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INTRODUÇÃO
                                            ROMANOS
        Autoria
        Desde os primórdios da Igreja, a epístola aos Romanos é aceita unanimemente como sendo de
      autoria do apóstolo Paulo (Rm 1.1,5). Esta carta contém várias referências históricas que coincidem
      com fatos conhecidos da vida do grande apóstolo de Cristo, e é considerada, por muitos teólogos,
      a mais importante obra da Bíblia. O seu conteúdo é bem característico ao estilo de Paulo, o que é
      notório ao compará-lo com outros de suas cartas sagradas.

        Propósitos
        Logo depois de cumprimentar os irmãos da Igreja em Roma, destinatários diretos das orientações
      da missiva, o apóstolo Paulo, com sua típica saudação acompanhada de ação de graças, fazendo
      uso da autoridade do Antigo Testamento (Hc 2.4), e apresenta o tema central de sua carta: a
      justificação vem pela fé em Jesus Cristo, o Messias.
        Assim, mais formal que as demais epístolas de Paulo, a carta aos Romanos apresenta de maneira
      profunda e sistemática a doutrina da justificação pela fé (e seus desdobramentos). Paulo escreve
      para uma igreja a qual não havia fundado, nem nunca estivera antes, embora lá tivesse alguns ami-
      gos chegados. Além disso, a igreja, que era predominantemente gentílica, estava agindo de forma
      intolerante contra os judeus cristãos que se sentiam constrangidos a obedecer às regras alimentares
      e datas cerimoniais da tradição religiosa judaica (14.1-6).
        A base dos argumentos de Paulo é a longânime, infalível e eterna justiça de Deus (1.16-17). A
      partir dessa constatação, seguem-se várias abordagens doutrinais fundamentais: a revelação natural
      (1.19-20); a universalidade do pecado (3.9-20); a plenitude da graça divina na justificação de todo ser
      humano (3.24), mediante o sacrifício expiatório de Jesus (3.25), por meio da fé (cap. 4); a questão
      do pecado original (5.12-20); a união com Cristo (cap. 6); a eleição e rejeição de Israel (caps. 9-11);
      o uso dos dons espirituais (
                          p       (12.3-9); e o respeito às autoridades (
                                         );        p                    (13.1-7).
                                                                               )
        É importante notar que Paulo escreveu aos Romanos também com a visão de preparar o caminho
      para sua iminente viagem a Roma e para a missão que ainda pretendia realizar na Espanha (1.10-15;
      15.22-29).

        Data da primeira publicação
        Foi durante a primavera do ano 57 d.C., que o apóstolo Paulo concluiu seu tratado doutrinário
      aos Romanos (15.25-27; 16.1,2). Nesta ocasião, ele estava em Corinto, preparando-se para viajar,
      transportando o dinheiro ofertado p algumas igrejas e vários cristãos aos irmãos empobrecidos e
           p                             por g          g j                                  p
      necessitados, membros da Igreja em Jerusalém. É provável que Paulo estivesse mais precisamente
      em Cencréia, cidade retirada cerca de 9 km de Corinto.
        Gaio (seu anfitrião) e seus amigos Erasto (tesoureiro da cidade) e Quarto eram naturais de Corinto,
      e Febe (fiel discípula e cooperadora) vivia e ministrava em Cencréia (16.1,23; 1Co 1.14; 2Tm 4.20).

        Esboço geral de Romanos
           1. Saudação ministerial com ações de graças (1.1-15)
           2. Tema central: “Justificação por meio da fé em Cristo, o Messias” (1.16,17)
           3. A raça humana é naturalmente ímpia, e precisa de Cristo (1.18 – 3.20)
              A. Gentios, todos os que não nasceram judeus (1.18-32)
              B. Judeus, todos os nascidos de famílias judaicas (2.1 – 3.8)
              C. Conclusão: todas as pessoas da Terra pecaram (3.9-20)
           4. Resumo do plano de Deus para a salvação de cada pessoa da Terra (3.21-31)
           5. A história da vida de Abraão confirma a justificação (4.1-25)
           6. Os grandes resultados da justificação (5.1-21)
           7. Justiça outorgada: livres do pecado para a santificação (6.1 – 8.39)
              A. Livres do domínio do pecado (cap. 6)
              B. Livres da condenação universal do pecado (cap. 7)
              C. Livres para viver no poder do Espírito de Cristo (cap. 8)




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8. A rejeição de Israel como juízo de Deus (caps. 9-11)
              A. Deus é soberano e longânimo ao aplicar a justiça (9.1-29)
              B. Os motivos que levaram à rejeição de Israel (9.30 – 10.21)
              C. A rejeição é um castigo específico e temporário (cap. 11)
           9. Os justificados devem praticar a justiça (12.1 – 15.13)
              A. Entre si – na Igreja – que é o Corpo de Cristo (cap. 12)
              B. Para com os de fora – no mundo – testemunhando (cap. 13)
              C. Convivendo com cristãos maduros e imaturos (14.1 – 15.13)
          10. Conclusão desta carta doutrinária (15.14-33)
          11. Saudações pessoais do apóstolo Paulo (16.1-16)
          12. Exortação final e bênção apostólica (16.17-27)




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ROMANOS
      Apresentação e saudação de Paulo                                    Paulo quer ir à Igreja em Roma

      1   Paulo, servo do Senhor Jesus Cristo,
          chamado para ser apóstolo, separado
      para o Evangelho de Deus,1
                                                                          8 Em primeiro lugar, sou grato a meu
                                                                          Deus, mediante Jesus Cristo por todos
                                                                          vós, porquanto em todo o mundo é pro-
      2 o qual Ele havia prometido anterior-                              clamada a fé que demonstrais.5
      mente por meio dos seus profetas nas                                9 Deus, a quem sirvo de todo o coração
      Escrituras Sagradas,2                                               pregando o Evangelho de seu Filho, é
      3 acerca de seu Filho, que, humanamente,                            minha testemunha de como sempre me
      nasceu da descendência de Davi,                                     recordo de vós
      4 e com poder foi declarado Filho de                                10 em minhas orações; e rogo que agora
      Deus segundo o Espírito de santidade,                               pela vontade de Deus, seja-me aberto o
      pela ressurreição dentre os mortos: Jesus                           caminho para que, enfim, eu vos possa
      Cristo, nosso Senhor.                                               visitar.
      5 Por intermédio dele e por causa do seu                            11 Pois grande é o desejo do meu coração
      Nome, recebemos graça e apostolado para                             em ver-vos, para compartilhar convosco
      chamar dentre todas as nações um povo                               algum dom espiritual, a fim de que sejais
      para a obediência que deriva da fé.3                                fortalecidos,
      6 E vós, igualmente, estais entre os cha-                           12 quero dizer, para que eu e vós sejamos
      mados para pertencerdes a Jesus Cristo.                             mutuamente encorajados pela fé.
      7 A todos os que estais em Roma, amados                             13 E não desejo, irmãos, que desco-
      de Deus, convocados para serdes santos:                             nheçais, que por muitas vezes planejei
      Graça e Paz a vós, da parte de Deus nosso                           visitar-vos, contudo, tenho sido impe-
      Pai e do Senhor Jesus Cristo!4                                      dido até esse momento. Meu objetivo é


         1 Na antigüidade, toda carta grega seguia uma metodologia padrão de construção. A primeira parte (abertura) deveria identificar
      o remetente e sua saudação. Paulo se vale desta formalidade para apresentar-se da forma mais clara e ampla possível a uma comu-
      nidade de irmãos que ama, porém – até aquele momento – ainda não o havia conhecido pessoalmente, mas esperava fazê-lo em
      breve (At 9.1; Fp 3.4-14). A palavra grega original doulos, derivada do verbo deo (algemar, aprisionar), significa também: “escravo”.
      Para um grego dessa época, essa era uma expressão de vergonha e rebaixamento, para os judeus, entretanto, desde Moisés, era
      a mais expressiva forma de se posicionar em adoração ao Rei dos reis, e um título de honra. Para Paulo, todo cristão é um servo do
      Senhor Jesus (1Co 7.22; 6.15-23). O termo exprime pertença total e definitiva a Cristo (desde o início Paulo faz questão de usar o
      vocábulo “Cristo” não apenas como nome próprio, mas especialmente como título do Filho de Deus: o Messias prometido, o Ungi-
      do). A expressão “apóstolo” tem a ver com o comissionamento dado a Paulo, pessoalmente, por Cristo (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1).
         2 Esta é a primeira vez que a expressão “Escrituras Sagradas” aparece no original grego da Bíblia. Todo o AT profetiza a vinda
      de Jesus, o Messias; cuja vida e ministério são perfeitamente descritos no Novo Testamento (Lc 24.27-44).
         3 Foi devido à desobediência deliberada de Adão, que o homem foi apartado da glória de Deus (Rm 3.23). Entretanto, é pela
      obediência voluntária e firmada na fé em Jesus Cristo que ganhamos a reconciliação com Deus. A palavra “fé” neste contexto, não
      significa “fé em doutrinas”, mas sim fé no Evangelho, ou seja, na pessoa do Cristo (o próprio Evangelho).
         4 O sentido mais amplo da expressão original grega, aqui traduzida por “santidade”, é “separado para contínua adoração a
      Deus”. Neste aspecto, todos os cristãos são “santos”, pois foram sobrenaturalmente “separados” por Deus para servi-lo por meio
      do seu serviço espiritual diário e contínuo. A expressão tem igualmente o sentido prático de “um aperfeiçoamento espiritual”
      que ocorre todos os dias na vida dos crentes pela ministração do Espírito Santo que neles habita (1Co 1.2). A “Graça” é o favor
      imerecido de Deus; o Senhor nos concedendo a bênção do seu chamado e proteção, ainda que não sejamos dignos. Enquanto
      “misericórdia” é a paciência longânime do Senhor, que retarda a punição que nossas más intenções, erros e pecados merecem,
      na esperança de nossa conversão (Jn 4.2; Gl 1.3; Ef 1.2). A “Paz” é a bênção da plena segurança e certeza dos cuidados paternos
      do Senhor, mesmo em meio às mais graves tribulações e perdas (Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2).
         5 Paulo, apesar de todo o sofrimento, privações e humilhações pelas quais passou, sempre demonstrava um coração
      agradecido a Deus. Os cristãos têm toda a liberdade de chegar-se a Deus – como Pai – por meio do sacrifício vicário de Jesus
      Cristo. Entretanto, não apenas para pedir, mas, sobretudo, para agradecer (Jo 15.16). Paulo costumava iniciar suas cartas com
      ações de graças (1Co 1.4; Ef 1.16; Fp 1.3; Cl 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3; 2Tm 1.3; Fm 4).




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5                                               ROMANOS 1

       colher algum fruto espiritual entre vós,                              19 pois o que de Deus se pode conhecer
       assim como tenho alcançado entre os                                   é evidente entre eles, porque o próprio
       gentios.6                                                             Deus lhes manifestou.9
       14 Eu sou devedor, tanto a gregos quanto                              20 Pois desde a criação do mundo os
       a bárbaros, tanto a sábios como a igno-                               atributos invisíveis de Deus, seu eterno
       rantes.                                                               poder e sua natureza divina, têm sido
       15 De modo que, em tudo o que de-                                     observados claramente, podendo ser
       pender de mim, estou preparado para                                   compreendidos por intermédio de tudo
       anunciar o Evangelho também a vós que                                 o que foi criado, de maneira que tais pes-
       estais em Roma.                                                       soas são indesculpáveis;10
                                                                             21 porquanto, mesmo havendo conhe-
       O tema da carta: a justiça pela fé                                    cido a Deus, não o glorificaram como
       16 Porquanto não me envergonho do                                     Deus, nem lhe renderam graças; ao
       Evangelho, porque é o poder de Deus                                   contrário, seus pensamentos passaram
       para a salvação de todo aquele que nele                               a ser levianos, imprudentes, e o coração
       crê; primeiro do judeu, assim como do                                 insensato deles tornou-se em trevas.
       grego;7                                                               22 E, proclamando-se a si mesmos como
       17 visto que a justiça de Deus se revela no                           sábios, perderam completamente o bom
       Evangelho, uma justiça que do princípio                               senso
       ao fim é pela fé, como está escrito: “O                                23 e trocaram a glória do Deus imortal
       justo viverá pela fé”.8                                               por imagens confeccionadas conforme a
                                                                             semelhança do ser humano mortal, bem
       A ira de Deus contra os sem fé                                        como de pássaros, quadrúpedes e répteis.
       18 Portanto, a ira de Deus é revelada dos                             24 Por esse motivo, Deus entregou tais
       céus contra toda impiedade e injustiça                                pessoas à impureza sexual, segundo as von-
       dos homens que suprimem a verdade                                     tades pecaminosas do seu coração, para de-
       pela injustiça humana,                                                gradação de seus próprios corpos entre si.


          6 Os gregos costumavam referir-se a todos os povos não-gregos, ou que não falassem seu idioma, como “bárbaros” (At 28.4).
       Paulo desejava conhecer a Igreja em Roma (predominantemente gentílica), ver como viviam na fé os novos convertidos, bem
       como compartilhar suas experiências e motivar os mais maduros para a evangelização e o avanço missionário.
          7 Jesus Cristo é também chamado de “o poder de Deus”, indicando uma vez mais que o Evangelho é o próprio Cristo oferecido
       e recebido pelos crentes (1Co 1.24).
          8 A expressão “de fé em fé”, como aparece em algumas versões antigas, tem o sentido de “fundamentar-se na fé e apelar para a
       fé”, na qual é enfatizada o aspecto de que a salvação não vem somente por intermédio da fé como também está à disposição de to-
       dos os que crêem. No original grego, os vocábulos “fé” e “crer” possuem a mesma raiz. “Justo” refere-se à qualidade da pessoa justa,
       que não deve nada à lei. É um termo forense, ligado aos tribunais, e não diretamente relacionado à moral e à ética (2,13; 3.21-24).
          9 Paulo começa a expor um dos principais pontos de seu ensino: a culpabilidade humana fundada na sua sistemática e pertinaz
       rejeição declarada a Deus. Falta amor e fé em Deus e esta postura produz uma espécie de desobediência que não decorre da
       ignorância, mas de um forte desejo de rebeldia contra o Criador e da vontade de se tornar o próprio deus dos seus atos. Ao
       expor a doutrina da justiça divina (1.17; 3.21 – 5.21), Paulo arma sua argumentação teológica que demonstra que todos os seres
       humanos têm pecados e, portanto, carecem da justiça misericordiosa que somente Deus pode outorgar. Demonstra a culpa e a
       vocação para o pecado, nos gentios (1.18-32) e nos judeus (2.1 – 3.8). Ou seja, todos nós pecamos e precisamos da purificação
       outorgada por meio do eterno sacrifício expiatório do Filho de Deus (3.9-20).
          10 Nenhuma pessoa sobre a face da terra, mesmo que ainda não tenha ouvido falar uma só palavra sobre a Bíblia, em relação a
       Yahweh (o nome de Deus em hebraico) ou quanto a Seu Filho, Jesus Cristo, pode usar como desculpa o fato de não conhecer o
       essencial de Deus, nosso Criador, e portanto, dever-lhe completa adoração e respeito às suas leis escritas na alma humana. Pois
       todo o Universo, dos elementos microscópicos às maiores dimensões cósmicas, revelam o poder e a sensibilidade de um Deus
       único, absoluto e perfeito (Sl 19). A “ira de Deus” não se compara às explosões de raiva demonstradas, muitas vezes, pelos seres
       humanos em todo mundo. A “ira de Deus” é santa e justa, em repulsa ao menosprezo e rejeição dos seres humanos em relação
       à natureza e vontade de Deus. Do ponto de vista pragmático, a “ira de Deus” não se limita à condenação dos ímpios no Juízo
       final (1Ts 1.10; Ap 19.15; 20.11-15). Deus, observando a decisão humana de se afastar da sua presença e conselhos, entrega os
       pecadores à sua própria volúpia pecaminosa e à liberdade ansiada. Entretanto, esses se tornam escravos de si mesmos e dos
       que pensam de igual modo. Deus remove as restrições divinas que protegem a humanidade dos piores sofrimentos decorrentes
       da libertinagem e das coisas mais horríveis (26,28; At 7.42).




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ROMANOS 1, 2                                                     6

      25 Porquanto trocaram a verdade de                                   criando maneiras de praticar o mal;
      Deus pela mentira, e adoraram objetos e                              desobedecem a seus pais;
      seres criados, em lugar do Criador, que é                            31 são insensatos, desleais, sem amor e
      bendito para sempre. Amém!                                           respeito à família, sem qualquer miseri-
      26 E, por essa razão, Deus os entregou a                             córdia para com o próximo.
      paixões vergonhosas. Até suas mulheres                               32 E, apesar de conhecerem a justa Lei
      trocaram suas relações sexuais naturais                              de Deus, que declara dignos de morte
      por outras, contrárias à natureza.                                   todas as pessoas que praticam tais atos,
      27 De igual modo, os homens também                                   não somente os continuam fazendo, mas
      abandonaram as relações sexuais naturais                             ainda aprovam e defendem aqueles que
      com suas mulheres e se inflamaram de                                  também assim procedem.12
      desejo sensual uns pelos outros. Deram,
      então, início a sucessão de atos indecen-                            Deus julga toda a humanidade
      tes, homens com homens, e, por isso,
      receberam em si mesmos o castigo que a
      sua perversão requereu.11
                                                                           2   Portanto, és indesculpável, ó homem,
                                                                               sejas quem for, quando julgas, porque
                                                                           a ti mesmo te condenas em tudo aquilo
      28 Além do mais, considerando que                                    que julgas no teu semelhante; pois tu,
      desprezaram o conhecimento de Deus,                                  que julgas, praticas exatamente as mes-
      Ele mesmo os entregou aos ardis de                                   mas atitudes.
      suas próprias mentes depravadas, que                                 2 Mas nós sabemos que o julgamento de
      os conduz a praticar tudo o que é re-                                Deus é de acordo com a verdade contra
      provável.                                                            os que praticam tais ações.1
      29 Então, tornaram-se cheios de toda                                 3 Deste modo, quando tu, um simples
      espécie de injustiça, maldade, ganância                              ser humano, os julga e, todavia, praticas
      e depravação. Estão empanturrados de                                 os mesmos atos, pensas que de alguma
      inveja, homicídio, rivalidades, engano e                             forma escaparás ao juízo de Deus?2
      malícia. São bisbilhoteiros,                                         4 Ou, porventura, desprezas a imensa
      30 caluniadores, inimigos de Deus, inso-                             riqueza da bondade, tolerância e paci-
      lentes, arrogantes e presunçosos; vivem                              ência, não percebendo que é a própria


         11 As antigas sociedades gregas e romanas não apenas aceitavam o homossexualismo e a pederastia, mas exaltavam essas
      práticas como uma expressão de afeição superior ao amor heterossexual. As práticas homossexuais eram comuns também em
      todo mundo semítico; entretanto, para os judeus sempre foi uma abominação (Lv 18.22). A prática homossexual não é uma
      doença (podendo originar várias: mentais e físicas). É o resultado do pecado do afastamento de Deus (muitas vezes influenciado
      – como todos os pecados – pelos ardis do Diabo e seus demônios). E isso, ocorre por vários motivos, entre eles, está o fato
      de tirarmos Deus do seu trono de comando em nossas vidas e entronizarmos o nosso próprio “Eu” com a mais elevada carga
      de arrogância, egoísmo, mágoas e vaidades. Assim como o alcoólico, fumante, pornógrafo, drogado, mentiroso, fofoqueiro,
      desonesto, e tantos outros tipos de viciados, a Igreja deve atrair e tratar com carinho especial toda pessoa desejosa de libertar-se
      de uma vida mundana, vazia e desregrada. “Tudo é possível ao que crê!” (Mc 9.23; Mt 19.26; Lc 18.27).
         12 O afastamento de Deus produz um tipo de “disposição mental reprovável”, ou seja, um favorecimento ao surgimento de
      idéias e pensamentos cada vez mais avessos à vontade de Deus e ao bom senso. Um grande pecado sempre tem início com uma
      singela idéia ou pensamento que, depois de algum tempo de sórdido agasalhamento, da origem a práticas maléficas, ainda que
      pareçam prazerosas a princípio. Paulo nos adverte para um tipo ainda mais ímpio de pecador: aquele que aplaude o erro e o mal
      cometido pelo seu semelhante. Hoje em dia, é comum vermos difundidos, especialmente pelos meios de comunicação, elogios
      de todo tipo a atitudes claramente contrárias à vontade de Deus reveladas nas Sagradas Escrituras.
         Capítulo 2
         1 Paulo apresenta os princípios básicos do julgamento que Deus submete a todo ser humano em todos os tempos: 1) Conforme
      a verdade; 2) De acordo com as atitudes; 3) Segundo a compreensão de cada indivíduo sobre o que é certo e o que é errado.
      Os ensinos de Paulo sobre a crítica fácil concordam com os de Jesus (Mt 7.1). Ambos condenam o julgamento hipócrita, numa
      clara e direta advertência aos líderes judeus que tendiam a desprezar e julgar inferiores todos os gentios, enquanto suas próprias
      vidas eram dominadas pela ganância e imoralidades de todo tipo. Negavam assim, na prática, todos os ensinos e revelações
      da Torá (o AT).
         2 É uma referência à maneira como Jesus Cristo falou sobre a Lei. O ser humano não é aceito, aos olhos do Senhor, simples-
      mente por guardar uma série de doutrinas e rituais religiosos (leis exteriores), mas pela completa renovação do interior (novo
      nascimento – Jo 3), por meio da habitação do Espírito Santo (Mt 5.22,28,48 em concordância com Rm 2.29).




