A espiritualidade do presbítero diocesano se baseia na caridade pastoral, vivida através da intimidade com Deus e da comunhão com os outros. Sua identidade é servir como epífania de Cristo pastor e sua missão é anunciar a Palavra de Deus, guiar a comunidade e celebrar os sacramentos.
2. Presbítero diocesano:
- é aquele que pertence a uma Igreja particular
e nela se incardina, para, em comunhão com o
bispo, o presbitério e o diacônio, pastorear
uma porção do Povo de Deus. A vida e o
ministério do presbítero diocesano encontram
seu eixo na relação com a Igreja particular, o
bispo diocesano, o presbitério e o diacônio.
3. Vínculo especial de comunhão com o seu bispo:
- “O bispo procurará sempre comportar-se com
os seus sacerdotes como pai e irmão que os
ama, escuta, acolhe, corrige, conforta, busca a
sua colaboração e cuida o melhor possível do seu
bem-estar humano, espiritual, ministerial e
econômico” (PG, n. 47).
4. Sendo de ordem sacramental, a pertença ao presbitério
exige a fraternidade presbiteral como traço fundamental:
na comunhão do presbitério, o presbítero diocesano é
responsável pela ação pastoral evangelizadora da Igreja
particular; cabe a ele fazer com que a diocese e as
paróquias que a constituem, reformulem suas estruturas
tornando-se casas e escolas de comunhão, redes de
comunidades evangelizadoras, expressão visível da
opção preferencial pelos pobres (DAp, n. 170, 172, 179).
5. Missionário na Igreja particular:
a missionariedade implica na disponibilidade
para ser enviado a paróquias de outras
dioceses, especialmente, às mais pobres e
distantes e a outros serviços como assessoria
de acompanhamento de pastorais específicas
e movimentos eclesiais (CNBB, Doc. 75, n. 22).
6. Caridade pastoral:
é o princípio que orienta e anima a vida do
presbítero diocesano, enquanto discípulo
missionário, como participação da própria caridade
pastoral de Cristo Jesus (PDV, n. 23); é o vínculo da
perfeição sacerdotal, que conduz à unidade de vida
e ação” (PO, n. 14); é uma característica essencial
da espiritualidade do presbítero diocesano e se
expressa, de modo especial, na vivência do carisma
do celibato.
7. Celibato:
é uma resposta de amor que nasce do fascínio por
Cristo ao qual o presbítero responde com a totalidade
do seu ser; através do celibato pelo Reino de Deus, o
presbítero é chamado a identificar-se com Cristo no
seu amor total e exclusivo à Igreja e na doação
completa de sua vida ao Povo de Deus; constitui um
grande fator de liberdade para amar e servir todos
aqueles aos quais o Senhor envia, em especial os mais
necessitados.
8. Incardinação:
o futuro presbítero assume um vínculo
jurídico, teológico, espiritual, esponsal e
pastoral com uma Igreja particular que o
acolhe, sem prejuízo da dimensão missionária
da vocação.
9. 1. IDENTIDADE (quem sou?) – MISTÉRIO
- Relação sobrenatural com Deus.
- Encontra sua fonte na Santíssima Trindade: é
na relação pessoal com o Pai, em Jesus Cristo,
pelo seu Espírito, que se revela na Igreja, que o
presbítero encontrará o sentido claro de sua
identidade.
10. - A identidade específica é a caridade pastoral
– o presbítero é chamado a ser epifania,
transparência e sacramento do Cristo Pastor.
Quem dele se aproxima deve encontrar o
rosto, o coração, as atitudes e a prática do
Bom Pastor.
11. CARIDADE PASTORAL:
- referência primeira – Jesus Bom Pastor;
- fonte específica – sacramento da ordem –
consagração especial pela qual o padre torna-se
instrumento vivo do sacerdócio de Cristo. Acontece
um ligame ontológico a Cristo sacerdote e pastor,
pelo qual o presbítero age em nome e na pessoa
do próprio Cristo;
12. Caridade Pastoral:
- destinação – doação de si à Igreja e à
humanidade – a caridade pastoral não é só o
que o presbítero faz, mas o dom de si mesmo
que manifesta o amor de Cristo por seu
rebanho. Este dom não tem fronteiras;
13. Caridade Pastoral:
- âmbito imediato – Igreja local – é dentro da
comunidade eclesial, confiada ao seu
ministério e em profunda comunhão com o
presbitério unido ao bispo que o presbítero
vive concretamente a caridade pastoral
(incardinação na diocese);
14. Caridade Pastoral:
- suprema expressão e alimento – a eucaristia – a
caridade pastoral brota sobretudo da eucaristia que
constitui o centro e a raiz da vida do presbítero. A
eucaristia é dom total de Cristo para a vida do mundo.
Daí que a caridade pastoral encontra na eucaristia a sua
mais alta realização, da mesma forma que o padre
recebe dela a graça da responsabilidade de tornar
eucarística sua vida inteira. Deverá espelhar em si
mesmo o que celebra no altar.
