é um termo amplo, que pode englobar
definições distintas conforme o contexto filosófico-
religioso no qual a prática está inserida (Walsh &
Shapiro, 2006). Neste artigo serão abordados alguns
achados encontrados nas últimas décadas sobre a me-
ditação passiva, ou meditação sentada e silenciosa,
como também é conhecida. Este é o tipo de meditação
que mais vem sendo pesquisado cientificamente, tanto
em sua forma original, oriunda das tradições espirituais
do oriente, como na sua forma secular, adaptada ao
ocidente. Ambas utilizam métodos muito semelhantes
e têm como objetivo a busca pelo funcionamento psi-
cológico saudável. A diferença é que na meditação
oriental a aspiração ao desenvolvimento pessoal está
intrinsecamente relacionada à dimensão espiritual, a
qual não é necessariamente enfatizada e/ou vinculada
à meditação secular (Walsh & Shapiro, 2006).
Diferentemente da meditação ativa – com movi-
mento – e das meditações em que se pensa sobre um
tema, como a analítica e a cristã, por exemplo, a medi-
tação sentada e silenciosa tem sido descrita como uma
forma de treinamento mental que consiste na focaliza-
ção prolongada e consciente da atenção sobre um
único objeto, tal como a respiração, ou sobre a própria
consciência (Lutz, Dunne, & Davidson, 2007). O ob-
Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro
Interação Psicol., 15(2), 239-248
240
jetivo é aprender a não elaborar e desvincular-se de
distrações e pensamentos discursivos e/ou ruminati-
vos. Alguns autores descrevem a aquisição de tal ha-
bilidade – focar a atenção na consciência do momento
presente, sem a elaboração dos conteúdos mentais –
como um estado de liberdade psicológica (Martin,
1997) ou um estado de liberdade da poluição mental
(Austin, 1998).
Um dos princípios da meditação é que o treino da
concentração leva à superação da distração, de forma
que quanto mais concentrada a mente estiver, menos
perturbação ela sofrerá. Consequentemente, quanto
menos a mente se perturbar, menos ela estará suscetí-
vel a desequilíbrios ou, dito de outra forma, quanto
mais concentrada a mente estiver, tão mais estável ela
estará. É por isso que, tradicionalmente, diz-se que o
objetivo da meditação é facilitar e gerar uma estabili-
dade mental e emocional (Wallace & Shapiro, 2006).
Operacionalmente, a meditação sentada e silencio-
sa tem sido descrita a partir de um conjunto de cinco
parâmetros: 1) deve ser uma técnica claramente defi-
nida, 2) com a qual se alcança algum relaxamento
físico e 3) da lógica ao longo do processo, 4) sendo
um estado autoinduzido, 5) através da utilização de
um foco (Cardoso, Souza, Camano, & Leite, 2004). O
foco, ou âncora, pode ser fechado, caracterizando o
subtipo meditativo concentrativo, também chamado
de meditação da atenção focada, ou pode ser um foco
aberto, caracterizando o subtipo meditativo mindful-
ness, também designado de meditação do monitora-
mento aberto (Davidson & Lutz, 2008).
Através das características citadas até aqui, pode-
se perceber aspectos comuns entre esta prática e a
ciência psicológica. Da mesma forma que nas psicote-
rapias, por exemplo, através da meditação também se
busca a redução do sofrimento psicológico e o cultivo
de qualidades positivas, como o bem-estar. Este seria
um dos principais pontos convergentes entre as práti-
cas meditativas e a psicologia, pois ambas se apóiam
na premissa de que é possível conquistar níveis cada
vez maiores de realização pessoal e que este processo
depende do próprio paciente ou do próprio praticante,
através da auto-observação e do crescente conheci-
mento de si (Martin, 1997; Wallace & Shapiro, 2006).
No que se refere à meditação, esta é comumente e
popularmente associada ao bem-estar, sendo este um
dos principais apelos para a sua prática. Uma das con-
tribuições das pesquisas nesta área tem sido mostrar
alguns resultados convergentes sugerindo a sua asso-
ciação a desfechos psicológicos positivos. O presente
trabalho pretende fazer uma revisão teórica, apresen-
tando e discutindo a interface entre alguns pressupos-
tos da meditação e da ciência psicológica, assim como
apresentar uma revisão da literatura que investigou
três processos psicológicos associados à prática da
meditação: relaxamento, metacognição/mindfulness e
autorregulação. Isso porque o argumento central neste
artigo é a proposição de que estes parecem ser media-
dores fundamentais da relação entre meditação e bem-
estar. Com isso, buscou-se destacar a relevância do
estudo científico da meditação, especialmente no
campo da psicologia, concluindo com uma observação
sobre o estado da área no Brasil.
Ressalta-se que alguns autores argumentam que as
diferentes práticas de meditação devem ser estudadas
separadamente, visto que em uma perspectiva neuro-
científica, elas se caracterizam por circuitos neurais
distintos, que por sua vez produzem efeitos particula-
res. Essa distinção não se aplica apenas à meditação
passiva e ativa, mas também às modalidades do tipo
passivo, tal como o foco fechado – concentrativa – e
aberto – mindfulness (Lutz e cols., 2007). Estas dife-
renças não serão priorizadas neste artigo. De um ponto
de vista fenomenológico, entende-se que a experiência
e o objetivo final da meditação é a busca por um estado
de maior equilíbrio e bem-estar psicológico, de forma
que os resultados apresentados referem-se à meditação
de foco fechado e aberto.
MÉTODO
Este artigo incluiu a busca de artigos sem limite de
data, através dos descritores “meditação”, “mindful-
ness”, “relaxamento”, “metacognição”, “autorregul-
ção”, “bem-estar” e “emoções positivas”. Foram aces-
sadas as bases de dados Psychinfo, Pubmed, Scielo e
PEPsic. Utilizou-se diferentes combinações dos des-
critores, a fim de abranger o maior número de estudos
com essas temáticas. Os artigos incluídos compreen-
deram o período entre 1976 e 2010, sendo a maioria
da última década. Foram excluídos estudos que não
tratavam da meditação sentada e silenciosa e cuja
amostra não era de adultos. Tendo em vista o objetivo
do presente trabalho, ressalta-se que esta não foi uma
revisão sistemática, e sim uma revisão teórica, em que
os artigos foram buscados, apresentados e discutidos
de acordo com as categorias estipuladas a priori: rela-
xamento, metacognição/mindfulness e autorregulção.
Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica
Interação Psicol., 15(2), 239-248
241
MEDITAÇÃO E BEM-ESTAR
Existem diferentes formas de se medir e se referir
ao bem-estar na literatura científica, tais como felici-
dade, qualidade de vida, bem-estar subjetivo, bem-
estar psicológico, satisfação de vida, entre outros. De
forma abrangente, o bem-estar pode ser definido como
um ótimo funcionamento psicológico (Veenhoven,
1997). Na perspectiva do conceito de qualidade de
vida, este funcionamento será ótimo na medida em
que o sujeito avaliar os diferentes âmbitos da sua vida
– físico, psicológico, nível de independência, relações
sociais, ambiente e espiritual – como satisfatórios
(Fleck e cols., 1999). Na perspectiva do conceito de
bem-estar psicológico, proposto por Ryff e Keyes
(1995), o qual deu origem à Escala de Bem-Estar Psi-
cológico – PWBS, o funcionamento positivo ou a
felicidade resultam do equilíbrio dos seguintes domí-
nios: autoaceitação, crescimento pessoal, objetivo na
vida, relações positivas com os outros, domínio do
meio e autonomia. Já segundo a perspectiva do cons-
truto de bem-estar subjetivo, conforme proposto por
Diener, Lucas e Oishi (2005), o funcionamento psico-
lógico positivo resulta da avaliação que o sujeito faz
acerca de sua vida, a qual depende de aspectos afeti-
vos e cognitivos, os quais são comumente investiga-
dos através da Escala de Afetos Positivos e Afetos
Negativos – PANAS (Diener e cols., 2005). Os aspec-
tos afetivos correspondem às experiências emocionais,
representadas pela preponderância dos afetos positivos
sobre os negativos. A avaliação cognitiva baseia-se no
julgamento da satisfação de vida como um todo, per-
passando os âmbitos do trabalho, da família, do lazer,
da saúde, das finanças, do self e do grupo.
Estas perspectivas fornecem uma base inicial sobre
a qual é possível traçar alguns paralelos existentes
entre meditação e bem-estar. Em termos conceituais,
por exemplo, a importância de como as pessoas avaliam
suas experiências para o seu bem-estar (Diener e cols.,
2005; Fleck e cols., 1999) é um ponto comum funda-
mental com a prática meditativa. Isto porque através
da meditação busca-se mudar a consciência com a
qual se percebe as experiências, ao invés de mudar as
experiências em si (Bishop e cols., 2004). Portanto, ao
conseguir mudar e controlar a percepção das coisas, o
praticante pode fazer com que essa percepção favoreça
o seu bem-estar.
Esta ênfase na forma com que se percebe o mundo
e a si mesmo também caracteriza uma importante
semelhança entre os pressupostos da prática meditativa
e da psicoterapia cognitiva (Walsh & Shapiro, 2006).
