1. Análise do Retorno das Ações Ordinárias das Principais Empresas do Setor de Petróleo
Imediatamente Após a Deflagração da Crise do Egito
RESUMO
O presente artigo teve o objetivo de analisar o impacto do evento sistêmico “Crise do
Egito” no comportamento do retorno das ações ordinárias de 04 empresas do setor de
petróleo. O evento se desencadeou com os protestos violentos ao governo de Hosni Mubarak,
em 24 de Janeiro de 2011, que culminou com a saída do presidente Egípcio. O tema apresenta
relevância crescente, em face da importância da região para o setor petrolífero mundial e as
vulnerabilidades dos mercados de capitais. A considerada “Crise do Egito” resultou em
desestabilização política dos países da região, impacto no preço do barril de petróleo e expôs
o mercado a diferentes riscos sistêmicos, por isso, a pesquisa visa verificar se houve geração
de retornos anormais, estatisticamente significativos, nas ações ordinárias das principais
empresas de petróleo. Para isso, a amostra analisada é composta por quatro significantes
empresas do mercado de petróleo no mundo, a saber: Petrobras, British Petroleum, Exxon
Mobil Corporation e Royal Dutch Shell. Para efetivar a análise, utilizou-se a metodologia de
estudo de eventos, empregada por Campbell, Lo e Mackinley (1997), para comparação da
diferença na média dos retornos anormais (anteriores e posteriores aos protestos) com a
totalidade da amostra das empresas analisadas. Foi utilizado o nível de significância de 5%,
para validação dos resultados obtidos, e para os cálculos dos retornos anormais e da análise
dos testes estatísticos foi utilizado o software Microsoft Excel Office 2010. Pela matriz de
correlação, percebemos que existe relação estatística entre os retornos das ações ordinárias,
somente das empresas Petrobras, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell. A tabela de
comparação entre os retornos antes e depois dos eventos demonstra que na janela [-1,+1] as
ações ordinárias apresentaram uma queda no seu retorno e na janela [-3,+3] o mercado reagiu
positivamente se comparado com o período anterior ao evento, o que demonstra eficiência de
mercado. Foi notado que o retorno das ações da British Petroleum é o pior em relação as
demais empresas analisadas, o que pode ser decorrente da não correlação com o retorno das
ações ordinárias das demais empresas. O valor do p-value obtido, reforça que não ocorreram
retornos anormais, ou seja, o mercado reagiu de forma eficiente e semiforte. É importante
destacar que houve destruição da riqueza dos investidores de todas as empresas, exceto das
ações ordinárias da Petrobras, que obteve retorno anormal equivalente a 5,88% no período
analisado. Para concluir, a hipótese nula foi confirmada, pois existiu a ocorrência de retorno
normal estatisticamente significativo, interpretado pelo coeficiente de significância p-value.
1
2. 1. INTRODUÇÃO
Os últimos acontecimentos iniciados em 17 de dezembro de 2010 na Tunísia quando a
população se revoltou contra o desemprego no país, depois de um gesto de um jovem que
ateou fogo ao próprio corpo por ser impedido de vender vegetais, culminaram com a saída em
14 de janeiro de 2011 do presidente Zine El Abidine Ben Ali que estava no poder a 23 anos.
Tal incidente inspirou o povo egípcio a iniciar protestos para a renúncia do presidente Omar
Suleiman Mubarak, no poder a 30 anos. Esses acontecimentos contribuíram para a
desestabilização das gestões políticas de outros países da região, caracterizando uma elevada
exposição a diferentes riscos sistêmicos, destacando a influência sobre o preço do barril de
petróleo.
1.1 Objetivo e justificativa da escolha do tema da pesquisa
Considerando a importância da região para a logística do petróleo e as
vulnerabilidades dos mercados de capitais, considerou-se oportuna a ocasião para analisar se
esse evento sistêmico relevante contribuiu para a geração de retornos anormais
estatisticamente significativos nas ações ordinárias das principais empresas do setor de
petróleo mundial: Petrobras, British Petroleum, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch
Shell.
