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A delimitação do urbano e do rural no Rio Grande do Sul, Brasil

La delimitación de lo urbano y lo rural en Río Grande del Sur, Brasil

The border between the urban and the rural in Rio Grande do Sul, Brazil

                                                                                                                              Alcione Talaska*
                                                                                                                               Almir Arantes**
                                                                                                              José Antonio Assumpção Farias***
                                                                                                             Universidade de Santa Cruz do Sul, Brasil.




Resumo                                            Resumen                                                    Abstract

A problemática de identificar o urbano            La problemática de identificar lo                          The difficulties that arise when
e o rural no Brasil radica na utilização          urbano y lo rural en Brasil radica en la                   identifying the urban and the rural in
de conceitos e metodologias que são               utilización de conceptos y metodologías                    Brazil lie in the use of concepts and
inadequados, pois oferecem uma visão              que resultan inadecuados, porque                           methodologies that result inadequate,
deformada com relação à realidade dos             brindan una visión deformadora de la                       since they end up giving a distorting
municípios estudados. No Brasil, os               realidad de los municipios estudiados.                     view of the studied municipalities’
critérios atualmente empregados para              En Brasil, los criterios actualmente                       reality. In Brazil, the criteria employed
tal delimitação consideram-se atrasados,          empleados para tal delimitación se                         currently for such delimitation are
já que datam do Decreto-Lei 311 de 1938           consideran atrasados, puesto que datan                     considered old-fashioned, since they
e necessitam atualizações. Portanto, o            del Decreto-Ley 311 de 1938 y están                        originated from the Decree-Law 311
objetivo é analisar o território do Rio           pendientes de actualizaciones. Por ello,                   of 1938 and need to be updated. For
Grande do Sul (Brasil), procurando                el objetivo es analizar el territorio de                   these reasons, this study intends to
delimitar o urbano e o rural a partir de          Río Grande del Sur (Brasil), buscando                      analyze the territory of Rio Grande
uma proposta metodológica alternativa.            delimitar lo urbano y lo rural a partir de                 do Sul (Brazil), in order to delimit the
Analisam-se três metodologias de                  una propuesta metodológica alternativa.                    urban and the rural from an alternate
delimitação do urbano e do rural (a               Se analizan tres metodologías de                           methodological proposal. Three
oficial, a da OCDE e a de José Eli da Veiga),     delimitación de lo urbano y lo rural (la                   methodologies for delimiting the urban
para depois estudar suas diferenças e             oficial, la de la OCDE y la de José Eli da                 and the rural (the official one, the
similitudes e assim, propôr critérios             Veiga), para estudiar sus diferencias y                    OCDE’s and that of José Eli da Veiga) are
metodológicos de acordo com as dinâmicas          similitudes y, así, proponer criterios                     used in order to study their differences
espaciais dos municípios. Este texto              metodológicos acordes con las dinámicas                    and similarities and thus propose
procura contribuir, em alguma medida, às          espaciales de los municipios. Se busca                     methodological criteria appropriate for
discussões relacionadas com a emergência          contribuir, en alguna medida, a las                        the municipalities’ spatial dynamics. This
de um novo paradigma de diferentes e              discusiones sobre la emergencia de                         text seeks to somehow contribute to the
novas tipologias para tal classificação.          un nuevo paradigma y de diferentes y                       debates concerning the emergence of a
                                                  nuevas tipologías para tal clasificación.                  new paradigm and of different and new
                                                                                                             typologies for such classification.
Palavras chave: território, o urbano, o           Palabras clave: territorio, lo urbano,                     Keywords: territory, the urban,
rural, políticas públicas, desenvolvimento.       lo rural, políticas públicas, desarrollo.                  the rural, public policies, development.



RECIBIDO: 28 DE AGOSTO DEL 2009. ACEPTADO: 27 DE OCTUBRE DEL 2009.
Artículo de investigación que identifica una nueva tipología para diferenciar entre lo urbano y lo rural.

*   Dirección Postal: Av. Independência, 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul - RS.
    Correo electrónico: talaska.alcione@gmail.com
** Dirección postal: Av. Independência, 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul - RS.
    Correo electrónico: almir.ski@hotmail.com
*** Dirección Postal: Av. Independência, 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul - RS.
    Correo electrónico: jantonioafarias@hotmail.com


                                           CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA | PP. 59-69
60   Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias




     Introdução1                                                                    metodologia empregada atualmente em estudos ofi-
                                                                                    ciais no país, a fim de adotar-se uma metodologia que
         A problemática tida na definição do que é urbano e                         considere critérios específicos que permitam aferir de
     do que é rural, particularmente no Brasil, retrata uma                         forma mais precisa as realidades territoriais brasileiras.
     realidade em que a utilização tanto de conceitos quanto                            A constante reavaliação metodológica e de seus
     de metodologias mostra-se, na maioria das vezes, redu-                         critérios para a delimitação do urbano e do rural con-
     cionista e perversora da realidade encontrada na maio-                         tribuiria para a construção de um bom indicador do
     ria dos municípios brasileiros. A metodologia adotada                          grau de modificação antrópica do ambiente. Segundo
     atualmente para a delimitação do urbano e do rural no                          Veiga (2002), utilizar critérios definidores da rurali-
     Brasil diverge da utilizada na maioria dos países. Essa                        dade, baseados no diagnóstico da intensidade do uso
     metodologia baseia-se em critérios estabelecidos ain-                          do território em função da ação humana, retrataria de
     da no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945),                          forma mais fidedigna a realidade urbano/rural do ter-
     mais precisamente no auge da Ditadura do Estado                                ritório brasileiro.
     Novo, através do Decreto-Lei 311/1938.                                             A partir desse contexto, pretendemos analisar a deli-
         Tal decreto estabeleceu a diferença dicotômica entre                       mitação do urbano e do rural no Estado do Rio Grande
     os espaços urbanos e rurais apenas a partir da delimita-                       do Sul/Brasil, partindo de um exame sobre dados secun-
     ção territorial do urbano através das sedes dos municí-                        dários disponibilizados pelo IBGE (população, área terri-
     pios (cidades) e de seus distritos (vilas), sem a preocupa-                    torial oficial e localização dos municípios) e tendo como
     ção de combinar outros critérios que possibilitariam um                        referencia a base metodológica oficial brasileira e a me-
     recorte mais detalhado. A atualização desses critérios                         todologia alternativa desenvolvida por José Eli da Veiga.
     contribuiria para a produção de políticas públicas volta-                      Partimos primeiramente de uma breve explanação sobre
     das às especificidades e particularidades dos territórios                      a delimitação do urbano e do rural, com alusão as abor-
     rurais, dos territórios urbanos e dos territórios que apre-                    dagens dicotômica e de continuum. Posteriormente, assi-
     sentam características urbanas ou características rurais.                      nalamos para a existência de metodologias alternativas
         Dessa metodologia adotada oficialmente no Brasil,                          à metodologia oficial brasileira, como as desenvolvidas
     observamos uma distorção no nível de urbanização. A                            pela OCDE3 e por José Eli da Veiga4. E por fim, realiza-
     população brasileira considerada urbana supera a mar-                          mos um cruzamento de informações que possibilitam a
     ca de 84%, enquanto a população rural é entendida me-                          visualização das diferenças entre as duas metodologias
     ramente como a parte residual, e que está em caminho                           e seus desencontros no território do Rio Grande do Sul.
     do desaparecimento. Salientamos que, a partir desta                                Assim, o presente estudo justifica-se pelo interes-
     metodologia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Ge-                         se em retratar as diferenças que a metodologia oficial
     ografia e Estatística (IBGE), o Brasil é mais urbanizado                       brasileira e a desenvolvida por Veiga apresentam entre
     que muitos países desenvolvidos e com elevadas taxas                           si. E ainda, pela necessidade de se discutir os proble-
     de urbanização, tal como os EUA, com taxa de urbaniza-                         mas relacionados às definições do que seja urbano e
     ção igual a 80,8%, a Espanha com 76,7%, a França com                           rural, com a construção de novas tipologias que possi-
     76,6%, a Itália com 67,5% e Portugal com 55,6% de taxa                         bilitem a identificação e representação mais fidedigna
     de urbanização (IBGE, 2008)2.                                                  das realidades territoriais.
         Em virtude disso, assistimos, nos últimos anos, uma
     ampliação de estudos e discussões sobre o significado e                        3   A OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento
     o tamanho do rural no Brasil. Estes estudos apontam                                Econômico é uma organização internacional e intergoverna-
     para a necessidade e a importância da reavaliação da                               mental que agrupa os países mais industrializados da econo-
                                                                                        mia de mercado. Originalmente a OCDE era composta por 20
                                                                                        países. Desde o seu surgimento em 1960, 10 foram os países
     1   O trabalho aqui apresentado é resultado de estudos realiza-                    que ingressaram na organização (OCDE, 2009).
         dos na disciplina de Desenvolvimento Rural e Urbano, mi-                   4   José Eli da Veiga é professor de economia da FEA-USP, onde
         nistrada pela Profa Dra. Virginia Elisabeta Etges e pelo Prof.                 coordena o Núcleo de Economia Socioambiental (NESA).
         Dr. Rogério Leandro Lima da Silveira, no Programa de Pós-                      Além de artigos em periódicos científicos nacionais e estran-
         graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade                          geiros, e diversos capítulos de obras coletivas, publicou 17
         de Santa Cruz do Sul (UNISC), Brasil.                                          livros, entre os quais: Agricultura Sustentável (2005), Cidades
     2   Os dados referentes as taxas de urbanização, aqui apresenta-                   Imaginárias (2002), A Face Rural do Desenvolvimento (2000),
         dos, estão disponíveis no site do IBGE (2008).                                 Metamorfoses da Política Agrícola dos EUA (1994).


     UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
A delimitação do urbano e do rural no Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                                                                                                         61

O urbano e o rural a partir                                         da própria realidade rural, espacial e socialmente dis-
das abordagens dicotômicas                                          tinta da realidade urbana”5.
e de continuum                                                          Com vistas a esta vertente do continuum rural-urba-
                                                                    no, evidencia-se que o rural perderia sua identidade en-
    As transformações recentes ocorridas na sociedade               quanto espaço rural, ou seja, o espaço urbano enquanto
e nas relações entre o rural e o urbano têm desafiado               fonte de valores dominantes estabeleceria seu domínio
estudiosos a construírem teorias e conceitos para ex-               sobre todo o conjunto urbano-rural da sociedade.
plicar a realidade em que o mundo atual encontra-se.                    No caso da segunda vertente, o continuum rural-
Nesta seção, apresentamos duas grandes abordagens                   urbano é entendido
teóricas, que de uma forma geral, procuram definir e                         [...] ressaltando-se as semelhanças entre os dois
explicar o rural, o urbano e suas relações. De um lado a                 extremos e a continuidade entre o rural e o urbano, as
abordagem dicotômica infere o urbano (cidade) como                       relações entre o campo e a cidade não destroem as par-
oposto ao rural (campo) e, de outro lado, a abordagem                    ticularidades dos dois polos e, por conseguinte, não re-
de continuum defende que o urbano e o rural não são                      presentam o fim do rural; o continuum se desenha entre
opostos, mas sim próximos um do outro.                                   um polo urbano e um polo rural, distintos entre si e em
    A abordagem dicotômica ou dualista é amplamen-                       intenso processo de mudança em suas relações. (Wan-
te utilizada pelo senso comum. O urbano e o rural são                    derley 2001, 33)
entendidos como partes separadas, independentes um
do outro. O rural é miticamente tratado como pobre,                     Nesta vertente, a autora afirma que mesmo haven-
atrasado, trazendo a ideia de estar ligado unicamente               do uma forte homogeneização entre os espaços rurais
a atividades agrícolas ou pecuárias, enquanto o urbano              e urbanos, ambos manteriam diferenças significativas
traduz-se carregado de uma ideologia positivista, sen-              entre si, principalmente em reflexo as suas identidades
do entendido como sinônimo de progresso, de “desen-                 socioeconômicas. Nessa segunda vertente do conti-
volvimento” e de riqueza.                                           nuum, a existência do rural é reafirmada, diferentemen-
    Esta abordagem é alvo de questionamentos no meio                te da primeira que afirma o seu desaparecimento.
acadêmico, onde se procura avançar na discussão par-                    Com vistas as abordagens apresentadas, salien-
tindo-se do princípio que os conceitos formais de rural             tamos que para o melhor entendimento ou conheci-
e urbano, baseados nesta dicotomia, são insuficientes               mento das ruralidades ou urbanidades expressas em
para explicar os complexos processos sócioespaciais e               determinado território, é necessária a observação das
econômicos em curso no território brasileiro.                       transformações socioeconômicas e ambientais que ma-
    Já a abordagem de continuum, de acordo com Wan-                 nifestam-se e concretizam-se neste território. Nesse
derley (2001), considera relações de complementarida-               sentido, um enfoque analítico territorial seria o mais
de entre os dois espaços, o urbano e o rural. Estas rela-           adequado, visto que tanto o enfoque manifestado na
ções podem ser visualizadas a partir de uma vertente                abordagem dicotômica, quanto na abordagem de conti-
que privilegia o urbano em relação ao rural ou então                nuum inferem basicamente a contradição ou a comple-
a partir de outra vertente que evidencia que a relação              mentaridade entre o urbano e o rural.
de continuum rural-urbano aproxima e integra os dois
polos extremos, mantendo suas particularidades.                     Novas abordagens metodológicas
    A idéia do continuum rural-urbano, no caso da pri-              para a delimitação do urbano e do rural:
meira vertente, indica que o extremo urbano do con-                 O caso do Rio Grande do Sul, Brasil
tinuum é visto como o polo dominante, e por isso fon-
te do progresso, enquanto o extremo rural entendido                    Nesta seção, apresentamos, enquanto pressupostos
como o polo atrasado, com tendência a reduzir sua in-               de análise, três metodologias empregadas para a deli-
fluência sobre o extremo urbano.                                    mitação do urbano e do rural. Primeiramente, eviden-
    Segundo Wanderley (2001, p. 32-33), levada às úl-               ciamos a delimitação do urbano e do rural no Estado do
timas consequências esta vertente aponta para “um
processo de homogeneização espacial e social, que se
                                                                    5    A industrialização dos produtos agropecuários seria um fa-
traduziria por uma crescente perda de nitidez das fron-                  tor que tenderia a aproximar o urbano do rural, fortalecendo
teiras entre os dois espaços sociais e, sobretudo, o fim                 o processo de homogeneização.


                                          CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
62   Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias




     Rio Grande do Sul (figura 1) a partir da metodologia ofi-                                                                                              Seguindo estes pressupostos estabelecidos pelo De-
     cial brasileira, a metodologia utilizada pelo IBGE, pos-                                                                                           creto-Lei 311/1938, o IBGE, ainda nos dias atuais, clas-
     teriormente descrevemos os critérios utilizados pela                                                                                               sifica o território brasileiro levando em consideração as
     OCDE e, por fim, apresentamos a proposta de José Eli                                                                                               cidades, as vilas e os distritos como perímetro urbano6.
     da Veiga para o caso brasileiro, através de mapeamento                                                                                             A classificação fundamenta-se nas áreas, sendo a popu-
     tipológico dos municípios do Rio Grande do Sul/Brasil.                                                                                             lação classificada como rural ou urbana de acordo com a
         A metodologia oficial brasileira foi estabelecida no                                                                                           localização de seu domicílio. O rural, nessa perspectiva,
     auge do Estado Novo, pelo Decreto-Lei 311 de 1938.                                                                                                 é entendido como toda a área remanescente, ou seja,
     Este decreto definiu a delimitação do urbano e do rural                                                                                            que estiver fora do perímetro urbano.
     no Brasil, e fez que                                                                                                                                   No entendimento de Abramovay (2003), este vício
             [...] todas as sedes municipais existentes virassem ci-                                                                                    de raciocínio, de identificar-se o urbano a partir de um
         dades, independentemente de quaisquer características                                                                                          mínimo de adensamento populacional, um mínimo de
         estruturais ou funcionais. Foram consideradas urbanas                                                                                          acesso a infraestruturas e serviços básicos, contribui
         todas essas sedes, mesmo que não passassem de ínfimos                                                                                          decisivamente para que as áreas rurais sejam assimila-
         vilarejos ou povoados. Para futuras cidades seria exigida                                                                                      das automaticamente a atraso, com carência de servi-
         a existência de pelo menos 200 casas, e para futuras vilas                                                                                     ços e falta de cidadania.
         (sedes de distrito), um mínimo de 30 moradias. Mas to-                                                                                             Analisando brevemente os censos demográficos
         das as localidades que àquela data eram cabeça de muni-                                                                                        disponibilizados pelo IBGE fica evidente a crescente
         cípio, passaram a ser consideradas urbanas, mesmo que                                                                                          urbanização do território brasileiro. Como exercício, e
         sua dimensão fosse muito inferior ao requisito mínimo                                                                                          para a ilustração desta afirmação com dados, buscamos
         fixado para as novas (Veiga 2001, 2).                                                                                                          no Atlas de Desenvolvimento Sócio Econômico do Rio
                                                                                                                                                        6       O perímetro urbano é definido por Lei Municipal.



                           VENEZUELA                                GUAINA                                                                                              PARAGUAI                                              SANTA
                                                           SURINAME FRANCESA                                                                                                                                                 CATARINA
       COLÔMBIA                             Boa Vista
                                                        GUAINA                                                   OCEANO
                                                                             AMAPÁ                              ATLÂNTICO                                             ARGENTINA
                                          RORAIMA                                             Macapá


                                                                                                   Belém
                                                          Manaus

                               AMAZONAS                                                                                São Luis
                                                                                                                                                                                                      RIO
                                                                            PARÁ                                                                  Fortaleza                                         GRANDE
                                                                                                           MARANHÃO                Teresina                                                         DO SUL
                                                                                                                                           CEARÁ      RIO
                                                                                                                                                      GRANDE Na.                                                         Porto Alegre
                                                                                                                                                      DO NORTE
                                                                                                                        PIAUÍ                         PARAÍBA J. P.
          ACRE                    Porto Velho                                                     Palmas                                     PERNAMBUCO         Re.
                  Rio Branco                                         BRASIL               TOCANTIS                                                 ALAGOAS
                                                                                                                                                               Ma.
                                  RONDÔNIA                                                                                                    SERGIPE   Ar.
                                                           MATO GROSSO
                                                                                                                               BAHIA
        PERU                                                       Cuiabá
                                                                                                                                                  Salvador
                                                                                                                                                                                                                    OCEANO
                                                                                    GOÍAS                   Brasilia
                                                                                                                                                                              URUGUAI                              ATLÂNTICO
                               BOLÍVIA                                              Goiâna

                                                          MATO GROSSO                                           MINAS
                                                                                                                                                                                                             0        150        150 Quilômetros
                                                            DO SUL                                              GERAIS             ESPIRITU
                                                                                                                                   SANTO
                                                                    Campo                                     Belo Horizonte
                                                                    Grande                                                              Vitória
                                                                                  SÃO PAULO                               RIO DE JANEIRO
                  CHILE                          PARAGUAI                                                                   Rio de Janeiro
                                                                                                          São Paulo
                                                                            PARANÁ                                                                                    DIVISÃO POLITICO-ADMINISTRATIVA            ESTADO
       OCEANO
       PACÍFICO                                                                                Curitiba                                                               REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL             Na. Natal
                                                                              SANTA
                                                                             CATARINA Florianópolis                             OCEANO                                ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
                                                                                                                                                                                                                 J. P. João Pessoa
                                                                     RIO
                               ARGENTINA
                                                                   GRANDE                                                      ATLÂNTICO                                 Capital Nacional                        Re. Re.
                                                                   DO SUL                                                                                                                                        Ma. Ma.
                                                                               Porto Alegre                                                                              Capital Departamental
                                                                                                                                                                                                                 Ar. Ar.