Para ambas, a interpretação dos fatos é mais relevante
do que os fatos em si. Contudo, uma diferença impor-
tante é que na meditação os conteúdos mentais não
devem ser confrontados ou elaborados intencional-
mente, apenas observados. Assim, a prática torna-se
um aprendizado de como não se deixar influenciar
pelos mesmos, os percebendo como meros fluxos
mentais (Teasdale, 1999).
Outra aproximação possível entre meditação e os
construtos de bem-estar descritos diz respeito à impor-
tância que estes atribuem aos diferentes domínios da
vida. Uma premissa norteadora das práticas meditati-
vas é que o exercício da atenção plena, caracterizada
pela capacidade de não vincular-se automaticamente a
julgamentos e elaborações, deve ser sistemático e
contínuo, a fim de que se manifeste de forma perma-
nente no funcionamento humano, em todas as suas
dimensões (Austin, 1998).
Achados empíricos de pesquisas qualitativas, cor-
relacionais e de intervenção parecem corroborar os
paralelos descritos. Por exemplo, através de entrevis-
tas foi observado que os praticantes percebem os be-
nefícios de sua prática como abrangendo diferentes
âmbitos da vida no seu cotidiano, representados por
aspectos cognitivos, emocionais, sociais, físicos e
espirituais (Menezes & Dell’Aglio, 2009). Os benefí-
cios cognitivos e emocionais estão entre os mais cita-
dos, cujo dado apóia a prerrogativa de que estes são
dois aspectos centrais para a avaliação do bem-estar
(Diener e cols., 2005).
Associações significativas entre meditação e bem-
estar também são encontradas em estudos correlacio-
nais. Estas foram reproduzidas utilizando diferentes
instrumentos de bem-estar, tal como o Questionário de
Saúde Geral de Goldberg – QSG (Menezes &
Dell’Aglio, 2010) e a Escala de Bem-Estar Psicológi-
co de Ryff – PWBS (Ortner e cols., 2007). Embora
estes estudos não demonstrem causalidade, as associa-
ções encontradas têm sido respaldadas por interven-
ções com meditação. Nestas, o incremento do bem-
-estar também foi observado através de diferentes
medidas, por exemplo, a Escala de Bem-Estar Psico-
lógico – PWBS (Carmody & Baer, 2008), a Escala de
Afetos Positivo e Afeto Negativo – PANAS (David-
son e cols., 2003) e a Escala de Estados Positivos da
Mente (Positive States of Mind – PSOM) (Jain e cols.,
2007).
Similarmente, a redução de alguns aspectos consi-
derados negativos ou disfuncionais também tem sido
concebida como um indicador do aumento do bem-
Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro
Interação Psicol., 15(2), 239-248
242
-estar após a prática de meditação. Entre eles, a redu-
ção de sintomas de estresse, medido pelo Inventário
Breve de Sintomas (The Brief Sympton Inventory –
BSI) (Jain e cols., 2007) e pela Escala de Estresse
Percebido (The Perceived Stress Scale) (Nyklíček &
Kuijpers, 2008; Shapiro, Oman, Thoresen, Plante, &
Flinders, 2008); de sintomas de ansiedade, medida
pelo Inventário de Ansiedade de Beck (Beck Anxiety
Inventory – BAI) (Chambers e cols., 2008) e pelo
Inventário de Ansiedade Estado e Traço de Spielber-
ger (Spielberger State-Trait Anxiety Inventory) (Da-
vidson e cols., 2003); e de depressão, através do
Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression
Inventory – BDI) (Chambers e cols., 2008). A dimi-
nuição destes sintomas e a sua relação com a meditação
têm sido igualmente inferidas a partir da observação
de níveis mais baixos de neuroticismo entre praticantes
(Baer e cols., 2008; Ortner e cols., 2007).
Processos Psicológicos Subjacentes
Os dados apresentados até aqui indicam uma rela-
ção entre meditação e bem-estar. Mas por que esta
associação existe e por que a meditação pode promo-
ver bem-estar? Para responder estas questões, alguns
mecanismos têm sido sugeridos (Baer, 2003; Walsh &
Shapiro, 2006), sendo que neste artigo serão enfatiza-
dos três em particular: relaxamento, metacogni-
ção/mindfulness e autorregulação. Estes mecanismos
são, em primeiro lugar, benefícios adquiridos com a
prática. No entanto, propõe-se que eles também cons-
tituem os caminhos principais que, de forma interligada,
conduzem à experiência de bem-estar.
Relaxamento
De forma ampla, o relaxamento se caracteriza por
reações biológicas e emocionais contrárias às de es-
tresse e ansiedade, as quais podem ser medidas pela
menor ativação do sistema nervoso central e autôno-
mo (Casey & Benson, 2004). O treino de meditação
parece ser uma forma de estimular estas reações. Al-
guns padrões característicos, que configuram um esta-
do de relaxamento, têm sido observados em meditado-
res, em contraste a pessoas que foram instruídas a
apenas descansar. A redução da taxa respiratória, da
frequência cardíaca, da variabilidade da frequência
cardíaca e da condutância da pele, assim como um
padrão de atividade cerebral caracterizado por uma
maior amplitude e sincronização das ondas alpha e
theta nas regiões frontais estão entre os mais citados
(Aftanas & Golocheikine, 2001; Danucalov, Simões,
Kozasa, & Leite, 2008; Takahashi e cols., 2005; Tra-
vis & Wallace, 1999). Muitos desses padrões se corre-
lacionam, sugerindo que o relaxamento adquirido na
meditação é o resultado da ação integrada dos mesmos
(Takahashi e cols., 2005).
Em geral, diferentes níveis de ativação periférica e
central podem corresponder a distintas experiências e
estados internos (Keil e cols., 2008), o que parece
explicar porque o estado de relaxamento é normal-
mente acompanhado de outras respostas emocionais
positivas. Na meditação, praticantes que tiveram uma
condutância da pele diminuída mostraram menor sus-
cetibilidade ao estresse induzido por filme (Goleman
& Schwartz, 1976) e aumento no autorrelato de bem-
estar (Ortner e cols., 2007). Em meditadores em que
foi observado um aumento da sincronização de ondas
alpha e theta, também houve um maior relato de expe-
riências de bem-estar (Aftanas & Golocheikine, 2001).
No entanto, ressalta-se que apesar de relacionadas,
as técnicas de relaxamento e de meditação não são
atividades idênticas e não compartilham todos os seus
aspectos (Jain e cols., 2007; Lutz e cols., 2007; Ortner
e cols., 2007). Algumas comparações dos efeitos da
meditação com relaxamento (Ortner e cols., 2007;
Takahashi e cols., 2005) e biofeedback (Cuthbert e
cols., 1981) apontaram que a redução da condutância
da pele, da frequência cardíaca e da taxa respiratória
foi significativamente mais acentuada entre os medi-
tadores. Também em comparação ao biofeedback, os
meditadores relataram se sentir mais relaxados (Cuth-
bert e cols., 1981). Entende-se que a explicação para
estas diferenças é o fato de a meditação incluir uma
atividade mental caracterizada pela redução do pro-
cessamento da informação, ou seja, o não engajamen-
to em pensamentos associativos, discursivos e/ou ru-
minativos oriundos do meio interno e/ou externo,
potencializando os efeitos do relaxamento, tal como a
menor ativação fisiológica (Cuthbert e cols., 1981;
Jain e cols., 2007).
Em suma, uma forma de esclarecer a relação entre
estas técnicas é entender que o relaxamento é um dos
componentes da meditação – por isso é um dos parâ-
metros que formam a definição operacional de medi-
tação proposta por Cardoso e cols. (2004) – mas que o
relaxamento, por si só, não é meditação. No contexto
da prática meditativa, o relaxamento, através da me-
nor ativação periférica e central, é um dos componen-
tes que contribui para um estado emocional de bem-
-estar.
Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica
Interação Psicol., 15(2), 239-248
243
Metacognição/Mindfulness
Conforme foi apresentado, a meditação mostra re-
sultados distintos do relaxamento e esta diferença tem
sido atribuída ao fato de que na meditação há um trei-
no mental que produz uma redução do processamento
da informação. Aliado a isto, este tipo de treino tam-
bém tem sido associado à estimulação de funções
mentais superiores, tal como metacognição e mindful-
ness. No presente artigo, estas serão concebidas como
interdependentes, uma vez que envolvem tipos mais
refinados de consciência, os quais podem contribuir
para estados emocionais positivos.
A metacognição pode ser descrita como a capaci-
dade de monitorar os próprios processos cognitivos e
de usar este meta-conhecimento para regular o proces-
samento da informação e o comportamento (Koriat,
2007). Para Teasdale (1999), no entanto, o conheci-
mento metacognitivo pode não ser suficiente para a
mudança de padrões mentais/emocionais disfuncio-
nais. Por isso, este autor refere-se ao insight metacog-
nitivo (ou consciência metacognitiva). Este envolve
um tipo particular de compreensão, em que pensamen-
tos e sentimentos são percebidos como eventos men-
tais, e não como o próprio self. Sem desconsiderar a
importância de uma pessoa conhecer/saber que seus
pensamentos nem sempre são acurados (conhecimento
metacognitivo), Teasdale (1999) sugere que o grande
diferencial para a transformação pessoal é o insight
metacognitivo, pois além de saber, é preciso sen-
tir/experimentar os pensamentos como eventos passa-
geiros no campo da consciência, ao invés de fatos que
refletem a realidade diretamente. Em outras palavras,
para que este conhecimento e estas novas representa-
ções gerem um impacto emocional, é necessário que
se originem de uma aprendizagem implícita.
