SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
1


  1. A natureza social da economia

A “economia social” é, simultaneamente, uma forma de
intervenção na vida económica e na vida social, caracterizada
fundamentalmente       pelas   formas     alternativas     de
desenvolvimento de projectos, de programas e de acções
económicas e sociais desenvolvidas a partir de quadros
institucionais associativos, cooperativos, fundacionais e
mutualísticos.

As instituições de “economia social” coexistem e concorrem, na
sociedade e no mercado com as demais formas de intervenção
económica propulsionadas pelos sectores público e privado, com
as quais podem convergir ou divergir de acordo com as linhas de
rumo de cada uma.

As instituições de “economia social” concorrem no mercado com
as empresas públicas e privadas, de umas e de outras se
distinguindo, pela natureza do objecto e dos sujeitos e também
pelo reinvestimento dos excedentes económicos produzidos em
mercado livre, não tendo a obrigação legal de os redistribuir em
função de “apports” de capital, mas ,outrossim, em função do
contributo pessoal de cada membro para a melhor “performance
económica e social”.

Para travar, à partida especulações e lugares comuns, bastará
reafirmar que entre os 10 maiores bancos alemães se encontram
6 bancos cooperativos     (conferir a lista dos Bancos
Cooperativos na Alemanha publicada pelo Bundesverband der
Deutschen Volksbanken und Raiffeisenbanken (BRV). Cerca de
1.200 bancos cooperativos (Deutsche Genossenschaftbanken)
intervêm na “economia social alemã”, com um total de “assets”
superior a €700 biliões.
O “Crédit Agricole” em França, o Rabobank na Holanda, o Grupo
Konsum na Suécia e o Grupr Migros na Suiça, são outros tantos
2


exemplos florescentes de instituições de “economia social” que
prosperam no mercado, mesmo em tempo de crise, e,
simultaneamente, contribuem para o desenvolvimento dos
países onde estão implantados, para o bem estar dos seus
membros e stakeholders associados.


A “economia social” como atitude de vida, fundada no bem
comum, data de há séculos, tem afirmado a sua plenitude sob as
mais diferentes vestes, sociais e económicas, ao longo dos
tempos, nos mais diversos momentos da história moderna e nos
mais diversos lugares.
As empresas e as instituições de “economia social” divergem das
suas “congéneres” do sector privado, entre outros aspectos
estruturais pela não distribuição dos excedentes económicos
produzidos (“lucros” na linguagem privatística) aos seus
associados, preferindo reinvestir no crescimento ou em novos
projectos, sendo a redistribuição aos membros ponderada em
função da participação destes no projecto comum
A relação jurídica no âmbito da “economia social” tem
normalmente nas sociedades ocidentais um tratamento singular,
totalmente distinto daquele que é dado às sociedades
comerciais, tanto no que concerne ao objectivo social, quanto ao
que respeita à normatização jurídico - tributária conferida pelo
legislador.



2. A vitalidade da economia social

A institucionalização e globalização do “economia social”, por
vezes concebida e denominada como economia do Terceiro
Sector teve lugar a partir dos anos 80 do século 20, tendo-se
assistido ao desenvolvimento
expressivo da investigação, de publicações, de criação de
3


associações nacionais e internacionais, merecendo destaque
a nível europeu a RECMA – Revue Internationale de l’Économie
Social e o trabalho de investigação propulsionado pelo Centro
Internacional de Pesquisa e Informaçãosobre Economia Pública,
Social e Cooperativa (CIRIEC).
Alguns marcos europeus da afirmação da “economia social:

