A Prefeitura de Belo Horizonte tentou acelerar as remoções de moradores para a construção da Via 210 oferecendo cheques com valores menores do que as indenizações avaliadas, em uma tentativa de concluir a obra antes da Copa do Mundo de 2014. Uma moradora teve sua casa avaliada em R$ 181 mil, mas recebeu uma oferta de R$ 123 mil. Após recusar, o perito judicial avaliou o imóvel em R$ 275 mil. A PBH não comentou sobre o uso de cheques com valores reduzidos.
1. 24
BeloHorizonte,sexta-feira,31.1.2014
HOJEEMDIA
Minas
hojeemdia.com.br
Editor:AmilcarBrumano - abrumano@hojeemdia.com.br
FOTOS RICARDO BASTOS
Prefeitura de
BH ‘pechincha’
indenizações
> Moradora diz que Sudecap tentou acelerar remoções na
Via 210 oferecendo cheque às famílias, mas com valor menor
BrunoMoreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
Pressionada pelo prazo
para terminar as intervenções na capital em
função da Copa do Mundo 2014, a Prefeitura de
Belo Horizonte (PBH)
adotou um método “diferente” para conseguir
acelerar pelo menos
uma das obras de mobilidade que está na Matriz
de Responsabilidade do
Mundial de futebol.
No ano passado, funcionários da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) ofereceram cheques a alguns moradores da antiga rua Lótus,
onde hoje está a Via
210, no bairro Betânia
(zona Oeste), para que
eles deixassem os imóveis. Entretanto, o valor
era menor do que o apurado anteriormente pela própria Sudecap.
Uma das moradoras,
Daniela Zaidan, de 59
anos, teve a casa avaliada
em R$ 181 mil pelo órgão
da prefeitura. O cheque
proposto pela PBH, porém, era de R$ 123 mil,
ou R$ 58 mil a menos.
TRIBUNAL
Daniela, que já não
havia concordado
com o valor da primeira indenização, recusou a nova oferta para deixar o imóvel.
Assim, a decisão coube à
Justiça. O perito judicial
avaliou a casa dela em R$
275 mil, somando as benfeitorias e o lote. Como a
PBH depositou judicialmente este valor, a moradora teve que sair de casa, há
três meses, mas até hoje
não recebeu a indenização.
“A advogada da Sudecap foi lá na minha casa,
levando o xerox do cheque. Disse que voltaria no
dia seguinte”, conta. “Sugeriu a mim que conversasse com meu marido e
filhos para decidir se iríamos aceitar ou não o valor. Lembro que ela falou
que, se eu não aceitasse,
demoraria mais de um
ano para receber o dinheiro da indenização”, recorda-se Daniela.
Moradora do Betânia
desde a década de 70, ela
vivia na casa com a mãe,
três filhos e o marido. O
imóvel tinha dois quartos,
sala, cozinha e banheiro
no primeiro piso. No segundo, havia um quarto,
uma cozinha e um banheiro. Nos fundos do lote ainda existia um barracão.
Na semana passada,
questionada sobre a possibilidade do uso de cheques nos processos de desapropriações, a PBH informou, por e-mail, que
essa informação não procedia. Ontem, a PBH e a
Sudecap foram procuradas novamente, mas não
se pronunciaram.
NÚMERO
58mil
REAIS
foia diferença entrea
primeirae a segunda
ofertasda Sudecap à
DanielaZaidan.O valor
foireduzido em32%.
INDEFINIÇÃO – Daniela (esquerda) vive de favor, e Rosana, de aluguel:
ex-vizinhas, elas não sabem quando poderão comprar nova casa
SAIBAMAIS
COTAÇÕES
>
Valores oferecidos pela PBH em duas situações e o estimado pelo perito
Fimdaobra dois
anose meiodepois
De acordo com moradores
desapropriados na rua
Lótus, alguns vizinhos,
com medo de nunca serem
indenizados, aceitaram o
cheque com valor muito
inferior em relação à
avaliação inicial feita
pela própria Sudecap
e à média de preços
praticados na região.
Conformeo portaldaPBH,
asobras deveriamter
começadoem junhode
2010eterminado em
novembrode2011.
Entretanto,oinício
aconteceuapenasem
setembrode 2011,ea
atualprevisãoéa de que
otrabalho esteja pronto
emmaio.
SAMUEL COSTA
CONTRA O TEMPO – Previsão era a de inauguração da Via 210 em novembro de 2011,
mas conclusão ficará somente para maio de 2014, a um mês da Copa do Mundo
EDITORIA DE ARTE