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7                                              ROMANOS 2

       misericórdia de Deus que te conduz ao                                simplesmente ouvem a Lei considerados
       arrependimento?3                                                     justos; mas sim, os que obedecem à Lei,
       5 Entretanto, por causa da tua teimosia                              estes serão declarados justos.6
       e do teu coração insensível e que não se                             14 De fato, quando os gentios que não
       arrepende, acumulas ira sobre ti no dia                              têm Lei, praticam naturalmente o que ela
       da ira de Deus, quando se revelará plena-                            ordena, tornam-se lei para si mesmos,
       mente o seu justo julgamento.                                        muito embora não possuam a Lei;
       6 Deus retribuirá a cada um segundo o                                15 pois demonstram claramente que os
       seu procedimento.                                                    mandamentos da Lei estão gravados em
       7 Ele concederá vida eterna aos que                                  seu coração. E disso dão testemunho a
       perseverando em fazer o bem, buscam                                  sua própria consciência e seus pensa-
       glória, honra e imortalidade.                                        mentos, algumas vezes os acusando,
       8 Por outro lado, reservará ira e indigna-                           em outros momentos lhe servindo por
       ção para todos os que se conservam ego-                              defesa.
       ístas, que rejeitam a verdade e preferem                             16 Todos esses fatos serão observados na
       seguir a injustiça.4                                                 humanidade, no dia em que Deus julgar
       9 Ele trará tribulação e angústia sobre                              os segredos dos homens, por intermédio
       todo ser humano que persiste em pra-                                 de Jesus Cristo, de acordo com as decla-
       ticar o mal, em primeiro lugar para o                                rações do meu Evangelho.
       judeu, e, em seguida, para o grego;
       10 porém, glória, honra e paz para todo                              O crente deve ser fiel à Palavra
       aquele que perseverar na prática do bem;                             17 Ora, tu que levas o nome de judeu, e te
       primeiro para o judeu, depois para o grego.                          fundamentas na Lei, e te glorias em Deus.7
       11 Porquanto em Deus não existe parcia-                              18 Tu que conheces a vontade de Deus
       lidade alguma.                                                       e aprovas as obras excelentes, porque és
       12 Pois todos os que sem a Lei pecaram,                              instruído pela Lei.
       sem a Lei também perecerão; e todos os                               19 Tu que estás certo de que foi chamado
       que pecarem sob a Lei, pela Lei serão                                para ser guia de cegos, luz para os que
       julgados.5                                                           estão na escuridão,
       13 Pois, diante de Deus, não são os que                              20 mestre dos ignorantes, professor de




          3 A bondade, graça e misericórdia de Deus têm como objetivo principal o arrependimento do ser humano. Os líderes religiosos
       judeus há muito tempo vinham interpretando a longaminidade e paciência do Senhor de forma errada, como se Deus – ao longo
       do tempo – deixasse de promover juízo e condenação sobre os pecadores contumazes (2Pe 3.9).
          4 É importante ter sempre em mente que Paulo, em nenhum de seus escritos, jamais defendeu a necessidade de perfeição
       ética, vida monástica ou observância absoluta da Lei. Como fariseu, Paulo sabia muito bem da impossibilidade de um ser humano
       cumprir toda a Lei. Entretanto, se alguém julga ser capaz de obedecer a Lei ou algum padrão ético-religioso que o conduza a
       Deus, então o próprio Senhor o julgará mediante esse padrão estabelecido. Paulo está enfatizando que a única maneira de um
       pecador (como todos os seres humanos o são em menor ou maior grau) encontrar absolvição plena diante do juízo de Deus é
       morrendo com Cristo e ressuscitando com Ele (o Espírito Santo) para uma nova vida. Paulo refere-se às obras exigidas como
       confirmação da fé verdadeira, não como um meio para conquistar a salvação eterna. Com os privilégios espirituais vêm as
       responsabilidades espirituais (Am 3.2; Lc 12.38).
          5 Os gentios (todos os não-judeus), são aqueles que “pecam sem a Lei”, pelo fato de a desconhecerem total ou parcialmente.
       Eles não serão julgados por uma Lei que desconhecem, mas certamente serão condenados por outros critérios, e especialmente
       pelo código de ética universal gravado por Deus na alma de todo homem (1.18-20; 2.15; Am 1.3 – 2.3).
          6 Os que “obedecem à Lei” serão considerados justos. Entretanto, ninguém consegue cumprir toda a Lei (a Torá, Lei de
       Moisés). O argumento lógico desenvolvido por Paulo demonstra que um homem seria justificado se pudesse praticar a Lei, mas
       porque nenhum ser humano é capaz de guardá-la perfeitamente, então não pode haver justificação por esse meio (Tg 1.22-25).
          7 Paulo usa em seu discurso o “diálogo com um interlocutor imaginário” (2.17-24), demonstrando o quanto conhecia seu povo
       e o pensamento teológico dos líderes judeus, a fim de dar mais ênfase às suas constatações. Citou um após outro os grandes
       orgulhos da religiosidade judaica para afirmar de que nada valiam diante de Deus, pois eram apenas conceitos teóricos e palavras
       pregadas sem a necessária demonstração da fé na vida prática diária. A expressão grega original diapheronta, aqui traduzida por
       “excelentes”, tem o sentido de “distinguir, discernir”. Pode significar a capacidade de “avaliar distinções morais” ou “reconhecer
       qualidades que se sobressaem devido ao seu valor eterno” (Fp 1.10).




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ROMANOS 2, 3                                                     8

      crianças, porquanto têm na Lei a ex-                                 Deus é fiel e justo
      pressão maior do conhecimento e da
      verdade.
      21 Pois então, tu que tanto ensinas a ou-
                                                                           3  Que vantagem pode haver, então, em
                                                                              ser judeu, ou que utilidade existe na
                                                                           circuncisão?1
      tros, por que não educas a ti mesmo? Tu,                             2 Muita, em todos os sentidos! Primeira-
      que pregas que não se deve furtar, furtas?                           mente, porque ao judeu foram confiadas
      22 Tu, que ensinas que não se deve come-                             as palavras de Deus.
      ter adultério, adulteras? Tu, que abominas                           3 Sendo assim, que importa se alguns
      os ídolos, mas lhes roubas os templos?                               desses judeus foram infiéis? A infidelida-
      23 Tu, que te orgulhas da Lei, desonra a                             de deles conseguiria anular a fidelidade
      Deus, desobedecendo à própria Lei?                                   de Deus?
      24 Pois, como está escrito: “Por vossa cau-                          4 Absolutamente não! Seja Deus verda-
      sa, o nome de Deus é blasfemado entre                                deiro, e todo homem mentiroso. Como
      todos os povos!”.                                                    está escrito: “Para que sejas justificado
      25 Porquanto, a circuncisão tem valor se                             em tuas palavras, e sejas vitorioso quan-
      obedecerdes a Lei, mas, se tu não obser-                             do fores julgado”.
      vares a Lei, a tua circuncisão já se tornou                          5 Mas, se a nossa injustiça ressalta de for-
      em incircuncisão.8                                                   ma ainda mais nítida a justiça de Deus,
      26 Se aqueles que não são circuncidados                              que concluiremos? Acaso Deus é injusto
      praticam os preceitos da Lei, não serão                              por aplicar a sua ira? Estou apenas refle-
      eles considerados circuncisos?                                       tindo com a lógica humana.
                                                                                          g
      27 E aquele que é, por natureza incircun-                            6 É evidente que não! Se fosse assim,
      ciso, mas cumpre a Lei, ele condenará                                como Deus julgará o mundo?
      a ti, que, mesmo tendo a Lei escrita e a                             7 Mas, alguém pode alegar: “Se a minha
      circuncisão, és transgressor da Lei.                                 mentira ressalta a veracidade de Deus,
      28 Portanto, não é legítimo judeu quem                               engrandecendo ainda mais sua glória,
      simplesmente o é exteriormente, nem                                  por que sou condenado como pecador?”
      é verdadeira, circuncisão a que é feita                              8 Ora, por que não dizer como alguns
      apenas fora do coração, no corpo físico.                             caluniosamente afirmam que dizemos:
      29 Absolutamente não! Judeu é quem o                                 “Pratiquemos o mal para que nos sobre-
      é interiormente, e circuncisão é realizada                           venha o bem?” Por certo, a condenação
      na alma do crente, pelo Espírito, e não                              dos tais é merecida!
      apenas pela letra da Lei. Para todos estes,
      o louvor não provém dos homens, mas                                  O ser humano é infiel e injusto
      de Deus!9                                                            9 Qual a conclusão? Estamos nós em




         8 A circuncisão (corte do prepúcio do órgão genital masculino) era um sinal da aliança que Deus estabeleceu com Israel e seu
      povo (Lv 12.3), e penhor de bênção decorrente dessa aliança (Gn 17.10,11). Contudo, na época de Jesus e Paulo, muitos líderes
      judeus já estavam considerando que um judeu circuncidado não podia ser condenado ao inferno. Ou seja, haviam transformado um
      ritual evocativo (um memorial) em uma cerimônia de garantia da salvação eterna e favor divino, independente da atitude de fé diária
      e seriedade com Deus, implícitas no próprio simbolismo do ato. A posição do NT se baseia em textos como Jr 9.25 e Dt 10.16.
         9 A expressão original “Judeu” vem do hebraico antigo e deriva da palavra “Judá”, que significa “louvado” ou “objeto de elogio,
      que só tem valor quando vem de Deus”. Paulo faz aqui uma solene advertência (não somente aos judeus) contra os perigos da
      arrogância, presunção, confiança na justiça própria, e contra todo tipo de formalismo que confia em memoriais e rituais (como a
      Ceia e o batismo), que tem garantia em si mesmos da salvação eterna e das bênçãos de Deus àqueles que o recebem. O verda-
      deiro sinal de pertencer a Deus não é uma marca externa no corpo físico ou uma cerimônia especial de iniciação, mas o poder
      regenerador do Espírito Santo vindo habitar a alma do cristão sincero. Paulo denomina como “circuncisão operada no coração” o
      ato de arrependimento do pecador e a entrega incondicional de sua vida a Jesus para um novo nascimento (Dt 30.6).
         Capítulo 3
         1 Paulo considera algumas das grandes realidades divinas: 1) Os oráculos de Deus são privilégios valiosíssimos entregues à hu-
      manidade. No entanto, a vantagem de possuir a Palavra de Deus (como no caso dos judeus e dos cristãos) implica necessariamente
      em responsabilidades e obrigações. 2) Deus é fiel. 3) Deus é justo. 4) Deus julgará e castigará todos os injustificados e pecadores,
      provando sua fidelidade e caráter justo (2Tm 2.13). 5) Deus é verdadeiro. Ele é a Verdade. 6) A glória de Deus.




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9                                               ROMANOS 3

       posição de vantagem? Não! Já demons-                                 20 Portanto, ninguém será declarado jus-
       tramos que tanto judeus quanto gentios                               to diante dele confiando na obediência à
       estão todos subjugados pelo pecado.                                  Lei, pois é precisamente por meio da Lei
       10 Como está escrito: “Não há nenhum                                 que chegamos à irrefutável conclusão de
       justo, nem ao menos um;                                              que somos todos pecadores.4
       11 não há uma só pessoa que entenda,
       ninguém que de fato busque a Deus.2                                  Justificados pela fé em Jesus
       12 Todos se desviaram, tornaram-se                                   21 Entretanto, nesses últimos tempos, se
       juntamente inúteis; não há ninguém                                   manifestou uma justiça proveniente de
       que pratique o bem, não existe uma só                                Deus, independente da Lei, mas da qual
       pessoa.                                                              testemunham a Lei e os Profetas;
       13 Suas gargantas são como um túmulo                                 22 isto é, a justiça de Deus, por intermé-
       aberto; usam suas línguas para ludibriar,                            dio da fé em Jesus Cristo para todas as
       enquanto, debaixo dos seus lábios está o                             pessoas que crêem. Porquanto não há
       veneno da serpente.                                                  distinção.5
       14 Suas bocas estão cheias de maldição e                             23 Porque todos pecaram e destituídos
       amargura.                                                            estão da glória de Deus,6
       15 Seus pés são rápidos para derramar                                24 sendo justificados gratuitamente por
       sangue;                                                              sua graça, mediante a redenção que há
       16 Os seus passos são marcados por des-                              em Cristo Jesus.7
       truição e miséria;                                                   25 Deus o ofereceu como sacrifício para
       17 e não conhecem o caminho da paz.                                  propiciação por meio da fé, pelo seu
       18 Consideram que é inútil temer a                                   sangue, proclamando a evidência da sua
       Deus”.                                                               justiça. Por sua misericórdia, havia dei-
       19 Ora, sabemos que tudo o que a Lei diz,                            xado impunes os pecados anteriormente
       o diz aos que estão sob o domínio da Lei,                            cometidos;
       para que toda a boca se cale e todo mun-                             26 mas, no presente, demonstrou a sua
       do fique sujeito ao juízo de Deus.3                                   justiça, a fim de ser justo e justificador


          2 Paulo apresenta uma seqüência de citações do AT com o objetivo de confirmar sua teologia quanto à universalidade do
       pecado (vv.9-12). Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do poder e da condenação do pecado. As citações não são literais,
       pois a preocupação de Paulo (bem como de outros autores do NT) tinha um sentido geral e didático, não literal. Além disso, os
       gregos não usavam aspas para identificar as citações, na maioria das vezes extraídas da Septuaginta (a tradução grega do AT,
       originalmente escrito em hebraico). Em alguns casos, inspirados pelo Espírito Santo, os autores canônicos do NT fizeram uso das
       citações do AT, adaptando e aplicando-as de várias formas ao contexto que estavam abordando.
          3 A Lei aqui tem a ver com os Salmos, Profetas e Provérbios. É uma referência clara quanto à igual autoridade de todo o AT.
       Assim como em Jo 10.34; 15.25; 1Co 14.21.
          4 A finalidade principal dessa passagem não é apenas demonstrar a culpabilidade dos judeus e de todos os demais povos
       sobre a face da terra (os gentios), como também demonstrar que nenhum sistema religioso, nenhuma crença primitiva e restrita
       ou altamente aculturada, é capaz de salvar o ser humano da condenação ao afastamento eterno da presença de Deus.
          5 Bendito “entretanto”! Havendo revelado que todos os seres humanos (tanto judeus como gentios) são naturalmente ímpios
       (tendem espontaneamente à pratica do mal – 1.18 – 3.20), Paulo apresenta a “boa notícia” de que Deus – presente – está
       oferecendo gratuitamente um (e único) meio de justificação para cada indivíduo da raça humana que, de forma voluntária, pessoal
       e sincera, nele crer de todo o seu coração: Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Messias prometido.
          6 Ao pecar (palavra que em hebraico tem o sentido de “errar o alvo”), o ser humano se encontra em falta perante o ideal para
       o qual Deus o criou (Is 43.7). A glória que o homem possuía e desfrutava antes da Queda (Gn 1.26-28; Sl 8.5,6; Ef 4.24; Cl 3.10),
       o cristão sincero voltará a ter por intermédio de Jesus Cristo (Hb 2.5-9).
          7 Paulo emprega o verbo “justificar” em 22 citações (especialmente de 2.13 a 5.1, e em Gl 2 e 3). Esse termo é fundamental
       na teologia paulina: 1) Negativamente, quando Deus declara o crente “não-culpado”; 2) Positivamente, quando Deus declara
       o crente “justo”, cancelando a sua culpa do pecado e creditando-lhe justiça. A palavra “redenção” (no original em grego
       apolutrõsis) era usada comumente, na época, no sentido de “comprar um escravo para dar-lhe a carta de plena liberdade”. Um
       paralelo significativo se observa na redenção de Israel da escravidão no Egito (Êx 15.13), do exílio na Babilônia (Is 41.14; 43.1),
       e em relação ao livramento eterno do crente da escravidão do pecado, porquanto Cristo, por meio de sua morte e ressurreição,
       pagou o resgate exigido para nossa libertação.