• Comunicação da Comissão Europeia (CE) (1989) intitulada «As
empresas da economia social e a realização de um mercado
europeu sem fronteiras».
• Primeira Conferência Europeia sobre Economia Social (1989).
• Criação de uma Unidade de «Economia Social» no seio da DG
XXIII (Política Empresarial, Comércio, Turismo e Economia Social)
(1989).
• Promoção, por parte da CE, de uma série de conferências sobre
economia social (1990, 1992, 1993 e 1995).
• Reconhecimento do papel das empresas da economia social
para o desenvolvimento local e a criação de empregos e criação
da acção-piloto «terceiro sector e emprego» (Cimeira do
Luxemburgo,1997).
• Criação do Intergrupo Economia Social no Parlamento Europeu
(1990), que apelou à CE no sentido do respeito da economia
social e apresentou uma comunicação sobre «esta pedra angular
do modelo social europeu».
• Publicação de vários relatórios e pareceres por parte do Comité
Económico e Social Europeu (CESE) sobre o contributo das
empresas da economia social para a prossecução dos diversos
objectivos de política pública.
Segundo o relatório A Economia Social na União Europeia
(CIRIEC, 2007), em 2005 existiam na União Europeia (UE 25) mais
de 240 000 cooperativas economicamente activas em diversas
áreas de actividade: agricultura, intermediação financeira, sector
retalhista e alojamento, indústria, construção e serviços. Estas
cooperativas davam trabalho directo a 3,7 milhões de pessoas e
correspondiam a mais de 143 milhões de filiados. Mais de 120
4


milhões de pessoas eram assistidas por mutualidades ao nível da
saúde e da segurança social, sendo que as mútuas seguradoras
tinham uma quota de mercado de 23,7%. Ainda segundoo
mesmo relatório, trabalhavam na UE 25 mais de 5 milhões
devoluntários a tempo inteiro (CIRIEC, 2007: 7). Se ao sector
cooperativo juntarmos as outras iniciativas da economia social
(associações, fundações e organizações afins) os valores
ascendem a11 milhões de pessoas empregues, o que equivale a
cerca de 7% da população activa da UE.

Portugal integra o grupo de países europeus com «maior
aceitação do conceito de economia social» (CIRIEC, 2000) a par
da França, Itália, Espanha, Bélgica, Irlanda e Suécia. Além do
núcleode formas institucionais de economia social partilhado por
todosos países (cooperativas, mutualidades, associações e
fundações), existem entidades da economia social que são
própriasde determinados países. É o caso das Misericórdias
(criadas no século xv) e das Instituições Particulares de
Solidariedade Social(IPPS) em Portugal.

2009.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Privatização das funções do Estado (Universidade de Coimbra 2013) Professor...
Privatização das funções do Estado   (Universidade de Coimbra 2013) Professor...Privatização das funções do Estado   (Universidade de Coimbra 2013) Professor...
Privatização das funções do Estado (Universidade de Coimbra 2013) Professor...A. Rui Teixeira Santos
 
Princípios de estudo da economia
Princípios de estudo da economiaPrincípios de estudo da economia
Princípios de estudo da economiaAlzira Figueiredo
 
Informe saude nov.
Informe saude nov.Informe saude nov.
Informe saude nov.neepssuerj
 
Aulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii Capitulos
Aulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii CapitulosAulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii Capitulos
Aulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii CapitulosNgouabi Salvador
 
Economia solidaria
Economia solidariaEconomia solidaria
Economia solidariaBell Abreu
 
Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...
Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...
Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...A. Rui Teixeira Santos
 
Material introdução a economia 11º ano ii ciclo ensino geral angola
Material introdução a economia 11º ano   ii ciclo ensino geral angolaMaterial introdução a economia 11º ano   ii ciclo ensino geral angola
Material introdução a economia 11º ano ii ciclo ensino geral angolaJanísio Salomao
 
Inss 15 margareth
Inss 15 margarethInss 15 margareth
Inss 15 margarethOris Lima
 
Serviço Público I (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira Santos
Serviço Público I  (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira SantosServiço Público I  (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira Santos
Serviço Público I (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira SantosA. Rui Teixeira Santos
 
Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...
Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...
Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...A. Rui Teixeira Santos
 
Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...
Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...
Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...A. Rui Teixeira Santos
 
Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...
Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...
Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...A. Rui Teixeira Santos
 
Economia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Economia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira SantosEconomia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Economia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira SantosA. Rui Teixeira Santos
 
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...A. Rui Teixeira Santos
 
As os e o sus conferência nacional de saúde on
As os e o sus conferência nacional de saúde onAs os e o sus conferência nacional de saúde on
As os e o sus conferência nacional de saúde onWalter Rorschach
 
Conflito Social e Welfare State
Conflito Social e Welfare StateConflito Social e Welfare State
Conflito Social e Welfare StateJhose Filho
 

Mais procurados (20)

Privatização das funções do Estado (Universidade de Coimbra 2013) Professor...
Privatização das funções do Estado   (Universidade de Coimbra 2013) Professor...Privatização das funções do Estado   (Universidade de Coimbra 2013) Professor...
Privatização das funções do Estado (Universidade de Coimbra 2013) Professor...
 
