Estatinas podem ser uma nova opção para tratar doenças autoimunes como esclerose múltipla e artrite reumatóide. Estudos in vitro e em animais mostraram que estatinas podem modular a resposta imune através de vários mecanismos. Alguns estudos clínicos em humanos também sugeriram benefícios, mas são necessários mais estudos randomizados e controlados para confirmar a eficácia e segurança das estatinas nessas doenças.
1. Estatinas:
uma nova opção de tratamento para
indivíduos com doenças auto-imunes
Sarah Cristina Oliveira Machado
Rosario Dominguez Crespo Hirata
(orientadora)
FCF USP
1
2. Estatinas
Inibidores da síntese de colesterol
colesterol
2
GA Francis et al. CMAJ, 174, 2005
3. Estatinas
Redução de LDL Redução de eventos CV
Taxa de eventos contra níveis de LDL-c durante o tratamento com
estatinas em estudos de prevenção secundária
3
JC LaRosa et al. New Engl J Med. 352:1425, 2005
4. Estatinas
Efeitos pleiotrópicos
Proliferação, diferenciação e
migração de células imunes
Biossíntese de colesterol e isoprenilação da Ras e Rho. A inibição da HMG-CoA redutase pelas estatinas leva à
prevenção da isoprenilação e acúmulo de moléculas Ras e Rho inativas no citosol.
4
5. Doenças auto-imunes
▫ Condições crônicas iniciadas pela perda da tolerância
imunológica a auto-antígenos
Esclerose Múltipla Artrite Reumatóide
▫ Tratamentos atuais
▫ beta-interferon, acetato de glatiramer (GA), mitoxantrona, e natalizumabe
5
6. Estatinas & doenças auto-imunes
▫ Estatinas
▫ Uso ainda não aprovado por agências regulatórias
▫ Tratamento promissor para doenças auto-imunes
▫ Efeitos imunomodulatórios, perfil de segurança e administração
por via oral;
Custo-benefício?
6
7. Objetivos
▫ Identificar artigos científicos sobre uso de estatinas em
modelos de esclerose múltipla e artrite reumatóide;
▫ Compilar os mecanismos de ação e dados de eficácia e
segurança farmacológica, a fim de se avaliar as
potenciais aplicações de estatinas, no tratamento
dessas doenças auto-imunes.
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8. Métodos
Coleta de Dados
▫ Pesquisas na base de dados Medline
▫ Artigos científicos publicados de 1999 a 2010
▫ Termos
▫ autoimmune, immunomodulatory, immunomodulation, immune
function, multiple sclerosis, rheumatoid arthritis e statins
▫ Critérios de inclusão e exclusão
▫ modelos de esclerose múltipla e artrite reumatóide
▫ artigos com disponibilidade na íntegra, em inglês
▫ exclusão de editoriais, relatos de caso e revisões
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9. Métodos
Análise de dados
▫ Estudos in vitro ▫ Estudos em humanos:
▫ Intervenção ▫ Desenho do estudo
▫ Modelo do estudo ▫ População estudada
▫ Mecanismos de ação envolvidos. ▫ Intervenção
▫ Segurança
▫ Desfechos de eficácia
▫ Estudos em animais
▫ Intervenção
▫ Modelo do estudo
▫ Mecanismos de ação
▫ Dados de alteração da atividade
da doença
9
10. Resultados
Resultado da pesquisa
Pubmed (n=813)
Publicações sobre a
Artigos excluídos (n=641)
ação das estatinas Eventos adversos (n=34)
Editoriais/Relatos de caso (n=22)
nas doenças auto- Desfechos diversos (n=585)
imunes Análise dos estudos na
íntegra (n=172)
Artigos excluídos
Estudos não relevantes (n=102)
Incluídos neste estudo
(n=70)
Número de estudos considerados
Esclerose Múltipla (n=43)
Artrite reumatóide (n=27)
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11. Resultados da busca
Estudos por Modelo de doença
In vivo n (%)
In vitro
Doença auto-imune
n (%)
Animal Humano Total
Esclerose Múltipla 22 (61) 18 (72) 09 (47) 49 (61)
Artrite Reumatóide 14 (39) 07 (28) 10 (53) 31 (39)
Total 36 (100) 25 (100) 19 (100) 80 (100)
Estudos por ano de publicação
11
*EM: esclerose múltipla; AR: artrite reumatóide
12. Resultados
Estudos in vitro
GPC
Astrócitos
OLG
Microglia
FLS
Células Endoteliais
T CD4+
PBMC
0 6 12 18
Lovastatina Sinvastatina Atorvastatina Pravastatina Mevastatina Fluvastatina Cerivastatina
Número de experimentos in vitro considerando as estatinas e os modelos celulares usados.