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ROMANOS 3, 4                                                    10

      daquele que deposita toda a sua fé em                                3  Entretanto, o que diz a Escritura?
      Jesus.8                                                              “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi cre-
      27 Onde está, pois, a razão para tanto or-                           ditado como justiça”.
      gulho? Foi completamente excluído! Por                               4 Ora, o salário daquele que trabalha não
      qual lei? Das obras? Não, ao contrário,                              é considerado como favor, mas como
      pela lei da fé.                                                      dívida.
      28 Concluímos, portanto, que o ser hu-                               5 Todavia, ao que não trabalha, mas crê
      mano é justificado pela fé, independen-                               em Deus, que justifica o ímpio, sua fé lhe
      temente da obediência à Lei!9                                        é creditada como justiça.
      29 Deus é Deus apenas dos judeus? Ora,                               6 Assim, também, Davi fala da bem-aven-
      não é Ele igualmente Deus de todos os                                turança do homem a quem Deus leva em
      povos? Evidente que sim, dos gentios                                 conta a justiça independente de obras:
      também,                                                              7 “Como são felizes as pessoas que têm
      30 visto que há um só Deus, que pela fé                              suas transgressões perdoadas, cujos pe-
      justificará os circuncisos e os incircun-                             cados são cancelados!
      cisos.                                                               8 Bem-aventurado aquele a quem o Senhor
      31 Anulamos, pois, a Lei por causa da fé?                            jamais cobrará o preço do pecado!”2
      De modo algum! Ao contrário, confir-                                  9 Essa imensa felicidade é destinada ape-
      mamos a Lei.10                                                       nas aos que fizeram a circuncisão, ou é
                                                                           também oferecida aos incircuncisos? Pois
      Abraão creu e foi justificado                                         já afirmamos que, no caso de Abraão, a fé

      4  Portanto, que diremos sobre nosso
         pai humano Abraão?1
      2 Se de fato Abraão foi justificado pelas
                                                                           lhe foi creditada como justiça.
                                                                           10 Em que momento lhe foi creditada?
                                                                           Antes ou depois de ter sido circuncida-
      obras, ele tem do que se orgulhar, mas                               do? De fato, não o foi depois, mas antes
      não diante de Deus.                                                  da circuncisão!3



         8 A expressão “propiciação” vem do antigo hebraico, que traduzido para o termo grego na Septuaginta hilasterion, significa o lugar
      específico onde os pecados deviam ser expiados ou pagos (removidos), e que em grego era chamado de kapporeth (propiciatório).
      Através do sacrifício redentor de Jesus, o Filho; Deus, o Pai, remove o pecado do seu povo, não virtualmente ou simbolicamente
      como se dava nos rituais do passado (Lv 16), mas agora, em plena realidade físico-espiritual, eliminando definitivamente toda a
      culpabilidade humana perante Deus – o Supremo Juiz – e limpando completamente a consciência de cada indivíduo que aceita o
      sacrifício do Senhor como salvação para sua vida e, a partir dessa constatação, nasce de novo (Jo 3; 1Jo 2.2).
         9 Quando Lutero estava traduzindo a Bíblia para a língua alemã, ao escrever esse versículo, fez questão de acrescentar a
      expressão restritiva “somente pela fé”. Ainda que o vocábulo “somente” não esteja nos originais gregos, reflete com exatidão o
      sentido geral da passagem (Tg 2.14-26).
         10 Paulo faz uma bela e profunda analogia entre a importância e a exatidão da Lei; reconhecendo o primeiro artigo da Lei
      judaica, amado e defendido radicalmente por todos os judeus ao longo dos séculos: “O Senhor é um só Deus” (Dt 6.4), e a
      exaltação de Cristo – o Unigênito Filho de Deus – como único meio de Salvação para judeus e todos os gentios sobre a face da
      terra. Paulo percebe que será acusado de antinomismo (pregar ou agir contra a Lei). Contudo, apesar de mostrar que a Lei é
      impotente para salvar, e que esse poder opera somente em Jesus Cristo (capítulos 6 e 7), voltará a confirmar a validade da Lei
      na passagem do capítulo 13.18-10.
         Capítulo 4
         1 Alguns traduções trazem a expressão “antepassado” quando se referem à ascendência paterna. Entretanto a KJ, neste
      caso, preservou a forma clássica “pai”. Paulo, sabiamente, exalta a memória do grande patriarca da nação israelita e verdadeiro
      exemplo de pessoa justificada (Tg 2.21-23) em sua carta aos judeus em Roma. Era comum, na época de Jesus, os mestres judeus
      citarem a vida de Abraão como exemplo de conquista do favor divino pelas obras. Entretanto, Paulo revela exatamente no pai dos
      judeus seu melhor exemplo de justificação pela fé (Gl 3.6-9).
         2 Deus continua considerando e se entristecendo com os pecados cometidos pelo pecador arrependido (convertido). Contudo,
      o Espírito de Deus move esse pecador a reconhecer os erros praticados e confessar seus pecados ao Senhor, que o perdoa e lhe
      restitui a alegria espiritual do salvo (Sl 32.1-5; Ez 18.23,27,28,32; 33.14-16).
         3 Abraão foi declarado justo cerca de quatorze anos antes de ser circuncidado (Gn 15; 17; Gl 3.17). Dessa forma, Abraão é
      também o pai (antepassado) de todos os crentes gentios (aqueles que não passaram pela circuncisão), porquanto Abraão creu e
      foi plenamente justificado antes mesmo que o ritual da circuncisão (o sinal dos judeus) fosse instituído.




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11                                             ROMANOS 4

       11 Sendo assim, ele recebeu a marca da                           aos olhos de Deus, em quem Abraão
       circuncisão, como um selo da justiça que                         depositou sua fé, o Deus que dá vida aos
       ele tinha pela fé, quando ainda não era                          mortos e convoca à existência elementos
       circuncidado, para que fosse pai de todos                        inexistentes, como se existissem.
       os que crêem, ainda que não tenham sido                          18 Abraão, crendo, esperou contra todos
       circuncidados, a fim de que a justiça fos-                        os prognósticos desfavoráveis, tornando-
       se creditada também a favor deles;                               se, assim, pai de muitas nações, como
       12 ele é igualmente pai dos circuncisos                          ficou registrado a seu respeito: “Assim
       que não apenas passaram pela circun-                             será a sua descendência”.
       cisão, mas que também caminham                                   19 Sem desfalecer na fé, reconheceu que
       sobre as marcas dos passos da fé que                             seu corpo físico perdera a vitalidade de
       demonstrou nosso pai Abraão antes de                             outrora, pois já contava cerca de cem anos
       ser circuncidado.                                                de idade, e que também o ventre de Sara
       13 Porquanto, não foi pela Lei que                               não tinha o vigor do passado.5
       Abraão, ou sua descendência, recebeu a                           20 Mesmo considerando tudo isso, não
       promessa de que ele havia de ser o her-                          duvidou nem foi incrédulo quanto ao
       deiro do mundo; ao contrário, foi pela                           que Deus lhe prometera; mas, pela fé, se
       justiça da fé.4                                                  fortaleceu, oferecendo glória a Deus,6
       14 Pois se os que vivem pela Lei são her-                        21 estando absolutamente convicto de
       deiros, a fé não tem valor e a promessa                          que Ele era poderoso para realizar o que
       é nula.                                                          havia prometido.
       15 Porque a Lei produz a ira; mas onde                           22 Por essa razão, “isso lhe foi atribuído
       não há Lei também não pode haver                                 como justiça”.
       transgressão.                                                    23 Todavia, não é somente para ele que
       16 Por esse motivo, a promessa procede                           as palavras “isso lhe foi atribuído como
       da fé, para que seja de acordo com a gra-                        justiça” foram registradas,
       ça, a fim de que a promessa seja garanti-                         24 mas igualmente para todos nós, a
       da a toda a descendência de Abraão, não                          quem Deus concederá justificação, a nós
       somente a que é da Lei, mas igualmente a                         que cremos naquele que ressuscitou dos
       que é da fé que Abraão teve. Ele, portan-                        mortos, a Jesus, nosso Senhor.
       to, é o pai de todos nós!                                        25 Ele foi entregue à morte para pagar
       17 Como está escrito: “Eu o constituí                            todos os nossos pecados e ressuscitado
       pai de muitas nações”. Ele é o nosso pai                         para nossa completa justificação.7



          4 Abraão é o pai de todos os crentes fiéis (judeus ou gentios – Gn 12.3). O domínio completo do mundo pertence à descendên-
       cia espiritual de Abraão (1Co 3.21, 6.2). Porém, a plena realização dessas promessas aguarda a consumação do Reino messiâni-
       co com o glorioso retorno de Jesus Cristo (Gn 12.7; 13.14,15; 15.7, 18.21; 17.8; Sl 37.9, 11, 22, 29, 34; Mt 5.5).
          5 Abraão passou por momentos de preocupação e ansiedade (Gn 17.17,18), no entanto, o Senhor não viu nessas manifesta-
       ções nada que pudesse comprometer a sinceridade da fé de Abraão. A fé madura e firme não se recusa a reconhecer a realidade
       das dificuldades, mas as enfrenta com a segurança de quem tem plena certeza de que o Senhor dos exércitos, que está à sua
       frente, é também seu Pai amoroso. Sara era dez anos mais nova que Abraão, todavia há muito passara da idade de gerar filhos.
       Paulo afirma que Deus é capaz de criar do nada (como fez com o próprio Universo) e dar vida aos mortos, uma alusão ao nasci-
       mento de Isaque, quando Abraão e Sara há muitos anos estavam estéreis (Gn 18.11). Paulo segue em seu raciocínio até comparar
       a ressurreição de Cristo à promessa da nossa ressurreição, pois Ele é o doador da vida e da eternidade (v.24,25).
          6 As obras são a tentativa desesperada da humanidade para conquistar algum direito de reivindicar o favor de Deus. Abraão
       demonstrou que a fé é a simples e sincera disposição do coração do crente em dar glória a Deus: Primeiro, pelo que já recebeu.
       Segundo, pela resposta amorosa que virá do seu Pai. Um pai sábio e amoroso não dá tudo o que seu filho pede, mas procura
       proporcionar-lhe sempre o melhor.
          7 A expressão grega paradidõmi, “entregar”, aparece duas vezes na Septuaginta e tem a ver com as passagens de Is 53.6 e
       12. Cristo foi entregue para ser sacrificado, e, assim, expiar definitivamente os pecados de todos os que nele crêem. Da mesma
       maneira, ressuscitou para garantir a plena justificação do seu povo que herdará as promessas do Seu Reino. Essas palavras de
       Paulo se tornaram uma espécie de credo confessional da igreja cristã primitiva.




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ROMANOS 5                                                     12

      O justificado tem Paz com Deus                                      8 Porém, Deus comprova seu amor para

      5  Portanto, havendo sido justificados
         pela fé, temos paz com Deus, por
      meio do nosso Senhor Jesus Cristo,1
                                                                         conosco pelo fato de ter Cristo morrido
                                                                         em nosso benefício quando ainda andá-
                                                                         vamos no pecado.
      2 por intermédio de quem obtivemos                                 9 Agora, como fomos justificados por seu
      pleno acesso pela fé a esta graça na qual                          sangue, muito mais ainda, por intermé-
      agora estamos firmados, e nos gloriamos                             dio dele, seremos salvos da ira de Deus!4
      na confiança plena da glória de Deus.2                              10 Ora, se quando éramos inimigos de
      3 Mas não somente isso, como também                                Deus fomos reconciliados com Ele me-
      nos gloriamos nas tribulações, porque                              diante a morte de seu Filho, quanto mais
      aprendemos que a tribulação produz                                 no presente, havendo sido feitos amigos
      perseverança;                                                      de Deus, seremos salvos por sua vida.5
      4 a perseverança produz um caráter                                 11 E, ainda mais, se nos gloriamos também
      aprovado; e o caráter aprovado produz                              em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,
      confiança.                                                          por intermédio de quem recebemos,
      5 E a confiança não nos decepciona, por-                            agora, completa reconciliação.
      que Deus derramou seu amor em nossos
      corações, por meio do Espírito Santo que                           Morte em Adão, Vida em Cristo
      Ele mesmo nos outorgou.3                                           12 Concluindo, da mesma forma como o
      6 Em verdade, no devido tempo, quando                              pecado ingressou no mundo por meio de
      ainda éramos fracos, Cristo morreu por                             um homem, e pelo pecado a morte, assim
      todos os ímpios.                                                   também a morte foi legada a todos os seres
      7 Sabemos que é muito difícil que                                  humanos, porquanto todos pecaram.6
      alguém se disponha a morrer por um                                 13 Porque antes de ser promulgada a Lei,
      justo; embora por uma pessoa que se                                o pecado já estava no mundo; todavia, o
      dedique ao bem, talvez, alguém tenha a                             pecado não é levado em conta quando
      coragem de dispor sua vida.                                        não existe a lei.

          1 Paulo fala de um novo status diante de Deus, não apenas de um sentimento de tranqüilidade e leveza de alma. Antes de
                                          s
      aceitarmos o sacrifício vicário de Jesus como a nossa única e completa justificação perante a Lei divina, estávamos condenados
      a viver como inimigos de Deus, separados de sua paternidade. Agora, porém, fomos elevados à posição de “amigos de Deus” e
      seus filhos (v.10; Ef 2.16; Cl 1.21,22; Hb 12.6-8 de acordo com Mt 5.10-12 e Sl 43.4).
          2 Foi Jesus quem nos elevou à presença do Pai, ao rasgar a robusta e resistente cortina da Lei (que ficava no templo) e que
      fazia separação entre o homem e Deus (Mt 27.51). O cristão recebe em seu coração, pelo Espírito Santo, a “esperança revestida
      de certeza absoluta”, de que o propósito para qual o Senhor o criou será perfeitamente realizado (3.23).
          3 A confiança (esperança com certeza) em Deus não confunde e jamais nos decepcionará, como é comum ocorrer na confiança
      que colocamos em nossos semelhantes. Paulo faz uma citação que está na Septuaginta (Is 28.16) e a repete em Rm 9.33 e 10.11.
      A expressão no original tem o sentido de não se envergonhar pela frustração, pois o Senhor jamais faltará com Sua Palavra e
      cumprirá todas as Suas promessas (Rm 4.20,21).
          4 O cristão sincero está livre da condenação final e do Dia da Ira do Senhor sobre os incrédulos e ímpios (1Ts 1.10 e 5.9).
      Quando Cristo morreu sacrificialmente, a nossa dívida de pecado contra Deus e a Lei foi totalmente liquidada. Quando aceitamos
      a Cristo, pela fé, nos apropriamos da Salvação. Por isso, no futuro, receberemos todo o complemento da indescritível e infalível
      Graça de Deus. Estes são os três aspectos da nossa redenção.
          5 É importante notar que o homem escolheu ser inimigo de Deus ao desobedecer sua ordem explícita (Gn 3). Entretanto,
      Ele nunca se considerou inimigo do homem. Ao contrário, durante toda a história da humanidade, Deus vem disponibilizando
      formas de o ser humano reconhecer seus erros e voltar-se ao Pai (a Lei, os Profetas e, por fim, Jesus, o próprio Deus encarnado.
      Veja o v.11 e Cl 1.21,22). Somos salvos perpetuamente (de uma vez por todas) porquanto Cristo vive eternamente (Hb 7.25). A
      expressão “reconciliados” vem do termo grego original katallassein que significa “mudar radicalmente” ou “trocar a essência”.
      Assim, nossa relação com Deus “mudou” por meio da morte vicária do Seu Filho Jesus, e passamos da posição de inimigos para
      filhos amados (2Co 5.18-20).
          6 Adão representa a tendência do ser humano para o pecado, a indiferença do homem em relação ao amor do Criador e
      a condenação de toda a raça humana à eterna separação de Deus (1.18 – 3.20). Jesus Cristo representa a plena e eterna
      justifica-ção do crente (3.21 – 5.11). Portanto, a nova raça unida a Cristo (os nascidos de novo, conforme Jo 3) tem um novo
      e esplêndido princípio de vida (natureza de Deus) habitando e trabalhando diariamente em sua alma: o Espírito Santo. Isso
      significa que há uma relação inseparável entre justificação e santificação (desenvolvimento de um caráter mais parecido com
      o de Jesus Cristo – capítulos 6 a 8).




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13                                            ROMANOS 5, 6

       14 No entanto, a morte reinou desde a                               tornaram pecadores, assim também, por
       época de Adão até os dias de Moisés,                                intermédio da obediência de um único
       mesmo sobre aqueles que não comete-                                 homem, muitos serão feitos justos.
       ram pecado semelhante à desobediência                               20 A Lei foi instituída para que a trans-
       de Adão, o qual era uma prefiguração                                 gressão fosse ressaltada. Mas onde abun-
       daquele que haveria de vir.                                         dou o pecado, superabundou a graça,7
       15 Contudo, não há comparação entre o                               21 para que, assim como o pecado reinou
       dom gratuito e a transgressão. Pois, se                             na morte, assim também reine a graça
       muitos morreram por causa da desobe-                                pela justiça para outorgar vida eterna,
       diência de um só, muito mais a graça de                             por intermédio de Jesus Cristo, nosso
       Deus e o dom pela graça de um só                                    Senhor.
       homem, Jesus Cristo, transbordou para
       multidões!                                                          Libertos do poder do pecado
       16 Por isso, não se pode comparar a
       graça de Deus com a conseqüência do
       pecado de um só homem; porquanto,
                                                                           6   Então, qual seria a conclusão? Deve-
                                                                               mos continuar pecando a fim de que
                                                                           a graça seja ainda mais ressaltada?
       o julgamento derivou de uma só ofensa                               2 De forma alguma! Nós que morremos
       que resultou em condenação, mas o dom                               para o pecado, como seria possível dese-
       gratuito veio de muitas transgressões e                             jar viver sob seu jugo?1
       trouxe a justificação.                                               3 Ou ignoreis que todos nós, que fomos
       17 Pois, se pela transgressão de um só                              batizados em Cristo Jesus, fomos igual-
       homem, a morte reinou por meio desse,                               mente batizados na sua morte?
       muito mais os que recebem da transbor-                              4 Portanto, fomos sepultados com Ele
       dante provisão da graça, e do dom da                                na morte por meio do batismo, com o
       justiça, reinarão em vida por intermédio                            propósito de que, assim como Cristo
       de um único homem: Jesus Cristo!                                    foi ressuscitado dos mortos mediante a
       18 Portanto, assim como uma só trans-                               glória do Pai, também nós vivamos uma
       gressão determinou na condenação de                                 nova vida.2
       todos os seres humanos, assim igual-                                5 Se desse modo fomos unidos a Ele na
       mente um só ato de justiça resultou                                 semelhança da sua morte, com toda a
       na justificação que traz vida a todos os                             certeza o seremos também na semelhan-
       homens.                                                             ça da sua ressurreição.
       19 Sendo assim, como por meio da de-                                6 Pois temos conhecimento de que a
       sobediência de um só homem muitos se                                nossa velha humanidade em Adão foi

          7 A Lei foi introduzida não para proporcionar a redenção, mas para enfatizar o quanto essa redenção plena e total se fazia neces-
       sária. Com a Lei o pecado, ficou ainda mais evidente, marcando claramente seu contraste em relação à santidade de Deus
          Capítulo 6
          1 Essa é uma pergunta reflexiva, fruto da afirmação que Paulo acabara de fazer em 5.20, a fim de responder a alguns líderes
       judeus que o estavam acusando de pregar uma doutrina antinômica (contrária à Lei). Eles estavam confundindo a teologia da
       justificação somente por meio da fé em Cristo, com a pregação de um estilo de vida libertino e moralmente irresponsável. Paulo
       enfatiza, em seus ensinos, que há dois resultados inequívocos da nossa maravilhosa união com Cristo: 1) A remoção completa
       de nossas culpas pela morte sacrificial de Jesus Cristo; 2) A eficácia da ressurreição do Senhor, originando uma nova vida de
       santidade que envolve toda a alma, consciência e corpo físico do cristão sincero, e que dia a dia transforma-lhe o caráter à
       imagem de Cristo (Imago Dei). Os principais indícios do novo nascimento são justamente a vontade imensa de adorar a Deus,
       comunhão com os irmãos, fome pela Palavra, disposição para evangelizar o mundo e a busca perseverante por uma vida santa,
       contudo, sem legalismo ou fanatismo.
          2 Na época em que o NT estava sendo escrito, o batismo se seguia tão rapidamente ao arrependimento e à conversão, que os
       dois atos eram considerados parte de um só grande acontecimento: o novo nascimento (At 2.38). Portanto, embora a cerimônia
       do batismo, especialmente em nossos dias, não seja o meio para estabelecermos um relacionamento vital com Cristo por meio da
       fé, esse símbolo está estreitamente relacionado à disposição de crer. Mediante a fé estamos unidos a Jesus Cristo, assim como,
       por meio do nosso nascimento natural, ficamos unidos a Adão (o primeiro ser humano). O batismo simboliza nossa morte para
       o pecado que herdamos do pai da raça humana (Adão), e nossa ressurreição com Cristo para uma vida eterna de adoração e
       santidade diante de Deus.