A prática meditativa tem sido considerada um dos
caminhos para este insight, tanto na perspectiva das
filosofias que a originaram, como das investigações
em Psicologia (Walsh & Shapiro, 2006). Uma das
explicações é que através da meditação há um refina-
mento da consciência, uma vez que o treino da focali-
zação da atenção – tanto atenção focada como monito-
ramento aberto – facilita o descentramento, promo-
vendo uma desidentificação com os processos men-
tais, os quais são muitas vezes disfuncionais. Isto
permite ao praticante manter sua atenção à experiência
do momento atual, sem engajar-se em um processo de
elaboração contínua ou reagir automaticamente ao
processamento de qualquer estímulo. Dessa forma, a
meditação possibilita que o praticante desenvolva uma
percepção e uma mente menos condicionada, caracte-
rizando um processo metacognitivo.
Já foi demonstrado que de fato os meditadores pa-
recem ter um maior controle sobre a elaboração de
pensamentos associativos em comparação a pessoas
que nunca meditaram (Pagnoni, Cekic, & Guo, 2008).
Isto foi feito através da utilização de uma tarefa de
decisão lexical, juntamente com o imageamento cere-
bral. Em determinados momentos enquanto os partici-
pantes – praticantes experientes e novatos – faziam a
meditação, palavras eram apresentadas e os mesmos
deviam decidir se esta era em inglês ou era uma pala-
vra sem sentido semântico. Foi observado que a rede
neural normalmente ativada na corrente de pensamen-
tos espontâneos e no processamento conceitual –
regiões do córtex pré-frontal medial, córtex cingulado
posterior, giro angular, giro frontal superior medial,
hipocampo e giro hipocampal – teve uma ativação
significativamente menor na fase pós-estímulo no
grupo de meditadores experientes. Isto indica que para
os novatos era mais difícil voltar ao foco da meditação
e interromper a cascata de associações conceituais
eliciadas pelo estímulo semântico. Já para os medita-
dores, o resultado apoiou a ideia de que a prática me-
lhora a capacidade de regular, de forma voluntária, a
atividade mental espontânea, ou seja, a reatividade à
associação de ideias.
Alguns estudos também demonstram que a medita-
ção auxilia na redução do processamento oriundo de
estímulos internos, tal como no caso da ruminação
(Chambers e cols., 2008; Shapiro e cols., 2008). As-
sim, com base nestes achados, sugere-se que esta ca-
pacidade de controlar o fluxo de pensamentos é uma
das formas de propiciar o insight metacognitivo, visto
que a mente só poderá tornar-se menos condicionada
se houver uma menor reatividade ao processamento
associativo. Dessa forma, podem surgir novos insights
e de uma forma implícita. Apoiando esta ideia, os
estudos mostram que há uma associação inversa entre
os escores de ruminação e os de mindfluness, a qual
tem sido descrita justamente como uma consciência
menos condicionada (Chambers e cols., 2008).
Embora seja às vezes traduzida como atenção ple-
na (Vandenberghe & Sousa, 2006), mindfulness é uma
palavra que não possui um equivalente no português,
e por isso também tem sido empregada na sua forma
original. Discute-se que o conceito tem raízes no Bu-
dismo e outras tradições contemplativas e, embora
seja utilizado para nomear um subtipo de meditação,
mindfulness é, na realidade, a própria qualidade que a
prática busca cultivar (Bishop e cols., 2004).
Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro
Interação Psicol., 15(2), 239-248
244
Esta pode ser descrita como um tipo de consciência
pré-reflexiva, contrária ao funcionamento automatiza-
do, e que resulta em uma maior clareza das experiên-
cias e do momento presente (Brown & Ryan, 2003).
Com relação à prática propriamente dita, mindfulness
é definida operacionalmente a partir de dois compo-
nentes, a regulação da atenção e a abertura/aceitação
do momento presente (Bishop e cols., 2004). Além
disso, é importante ao menos destacar que esta quali-
dade também tem sido discutida fora do contexto da
meditação, visto que é considerada algo inerente ao
funcionamento psicológico saudável, que poderia se
manifestar em qualquer pessoa (Langer, 2005).
No contexto da prática meditativa, diversos ins-
trumentos de auto-relato têm sido desenvolvidos com
o intuito de avaliar o construto, por exemplo, o Mindful
Attention Awareness Scale (MAAS – Brown & Ryan,
2003); o Freiburg Mindfulness Inventory (FMI – Wa-
lach, Buchheld, Buttenmüller, Kleinknecht, & Sch-
midt, 2006); o Kentucky Inventory of Mindfulness
Skills (KIMS – Baer, Smith, & Allen, 2004); o Cogni-
tive and Affective Mindfulness Scale (Feldman, Hayes,
Kumar, Greeson, & Laurenceau, 2007); o Southampton
Mindfulness Questionnaire (SMQ – Chadwick e cols.,
2008); o Philadelphia Mindfulness Scale (Cardaciotto,
Herbert, Forman, Moitra, & Farrow, 2008); o Toronto
Mindfulness Scale (TMS – Lau e cols., 2006); e o Five
Facet Mindfulness Questionnaire (FFMQ – Baer e
cols., 2008). Embora o objetivo deste artigo não seja
uma revisão crítica de cada um destes instrumentos, é
importante notar que existe uma falta de consenso
entre suas estruturas, pois alguns avaliam duas ou
mais facetas, enquanto outros medem mindfulness
como um único construto. Há argumentos de que a
utilização de diferentes facetas pode facilitar a com-
preensão de habilidades específicas cultivadas com a
prática de meditação e como estas se relacionam com o
ajustamento psicológico (Baer e cols., 2008).
Não obstante, mesmo na ausência de uma conclu-
são sobre a melhor solução para o construto, aqueles
estudos que avaliaram a correlação dos diferentes
instrumentos com a prática meditativa encontraram
resultados positivos significativos (Baer e cols., 2008;
Brown & Ryan, 2003; Chadwick e cols., 2008; Lau e
cols., 2006; Walach e cols., 2006). Além disso, a utili-
zação destas medidas tem permitido corroborar a
premissa das tradições contemplativas de que uma
mente menos condicionada permite ao praticante ces-
sar padrões mentais/emocionais geradores de sofri-
mento, alcançando níveis mais altos de bem-estar. Isto
porque muitos estudos que observaram um aumento
do bem-estar após a prática de meditação encontraram
que mindfulness mediou este efeito (Baer e cols.,
2008; Brown & Ryan, 2003; Nyklíček & Kuijpers,
2008; Shapiro e cols., 2008).
Autorregulação
De forma ampla, a autorregulação pode ser enten-
dida como a habilidade de modular a cognição, a
emoção e o comportamento, a fim de gerar uma me-
lhor adaptação ao meio (Lewis & Todd, 2007). Embo-
ra na Psicologia ainda se discuta se a autorregulação
envolve apenas processos executivos e/ou processos
automáticos, há consenso de que a mesma abrange o
controle de respostas corticais e subcorticais. Por esta
razão, é muitas vezes dividida em regulação atencio-
nal e regulação emocional, embora se argumente que
a autorregulação é um processo único, envolvendo a
interdependência dos diferentes níveis da atividade
cerebral (Lewis & Todd, 2007). Conforme será apre-
sentado a seguir, diferentes medidas – neurofisiológi-
ca, imagem funcional e comportamental – podem
representar processos regulatórios.
Na perspectiva da “ciência psicológica da medita-
ção”, esta prática tem sido descrita como autorregula-
tória por excelência, visto que o seu objetivo compre-
ende exatamente aquilo que mais caracteriza a autor-
regulção, isto é, um maior controle dos processos
internos (Lutz e cols., 2007). Diversos achados, mui-
tos dos quais já foram discutidos ao longo deste arti-
go, evidenciam esta relação.
Por exemplo, iniciou-se falando da relação entre
meditação e relaxamento e a influência da prática
meditativa na redução da ativação autonômica. Recen-
temente, um estudo utilizando ressonância magnética
mostrou que as regiões cerebrais implicadas na regu-
lação autonômica parecem de fato sofrer influências
com o treino da meditação (Vestergaard-Poulsen e
cols., 2009). Ao comparar meditadores experientes e
um grupo de pessoas que nunca havia meditado, os
autores encontraram que os meditadores tinham uma
maior densidade de massa cinzenta em uma região da
parte inferior do tronco encefálico – o bulbo – assim
como no cerebelo anterior (bilateral), no giro frontal
superior e inferior esquerdo e no giro fusiforme es-
querdo. A região do bulbo, a qual está diretamente
relacionada a funções autonômicas, apresentou a mai-
or diferença. Este dado indica a importância da prática
regular para a neuroplasticidade e sugere que através
da regulação das respostas periféricas, estas mudanças
estruturais podem estar favorecendo o estado de rela-
xamento e o controle da reatividade neurofisiológica.
Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica
Interação Psicol., 15(2), 239-248
245
Tendo em vista que a meditação é normalmente
comparada a uma condição controle, é possível inferir
que estes efeitos são gerados pelo tipo de treinamento
mental característico da prática. Tang e Posner (2009)
discutem que este treino gera um estado atencional
particular que, uma vez aperfeiçoado, não gera fadiga
e representa um trabalho integrado entre um controle
executivo, considerado top-down, e um controle au-
tonômico, bottom-up.