1.2 Metodologia
Optou-se pela aplicação da técnica de estudo de eventos para verificar a ocorrência de
retornos anormais estatisticamente significativos imediatamente após a deflagração da crise
do Egito. A amostra é composta pelas principais empresas do setor petrolífero mundial e o
período de teste compreende as janelas de 1, 3, 5, 15 e 30 dias imediatamente anteriores e
posteriores a crise.
1.3 Hipótese Testada
H0 – Ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado pelo
coeficiente de significância p-value, após a ocorrência do evento.
A hipótese alternativa seria:
H1 – A não ocorrência de retorno normal estatisticamente significativo, interpretado
pelo coeficiente de significância p-value, após a ocorrência do evento.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2
3. 2.1.Risco Sistêmico
Os primeiros modelos gerais para risco e retorno eram em grande parte subjetivos e
variavam bastante de investidor para investidor. Com o desenvolvimento da moderna teoria
de carteiras no início dos anos 50, surgiram modelos quantitativos e específicos de projeções
de risco e retorno que tem sido amplamente aceitos (DAMODARAN, 1997).
As finanças modernas aceitam duas formas de risco, o risco não sistemático que afeta
um pequeno número de ativos e pode ser eliminado através da diversificação de carteiras e o
risco sistemático, que vamos abordar a seguir.
Para iniciar o conceito Ross, Westerfield, Jordan (2008) o risco sistemático pode
influenciar um número grande de ativos. São as incertezas quanto à situação econômica geral
ou forças às quais as empresas estão sujeitas, por exemplo, o PIB, taxas de juros ou a inflação.
O risco sistemático de uma carteira de ações não pode ser eliminado através da diversificação
de investimentos. Independentemente do número de ativos que colocamos em uma carteira, o
risco sistemático não vai desaparecer.
Quanto ao chamado princípio do risco sistemático, Ross, Westerfield e Jordan (2008),
dizem que o retorno esperado de um investimento de risco só depende do seu risco
sistemático. Como o risco não sistemático pode ser eliminado sem custos, esse risco não
possui prêmio, pois o mercado não premia os riscos corridos desnecessariamente. A medida
utilizada para medir a quantidade de risco sistêmico em um ativo em relação a um ativo com
risco médio é o coeficiente beta.
2.2.Hipótese do Mercado Eficiente
O conceito foi formalmente proposto por Fama (1970), um mercado de capitais
eficiente é um mercado que fornece sinais precisos para alocação de recursos, os investidores
podem tomar decisões sob a suposição de que o mercado estabelece um preço justo ao ativo e
a qualquer momento mudanças de informações refletem imediatamente no preço. Para o autor
na HME os agentes possuem um comportamento racional ilimitado e expectativas
homogêneas, todos têm a mesma distribuição de probabilidades dos retornos dos ativos já que
as informações econômicas estão disponíveis a todos.
Para Van Horne (1995) um mercado eficiente tem definição semelhante àquele que
utiliza todas as informações relevantes e disponíveis na economia para estabelecimento do
preço de um título e, conseqüentemente, se houver mudanças no ambiente os preços dos
ativos se ajustam instantaneamente. Basicamente essa hipótese acredita que não é possível
usar preços passados para prever preços futuros. Ainda, que o investidor preste atenção a
novas informações, no momento em que é capaz de percebê-las os preços já estarão
reajustados.
Ross, Westerfield, Jordan (2008) simplifica o conceito de HME como “um mercado
no qual os preços dos títulos refletem as informações disponíveis”. São mercados de capitais
bem organizados, como por exemplo, a bolsa de Nova Iorque, que na prática é um mercado
3
4. considerado eficiente, onde podem existir ineficiências, mas elas são relativamente pequenas
e pouco comuns.