                                                        URUGUAI                                                                     0
                                                                                                                                    0
                                                                                                                                           100 200 300Milhas
                                                                                                                                          150 300 450 Quilômetros
                                                                                   ZOOM                                                                                                                                        Fonte: IBGE (Brasil)
                                                                                                                                                                                                                 Elaboracão: CEFCH-UN (Colombia)




     Figura 1. Localização do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil.
     Fonte: IBGE, 2009.




     UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                                                                                                                   63

      (%)
100

                                                                                                                                                        84,4
                                                                                                                                   81,6
 80
                                                                                                              76,6
            68,8
                            65,9                                                          67,5

 60
                                                 54,4                53,3
                                          45,6               46,7

 40
                                   34,1
                     31,2                                                        32,5

                                                                                                      23,4
 20                                                                                                                       18,4
                                                                                                                                               15,6



  0
               1940            1950          1960               1970                 1980                 1991                2000                 2005


                   Rural
                   Urbaha



  Figura 2. Gráfico da evolução da população do Rio Grande do Sul (1940-2005) (IBGE 2000).
  Fonte: Elaborado a partir do Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, 2009.




  Grande do Sul, que utiliza a base de dados do IBGE, a                           Essa delimitação do urbano e do rural utilizada pelo
  evolução histórica da população urbana do Estado do                         IBGE é muito contestada no meio acadêmico. No entan-
  Rio Grande do Sul (figura 2).                                               to, com o intuito de contribuir com essa reflexão bus-
     Observamos na figura 2 que durante os últimos 65                         camos trabalhar novas alternativas metodológicas que
  anos a população urbana do Estado cresceu mais de                           possam retratar com mais fidedignidade o delineamen-
  53% em relação a população rural, que seguiu em queda                       to do urbano e do rural, identificando as novas rurali-
  sucessiva. Segundo o referido Atlas, o total da popula-                     dades existentes no território do Estado do Rio Grande
  ção urbana do Rio Grande do Sul ultrapassou o total da                      do Sul, obscuras à metodologia utilizada pelo IBGE.
  população rural na década de 1960, mantendo a partir                            A OCDE, segundo Abramovay (2006), cria em 1994
  daí um crescimento constante.                                               uma divisão de desenvolvimento territorial, cujo pri-
     Seguindo a metodologia empregada pelo IBGE, o Rio                        meiro trabalho consistiu numa nova delimitação das
  Grande do Sul apresenta a maior parte do seu território                     fronteiras entre o rural e o urbano e na elaboração de
  considerado como urbano (figura 3), sendo que a taxa                        indicadores que permitiram compreender as disparida-
  de urbanização predominante no Estado está fixada                           des entre as diferentes situações territoriais encontra-
  em níveis superiores a 50%, chegando em várias áreas                        das nos países membros da organização.
  a 100%. A média da taxa de urbanização do Estado em                             Tal delimitação, de acordo com Veiga (2007), permi-
  2000, segundo o Atlas Socioeconômico do Rio Grande                          tiu a elaboração de uma tipologia regional que consi-
  do Sul, alcançou 81,6%, maior que a taxa de urbaniza-                       dera como rurais as localidades que apresentarem den-
  ção brasileira para o mesmo período, 81,2%.                                 sidade populacional inferior a 150hab/km2, salvo para
                                                                              o caso específico do Japão que devido à características


                                                    CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
64   Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias




                     PARAGUAI

                                                                                                                                      Santa Catarina
                                                                                                      Erechim
                                                           Santa Rosa

                     ARGENTINA                                                                       Passo Fundo

                                            São Borja

                                                                                                                         Caixas do Sul


                                                                         Santa Maria
                   Uruguaina
                                                                                                                         Porto Alegre



                                                                                                                                              OCEANO
                                                                                                                                             ATLÂNTICO

                                                                  Bagé
                                                                                                    Pelotas

                                                                                                                         TAXA DE URBANIZAÇÃO
                                                                                                                         POR MUNICIPIO (%):
                                    URUGUAI
                                                                                                   Rio Grande               0 - 25
                                                                                                                            25 - 50
                                                                                                                            50 - 75
                                                                                                                            75 - 100
                                                                                                                                                  Brasil: 81,25%
                                                                                                                                       Rio Grande do Sul: 81,65%


                                                                                                      0            100                 200                   300
         Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000
         Elaboração: CEFCH-UN (Colombia)                                                                                                             Quilômetros



      Figura 3. Rio Grande do Sul: Taxa de urbanização municipal, 2005.
      Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, 2009.



     singulares deve apresentar densidade populacional in-                             •	 Essencialmente Urbano: localidades com menos de
     ferior a 500 hab/km2. Um segundo critério utilizado                                  15% de sua população vivendo no meio rural.
     pela OCDE para definir os territórios rurais é a porcen-
     tagem da população que vive em localidades considera-                              É a partir desta tipologia que José Eli da Veiga abor-
     das rurais. Assim, a classificação dos territórios pode                        da a necessidade de reorientação do que entende-se por
     ser tipificada em essencialmente rural, intermediário                          urbano e por rural no Brasil, estabelecendo novos cri-
     ou essencialmente urbano.                                                      térios que deveriam ser utilizados para sua definição.
       •	 Essencialmente Rural: localidades com mais de 50%                         Veiga, servindo-se dos trabalhos realizados pela OCDE,
          de sua população vivendo no meio rural;                                   toma a dianteira no debate deste tema, e nos últimos
       •	 Intermediário: localidades que apresentam popula-                         anos vem criticando veementemente a inadequação
          ção vivendo no meio rural entre 15% e 50%;                                dos critérios normativos que definem o tamanho do ru-



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A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                                                                                                                   65

ral no Brasil. Sua tese parte do pressuposto que o Brasil                     nos de 20 mil habitantes (VEIGA, 2002). Porém, para
não é tão urbano quanto pensa-se, fato que é eviden-                          que a análise não torne-se ilusória, como os resultados
ciado no seu livro Cidades Imaginárias: O Brasil é Menos                      encontrados a partir das análises respaldadas nas nor-
Urbano do que se Calcula (2002).                                              mas legais, é preciso combinar outros critérios. Veiga
    Veiga (2002, 31) afirma que “o entendimento do pro-                       utiliza em sua delimitação a quantidade populacional
cesso de urbanização do Brasil é atrapalhado por uma                          do município, a densidade demográfica do município e
regra muito peculiar, que é única no mundo”. Veiga                            sua localização. Diferentemente dos critérios estabele-
crítica a metodologia adotada pelo IBGE, que possibi-                         cidos pelo Decreto-Lei 311 de 1938, e pela metodologia
lita, por exemplo, que uma sede de um município com                           utilizada pelo IBGE, Veiga distribui os municípios em
menos de 100 habitantes seja considerado como sendo                           três tipologias:
urbano da mesma maneira que um município com mais                               •	 Municípios Tipicamente Rurais: Municípios com me-
de um milhão de habitantes (figura 4).                                             nos de 50 mil habitantes e densidade demográfica
    Para contornar esse obstáculo metodológico, mui-                               inferior a 80 hab/km2;
tos estudiosos procuraram não considerar como urba-                             •	 Municípios Ambivalentes: Municípios com população
nos os habitantes que vivem em municípios com me-                                  entre 50 e 100 mil habitantes ou municípios com




Figura 4. Crítica de José Eli da Veiga aos critérios utilizados pelo IBGE para a delimitação do Urbano e Rural no Brasil.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE/SIDRA, 2009; e imagens Google Earth, 2009.