Princípios de estudo da economia
Princípios de estudo da economiaPrincípios de estudo da economia
Princípios de estudo da economia
 
Informe saude nov.
Informe saude nov.Informe saude nov.
Informe saude nov.
 
Aulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii Capitulos
Aulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii CapitulosAulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii Capitulos
Aulas De FinançAs PúBlicas I,Ii E Iii Capitulos
 
Orcamento publico vs estado
Orcamento publico vs estadoOrcamento publico vs estado
Orcamento publico vs estado
 
Economia solidaria
Economia solidariaEconomia solidaria
Economia solidaria
 
Economia solidaria
Economia solidaria Economia solidaria
Economia solidaria
 
Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...
Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...
Finanças Públicas da República de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (I...
 
Material introdução a economia 11º ano ii ciclo ensino geral angola
Material introdução a economia 11º ano   ii ciclo ensino geral angolaMaterial introdução a economia 11º ano   ii ciclo ensino geral angola
Material introdução a economia 11º ano ii ciclo ensino geral angola
 
Inss 15 margareth
Inss 15 margarethInss 15 margareth
Inss 15 margareth
 
Serviço Público I (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira Santos
Serviço Público I  (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira SantosServiço Público I  (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira Santos
Serviço Público I (ISG 2013) Professor Doutor Rui Teixeira Santos
 
Economia solidária
Economia solidáriaEconomia solidária
Economia solidária
 
Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...
Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...
Ética do Serviço Público - 1ª parte (CAGEP - Curso Avançado de Gestão Pública...
 
Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...
Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...
Economia e Finanças Publicas. Qual o papel do Estado? Conferencia na AJPD do ...
 
Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...
Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...
Curso de Finanças Publicas de Angola, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (ISCAD...
 
Welfare state
Welfare stateWelfare state
Welfare state
 
Economia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Economia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira SantosEconomia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
Economia e finanças desportivas, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
 
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
Curso de Direito Financeiro e de Finanças Públicas para a Licenciatura da Dir...
 
As os e o sus conferência nacional de saúde on
As os e o sus conferência nacional de saúde onAs os e o sus conferência nacional de saúde on
As os e o sus conferência nacional de saúde on
 
Conflito Social e Welfare State
Conflito Social e Welfare StateConflito Social e Welfare State
Conflito Social e Welfare State
 

Semelhante a A Natureza Social da Economia

Economia solidaria
Economia solidariaEconomia solidaria
Economia solidariaIuri Matos
 
Economia social na UE CIRIEC
Economia social na UE CIRIECEconomia social na UE CIRIEC
Economia social na UE CIRIECDianova
 
A ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIA
A ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIAA ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIA
A ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIAMario Verissimo
 
A Influência do 3º Setor na Política Social
A Influência do 3º Setor na Política SocialA Influência do 3º Setor na Política Social
A Influência do 3º Setor na Política SocialJoão Francisco
 
Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)
Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)
Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)Victor Mendes
 
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalhoReflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalhoLuiz Alberto de Vargas
 
Jornalismo no terceiro setor
Jornalismo no terceiro setorJornalismo no terceiro setor
Jornalismo no terceiro setoraulasdejornalismo
 
Cidadania Empresarial CC
Cidadania Empresarial CCCidadania Empresarial CC
Cidadania Empresarial CCCristina Coelho
 
2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social
2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social
2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia socialMiguel Toscano
 
4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais
4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais
4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariaisRosane Domingues
 
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalhoReflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalhoLuiz Alberto de Vargas
 
Notas para uma política de Economia Criativa em Porto Alegre
Notas para uma política de Economia Criativa em Porto AlegreNotas para uma política de Economia Criativa em Porto Alegre
Notas para uma política de Economia Criativa em Porto AlegreAlvaro Santi
 

Semelhante a A Natureza Social da Economia (20)