Uma área do cérebro que tem sido bastante impli-
cada neste equilíbrio é o córtex cingulado anterior
(CCA), cuja região parece ser significativamente mais
ativada, de forma bilateral, em meditadores experien-
tes, comparados a novatos (Holzel e cols., 2007). Este
efeito foi observado especialmente na porção rostral, a
qual, segundo os autores, é geralmente mais ativada
quando a regulação da atenção está a serviço do pro-
cessamento emocional.
Este e outros dados mostram que durante a prática
de meditação é possível treinar e estimular novos ar-
ranjos cerebrais – estruturais e funcionais – assim
como novos padrões de funções mentais. Estudos
comportamentais ajudam a demonstrar que estes efei-
tos também podem ser observados fora da prática,
refletindo capacidades de regulação emocional e aten-
cional. Por exemplo, o estudo de Ortner e cols. (2007)
verificou que as pessoas que aprenderam meditação
durante dois meses, em comparação a pessoas que
fizeram relaxamento, apresentaram um maior controle
da interferência de estímulos emocionais negativos
irrelevantes no processamento cognitivo – avaliar se
um som concomitante à apresentação da imagem era
grave ou agudo. A avaliação das figuras desagradáveis
também foi menos intensa no grupo da meditação,
sugerindo que este treino resulta na capacidade de
interromper um processamento prolongado do estímu-
lo negativo.
Corroborando os achados comportamentais, Ortner
e cols. (2007) também observaram aumentos nos es-
cores de bem-estar e mindfulness entre os meditado-
res. Portanto, parece que uma consciência menos con-
dicionada interage com uma maior capacidade de
regular o processamento de estímulos negativos, o que
possivelmente resulte em experiências mais positivas.
Por fim, a atenção, a qual é considerada um com-
ponente fundamental da capacidade de se autorregu-
lar, também parece ser influenciada pela meditação.
Ao combinar a tarefa comportamental do piscar aten-
cional e a mensuração do componente P3b dos poten-
ciais relacionados a evento, foi demonstrado que o
grupo que passou pelo treinamento intensivo de três
meses de meditação, em comparação ao controle,
apresentou um melhor desempenho na tarefa. Esta
consistia em perceber um segundo estímulo acurada-
mente, mesmo sendo temporalmente muito próximo
do primeiro (Slagter e cols., 2007). Além disso, este
resultado se correlacionou com uma melhor distribui-
ção do P3b, uma vez que a redução da amplitude do
componente P3b evocado no primeiro estímulo se
correlacionou com a melhor detecção do segundo
estímulo no grupo da meditação. Ou seja, mesmo
frente à forte competição de dois estímulos muito
próximos temporalmente, o controle da alocação dos
recursos para o processamento do estímulo inicial
permitiu que houvesse recursos disponíveis para o
processamento do estímulo posterior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Huppert e cols. (2004), o estudo científi-
co do bem-estar é especialmente importante na atuali-
dade, pois vive-se um paradoxo. Ao mesmo tempo em
que nunca houve tanta riqueza, acesso à educação, a
serviços de saúde e a oportunidades de lazer, também
se destaca um aumento da insatisfação de vida, altas
taxas de depressão, crime e desintegração social. Para
estes autores, cabe à ciência buscar formas de promo-
ver maior saúde e felicidade.
Este é justamente um dos objetivos da integração
entre meditação e ciência psicológica. Com base nos
achados apresentados, percebe-se que através da me-
ditação é possível treinar a mente e desenvolver um
estado de relaxamento, assim como habilidades meta-
cognitivas e regulatórias que propiciam experiências
emocionais positivas e adaptativas.
Além de levar em consideração a relevância do
bem-estar para a vida em geral, o estudo científico da
meditação pode auxiliar a identificar em que contex-
tos esta prática pode ser mais eficaz para o desenvol-
vimento destas habilidades regulatórias. Diversas
iniciativas já têm sido tomadas e esta técnica também
tem tido aplicações clínicas importantes. Muitos resul-
tados existentes decorrem de estudos com populações
específicas, e programas que utilizam a meditação
como principal ferramenta têm sido desenvolvidos
para tratamentos complementares de transtornos psi-
quiátricos (Baer, 2006).
Por outro lado, ainda são necessários estudos indi-
cando em que situações ou para que populações a
meditação seria contraproducente. Além disso, um
desafio para o campo é conseguir que pacientes e pes-
Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro
Interação Psicol., 15(2), 239-248
246
soas em geral se comprometam com a prática. A me-
ditação, assim como qualquer estratégia comporta-
mental, requer motivação, persistência e disciplina. A
motivação talvez seja a mais importante, uma vez que
é fundamental para o início da prática, assim como
para a sua manutenção e regularidade. A persistência
é necessária, visto que, em geral, o início do treino
pode ser difícil e os resultados podem não ser perce-
bidos em curto prazo. Por fim, deveria haver discipli-
na, pois para que os efeitos possam realmente se ma-
nifestar e possam, por fim, caracterizar um novo pa-
drão de funcionamento psicológico, a repetição e a
regularidade são fundamentais. Embora não compre-
enda um mecanismo em si, sabe-se que o tempo de
prática e a repetição têm um forte papel mediador do
efeito da meditação sobre o bem-estar (Menezes &
Dell’Aglio, 2010).
Em suma, o aumento e a sistematização da investi-
gação científica da prática meditativa, da sua aplica-
ção nas áreas da saúde – em contextos clínicos e não
clínicos –, assim como a publicação e divulgação des-
tes achados podem contribuir neste sentido. No que
tange ao campo da Psicologia, em especial, estes estu-
dos podem incluir investigações qualitativas e quanti-
tativas sobre como as pessoas vivenciam a sua prática,
os seus efeitos, quais as dificuldades encontradas, o
que as motiva a buscar e manter a mesma, além de
outros fatores possivelmente associados, tais como
traços de personalidade. A meditação também é uma
alternativa para a pesquisa aplicada, através de estu-
dos clínicos que testem sua eficácia como tratamento
complementar e/ou preventivo para diversas condi-
ções psicológicas e psicossomáticas, possibilitando o
estudo da tão referida relação mente-corpo. Da mesma
forma, pode contribuir para a pesquisa básica, auxilian-
do na compreensão de processos como atenção, cons-
ciência, percepção, emoção, e suas interrelações, bem
como no entendimento da plasticidade cerebral e da
relação mente-cérebro. Além disso, através do estudo
da meditação, a Psicologia encontra-se com outras áreas
importantes e relacionadas, como Neurociências, Psi-
quiatria, Medicina Comportamental, Psiconeuroimu-
nologia, entre outras. Por fim, dentro da própria ciên-
cia psicológica, a meditação pode ser estudada e apli-
cada dentro de diferentes abordagens, visto que todas
visam ao desenvolvimento de uma mente mais saudá-
vel e a um estado de bem-estar psicológico.
No que tange o estudo da meditação no Brasil, o
número de publicações indica que a produção na área
ainda é restrita e recente. Dois estudos de revisão em
língua portuguesa (Menezes & Dell’Aglio, 2009;
Vandenberghe & Sousa, 2006) buscam destacar a
aplicação clínica da meditação e sua relação ao campo
da psicologia. Um deles enfatiza especialmente a rela-
ção entre mindfulness – descrita tanto como prática,
quanto como o tipo de consciência que se busca culti-
var – e terapias cognitivo-comportamentais (Vanden-
berghe & Sousa, 2006). Também existem estudos
empíricos produzidos no Brasil, publicados tanto na-
cionalmente (por exemplo, Menezes & Dell’Aglio,
2009), como internacionalmente (por exemplo, Mene-
zes & Dell’Aglio, 2010; Simões e cols., 2008). Estes
investigaram aspectos discutidos neste artigo, tal co-
mo bem-estar e regulação autonômica, e concebem a
meditação como uma forma de treinamento mental,
mesmo quando vinculada a alguma filosofia em parti-
cular (Simões e cols., 2008). Não obstante, a produção
nacional ainda é pequena e, consequentemente, ainda
contribui pouco para a discussão de novos achados,
tanto em nível nacional, como internacional.
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na revisão.