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ROMANOS 6                                                     14

      crucificada com Ele, a fim de que o                                  cer domínio sobre vós, pois não estais
      corpo sujeito ao pecado fosse destruído,                           debaixo da Lei, mas debaixo da Graça!4
      para que nunca mais venhamos a servir
      ao pecado.                                                         Súditos da Justiça pela Graça
      7 Porquanto, todo aquele que morreu já                             15 Que resposta dar? Vamos nos atirar ao
      foi justificado do pecado.                                          pecado porque não estamos sob o jugo
      8 E mais, se morremos com Cristo, cre-                             da Lei mas sob o poder da lei da Graça?
      mos que também com Ele viveremos!                                  Não! De forma alguma.
      9 Pois sabemos que, havendo sido res-                              16 Não estais informados de que ao vos
      suscitado dos mortos, Cristo não pode                              entregardes a alguém como escravos
      morrer novamente; ou seja, a morte não                             para lhe obedecer, sois escravos deste
      tem mais qualquer poder sobre Ele.                                 a quem obedeceis, seja do pecado para
      10 Porque ao morrer para o pecado, mor-                            a morte, seja da obediência que leva à
      reu de uma vez por todas para o pecado,                            justiça?5
      todavia, quanto ao viver, vive para Deus.                          17 Todavia, graças a Deus, porquanto,
      11 Assim, desta mesma maneira, conside-                            embora havendo sido escravos do pe-
      rai-vos mortos para o pecado, mas vivos                            cado, obedecestes de coração à forma do
      para Deus, em Cristo Jesus.                                        ensino a que fostes submetidos.
      12 Portanto, não permitais que o pecado                            18 Vós fostes libertos do pecado e vos
      domine vosso corpo mortal, forçando-                               tornaram escravos da justiça.
      vos a obedecerdes às suas vontades.                                19 Expresso-me, assim, nos termos do
      13 Tampouco, entregais os membros do                               homem comum, por causa da fraqueza
      vosso corpo ao pecado, como instru-                                da vossa carne. Pois, assim, como apre-
      mentos de iniqüidade; antes consagrai-                             sentastes os membros do vosso corpo
      vos a Deus com quem fostes levantados                              como escravos da impureza e da maldade
      da morte para a vida; e ofereçais os                               que conduz a iniqüidades ainda maiores;
      vossos membros do corpo a Ele, como                                apresentai, a partir de agora, todos os
      instrumentos de justiça.3                                          membros do vosso corpo como escravos
      14 Porquanto o pecado não poderá exer-                             da justiça para a santificação.6


         3 Esse é um chamado eloqüente para que o cristão sincero torne-se, na vida diária e em seus relacionamentos, aquilo que
      ele já é por posição: morto para esse sistema mundial pecaminoso e para o seu pecado que, mesmo agonizante, luta por fazer
      prevalecer suas vontades na alma do crente (vv. 5-7); e vivo para adorar e servir a Deus (vv. 8-10). Após essa tomada de posição,
      o próximo passo em direção à vitória do cristão sobre o pecado é a decisiva e perseverante recusa de permitir que o pecado volte
      a dominar sua vida, decisões éticas e morais (v.12). Finalmente, o último passo tem a ver com a entrega absoluta da vida (todos
      os aspectos e recônditos da alma) do crente aos cuidados paternos e poderosos de Deus, que agora habita em seu corpo na
      pessoa do Espírito Santo (v.13).
         4 Paulo compreendia o pecado como uma espécie de poder escravizador, e por isso o personificou. O crente em Cristo não
      está livre das suas responsabilidades em relação à verdade e à justiça, nem tampouco da autoridade moral dos mandamentos
      de Deus. O que Paulo está ensinando é que não estamos sujeitos à Lei mosaica da mesma forma que os judeus do AT estavam,
      e que ela não oferece nenhuma capacitação para vencermos o poder do pecado introduzido na terra desde Adão. A Lei, em
      termos práticos, é o código penal diante do qual estamos todos condenados. A graça, entretanto, oferece ao cristão sincero
      plena capacitação (Tt 2.11,12).
         5 Os versículos de 15 a 23 apresentam uma analogia entre a teologia da redenção e o procedimento ético do mercado de
      escravos, prática muito comum nos tempos do NT. O escravo está sob a obrigação moral de servir o seu mestre (de onde
      vem a nossa forma de tratamento, em português: sinhá, dona; sinhô, dono) até a morte. Uma vez morto, o dono não tem mais
      autoridade ou poder algum sobre a alma dele. Desse mesmo modo, acontece com o crente em Cristo. O seu “velho dono”, o
      pecado, não tem mais direito sobre sua vida ou vontades, uma vez que já morreu com Cristo.
         6 Paulo pede desculpas por usar uma analogia ligada à escravidão, assunto bastante popular em sua época, mas sobre o qual
      os judeus tinham ojeriza. O povo judeu sempre acreditou na liberdade que Deus outorgou aos homens. No entanto, os judeus
      foram feitos escravos por muitos povos durante longos períodos da história da humanidade. A comparação de Paulo, porém, é
      ideal para ilustrar uma grande verdade universal: ou se é escravo (servo) de Deus ou do Diabo. Essa forma de doutrina refere-se
      a um sumário de ética cristã, baseado nos ensinos de Jesus Cristo, que normalmente era ministrado aos convertidos na igreja
      primitiva, a fim de discipular os novos crentes nos primeiros passos da vida cristã.




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15                                            ROMANOS 6, 7

       20 Porque, quando éreis escravos do pe-                             restes quanto à Lei mediante o corpo de
       cado, estáveis livres em relação à justiça.                         Cristo, para pertencerdes a outro, àquele
       21 E que fruto colhestes, então, das atitudes                       que ressuscitou dentre os mortos, a fim
       das quais agora vos envergonhais? Pois o                            de que frutifiquemos para Deus.
       resultado final delas é a morte!                                     5 Pois quando éramos dominados pela
       22 Contudo, agora libertos do pecado, e                             natureza pecaminosa, as paixões dos pe-
       tendo sido transformados em escravos                                cados, instigadas pela própria Lei, agiam
       de Deus, tendes o vosso fruto para a san-                           livremente em nosso corpo, de maneira
       tificação, e por fim a vida eterna.7                                  que dávamos frutos para a morte.
       23 Porque o salário do pecado é a morte,                            6 Mas, agora, fomos libertos da Lei, haven-
       mas o dom gratuito de Deus é a vida                                 do morrido para aquilo que nos aprisio-
       eterna por intermédio de Cristo Jesus,                              nava, para servimos de acordo com a nova
       nosso Senhor!                                                       ministração do Espírito, e não conforme a
                                                                           velha forma da Lei escrita.3
       A relação entre Lei e Graça

       7   Caros irmãos, falo convosco como
           conhecedores da Lei. Acaso não sa-
       beis que a Lei tem autoridade sobre uma
                                                                           A Lei condena, Jesus liberta
                                                                           7 Portanto, que concluiremos? A Lei é pe-
                                                                           cado? De forma alguma! De fato, eu não
       pessoa apenas enquanto ela vive?1                                   teria como saber o que é pecado, a não
       2 Por exemplo, pela Lei a mulher casada                             ser por intermédio da Lei. Porquanto,
       está ligada ao marido enquanto ele vive;                            na realidade, eu não haveria conhecido a
       mas, se ele morrer, ela está livre da lei do                        cobiça, se primeiro a Lei não tivesse dito:
       casamento.                                                          “Não cobiçarás”.
       3 Por isso, se ela se casar com outro ho-                           8 Mas o pecado, aproveitando-se da oca-
       mem, enquanto seu marido ainda estiver                              sião dada pelo mandamento, provocou
       vivo, será considerada adúltera. Mas se                             em mim todo o tipo de cobiça; porque,
       o marido morrer, ela estará livre daquela                           onde não há lei, o pecado está morto.
       lei, e mesmo que venha a se casar com                               9 Antes eu vivia sem a Lei; mas quando
       outro homem, não estará adulterando.2                               veio o mandamento, o pecado reviveu, e
       4 Assim também, vós, meus irmãos, mor-                              eu fui ferido de morte;4

          7 Ser sinceramente devotado a Deus produzirá, inevitavelmente, santidade. E o final desse processo é a vida eterna. Não
       existe vida eterna sem santidade (Hb 12.14). Todo aquele que já passou pela justificação (o primeiro ato da salvação que
       é composta de justificação, santificação e glorificação), com toda certeza, demonstrará, por meio de suas atitudes diárias,
       evidências desse fato. Uma pessoa que não está sendo santificada (purificada pelo Espírito Santo) em seus pensamentos e
       atitudes deve avaliar se realmente houve, em algum momento, um arrependimento sincero do seu coração na presença do
       Espírito de Cristo e, portanto, a justificação.
          Capítulo 7
          1 Paulo tem em mente tanto a Lei mosaica quanto a lei divina, no seu sentido mais universal e implicações gerais. Assim
       também quanto ao homem, Paulo não se limita a uma análise simplista do crente e do não convertido, mas vai além e investiga a
       complexidade do ser humano quanto à sua tendência natural para o mal (o ser humano sempre se sentiu atraído pelo proibido),
       enquanto sua consciência íntima aponta para o bem e a verdade; como se a alma humana, embora nesse mundo, tivesse
       saudades da casa paterna, mas vontade de ceder à cobiça da carne (todas as ambições de prazer e glória).
          2 No cap. 6, Paulo faz uma analogia do compromisso que há entre o escravo e seu senhor (dono). Em 7.1-6, a ilustração utilizada é
       a do compromisso (aliança, contrato) celebrado no casamento. Paulo demonstra que a liberdade da Lei é a mesma que uma esposa
       tem em relação ao seu marido. A relação é de simples entendimento: assim como a morte do marido dissolve o vínculo formal entre
       o marido e a esposa, a morte do crente com Cristo quebra o jugo da Lei. O cristão está, portanto, livre do domínio do pecado para
       unir-se a Cristo, que jamais morrerá novamente, o que significa, que essa nova união não terá fim (6.9; 7.4).
          3 A antítese entre o espírito e a simples letra escrita aponta para um novo tempo, aquele em que a “nova aliança” de Jeremias
       se realiza (Jr 31.31). A “letra” transmite o sentido de guardar tudo o que a Lei determina no seu aspecto exterior (cumprir o que
       está escrito sem maiores reflexões ou interpretações subjetivas), à base da força de vontade e na capacidade moral dos homens.
       O “espírito” refere-se às novas relações e forças produzidas em Cristo pelo Espírito Santo.
          4 Paulo faz uma análise da sua própria experiência de vida, ao mesmo tempo em que considera a existência de todos os
       homens, a partir do seu conhecimento atual da graça divina em Cristo Jesus. Antes de se dar conta de que a Lei existia com
       tamanho vigor, poder e rigidez, e de que estava condenado à morte, o menino Paulo vivia alegre e em paz. Com a chegada do seu




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ROMANOS 7                                                       16

      10 e descobri que o mandamento que era                               determina o meu agir, mas sim o pecado
      para vida, transformou-se em morte para                              que habita em mim.
      mim.5                                                                18 Porque sei que na minha pessoa, isto é,
      11 Porquanto o pecado, valendo-se do                                 na minha carne, não reside bem algum;
      mandamento, iludiu-me, e por meio                                    porquanto, o desejar o bem está presente
      dele me matou.                                                       em meu coração, contudo, não consigo
      12 De maneira que a Lei é santa, e o man-                            realizá-lo.8
      damento, santo, justo e bom.                                         19 Pois o que pratico não é o bem que al-
      13 Portanto, isso significa que o que era                             mejo, mas o mal que não quero realizar,
      bom tornou-se morte para mim? De                                     esse eu sigo praticando.
      forma alguma! Mas o pecado para que                                  20 Ora, se faço o que não quero, já não
      se revelasse como pecado, produziu em                                sou eu quem o realiza, mas o pecado que
      mim a morte por intermédio do que                                    reside em mim.
      era bom; a fim de que, por meio do                                    21 Assim, descubro essa Lei em minha
      mandamento, o pecado se demonstrasse                                 própria carne: quando quero fazer o
      extremamente maligno.6                                               bem, o mal está presente em mim.
      14 Porquanto é do nosso pleno conheci-                               22 Pois no íntimo da minha alma tenho
      mento de que a Lei é espiritual; eu, en-                             prazer na Lei de Deus;
      tretanto, sou limitado pela carne, pois fui                          23 contudo, vejo uma outra lei agindo
      vendido como escravo ao pecado.                                      nos membros do meu corpo, guerreando
      15 Pois não compreendo meu próprio                                   contra a lei da minha razão, tornando-
      modo de agir; porquanto o que quero,                                 me prisioneiro da lei do pecado que atua
      isso não pratico; entretanto, o que detes-                           em todos os meus membros.
      to, isso me entrego a fazer.7                                        24 Miserável ser humano que sou! Quem
      16 Ora, e se faço o que não desejo, tenho                            me libertará deste corpo de morte?9
      que admitir que a Lei é boa.                                         25 Graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso
      17 Nesse sentido, não sou mais eu quem                               Senhor! De modo que, eu mesmo com



      bar mitzvah (importante cerimônia judaica na qual o jovem, aos 13 anos, passa a ser responsável pelo cumprimento da Lei), bem
      como na vida adulta, quando as demandas do seu vínculo com os fariseus amadureceram suas convicções legais e institucionais,
      e, por fim, quando do seu encontro com Cristo, fato que determinou sua conversão, Paulo chegou à conclusão que estava morto,
      “porque o salário do pecado é a morte” (6.23; Lc 18.20,21; Fp 3.6).
         5 O que aconteceu na prática foi que a Lei veio a ser a via de acesso do pecado, tanto na experiência de Paulo quanto para toda
      a humanidade. Em vez de conceder vida, a Lei produziu condenação; em lugar de promover a santidade, provocou o pecado.
      Todavia, a responsabilidade pelo pecado não está na Lei, uma vez que ela foi criada por Deus para ajudar os seres humanos a
      ordenar, suas prioridades, identificarem o certo do errado, o bem do mal, e a viverem em paz e fraternidade uns com os outros.
      Portanto, a Lei é santa, justa e boa (v.12).
         6 O pecado e seu pai (o Diabo) usaram a santa Lei de Deus para uma finalidade ímpia (a morte). Esse fato revela quão despre-
      zíveis são o nosso Inimigo e suas artimanhas.
         7 Paulo fala da própria intimidade da sua alma e de suas lutas como homem e como cristão, ao mesmo tempo em que se refere
      a um conflito comum a todos os seres humanos. Até mesmo o crente mais santificado tem dentro de si a semente da rebelião que
      herdou de Adão, a qual vem sendo explorada pelo Diabo de geração em geração desde a Queda (Gn 3). Paulo é eloqüente quando
      usa a expressão “fui vendido como escravo ao pecado”, para retratar como todos nós passamos pela experiência de ser subjugados
      pelo poder deste mundo e do pecado. E, mesmo após a conversão, o pecado agonizante procura nos ferroar persistentemente.
      Paulo, ainda, revela que nossas lutas interiores provocam todo tipo de tensão, ambivalência, confusão e frustrações.
         8 Paulo faz uma humilde e honesta declaração em relação à tenacidade do pecado em tentar controlar a vida dos crentes (v.17).
      No v.18 ele se refere ao estado caído do ser humano, como denota a parte inicial da frase. Evidentemente, ele não está dizendo
      que não pode haver a mínima bondade prática nos cristãos.
         9 Paulo usa o corpo como metáfora de um cadáver que pesava sobre suas costas, mas que era de sua responsabilidade
      equilibrá-lo para que não caísse ou alterasse o curso do seu trajeto ao carregá-lo (6.6). O cristão vive em dois mundos ao mesmo
      tempo e isso causa muitas aflições. Este é o motivo pelo qual a carne batalha contra o Espírito e o Espírito batalha contra a carne,
      porquanto são opostos entre si (Gl 5.17). A vitória contra esse inimigo (a disposição para o pecado que persiste em nós) não vem
      sem muita luta, mas ao longo do nosso tempo de caminhada cristã e amadurecimento espiritual. Graças a Deus a vitória virá por
      Cristo, e isso está maravilhosamente descrito no capítulo seguinte.




