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Vieira: Pregador e  Diplomata
Chegado do Brasil, em 1641, na comitiva de aclamação ao rei D. João IV, o P. António Vieira destaca-se, desde logo, devido ao sucesso dos seus sermões em Lisboa, tendo sido nomeado confessor do rei e pregador da corte, além de conselheiro. Graças aos seus dotes oratórios e, certamente, à sua capacidade de sedução, rapidamente se impõe na Corte e os seus sermões são ouvidos pela melhor sociedade lisboeta. Defende uma política de tolerância para com os cristãos-novos, de forma a garantir o seu apoio à causa portuguesa, na luta contra Espanha. Em 1646 foi incumbido de diversas acções diplomáticas, tendo passado por várias capitais europeias, só regressando a Lisboa em 1648.  O prestígio adquirido por Vieira em Lisboa e o acolhimento favorável que o rei lhe fez estão, em parte, relacionados com a importância que a oratória sacra assumia na época. Os sermões proferidos pelos padres diante dos seus fiéis eram praticamente a única forma de comunicação social e, portanto, a melhor maneira de divulgar entre a população as ideias favoráveis à restauração da independência.
Entre 1646 e 1650 o P. António Vieira foi incumbido de várias missões diplomáticas no estrangeiro, tendentes a conseguir o reconhecimento da nova situação portuguesa entre os principais países europeus, por um lado, e o estabelecimento de um entendimento amigável com a Holanda, relativamente às possessões coloniais, por outro. A preocupação de fortalecer a coroa portuguesa leva-o a defender uma política de tolerância face aos judeus de origem portuguesa espalhados pela Europa. Vieira pretende envolvê-los nos projectos portugueses, garantindo-lhes uma relativa segurança face às perseguições da Inquisição. Para esse efeito, conta com o apoio do rei D. João IV. Como resultado dessa política, surge uma companhia para a exploração das colónias brasileiras com a participação de vultosos capitais hebraicos.  As suas posições em defesa dos cristãos-novos valeram-lhe a desconfiança da Inquisição, que, em 1649, tentou obter a sua expulsão da Companhia de Jesus. Em 1650 é-lhe confiada nova missão diplomática em Roma. Continua a denunciar os abusos da Inquisição e a sua presença torna-se incómoda.
Em 1652 regressa ao Brasil, tendo desembarcado em São Luís do Maranhão, em Janeiro de 1653. Volta a dedicar-se à evangelização dos índios no Maranhão. Entra em conflito com os colonos portugueses por tentar defender os indígenas da violência dos europeus. Fica famoso o Sermão de Santo António aos Peixes, proferido naquela cidade.  Coincidindo com o regresso de Vieira ao Brasil, chegou uma carta real que proibia a escravidão dos índios. Ora, toda a economia do nordeste brasileiro dependia da mão de obra escrava. A carência de escravos negros levava muita gente a escravizar os índios. Desse modo, é fácil compreender que a determinação real não fosse acatada, o que não impediu os colonos de responsabilizar os jesuítas pela decisão.  Por esse motivo, Vieira volta a Lisboa em 1654, para tentar obter do rei protecção mais eficaz para os índios brasileiros, o que consegue. É aqui que profere um dos seus sermões mais conhecidos, o Sermão da Sexagésima. De novo no Brasil, continuou a desenvolver esforços para proteger os indígenas. A hostilidade dos colonos foi crescendo e em 1661 expulsaram mesmo os jesuítas do Maranhão.
Vieira teve que voltar a Lisboa, mas entretanto o rei D. João IV havia morrido. O ambiente em Portugal é-lhe agora pouco propício. A Santa Inquisição aproveita as circunstâncias favoráveis e instaura-lhe um processo. A acusação de heresia apoiava-se nos escritos messiânicos de António Vieira — Esperanças de Portugal, V Império do Mundo. É mantido em prisão desde 1664 até 1668, quando é libertado, devido à alteração das condições políticas: D. Afonso VI havia sido interditado e seu irmão, o futuro D. Pedro II, assumira a regência do reino.  Os anos seguintes passou-os em Roma (1669-1675), lutando pela sua reabilitação e continuando a promover a causa dos cristãos-novos e a reforma do Santo Ofício. Adquire fama de grande pregador em Itália, sendo nomeado pregador da rainha Cristina, que se convertera ao cristianismo e abdicara do trono da Suécia, instalando-se em Roma.  Em 1675 regressa a Lisboa, protegido do Santo Ofício por um breve papal. Começa a preparar a edição dos seus Sermões, cujo primeiro volume sai em 1679. Regressa definitivamente ao Brasil em 1681 e retoma a luta pela defesa dos índios. Em 1687 foi nomeado visitador-geral das missões do Brasil. Faleceu na Baía, a 18 de Julho de 1697.