Economia solidaria
Economia solidariaEconomia solidaria
Economia solidaria
 
Economia social na UE CIRIEC
Economia social na UE CIRIECEconomia social na UE CIRIEC
Economia social na UE CIRIEC
 
A ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIA
A ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIAA ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIA
A ECONOMIA SOCIAL NA UNIÃO EUROPEIA
 
A Influência do 3º Setor na Política Social
A Influência do 3º Setor na Política SocialA Influência do 3º Setor na Política Social
A Influência do 3º Setor na Política Social
 
Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)
Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)
Cooperativa é um capital de democracia (Swissinfo)
 
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalhoReflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
 
Texto de referencia
Texto de referenciaTexto de referencia
Texto de referencia
 
INSS APRESENTAÇÃO.pptx
INSS APRESENTAÇÃO.pptxINSS APRESENTAÇÃO.pptx
INSS APRESENTAÇÃO.pptx
 
Outro capitalismo
Outro capitalismoOutro capitalismo
Outro capitalismo
 
III CONAES - Texto de referência
III CONAES - Texto de referênciaIII CONAES - Texto de referência
III CONAES - Texto de referência
 
Jornalismo no terceiro setor
Jornalismo no terceiro setorJornalismo no terceiro setor
Jornalismo no terceiro setor
 
Apostila economia i
Apostila economia iApostila economia i
Apostila economia i
 
Cidadania Empresarial CC
Cidadania Empresarial CCCidadania Empresarial CC
Cidadania Empresarial CC
 
Ces
CesCes
Ces
 
Plano Nacional de Economia Solidária
Plano Nacional de Economia SolidáriaPlano Nacional de Economia Solidária
Plano Nacional de Economia Solidária
 
Como elaborar um projeto social
Como elaborar um projeto socialComo elaborar um projeto social
Como elaborar um projeto social
 
2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social
2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social
2 15.11.2012.lisboa apresentação do plano de ação do dominio economia social
 
4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais
4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais
4.5 o trabalho_do_assistente_social_nas_fundações_empresariais
 
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalhoReflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
Reflexões sobre a nova lei das cooperativas de trabalho
 
Notas para uma política de Economia Criativa em Porto Alegre
Notas para uma política de Economia Criativa em Porto AlegreNotas para uma política de Economia Criativa em Porto Alegre
Notas para uma política de Economia Criativa em Porto Alegre
 