É possível verificar três formas de eficiência, segundo Ross, Westerfield, Jordan
(2008), que se distinguem de acordo com o grau de eficiência do mercado. São elas: fraca,
semiforte ou forte. Um mercado eficiente de forma forte é aquele em que todas as
informações, públicas ou privadas, estão refletidas no preço da ação. Já um mercado eficiente
de forma semiforte, acontece quando só as informações públicas, como as extraídas das
demonstrações financeiras, estão refletidas no preço atual da ação. E por último um mercado
eficiente de forma fraca é aquele que no mínimo o preço atual da ação reflete os preços
passados, ou seja, incorporam informações públicas passadas.
Uma dos motivos para a compreensão de mercado de capitais eficientes para esse
estudo é por conta da metodologia utilizada, estudo de evento. Como afirma McWilliams,
Siegel (1997), em um mercado eficiente qualquer informação financeira relevante que acaba
de ser revelada para investidores é instantaneamente incorporada aos preços das ações.
Portanto, como um evento é algo resultante de novas informações relevantes, um pesquisador
pode identificar eventos significativos por seu impacto sobre os preços das ações das
empresas, definindo um período de dias durante o qual o impacto do evento será medido, ou
seja, a janela do evento. A hipótese de mercado eficiente deve ser conciliada com uma janela
de evento relativamente curta, já que o efeito do evento deve ser incorporado rapidamente no
preço das ações, caso contrário a utilização do método de estudo de evento é inadequado.
Damodaran (1997) trabalha as evidências de estudos relacionados à eficiência de
mercado, em geral, os resultados obtidos são contraditórios, o consenso na área está entre a
visão de que o mercado na maioria das vezes é eficiente e a visão de que há ineficiências
significativas no mercado financeiro. A conclusão do autor é que existem evidências fortes de
irregularidade no comportamento do mercado financeiro, que estão relacionadas com os
fatores de risco sistemáticos.
Para finalizar o tema, existem teóricos que contestam a ortodoxia do mercado de
capitais eficiente na área da ciência financeira, como Costa (2008, p. 118-120), que acredita
que a substituição da HME como paradigma principal está próxima, já que essa teoria não
soluciona mais os problemas levantados na área, portanto esse paradigma se encontra no
limite da evolução. Ele evidência como um dos possíveis candidatos a substituir a HME, a
finanças comportamentais, que surge como uma tentativa de melhor resolução dos contra-
exemplos, assunto que será aprofundado a seguir.
2.3.Finanças Comportamentais
Essa vertente que tem ganhando cada vez mais espaço na área de finanças começou
com uma publicação dos psicólogos Kahneman e Tversky (1979). Em um trabalho que
apresenta uma crítica à teoria da utilidade esperada e a tomada de decisão baseada no risco, o
que era uma afronta a hipótese de mercado eficiente, assim abrindo espaço ao início do
conceito de finanças comportamentais.
Para iniciar a definição do tema é importante ressaltar os estudos de Costa (2008),
onde defende o conceito emergente de novas finanças, ele acredita que a ciência financeira
4
5. moderna pode estar passando por uma revolução científica, já que seu paradigma principal a
HME está em crise, o que pode resultar no surgimento de um novo paradigma baseado nas
finanças comportamentais ou na teoria do caos. As finanças comportamentais visam explicar
e entender as decisões financeiras dos agentes e o comportamento do mercado, através de
conceitos presentes na economia, psicologia e sociologia e se apresenta como a melhor das
promessas para a resolução dos contra-exemplos.
Diferente da hipótese de mercado eficiente, as finanças comportamentais não explicam
o comportamento financeiro baseando-se apenas na concepção de risco. Além disso, as
finanças comportamentais se dividem em dois grupos: vieses no processo cognitivo (de
tomada de decisões) e limites ao aprendizado.
Vieses no processo cognitivo se referem a todos os processos inerentes a natureza
humana, como o conjunto dos processos mentais no pensamento e na percepção, ou seja, a
forma como a nossa natureza limita a percepção de um problema e a da tomada de decisão
sobre ele, os quais não são possíveis de serem eliminados do ser humano. Limites ao
aprendizado são limites naturais humanos que impedem o indivíduo de aprender com os erros
e errar cada vez menos, está relacionado a experiências externas durante a vida e podem ser
reduzidos com o tempo (MILANEZ, 2003).