                                                    CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
66   Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias




            população menor de 50 mil habitantes e densidade                        alternativa se tem 27,7 % da população, uma diferença
            demográfica superior a 80 km2;                                          de aproximadamente 11%.
         •	 Municípios Tipicamente Urbanos: Municípios com                              A grande diferença entre os resultados apresentados
            mais de 100 mil habitantes ou municípios localiza-                      atesta o pressuposto de Veiga que nem o Brasil, e nem
            dos em aglomerações metropolitanas.                                     o Rio Grande do Sul são tão urbanos quanto se calcula.
                                                                                    Tal diferença é encontrada principalmente pela criação
         Os municípios podem ser considerados urbanos ou                            de uma nova categoria de análise, na qual são identi-
     rurais, da mesma forma como define o IBGE, porém                               ficados os municípios que não são tipicamente rurais,
     Veiga classifica-os também de acordo com critérios                             nem tipicamente urbanos, demonstrando assim, as no-
     que possibilitam a identificação da intensidade do uso                         vas ruralidades existentes no território. Essa categoria,
     do meio ambiente em função da ação humana. Desse                               juntamente com os critérios de análise desenvolvidos
     modo, tal avaliação possibilita a identificação de muni-                       por Veiga, representa uma mudança no atual método
     cípios que encontram-se na faixa intermediária entre                           de análise do urbano e do rural no Brasil, visto que se-
     o tipicamente urbano e o tipicamente rural, que são os                         guindo esta metodologia, 17,5% da população do Esta-
     considerados, por Veiga, como ambivalentes.                                    do do Rio Grande do Sul vivem em municípios conside-
         A tabela 1 demonstra a aplicação da metodologia ofi-                       rados ambivalentes, municípios, estes, que apresentam
     cial brasileira (IBGE) e da metodologia estabelecida por                       características tanto urbanas quanto rurais.
     José Eli da Veiga para a distribuição da população do                              A partir da aplicação dos critérios definidos por Vei-
     Estado do Rio Grande do Sul. Fica visível a discrepância                       ga na classificação do urbano e do rural no território
     entre as duas metodologias. Seguindo a metodologia                             riograndense, observa-se na tabela 2, que dos 496 mu-
     do IBGE, a população urbana do Rio Grande do Sul em                            nicípios gaúchos, 40 são classificados como tipicamen-
     2006 era de 83,4% da população total, já pela metodo-                          te urbanos (8,1%), 50 são considerados ambivalentes
     logia de Veiga esta porcentagem é reduzida em quase                            (10,1%) e a maioria deles, 406 são considerados, a partir
     30%, no ano de 2007 a população urbana correspondia                            desta metodologia, como tipicamente rurais (81,8%).
     a 54,7% da população total. A mesma discrepância é ve-
     rificada na comparação da população rural, onde pelo                                      Tabela 2. Classificação dos municípios do
     IBGE se tem o indicador de 16,6% e pela metodologia                                       Estado do Rio Grande do Sul de acordo com
                                                                                                  a metodologia estabelecida por Veiga.
             Tabela 1. Distribuição da população no Rio Grande                       Tipologia              Número de Municípios       Porcentagem
                do Sul: Classificação seguindo a metodologia
                    do IBGE e de José Eli da Veiga 2007 7.1                          Urbanos                           40                   8,1%
                                                                                     Ambivalentes                      50                  10,1%
                            Metodologia                  Metodologia
                            IBGe (2006)                  Veiga (2007)                Rurais                           406                  81,8%
         Tipologia     Habitantes   Porcentagem     Habitantes     Porcentagem       Total                            496                  100,0%
         Urbana        8.789.821      83,4%         5.792.626        54,7%
                                                                                     Fonte: elaborado pelos autores a partir da base de dados IBGE/
         Ambiva-                                                                     SIDRA, 2009.
         lente             -              -         1.853.786        17,5%
         Rural         1.746.188       16,6%        2.936.428        27,7%              A espacialização desta classificação, através da iden-
         Total        10.536.009      100,0%       10.582.840       100,0%          tificação e localização dos municípios no mapa do Rio
         Fonte: elaborado pelos autores a partir da base de dados IBGE/             Grande do Sul (figura 5), demonstra e dá a noção das
         SIBRA, 2009 e FeeDados, 2009.
                                                                                    novas ruralidades ou das ruralidades que até então não
                                                                                    eram identificadas pela metodologia oficial brasileira.
                                                                                    Fica evidente neste contexto o tamanho do rural no Rio
     7     Os dados utilizados na classificação da população de acor-
           do com a metodologia de José Eli da Veiga são referentes ao              Grande do Sul.
           ano de 2007. Como até o momento da conclusão do estudo, o                    Observamos que os municípios tipicamente rurais
           IBGE não havia divulgado a população urbana e rural para o               predominam no território riograndense. Já os municí-
           ano de 2007, as informações apresentadas na distribuição da
                                                                                    pios considerados ambivalentes, em menor número que
           população de acordo com a metodologia do IBGE se referem
           ao ano de 2006 e foram coletados junto à base de dados da                os municípios classificados como tipicamente rurais e
           Fundação de Estatística do Rio Grande do Sul - FeeDados.                 em maior número que os classificados como tipicamen-


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A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                                                                                                                        67

te urbanos, encontram-se bem distribuídos pelo Estado.                       Considerações finais
Os municípios tipicamente urbanos localizam-se majo-
ritariamente na região metropolitana de Porto Alegre,                            Seguindo a sua metodologia normativa oficial, o
exceto Uruguaiana na região da Fronteira Oeste, Bagé                         Brasil (e o Rio Grande do Sul) em pouco tempo tornaria-
na Campanha, Pelotas e Rio Grande na região Sul, Santa                       se integralmente urbano. Em virtude disso e, ressaltan-
Maria na Depressão Central, Santa Cruz do Sul no Vale                        do que a sociedade rural brasileira (e a do Rio Grande do
do Rio Pardo, Passo Fundo no Planalto Médio e, Caxias                        Sul) não pode ser desconsiderada da formulação e dire-
do Sul e Bento Gonçalves na região da Serra.                                 cionamento de políticas públicas, localizar espacialmen-




                PARAGUAI

                                                                                                                                    Santa Catarina



                ARGENTINA




                                                                                                                                       OCEANO
                                                                                                                                      ATLÂNTICO


                               URUGUAI
                                                                                                                        LEGENDA:
                                                                                                                            Municípios tipicamente rurais - 406
                                                                                                                            Municípios ambivalentes - 50
                                                                                                                            Municípios tipicamente urbanos - 40



                                                                                                 0                100                  200                        300

                                                                                                                                                       Quilômetros
    Elaboração: CEFCH-UN (Colombia)




Figura 5. Rio Grande do Sul: Aplicação da tipologia desenvolvida por José Eli da Veiga para a delimitação do urbano e do rural.
Fonte: IBGE/SIDRA (2009), Banco de dados Geociências - IBGE (2009).




                                                   CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
68   Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias




     te o rural é uma questão de fundamental importância                                Neste contexto, muito embora o debate sobre a ti-
     para o conhecimento e planejamento do território.                              pologia ideal e necessário a respeito do rural e o urbano
         O reconhecimento espacial das características parti-                       esteja longe do consenso, dado sua complexidade e im-
     culares do território, sejam elas rurais ou urbanas, pos-                      plicações de toda ordem, concluímos que as reflexões
     sibilitam um diagnóstico mais preciso dos problemas                            de José Eli da Veiga são importantes e oportunas, pois
     que manifestam-se no território e que precisam ser                             ao mesmo tempo que denunciam distorções concei-
     enfrentados através da formulação e implementação                              tuais e metodológicas, haja vista os desdobramentos
     de políticas públicas. Acreditamos não ser possível dis-                       que trazem no campo da política, economia, sociologia,
     sociar integralmente o rural do urbano ou o urbano do                          antropologia e ecologia, chamam à atenção para a ne-
     rural, pois estes espaços sofrem influências de comple-                        cessidade de uma reavaliação dos critérios oficiais, por-
     mentaridade, como é apontado na abordagem do conti-                            tanto políticos, a respeito deste tema.
     nuum. No entanto, o reconhecimento das diferenças ou                               Ou seja, a reavaliação dos critérios oficiais brasilei-
     semelhanças das características urbano/rurais do terri-                        ros, utilizados para definição do urbano e do rural, tor-
     tório permite a identificação das heterogeneidades em                          na-se cada vez mais necessária. Somente uma releitura
     seu espaço e, com isso, a mensuração da predominância                          atualizadora da configuração espacial brasileira, com
     das características urbanas ou rurais.                                         identificação das particularidades e especificidades de
         A aplicação dos critérios estabelecidos por José Eli                       cada parcela do território, tornaria possível a inver-
     da Veiga, para definir o urbano e o rural, evidencia que                       são do quadro que se apresenta, nas últimas décadas,
     os territórios precisam ser mais bem analisados. A de-                         de crescente urbanização, possibilitando, a partir do
     limitação do rural e do urbano realizada nesse estudo                          respaldo nas reais características locais do território,
     confirma a necessidade de se avaliar, revisar e construir                      a construção de novas propostas de desenvolvimento.
     tipologias para tal análise, tipologias estas que possam
     tornar notáveis as diferentes realidades espaciais dos
     municípios brasileiros.




                                                         Alcione Talaska
                                                              Geógrafo con especialización en Levantamientos Geodésicos: Certifica-
                                                              ción de Inmuebles Rurales y Georreferenciación Incra por la Universidade
                                                              Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Actualmente cursa la
                                                              Maestría del Programa de Posgrado en Desarrollo Regional de la Universi-
                                                              dade de Santa Cruz do Sul- UNISC.

                                                         Almir Arantes
                                                              Historiador de la Universidade Estadual de Londrina (UEL), y con maestría
                                                              en historia de la Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
                                                              (UNESP). Es profesor de la Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE-
                                                              MAT) y doctorando en Desarrollo Regional de la Universidade de Santa
                                                              Cruz do Sul (UNISC).

                                                         José Antonio Assumpção Farias
                                                              Graduado en Ciencias Económicas de la Pontifícia Universidade Católica do
                                                              Rio Grande do Sul (PUC/RS). Especialista en Gestión y Políticas Públicas de
                                                              la Escola Superior de Administração Publica do Estado do Rio Grande do
                                                              Sul (ESAPERGS). Actualmente cursa la maestria em Desarrollo Regional de
                                                              la Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC).


     UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                                                                                                              69

Referências                                                              Da Veiga, José. 2001. Desenvolvimento Territorial do Brasil: Do
                                                                             entulho Varguista ao Zoneamento Ecológico-Econômico. Po-
Abramovay, Ricardo. 2003. O futuro das regiões rurais. Porto                 nencia apresentada no XXIX Encontro Nacional de Eco-
    Alegre: Editora da UFRGS.                                                nomia, 11 ao 14 de dezembro. Salvador: ANPEC. http://
Abramovay, Ricardo. 2006. A Dimensão Territorial do Desen-                   www.anpec.org.br/encontro2001/ artigos/200105079.
    volvimento. Brasília: Cofecon.                                           pdf (consulta setembro 2008).
Banco de Dados FEE. 2009. FEEDados. Fundação de Econo-                   Da Veiga, José. 2002. Cidades Imaginárias: O Brasil é menos
    mia e Estatística do Rio Grande do Sul, FEE, http://www.                 Urbano do que se calcula. Campinas: Autores Associados.
    fee.rs.gov.br/feedados/consulta/sel_modulo_ pesquisa.                Da Veiga, José. 2005. Desenvolvimento sustentável: o desafio do
    asp (consulta maio 2009).                                                século XXI. Rio de Janeiro: Garamond.
Google Earth. 2009. http://earth.google.com (consulta maio               Da Veiga, José. 2007. Mudanças nas relações entre espaços ru-
    2009).                                                                   rais e urbanos. En Economia e Território no Brasil Contem-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. 2008.                 porâneo, ed. Elzira de Oliveira y Rosélia Piquet. http://
    IBGE Países@. http://www.ibge.gov.br/paisesat (consulta                  www.econ.fea.usp.br/zeeli/Livros/2007_b_MUDANCAS_
    novembro 2008).                                                          RUR_ URB.pdf.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Banco            Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Rio Gran-
    de Dados Geociências. 2009. Mapas. ftp://geoftp.ibge.                    de do Sul — SEPLAG. 2009. Atlas Socioeconômico Rio
    gov.br/mapas (consulta maio 2009).                                       Grande do Sul. http://www.seplag.rs.gov.br/atlas/de-
Organisation for Economic Co-Operation and Development                       fault.asp (consulta janeiro 2009).
    (OCDE). 2009. OCDE Member Countries. http://www.oecd.                Sistema IBGE de Recuperação Automática, SIDRA. 2009. Ban-
    org (consulta maio 2009).                                                co de dados Agregados IBGE/SIDRA. http://www.sidra.ibge.
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). TerraView                  gov.br (consulta janeiro 2009).
    versão 3.3.1. 2009. http://www.dpi.inpe.br/terraview/in-             Wanderley, Maria. 2001. A ruralidade no Brasil moderno. Por
    dex.php; consulta abril 2009.                                            um pacto social pelo desenvolvimento rural. En Una nueva
Da Veiga, José. 1994. Metamorfoses da política agrícola dos Es-              ruralidad en América Latina, ed. Giacarra, Norma, Buenos
    tados Unidos. São Paulo: Annablume Editora.                              Aires: CLACSO. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/
Da Veiga, José. 2000. A face rural do desenvolvimento: nature-               libros/rural/wanderley.pdf.
    za, território e agricultura. Porto Alegre: Ed. da Universi-
    dade/UFRGS.




                                               CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA

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A delimitação do urbano e do rural no rs, brasil