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Recebido: 17/12/2010
Ultima revisão: 30/05/2011
Aceito: 06/06/2011

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Meditação, bem-estar e ciência psicológica

  • 1. Interação Psicol., 15(2), 239-248 239 Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica: Revisão de Estudos Empíricos Carolina Baptista Menezes* , Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil RESUMO A meditação sentada e silenciosa pode ser descrita como um treinamento mental, o qual tem sido tradicionalmente associado ao bem-estar. O crescente interesse científico pela prática tem ajudado a demonstrar esta relação através de diferentes metodologias. Este trabalho objetiva discutir a interface entre alguns pressupostos da meditação e da ciência psicológica no que tange ao bem-estar, assim como resultados empíricos que parecem apoiar o efeito da prática sobre experiências emocionais positivas. O artigo também propõe que esta relação ocorre mediada por três processos psicológicos principais e interdependentes: relaxamento, metacognição/mindfulness e autorregulação. Discute-se que a investigação destes, assim como dos efeitos da meditação em geral, pode auxiliar na sua aplicação no campo da psicologia, assim como no desenvolvimento da ciência psicológica. Palavras-chave: meditação; bem-estar; relaxamento; mindfulness; autorregulação. ABSTRACT Meditation, Well-Being and Psychological Science: A Review of Empirical Studies Sitting and silent meditation can be described as a mental training, which has been traditionally associated with well-being. The growing scientific interest in it has helped confirm this association through various methodologies. This work aims to discuss the interface between some of the tenets of meditation and psychological science concerning well-being, as well as empirical results supporting the effects of this practice on positive emotional experiences. It also proposes that this relationship is mediated by three main and interdependent psychological processes: relaxation, metacognition/ mindfulness, and self-regulation. We discuss that the investigation of such mechanisms and the general effects of meditation can contribute to its application in the field of psychology, as well as to the development of the psychological science. Keywords: meditation; well-being; relaxation; mindfulness; self-regulation. * Endereço para correspondência: Carolina Baptista Menezes: menezescarolina@hotmail.com MEDITAÇÃO – O QUE É? Meditação é um termo amplo, que pode englobar definições distintas conforme o contexto filosófico- religioso no qual a prática está inserida (Walsh & Shapiro, 2006). Neste artigo serão abordados alguns achados encontrados nas últimas décadas sobre a me- ditação passiva, ou meditação sentada e silenciosa, como também é conhecida. Este é o tipo de meditação que mais vem sendo pesquisado cientificamente, tanto em sua forma original, oriunda das tradições espirituais do oriente, como na sua forma secular, adaptada ao ocidente. Ambas utilizam métodos muito semelhantes e têm como objetivo a busca pelo funcionamento psi- cológico saudável. A diferença é que na meditação oriental a aspiração ao desenvolvimento pessoal está intrinsecamente relacionada à dimensão espiritual, a qual não é necessariamente enfatizada e/ou vinculada à meditação secular (Walsh & Shapiro, 2006). Diferentemente da meditação ativa – com movi- mento – e das meditações em que se pensa sobre um tema, como a analítica e a cristã, por exemplo, a medi- tação sentada e silenciosa tem sido descrita como uma forma de treinamento mental que consiste na focaliza- ção prolongada e consciente da atenção sobre um único objeto, tal como a respiração, ou sobre a própria consciência (Lutz, Dunne, & Davidson, 2007). O ob-
  • 2. Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro Interação Psicol., 15(2), 239-248 240 jetivo é aprender a não elaborar e desvincular-se de distrações e pensamentos discursivos e/ou ruminati- vos. Alguns autores descrevem a aquisição de tal ha- bilidade – focar a atenção na consciência do momento presente, sem a elaboração dos conteúdos mentais – como um estado de liberdade psicológica (Martin, 1997) ou um estado de liberdade da poluição mental (Austin, 1998). Um dos princípios da meditação é que o treino da concentração leva à superação da distração, de forma que quanto mais concentrada a mente estiver, menos perturbação ela sofrerá. Consequentemente, quanto menos a mente se perturbar, menos ela estará suscetí- vel a desequilíbrios ou, dito de outra forma, quanto mais concentrada a mente estiver, tão mais estável ela estará. É por isso que, tradicionalmente, diz-se que o objetivo da meditação é facilitar e gerar uma estabili- dade mental e emocional (Wallace & Shapiro, 2006). Operacionalmente, a meditação sentada e silencio- sa tem sido descrita a partir de um conjunto de cinco parâmetros: 1) deve ser uma técnica claramente defi- nida, 2) com a qual se alcança algum relaxamento físico e 3) da lógica ao longo do processo, 4) sendo um estado autoinduzido, 5) através da utilização de um foco (Cardoso, Souza, Camano, & Leite, 2004). O foco, ou âncora, pode ser fechado, caracterizando o subtipo meditativo concentrativo, também chamado de meditação da atenção focada, ou pode ser um foco aberto, caracterizando o subtipo meditativo mindful- ness, também designado de meditação do monitora- mento aberto (Davidson & Lutz, 2008). Através das características citadas até aqui, pode- se perceber aspectos comuns entre esta prática e a ciência psicológica. Da mesma forma que nas psicote- rapias, por exemplo, através da meditação também se busca a redução do sofrimento psicológico e o cultivo de qualidades positivas, como o bem-estar. Este seria um dos principais pontos convergentes entre as práti- cas meditativas e a psicologia, pois ambas se apóiam na premissa de que é possível conquistar níveis cada vez maiores de realização pessoal e que este processo depende do próprio paciente ou do próprio praticante, através da auto-observação e do crescente conheci- mento de si (Martin, 1997; Wallace & Shapiro, 2006). No que se refere à meditação, esta é comumente e popularmente associada ao bem-estar, sendo este um dos principais apelos para a sua prática. Uma das con- tribuições das pesquisas nesta área tem sido mostrar alguns resultados convergentes sugerindo a sua asso- ciação a desfechos psicológicos positivos. O presente trabalho pretende fazer uma revisão teórica, apresen- tando e discutindo a interface entre alguns pressupos- tos da meditação e da ciência psicológica, assim como apresentar uma revisão da literatura que investigou três processos psicológicos associados à prática da meditação: relaxamento, metacognição/mindfulness e autorregulação. Isso porque o argumento central neste artigo é a proposição de que estes parecem ser media- dores fundamentais da relação entre meditação e bem- estar. Com isso, buscou-se destacar a relevância do estudo científico da meditação, especialmente no campo da psicologia, concluindo com uma observação sobre o estado da área no Brasil. Ressalta-se que alguns autores argumentam que as diferentes práticas de meditação devem ser estudadas separadamente, visto que em uma perspectiva neuro- científica, elas se caracterizam por circuitos neurais distintos, que por sua vez produzem efeitos particula- res. Essa distinção não se aplica apenas à meditação passiva e ativa, mas também às modalidades do tipo passivo, tal como o foco fechado – concentrativa – e aberto – mindfulness (Lutz e cols., 2007). Estas dife- renças não serão priorizadas neste artigo. De um ponto de vista fenomenológico, entende-se que a experiência e o objetivo final da meditação é a busca por um estado de maior equilíbrio e bem-estar psicológico, de forma que os resultados apresentados referem-se à meditação de foco fechado e aberto. MÉTODO Este artigo incluiu a busca de artigos sem limite de data, através dos descritores “meditação”, “mindful- ness”, “relaxamento”, “metacognição”, “autorregul- ção”, “bem-estar” e “emoções positivas”. Foram aces- sadas as bases de dados Psychinfo, Pubmed, Scielo e PEPsic. Utilizou-se diferentes combinações dos des- critores, a fim de abranger o maior número de estudos com essas temáticas. Os artigos incluídos compreen- deram o período entre 1976 e 2010, sendo a maioria da última década. Foram excluídos estudos que não tratavam da meditação sentada e silenciosa e cuja amostra não era de adultos. Tendo em vista o objetivo do presente trabalho, ressalta-se que esta não foi uma revisão sistemática, e sim uma revisão teórica, em que os artigos foram buscados, apresentados e discutidos de acordo com as categorias estipuladas a priori: rela- xamento, metacognição/mindfulness e autorregulção.