15. Caridade Pastoral:
- eixo integrador da vida e do ministério do
presbítero – é o princípio interior dinâmico
capaz de unificar as múltiplas e diversas
atividades do presbítero. É na caridade
pastoral que o presbítero integra sua vida e
atividade.
16. No espírito do Sermão da Montanha e dos
Conselhos Evangélicos:
- O Sermão da Montanha é um autorretrato de
Jesus;
- Os conselhos evangélicos que Jesus propõe
ali são expressão da radicalidade no
seguimento e denotam totalidade de vida,
coração indiviso e entrega total ao ministério.
17. No espírito do Sermão da Montanha e dos Conselhos
Evangélicos:
Obediência:
- procurar não a própria vontade, mas a daquele que
os enviou;
- é apostólica – vivida em comunhão com o
presbitério, o bispo, o papa, a fim de transmitir com
fidelidade o mistério cristão e garantir a unidade da
Igreja;
18. Obediência:
- é comunitária – incide na Igreja local, vivida na
corresponsabilidade com o presbitério unido ao
bispo e aos leigos, fiel às exigências de uma vida
eclesial orgânica e organizada;
19. Obediência:
- possui um caráter de pastoralidade –
fidelidade às decisões pastorais da Igreja local
e às diretrizes da CNBB. É também
sensibilidade às necessidades do povo e
disponibilidade para deixar-se consumir ao seu
serviço.
20. Castidade – Celibato:
- é um carisma dado pelo Pai a alguns, de se
dedicarem unicamente a Deus e com um
coração indiviso;
- fonte privilegiada de fecundidade espiritual
no mundo;
- sinal do Reino que não é deste mundo, do
amor de Deus por este mundo e do amor
indiviso do sacerdote a Deus e ao seu povo;
21. Castidade – Celibato:
- está fundamentado na ordenação através da qual o
sacerdote é configurado a Cristo Jesus, cabeça e esposo
da Igreja. A Igreja, como esposa de Cristo, quer ser
amada pelo sacerdote do modo total e exclusivo com
que Jesus Cristo a amou.
- por ser dom de Deus, pode ou não ser aceito a partir
da própria liberdade;
- tripé da vida celibatária – solidão aprazível na
companhia de Deus, interação afetuosa no contexto
comunitário, sentido da missão na prática do ministério.
22. Pobreza evangélica:
- submissão de todos os bens ao bem supremo
de Deus e do seu Reino;
- deve traduzir-se numa vida simples e austera,
onde se renuncia generosamente às coisas
supérfluas;
- tem significado profético no seio das
sociedades ricas e consumistas;
23. Pobreza evangélica:
- habilita o presbítero a ser solidário com os
injustiçados e oprimidos na conquista de seus
direitos;
- tem a opção preferencial pelos pobres como
valor inquestionável da espiritualidade;
26. 2) INTIMIDADE (com quem sou?) – COMUNHÃO
- A Igreja tem na Trindade sua fonte, modelo e pátria.
Ela se define como comunhão. É deste modelo de
Igreja que emerge também o perfil do presbítero.
- O presbítero é servidor da Igreja comunhão, porque
unido ao bispo e em estreita comunhão com o
presbitério, constrói a unidade da comunidade
eclesial na harmonia das diferentes vocações,
carismas e serviços.
27. - O ministério ordenado tem radical forma
comunitária e pode apenas ser assumido como
obra coletiva. Através da ordenação, os
presbíteros estão unidos entre si por uma íntima
fraternidade sacerdotal.
- Daí que não se pode conceber o individualismo
e certa forma de autossuficiência com que alguns
exercem o ministério.
28. - O testemunho de amizade, de corresponsabilidade,
de partilha entre os presbíteros é a primeira forma de
evangelização. “Todos conhecerão que sois meus
discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
- Geralmente os presbíteros aprendem a amar, mas não
sabem ser amados. Quando alguém se deixa amar,
perde o poder sobre o outro porque também se deixa
conduzir por ele, e nossa tendência é querer controlar
tudo.
29. - Muitos vivem o celibato como “limpeza” total de
amor, o que o torna nulo.
- O coração fraterno tem muitas manifestações: dar,
receber, pedir, agradecer.
- Na parábola do Bom Samaritano, sempre nos
identificamos com o que socorre e não com o caído.
- É preciso ser livre para pedir, receber gratuitamente
e saber agradecer. Saber receber sem intrometer-se
na vida dos outros.
30. - Em nosso coração há mais amor do que somos
capazes de expressar. Vencendo a tentação do possuir,
controlar, dominar, seremos livres e transparentes para
amar mais e melhor.
- Para evitar o clericalismo e o centralismo na Igreja, é
fundamental a presença e a atuação dos leigos, entre
os quais os presbíteros são “irmãos entre os irmãos”,
membros de um e mesmo corpo de Cristo. É preciso
confiar nos leigos e deixá-los agir por iniciativa própria.