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17                                           ROMANOS 7, 8

       a razão sirvo à Lei de Deus, mas com a                             ga de Deus, pois não se submete à Lei de
       carne à lei do pecado.                                             Deus, nem consegue fazê-lo.
                                                                          8 Os que vivem na carne não podem
       O Espírito guia os filhos de Deus                                   agradar a Deus.3

       8  Portanto, agora não há nenhuma
          condenação para os que estão em
       Cristo Jesus.1
                                                                          9 Vós, contudo, não estais debaixo do do-
                                                                          mínio da carne, mas do Espírito, se é que
                                                                          de fato o Espírito de Deus habita em vós.
       2 Porque a lei do Espírito da vida, em                             Todavia, se alguém não tem o Espírito de
       Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado                           Cristo, não pertence a Cristo.
       e da morte.                                                        10 Porém, se Cristo está em vós, o corpo
       3 Porquanto, aquilo que a Lei fora in-                             está morto por causa do pecado, mas o
       capaz de realizar por estar enfraquecida                           espírito vive por causa da justiça.
       pela natureza pecaminosa, Deus o fez,                              11 E, se o Espírito daquele que ressuscitou
       enviando seu próprio Filho, à semelhan-                            dos mortos a Jesus habita em vós, aquele
       ça do ser humano pecador, como oferta                              que ressuscitou dos mortos a Cristo Jesus
       pelo pecado. E, assim, condenou o                                  igualmente vos dará vida a seus corpos
       pecado na carne,2                                                  mortais, por intermédio do seu Espírito
       4 para que a justa exigência da Lei se                             que habita em vós.4
       cumprisse em nós, que não andamos                                  12 Portanto, irmãos, estamos em dívida,
       segundo a natureza carnal, mas segundo                             não para com a natureza carnal, para
       o Espírito.                                                        andarmos submissos a ela.
       5 Os que vivem segundo a carne têm a                               13 Porque, se viverdes de acordo com a
       mente voltada para as vontades da na-                              carne, certamente morrereis; no entanto,
       tureza carnal, entretanto, os que vivem                            se pelo Espírito fizerdes morrer os atos
       de acordo com o Espírito, têm a mente                              do corpo, vivereis.
       orientada para satisfazer o que o Espírito                         14 Porquanto, todos os que são guiados
       deseja.                                                            pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
       6 A mentalidade da carne é morta, mas a                            15 Pois vós não recebestes um espírito
       mentalidade do Espírito é vida e paz.                              que vos escravize para andardes, uma
       7 Porque a mentalidade da carne é inimi-                           vez mais, atemorizados, mas recebestes



         1 Essas são as “boas novas” (o Evangelho): 1) A Lei incita, ressalta e condena o pecado. Todavia, o cristão não está “debaixo da
       Lei” (6.4); 2) O crente “em Cristo” é incorporado plenamente ao Corpo de Cristo, mediante o Espírito (1Co 12.13); 3) O Corpo, que
       teve início na morte e ressurreição, tem Jesus Cristo como cabeça e inclui todos os remidos como Seus membros (Ef 1.22,23); 4)
       A autoridade que governa o Corpo não é mais a Lei, tampouco a natureza carnal, muito menos o pecado, mas a Lei do Espírito,
       que significa: liberdade (v.2). Pelo Espírito, o cristão é liberto do cativeiro do pecado.
         2 Deus se identificou perfeitamente com o ser humano na pessoa de Jesus Cristo, porém sem ter cometido pecado algum
       (2Co 5.21). Constituindo-se no único e verdadeiro Homem sem pecado, cumpriu integralmente o plano original de Deus para o
       ser humano. A expressão “oferta pelo pecado” (que não foi traduzida por algumas versões) consta da Septuaginta como peri
       hamartias, expressão grega derivada do antigo termo hebraico hatta´th, que significa literalmente “oferta para o pecado”.
         3 Paulo não se refere à carne como substância física, mas sim ao caráter moral e ético da expressão. É o campo (área de
       nossa vida) ao qual o poder do pecado e do Diabo tem acesso e controle, e no qual as obras próprias da natureza carnal são
       concebidas e praticadas (Gl 5.19-21). Após a morte e ressurreição de Jesus, existem apenas dois grandes campos: “a carne” e “o
       Espírito”. É impossível viver nos dois lugares simultaneamente (v.9). A Lei não perdeu sua relevância na vida do cristão. Contudo,
       ela não tem em si o poder da salvação do pecador condenado. Sua autoridade, no entanto, se aplica à orientação moral e ética
       do crente, que a interpreta e obedece, por amor a Cristo, mediante o esclarecimento e poder do Espírito Santo que agora habita
       seu espírito, alma e corpo (1Ts 5.23).
         4 Todos os corpos (cristãos ou não) estão sujeitos à morte e decomposição física, conseqüência do pecado original (Gn
       3). A ressurreição da alma e do corpo dos crentes para a vida eterna está garantida mediante a presença do Espírito Santo
       que neles habita. Presença esta evidenciada por uma vida controlada pelo próprio Senhor Jesus. Uma vida sob o domínio do
       Espírito é o selo de garantia total de que desde aqui e agora nossa ressurreição está certa (1Co 6.14; 15.20,23; 2Co 4.14; Fp
       3.21; 1Ts 4.14).