Sugestão: Visione o filme de Manoel de Oliveira “Palavra e Utopia”, com Lima Duarte e Luís Miguel Cintra, inspirado na vida e obra do P. António Vieira.  Obras consultadas Breve História da Literatura Portuguesa, Texto Editora, Lisboa, 1999 Lexicoteca, Vol. XII, Círculo de Leitores Trabalho proposto pela docente Sandra Alves, no âmbito da disciplina de História e  elaborado pela aluna Leiliane Xavier

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Pav Pregador E Diplomata

  • 1. Vieira: Pregador e Diplomata
  • 2. Chegado do Brasil, em 1641, na comitiva de aclamação ao rei D. João IV, o P. António Vieira destaca-se, desde logo, devido ao sucesso dos seus sermões em Lisboa, tendo sido nomeado confessor do rei e pregador da corte, além de conselheiro. Graças aos seus dotes oratórios e, certamente, à sua capacidade de sedução, rapidamente se impõe na Corte e os seus sermões são ouvidos pela melhor sociedade lisboeta. Defende uma política de tolerância para com os cristãos-novos, de forma a garantir o seu apoio à causa portuguesa, na luta contra Espanha. Em 1646 foi incumbido de diversas acções diplomáticas, tendo passado por várias capitais europeias, só regressando a Lisboa em 1648. O prestígio adquirido por Vieira em Lisboa e o acolhimento favorável que o rei lhe fez estão, em parte, relacionados com a importância que a oratória sacra assumia na época. Os sermões proferidos pelos padres diante dos seus fiéis eram praticamente a única forma de comunicação social e, portanto, a melhor maneira de divulgar entre a população as ideias favoráveis à restauração da independência.
  • 3. Entre 1646 e 1650 o P. António Vieira foi incumbido de várias missões diplomáticas no estrangeiro, tendentes a conseguir o reconhecimento da nova situação portuguesa entre os principais países europeus, por um lado, e o estabelecimento de um entendimento amigável com a Holanda, relativamente às possessões coloniais, por outro. A preocupação de fortalecer a coroa portuguesa leva-o a defender uma política de tolerância face aos judeus de origem portuguesa espalhados pela Europa. Vieira pretende envolvê-los nos projectos portugueses, garantindo-lhes uma relativa segurança face às perseguições da Inquisição. Para esse efeito, conta com o apoio do rei D. João IV. Como resultado dessa política, surge uma companhia para a exploração das colónias brasileiras com a participação de vultosos capitais hebraicos. As suas posições em defesa dos cristãos-novos valeram-lhe a desconfiança da Inquisição, que, em 1649, tentou obter a sua expulsão da Companhia de Jesus. Em 1650 é-lhe confiada nova missão diplomática em Roma. Continua a denunciar os abusos da Inquisição e a sua presença torna-se incómoda.
  • 4. Em 1652 regressa ao Brasil, tendo desembarcado em São Luís do Maranhão, em Janeiro de 1653. Volta a dedicar-se à evangelização dos índios no Maranhão. Entra em conflito com os colonos portugueses por tentar defender os indígenas da violência dos europeus. Fica famoso o Sermão de Santo António aos Peixes, proferido naquela cidade. Coincidindo com o regresso de Vieira ao Brasil, chegou uma carta real que proibia a escravidão dos índios. Ora, toda a economia do nordeste brasileiro dependia da mão de obra escrava. A carência de escravos negros levava muita gente a escravizar os índios. Desse modo, é fácil compreender que a determinação real não fosse acatada, o que não impediu os colonos de responsabilizar os jesuítas pela decisão. Por esse motivo, Vieira volta a Lisboa em 1654, para tentar obter do rei protecção mais eficaz para os índios brasileiros, o que consegue. É aqui que profere um dos seus sermões mais conhecidos, o Sermão da Sexagésima. De novo no Brasil, continuou a desenvolver esforços para proteger os indígenas. A hostilidade dos colonos foi crescendo e em 1661 expulsaram mesmo os jesuítas do Maranhão.
  • 5. Vieira teve que voltar a Lisboa, mas entretanto o rei D. João IV havia morrido. O ambiente em Portugal é-lhe agora pouco propício. A Santa Inquisição aproveita as circunstâncias favoráveis e instaura-lhe um processo. A acusação de heresia apoiava-se nos escritos messiânicos de António Vieira — Esperanças de Portugal, V Império do Mundo. É mantido em prisão desde 1664 até 1668, quando é libertado, devido à alteração das condições políticas: D. Afonso VI havia sido interditado e seu irmão, o futuro D. Pedro II, assumira a regência do reino. Os anos seguintes passou-os em Roma (1669-1675), lutando pela sua reabilitação e continuando a promover a causa dos cristãos-novos e a reforma do Santo Ofício. Adquire fama de grande pregador em Itália, sendo nomeado pregador da rainha Cristina, que se convertera ao cristianismo e abdicara do trono da Suécia, instalando-se em Roma. Em 1675 regressa a Lisboa, protegido do Santo Ofício por um breve papal. Começa a preparar a edição dos seus Sermões, cujo primeiro volume sai em 1679. Regressa definitivamente ao Brasil em 1681 e retoma a luta pela defesa dos índios. Em 1687 foi nomeado visitador-geral das missões do Brasil. Faleceu na Baía, a 18 de Julho de 1697.
  • 6. Sugestão: Visione o filme de Manoel de Oliveira “Palavra e Utopia”, com Lima Duarte e Luís Miguel Cintra, inspirado na vida e obra do P. António Vieira. Obras consultadas Breve História da Literatura Portuguesa, Texto Editora, Lisboa, 1999 Lexicoteca, Vol. XII, Círculo de Leitores Trabalho proposto pela docente Sandra Alves, no âmbito da disciplina de História e elaborado pela aluna Leiliane Xavier