31. - A inserção do presbítero na Igreja local
constitui por natureza um elemento
qualificante para viver a espiritualidade, pois
traz consigo uma fonte de significados, de
critérios de discernimento e ação que
configuram tanto a missão pastoral quanto a
vida espiritual.
32. - O individualismo vai sendo superado com a
vivência prática e efetiva da colegialidade. No
seio da Igreja local deve estar o presbitério e
não cada um trabalhando isoladamente.
- A colegialidade do presbitério é estimulada
se tiver à frente um bispo amigo e irmão, que
sabe confiar em cada um e animar, na prática,
as opções pastorais assumidas por todos.
33. 3) GENERATIVIDADE (para quem sou?) - MISSÃO –
A SERVIÇO DA IGREJA E DO MUNDO
- A consagração é para a missão. Daí a íntima
conexão entre a vida espiritual do presbítero e o
exercício do seu ministério.
34. - Pedagogia de Jesus: chamou os que Ele quis
(mistério da vocação e da identidade), foram
até Ele e ficaram com Ele (convite à
intimidade, à comunhão) e os enviou a pregar
o Reino (generatividade, missão confiada a
eles).
- É a caridade pastoral que ilumina e unifica
todas as atividades do presbítero.
35. O presbítero é ministro da Palavra (ministério
profético):
- Enviado a anunciar a todos o Evangelho do Reino.
- Daí a necessidade de cultivar uma grande
familiaridade com a Palavra de Deus.
- Ele deve ser o primeiro que crê na Palavra, com
plena consciência de que suas palavras são de
Deus.
36. - Ele não é dono, mas servo dessa Palavra.
- O presbítero deve crescer na sua consciência
da necessidade permanente de ser
evangelizado.
- Deve também denunciar o pecado.
37. Ministério pastoral:
- Animar, guiar, unir a comunidade.
- É o exercício da capacidade de coordenar
todos os dons e carismas que o Espírito Santo
suscita na comunidade, verificando-os e
valorizando-os para a edificação da Igreja.
38. - Essas virtudes são necessárias: fidelidade,
coerência, sapiência, acolhimento a todos, afável
bondade, firmeza nas coisas essenciais, libertação
de pontos de vista demasiado subjetivos,
desprendimento pessoal, paciência, gosto pela
tarefa diária, confiança nos simples e pobres.
- Deve ser o “ministério da síntese” e não a
“síntese dos ministérios” – corresponsabilidade
colegial com o presbitério e os leigos.
39. Ministério sacerdotal:
- Celebração dos sacramentos e da Liturgia das
Horas.
- O centro é a Eucaristia.
- Neste culto, é a comunidade que se oferece a
si mesma a Deus, através da fé e da caridade,
e é o presbítero que deve levá-la a isto.
- Santificação da comunidade.
40. Vivido desta forma, o próprio ministério torna-
se fonte de espiritualidade:
- ensinando, o presbítero também escuta e
aprende;
- pregando a Palavra, é também evangelizado;
- celebrando e santificando, o presbítero
também ora e se santifica;
- servindo e coordenando a comunidade,
torna-se epifania do Bom Pastor.
41. - Exigências para se viver a identidade e missão do
Presbítero nas circunstâncias atuais:
a) o testemunho pessoal de fé e de caridade, de profunda
espiritualidade vivida, de renúncia e despojamento de si;
b) a prioridade da tarefa da evangelização, o que acentua
o caráter missionário do ministério presbiteral;
c) a capacidade de acolhida a exemplo de Cristo Pastor
que une a firmeza à ternura, sem ceder à tentação de um
serviço burocrático e rotineiro;
42. d) a solidariedade efetiva com a vida do povo, a opção
preferencial pelos pobres, com especial sensibilidade
para com os oprimidos, os sofredores, em fidelidade à
caminhada da Igreja na América Latina, ratificada pela
Conferência de Aparecida (DAp, n. 396);
e) a maturidade para enfrentar os conflitos existenciais
que surgem do contato com um mundo consumista,
secularizado, e até hostil aos valores do Evangelho;
43. f) o cultivo da dimensão ecumênica, o diálogo
interreligioso, no respeito à pluralidade de expressar a fé
em Deus e nos valores do Evangelho;
g) a participação comprometida nos movimentos sociais,
nas lutas do povo, com consciência política diante da
corrupção e da decepção política, conservando,
entretanto, sua identidade presbiteral, mantendo-se fiel
ao que é específico do ministério ordenado e observando
as orientações do Magistério da Igreja;
44. h) a capacidade de respeitar, de discernir e de
suscitar serviços e ministérios para a ação
comunitária e a partilha;
i) a promoção e a manutenção da paz e a concórdia
fundamentada na justiça (CIC, n. 287, § 1);
j) a configuração de homem de esperança e do
seguimento de Jesus na cruz.