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  • 1. INTRODUÇÃO ROMANOS Autoria Desde os primórdios da Igreja, a epístola aos Romanos é aceita unanimemente como sendo de autoria do apóstolo Paulo (Rm 1.1,5). Esta carta contém várias referências históricas que coincidem com fatos conhecidos da vida do grande apóstolo de Cristo, e é considerada, por muitos teólogos, a mais importante obra da Bíblia. O seu conteúdo é bem característico ao estilo de Paulo, o que é notório ao compará-lo com outros de suas cartas sagradas. Propósitos Logo depois de cumprimentar os irmãos da Igreja em Roma, destinatários diretos das orientações da missiva, o apóstolo Paulo, com sua típica saudação acompanhada de ação de graças, fazendo uso da autoridade do Antigo Testamento (Hc 2.4), e apresenta o tema central de sua carta: a justificação vem pela fé em Jesus Cristo, o Messias. Assim, mais formal que as demais epístolas de Paulo, a carta aos Romanos apresenta de maneira profunda e sistemática a doutrina da justificação pela fé (e seus desdobramentos). Paulo escreve para uma igreja a qual não havia fundado, nem nunca estivera antes, embora lá tivesse alguns ami- gos chegados. Além disso, a igreja, que era predominantemente gentílica, estava agindo de forma intolerante contra os judeus cristãos que se sentiam constrangidos a obedecer às regras alimentares e datas cerimoniais da tradição religiosa judaica (14.1-6). A base dos argumentos de Paulo é a longânime, infalível e eterna justiça de Deus (1.16-17). A partir dessa constatação, seguem-se várias abordagens doutrinais fundamentais: a revelação natural (1.19-20); a universalidade do pecado (3.9-20); a plenitude da graça divina na justificação de todo ser humano (3.24), mediante o sacrifício expiatório de Jesus (3.25), por meio da fé (cap. 4); a questão do pecado original (5.12-20); a união com Cristo (cap. 6); a eleição e rejeição de Israel (caps. 9-11); o uso dos dons espirituais ( p (12.3-9); e o respeito às autoridades ( ); p (13.1-7). ) É importante notar que Paulo escreveu aos Romanos também com a visão de preparar o caminho para sua iminente viagem a Roma e para a missão que ainda pretendia realizar na Espanha (1.10-15; 15.22-29). Data da primeira publicação Foi durante a primavera do ano 57 d.C., que o apóstolo Paulo concluiu seu tratado doutrinário aos Romanos (15.25-27; 16.1,2). Nesta ocasião, ele estava em Corinto, preparando-se para viajar, transportando o dinheiro ofertado p algumas igrejas e vários cristãos aos irmãos empobrecidos e p por g g j p necessitados, membros da Igreja em Jerusalém. É provável que Paulo estivesse mais precisamente em Cencréia, cidade retirada cerca de 9 km de Corinto. Gaio (seu anfitrião) e seus amigos Erasto (tesoureiro da cidade) e Quarto eram naturais de Corinto, e Febe (fiel discípula e cooperadora) vivia e ministrava em Cencréia (16.1,23; 1Co 1.14; 2Tm 4.20). Esboço geral de Romanos 1. Saudação ministerial com ações de graças (1.1-15) 2. Tema central: “Justificação por meio da fé em Cristo, o Messias” (1.16,17) 3. A raça humana é naturalmente ímpia, e precisa de Cristo (1.18 – 3.20) A. Gentios, todos os que não nasceram judeus (1.18-32) B. Judeus, todos os nascidos de famílias judaicas (2.1 – 3.8) C. Conclusão: todas as pessoas da Terra pecaram (3.9-20) 4. Resumo do plano de Deus para a salvação de cada pessoa da Terra (3.21-31) 5. A história da vida de Abraão confirma a justificação (4.1-25) 6. Os grandes resultados da justificação (5.1-21) 7. Justiça outorgada: livres do pecado para a santificação (6.1 – 8.39) A. Livres do domínio do pecado (cap. 6) B. Livres da condenação universal do pecado (cap. 7) C. Livres para viver no poder do Espírito de Cristo (cap. 8) RM_B.indd 2 8/8/2007, 12:32:26
  • 2. 8. A rejeição de Israel como juízo de Deus (caps. 9-11) A. Deus é soberano e longânimo ao aplicar a justiça (9.1-29) B. Os motivos que levaram à rejeição de Israel (9.30 – 10.21) C. A rejeição é um castigo específico e temporário (cap. 11) 9. Os justificados devem praticar a justiça (12.1 – 15.13) A. Entre si – na Igreja – que é o Corpo de Cristo (cap. 12) B. Para com os de fora – no mundo – testemunhando (cap. 13) C. Convivendo com cristãos maduros e imaturos (14.1 – 15.13) 10. Conclusão desta carta doutrinária (15.14-33) 11. Saudações pessoais do apóstolo Paulo (16.1-16) 12. Exortação final e bênção apostólica (16.17-27) RM_B.indd 3 8/8/2007, 12:32:28
  • 3. ROMANOS Apresentação e saudação de Paulo Paulo quer ir à Igreja em Roma 1 Paulo, servo do Senhor Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o Evangelho de Deus,1 8 Em primeiro lugar, sou grato a meu Deus, mediante Jesus Cristo por todos vós, porquanto em todo o mundo é pro- 2 o qual Ele havia prometido anterior- clamada a fé que demonstrais.5 mente por meio dos seus profetas nas 9 Deus, a quem sirvo de todo o coração Escrituras Sagradas,2 pregando o Evangelho de seu Filho, é 3 acerca de seu Filho, que, humanamente, minha testemunha de como sempre me nasceu da descendência de Davi, recordo de vós 4 e com poder foi declarado Filho de 10 em minhas orações; e rogo que agora Deus segundo o Espírito de santidade, pela vontade de Deus, seja-me aberto o pela ressurreição dentre os mortos: Jesus caminho para que, enfim, eu vos possa Cristo, nosso Senhor. visitar. 5 Por intermédio dele e por causa do seu 11 Pois grande é o desejo do meu coração Nome, recebemos graça e apostolado para em ver-vos, para compartilhar convosco chamar dentre todas as nações um povo algum dom espiritual, a fim de que sejais para a obediência que deriva da fé.3 fortalecidos, 6 E vós, igualmente, estais entre os cha- 12 quero dizer, para que eu e vós sejamos mados para pertencerdes a Jesus Cristo. mutuamente encorajados pela fé. 7 A todos os que estais em Roma, amados 13 E não desejo, irmãos, que desco- de Deus, convocados para serdes santos: nheçais, que por muitas vezes planejei Graça e Paz a vós, da parte de Deus nosso visitar-vos, contudo, tenho sido impe- Pai e do Senhor Jesus Cristo!4 dido até esse momento. Meu objetivo é 1 Na antigüidade, toda carta grega seguia uma metodologia padrão de construção. A primeira parte (abertura) deveria identificar o remetente e sua saudação. Paulo se vale desta formalidade para apresentar-se da forma mais clara e ampla possível a uma comu- nidade de irmãos que ama, porém – até aquele momento – ainda não o havia conhecido pessoalmente, mas esperava fazê-lo em breve (At 9.1; Fp 3.4-14). A palavra grega original doulos, derivada do verbo deo (algemar, aprisionar), significa também: “escravo”. Para um grego dessa época, essa era uma expressão de vergonha e rebaixamento, para os judeus, entretanto, desde Moisés, era a mais expressiva forma de se posicionar em adoração ao Rei dos reis, e um título de honra. Para Paulo, todo cristão é um servo do Senhor Jesus (1Co 7.22; 6.15-23). O termo exprime pertença total e definitiva a Cristo (desde o início Paulo faz questão de usar o vocábulo “Cristo” não apenas como nome próprio, mas especialmente como título do Filho de Deus: o Messias prometido, o Ungi- do). A expressão “apóstolo” tem a ver com o comissionamento dado a Paulo, pessoalmente, por Cristo (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1). 2 Esta é a primeira vez que a expressão “Escrituras Sagradas” aparece no original grego da Bíblia. Todo o AT profetiza a vinda de Jesus, o Messias; cuja vida e ministério são perfeitamente descritos no Novo Testamento (Lc 24.27-44). 3 Foi devido à desobediência deliberada de Adão, que o homem foi apartado da glória de Deus (Rm 3.23). Entretanto, é pela obediência voluntária e firmada na fé em Jesus Cristo que ganhamos a reconciliação com Deus. A palavra “fé” neste contexto, não significa “fé em doutrinas”, mas sim fé no Evangelho, ou seja, na pessoa do Cristo (o próprio Evangelho). 4 O sentido mais amplo da expressão original grega, aqui traduzida por “santidade”, é “separado para contínua adoração a Deus”. Neste aspecto, todos os cristãos são “santos”, pois foram sobrenaturalmente “separados” por Deus para servi-lo por meio do seu serviço espiritual diário e contínuo. A expressão tem igualmente o sentido prático de “um aperfeiçoamento espiritual” que ocorre todos os dias na vida dos crentes pela ministração do Espírito Santo que neles habita (1Co 1.2). A “Graça” é o favor imerecido de Deus; o Senhor nos concedendo a bênção do seu chamado e proteção, ainda que não sejamos dignos. Enquanto “misericórdia” é a paciência longânime do Senhor, que retarda a punição que nossas más intenções, erros e pecados merecem, na esperança de nossa conversão (Jn 4.2; Gl 1.3; Ef 1.2). A “Paz” é a bênção da plena segurança e certeza dos cuidados paternos do Senhor, mesmo em meio às mais graves tribulações e perdas (Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2). 5 Paulo, apesar de todo o sofrimento, privações e humilhações pelas quais passou, sempre demonstrava um coração agradecido a Deus. Os cristãos têm toda a liberdade de chegar-se a Deus – como Pai – por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo. Entretanto, não apenas para pedir, mas, sobretudo, para agradecer (Jo 15.16). Paulo costumava iniciar suas cartas com ações de graças (1Co 1.4; Ef 1.16; Fp 1.3; Cl 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3; 2Tm 1.3; Fm 4). RM_B.indd 4 8/8/2007, 12:32:28
  • 4. 5 ROMANOS 1 colher algum fruto espiritual entre vós, 19 pois o que de Deus se pode conhecer assim como tenho alcançado entre os é evidente entre eles, porque o próprio gentios.6 Deus lhes manifestou.9 14 Eu sou devedor, tanto a gregos quanto 20 Pois desde a criação do mundo os a bárbaros, tanto a sábios como a igno- atributos invisíveis de Deus, seu eterno rantes. poder e sua natureza divina, têm sido 15 De modo que, em tudo o que de- observados claramente, podendo ser pender de mim, estou preparado para compreendidos por intermédio de tudo anunciar o Evangelho também a vós que o que foi criado, de maneira que tais pes- estais em Roma. soas são indesculpáveis;10 21 porquanto, mesmo havendo conhe- O tema da carta: a justiça pela fé cido a Deus, não o glorificaram como 16 Porquanto não me envergonho do Deus, nem lhe renderam graças; ao Evangelho, porque é o poder de Deus contrário, seus pensamentos passaram para a salvação de todo aquele que nele a ser levianos, imprudentes, e o coração crê; primeiro do judeu, assim como do insensato deles tornou-se em trevas. grego;7 22 E, proclamando-se a si mesmos como 17 visto que a justiça de Deus se revela no sábios, perderam completamente o bom Evangelho, uma justiça que do princípio senso ao fim é pela fé, como está escrito: “O 23 e trocaram a glória do Deus imortal justo viverá pela fé”.8 por imagens confeccionadas conforme a semelhança do ser humano mortal, bem A ira de Deus contra os sem fé como de pássaros, quadrúpedes e répteis. 18 Portanto, a ira de Deus é revelada dos 24 Por esse motivo, Deus entregou tais céus contra toda impiedade e injustiça pessoas à impureza sexual, segundo as von- dos homens que suprimem a verdade tades pecaminosas do seu coração, para de- pela injustiça humana, gradação de seus próprios corpos entre si. 6 Os gregos costumavam referir-se a todos os povos não-gregos, ou que não falassem seu idioma, como “bárbaros” (At 28.4). Paulo desejava conhecer a Igreja em Roma (predominantemente gentílica), ver como viviam na fé os novos convertidos, bem como compartilhar suas experiências e motivar os mais maduros para a evangelização e o avanço missionário. 7 Jesus Cristo é também chamado de “o poder de Deus”, indicando uma vez mais que o Evangelho é o próprio Cristo oferecido e recebido pelos crentes (1Co 1.24). 8 A expressão “de fé em fé”, como aparece em algumas versões antigas, tem o sentido de “fundamentar-se na fé e apelar para a fé”, na qual é enfatizada o aspecto de que a salvação não vem somente por intermédio da fé como também está à disposição de to- dos os que crêem. No original grego, os vocábulos “fé” e “crer” possuem a mesma raiz. “Justo” refere-se à qualidade da pessoa justa, que não deve nada à lei. É um termo forense, ligado aos tribunais, e não diretamente relacionado à moral e à ética (2,13; 3.21-24). 9 Paulo começa a expor um dos principais pontos de seu ensino: a culpabilidade humana fundada na sua sistemática e pertinaz rejeição declarada a Deus. Falta amor e fé em Deus e esta postura produz uma espécie de desobediência que não decorre da ignorância, mas de um forte desejo de rebeldia contra o Criador e da vontade de se tornar o próprio deus dos seus atos. Ao expor a doutrina da justiça divina (1.17; 3.21 – 5.21), Paulo arma sua argumentação teológica que demonstra que todos os seres humanos têm pecados e, portanto, carecem da justiça misericordiosa que somente Deus pode outorgar. Demonstra a culpa e a vocação para o pecado, nos gentios (1.18-32) e nos judeus (2.1 – 3.8). Ou seja, todos nós pecamos e precisamos da purificação outorgada por meio do eterno sacrifício expiatório do Filho de Deus (3.9-20). 10 Nenhuma pessoa sobre a face da terra, mesmo que ainda não tenha ouvido falar uma só palavra sobre a Bíblia, em relação a Yahweh (o nome de Deus em hebraico) ou quanto a Seu Filho, Jesus Cristo, pode usar como desculpa o fato de não conhecer o essencial de Deus, nosso Criador, e portanto, dever-lhe completa adoração e respeito às suas leis escritas na alma humana. Pois todo o Universo, dos elementos microscópicos às maiores dimensões cósmicas, revelam o poder e a sensibilidade de um Deus único, absoluto e perfeito (Sl 19). A “ira de Deus” não se compara às explosões de raiva demonstradas, muitas vezes, pelos seres humanos em todo mundo. A “ira de Deus” é santa e justa, em repulsa ao menosprezo e rejeição dos seres humanos em relação à natureza e vontade de Deus. Do ponto de vista pragmático, a “ira de Deus” não se limita à condenação dos ímpios no Juízo final (1Ts 1.10; Ap 19.15; 20.11-15). Deus, observando a decisão humana de se afastar da sua presença e conselhos, entrega os pecadores à sua própria volúpia pecaminosa e à liberdade ansiada. Entretanto, esses se tornam escravos de si mesmos e dos que pensam de igual modo. Deus remove as restrições divinas que protegem a humanidade dos piores sofrimentos decorrentes da libertinagem e das coisas mais horríveis (26,28; At 7.42). RM_B.indd 5 8/8/2007, 12:32:29
  • 5. ROMANOS 1, 2 6 25 Porquanto trocaram a verdade de criando maneiras de praticar o mal; Deus pela mentira, e adoraram objetos e desobedecem a seus pais; seres criados, em lugar do Criador, que é 31 são insensatos, desleais, sem amor e bendito para sempre. Amém! respeito à família, sem qualquer miseri- 26 E, por essa razão, Deus os entregou a córdia para com o próximo. paixões vergonhosas. Até suas mulheres 32 E, apesar de conhecerem a justa Lei trocaram suas relações sexuais naturais de Deus, que declara dignos de morte por outras, contrárias à natureza. todas as pessoas que praticam tais atos, 27 De igual modo, os homens também não somente os continuam fazendo, mas abandonaram as relações sexuais naturais ainda aprovam e defendem aqueles que com suas mulheres e se inflamaram de também assim procedem.12 desejo sensual uns pelos outros. Deram, então, início a sucessão de atos indecen- Deus julga toda a humanidade tes, homens com homens, e, por isso, receberam em si mesmos o castigo que a sua perversão requereu.11 2 Portanto, és indesculpável, ó homem, sejas quem for, quando julgas, porque a ti mesmo te condenas em tudo aquilo 28 Além do mais, considerando que que julgas no teu semelhante; pois tu, desprezaram o conhecimento de Deus, que julgas, praticas exatamente as mes- Ele mesmo os entregou aos ardis de mas atitudes. suas próprias mentes depravadas, que 2 Mas nós sabemos que o julgamento de os conduz a praticar tudo o que é re- Deus é de acordo com a verdade contra provável. os que praticam tais ações.1 29 Então, tornaram-se cheios de toda 3 Deste modo, quando tu, um simples espécie de injustiça, maldade, ganância ser humano, os julga e, todavia, praticas e depravação. Estão empanturrados de os mesmos atos, pensas que de alguma inveja, homicídio, rivalidades, engano e forma escaparás ao juízo de Deus?2 malícia. São bisbilhoteiros, 4 Ou, porventura, desprezas a imensa 30 caluniadores, inimigos de Deus, inso- riqueza da bondade, tolerância e paci- lentes, arrogantes e presunçosos; vivem ência, não percebendo que é a própria 11 As antigas sociedades gregas e romanas não apenas aceitavam o homossexualismo e a pederastia, mas exaltavam essas práticas como uma expressão de afeição superior ao amor heterossexual. As práticas homossexuais eram comuns também em todo mundo semítico; entretanto, para os judeus sempre foi uma abominação (Lv 18.22). A prática homossexual não é uma doença (podendo originar várias: mentais e físicas). É o resultado do pecado do afastamento de Deus (muitas vezes influenciado – como todos os pecados – pelos ardis do Diabo e seus demônios). E isso, ocorre por vários motivos, entre eles, está o fato de tirarmos Deus do seu trono de comando em nossas vidas e entronizarmos o nosso próprio “Eu” com a mais elevada carga de arrogância, egoísmo, mágoas e vaidades. Assim como o alcoólico, fumante, pornógrafo, drogado, mentiroso, fofoqueiro, desonesto, e tantos outros tipos de viciados, a Igreja deve atrair e tratar com carinho especial toda pessoa desejosa de libertar-se de uma vida mundana, vazia e desregrada. “Tudo é possível ao que crê!” (Mc 9.23; Mt 19.26; Lc 18.27). 12 O afastamento de Deus produz um tipo de “disposição mental reprovável”, ou seja, um favorecimento ao surgimento de idéias e pensamentos cada vez mais avessos à vontade de Deus e ao bom senso. Um grande pecado sempre tem início com uma singela idéia ou pensamento que, depois de algum tempo de sórdido agasalhamento, da origem a práticas maléficas, ainda que pareçam prazerosas a princípio. Paulo nos adverte para um tipo ainda mais ímpio de pecador: aquele que aplaude o erro e o mal cometido pelo seu semelhante. Hoje em dia, é comum vermos difundidos, especialmente pelos meios de comunicação, elogios de todo tipo a atitudes claramente contrárias à vontade de Deus reveladas nas Sagradas Escrituras. Capítulo 2 1 Paulo apresenta os princípios básicos do julgamento que Deus submete a todo ser humano em todos os tempos: 1) Conforme a verdade; 2) De acordo com as atitudes; 3) Segundo a compreensão de cada indivíduo sobre o que é certo e o que é errado. Os ensinos de Paulo sobre a crítica fácil concordam com os de Jesus (Mt 7.1). Ambos condenam o julgamento hipócrita, numa clara e direta advertência aos líderes judeus que tendiam a desprezar e julgar inferiores todos os gentios, enquanto suas próprias vidas eram dominadas pela ganância e imoralidades de todo tipo. Negavam assim, na prática, todos os ensinos e revelações da Torá (o AT). 2 É uma referência à maneira como Jesus Cristo falou sobre a Lei. O ser humano não é aceito, aos olhos do Senhor, simples- mente por guardar uma série de doutrinas e rituais religiosos (leis exteriores), mas pela completa renovação do interior (novo nascimento – Jo 3), por meio da habitação do Espírito Santo (Mt 5.22,28,48 em concordância com Rm 2.29). RM_B.indd 6 8/8/2007, 12:32:29
  • 6. 7 ROMANOS 2 misericórdia de Deus que te conduz ao simplesmente ouvem a Lei considerados arrependimento?3 justos; mas sim, os que obedecem à Lei, 5 Entretanto, por causa da tua teimosia estes serão declarados justos.6 e do teu coração insensível e que não se 14 De fato, quando os gentios que não arrepende, acumulas ira sobre ti no dia têm Lei, praticam naturalmente o que ela da ira de Deus, quando se revelará plena- ordena, tornam-se lei para si mesmos, mente o seu justo julgamento. muito embora não possuam a Lei; 6 Deus retribuirá a cada um segundo o 15 pois demonstram claramente que os seu procedimento. mandamentos da Lei estão gravados em 7 Ele concederá vida eterna aos que seu coração. E disso dão testemunho a perseverando em fazer o bem, buscam sua própria consciência e seus pensa- glória, honra e imortalidade. mentos, algumas vezes os acusando, 8 Por outro lado, reservará ira e indigna- em outros momentos lhe servindo por ção para todos os que se conservam ego- defesa. ístas, que rejeitam a verdade e preferem 16 Todos esses fatos serão observados na seguir a injustiça.4 humanidade, no dia em que Deus julgar 9 Ele trará tribulação e angústia sobre os segredos dos homens, por intermédio todo ser humano que persiste em pra- de Jesus Cristo, de acordo com as decla- ticar o mal, em primeiro lugar para o rações do meu Evangelho. judeu, e, em seguida, para o grego; 10 porém, glória, honra e paz para todo O crente deve ser fiel à Palavra aquele que perseverar na prática do bem; 17 Ora, tu que levas o nome de judeu, e te primeiro para o judeu, depois para o grego. fundamentas na Lei, e te glorias em Deus.7 11 Porquanto em Deus não existe parcia- 18 Tu que conheces a vontade de Deus lidade alguma. e aprovas as obras excelentes, porque és 12 Pois todos os que sem a Lei pecaram, instruído pela Lei. sem a Lei também perecerão; e todos os 19 Tu que estás certo de que foi chamado que pecarem sob a Lei, pela Lei serão para ser guia de cegos, luz para os que julgados.5 estão na escuridão, 13 Pois, diante de Deus, não são os que 20 mestre dos ignorantes, professor de 3 A bondade, graça e misericórdia de Deus têm como objetivo principal o arrependimento do ser humano. Os líderes religiosos judeus há muito tempo vinham interpretando a longaminidade e paciência do Senhor de forma errada, como se Deus – ao longo do tempo – deixasse de promover juízo e condenação sobre os pecadores contumazes (2Pe 3.9). 4 É importante ter sempre em mente que Paulo, em nenhum de seus escritos, jamais defendeu a necessidade de perfeição ética, vida monástica ou observância absoluta da Lei. Como fariseu, Paulo sabia muito bem da impossibilidade de um ser humano cumprir toda a Lei. Entretanto, se alguém julga ser capaz de obedecer a Lei ou algum padrão ético-religioso que o conduza a Deus, então o próprio Senhor o julgará mediante esse padrão estabelecido. Paulo está enfatizando que a única maneira de um pecador (como todos os seres humanos o são em menor ou maior grau) encontrar absolvição plena diante do juízo de Deus é morrendo com Cristo e ressuscitando com Ele (o Espírito Santo) para uma nova vida. Paulo refere-se às obras exigidas como confirmação da fé verdadeira, não como um meio para conquistar a salvação eterna. Com os privilégios espirituais vêm as responsabilidades espirituais (Am 3.2; Lc 12.38). 5 Os gentios (todos os não-judeus), são aqueles que “pecam sem a Lei”, pelo fato de a desconhecerem total ou parcialmente. Eles não serão julgados por uma Lei que desconhecem, mas certamente serão condenados por outros critérios, e especialmente pelo código de ética universal gravado por Deus na alma de todo homem (1.18-20; 2.15; Am 1.3 – 2.3). 6 Os que “obedecem à Lei” serão considerados justos. Entretanto, ninguém consegue cumprir toda a Lei (a Torá, Lei de Moisés). O argumento lógico desenvolvido por Paulo demonstra que um homem seria justificado se pudesse praticar a Lei, mas porque nenhum ser humano é capaz de guardá-la perfeitamente, então não pode haver justificação por esse meio (Tg 1.22-25). 7 Paulo usa em seu discurso o “diálogo com um interlocutor imaginário” (2.17-24), demonstrando o quanto conhecia seu povo e o pensamento teológico dos líderes judeus, a fim de dar mais ênfase às suas constatações. Citou um após outro os grandes orgulhos da religiosidade judaica para afirmar de que nada valiam diante de Deus, pois eram apenas conceitos teóricos e palavras pregadas sem a necessária demonstração da fé na vida prática diária. A expressão grega original diapheronta, aqui traduzida por “excelentes”, tem o sentido de “distinguir, discernir”. Pode significar a capacidade de “avaliar distinções morais” ou “reconhecer qualidades que se sobressaem devido ao seu valor eterno” (Fp 1.10). RM_B.indd 7 8/8/2007, 12:32:30
