1. EDIFICAR A FAMÍLIA (8/09/09)
Um livro particularmente simpático e atraente é o livro de Tobias. Conta as peripécias de Tobias para
encontrar Sarah, que seria sua esposa. Os primeiros noivos de Sarah morriam na noite de núpcias, mas
Tobias foi instruído pelo Anjo Gabriel. Sua disposição era diferente: “Somos filhos de Santos e não
devemos nos casar como pagãos que não conhecem a Deus”. disse Sarah; “Tende piedade de nós,
Senhor; tende piedade de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice!”. E assim foi;
tiveram sete filhos.
Atualmente, são muitos os ataques às famílias por parte dos que não querem compromissos estáveis,
dos que querem propor uniões de outros tipos, instáveis, passageiras ou união de pessoas do mesmo
sexo. É preciso reabilitar a família na sua dignidade. Uma mãe de família, envolvida em associações
variadas, foi convidada a participar em mais uma. A mãe recusou. E a outra perguntou: -“Você é tão
ocupada assim?”
-“Sim, especialmente depois que assumi a empresa da qual é presidente meu marido e que fomenta a
vida cristã, a educação da infância e da juventude; se ocupa da alimentação, da difusão da educação e
cultura”.
A outra, espantada, perguntou:
-“Que associação é essa? Acho que nunca ouvi falar”.
-“Certamente você conhece; chama-se Família”.
Todos devem procurar crescer nessa tarefa de edificar a família. Um ponto de partida é pensar que
problemas e soluções dependem de nós. Mais do que apontar o que os outros precisam melhorar na
família: marido, sogra, filhos, pais, ou o apartamento, ou trabalho, ou escola dos filhos, devemos pensar
o que mudar em nós mesmos.
Se nós mudamos e melhoramos, a família melhora. Há 3 inimigos a combater com veemência:
egoísmo, desgaste e tentação de acomodação.
O egoísmo tende a defender o próprio “eu”. A pessoa olha demasiadamente para si mesma, quer se
poupar de sacrifícios. A família demanda tempo e este pode não sobrar para si mesma.
Alguém contava a história de um menino tímido, de olhos lacrimejantes que pergunta ao pai:
-“Pai, quanto o senhor ganha por hora?”
-“Puxa filho, não conto isso nem para sua mãe!”
O filho insiste. De cara amarrada, o pai responde: -“Vinte reais.”
E o menino pede:
-“Pai, pode me emprestar 1 real?”
2. -“Para isso que você queria saber quanto eu ganho? Vai dormir!” E não deu nada ao filho. Mais tarde,
preocupado de ter sido muito exagerado, foi procurar o filho e deu-lhe o real. O menino pegou a
moeda e juntou ao que já tinha guardado, entregando ao pai: -”Agora você pode me dar uma hora do
seu tempo?” As crianças querem menos brinquedos e mais atenção; menos roupa e mais conversa.
Também devemos combater o DESGASTE. O tempo gera um desgaste no carro, no celular, na roupa e
também em nós. O relacionamento vai ficando desgastado. Podem faltar detalhes de carinho, ou a
paciência para enfrentar os problemas, ou o espírito esportivo que faz com que as coisas sejam levadas
para o campo do mau humor.
Em “Guerra e Paz”, Tolstoi descreve a situação de Nicolau: “A intimidade com sua mulher aumentava
sempre; todos os dias descobria nela novos tesouros espirituais”. Recentemente, fui a uma
comemoração de bodas de 60 anos em que o marido relatou ter descoberto há pouco, que a mulher não
gostava muito de flores.
Precisamos ter a postura de renovação, de descobertas.
O 3º inimigo é a ROTINA MÁ, a acomodação que se reflete no desleixo, bagunça, desordem, descaso.
Por esse caminho, em muitas famílias a TV se torna a dona da casa. As pessoas assistem 5 horas de
TV por dia! Se você deixa de ensinar as verdades da fé, os filhos vão se distanciando de Deus. E o
mundo necessita de famílias – exemplos que mostrem que é por ser família moderna, que convivem
harmoniosamente.