De acordo com El-Erian (2008), nosso comportamento e a capacidade para tomada de
decisões são guiados pela junção de diferentes sistemas neurológicos, que em algum momento
podem estar sujeitos à tensão interior e a resultados conflitantes. O que impede o ser humano
de ser movido unicamente pela racionalidade ilimitada, explicação que complementa a crença
das finanças comportamentais.
Santos e Santos (2005), explanam sobre a dicotomia entre o pensamento racional, que
acredita que é técnica e padronizado a ação de investidores no mercado e as novas correntes
de pensamento que acreditam que a realidade não pode ser racionalmente determinada, já que
a alta complexidade das relações entre os indivíduos não possibilitam que o investidor análise
todo o conjunto de informações disponíveis para tornar somente racional sua decisão de
investimento.
Na defesa do tema, Costa (2008) acredita que nas finanças comportamentais os
elementos que contradizem a racionalidade não são irrelevantes, já que podem produzir
desvios notáveis no comportamento do mercado. A hipótese do mercado eficiente acredita
que existem indícios prejudiciais ao exercício da racionalidade total, mas não acredita que
esses desvios são grandes o suficiente para afetar consideravelmente o comportamento do
mercado. Portanto, as finanças comportamentais além de desacreditar na racionalidade
ilimitada do ser humano, procura estudar as emoções e limitações cognitivas que podem
influenciar o agente no processo de decisão sobre um investimento. E identificar a forma de
como esses fatores impactam no desempenho do mercado financeiro.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1. Introdução
5
6. Na investigação do impacto à crise do Egito sobre os retornos de ações ordinárias de
quatro empresas norte-americanas do setor de petróleo, utilizou-se a metodologia de Estudo
de evento. Segundo Corrado (2009) o estudo de evento vem se tornado muito comum para
pesquisas no mercado de capitais, com número crescente de artigos especialmente em revistas
e jornais especializados. Pois se trata de um método que consiste na verificação da influência
de eventos específicos no desempenho das empresas, através da investigação dos efeitos de
eventos específicos e os reflexos no mercado de títulos da empresa (SOARES, ROSTAGNO e
SOARES, 2002).
Campbell, Lo e Mackinley (1997) definem estudo de evento como o método pelo qual
é possível medir o efeito de um evento econômico no valor de uma determinada empresa e
utiliza um modelo de geração de retorno de ações, considerado padrão, denominado de
retorno normal ou esperado, que é tido como o retorno que o título teria caso o evento não
ocorresse. Depois disso, para identificar um comportamento anormal nos períodos próximos a
um evento específico analisado, calcula-se a diferença entre o retorno esperado fornecido pelo
modelo e o retorno observado no período de análise. Isto é, focaliza-se a determinação de
retornos anormais de títulos nos dias próximos ou na data do anúncio de um evento. Esse
retorno anormal é considerado um desvio dos retornos dos títulos ex ante não condicionados
ao evento (KLOECKNER, 1995).
O fato de a variância dos retornos aumentarem quando próxima à data de divulgação
do evento, indica que este contém informações relevantes. Tal método é possível e eficaz em
decorrência da hipótese de que, por causa da racionalidade do mercado, o efeito de um evento
será refletido imediatamente nos preços dos ativos.
A utilização do estudo de evento nesta pesquisa visou:
Testar a hipótese nula de que o mercado eficientemente incorpora novas informações,
sejam elas esperadas ou não esperadas; e
Examinar o impacto de um determinado evento na riqueza dos acionistas de uma
determinada empresa mantendo-se a hipótese de mercado eficiente.
3.2. Amostra Pesquisada e Banco de Dados
Para este estudo a amostra é composta de quatro empresas representativas do mercado
de petróleo no mundo, a saber:
Quadro 1: Ranking das maiores empresas por faturamento no mundo em 2010 (dados
em milhões de dólares)
Posição
de Bolsa de Índices Código Código
Mercado Empresa Valores Utilizados Indicador Ação Receitas Lucros
Royal Dutch NOVA
2 Shell YORK S&P 500 ^GSPC RDSA 285.129 12.518
6
7. NOVA
3 Exxon Mobil YORK S&P 500 ^GSPC XOM 284.650 19.280
British LONDRE
4 Petroleum S FTSE 100 ^FTSE BP.P 246.138 16.578
BOVESP BOVESP
54 Petrobras A A ^BVSP PETR3 91.869 15.504
Fonte: Elaborada pelos autores com dados coletados no ranking do new york times de 2010.