  • 3. Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica Interação Psicol., 15(2), 239-248 241 MEDITAÇÃO E BEM-ESTAR Existem diferentes formas de se medir e se referir ao bem-estar na literatura científica, tais como felici- dade, qualidade de vida, bem-estar subjetivo, bem- estar psicológico, satisfação de vida, entre outros. De forma abrangente, o bem-estar pode ser definido como um ótimo funcionamento psicológico (Veenhoven, 1997). Na perspectiva do conceito de qualidade de vida, este funcionamento será ótimo na medida em que o sujeito avaliar os diferentes âmbitos da sua vida – físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, ambiente e espiritual – como satisfatórios (Fleck e cols., 1999). Na perspectiva do conceito de bem-estar psicológico, proposto por Ryff e Keyes (1995), o qual deu origem à Escala de Bem-Estar Psi- cológico – PWBS, o funcionamento positivo ou a felicidade resultam do equilíbrio dos seguintes domí- nios: autoaceitação, crescimento pessoal, objetivo na vida, relações positivas com os outros, domínio do meio e autonomia. Já segundo a perspectiva do cons- truto de bem-estar subjetivo, conforme proposto por Diener, Lucas e Oishi (2005), o funcionamento psico- lógico positivo resulta da avaliação que o sujeito faz acerca de sua vida, a qual depende de aspectos afeti- vos e cognitivos, os quais são comumente investiga- dos através da Escala de Afetos Positivos e Afetos Negativos – PANAS (Diener e cols., 2005). Os aspec- tos afetivos correspondem às experiências emocionais, representadas pela preponderância dos afetos positivos sobre os negativos. A avaliação cognitiva baseia-se no julgamento da satisfação de vida como um todo, per- passando os âmbitos do trabalho, da família, do lazer, da saúde, das finanças, do self e do grupo. Estas perspectivas fornecem uma base inicial sobre a qual é possível traçar alguns paralelos existentes entre meditação e bem-estar. Em termos conceituais, por exemplo, a importância de como as pessoas avaliam suas experiências para o seu bem-estar (Diener e cols., 2005; Fleck e cols., 1999) é um ponto comum funda- mental com a prática meditativa. Isto porque através da meditação busca-se mudar a consciência com a qual se percebe as experiências, ao invés de mudar as experiências em si (Bishop e cols., 2004). Portanto, ao conseguir mudar e controlar a percepção das coisas, o praticante pode fazer com que essa percepção favoreça o seu bem-estar. Esta ênfase na forma com que se percebe o mundo e a si mesmo também caracteriza uma importante semelhança entre os pressupostos da prática meditativa e da psicoterapia cognitiva (Walsh & Shapiro, 2006). Para ambas, a interpretação dos fatos é mais relevante do que os fatos em si. Contudo, uma diferença impor- tante é que na meditação os conteúdos mentais não devem ser confrontados ou elaborados intencional- mente, apenas observados. Assim, a prática torna-se um aprendizado de como não se deixar influenciar pelos mesmos, os percebendo como meros fluxos mentais (Teasdale, 1999). Outra aproximação possível entre meditação e os construtos de bem-estar descritos diz respeito à impor- tância que estes atribuem aos diferentes domínios da vida. Uma premissa norteadora das práticas meditati- vas é que o exercício da atenção plena, caracterizada pela capacidade de não vincular-se automaticamente a julgamentos e elaborações, deve ser sistemático e contínuo, a fim de que se manifeste de forma perma- nente no funcionamento humano, em todas as suas dimensões (Austin, 1998). Achados empíricos de pesquisas qualitativas, cor- relacionais e de intervenção parecem corroborar os paralelos descritos. Por exemplo, através de entrevis- tas foi observado que os praticantes percebem os be- nefícios de sua prática como abrangendo diferentes âmbitos da vida no seu cotidiano, representados por aspectos cognitivos, emocionais, sociais, físicos e espirituais (Menezes & Dell’Aglio, 2009). Os benefí- cios cognitivos e emocionais estão entre os mais cita- dos, cujo dado apóia a prerrogativa de que estes são dois aspectos centrais para a avaliação do bem-estar (Diener e cols., 2005). Associações significativas entre meditação e bem- estar também são encontradas em estudos correlacio- nais. Estas foram reproduzidas utilizando diferentes instrumentos de bem-estar, tal como o Questionário de Saúde Geral de Goldberg – QSG (Menezes & Dell’Aglio, 2010) e a Escala de Bem-Estar Psicológi- co de Ryff – PWBS (Ortner e cols., 2007). Embora estes estudos não demonstrem causalidade, as associa- ções encontradas têm sido respaldadas por interven- ções com meditação. Nestas, o incremento do bem- -estar também foi observado através de diferentes medidas, por exemplo, a Escala de Bem-Estar Psico- lógico – PWBS (Carmody & Baer, 2008), a Escala de Afetos Positivo e Afeto Negativo – PANAS (David- son e cols., 2003) e a Escala de Estados Positivos da Mente (Positive States of Mind – PSOM) (Jain e cols., 2007). Similarmente, a redução de alguns aspectos consi- derados negativos ou disfuncionais também tem sido concebida como um indicador do aumento do bem-
  • 4. Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro Interação Psicol., 15(2), 239-248 242 -estar após a prática de meditação. Entre eles, a redu- ção de sintomas de estresse, medido pelo Inventário Breve de Sintomas (The Brief Sympton Inventory – BSI) (Jain e cols., 2007) e pela Escala de Estresse Percebido (The Perceived Stress Scale) (Nyklíček & Kuijpers, 2008; Shapiro, Oman, Thoresen, Plante, & Flinders, 2008); de sintomas de ansiedade, medida pelo Inventário de Ansiedade de Beck (Beck Anxiety Inventory – BAI) (Chambers e cols., 2008) e pelo Inventário de Ansiedade Estado e Traço de Spielber- ger (Spielberger State-Trait Anxiety Inventory) (Da- vidson e cols., 2003); e de depressão, através do Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory – BDI) (Chambers e cols., 2008). A dimi- nuição destes sintomas e a sua relação com a meditação têm sido igualmente inferidas a partir da observação de níveis mais baixos de neuroticismo entre praticantes (Baer e cols., 2008; Ortner e cols., 2007). Processos Psicológicos Subjacentes Os dados apresentados até aqui indicam uma rela- ção entre meditação e bem-estar. Mas por que esta associação existe e por que a meditação pode promo- ver bem-estar? Para responder estas questões, alguns mecanismos têm sido sugeridos (Baer, 2003; Walsh & Shapiro, 2006), sendo que neste artigo serão enfatiza- dos três em particular: relaxamento, metacogni- ção/mindfulness e autorregulação. Estes mecanismos são, em primeiro lugar, benefícios adquiridos com a prática. No entanto, propõe-se que eles também cons- tituem os caminhos principais que, de forma interligada, conduzem à experiência de bem-estar. Relaxamento De forma ampla, o relaxamento se caracteriza por reações biológicas e emocionais contrárias às de es- tresse e ansiedade, as quais podem ser medidas pela menor ativação do sistema nervoso central e autôno- mo (Casey & Benson, 2004). O treino de meditação parece ser uma forma de estimular estas reações. Al- guns padrões característicos, que configuram um esta- do de relaxamento, têm sido observados em meditado- res, em contraste a pessoas que foram instruídas a apenas descansar. A redução da taxa respiratória, da frequência cardíaca, da variabilidade da frequência cardíaca e da condutância da pele, assim como um padrão de atividade cerebral caracterizado por uma maior amplitude e sincronização das ondas alpha e theta nas regiões frontais estão entre os mais citados (Aftanas & Golocheikine, 2001; Danucalov, Simões, Kozasa, & Leite, 2008; Takahashi e cols., 2005; Tra- vis & Wallace, 1999). Muitos desses padrões se corre- lacionam, sugerindo que o relaxamento adquirido na meditação é o resultado da ação integrada dos mesmos (Takahashi e cols., 2005). Em geral, diferentes níveis de ativação periférica e central podem corresponder a distintas experiências e estados internos (Keil e cols., 2008), o que parece explicar porque o estado de relaxamento é normal- mente acompanhado de outras respostas emocionais positivas. Na meditação, praticantes que tiveram uma condutância da pele diminuída mostraram menor sus- cetibilidade ao estresse induzido por filme (Goleman & Schwartz, 1976) e aumento no autorrelato de bem- estar (Ortner e cols., 2007). Em meditadores em que foi observado um aumento da sincronização de ondas alpha e theta, também houve um maior relato de expe- riências de bem-estar (Aftanas & Golocheikine, 2001). No entanto, ressalta-se que apesar de relacionadas, as técnicas de relaxamento e de meditação não são atividades idênticas e não compartilham todos os seus aspectos (Jain e cols., 2007; Lutz e cols., 2007; Ortner e cols., 2007). Algumas comparações dos efeitos da meditação com relaxamento (Ortner e cols., 2007; Takahashi e cols., 2005) e biofeedback (Cuthbert e cols., 1981) apontaram que a redução da condutância da pele, da frequência cardíaca e da taxa respiratória foi significativamente mais acentuada entre os medi- tadores. Também em comparação ao biofeedback, os meditadores relataram se sentir mais relaxados (Cuth- bert e cols., 1981). Entende-se que a explicação para estas diferenças é o fato de a meditação incluir uma atividade mental caracterizada pela redução do pro- cessamento da informação, ou seja, o não engajamen- to em pensamentos associativos, discursivos e/ou ru- minativos oriundos do meio interno e/ou externo, potencializando os efeitos do relaxamento, tal como a menor ativação fisiológica (Cuthbert e cols., 1981; Jain e cols., 2007). Em suma, uma forma de esclarecer a relação entre estas técnicas é entender que o relaxamento é um dos componentes da meditação – por isso é um dos parâ- metros que formam a definição operacional de medi- tação proposta por Cardoso e cols. (2004) – mas que o relaxamento, por si só, não é meditação. No contexto da prática meditativa, o relaxamento, através da me- nor ativação periférica e central, é um dos componen- tes que contribui para um estado emocional de bem- -estar.