PBMC: células mononucleares do sangue periférico; FLS: sinoviócitos fibroblasto-like; OLG:
oligodendrócitos; GPCs: células progenitoras gliais; T CD4+: células T CD4+.
12
13. Resultados
Estudos em animais
▫ Animais: ratos e camundongos
▫ Modelos: encefalomielite auto-imune experimental e artrite induzida por colágeno
Fluvastatina
Rosuvastatina
Pravastatina
Sinvastatina
Lovastatina
Atorvastatina
0 2 4 6 8 10
100mg/kg 50mg/kg 40mg/kg 20mg/kg 10mg/kg
5mg/kg 2mg/kg 1mg/kg 0,05 mg/kg
Número de experimentos em animais considerando os tipos e as doses das estatinas
13
14. Resultados
Estudos em humanos
Esclerose múltipla Artrite Reumatóide
Número de estudos 9 10
Desenho dos estudos
controlados com placebo 22% 50%
braço único 22% 50%
grupos paralelos, comparando com IFNβ 45%
análise post-hoc 11%
Duração dos estudos 6 a 36 meses 8 a 24 semanas
População estudada 341 pacientes 359 pacientes
Intervenção
Sinvastatina (22%) Sinvastatina (60%)
tipo de estatina
Atorvastatina (67%) Atorvastatina (30%)
dose de estatina 20 a 80 mg/dia 10 a 80 mg/dia
14
15. Resultados
Mecanismos propostos
Apoptose
Óxido nítrico / óxido nítrico sintase
Motilidade e migração leucocitária
Expressão de moléculas de adesão
Fenótipo de linfócitos T
Apresentação de antígenos e proliferação
celular
Expressão de moléculas co-estimulatórias e
quimiocinas
Expressão de moléculas MHC classe II
0 10 20 30 40 50
Lovastatina Mevastatina Sinvastatina Pravastatina
Fluvastatina Cerivastatina Atorvastatina Rosuvastatina
Mecanismos avaliados por estatina
15
16. Resultados
Mecanismos propostos
Ensaios com
Total de
Mecanismos resultados
ensaios
positivos (%)
Expressão de
5 80%
MHC classe II
Expressão de
moléculas co-
15 87%
estimulatórias
e quimiocinas
Apresentação 15 com PBMC 71%
de antígenos e
proliferação
celular 9 com OLG 56%
PBMC: células mononucleares do sangue periférico;
16
OLG: oligodendrócitos.
18. Resultados
Mecanismos propostos
Ensaios com
Mecanismos Total de ensaios resultados
positivos (%)
10 com ICAM 60%
Expressão de
moléculas de
adesão
6 com VCAM 83%
4 com MMP 25%
Motilidade e
migração
leucocitária 10 sobre
100%
migração
ICAM: molécula de adesão intercelular; VCAM: molécula de
adesão celular vascular; MMP: metaloproteinase de matriz.
18
19. Resultados
Mecanismos propostos
Ensaios com
Total de
Mecanismos resultados
ensaios
positivos (%)
Óxido nítrico /
Óxido nítrico 7 com iNOS 100%
sintase
Apoptose 5 80%
19
20. Resultados
Mecanismos propostos
Estudos de atividade da doença em modelos animais
24 estudos – 86% mostraram algum tipo de efeito benéfico das estatinas
Em EM:
Redução da desmielinização;
Aumento da remielinização;
Redução dos sintomas e da taxa de recidivas .
Em AR:
Supressão da progressão da hiperplasia sinovial;
Redução da erosão dos ossos e cartilagem.