  • 1. A delimitação do urbano e do rural no Rio Grande do Sul, Brasil La delimitación de lo urbano y lo rural en Río Grande del Sur, Brasil The border between the urban and the rural in Rio Grande do Sul, Brazil Alcione Talaska* Almir Arantes** José Antonio Assumpção Farias*** Universidade de Santa Cruz do Sul, Brasil. Resumo Resumen Abstract A problemática de identificar o urbano La problemática de identificar lo The difficulties that arise when e o rural no Brasil radica na utilização urbano y lo rural en Brasil radica en la identifying the urban and the rural in de conceitos e metodologias que são utilización de conceptos y metodologías Brazil lie in the use of concepts and inadequados, pois oferecem uma visão que resultan inadecuados, porque methodologies that result inadequate, deformada com relação à realidade dos brindan una visión deformadora de la since they end up giving a distorting municípios estudados. No Brasil, os realidad de los municipios estudiados. view of the studied municipalities’ critérios atualmente empregados para En Brasil, los criterios actualmente reality. In Brazil, the criteria employed tal delimitação consideram-se atrasados, empleados para tal delimitación se currently for such delimitation are já que datam do Decreto-Lei 311 de 1938 consideran atrasados, puesto que datan considered old-fashioned, since they e necessitam atualizações. Portanto, o del Decreto-Ley 311 de 1938 y están originated from the Decree-Law 311 objetivo é analisar o território do Rio pendientes de actualizaciones. Por ello, of 1938 and need to be updated. For Grande do Sul (Brasil), procurando el objetivo es analizar el territorio de these reasons, this study intends to delimitar o urbano e o rural a partir de Río Grande del Sur (Brasil), buscando analyze the territory of Rio Grande uma proposta metodológica alternativa. delimitar lo urbano y lo rural a partir de do Sul (Brazil), in order to delimit the Analisam-se três metodologias de una propuesta metodológica alternativa. urban and the rural from an alternate delimitação do urbano e do rural (a Se analizan tres metodologías de methodological proposal. Three oficial, a da OCDE e a de José Eli da Veiga), delimitación de lo urbano y lo rural (la methodologies for delimiting the urban para depois estudar suas diferenças e oficial, la de la OCDE y la de José Eli da and the rural (the official one, the similitudes e assim, propôr critérios Veiga), para estudiar sus diferencias y OCDE’s and that of José Eli da Veiga) are metodológicos de acordo com as dinâmicas similitudes y, así, proponer criterios used in order to study their differences espaciais dos municípios. Este texto metodológicos acordes con las dinámicas and similarities and thus propose procura contribuir, em alguma medida, às espaciales de los municipios. Se busca methodological criteria appropriate for discussões relacionadas com a emergência contribuir, en alguna medida, a las the municipalities’ spatial dynamics. This de um novo paradigma de diferentes e discusiones sobre la emergencia de text seeks to somehow contribute to the novas tipologias para tal classificação. un nuevo paradigma y de diferentes y debates concerning the emergence of a nuevas tipologías para tal clasificación. new paradigm and of different and new typologies for such classification. Palavras chave: território, o urbano, o Palabras clave: territorio, lo urbano, Keywords: territory, the urban, rural, políticas públicas, desenvolvimento. lo rural, políticas públicas, desarrollo. the rural, public policies, development. RECIBIDO: 28 DE AGOSTO DEL 2009. ACEPTADO: 27 DE OCTUBRE DEL 2009. Artículo de investigación que identifica una nueva tipología para diferenciar entre lo urbano y lo rural. * Dirección Postal: Av. Independência, 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul - RS. Correo electrónico: talaska.alcione@gmail.com ** Dirección postal: Av. Independência, 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul - RS. Correo electrónico: almir.ski@hotmail.com *** Dirección Postal: Av. Independência, 2293 Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul - RS. Correo electrónico: jantonioafarias@hotmail.com CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA | PP. 59-69
  • 2. 60 Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias Introdução1 metodologia empregada atualmente em estudos ofi- ciais no país, a fim de adotar-se uma metodologia que A problemática tida na definição do que é urbano e considere critérios específicos que permitam aferir de do que é rural, particularmente no Brasil, retrata uma forma mais precisa as realidades territoriais brasileiras. realidade em que a utilização tanto de conceitos quanto A constante reavaliação metodológica e de seus de metodologias mostra-se, na maioria das vezes, redu- critérios para a delimitação do urbano e do rural con- cionista e perversora da realidade encontrada na maio- tribuiria para a construção de um bom indicador do ria dos municípios brasileiros. A metodologia adotada grau de modificação antrópica do ambiente. Segundo atualmente para a delimitação do urbano e do rural no Veiga (2002), utilizar critérios definidores da rurali- Brasil diverge da utilizada na maioria dos países. Essa dade, baseados no diagnóstico da intensidade do uso metodologia baseia-se em critérios estabelecidos ain- do território em função da ação humana, retrataria de da no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), forma mais fidedigna a realidade urbano/rural do ter- mais precisamente no auge da Ditadura do Estado ritório brasileiro. Novo, através do Decreto-Lei 311/1938. A partir desse contexto, pretendemos analisar a deli- Tal decreto estabeleceu a diferença dicotômica entre mitação do urbano e do rural no Estado do Rio Grande os espaços urbanos e rurais apenas a partir da delimita- do Sul/Brasil, partindo de um exame sobre dados secun- ção territorial do urbano através das sedes dos municí- dários disponibilizados pelo IBGE (população, área terri- pios (cidades) e de seus distritos (vilas), sem a preocupa- torial oficial e localização dos municípios) e tendo como ção de combinar outros critérios que possibilitariam um referencia a base metodológica oficial brasileira e a me- recorte mais detalhado. A atualização desses critérios todologia alternativa desenvolvida por José Eli da Veiga. contribuiria para a produção de políticas públicas volta- Partimos primeiramente de uma breve explanação sobre das às especificidades e particularidades dos territórios a delimitação do urbano e do rural, com alusão as abor- rurais, dos territórios urbanos e dos territórios que apre- dagens dicotômica e de continuum. Posteriormente, assi- sentam características urbanas ou características rurais. nalamos para a existência de metodologias alternativas Dessa metodologia adotada oficialmente no Brasil, à metodologia oficial brasileira, como as desenvolvidas observamos uma distorção no nível de urbanização. A pela OCDE3 e por José Eli da Veiga4. E por fim, realiza- população brasileira considerada urbana supera a mar- mos um cruzamento de informações que possibilitam a ca de 84%, enquanto a população rural é entendida me- visualização das diferenças entre as duas metodologias ramente como a parte residual, e que está em caminho e seus desencontros no território do Rio Grande do Sul. do desaparecimento. Salientamos que, a partir desta Assim, o presente estudo justifica-se pelo interes- metodologia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Ge- se em retratar as diferenças que a metodologia oficial ografia e Estatística (IBGE), o Brasil é mais urbanizado brasileira e a desenvolvida por Veiga apresentam entre que muitos países desenvolvidos e com elevadas taxas si. E ainda, pela necessidade de se discutir os proble- de urbanização, tal como os EUA, com taxa de urbaniza- mas relacionados às definições do que seja urbano e ção igual a 80,8%, a Espanha com 76,7%, a França com rural, com a construção de novas tipologias que possi- 76,6%, a Itália com 67,5% e Portugal com 55,6% de taxa bilitem a identificação e representação mais fidedigna de urbanização (IBGE, 2008)2. das realidades territoriais. Em virtude disso, assistimos, nos últimos anos, uma ampliação de estudos e discussões sobre o significado e 3 A OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento o tamanho do rural no Brasil. Estes estudos apontam Econômico é uma organização internacional e intergoverna- para a necessidade e a importância da reavaliação da mental que agrupa os países mais industrializados da econo- mia de mercado. Originalmente a OCDE era composta por 20 países. Desde o seu surgimento em 1960, 10 foram os países 1 O trabalho aqui apresentado é resultado de estudos realiza- que ingressaram na organização (OCDE, 2009). dos na disciplina de Desenvolvimento Rural e Urbano, mi- 4 José Eli da Veiga é professor de economia da FEA-USP, onde nistrada pela Profa Dra. Virginia Elisabeta Etges e pelo Prof. coordena o Núcleo de Economia Socioambiental (NESA). Dr. Rogério Leandro Lima da Silveira, no Programa de Pós- Além de artigos em periódicos científicos nacionais e estran- graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade geiros, e diversos capítulos de obras coletivas, publicou 17 de Santa Cruz do Sul (UNISC), Brasil. livros, entre os quais: Agricultura Sustentável (2005), Cidades 2 Os dados referentes as taxas de urbanização, aqui apresenta- Imaginárias (2002), A Face Rural do Desenvolvimento (2000), dos, estão disponíveis no site do IBGE (2008). Metamorfoses da Política Agrícola dos EUA (1994). UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
  • 3. A delimitação do urbano e do rural no Rio Grande do Sul, Brasil 61 O urbano e o rural a partir da própria realidade rural, espacial e socialmente dis- das abordagens dicotômicas tinta da realidade urbana”5. e de continuum Com vistas a esta vertente do continuum rural-urba- no, evidencia-se que o rural perderia sua identidade en- As transformações recentes ocorridas na sociedade quanto espaço rural, ou seja, o espaço urbano enquanto e nas relações entre o rural e o urbano têm desafiado fonte de valores dominantes estabeleceria seu domínio estudiosos a construírem teorias e conceitos para ex- sobre todo o conjunto urbano-rural da sociedade. plicar a realidade em que o mundo atual encontra-se. No caso da segunda vertente, o continuum rural- Nesta seção, apresentamos duas grandes abordagens urbano é entendido teóricas, que de uma forma geral, procuram definir e [...] ressaltando-se as semelhanças entre os dois explicar o rural, o urbano e suas relações. De um lado a extremos e a continuidade entre o rural e o urbano, as abordagem dicotômica infere o urbano (cidade) como relações entre o campo e a cidade não destroem as par- oposto ao rural (campo) e, de outro lado, a abordagem ticularidades dos dois polos e, por conseguinte, não re- de continuum defende que o urbano e o rural não são presentam o fim do rural; o continuum se desenha entre opostos, mas sim próximos um do outro. um polo urbano e um polo rural, distintos entre si e em A abordagem dicotômica ou dualista é amplamen- intenso processo de mudança em suas relações. (Wan- te utilizada pelo senso comum. O urbano e o rural são derley 2001, 33) entendidos como partes separadas, independentes um do outro. O rural é miticamente tratado como pobre, Nesta vertente, a autora afirma que mesmo haven- atrasado, trazendo a ideia de estar ligado unicamente do uma forte homogeneização entre os espaços rurais a atividades agrícolas ou pecuárias, enquanto o urbano e urbanos, ambos manteriam diferenças significativas traduz-se carregado de uma ideologia positivista, sen- entre si, principalmente em reflexo as suas identidades do entendido como sinônimo de progresso, de “desen- socioeconômicas. Nessa segunda vertente do conti- volvimento” e de riqueza. nuum, a existência do rural é reafirmada, diferentemen- Esta abordagem é alvo de questionamentos no meio te da primeira que afirma o seu desaparecimento. acadêmico, onde se procura avançar