Tolstoi escreveu como primeira frase do romance Ana Karenina: “Todas as famílias felizes se parecem
entre si; as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira”.
Exemplo de família generosa, que se sustenta economicamente, que valoriza o vínculo matrimonial,
que sabe que o casamento é para sempre. Santo Agostinho dizia: “Os que estão bem instruídos na fé
católica, sabem que o matrimônio foi instituído por Deus como o divórcio foi instituído pelo demônio”.
As famílias-exemplo ajudarão a construir uma sociedade mais justa e mais feliz.
Cinco jovens morreram num acidente de automóvel, na saída de uma boate. Tinham bebido. Então
muitas famílias se deram conta de que é preciso conversar com os filhos sobre os limites. Não basta
fechar os olhos; o casamento e a família são caminhos de autêntica santidade. Nossa Senhora viveu
toda a vida dedicada à família de Nazaré.
2ª PALESTRA
A família é o ambiente ideal para alcançar a meta da santidade, com todas as tarefas e ocupações de
quem decide formar uma família. Isso supõe um exemplo das virtudes no ambiente do lar. Santidade
supõe virtudes. Quando a Igreja examina a vida de uma pessoa para saber se pode ser chamada de
santa, examina a heroicidade das virtudes.
Se a pessoa é casada, será preciso verificar as virtudes no âmbito do lar. A virtude deve ser construída
ao longo da vida. Quem não tinha a virtude da pontualidade, da alegria, do bom humor, pode chegar a
tê-la. De vez em quando devemos fazer um balanço calmo sobre os defeitos a superar, as virtudes a
conquistar para viver num lar harmonioso e alegre. Vamos ver algumas virtudes que afetam o convívio
familiar.
3. Podemos salientar 4 virtudes: compreensão, generosidade, renúncia, otimismo
É um quadrilátero em que cada uma tem sua função.
Compreensão – Há uma cena, na vida de Jesus Cristo, em que comparece a compreensão que se tem
numa família. Jesus observa o enterro do filho único da viúva. Cristo compreende a profundidade do
sofrimento da mulher que perdeu tudo. Sem que ela peça nada, Jesus se adiantou e ressuscitou seu
filho. Para que a vida familiar transcorra de maneira serena é preciso que haja compreensão.
Não tanto que me compreendam, mas a nossa compreensão em relação aos outros. É querer as pessoas,
mesmo com as dificuldades, defeitos e falhas. Escreveu São Josemaria Escriva, em Forja: “Coloca-te
sempre nas circunstâncias do próximo. Assim verás os problemas ou as questões serenamente, não te
aborrecerás, compreenderás, desculparás, corrigirás quando e como for necessário e encherás o mundo
de caridade”.
Diremos: “Encherás a família de caridade”.
Essa é a grande receita: Colocar-se no lugar do outro.
Todos nós temos coisas que gostaríamos de fazer melhor. Quando procuramos ver as peculiaridades do
outro, vemos as qualidades que existem ao lado dos defeitos. É uma visão mais realista. Esse é o
desejo interior de compreender.
Também devemos desenvolver a Generosidade. Como seria o dia a dia da Sagrada Família? Devia
brilhar particularmente, a generosidade. Nossa Senhora se doava sem reclamações. São José se
adiantava para comprar algo necessário na casa. Jesus se oferecia para buscar água na fonte. Assim,
com essa disposição generosa, a vida devia ser muito feliz.
“Oxalá saibas, diariamente e com generosidade, contrariar-te, alegre e discretamente, para servir e para
tornar agradável a vida aos outros. Este modo de proceder é verdadeira caridade de Jesus Cristo.”
(Forja, 150). É a generosidade de ir além do obrigatório. Sorrir quando custa, quando a vontade é
devolver a cara feia que recebi: “não, vou retribuir com um sorriso”. É abraçar tarefas desagradáveis,
monótonas e desanimadoras. A luminosidade e alegria estão ligadas à generosidade.
