Matheus Albergaria de Magalhães defende uma visão empresarial e multidisciplinar para o desenvolvimento econômico do Espírito Santo, enxergando o estado como uma "Espírito Santo S.A.". Ele argumenta que é preciso considerar o interesse coletivo e as decisões de longo prazo, além de uma abordagem que integre economistas e cientistas sociais. Arlindo Villaschi também defende uma visão ousada e diferenciada, valorizando a biodiversidade e cultura do estado para torná-lo uma referência intern
Espírito Santo S.A. (Reportagem do Informativo "Fator Econômico")
1. Espírito Santo S.A.
Ao tratar do tema “Espírito Santo S.A.”, na abertura
do IV Encontro de Economia,
o especialista em pesquisas
governamentais Matheus Albergaria de Magalhães defendeu o desenvolvimento econômico do Espírito Santo de
forma multidisciplinar, multiprofissional e multi-institucional. “Afinal, a realidade atual
impõe novos desafios e novas
oportunidades tanto para os
economistas quanto para os
cientistas sociais aplicados
que analisam a economia
capixaba”, argumentou ele.
Em sua palestra, Magalhães chamou a atenção para
o fato de que “se não atentarmos para o caráter comum
e as ligações existentes entre
decisões individuais e coletivas do Estado, poderemos
assistir a uma Tragédia dos
Comuns nos próximos anos”.
Indesejados
Isso significa que os
recursos comuns, quando
explorados de forma individualista e predatória, podem
levar a resultados sociais indesejados. Magalhães propôs
então que, ao invés de o Estado ser visto como um recurso
comum (não excludente, mas
rival), ele passe a ser enxergado como uma empresa de
sociedade anônima, uma S.A.
Pensando o Espírito Santo como uma S.A., os agentes
e as instituições locais passam
a levar em conta o interesse
coletivo, com foco em ações
de médio e de longo prazo. É
importante que os economistas sigam em estudos e em
pesquisas além dos temas
recorrentes na sociedade
(commodities, incentivos fiscais, grandes projetos, entre
outros), que tenham foco no
desempenho econômico de
longo prazo, mas com uma
visão de economia como ciência social de amplo alcance.
Magalhães defende que,
assim como os economistas,
os cientistas sociais aplicados
mudem o foco e trabalhem
com mais interação, junto
com outros atores da socie-
Abergaria sugere visão
empresarial para a gestão da
economia capixaba
dade na construção de projetos conjuntos. Dessa forma, o
Espírito Santo terá uma economia pensada de maneira
multiprofissional, multidisciplinar e multi-institucional.
Um pensamento coletivo em
prol do desenvolvimento econômico capixaba.
Ousadia para propor caminhos diferentes
O Espírito Santo enfrenta o desafio de pensar novas
trajetórias de desenvolvimento, elaborar políticas públicas
ousadas, que valorizem os
maiores atributos do Estado:
sua diversidade étnica e seus
recursos naturais, com destaque para a biodiversidade
de sua costa. O alerta foi do
economista e professor do
Programa de Mestrado em
Economia da Ufes Arlindo
Villaschi, ao abordar o tema
“Elementos Dinâmicos e Desafios Contemporâneos da
Economia Capixaba”.
Tomando como referencial teórico os estudos de
Joseph Schumpeter, Christopher Freeman e Ignacy
Sachs, o professor se referiu
a Margarido Torres – que já
alertava, no início do século
passado, sobre a ameaça à
manutenção da biodiversidade do território capixaba
–, a Augusto Ruschi – que
chamava a atenção para as
desvantagens da monocultura – e a Jones dos Santos
Neves, que advertia sobre
os riscos da especialização
insustentável.
Para ele, os estudiosos
da economia capixaba devem
valorizar a interação do conhecimento e traçar novas
opções de desenvolvimento
que evitem a insustentabilidade e que busquem o diferente: “Temos de construir
uma alternativa que não seja
a exportação de minério de
ferro, que não esteja baseada em bens não renováveis,
que garanta a manutenção da
qualidade de vida. Enfim, criar
algo que esteja além, para daqui a 50 anos, quando, talvez,
não tivermos mais minério de
ferro para exportar”.
Villaschi questionou:
“Como garantir a biodiversidade de nossa costa se for
construída a quantidade de
portos anunciada? Para que
mais portos, se não há nenhuma indicação de saturação
das instalações hoje existentes entre Ubu e Regência?
Se fizermos mais portos, não
teremos biodiversidade. Sabemos bem o impacto gerado
por um simples píer”.
Referência
O professor apontou
formas de elaboração de
políticas econômicas capazes de tornar o Estado uma
referência internacional a
partir da valorização dos aspectos naturais e da cultura
e do conhecimento gerados
pela diversidade étnica. Citou
como exemplo a área da Ilha
de Trindade – maior do que a
de Fernando de Noronha –,
que poderia ser transformada
em unidade de conservação e
atrair investimentos em turismo científico, sem prejuízo à
manutenção da qualidade de
Biodiversidade é ativo que deve
nortear a política econômica do
Estado, para Villaschi
vida no litoral capixaba. “Se
não fizermos algo diferente,
não seremos referência. O
que fazemos de diferente?
Seremos referência exportando minério?”.
Para a elaboração dessas
políticas, Villaschi avalia ser
necessário que os estudiosos
da economia capixaba sejam
humildes, para interagir com
outros de áreas distintas da
ciência, bem como para
propor caminhos diferentes
daqueles tradicionalmente
apresentados.
CORECON/ES
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