Os retornos das ações obtidos do banco de dados Yahoo Finance
((http://br.finance.yahoo.com), No cálculo dos retornos das ações ordinárias, foram utilizados
os valores de mercado das empresas (cotações de fechamento diárias das ações ordinárias
multiplicadas pela quantidade de ações da empresa).
3.3. Períodos de Análise
Foram formadas, a partir da ocorrência do evento sistêmico “crise do Egito”,
diferentes janelas de tempo, compostas de períodos em dias, para avaliar o comportamento
dos retornos das ações ordinárias antes e após a ocorrência do evento. Para extrair
considerações e avaliar o comportamento do preço das ações ordinárias, foram selecionadas,
inicialmente, cinco janelas, pós-evento sistêmico, são elas: [-1,+1], [-3,+3], [-5,+5], [-
15,+15],e [-30,+30].
A escolha dessas cinco janelas visou avaliar se, de fato, o mercado incorpora
imediatamente e de forma eficiente as novas informações no preço das ações (janelas [-1,+1],
[-3,+3], [-5,+5]), sejam elas esperadas, sejam não esperadas, ou se isso ocorre de forma mais
demorada – daí a inclusão das janelas [-15,+15],e [-30,+30]. Em princípio, o resultado
esperado era que a maior valorização no valor de mercado das ações das amostras ocorresse
imediatamente à ocorrência do evento sistêmico (janelas [-1,+1], [-3,+3], [-5,+5]).
3.4. Retornos Normais e Anormais
O estudo de evento consiste em avaliar o comportamento de uma variável qualquer a
partir de um evento específico. A principal idéia é calcular se o evento ocorrido gerou algum
desvio no resultado esperado. Este desvio no resultado esperado é mais conhecido por retorno
anormal (RA). Segundo Vachadze (2001, p. 43) esta metodologia se tornou uma aplicação
estatística muito utilizada em finanças e que contadores, advogados e outros profissionais
aplicam para estimar o impacto de diferentes divulgações de informações no preço de ações.
Como o foco da pesquisa é analisar o retorno anormal dos títulos (RAit) ao redor de
determinado evento, dado um modelo de determinação de retornos normais, utilizou-se a
seguinte fórmula:
7
8. RAit = Rit – E(Rit) (1)
Rit é o retorno observado, E(Rit) o retorno calculado pelo modelo e t o tempo do
evento. O retorno normal (Rit) foi calculado utilizando-se o Modelo de Retornos Ajustados ao
Mercado, descrito por Camargos e Barbosa (2003), que consiste em encontrar a diferença do
retorno da ação em relação ao retorno do índice de mercado, neste caso a BOVESPA (Brasil),
S&P500 (EUA) e a FTSE (Inglaterra), numa mesma data utilizando-se a forma logarítima.
O uso do logaritmo natural visa obter uma melhor aderência à distribuição normal dos
retornos, premissa dos testes estatísticos paramétricos (SOARES; ROSTAGNO; SOARES,
2002), conforme mostra a expressão a seguir:
O modelo é expresso por:
RAit = LN [ (Pt+1/Pt0) / (It+1/ It0) ] (2)
Que pode ser reescrita como:
RAit = LN (Pt+1/Pt0) - LN (It+1/ It0) (3)
Sendo:
Pt0 : valor de mercado a preço corrente das empresas na data-base;
Pt+1: valor de mercado a preço corrente das empresas em um dia t posterior;
It0: cotação do índice de mercado em uma database;
It+1: cotação do índice de mercado em um dia t posterior.