A Renúncia está ligada à generosidade: BentoXVI escreveu numa encíclica: “ O Sim ao amor é fonte
de sofrimento porque o amor exige expropriações do meu “eu” nos quais deixo podar e ferir. O amor
não pode de modo algum existir sem esta renúncia mesmo dolorosa a mim mesmo; senão torna-se puro
egoísmo, anulando-se deste modo a si próprio enquanto tal. (Spes Salvi).
Renunciar a coisas pessoais pelo bem alheio. Dizia Pascal: “A vontade própria não se satisfará nunca,
mesmo que tenha poder sobre tudo o que deseja. Mas ficamos satisfeitos no momento em que
renunciamos a ela”.
Importa saber renunciar; seja a opiniões pessoais para nos abrirmos aos outros. Renunciamos a um
gosto para satisfazer os outros. Qual pizza escolher? Qual vai ser o filme? A pessoa se tornar
irredutível numa bobagem, pode criar inúmeras brigas.
4. Um autor descreve, de forma bem humorada, as brigas que geraram num casal o hábito dela de apertar
a pasta dental direitinho, enquanto ele apertava no meio, de qualquer forma. Os 2 resolveram ceder e
ela passou a apertar a pasta do jeito dele e ele do jeito dela.
Outra virtude necessária à convivência é o Otimismo, baseado na fé; não uma simples bonomia. Diz
um provérbio chinês: De duas pessoas que olham através da janela, uma vê a escuridão, a outra vê as
estrelas.
A pessoa otimista vê sempre as estrelas.
O otimismo frente às dificuldades econômicas, que pode ser útil à formação dos filhos. Otimismo com
os problemas dos parentes. Tudo pode ter solução. Das dificuldades, Deus tira coisas positivas. Não é
fechar os olhos e fazer de conta que não vê. O otimismo, em relação ao ambiente, faz ver que o mundo
sempre teve problemas. Deus nos colocou agora porque era o melhor para nós. Podemos ser nós a
ajudar a resolver os problemas.
O fundamento do otimismo é o que São Paulo disse aos Romanos, num período difícil: “Se Deus é por
nós, quem será contra nós?”
Para completar, devemos meditar que a tarefa de educação dos filhos é tarefa gigantesca. João Paulo II
disse sobre seu pai: “O simples fato de vê-lo ajoelhar-se, teve uma influência decisiva naqueles meus
anos de meninice”.
Cura D’Ars: “A virtude passa facilmente do coração das mães para os filhos”. Há uma transmissão que
pode ser imperceptível, mas é real. Não adianta fingir as virtudes. Os filhos são também frutos do
ambiente, mas o que se pode passar e construir no dia a dia, é especialmente nos momentos difíceis..
Aí se mostram as virtudes. Pais responsáveis têm postura ativa na Associação de Pais e Mestres das
escolas. Dar orientação sobre livro escolhido pelo professor de Literatura. Uma voz discordante é
muito importante.
Com os filhos, é importante ter firmeza. Escreveu o Cardeal Ratzinger: “Recordo com profundo
carinho a bondade de meu pai e de minha mãe, que incluía a capacidade de dizer não”.
Cuidar bem da formação dos filhos na fé. Não é enfiar a Bíblia inteira na cabeça de uma criança de 3
anos de idade. É batizar cedo, explicar o Catecismo, rezar à noite, ensinar a benção dos alimentos.
Isso sem forçar os filhos. Convidar para ir à missa, mostrando que é um dom. Ensinar a centralidade
da fé na vida, com o exemplo pessoal. Deus é o Pai amoroso que cuida de tudo em nossa vida.
Por conta própria, na presença de Deus, vá acrescentando outras virtudes necessárias. Só assim o
matrimônio será autêntico caminho de santidade. Que Nossa Senhora nos ajude a crescer nas virtudes
necessárias para que nosso lar seja semelhante ao lar de Nazaré