  • 7. ROMANOS 2, 3 8 crianças, porquanto têm na Lei a ex- Deus é fiel e justo pressão maior do conhecimento e da verdade. 21 Pois então, tu que tanto ensinas a ou- 3 Que vantagem pode haver, então, em ser judeu, ou que utilidade existe na circuncisão?1 tros, por que não educas a ti mesmo? Tu, 2 Muita, em todos os sentidos! Primeira- que pregas que não se deve furtar, furtas? mente, porque ao judeu foram confiadas 22 Tu, que ensinas que não se deve come- as palavras de Deus. ter adultério, adulteras? Tu, que abominas 3 Sendo assim, que importa se alguns os ídolos, mas lhes roubas os templos? desses judeus foram infiéis? A infidelida- 23 Tu, que te orgulhas da Lei, desonra a de deles conseguiria anular a fidelidade Deus, desobedecendo à própria Lei? de Deus? 24 Pois, como está escrito: “Por vossa cau- 4 Absolutamente não! Seja Deus verda- sa, o nome de Deus é blasfemado entre deiro, e todo homem mentiroso. Como todos os povos!”. está escrito: “Para que sejas justificado 25 Porquanto, a circuncisão tem valor se em tuas palavras, e sejas vitorioso quan- obedecerdes a Lei, mas, se tu não obser- do fores julgado”. vares a Lei, a tua circuncisão já se tornou 5 Mas, se a nossa injustiça ressalta de for- em incircuncisão.8 ma ainda mais nítida a justiça de Deus, 26 Se aqueles que não são circuncidados que concluiremos? Acaso Deus é injusto praticam os preceitos da Lei, não serão por aplicar a sua ira? Estou apenas refle- eles considerados circuncisos? tindo com a lógica humana. g 27 E aquele que é, por natureza incircun- 6 É evidente que não! Se fosse assim, ciso, mas cumpre a Lei, ele condenará como Deus julgará o mundo? a ti, que, mesmo tendo a Lei escrita e a 7 Mas, alguém pode alegar: “Se a minha circuncisão, és transgressor da Lei. mentira ressalta a veracidade de Deus, 28 Portanto, não é legítimo judeu quem engrandecendo ainda mais sua glória, simplesmente o é exteriormente, nem por que sou condenado como pecador?” é verdadeira, circuncisão a que é feita 8 Ora, por que não dizer como alguns apenas fora do coração, no corpo físico. caluniosamente afirmam que dizemos: 29 Absolutamente não! Judeu é quem o “Pratiquemos o mal para que nos sobre- é interiormente, e circuncisão é realizada venha o bem?” Por certo, a condenação na alma do crente, pelo Espírito, e não dos tais é merecida! apenas pela letra da Lei. Para todos estes, o louvor não provém dos homens, mas O ser humano é infiel e injusto de Deus!9 9 Qual a conclusão? Estamos nós em 8 A circuncisão (corte do prepúcio do órgão genital masculino) era um sinal da aliança que Deus estabeleceu com Israel e seu povo (Lv 12.3), e penhor de bênção decorrente dessa aliança (Gn 17.10,11). Contudo, na época de Jesus e Paulo, muitos líderes judeus já estavam considerando que um judeu circuncidado não podia ser condenado ao inferno. Ou seja, haviam transformado um ritual evocativo (um memorial) em uma cerimônia de garantia da salvação eterna e favor divino, independente da atitude de fé diária e seriedade com Deus, implícitas no próprio simbolismo do ato. A posição do NT se baseia em textos como Jr 9.25 e Dt 10.16. 9 A expressão original “Judeu” vem do hebraico antigo e deriva da palavra “Judá”, que significa “louvado” ou “objeto de elogio, que só tem valor quando vem de Deus”. Paulo faz aqui uma solene advertência (não somente aos judeus) contra os perigos da arrogância, presunção, confiança na justiça própria, e contra todo tipo de formalismo que confia em memoriais e rituais (como a Ceia e o batismo), que tem garantia em si mesmos da salvação eterna e das bênçãos de Deus àqueles que o recebem. O verda- deiro sinal de pertencer a Deus não é uma marca externa no corpo físico ou uma cerimônia especial de iniciação, mas o poder regenerador do Espírito Santo vindo habitar a alma do cristão sincero. Paulo denomina como “circuncisão operada no coração” o ato de arrependimento do pecador e a entrega incondicional de sua vida a Jesus para um novo nascimento (Dt 30.6). Capítulo 3 1 Paulo considera algumas das grandes realidades divinas: 1) Os oráculos de Deus são privilégios valiosíssimos entregues à hu- manidade. No entanto, a vantagem de possuir a Palavra de Deus (como no caso dos judeus e dos cristãos) implica necessariamente em responsabilidades e obrigações. 2) Deus é fiel. 3) Deus é justo. 4) Deus julgará e castigará todos os injustificados e pecadores, provando sua fidelidade e caráter justo (2Tm 2.13). 5) Deus é verdadeiro. Ele é a Verdade. 6) A glória de Deus. RM_B.indd 8 8/8/2007, 12:32:30
  • 8. 9 ROMANOS 3 posição de vantagem? Não! Já demons- 20 Portanto, ninguém será declarado jus- tramos que tanto judeus quanto gentios to diante dele confiando na obediência à estão todos subjugados pelo pecado. Lei, pois é precisamente por meio da Lei 10 Como está escrito: “Não há nenhum que chegamos à irrefutável conclusão de justo, nem ao menos um; que somos todos pecadores.4 11 não há uma só pessoa que entenda, ninguém que de fato busque a Deus.2 Justificados pela fé em Jesus 12 Todos se desviaram, tornaram-se 21 Entretanto, nesses últimos tempos, se juntamente inúteis; não há ninguém manifestou uma justiça proveniente de que pratique o bem, não existe uma só Deus, independente da Lei, mas da qual pessoa. testemunham a Lei e os Profetas; 13 Suas gargantas são como um túmulo 22 isto é, a justiça de Deus, por intermé- aberto; usam suas línguas para ludibriar, dio da fé em Jesus Cristo para todas as enquanto, debaixo dos seus lábios está o pessoas que crêem. Porquanto não há veneno da serpente. distinção.5 14 Suas bocas estão cheias de maldição e 23 Porque todos pecaram e destituídos amargura. estão da glória de Deus,6 15 Seus pés são rápidos para derramar 24 sendo justificados gratuitamente por sangue; sua graça, mediante a redenção que há 16 Os seus passos são marcados por des- em Cristo Jesus.7 truição e miséria; 25 Deus o ofereceu como sacrifício para 17 e não conhecem o caminho da paz. propiciação por meio da fé, pelo seu 18 Consideram que é inútil temer a sangue, proclamando a evidência da sua Deus”. justiça. Por sua misericórdia, havia dei- 19 Ora, sabemos que tudo o que a Lei diz, xado impunes os pecados anteriormente o diz aos que estão sob o domínio da Lei, cometidos; para que toda a boca se cale e todo mun- 26 mas, no presente, demonstrou a sua do fique sujeito ao juízo de Deus.3 justiça, a fim de ser justo e justificador 2 Paulo apresenta uma seqüência de citações do AT com o objetivo de confirmar sua teologia quanto à universalidade do pecado (vv.9-12). Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do poder e da condenação do pecado. As citações não são literais, pois a preocupação de Paulo (bem como de outros autores do NT) tinha um sentido geral e didático, não literal. Além disso, os gregos não usavam aspas para identificar as citações, na maioria das vezes extraídas da Septuaginta (a tradução grega do AT, originalmente escrito em hebraico). Em alguns casos, inspirados pelo Espírito Santo, os autores canônicos do NT fizeram uso das citações do AT, adaptando e aplicando-as de várias formas ao contexto que estavam abordando. 3 A Lei aqui tem a ver com os Salmos, Profetas e Provérbios. É uma referência clara quanto à igual autoridade de todo o AT. Assim como em Jo 10.34; 15.25; 1Co 14.21. 4 A finalidade principal dessa passagem não é apenas demonstrar a culpabilidade dos judeus e de todos os demais povos sobre a face da terra (os gentios), como também demonstrar que nenhum sistema religioso, nenhuma crença primitiva e restrita ou altamente aculturada, é capaz de salvar o ser humano da condenação ao afastamento eterno da presença de Deus. 5 Bendito “entretanto”! Havendo revelado que todos os seres humanos (tanto judeus como gentios) são naturalmente ímpios (tendem espontaneamente à pratica do mal – 1.18 – 3.20), Paulo apresenta a “boa notícia” de que Deus – presente – está oferecendo gratuitamente um (e único) meio de justificação para cada indivíduo da raça humana que, de forma voluntária, pessoal e sincera, nele crer de todo o seu coração: Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Messias prometido. 6 Ao pecar (palavra que em hebraico tem o sentido de “errar o alvo”), o ser humano se encontra em falta perante o ideal para o qual Deus o criou (Is 43.7). A glória que o homem possuía e desfrutava antes da Queda (Gn 1.26-28; Sl 8.5,6; Ef 4.24; Cl 3.10), o cristão sincero voltará a ter por intermédio de Jesus Cristo (Hb 2.5-9). 7 Paulo emprega o verbo “justificar” em 22 citações (especialmente de 2.13 a 5.1, e em Gl 2 e 3). Esse termo é fundamental na teologia paulina: 1) Negativamente, quando Deus declara o crente “não-culpado”; 2) Positivamente, quando Deus declara o crente “justo”, cancelando a sua culpa do pecado e creditando-lhe justiça. A palavra “redenção” (no original em grego apolutrõsis) era usada comumente, na época, no sentido de “comprar um escravo para dar-lhe a carta de plena liberdade”. Um paralelo significativo se observa na redenção de Israel da escravidão no Egito (Êx 15.13), do exílio na Babilônia (Is 41.14; 43.1), e em relação ao livramento eterno do crente da escravidão do pecado, porquanto Cristo, por meio de sua morte e ressurreição, pagou o resgate exigido para nossa libertação. RM_B.indd 9 8/8/2007, 12:32:31
  • 9. ROMANOS 3, 4 10 daquele que deposita toda a sua fé em 3 Entretanto, o que diz a Escritura? Jesus.8 “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi cre- 27 Onde está, pois, a razão para tanto or- ditado como justiça”. gulho? Foi completamente excluído! Por 4 Ora, o salário daquele que trabalha não qual lei? Das obras? Não, ao contrário, é considerado como favor, mas como pela lei da fé. dívida. 28 Concluímos, portanto, que o ser hu- 5 Todavia, ao que não trabalha, mas crê mano é justificado pela fé, independen- em Deus, que justifica o ímpio, sua fé lhe temente da obediência à Lei!9 é creditada como justiça. 29 Deus é Deus apenas dos judeus? Ora, 6 Assim, também, Davi fala da bem-aven- não é Ele igualmente Deus de todos os turança do homem a quem Deus leva em povos? Evidente que sim, dos gentios conta a justiça independente de obras: também, 7 “Como são felizes as pessoas que têm 30 visto que há um só Deus, que pela fé suas transgressões perdoadas, cujos pe- justificará os circuncisos e os incircun- cados são cancelados! cisos. 8 Bem-aventurado aquele a quem o Senhor 31 Anulamos, pois, a Lei por causa da fé? jamais cobrará o preço do pecado!”2 De modo algum! Ao contrário, confir- 9 Essa imensa felicidade é destinada ape- mamos a Lei.10 nas aos que fizeram a circuncisão, ou é também oferecida aos incircuncisos? Pois Abraão creu e foi justificado já afirmamos que, no caso de Abraão, a fé 4 Portanto, que diremos sobre nosso pai humano Abraão?1 2 Se de fato Abraão foi justificado pelas lhe foi creditada como justiça. 10 Em que momento lhe foi creditada? Antes ou depois de ter sido circuncida- obras, ele tem do que se orgulhar, mas do? De fato, não o foi depois, mas antes não diante de Deus. da circuncisão!3 8 A expressão “propiciação” vem do antigo hebraico, que traduzido para o termo grego na Septuaginta hilasterion, significa o lugar específico onde os pecados deviam ser expiados ou pagos (removidos), e que em grego era chamado de kapporeth (propiciatório). Através do sacrifício redentor de Jesus, o Filho; Deus, o Pai, remove o pecado do seu povo, não virtualmente ou simbolicamente como se dava nos rituais do passado (Lv 16), mas agora, em plena realidade físico-espiritual, eliminando definitivamente toda a culpabilidade humana perante Deus – o Supremo Juiz – e limpando completamente a consciência de cada indivíduo que aceita o sacrifício do Senhor como salvação para sua vida e, a partir dessa constatação, nasce de novo (Jo 3; 1Jo 2.2). 9 Quando Lutero estava traduzindo a Bíblia para a língua alemã, ao escrever esse versículo, fez questão de acrescentar a expressão restritiva “somente pela fé”. Ainda que o vocábulo “somente” não esteja nos originais gregos, reflete com exatidão o sentido geral da passagem (Tg 2.14-26). 10 Paulo faz uma bela e profunda analogia entre a importância e a exatidão da Lei; reconhecendo o primeiro artigo da Lei judaica, amado e defendido radicalmente por todos os judeus ao longo dos séculos: “O Senhor é um só Deus” (Dt 6.4), e a exaltação de Cristo – o Unigênito Filho de Deus – como único meio de Salvação para judeus e todos os gentios sobre a face da terra. Paulo percebe que será acusado de antinomismo (pregar ou agir contra a Lei). Contudo, apesar de mostrar que a Lei é impotente para salvar, e que esse poder opera somente em Jesus Cristo (capítulos 6 e 7), voltará a confirmar a validade da Lei na passagem do capítulo 13.18-10. Capítulo 4 1 Alguns traduções trazem a expressão “antepassado” quando se referem à ascendência paterna. Entretanto a KJ, neste caso, preservou a forma clássica “pai”. Paulo, sabiamente, exalta a memória do grande patriarca da nação israelita e verdadeiro exemplo de pessoa justificada (Tg 2.21-23) em sua carta aos judeus em Roma. Era comum, na época de Jesus, os mestres judeus citarem a vida de Abraão como exemplo de conquista do favor divino pelas obras. Entretanto, Paulo revela exatamente no pai dos judeus seu melhor exemplo de justificação pela fé (Gl 3.6-9). 2 Deus continua considerando e se entristecendo com os pecados cometidos pelo pecador arrependido (convertido). Contudo, o Espírito de Deus move esse pecador a reconhecer os erros praticados e confessar seus pecados ao Senhor, que o perdoa e lhe restitui a alegria espiritual do salvo (Sl 32.1-5; Ez 18.23,27,28,32; 33.14-16). 3 Abraão foi declarado justo cerca de quatorze anos antes de ser circuncidado (Gn 15; 17; Gl 3.17). Dessa forma, Abraão é também o pai (antepassado) de todos os crentes gentios (aqueles que não passaram pela circuncisão), porquanto Abraão creu e foi plenamente justificado antes mesmo que o ritual da circuncisão (o sinal dos judeus) fosse instituído. RM_B.indd 10 8/8/2007, 12:32:32
  • 10. 11 ROMANOS 4 11 Sendo assim, ele recebeu a marca da aos olhos de Deus, em quem Abraão circuncisão, como um selo da justiça que depositou sua fé, o Deus que dá vida aos ele tinha pela fé, quando ainda não era mortos e convoca à existência elementos circuncidado, para que fosse pai de todos inexistentes, como se existissem. os que crêem, ainda que não tenham sido 18 Abraão, crendo, esperou contra todos circuncidados, a fim de que a justiça fos- os prognósticos desfavoráveis, tornando- se creditada também a favor deles; se, assim, pai de muitas nações, como 12 ele é igualmente pai dos circuncisos ficou registrado a seu respeito: “Assim que não apenas passaram pela circun- será a sua descendência”. cisão, mas que também caminham 19 Sem desfalecer na fé, reconheceu que sobre as marcas dos passos da fé que seu corpo físico perdera a vitalidade de demonstrou nosso pai Abraão antes de outrora, pois já contava cerca de cem anos ser circuncidado. de idade, e que também o ventre de Sara 13 Porquanto, não foi pela Lei que não tinha o vigor do passado.5 Abraão, ou sua descendência, recebeu a 20 Mesmo considerando tudo isso, não promessa de que ele havia de ser o her- duvidou nem foi incrédulo quanto ao deiro do mundo; ao contrário, foi pela que Deus lhe prometera; mas, pela fé, se justiça da fé.4 fortaleceu, oferecendo glória a Deus,6 14 Pois se os que vivem pela Lei são her- 21 estando absolutamente convicto de deiros, a fé não tem valor e a promessa que Ele era poderoso para realizar o que é nula. havia prometido. 15 Porque a Lei produz a ira; mas onde 22 Por essa razão, “isso lhe foi atribuído não há Lei também não pode haver como justiça”. transgressão. 23 Todavia, não é somente para ele que 16 Por esse motivo, a promessa procede as palavras “isso lhe foi atribuído como da fé, para que seja de acordo com a gra- justiça” foram registradas, ça, a fim de que a promessa seja garanti- 24 mas igualmente para todos nós, a da a toda a descendência de Abraão, não quem Deus concederá justificação, a nós somente a que é da Lei, mas igualmente a que cremos naquele que ressuscitou dos que é da fé que Abraão teve. Ele, portan- mortos, a Jesus, nosso Senhor. to, é o pai de todos nós! 25 Ele foi entregue à morte para pagar 17 Como está escrito: “Eu o constituí todos os nossos pecados e ressuscitado pai de muitas nações”. Ele é o nosso pai para nossa completa justificação.7 4 Abraão é o pai de todos os crentes fiéis (judeus ou gentios – Gn 12.3). O domínio completo do mundo pertence à descendên- cia espiritual de Abraão (1Co 3.21, 6.2). Porém, a plena realização dessas promessas aguarda a consumação do Reino messiâni- co com o glorioso retorno de Jesus Cristo (Gn 12.7; 13.14,15; 15.7, 18.21; 17.8; Sl 37.9, 11, 22, 29, 34; Mt 5.5). 5 Abraão passou por momentos de preocupação e ansiedade (Gn 17.17,18), no entanto, o Senhor não viu nessas manifesta- ções nada que pudesse comprometer a sinceridade da fé de Abraão. A fé madura e firme não se recusa a reconhecer a realidade das dificuldades, mas as enfrenta com a segurança de quem tem plena certeza de que o Senhor dos exércitos, que está à sua frente, é também seu Pai amoroso. Sara era dez anos mais nova que Abraão, todavia há muito passara da idade de gerar filhos. Paulo afirma que Deus é capaz de criar do nada (como fez com o próprio Universo) e dar vida aos mortos, uma alusão ao nasci- mento de Isaque, quando Abraão e Sara há muitos anos estavam estéreis (Gn 18.11). Paulo segue em seu raciocínio até comparar a ressurreição de Cristo à promessa da nossa ressurreição, pois Ele é o doador da vida e da eternidade (v.24,25). 6 As obras são a tentativa desesperada da humanidade para conquistar algum direito de reivindicar o favor de Deus. Abraão demonstrou que a fé é a simples e sincera disposição do coração do crente em dar glória a Deus: Primeiro, pelo que já recebeu. Segundo, pela resposta amorosa que virá do seu Pai. Um pai sábio e amoroso não dá tudo o que seu filho pede, mas procura proporcionar-lhe sempre o melhor. 7 A expressão grega paradidõmi, “entregar”, aparece duas vezes na Septuaginta e tem a ver com as passagens de Is 53.6 e 12. Cristo foi entregue para ser sacrificado, e, assim, expiar definitivamente os pecados de todos os que nele crêem. Da mesma maneira, ressuscitou para garantir a plena justificação do seu povo que herdará as promessas do Seu Reino. Essas palavras de Paulo se tornaram uma espécie de credo confessional da igreja cristã primitiva. RM_B.indd 11 8/8/2007, 12:32:33
  • 11. ROMANOS 5 12 O justificado tem Paz com Deus 8 Porém, Deus comprova seu amor para 5 Portanto, havendo sido justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo,1 conosco pelo fato de ter Cristo morrido em nosso benefício quando ainda andá- vamos no pecado. 2 por intermédio de quem obtivemos 9 Agora, como fomos justificados por seu pleno acesso pela fé a esta graça na qual sangue, muito mais ainda, por intermé- agora estamos firmados, e nos gloriamos dio dele, seremos salvos da ira de Deus!4 na confiança plena da glória de Deus.2 10 Ora, se quando éramos inimigos de 3 Mas não somente isso, como também Deus fomos reconciliados com Ele me- nos gloriamos nas tribulações, porque diante a morte de seu Filho, quanto mais aprendemos que a tribulação produz no presente, havendo sido feitos amigos perseverança; de Deus, seremos salvos por sua vida.5 4 a perseverança produz um caráter 11 E, ainda mais, se nos gloriamos também aprovado; e o caráter aprovado produz em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, confiança. por intermédio de quem recebemos, 5 E a confiança não nos decepciona, por- agora, completa reconciliação. que Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Morte em Adão, Vida em Cristo Ele mesmo nos outorgou.3 12 Concluindo, da mesma forma como o 6 Em verdade, no devido tempo, quando pecado ingressou no mundo por meio de ainda éramos fracos, Cristo morreu por um homem, e pelo pecado a morte, assim todos os ímpios. também a morte foi legada a todos os seres 7 Sabemos que é muito difícil que humanos, porquanto todos pecaram.6 alguém se disponha a morrer por um 13 Porque antes de ser promulgada a Lei, justo; embora por uma pessoa que se o pecado já estava no mundo; todavia, o dedique ao bem, talvez, alguém tenha a pecado não é levado em conta quando coragem de dispor sua vida. não existe a lei. 1 Paulo fala de um novo status diante de Deus, não apenas de um sentimento de tranqüilidade e leveza de alma. Antes de s aceitarmos o sacrifício vicário de Jesus como a nossa única e completa justificação perante a Lei divina, estávamos condenados a viver como inimigos de Deus, separados de sua paternidade. Agora, porém, fomos elevados à posição de “amigos de Deus” e seus filhos (v.10; Ef 2.16; Cl 1.21,22; Hb 12.6-8 de acordo com Mt 5.10-12 e Sl 43.4). 2 Foi Jesus quem nos elevou à presença do Pai, ao rasgar a robusta e resistente cortina da Lei (que ficava no templo) e que fazia separação entre o homem e Deus (Mt 27.51). O cristão recebe em seu coração, pelo Espírito Santo, a “esperança revestida de certeza absoluta”, de que o propósito para qual o Senhor o criou será perfeitamente realizado (3.23). 3 A confiança (esperança com certeza) em Deus não confunde e jamais nos decepcionará, como é comum ocorrer na confiança que colocamos em nossos semelhantes. Paulo faz uma citação que está na Septuaginta (Is 28.16) e a repete em Rm 9.33 e 10.11. A expressão no original tem o sentido de não se envergonhar pela frustração, pois o Senhor jamais faltará com Sua Palavra e cumprirá todas as Suas promessas (Rm 4.20,21). 4 O cristão sincero está livre da condenação final e do Dia da Ira do Senhor sobre os incrédulos e ímpios (1Ts 1.10 e 5.9). Quando Cristo morreu sacrificialmente, a nossa dívida de pecado contra Deus e a Lei foi totalmente liquidada. Quando aceitamos a Cristo, pela fé, nos apropriamos da Salvação. Por isso, no futuro, receberemos todo o complemento da indescritível e infalível Graça de Deus. Estes são os três aspectos da nossa redenção. 5 É importante notar que o homem escolheu ser inimigo de Deus ao desobedecer sua ordem explícita (Gn 3). Entretanto, Ele nunca se considerou inimigo do homem. Ao contrário, durante toda a história da humanidade, Deus vem disponibilizando formas de o ser humano reconhecer seus erros e voltar-se ao Pai (a Lei, os Profetas e, por fim, Jesus, o próprio Deus encarnado. Veja o v.11 e Cl 1.21,22). Somos salvos perpetuamente (de uma vez por todas) porquanto Cristo vive eternamente (Hb 7.25). A expressão “reconciliados” vem do termo grego original katallassein que significa “mudar radicalmente” ou “trocar a essência”. Assim, nossa relação com Deus “mudou” por meio da morte vicária do Seu Filho Jesus, e passamos da posição de inimigos para filhos amados (2Co 5.18-20). 6 Adão representa a tendência do ser humano para o pecado, a indiferença do homem em relação ao amor do Criador e a condenação de toda a raça humana à eterna separação de Deus (1.18 – 3.20). Jesus Cristo representa a plena e eterna justifica-ção do crente (3.21 – 5.11). Portanto, a nova raça unida a Cristo (os nascidos de novo, conforme Jo 3) tem um novo e esplêndido princípio de vida (natureza de Deus) habitando e trabalhando diariamente em sua alma: o Espírito Santo. Isso significa que há uma relação inseparável entre justificação e santificação (desenvolvimento de um caráter mais parecido com o de Jesus Cristo – capítulos 6 a 8). RM_B.indd 12 8/8/2007, 12:32:33