  • 5. Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica Interação Psicol., 15(2), 239-248 243 Metacognição/Mindfulness Conforme foi apresentado, a meditação mostra re- sultados distintos do relaxamento e esta diferença tem sido atribuída ao fato de que na meditação há um trei- no mental que produz uma redução do processamento da informação. Aliado a isto, este tipo de treino tam- bém tem sido associado à estimulação de funções mentais superiores, tal como metacognição e mindful- ness. No presente artigo, estas serão concebidas como interdependentes, uma vez que envolvem tipos mais refinados de consciência, os quais podem contribuir para estados emocionais positivos. A metacognição pode ser descrita como a capaci- dade de monitorar os próprios processos cognitivos e de usar este meta-conhecimento para regular o proces- samento da informação e o comportamento (Koriat, 2007). Para Teasdale (1999), no entanto, o conheci- mento metacognitivo pode não ser suficiente para a mudança de padrões mentais/emocionais disfuncio- nais. Por isso, este autor refere-se ao insight metacog- nitivo (ou consciência metacognitiva). Este envolve um tipo particular de compreensão, em que pensamen- tos e sentimentos são percebidos como eventos men- tais, e não como o próprio self. Sem desconsiderar a importância de uma pessoa conhecer/saber que seus pensamentos nem sempre são acurados (conhecimento metacognitivo), Teasdale (1999) sugere que o grande diferencial para a transformação pessoal é o insight metacognitivo, pois além de saber, é preciso sen- tir/experimentar os pensamentos como eventos passa- geiros no campo da consciência, ao invés de fatos que refletem a realidade diretamente. Em outras palavras, para que este conhecimento e estas novas representa- ções gerem um impacto emocional, é necessário que se originem de uma aprendizagem implícita. A prática meditativa tem sido considerada um dos caminhos para este insight, tanto na perspectiva das filosofias que a originaram, como das investigações em Psicologia (Walsh & Shapiro, 2006). Uma das explicações é que através da meditação há um refina- mento da consciência, uma vez que o treino da focali- zação da atenção – tanto atenção focada como monito- ramento aberto – facilita o descentramento, promo- vendo uma desidentificação com os processos men- tais, os quais são muitas vezes disfuncionais. Isto permite ao praticante manter sua atenção à experiência do momento atual, sem engajar-se em um processo de elaboração contínua ou reagir automaticamente ao processamento de qualquer estímulo. Dessa forma, a meditação possibilita que o praticante desenvolva uma percepção e uma mente menos condicionada, caracte- rizando um processo metacognitivo. Já foi demonstrado que de fato os meditadores pa- recem ter um maior controle sobre a elaboração de pensamentos associativos em comparação a pessoas que nunca meditaram (Pagnoni, Cekic, & Guo, 2008). Isto foi feito através da utilização de uma tarefa de decisão lexical, juntamente com o imageamento cere- bral. Em determinados momentos enquanto os partici- pantes – praticantes experientes e novatos – faziam a meditação, palavras eram apresentadas e os mesmos deviam decidir se esta era em inglês ou era uma pala- vra sem sentido semântico. Foi observado que a rede neural normalmente ativada na corrente de pensamen- tos espontâneos e no processamento conceitual – regiões do córtex pré-frontal medial, córtex cingulado posterior, giro angular, giro frontal superior medial, hipocampo e giro hipocampal – teve uma ativação significativamente menor na fase pós-estímulo no grupo de meditadores experientes. Isto indica que para os novatos era mais difícil voltar ao foco da meditação e interromper a cascata de associações conceituais eliciadas pelo estímulo semântico. Já para os medita- dores, o resultado apoiou a ideia de que a prática me- lhora a capacidade de regular, de forma voluntária, a atividade mental espontânea, ou seja, a reatividade à associação de ideias. Alguns estudos também demonstram que a medita- ção auxilia na redução do processamento oriundo de estímulos internos, tal como no caso da ruminação (Chambers e cols., 2008; Shapiro e cols., 2008). As- sim, com base nestes achados, sugere-se que esta ca- pacidade de controlar o fluxo de pensamentos é uma das formas de propiciar o insight metacognitivo, visto que a mente só poderá tornar-se menos condicionada se houver uma menor reatividade ao processamento associativo. Dessa forma, podem surgir novos insights e de uma forma implícita. Apoiando esta ideia, os estudos mostram que há uma associação inversa entre os escores de ruminação e os de mindfluness, a qual tem sido descrita justamente como uma consciência menos condicionada (Chambers e cols., 2008). Embora seja às vezes traduzida como atenção ple- na (Vandenberghe & Sousa, 2006), mindfulness é uma palavra que não possui um equivalente no português, e por isso também tem sido empregada na sua forma original. Discute-se que o conceito tem raízes no Bu- dismo e outras tradições contemplativas e, embora seja utilizado para nomear um subtipo de meditação, mindfulness é, na realidade, a própria qualidade que a prática busca cultivar (Bishop e cols., 2004).
  • 6. Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro Interação Psicol., 15(2), 239-248 244 Esta pode ser descrita como um tipo de consciência pré-reflexiva, contrária ao funcionamento automatiza- do, e que resulta em uma maior clareza das experiên- cias e do momento presente (Brown & Ryan, 2003). Com relação à prática propriamente dita, mindfulness é definida operacionalmente a partir de dois compo- nentes, a regulação da atenção e a abertura/aceitação do momento presente (Bishop e cols., 2004). Além disso, é importante ao menos destacar que esta quali- dade também tem sido discutida fora do contexto da meditação, visto que é considerada algo inerente ao funcionamento psicológico saudável, que poderia se manifestar em qualquer pessoa (Langer, 2005). No contexto da prática meditativa, diversos ins- trumentos de auto-relato têm sido desenvolvidos com o intuito de avaliar o construto, por exemplo, o Mindful Attention Awareness Scale (MAAS – Brown & Ryan, 2003); o Freiburg Mindfulness Inventory (FMI – Wa- lach, Buchheld, Buttenmüller, Kleinknecht, & Sch- midt, 2006); o Kentucky Inventory of Mindfulness Skills (KIMS – Baer, Smith, & Allen, 2004); o Cogni- tive and Affective Mindfulness Scale (Feldman, Hayes, Kumar, Greeson, & Laurenceau, 2007); o Southampton Mindfulness Questionnaire (SMQ – Chadwick e cols., 2008); o Philadelphia Mindfulness Scale (Cardaciotto, Herbert, Forman, Moitra, & Farrow, 2008); o Toronto Mindfulness Scale (TMS – Lau e cols., 2006); e o Five Facet Mindfulness Questionnaire (FFMQ – Baer e cols., 2008). Embora o objetivo deste artigo não seja uma revisão crítica de cada um destes instrumentos, é importante notar que existe uma falta de consenso entre suas estruturas, pois alguns avaliam duas ou mais facetas, enquanto outros medem mindfulness como um único construto. Há argumentos de que a utilização de diferentes facetas pode facilitar a com- preensão de habilidades específicas cultivadas com a prática de meditação e como estas se relacionam com o ajustamento psicológico (Baer e cols., 2008). Não obstante, mesmo na ausência de uma conclu- são sobre a melhor solução para o construto, aqueles estudos que avaliaram a correlação dos diferentes instrumentos com a prática meditativa encontraram resultados positivos significativos (Baer e cols., 2008; Brown & Ryan, 2003; Chadwick e cols., 2008; Lau e cols., 2006; Walach e cols., 2006). Além disso, a utili- zação destas medidas tem permitido corroborar a premissa das tradições contemplativas de que uma mente menos condicionada permite ao praticante ces- sar padrões mentais/emocionais geradores de sofri- mento, alcançando níveis mais altos de bem-estar. Isto porque muitos estudos que observaram um aumento do bem-estar após a prática de meditação encontraram que mindfulness mediou este efeito (Baer e cols., 2008; Brown & Ryan, 2003; Nyklíček & Kuijpers, 2008; Shapiro e cols., 2008). Autorregulação De forma ampla, a autorregulação pode ser enten- dida como a habilidade de modular a cognição, a emoção e o comportamento, a fim de gerar uma me- lhor adaptação ao meio (Lewis & Todd, 2007). Embo- ra na Psicologia ainda se discuta se a autorregulação envolve apenas processos executivos e/ou processos automáticos, há consenso de que a mesma abrange o controle de respostas corticais e subcorticais. Por esta razão, é muitas vezes dividida em regulação atencio- nal e regulação emocional, embora se argumente que a autorregulação é um processo único, envolvendo a interdependência dos diferentes níveis da atividade cerebral (Lewis & Todd, 2007). Conforme será apre- sentado a seguir, diferentes medidas – neurofisiológi- ca, imagem funcional e comportamental – podem representar processos regulatórios. Na perspectiva da “ciência psicológica da medita- ção”, esta prática tem sido descrita como autorregula- tória por excelência, visto que o seu objetivo compre- ende exatamente aquilo que mais caracteriza a autor- regulção, isto é, um maior controle dos processos internos (Lutz e cols., 2007). Diversos achados, mui- tos dos quais já foram discutidos ao longo deste arti- go, evidenciam esta relação. Por exemplo, iniciou-se falando da relação entre meditação e relaxamento e a influência da prática meditativa na redução da ativação autonômica. Recen- temente, um estudo utilizando ressonância magnética mostrou que as regiões cerebrais implicadas na regu- lação autonômica parecem de fato sofrer influências com o treino da meditação (Vestergaard-Poulsen e cols., 2009). Ao comparar meditadores experientes e um grupo de pessoas que nunca havia meditado, os autores encontraram que os meditadores tinham uma maior densidade de massa cinzenta em uma região da parte inferior do tronco encefálico – o bulbo – assim como no cerebelo anterior (bilateral), no giro frontal superior e inferior esquerdo e no giro fusiforme es- querdo. A região do bulbo, a qual está diretamente relacionada a funções autonômicas, apresentou a mai- or diferença. Este dado indica a importância da prática regular para a neuroplasticidade e sugere que através da regulação das respostas periféricas, estas mudanças estruturais podem estar favorecendo o estado de rela- xamento e o controle da reatividade neurofisiológica.