Uma vez calculados os retornos anormais, estes foram acumulados (somados) em cada
um dos dias relativos para todas as empresas, para então proceder-se aos testes estatísticos. A
agregação dos retornos anormais foi realizada pela técnica do Retorno Anormal Acumulado
(RAA), conforme assinalado por Campbell, Lo e Mackinlay (1997), e os retornos foram
acumulados no tempo (Equação 4) e pelos títulos (Equação 5):
(4)
(5)
3.5. Procedimento para validação do teste
Para a validação dos resultados, utilizou-se o nível de significância de 5%. A hipótese
do aumento da riqueza seria confirmada se a diferença estatística entre as médias fosse
comprovada e a média posterior fosse superior à média anterior. Para a preparação dos dados,
dos cálculos dos retornos anormais e da análise dos testes estatísticos utilizaram-se o software
Microsoft Excel Office 2010.
8
9. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
De acordo com a análise da matriz de correlação do retorno das ações ordinárias das
empresas em estudo, podemos constatar que não existe relação estatística entre os retornos
das ações ordinárias da Petrobras e da Exxon Mobil em relação British Petroleum. Por outro
lado existe relação entre a Exxon, Royal Shell e Petrobras. A diferença no comportamento do
retorno das ações ordinárias da Bitish Petroleum em relação às demais empresas petrolíferas
analisadas pode ser explicada pelo fato da empresa possuir um evento em particular na qual as
outras empresas não estão envolvidas.
Tabela 1 de Matriz de Correlação
Empresa Conteúdo Petrobras British Petroleum Exxon Mobil
British Petroleum Pearson correlation 0,022
p-Value 0,869
Exxon Mobil Pearson correlation 0,223 0,046
p-Value 0,085 0,725
Royal Dutch Shell Pearson correlation 0,285 0,221 0,434
p-Value 0,026 0,087 0,000
Fonte: Elaborado pelos autores.
A tabela de comparação entre os retornos das ações antes e depois do evento
demonstra que na janela [-1,+1], todas as ações ordinárias tiveram uma queda no seu retorno,
demonstrando que o mercado reagiu negativamente logo após a ocorrência do evento.
Já na Janela [-3,+3], o mercado reagiu de forma positiva se comparado com o mesmo
período anterior ao evento. Isso demonstra eficiência de mercado, pois o mercado estabilizou
os valores das ações ordinárias dentro de um curto espaço de tempo (3 dias após o evento).
Nas demais janelas, os valores obtidos não nos remetem a conclusões objetivas, uma
vez que a eficiência de mercado já foi demonstrada no período de 3 dias ex post evento.
Porém é possível notar que o retorno das ações da British Petroleum é pior do que as demais
empresas analisadas, resultado este também esperado devido ao fato da não correlação, em
termos de retorno das ações ordinárias, com as demais empresas.
Tabela 2: Janelas de comparação de retornos antes e após os eventos
Royal
Dias British Exxon Dutch Média
Janela Relativos Petrobras Petroleum Mobil Shell Geral
[-1] -0,76% 0,66% 1,58% 1,47% 0,74%
9
10. 1 [+1] -1,70% 0,00% 0,11% -0,65% -0,56%
variação -0,94% -0,66% -1,47% -2,12% -1,30%
[-3,-1] -3,51% -2,41% 0,36% 0,57% -1,25%
2 [+1,+3] -0,86% -1,13% 0,87% 1,22% 0,03%
Desvio 2,66% 1,29% 0,51% 0,66% 1,28%
[-5,-1] -2,91% -0,39% 2,95% 1,97% 0,40%
3 [+1,+5] 2,31% -2,46% 2,66% 2,10% 1,15%
Desvio 5,22% -2,07% -0,29% 0,13% 0,75%
[-15,-1] -2,08% 5,69% 7,45% 3,08% 3,54%
4 [+1,+15] 2,26% -3,40% 7,90% -1,62% 1,28%
Desvio 4,34% -9,09% 0,45% -4,70% -2,25%
[-30,-1] 7,90% 8,64% 9,54% 6,68% 8,19%
5 [+1,+30] 7,24% 0,23% 7,61% 2,28% 4,34%
Desvio -0,66% -8,40% -1,93% -4,41% -3,85%
Fonte: Elaborado pelos autores.