  • 12. 13 ROMANOS 5, 6 14 No entanto, a morte reinou desde a tornaram pecadores, assim também, por época de Adão até os dias de Moisés, intermédio da obediência de um único mesmo sobre aqueles que não comete- homem, muitos serão feitos justos. ram pecado semelhante à desobediência 20 A Lei foi instituída para que a trans- de Adão, o qual era uma prefiguração gressão fosse ressaltada. Mas onde abun- daquele que haveria de vir. dou o pecado, superabundou a graça,7 15 Contudo, não há comparação entre o 21 para que, assim como o pecado reinou dom gratuito e a transgressão. Pois, se na morte, assim também reine a graça muitos morreram por causa da desobe- pela justiça para outorgar vida eterna, diência de um só, muito mais a graça de por intermédio de Jesus Cristo, nosso Deus e o dom pela graça de um só Senhor. homem, Jesus Cristo, transbordou para multidões! Libertos do poder do pecado 16 Por isso, não se pode comparar a graça de Deus com a conseqüência do pecado de um só homem; porquanto, 6 Então, qual seria a conclusão? Deve- mos continuar pecando a fim de que a graça seja ainda mais ressaltada? o julgamento derivou de uma só ofensa 2 De forma alguma! Nós que morremos que resultou em condenação, mas o dom para o pecado, como seria possível dese- gratuito veio de muitas transgressões e jar viver sob seu jugo?1 trouxe a justificação. 3 Ou ignoreis que todos nós, que fomos 17 Pois, se pela transgressão de um só batizados em Cristo Jesus, fomos igual- homem, a morte reinou por meio desse, mente batizados na sua morte? muito mais os que recebem da transbor- 4 Portanto, fomos sepultados com Ele dante provisão da graça, e do dom da na morte por meio do batismo, com o justiça, reinarão em vida por intermédio propósito de que, assim como Cristo de um único homem: Jesus Cristo! foi ressuscitado dos mortos mediante a 18 Portanto, assim como uma só trans- glória do Pai, também nós vivamos uma gressão determinou na condenação de nova vida.2 todos os seres humanos, assim igual- 5 Se desse modo fomos unidos a Ele na mente um só ato de justiça resultou semelhança da sua morte, com toda a na justificação que traz vida a todos os certeza o seremos também na semelhan- homens. ça da sua ressurreição. 19 Sendo assim, como por meio da de- 6 Pois temos conhecimento de que a sobediência de um só homem muitos se nossa velha humanidade em Adão foi 7 A Lei foi introduzida não para proporcionar a redenção, mas para enfatizar o quanto essa redenção plena e total se fazia neces- sária. Com a Lei o pecado, ficou ainda mais evidente, marcando claramente seu contraste em relação à santidade de Deus Capítulo 6 1 Essa é uma pergunta reflexiva, fruto da afirmação que Paulo acabara de fazer em 5.20, a fim de responder a alguns líderes judeus que o estavam acusando de pregar uma doutrina antinômica (contrária à Lei). Eles estavam confundindo a teologia da justificação somente por meio da fé em Cristo, com a pregação de um estilo de vida libertino e moralmente irresponsável. Paulo enfatiza, em seus ensinos, que há dois resultados inequívocos da nossa maravilhosa união com Cristo: 1) A remoção completa de nossas culpas pela morte sacrificial de Jesus Cristo; 2) A eficácia da ressurreição do Senhor, originando uma nova vida de santidade que envolve toda a alma, consciência e corpo físico do cristão sincero, e que dia a dia transforma-lhe o caráter à imagem de Cristo (Imago Dei). Os principais indícios do novo nascimento são justamente a vontade imensa de adorar a Deus, comunhão com os irmãos, fome pela Palavra, disposição para evangelizar o mundo e a busca perseverante por uma vida santa, contudo, sem legalismo ou fanatismo. 2 Na época em que o NT estava sendo escrito, o batismo se seguia tão rapidamente ao arrependimento e à conversão, que os dois atos eram considerados parte de um só grande acontecimento: o novo nascimento (At 2.38). Portanto, embora a cerimônia do batismo, especialmente em nossos dias, não seja o meio para estabelecermos um relacionamento vital com Cristo por meio da fé, esse símbolo está estreitamente relacionado à disposição de crer. Mediante a fé estamos unidos a Jesus Cristo, assim como, por meio do nosso nascimento natural, ficamos unidos a Adão (o primeiro ser humano). O batismo simboliza nossa morte para o pecado que herdamos do pai da raça humana (Adão), e nossa ressurreição com Cristo para uma vida eterna de adoração e santidade diante de Deus. RM_B.indd 13 8/8/2007, 12:32:34
  • 13. ROMANOS 6 14 crucificada com Ele, a fim de que o cer domínio sobre vós, pois não estais corpo sujeito ao pecado fosse destruído, debaixo da Lei, mas debaixo da Graça!4 para que nunca mais venhamos a servir ao pecado. Súditos da Justiça pela Graça 7 Porquanto, todo aquele que morreu já 15 Que resposta dar? Vamos nos atirar ao foi justificado do pecado. pecado porque não estamos sob o jugo 8 E mais, se morremos com Cristo, cre- da Lei mas sob o poder da lei da Graça? mos que também com Ele viveremos! Não! De forma alguma. 9 Pois sabemos que, havendo sido res- 16 Não estais informados de que ao vos suscitado dos mortos, Cristo não pode entregardes a alguém como escravos morrer novamente; ou seja, a morte não para lhe obedecer, sois escravos deste tem mais qualquer poder sobre Ele. a quem obedeceis, seja do pecado para 10 Porque ao morrer para o pecado, mor- a morte, seja da obediência que leva à reu de uma vez por todas para o pecado, justiça?5 todavia, quanto ao viver, vive para Deus. 17 Todavia, graças a Deus, porquanto, 11 Assim, desta mesma maneira, conside- embora havendo sido escravos do pe- rai-vos mortos para o pecado, mas vivos cado, obedecestes de coração à forma do para Deus, em Cristo Jesus. ensino a que fostes submetidos. 12 Portanto, não permitais que o pecado 18 Vós fostes libertos do pecado e vos domine vosso corpo mortal, forçando- tornaram escravos da justiça. vos a obedecerdes às suas vontades. 19 Expresso-me, assim, nos termos do 13 Tampouco, entregais os membros do homem comum, por causa da fraqueza vosso corpo ao pecado, como instru- da vossa carne. Pois, assim, como apre- mentos de iniqüidade; antes consagrai- sentastes os membros do vosso corpo vos a Deus com quem fostes levantados como escravos da impureza e da maldade da morte para a vida; e ofereçais os que conduz a iniqüidades ainda maiores; vossos membros do corpo a Ele, como apresentai, a partir de agora, todos os instrumentos de justiça.3 membros do vosso corpo como escravos 14 Porquanto o pecado não poderá exer- da justiça para a santificação.6 3 Esse é um chamado eloqüente para que o cristão sincero torne-se, na vida diária e em seus relacionamentos, aquilo que ele já é por posição: morto para esse sistema mundial pecaminoso e para o seu pecado que, mesmo agonizante, luta por fazer prevalecer suas vontades na alma do crente (vv. 5-7); e vivo para adorar e servir a Deus (vv. 8-10). Após essa tomada de posição, o próximo passo em direção à vitória do cristão sobre o pecado é a decisiva e perseverante recusa de permitir que o pecado volte a dominar sua vida, decisões éticas e morais (v.12). Finalmente, o último passo tem a ver com a entrega absoluta da vida (todos os aspectos e recônditos da alma) do crente aos cuidados paternos e poderosos de Deus, que agora habita em seu corpo na pessoa do Espírito Santo (v.13). 4 Paulo compreendia o pecado como uma espécie de poder escravizador, e por isso o personificou. O crente em Cristo não está livre das suas responsabilidades em relação à verdade e à justiça, nem tampouco da autoridade moral dos mandamentos de Deus. O que Paulo está ensinando é que não estamos sujeitos à Lei mosaica da mesma forma que os judeus do AT estavam, e que ela não oferece nenhuma capacitação para vencermos o poder do pecado introduzido na terra desde Adão. A Lei, em termos práticos, é o código penal diante do qual estamos todos condenados. A graça, entretanto, oferece ao cristão sincero plena capacitação (Tt 2.11,12). 5 Os versículos de 15 a 23 apresentam uma analogia entre a teologia da redenção e o procedimento ético do mercado de escravos, prática muito comum nos tempos do NT. O escravo está sob a obrigação moral de servir o seu mestre (de onde vem a nossa forma de tratamento, em português: sinhá, dona; sinhô, dono) até a morte. Uma vez morto, o dono não tem mais autoridade ou poder algum sobre a alma dele. Desse mesmo modo, acontece com o crente em Cristo. O seu “velho dono”, o pecado, não tem mais direito sobre sua vida ou vontades, uma vez que já morreu com Cristo. 6 Paulo pede desculpas por usar uma analogia ligada à escravidão, assunto bastante popular em sua época, mas sobre o qual os judeus tinham ojeriza. O povo judeu sempre acreditou na liberdade que Deus outorgou aos homens. No entanto, os judeus foram feitos escravos por muitos povos durante longos períodos da história da humanidade. A comparação de Paulo, porém, é ideal para ilustrar uma grande verdade universal: ou se é escravo (servo) de Deus ou do Diabo. Essa forma de doutrina refere-se a um sumário de ética cristã, baseado nos ensinos de Jesus Cristo, que normalmente era ministrado aos convertidos na igreja primitiva, a fim de discipular os novos crentes nos primeiros passos da vida cristã. RM_B.indd 14 8/8/2007, 12:32:34
  • 14. 15 ROMANOS 6, 7 20 Porque, quando éreis escravos do pe- restes quanto à Lei mediante o corpo de cado, estáveis livres em relação à justiça. Cristo, para pertencerdes a outro, àquele 21 E que fruto colhestes, então, das atitudes que ressuscitou dentre os mortos, a fim das quais agora vos envergonhais? Pois o de que frutifiquemos para Deus. resultado final delas é a morte! 5 Pois quando éramos dominados pela 22 Contudo, agora libertos do pecado, e natureza pecaminosa, as paixões dos pe- tendo sido transformados em escravos cados, instigadas pela própria Lei, agiam de Deus, tendes o vosso fruto para a san- livremente em nosso corpo, de maneira tificação, e por fim a vida eterna.7 que dávamos frutos para a morte. 23 Porque o salário do pecado é a morte, 6 Mas, agora, fomos libertos da Lei, haven- mas o dom gratuito de Deus é a vida do morrido para aquilo que nos aprisio- eterna por intermédio de Cristo Jesus, nava, para servimos de acordo com a nova nosso Senhor! ministração do Espírito, e não conforme a velha forma da Lei escrita.3 A relação entre Lei e Graça 7 Caros irmãos, falo convosco como conhecedores da Lei. Acaso não sa- beis que a Lei tem autoridade sobre uma A Lei condena, Jesus liberta 7 Portanto, que concluiremos? A Lei é pe- cado? De forma alguma! De fato, eu não pessoa apenas enquanto ela vive?1 teria como saber o que é pecado, a não 2 Por exemplo, pela Lei a mulher casada ser por intermédio da Lei. Porquanto, está ligada ao marido enquanto ele vive; na realidade, eu não haveria conhecido a mas, se ele morrer, ela está livre da lei do cobiça, se primeiro a Lei não tivesse dito: casamento. “Não cobiçarás”. 3 Por isso, se ela se casar com outro ho- 8 Mas o pecado, aproveitando-se da oca- mem, enquanto seu marido ainda estiver sião dada pelo mandamento, provocou vivo, será considerada adúltera. Mas se em mim todo o tipo de cobiça; porque, o marido morrer, ela estará livre daquela onde não há lei, o pecado está morto. lei, e mesmo que venha a se casar com 9 Antes eu vivia sem a Lei; mas quando outro homem, não estará adulterando.2 veio o mandamento, o pecado reviveu, e 4 Assim também, vós, meus irmãos, mor- eu fui ferido de morte;4 7 Ser sinceramente devotado a Deus produzirá, inevitavelmente, santidade. E o final desse processo é a vida eterna. Não existe vida eterna sem santidade (Hb 12.14). Todo aquele que já passou pela justificação (o primeiro ato da salvação que é composta de justificação, santificação e glorificação), com toda certeza, demonstrará, por meio de suas atitudes diárias, evidências desse fato. Uma pessoa que não está sendo santificada (purificada pelo Espírito Santo) em seus pensamentos e atitudes deve avaliar se realmente houve, em algum momento, um arrependimento sincero do seu coração na presença do Espírito de Cristo e, portanto, a justificação. Capítulo 7 1 Paulo tem em mente tanto a Lei mosaica quanto a lei divina, no seu sentido mais universal e implicações gerais. Assim também quanto ao homem, Paulo não se limita a uma análise simplista do crente e do não convertido, mas vai além e investiga a complexidade do ser humano quanto à sua tendência natural para o mal (o ser humano sempre se sentiu atraído pelo proibido), enquanto sua consciência íntima aponta para o bem e a verdade; como se a alma humana, embora nesse mundo, tivesse saudades da casa paterna, mas vontade de ceder à cobiça da carne (todas as ambições de prazer e glória). 2 No cap. 6, Paulo faz uma analogia do compromisso que há entre o escravo e seu senhor (dono). Em 7.1-6, a ilustração utilizada é a do compromisso (aliança, contrato) celebrado no casamento. Paulo demonstra que a liberdade da Lei é a mesma que uma esposa tem em relação ao seu marido. A relação é de simples entendimento: assim como a morte do marido dissolve o vínculo formal entre o marido e a esposa, a morte do crente com Cristo quebra o jugo da Lei. O cristão está, portanto, livre do domínio do pecado para unir-se a Cristo, que jamais morrerá novamente, o que significa, que essa nova união não terá fim (6.9; 7.4). 3 A antítese entre o espírito e a simples letra escrita aponta para um novo tempo, aquele em que a “nova aliança” de Jeremias se realiza (Jr 31.31). A “letra” transmite o sentido de guardar tudo o que a Lei determina no seu aspecto exterior (cumprir o que está escrito sem maiores reflexões ou interpretações subjetivas), à base da força de vontade e na capacidade moral dos homens. O “espírito” refere-se às novas relações e forças produzidas em Cristo pelo Espírito Santo. 4 Paulo faz uma análise da sua própria experiência de vida, ao mesmo tempo em que considera a existência de todos os homens, a partir do seu conhecimento atual da graça divina em Cristo Jesus. Antes de se dar conta de que a Lei existia com tamanho vigor, poder e rigidez, e de que estava condenado à morte, o menino Paulo vivia alegre e em paz. Com a chegada do seu RM_B.indd 15 8/8/2007, 12:32:35
  • 15. ROMANOS 7 16 10 e descobri que o mandamento que era determina o meu agir, mas sim o pecado para vida, transformou-se em morte para que habita em mim. mim.5 18 Porque sei que na minha pessoa, isto é, 11 Porquanto o pecado, valendo-se do na minha carne, não reside bem algum; mandamento, iludiu-me, e por meio porquanto, o desejar o bem está presente dele me matou. em meu coração, contudo, não consigo 12 De maneira que a Lei é santa, e o man- realizá-lo.8 damento, santo, justo e bom. 19 Pois o que pratico não é o bem que al- 13 Portanto, isso significa que o que era mejo, mas o mal que não quero realizar, bom tornou-se morte para mim? De esse eu sigo praticando. forma alguma! Mas o pecado para que 20 Ora, se faço o que não quero, já não se revelasse como pecado, produziu em sou eu quem o realiza, mas o pecado que mim a morte por intermédio do que reside em mim. era bom; a fim de que, por meio do 21 Assim, descubro essa Lei em minha mandamento, o pecado se demonstrasse própria carne: quando quero fazer o extremamente maligno.6 bem, o mal está presente em mim. 14 Porquanto é do nosso pleno conheci- 22 Pois no íntimo da minha alma tenho mento de que a Lei é espiritual; eu, en- prazer na Lei de Deus; tretanto, sou limitado pela carne, pois fui 23 contudo, vejo uma outra lei agindo vendido como escravo ao pecado. nos membros do meu corpo, guerreando 15 Pois não compreendo meu próprio contra a lei da minha razão, tornando- modo de agir; porquanto o que quero, me prisioneiro da lei do pecado que atua isso não pratico; entretanto, o que detes- em todos os meus membros. to, isso me entrego a fazer.7 24 Miserável ser humano que sou! Quem 16 Ora, e se faço o que não desejo, tenho me libertará deste corpo de morte?9 que admitir que a Lei é boa. 25 Graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso 17 Nesse sentido, não sou mais eu quem Senhor! De modo que, eu mesmo com bar mitzvah (importante cerimônia judaica na qual o jovem, aos 13 anos, passa a ser responsável pelo cumprimento da Lei), bem como na vida adulta, quando as demandas do seu vínculo com os fariseus amadureceram suas convicções legais e institucionais, e, por fim, quando do seu encontro com Cristo, fato que determinou sua conversão, Paulo chegou à conclusão que estava morto, “porque o salário do pecado é a morte” (6.23; Lc 18.20,21; Fp 3.6). 5 O que aconteceu na prática foi que a Lei veio a ser a via de acesso do pecado, tanto na experiência de Paulo quanto para toda a humanidade. Em vez de conceder vida, a Lei produziu condenação; em lugar de promover a santidade, provocou o pecado. Todavia, a responsabilidade pelo pecado não está na Lei, uma vez que ela foi criada por Deus para ajudar os seres humanos a ordenar, suas prioridades, identificarem o certo do errado, o bem do mal, e a viverem em paz e fraternidade uns com os outros. Portanto, a Lei é santa, justa e boa (v.12). 6 O pecado e seu pai (o Diabo) usaram a santa Lei de Deus para uma finalidade ímpia (a morte). Esse fato revela quão despre- zíveis são o nosso Inimigo e suas artimanhas. 7 Paulo fala da própria intimidade da sua alma e de suas lutas como homem e como cristão, ao mesmo tempo em que se refere a um conflito comum a todos os seres humanos. Até mesmo o crente mais santificado tem dentro de si a semente da rebelião que herdou de Adão, a qual vem sendo explorada pelo Diabo de geração em geração desde a Queda (Gn 3). Paulo é eloqüente quando usa a expressão “fui vendido como escravo ao pecado”, para retratar como todos nós passamos pela experiência de ser subjugados pelo poder deste mundo e do pecado. E, mesmo após a conversão, o pecado agonizante procura nos ferroar persistentemente. Paulo, ainda, revela que nossas lutas interiores provocam todo tipo de tensão, ambivalência, confusão e frustrações. 8 Paulo faz uma humilde e honesta declaração em relação à tenacidade do pecado em tentar controlar a vida dos crentes (v.17). No v.18 ele se refere ao estado caído do ser humano, como denota a parte inicial da frase. Evidentemente, ele não está dizendo que não pode haver a mínima bondade prática nos cristãos. 9 Paulo usa o corpo como metáfora de um cadáver que pesava sobre suas costas, mas que era de sua responsabilidade equilibrá-lo para que não caísse ou alterasse o curso do seu trajeto ao carregá-lo (6.6). O cristão vive em dois mundos ao mesmo tempo e isso causa muitas aflições. Este é o motivo pelo qual a carne batalha contra o Espírito e o Espírito batalha contra a carne, porquanto são opostos entre si (Gl 5.17). A vitória contra esse inimigo (a disposição para o pecado que persiste em nós) não vem sem muita luta, mas ao longo do nosso tempo de caminhada cristã e amadurecimento espiritual. Graças a Deus a vitória virá por Cristo, e isso está maravilhosamente descrito no capítulo seguinte. RM_B.indd 16 8/8/2007, 12:32:35
  • 16. 17 ROMANOS 7, 8 a razão sirvo à Lei de Deus, mas com a ga de Deus, pois não se submete à Lei de carne à lei do pecado. Deus, nem consegue fazê-lo. 8 Os que vivem na carne não podem O Espírito guia os filhos de Deus agradar a Deus.3 8 Portanto, agora não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.1 9 Vós, contudo, não estais debaixo do do- mínio da carne, mas do Espírito, se é que de fato o Espírito de Deus habita em vós. 2 Porque a lei do Espírito da vida, em Todavia, se alguém não tem o Espírito de Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado Cristo, não pertence a Cristo. e da morte. 10 Porém, se Cristo está em vós, o corpo 3 Porquanto, aquilo que a Lei fora in- está morto por causa do pecado, mas o capaz de realizar por estar enfraquecida espírito vive por causa da justiça. pela natureza pecaminosa, Deus o fez, 11 E, se o Espírito daquele que ressuscitou enviando seu próprio Filho, à semelhan- dos mortos a Jesus habita em vós, aquele ça do ser humano pecador, como oferta que ressuscitou dos mortos a Cristo Jesus pelo pecado. E, assim, condenou o igualmente vos dará vida a seus corpos pecado na carne,2 mortais, por intermédio do seu Espírito 4 para que a justa exigência da Lei se que habita em vós.4 cumprisse em nós, que não andamos 12 Portanto, irmãos, estamos em dívida, segundo a natureza carnal, mas segundo não para com a natureza carnal, para o Espírito. andarmos submissos a ela. 5 Os que vivem segundo a carne têm a 13 Porque, se viverdes de acordo com a mente voltada para as vontades da na- carne, certamente morrereis; no entanto, tureza carnal, entretanto, os que vivem se pelo Espírito fizerdes morrer os atos de acordo com o Espírito, têm a mente do corpo, vivereis. orientada para satisfazer o que o Espírito 14 Porquanto, todos os que são guiados deseja. pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 6 A mentalidade da carne é morta, mas a 15 Pois vós não recebestes um espírito mentalidade do Espírito é vida e paz. que vos escravize para andardes, uma 7 Porque a mentalidade da carne é inimi- vez mais, atemorizados, mas recebestes 1 Essas são as “boas novas” (o Evangelho): 1) A Lei incita, ressalta e condena o pecado. Todavia, o cristão não está “debaixo da Lei” (6.4); 2) O crente “em Cristo” é incorporado plenamente ao Corpo de Cristo, mediante o Espírito (1Co 12.13); 3) O Corpo, que teve início na morte e ressurreição, tem Jesus Cristo como cabeça e inclui todos os remidos como Seus membros (Ef 1.22,23); 4) A autoridade que governa o Corpo não é mais a Lei, tampouco a natureza carnal, muito menos o pecado, mas a Lei do Espírito, que significa: liberdade (v.2). Pelo Espírito, o cristão é liberto do cativeiro do pecado. 2 Deus se identificou perfeitamente com o ser humano na pessoa de Jesus Cristo, porém sem ter cometido pecado algum (2Co 5.21). Constituindo-se no único e verdadeiro Homem sem pecado, cumpriu integralmente o plano original de Deus para o ser humano. A expressão “oferta pelo pecado” (que não foi traduzida por algumas versões) consta da Septuaginta como peri hamartias, expressão grega derivada do antigo termo hebraico hatta´th, que significa literalmente “oferta para o pecado”. 3 Paulo não se refere à carne como substância física, mas sim ao caráter moral e ético da expressão. É o campo (área de nossa vida) ao qual o poder do pecado e do Diabo tem acesso e controle, e no qual as obras próprias da natureza carnal são concebidas e praticadas (Gl 5.19-21). Após a morte e ressurreição de Jesus, existem apenas dois grandes campos: “a carne” e “o Espírito”. É impossível viver nos dois lugares simultaneamente (v.9). A Lei não perdeu sua relevância na vida do cristão. Contudo, ela não tem em si o poder da salvação do pecador condenado. Sua autoridade, no entanto, se aplica à orientação moral e ética do crente, que a interpreta e obedece, por amor a Cristo, mediante o esclarecimento e poder do Espírito Santo que agora habita seu espírito, alma e corpo (1Ts 5.23). 4 Todos os corpos (cristãos ou não) estão sujeitos à morte e decomposição física, conseqüência do pecado original (Gn 3). A ressurreição da alma e do corpo dos crentes para a vida eterna está garantida mediante a presença do Espírito Santo que neles habita. Presença esta evidenciada por uma vida controlada pelo próprio Senhor Jesus. Uma vida sob o domínio do Espírito é o selo de garantia total de que desde aqui e agora nossa ressurreição está certa (1Co 6.14; 15.20,23; 2Co 4.14; Fp 3.21; 1Ts 4.14). RM_B.indd 17 8/8/2007, 12:32:36