  • 7. Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica Interação Psicol., 15(2), 239-248 245 Tendo em vista que a meditação é normalmente comparada a uma condição controle, é possível inferir que estes efeitos são gerados pelo tipo de treinamento mental característico da prática. Tang e Posner (2009) discutem que este treino gera um estado atencional particular que, uma vez aperfeiçoado, não gera fadiga e representa um trabalho integrado entre um controle executivo, considerado top-down, e um controle au- tonômico, bottom-up. Uma área do cérebro que tem sido bastante impli- cada neste equilíbrio é o córtex cingulado anterior (CCA), cuja região parece ser significativamente mais ativada, de forma bilateral, em meditadores experien- tes, comparados a novatos (Holzel e cols., 2007). Este efeito foi observado especialmente na porção rostral, a qual, segundo os autores, é geralmente mais ativada quando a regulação da atenção está a serviço do pro- cessamento emocional. Este e outros dados mostram que durante a prática de meditação é possível treinar e estimular novos ar- ranjos cerebrais – estruturais e funcionais – assim como novos padrões de funções mentais. Estudos comportamentais ajudam a demonstrar que estes efei- tos também podem ser observados fora da prática, refletindo capacidades de regulação emocional e aten- cional. Por exemplo, o estudo de Ortner e cols. (2007) verificou que as pessoas que aprenderam meditação durante dois meses, em comparação a pessoas que fizeram relaxamento, apresentaram um maior controle da interferência de estímulos emocionais negativos irrelevantes no processamento cognitivo – avaliar se um som concomitante à apresentação da imagem era grave ou agudo. A avaliação das figuras desagradáveis também foi menos intensa no grupo da meditação, sugerindo que este treino resulta na capacidade de interromper um processamento prolongado do estímu- lo negativo. Corroborando os achados comportamentais, Ortner e cols. (2007) também observaram aumentos nos es- cores de bem-estar e mindfulness entre os meditado- res. Portanto, parece que uma consciência menos con- dicionada interage com uma maior capacidade de regular o processamento de estímulos negativos, o que possivelmente resulte em experiências mais positivas. Por fim, a atenção, a qual é considerada um com- ponente fundamental da capacidade de se autorregu- lar, também parece ser influenciada pela meditação. Ao combinar a tarefa comportamental do piscar aten- cional e a mensuração do componente P3b dos poten- ciais relacionados a evento, foi demonstrado que o grupo que passou pelo treinamento intensivo de três meses de meditação, em comparação ao controle, apresentou um melhor desempenho na tarefa. Esta consistia em perceber um segundo estímulo acurada- mente, mesmo sendo temporalmente muito próximo do primeiro (Slagter e cols., 2007). Além disso, este resultado se correlacionou com uma melhor distribui- ção do P3b, uma vez que a redução da amplitude do componente P3b evocado no primeiro estímulo se correlacionou com a melhor detecção do segundo estímulo no grupo da meditação. Ou seja, mesmo frente à forte competição de dois estímulos muito próximos temporalmente, o controle da alocação dos recursos para o processamento do estímulo inicial permitiu que houvesse recursos disponíveis para o processamento do estímulo posterior. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Huppert e cols. (2004), o estudo científi- co do bem-estar é especialmente importante na atuali- dade, pois vive-se um paradoxo. Ao mesmo tempo em que nunca houve tanta riqueza, acesso à educação, a serviços de saúde e a oportunidades de lazer, também se destaca um aumento da insatisfação de vida, altas taxas de depressão, crime e desintegração social. Para estes autores, cabe à ciência buscar formas de promo- ver maior saúde e felicidade. Este é justamente um dos objetivos da integração entre meditação e ciência psicológica. Com base nos achados apresentados, percebe-se que através da me- ditação é possível treinar a mente e desenvolver um estado de relaxamento, assim como habilidades meta- cognitivas e regulatórias que propiciam experiências emocionais positivas e adaptativas. Além de levar em consideração a relevância do bem-estar para a vida em geral, o estudo científico da meditação pode auxiliar a identificar em que contex- tos esta prática pode ser mais eficaz para o desenvol- vimento destas habilidades regulatórias. Diversas iniciativas já têm sido tomadas e esta técnica também tem tido aplicações clínicas importantes. Muitos resul- tados existentes decorrem de estudos com populações específicas, e programas que utilizam a meditação como principal ferramenta têm sido desenvolvidos para tratamentos complementares de transtornos psi- quiátricos (Baer, 2006). Por outro lado, ainda são necessários estudos indi- cando em que situações ou para que populações a meditação seria contraproducente. Além disso, um desafio para o campo é conseguir que pacientes e pes-
  • 8. Carolina Baptista Menezes, Débora Dalbosco Dell’Aglio & Lisiane Bizarro Interação Psicol., 15(2), 239-248 246 soas em geral se comprometam com a prática. A me- ditação, assim como qualquer estratégia comporta- mental, requer motivação, persistência e disciplina. A motivação talvez seja a mais importante, uma vez que é fundamental para o início da prática, assim como para a sua manutenção e regularidade. A persistência é necessária, visto que, em geral, o início do treino pode ser difícil e os resultados podem não ser perce- bidos em curto prazo. Por fim, deveria haver discipli- na, pois para que os efeitos possam realmente se ma- nifestar e possam, por fim, caracterizar um novo pa- drão de funcionamento psicológico, a repetição e a regularidade são fundamentais. Embora não compre- enda um mecanismo em si, sabe-se que o tempo de prática e a repetição têm um forte papel mediador do efeito da meditação sobre o bem-estar (Menezes & Dell’Aglio, 2010). Em suma, o aumento e a sistematização da investi- gação científica da prática meditativa, da sua aplica- ção nas áreas da saúde – em contextos clínicos e não clínicos –, assim como a publicação e divulgação des- tes achados podem contribuir neste sentido. No que tange ao campo da Psicologia, em especial, estes estu- dos podem incluir investigações qualitativas e quanti- tativas sobre como as pessoas vivenciam a sua prática, os seus efeitos, quais as dificuldades encontradas, o que as motiva a buscar e manter a mesma, além de outros fatores possivelmente associados, tais como traços de personalidade. A meditação também é uma alternativa para a pesquisa aplicada, através de estu- dos clínicos que testem sua eficácia como tratamento complementar e/ou preventivo para diversas condi- ções psicológicas e psicossomáticas, possibilitando o estudo da tão referida relação mente-corpo. Da mesma forma, pode contribuir para a pesquisa básica, auxilian- do na compreensão de processos como atenção, cons- ciência, percepção, emoção, e suas interrelações, bem como no entendimento da plasticidade cerebral e da relação mente-cérebro. Além disso, através do estudo da meditação, a Psicologia encontra-se com outras áreas importantes e relacionadas, como Neurociências, Psi- quiatria, Medicina Comportamental, Psiconeuroimu- nologia, entre outras. Por fim, dentro da própria ciên- cia psicológica, a meditação pode ser estudada e apli- cada dentro de diferentes abordagens, visto que todas visam ao desenvolvimento de uma mente mais saudá- vel e a um estado de bem-estar psicológico. No que tange o estudo da meditação no Brasil, o número de publicações indica que a produção na área ainda é restrita e recente. Dois estudos de revisão em língua portuguesa (Menezes & Dell’Aglio, 2009; Vandenberghe & Sousa, 2006) buscam destacar a aplicação clínica da meditação e sua relação ao campo da psicologia. Um deles enfatiza especialmente a rela- ção entre mindfulness – descrita tanto como prática, quanto como o tipo de consciência que se busca culti- var – e terapias cognitivo-comportamentais (Vanden- berghe & Sousa, 2006). Também existem estudos empíricos produzidos no Brasil, publicados tanto na- cionalmente (por exemplo, Menezes & Dell’Aglio, 2009), como internacionalmente (por exemplo, Mene- zes & Dell’Aglio, 2010; Simões e cols., 2008). Estes investigaram aspectos discutidos neste artigo, tal co- mo bem-estar e regulação autonômica, e concebem a meditação como uma forma de treinamento mental, mesmo quando vinculada a alguma filosofia em parti- cular (Simões e cols., 2008). Não obstante, a produção nacional ainda é pequena e, consequentemente, ainda contribui pouco para a discussão de novos achados, tanto em nível nacional, como internacional. REFERÊNCIAS Obs.: Referências precedidas de um asterisco indicam estudos incluídos na revisão. *Aftanas, L. I., & Golocheikine, S. A. (2001). Human anterior and frontal midline theta and lower alpha reflect emotionally posi- tive state and internalized attention: High-resolution EEG in- vestigation of meditation. Neuroscience Letters, 310, 57-60. doi: 10.1016/S0304-3940(01)02094-8 Austin, J. H. (1998). Zen and the brain: Toward an understanding of meditation and consciousness. Cambridge: MIT Press. *Baer, R. A. (2003). Mindfulness training as a clinical interven- tion: A conceptual and empirical review. Clinical Psychology: Science and Practice, 10, 125-143. doi: 10.1093/clipsy/bpg015 Baer, R. A. (Org.). (2006). Mindfulness-based treatment ap- proaches: Clinician’s guide to evidence base and applications. 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  • 9. Meditação, Bem-Estar e a Ciência Psicológica Interação Psicol., 15(2), 239-248 247 *Cardaciotto, L., Herbert, J. D., Forman, E. M., Moitra, E., & Farrow, V. (2008). The assessment of present-moment aware- ness and acceptance: The Philadelphia Mindfulness Scale. As- sessment, 15, 204-223. doi: 10.1177/1073191107311467 *Cardoso, R., Souza, E., Camano, L., & Leite, J. R. (2004). Medi- tation in health: An operational definition. Brain Research Pro- tocols, 14, 58-60. doi:10.1016/j.brainresprot.2004.09.002 *Carmody, J., & Baer, R. A. (2008). Relationships between mind- fulness practice and levels of mindfulness, medical and psy- chological symptoms and well-being in a mindfulness-based stress reduction program. Journal of Behavioral Medicine, 31, 23-33. doi: 10.1007/s10865-007-9130-7 Casey, A., & Benson, H. (2004). Mind your heart. New York: Free Press. *Chadwick, P., Hember, M., Symes, J., Peters, E., Kuipers, E., & Dagnan, D. (2008). 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