A Natureza Social da Economia

  • 1. 1 1. A natureza social da economia A “economia social” é, simultaneamente, uma forma de intervenção na vida económica e na vida social, caracterizada fundamentalmente pelas formas alternativas de desenvolvimento de projectos, de programas e de acções económicas e sociais desenvolvidas a partir de quadros institucionais associativos, cooperativos, fundacionais e mutualísticos. As instituições de “economia social” coexistem e concorrem, na sociedade e no mercado com as demais formas de intervenção económica propulsionadas pelos sectores público e privado, com as quais podem convergir ou divergir de acordo com as linhas de rumo de cada uma. As instituições de “economia social” concorrem no mercado com as empresas públicas e privadas, de umas e de outras se distinguindo, pela natureza do objecto e dos sujeitos e também pelo reinvestimento dos excedentes económicos produzidos em mercado livre, não tendo a obrigação legal de os redistribuir em função de “apports” de capital, mas ,outrossim, em função do contributo pessoal de cada membro para a melhor “performance económica e social”. Para travar, à partida especulações e lugares comuns, bastará reafirmar que entre os 10 maiores bancos alemães se encontram 6 bancos cooperativos (conferir a lista dos Bancos Cooperativos na Alemanha publicada pelo Bundesverband der Deutschen Volksbanken und Raiffeisenbanken (BRV). Cerca de 1.200 bancos cooperativos (Deutsche Genossenschaftbanken) intervêm na “economia social alemã”, com um total de “assets” superior a €700 biliões. O “Crédit Agricole” em França, o Rabobank na Holanda, o Grupo Konsum na Suécia e o Grupr Migros na Suiça, são outros tantos
  • 2. 2 exemplos florescentes de instituições de “economia social” que prosperam no mercado, mesmo em tempo de crise, e, simultaneamente, contribuem para o desenvolvimento dos países onde estão implantados, para o bem estar dos seus membros e stakeholders associados. A “economia social” como atitude de vida, fundada no bem comum, data de há séculos, tem afirmado a sua plenitude sob as mais diferentes vestes, sociais e económicas, ao longo dos tempos, nos mais diversos momentos da história moderna e nos mais diversos lugares. As empresas e as instituições de “economia social” divergem das suas “congéneres” do sector privado, entre outros aspectos estruturais pela não distribuição dos excedentes económicos produzidos (“lucros” na linguagem privatística) aos seus associados, preferindo reinvestir no crescimento ou em novos projectos, sendo a redistribuição aos membros ponderada em função da participação destes no projecto comum A relação jurídica no âmbito da “economia social” tem normalmente nas sociedades ocidentais um tratamento singular, totalmente distinto daquele que é dado às sociedades comerciais, tanto no que concerne ao objectivo social, quanto ao que respeita à normatização jurídico - tributária conferida pelo legislador. 2. A vitalidade da economia social A institucionalização e globalização do “economia social”, por vezes concebida e denominada como economia do Terceiro Sector teve lugar a partir dos anos 80 do século 20, tendo-se assistido ao desenvolvimento expressivo da investigação, de publicações, de criação de
  • 3. 3 associações nacionais e internacionais, merecendo destaque a nível europeu a RECMA – Revue Internationale de l’Économie Social e o trabalho de investigação propulsionado pelo Centro Internacional de Pesquisa e Informaçãosobre Economia Pública, Social e Cooperativa (CIRIEC). Alguns marcos europeus da afirmação da “economia social: • Comunicação da Comissão Europeia (CE) (1989) intitulada «As empresas da economia social e a realização de um mercado europeu sem fronteiras». • Primeira Conferência Europeia sobre Economia Social (1989). • Criação de uma Unidade de «Economia Social» no seio da DG XXIII (Política Empresarial, Comércio, Turismo e Economia Social) (1989). • Promoção, por parte da CE, de uma série de conferências sobre economia social (1990, 1992, 1993 e 1995). • Reconhecimento do papel das empresas da economia social para o desenvolvimento local e a criação de empregos e criação da acção-piloto «terceiro sector e emprego» (Cimeira do Luxemburgo,1997). • Criação do Intergrupo Economia Social no Parlamento Europeu (1990), que apelou à CE no sentido do respeito da economia social e apresentou uma comunicação sobre «esta pedra angular do modelo social europeu». • Publicação de vários relatórios e pareceres por parte do Comité Económico e Social Europeu (CESE) sobre o contributo das empresas da economia social para a prossecução dos diversos objectivos de política pública. Segundo o relatório A Economia Social na União Europeia (CIRIEC, 2007), em 2005 existiam na União Europeia (UE 25) mais de 240 000 cooperativas economicamente activas em diversas áreas de actividade: agricultura, intermediação financeira, sector retalhista e alojamento, indústria, construção e serviços. Estas cooperativas davam trabalho directo a 3,7 milhões de pessoas e correspondiam a mais de 143 milhões de filiados. Mais de 120
  • 4. 4 milhões de pessoas eram assistidas por mutualidades ao nível da saúde e da segurança social, sendo que as mútuas seguradoras tinham uma quota de mercado de 23,7%. Ainda segundoo mesmo relatório, trabalhavam na UE 25 mais de 5 milhões devoluntários a tempo inteiro (CIRIEC, 2007: 7). Se ao sector cooperativo juntarmos as outras iniciativas da economia social (associações, fundações e organizações afins) os valores ascendem a11 milhões de pessoas empregues, o que equivale a cerca de 7% da população activa da UE. Portugal integra o grupo de países europeus com «maior aceitação do conceito de economia social» (CIRIEC, 2000) a par da França, Itália, Espanha, Bélgica, Irlanda e Suécia. Além do núcleode formas institucionais de economia social partilhado por todosos países (cooperativas, mutualidades, associações e fundações), existem entidades da economia social que são própriasde determinados países. É o caso das Misericórdias (criadas no século xv) e das Instituições Particulares de Solidariedade Social(IPPS) em Portugal. 2009.