Verifica-se pela análise da tabela de resumo dos testes estatísticos do estudo de
eventos que o p-value indica a não ocorrência de retornos anormais nas janelas em análise, o
que também reforça a tese de que o mercado reagiu de forma eficiente ao evento. Os retornos
anormais acumulados demonstram que, no prazo de 30 dias pós-evento, embora os retornos
anormais não fossem estatisticamente significativos deve-se destacar a destruição da riqueza
dos investidores de todas as empresas com exceção das ações ordinárias da Petrobras que
demonstram um retorno anormal positivo equivalente a 5,88% no período analisado.
Tabela 3: Resumo dos testes de estudo de eventos
British Royal Dutch
Empresa Petrobras Petroleum Exxon Mobil Shell Média Geral
Dias p- p- p- p- p-
Relativos Value RAA Value RAA Value RAA Value RAA Value RAA
- - - -
[+1] 0,7358 0,84% 0,7200 0,41% 0,9636 0,09% 0,6320 0,78% 0,7628 0,32%
- -
[+1,+3] 0,5061 1,32% 0,8831 3,27% 0,8348 0,46% 0,4265 0,86% 0,6626 0,16%
-
[+1,+5] 0,3444 3,60% 0,8695 1,58% 0,6736 2,10% 0,3048 1,80% 0,5481 1,48%
- - -
[+1,+15] 0,2314 3,69% 0,9470 9,27% 0,4456 2,07% 0,5177 5,81% 0,5354 2,33%
- - - -
[+1,+30] 0,2113 5,78% 0,9358 6,76% 0,4606 0,15% 0,5980 3,04% 0,5514 1,04%
Fonte: Elaborado pelos autores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal deste artigo foi analisar se o evento sistêmico de deflagração da
crise no Egito contribuiu para a geração de retornos anormais estatisticamente significativos
10
11. nas ações ordinárias das principais empresas do setor de petróleo mundial, a saber: Petrobras,
British Petroleum, Exxon Mobil Corporation e Royal Dutch Shell.
A deflagração da crise no Egito, iniciada por acontecimentos ocorridos em 17 de
dezembro de 2010 na Tunísia, quando a população se revoltou contra o desemprego no país,
depois de um gesto de um jovem que ateou fogo ao próprio corpo por ser impedido de vender
vegetais, culminaram com a saída em 14 de janeiro de 2011 do presidente Zine El Abidine
Ben Ali que estava no poder há 23 anos. Tal incidente inspirou o povo egípcio a iniciar
protestos para a renúncia do presidente Omar Suleiman Mubarak, no poder a 30 anos. Esses
acontecimentos contribuíram para a desestabilização das gestões políticas de outros países da
região, caracterizando uma elevada exposição a diferentes riscos sistêmicos, destacando a
influência sobre o preço do barril de petróleo.
Dada a magnitude do evento em análise, considerando a importância da região para a
logística do petróleo e as vulnerabilidades dos mercados de capitais, intuitivamente se
esperava quedas estatisticamente significativas nas taxas de retorno das ações ordinária das
empresas do ramo petrolífero imediatamente após o evento. Essa expectativa foi confirmada
se tomando como base a janela 1, composta de 1 dia anterior ao evento e 1 dia posterior ao
evento [-1, +1]. Já na janela [-3,+3] o mercado reagiu de forma positiva se comparado com o
mesmo período anterior ao evento, isso demonstra eficiência de mercado, pois o mercado
estabilizou os valores das ações ordinárias dentro de um curto espaço de tempo (3 dias após o
evento). Em assim sendo e ratificado pelos resultados dos testes estatísticos, considerado o
teste p-value, a hipótese H0 fica confirmada, ou seja, não ocorreram retornos anormais
estatisticamente significativos nas ações ordinárias das principais empresas do setor de
petróleo mundial, após a ocorrência do evento de deflagração da crise no Egito.
BIBLIOGRAFIA
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