na discussão par- Com vistas as abordagens apresentadas, salien- tindo-se do princípio que os conceitos formais de rural tamos que para o melhor entendimento ou conheci- e urbano, baseados nesta dicotomia, são insuficientes mento das ruralidades ou urbanidades expressas em para explicar os complexos processos sócioespaciais e determinado território, é necessária a observação das econômicos em curso no território brasileiro. transformações socioeconômicas e ambientais que ma- Já a abordagem de continuum, de acordo com Wan- nifestam-se e concretizam-se neste território. Nesse derley (2001), considera relações de complementarida- sentido, um enfoque analítico territorial seria o mais de entre os dois espaços, o urbano e o rural. Estas rela- adequado, visto que tanto o enfoque manifestado na ções podem ser visualizadas a partir de uma vertente abordagem dicotômica, quanto na abordagem de conti- que privilegia o urbano em relação ao rural ou então nuum inferem basicamente a contradição ou a comple- a partir de outra vertente que evidencia que a relação mentaridade entre o urbano e o rural. de continuum rural-urbano aproxima e integra os dois polos extremos, mantendo suas particularidades. Novas abordagens metodológicas A idéia do continuum rural-urbano, no caso da pri- para a delimitação do urbano e do rural: meira vertente, indica que o extremo urbano do con- O caso do Rio Grande do Sul, Brasil tinuum é visto como o polo dominante, e por isso fon- te do progresso, enquanto o extremo rural entendido Nesta seção, apresentamos, enquanto pressupostos como o polo atrasado, com tendência a reduzir sua in- de análise, três metodologias empregadas para a deli- fluência sobre o extremo urbano. mitação do urbano e do rural. Primeiramente, eviden- Segundo Wanderley (2001, p. 32-33), levada às úl- ciamos a delimitação do urbano e do rural no Estado do timas consequências esta vertente aponta para “um processo de homogeneização espacial e social, que se 5 A industrialização dos produtos agropecuários seria um fa- traduziria por uma crescente perda de nitidez das fron- tor que tenderia a aproximar o urbano do rural, fortalecendo teiras entre os dois espaços sociais e, sobretudo, o fim o processo de homogeneização. CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
  • 4. 62 Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias Rio Grande do Sul (figura 1) a partir da metodologia ofi- Seguindo estes pressupostos estabelecidos pelo De- cial brasileira, a metodologia utilizada pelo IBGE, pos- creto-Lei 311/1938, o IBGE, ainda nos dias atuais, clas- teriormente descrevemos os critérios utilizados pela sifica o território brasileiro levando em consideração as OCDE e, por fim, apresentamos a proposta de José Eli cidades, as vilas e os distritos como perímetro urbano6. da Veiga para o caso brasileiro, através de mapeamento A classificação fundamenta-se nas áreas, sendo a popu- tipológico dos municípios do Rio Grande do Sul/Brasil. lação classificada como rural ou urbana de acordo com a A metodologia oficial brasileira foi estabelecida no localização de seu domicílio. O rural, nessa perspectiva, auge do Estado Novo, pelo Decreto-Lei 311 de 1938. é entendido como toda a área remanescente, ou seja, Este decreto definiu a delimitação do urbano e do rural que estiver fora do perímetro urbano. no Brasil, e fez que No entendimento de Abramovay (2003), este vício [...] todas as sedes municipais existentes virassem ci- de raciocínio, de identificar-se o urbano a partir de um dades, independentemente de quaisquer características mínimo de adensamento populacional, um mínimo de estruturais ou funcionais. Foram consideradas urbanas acesso a infraestruturas e serviços básicos, contribui todas essas sedes, mesmo que não passassem de ínfimos decisivamente para que as áreas rurais sejam assimila- vilarejos ou povoados. Para futuras cidades seria exigida das automaticamente a atraso, com carência de servi- a existência de pelo menos 200 casas, e para futuras vilas ços e falta de cidadania. (sedes de distrito), um mínimo de 30 moradias. Mas to- Analisando brevemente os censos demográficos das as localidades que àquela data eram cabeça de muni- disponibilizados pelo IBGE fica evidente a crescente cípio, passaram a ser consideradas urbanas, mesmo que urbanização do território brasileiro. Como exercício, e sua dimensão fosse muito inferior ao requisito mínimo para a ilustração desta afirmação com dados, buscamos fixado para as novas (Veiga 2001, 2). no Atlas de Desenvolvimento Sócio Econômico do Rio 6 O perímetro urbano é definido por Lei Municipal. VENEZUELA GUAINA PARAGUAI SANTA SURINAME FRANCESA CATARINA COLÔMBIA Boa Vista GUAINA OCEANO AMAPÁ ATLÂNTICO ARGENTINA RORAIMA Macapá Belém Manaus AMAZONAS São Luis RIO PARÁ Fortaleza GRANDE MARANHÃO Teresina DO SUL CEARÁ RIO GRANDE Na. Porto Alegre DO NORTE PIAUÍ PARAÍBA J. P. ACRE Porto Velho Palmas PERNAMBUCO Re. Rio Branco BRASIL TOCANTIS ALAGOAS Ma. RONDÔNIA SERGIPE Ar. MATO GROSSO BAHIA PERU Cuiabá Salvador OCEANO GOÍAS Brasilia URUGUAI ATLÂNTICO BOLÍVIA Goiâna MATO GROSSO MINAS 0 150 150 Quilômetros DO SUL GERAIS ESPIRITU SANTO Campo Belo Horizonte Grande Vitória SÃO PAULO RIO DE JANEIRO CHILE PARAGUAI Rio de Janeiro São Paulo PARANÁ DIVISÃO POLITICO-ADMINISTRATIVA ESTADO OCEANO PACÍFICO Curitiba REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Na. Natal SANTA CATARINA Florianópolis OCEANO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL J. P. João Pessoa RIO ARGENTINA GRANDE ATLÂNTICO Capital Nacional Re. Re. DO SUL Ma. Ma. Porto Alegre Capital Departamental Ar. Ar. URUGUAI 0 0 100 200 300Milhas 150 300 450 Quilômetros ZOOM Fonte: IBGE (Brasil) Elaboracão: CEFCH-UN (Colombia) Figura 1. Localização do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil. Fonte: IBGE, 2009. UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
  • 5. A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil 63 (%) 100 84,4 81,6 80 76,6 68,8 65,9 67,5 60 54,4 53,3 45,6 46,7 40 34,1 31,2 32,5 23,4 20 18,4 15,6 0 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2005 Rural Urbaha Figura 2. Gráfico da evolução da população do Rio Grande do Sul (1940-2005) (IBGE 2000). Fonte: Elaborado a partir do Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, 2009. Grande do Sul, que utiliza a base de dados do IBGE, a Essa delimitação do urbano e do rural utilizada pelo evolução histórica da população urbana do Estado do IBGE é muito contestada no meio acadêmico. No entan- Rio Grande do Sul (figura 2). to, com o intuito de contribuir com essa reflexão bus- Observamos na figura 2 que durante os últimos 65 camos trabalhar novas alternativas metodológicas que anos a população urbana do Estado cresceu mais de possam retratar com mais fidedignidade o delineamen- 53% em relação a população rural, que seguiu em queda to do urbano e do rural, identificando as novas rurali- sucessiva. Segundo o referido Atlas, o total da popula- dades existentes no território do Estado do Rio Grande ção urbana do Rio Grande do Sul ultrapassou o total da do Sul, obscuras à metodologia utilizada pelo IBGE. população rural na década de 1960, mantendo a partir A OCDE, segundo Abramovay (2006), cria em 1994 daí um crescimento constante. uma divisão de desenvolvimento territorial, cujo pri- Seguindo a metodologia empregada pelo IBGE, o Rio meiro trabalho consistiu numa nova delimitação das Grande do Sul apresenta a maior parte do seu território fronteiras entre o rural e o urbano e na elaboração de considerado como urbano (figura 3), sendo que a taxa indicadores que permitiram compreender as disparida- de urbanização predominante no Estado está fixada des entre as diferentes situações territoriais encontra- em níveis superiores a 50%, chegando em várias áreas das nos países membros da organização. a 100%. A média da taxa de urbanização do Estado em Tal delimitação, de acordo com Veiga (2007), permi- 2000, segundo o Atlas Socioeconômico do Rio Grande tiu a elaboração de uma tipologia regional que consi- do Sul, alcançou 81,6%, maior que a taxa de urbaniza- dera como rurais as localidades que apresentarem den- ção brasileira para o mesmo período, 81,2%. sidade populacional inferior a 150hab/km2, salvo para o caso específico do Japão que devido à características CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
  • 6. 64 Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias PARAGUAI Santa Catarina Erechim Santa Rosa ARGENTINA Passo Fundo São Borja Caixas do Sul Santa Maria Uruguaina Porto Alegre OCEANO ATLÂNTICO Bagé Pelotas TAXA DE URBANIZAÇÃO POR MUNICIPIO (%): URUGUAI Rio Grande 0 - 25 25 - 50 50 - 75 75 - 100 Brasil: 81,25% Rio Grande do Sul: 81,65% 0 100 200 300 Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000 Elaboração: CEFCH-UN (Colombia) Quilômetros Figura 3. Rio Grande do Sul: Taxa de urbanização municipal, 2005. Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, 2009. singulares deve apresentar densidade populacional in- • Essencialmente Urbano: localidades com menos de ferior a 500 hab/km2. Um segundo critério utilizado 15% de sua população vivendo no meio rural. pela OCDE para definir os territórios rurais é a porcen- tagem da população que vive em localidades considera- É a partir desta tipologia que José Eli da Veiga abor- das rurais. Assim, a classificação dos territórios pode da a necessidade de reorientação do que entende-se por ser tipificada em essencialmente rural, intermediário urbano e por rural no Brasil, estabelecendo novos cri- ou essencialmente urbano. térios que deveriam ser utilizados para sua definição. • Essencialmente Rural: localidades com mais de 50% Veiga, servindo-se dos trabalhos realizados pela OCDE, de sua população vivendo no meio rural; toma a dianteira no debate deste tema, e nos últimos • Intermediário: localidades que apresentam popula- anos vem criticando veementemente a inadequação ção vivendo no meio rural entre 15% e 50%; dos critérios normativos que definem o tamanho do ru- UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
  • 7. A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil 65 ral no Brasil. Sua tese parte do pressuposto que o Brasil nos de 20 mil habitantes (VEIGA, 2002). Porém, para não é tão urbano quanto pensa-se, fato que é eviden- que a análise não torne-se ilusória, como os resultados ciado no seu livro Cidades Imaginárias: O Brasil é Menos encontrados a partir das análises respaldadas nas nor- Urbano do que se Calcula (2002). mas legais, é preciso combinar outros critérios. Veiga Veiga (2002, 31) afirma que “o entendimento do pro- utiliza em sua delimitação a quantidade populacional cesso de urbanização do Brasil é atrapalhado por uma do município, a densidade demográfica do município e regra muito peculiar, que é única no mundo”. Veiga sua localização. Diferentemente dos critérios estabele- crítica a metodologia adotada pelo IBGE, que possibi- cidos pelo Decreto-Lei 311 de 1938, e pela metodologia lita, por exemplo, que uma sede de um município com utilizada pelo IBGE, Veiga distribui os municípios em menos de 100 habitantes seja considerado como sendo três tipologias: urbano da mesma maneira que um município com mais • Municípios Tipicamente Rurais: Municípios com me- de um milhão de habitantes (figura 4). nos de 50 mil habitantes e densidade demográfica Para contornar esse obstáculo metodológico, mui- inferior a 80 hab/km2; tos estudiosos procuraram não considerar como urba- • Municípios Ambivalentes: Municípios com população nos os habitantes que vivem em municípios com me- entre 50 e 100 mil habitantes ou municípios com Figura 4. Crítica de José Eli da Veiga aos critérios utilizados pelo IBGE para a delimitação do Urbano e Rural no Brasil. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE/SIDRA, 2009; e imagens Google Earth, 2009. CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