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21. Resultados
Mecanismos propostos
Perfil de eficácia e segurança das estatinas em humanos
Intervenção Eventos adversos
Dose Duração
Estudo (EM) Desenho N Eficácia Resultados
(mg/dia) (meses)
Estatina Co-intervenção Fígado Músculo
Número e volume das lesões /
Vollmer,
Sinva - 80 6 multicêntrico, braço único, aberto 30 Taxa de recidivas / Escore de + 2 4
2004
incapacidade
Sellner, multicêntrico, randômico, grupos
Atorva IFNβ 250µg 40 6 32 - NA NA
2008a paralelos e avaliador cego
Friedemann,
Atorva IFNβ 22µg 80 12 aberto, braço único 41 Número e volume das lesões + 21 27
2008
Sellner, multicêntrico, randômico, grupos
Atorva IFNβ 250µg 40 9 38 - NA NA
2008b paralelos e avaliador cego
Sellner, multicêntrico, randômico, grupos
Atorva IFNβ 250µg 40 6 32 - NA NA
2008c paralelos e avaliador cego
Birnbaum, duplo cego, controlado com Número e volume das lesões /
Atorva IFNβ 44µg 40 / 80 9 26 - 1 1
2008 placebo e randômico Taxa de recidivas
Número e volume das lesões /
análise post hoc dos dados do
Rudick, 2009 Várias - várias 24 40 Taxa de recidivas / Escore de sem efeitos NA 11
estudo SENTINEL
incapacidade
Número e volume das lesões /
multicêntrico, randômico, grupos em
Kamm, 2009 Atorva IFNβ 250µg 40 15 80 Taxa de recidivas / Escore de NA NA
paralelos e avaliador cego andamento
incapacidade
Freitas, 2010 Sinva IFNβ 20 36 controlado com placebo 22 - NA 21NA
22. Resultados
Mecanismos propostos
Perfil de eficácia e segurança das estatinas em humanos
Intervenção Eventos adversos
Dose Duração
Estudo (AR) Desenho N Eficácia Resultados
Estatina Co-intervenção (mg/dia) (semanas) Fígado Músculo
parâmetros do escore
Kanda, 2002 Sinva 10 12 aberto, braço único 8 + NA NA
DAS28 / RF e PCR
McCarey, duplo cego, controlado com parâmetros do escore
Atorva 40 24 116 + 0 0
2004 placebo e randômico DAS28 / PCR / LDL-c
Van parâmetros do escore
Doornum, Atorva 20 12 aberto, braço único 29 DAS28 / rigidez arterial / - NA NA
2004 LDL-c
Hermann, duplo cego, controlado com
Sinva 40 8 20 - + NA NA
2005 placebo, cruzado e randômico
controlado com placebo,
Tikiz, 2005 Sinva quinapril 20 8 45 PCR / vasodilatação NA NA
randômico e avaliador cego
Charles-
duplo cego, controlado com
Schoeman, Atorva 80 18 20 - 2 0
placebo e randômico
2007
Mäki-Petäjä, parâmetros do escore
Sinva ezetimiba 20 20 duplo cego, cruzado e randômico 20 + NA NA
2007 DAS28 / PCR / LDL-c
parâmetros do escore
Kanda, 2007 Sinva 10 12 aberto, braço único 24 + 0 0
DAS28 / RF e PCR
Shirinsky, parâmetros do escore
Sinva 40 12 aberto, braço único 33 + 2 0
2009 DAS28
parâmetros do escore
Goto, 2010 várias fibratos várias 24 randômico, braço único 44
DAS28
+ 0 220
23. Conclusão
▫ As atividades imunomodulatórias, antiinflamatórias e antiproliferativas
das estatinas, mediadas por oito mecanismos fisiopatológicos diferentes,
foram comprovadas em diferentes modelos experimentais de doença
auto-imune.
▫ Vários estudos clínicos demonstraram os efeitos benéficos das
estatinas na atividade da doença e nos sinais e sintomas clínicos da
esclerose múltipla e artrite reumatóide.
▫ As estatinas, utilizadas em monoterapia ou terapia combinada com
medicamentos já aprovados, parecem ser uma opção de tratamento
promissora para essas doenças autoimunes, por apresentarem
perfil de eficácia e segurança relativamente favorável.
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