  • 8. 66 Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias população menor de 50 mil habitantes e densidade alternativa se tem 27,7 % da população, uma diferença demográfica superior a 80 km2; de aproximadamente 11%. • Municípios Tipicamente Urbanos: Municípios com A grande diferença entre os resultados apresentados mais de 100 mil habitantes ou municípios localiza- atesta o pressuposto de Veiga que nem o Brasil, e nem dos em aglomerações metropolitanas. o Rio Grande do Sul são tão urbanos quanto se calcula. Tal diferença é encontrada principalmente pela criação Os municípios podem ser considerados urbanos ou de uma nova categoria de análise, na qual são identi- rurais, da mesma forma como define o IBGE, porém ficados os municípios que não são tipicamente rurais, Veiga classifica-os também de acordo com critérios nem tipicamente urbanos, demonstrando assim, as no- que possibilitam a identificação da intensidade do uso vas ruralidades existentes no território. Essa categoria, do meio ambiente em função da ação humana. Desse juntamente com os critérios de análise desenvolvidos modo, tal avaliação possibilita a identificação de muni- por Veiga, representa uma mudança no atual método cípios que encontram-se na faixa intermediária entre de análise do urbano e do rural no Brasil, visto que se- o tipicamente urbano e o tipicamente rural, que são os guindo esta metodologia, 17,5% da população do Esta- considerados, por Veiga, como ambivalentes. do do Rio Grande do Sul vivem em municípios conside- A tabela 1 demonstra a aplicação da metodologia ofi- rados ambivalentes, municípios, estes, que apresentam cial brasileira (IBGE) e da metodologia estabelecida por características tanto urbanas quanto rurais. José Eli da Veiga para a distribuição da população do A partir da aplicação dos critérios definidos por Vei- Estado do Rio Grande do Sul. Fica visível a discrepância ga na classificação do urbano e do rural no território entre as duas metodologias. Seguindo a metodologia riograndense, observa-se na tabela 2, que dos 496 mu- do IBGE, a população urbana do Rio Grande do Sul em nicípios gaúchos, 40 são classificados como tipicamen- 2006 era de 83,4% da população total, já pela metodo- te urbanos (8,1%), 50 são considerados ambivalentes logia de Veiga esta porcentagem é reduzida em quase (10,1%) e a maioria deles, 406 são considerados, a partir 30%, no ano de 2007 a população urbana correspondia desta metodologia, como tipicamente rurais (81,8%). a 54,7% da população total. A mesma discrepância é ve- rificada na comparação da população rural, onde pelo Tabela 2. Classificação dos municípios do IBGE se tem o indicador de 16,6% e pela metodologia Estado do Rio Grande do Sul de acordo com a metodologia estabelecida por Veiga. Tabela 1. Distribuição da população no Rio Grande Tipologia Número de Municípios Porcentagem do Sul: Classificação seguindo a metodologia do IBGE e de José Eli da Veiga 2007 7.1 Urbanos 40 8,1% Ambivalentes 50 10,1% Metodologia Metodologia IBGe (2006) Veiga (2007) Rurais 406 81,8% Tipologia Habitantes Porcentagem Habitantes Porcentagem Total 496 100,0% Urbana 8.789.821 83,4% 5.792.626 54,7% Fonte: elaborado pelos autores a partir da base de dados IBGE/ Ambiva- SIDRA, 2009. lente - - 1.853.786 17,5% Rural 1.746.188 16,6% 2.936.428 27,7% A espacialização desta classificação, através da iden- Total 10.536.009 100,0% 10.582.840 100,0% tificação e localização dos municípios no mapa do Rio Fonte: elaborado pelos autores a partir da base de dados IBGE/ Grande do Sul (figura 5), demonstra e dá a noção das SIBRA, 2009 e FeeDados, 2009. novas ruralidades ou das ruralidades que até então não eram identificadas pela metodologia oficial brasileira. Fica evidente neste contexto o tamanho do rural no Rio 7 Os dados utilizados na classificação da população de acor- do com a metodologia de José Eli da Veiga são referentes ao Grande do Sul. ano de 2007. Como até o momento da conclusão do estudo, o Observamos que os municípios tipicamente rurais IBGE não havia divulgado a população urbana e rural para o predominam no território riograndense. Já os municí- ano de 2007, as informações apresentadas na distribuição da pios considerados ambivalentes, em menor número que população de acordo com a metodologia do IBGE se referem ao ano de 2006 e foram coletados junto à base de dados da os municípios classificados como tipicamente rurais e Fundação de Estatística do Rio Grande do Sul - FeeDados. em maior número que os classificados como tipicamen- UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
  • 9. A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil 67 te urbanos, encontram-se bem distribuídos pelo Estado. Considerações finais Os municípios tipicamente urbanos localizam-se majo- ritariamente na região metropolitana de Porto Alegre, Seguindo a sua metodologia normativa oficial, o exceto Uruguaiana na região da Fronteira Oeste, Bagé Brasil (e o Rio Grande do Sul) em pouco tempo tornaria- na Campanha, Pelotas e Rio Grande na região Sul, Santa se integralmente urbano. Em virtude disso e, ressaltan- Maria na Depressão Central, Santa Cruz do Sul no Vale do que a sociedade rural brasileira (e a do Rio Grande do do Rio Pardo, Passo Fundo no Planalto Médio e, Caxias Sul) não pode ser desconsiderada da formulação e dire- do Sul e Bento Gonçalves na região da Serra. cionamento de políticas públicas, localizar espacialmen- PARAGUAI Santa Catarina ARGENTINA OCEANO ATLÂNTICO URUGUAI LEGENDA: Municípios tipicamente rurais - 406 Municípios ambivalentes - 50 Municípios tipicamente urbanos - 40 0 100 200 300 Quilômetros Elaboração: CEFCH-UN (Colombia) Figura 5. Rio Grande do Sul: Aplicação da tipologia desenvolvida por José Eli da Veiga para a delimitação do urbano e do rural. Fonte: IBGE/SIDRA (2009), Banco de dados Geociências - IBGE (2009). CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA
  • 10. 68 Alcione Talaska, Almir Arantes y José Antonio Assumpção Farias te o rural é uma questão de fundamental importância Neste contexto, muito embora o debate sobre a ti- para o conhecimento e planejamento do território. pologia ideal e necessário a respeito do rural e o urbano O reconhecimento espacial das características parti- esteja longe do consenso, dado sua complexidade e im- culares do território, sejam elas rurais ou urbanas, pos- plicações de toda ordem, concluímos que as reflexões sibilitam um diagnóstico mais preciso dos problemas de José Eli da Veiga são importantes e oportunas, pois que manifestam-se no território e que precisam ser ao mesmo tempo que denunciam distorções concei- enfrentados através da formulação e implementação tuais e metodológicas, haja vista os desdobramentos de políticas públicas. Acreditamos não ser possível dis- que trazem no campo da política, economia, sociologia, sociar integralmente o rural do urbano ou o urbano do antropologia e ecologia, chamam à atenção para a ne- rural, pois estes espaços sofrem influências de comple- cessidade de uma reavaliação dos critérios oficiais, por- mentaridade, como é apontado na abordagem do conti- tanto políticos, a respeito deste tema. nuum. No entanto, o reconhecimento das diferenças ou Ou seja, a reavaliação dos critérios oficiais brasilei- semelhanças das características urbano/rurais do terri- ros, utilizados para definição do urbano e do rural, tor- tório permite a identificação das heterogeneidades em na-se cada vez mais necessária. Somente uma releitura seu espaço e, com isso, a mensuração da predominância atualizadora da configuração espacial brasileira, com das características urbanas ou rurais. identificação das particularidades e especificidades de A aplicação dos critérios estabelecidos por José Eli cada parcela do território, tornaria possível a inver- da Veiga, para definir o urbano e o rural, evidencia que são do quadro que se apresenta, nas últimas décadas, os territórios precisam ser mais bem analisados. A de- de crescente urbanização, possibilitando, a partir do limitação do rural e do urbano realizada nesse estudo respaldo nas reais características locais do território, confirma a necessidade de se avaliar, revisar e construir a construção de novas propostas de desenvolvimento. tipologias para tal análise, tipologias estas que possam tornar notáveis as diferentes realidades espaciais dos municípios brasileiros. Alcione Talaska Geógrafo con especialización en Levantamientos Geodésicos: Certifica- ción de Inmuebles Rurales y Georreferenciación Incra por la Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Actualmente cursa la Maestría del Programa de Posgrado en Desarrollo Regional de la Universi- dade de Santa Cruz do Sul- UNISC. Almir Arantes Historiador de la Universidade Estadual de Londrina (UEL), y con maestría en historia de la Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Es profesor de la Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE- MAT) y doctorando en Desarrollo Regional de la Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). José Antonio Assumpção Farias Graduado en Ciencias Económicas de la Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Especialista en Gestión y Políticas Públicas de la Escola Superior de Administração Publica do Estado do Rio Grande do Sul (ESAPERGS). Actualmente cursa la maestria em Desarrollo Regional de la Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA | FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS | DEPARTAMENTO DE GEOGRAFÍA
  • 11. A delimitação do urbano e o rural no Rio Grande do Sul, Brasil 69 Referências Da Veiga, José. 2001. Desenvolvimento Territorial do Brasil: Do entulho Varguista ao Zoneamento Ecológico-Econômico. Po- Abramovay, Ricardo. 2003. O futuro das regiões rurais. Porto nencia apresentada no XXIX Encontro Nacional de Eco- Alegre: Editora da UFRGS. nomia, 11 ao 14 de dezembro. Salvador: ANPEC. http:// Abramovay, Ricardo. 2006. A Dimensão Territorial do Desen- www.anpec.org.br/encontro2001/ artigos/200105079. volvimento. Brasília: Cofecon. pdf (consulta setembro 2008). Banco de Dados FEE. 2009. FEEDados. Fundação de Econo- Da Veiga, José. 2002. Cidades Imaginárias: O Brasil é menos mia e Estatística do Rio Grande do Sul, FEE, http://www. Urbano do que se calcula. Campinas: Autores Associados. fee.rs.gov.br/feedados/consulta/sel_modulo_ pesquisa. Da Veiga, José. 2005. Desenvolvimento sustentável: o desafio do asp (consulta maio 2009). século XXI. Rio de Janeiro: Garamond. Google Earth. 2009. http://earth.google.com (consulta maio Da Veiga, José. 2007. Mudanças nas relações entre espaços ru- 2009). rais e urbanos. En Economia e Território no Brasil Contem- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. 2008. porâneo, ed. Elzira de Oliveira y Rosélia Piquet. http:// IBGE Países@. http://www.ibge.gov.br/paisesat (consulta www.econ.fea.usp.br/zeeli/Livros/2007_b_MUDANCAS_ novembro 2008). RUR_ URB.pdf. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Banco Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Rio Gran- de Dados Geociências. 2009. Mapas. ftp://geoftp.ibge. de do Sul — SEPLAG. 2009. Atlas Socioeconômico Rio gov.br/mapas (consulta maio 2009). Grande do Sul. http://www.seplag.rs.gov.br/atlas/de- Organisation for Economic Co-Operation and Development fault.asp (consulta janeiro 2009). (OCDE). 2009. OCDE Member Countries. http://www.oecd. Sistema IBGE de Recuperação Automática, SIDRA. 2009. Ban- org (consulta maio 2009). co de dados Agregados IBGE/SIDRA. http://www.sidra.ibge. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). TerraView gov.br (consulta janeiro 2009). versão 3.3.1. 2009. http://www.dpi.inpe.br/terraview/in- Wanderley, Maria. 2001. A ruralidade no Brasil moderno. Por dex.php; consulta abril 2009. um pacto social pelo desenvolvimento rural. En Una nueva Da Veiga, José. 1994. Metamorfoses da política agrícola dos Es- ruralidad en América Latina, ed. Giacarra, Norma, Buenos tados Unidos. São Paulo: Annablume Editora. Aires: CLACSO. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/ Da Veiga, José. 2000. A face rural do desenvolvimento: nature- libros/rural/wanderley.pdf. za, território e agricultura. Porto Alegre: Ed. da Universi- dade/UFRGS. CUADERNOS DE GEOGRAFÍA | REVISTA COLOMBIANA DE GEOGRAFÍA | n.º 18, 2009 | ISSN: 0121-215X | BOGOTÁ, COLOMBIA