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H2 Especial QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO
●
16/4/1925
Ruy Mesquita nasce em São
Paulo.
●
15/3/1927
Morre seu avô, Julio Mesquita.
Seu pai, Julio de Mesquita Fi-
lho, e seu tio, Francisco Mes-
quita, assumem a direção do
Estado, ao lado de Nestor Pes-
tana.
●
1928
Aos 3 anos de idade, é acometi-
do por paralisia infantil. Vai
com a família para Bolonha,
Itália, onde é operado no Insti-
tuto Rizzoli. Enquanto fica in-
ternado por dois meses, seu
pai percorre o país fazendo re-
portagens sobre o regime fas-
cista.
●
1929
Em março, a redação e a admi-
nistração são transferidas para
a Rua Boa Vista, 32, com a ladei-
ra Porto Geral.As oficinas pas-
sam a operar na Rua Barão de
Duprat, com novas rotativas
especialmente construídas.
Crack na Bolsa de Nova York
causa recessão mundial.
●
1930
O Estado apoia a candidatura
de Getúlio Vargas à presidên-
cia, em oposição a Júlio Pres-
tes, respaldado pelo presiden-
te Washington Luís. Prestes
ganha as eleições, mais uma
vez marcadas por fraudes. Em
outubro estoura a Revolução
de 30, que depõe Washington
Luís e coloca Getúlio Vargas
no poder. O jornal alcança a
tiragem de 100 mil exemplares
e lança aos domingos um suple-
mento em rotogravura, com
grande destaque para as ilustra-
ções fotográficas.
AP-29/10/1956
José Maria Mayrink
Acordavaàs4horasdamadruga-
da,lia os jornaisantes de tomar
o café, ligava para dois ou três
colaboradores, chegava à reda-
ção ao meio-dia e meia, voltava
diretoparacasadepoisdotraba-
lho. Se houve uma época em
que Ruy Mesquita passava pelo
clube para tomar um uisqui-
nho, era mais para conversar
com o irmão, Julio de Mesquita
Neto,quemorreuem1996.Con-
versavamsobreoEstadoeoJor-
nal da Tarde, que eles dirigiam
desde 1969, quando morreu o
pai, Julio de Mesquita Filho.
“Aminhavidaéisso,souqua-
se um workaholic”, disse Ruy
Mesquita numa entrevista pela
Rádio Eldorado, resumindo a ro-
tinaquevinharefazendo,dese-
gunda a sexta-feira, por quase
60 anos. Os fins de semana
eram, para ele, um plantão sem
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dia, anotava e cobrava even-
tuais falhas, telefonava para a
redaçãonastardesdesábadose
domingos. “O que temos para
amanhã?”, perguntava invaria-
velmente. Se discordava da
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Com a morte de Julio Neto,
em 1996, aumentou a carga de
trabalho. Assumiu a direção do
Estado, com o nome no cabe-
çalho da primeira página, bem
embaixo do nome do avô, Julio
Mesquita, o patriarca, que diri-
giuojornalde1891a1927.Quan-
doeradiretordoJT,costumava
fazereditoriais. Deixoua tarefa
para os editorialistas dos dois
jornais, com os quais se reunia
diariamente, porque não tinha
mais tempo de escrever.
AmesadetrabalhodeRuyera
cobertadepilhasdepapéis,que
sóeleeracapazdelocalizar.Lia
dezenas de artigos, conferia os
textos em pauta, anotava com
uma caneta o que tinha a reco-
mendaroucorrigir. “Se não en-
tender,leveparaoMarcoAntô-
nio Rocha traduzir”, dizia com
um risinho de brincadeira, mas
falandosério,porquequasenin-
guémconseguiadecifrarsuale-
tra. Fazia observações precisas
e, se reclamava, geralmente ti-
nha razão.
Suasala,dejanelasamplaspa-
ra o Rio Tietê, tinha também
computadores,atelaabertanas
informações da Agência Estado,
mas Ruy não era afeito às novi-
dadesdainternet.“Eusoucom-
pletamenteincapazdeadquirir
astecnologiasmodernas,estou
muitovelhoparaisso,masrece-
bodiariamenteprintsfeitoses-
pecialmentepara mimsobreos
assuntos que me interessam.”
Queria saber o que a imprensa,
especialmente a americana e a
europeia, estava publicando.
“Eusei que issoestá meio fo-
ra da moda”, reconhecia com
sinceridade,masnão alterava a
rotina.“Nofimdesemana,pas-
so o dia inteiro em casa lendo
livros.Hámuitotemponãoleio
um romance. Procuro ler os li-
vros que discutem os proble-
mas políticos e econômicos da
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lismoanãoserassim.”Gostava
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bre economia, matéria-prima
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sonhos.
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cívelqueohomemfaz:começae
secompletaacada24horas.En-
tão, você tem de estar todo dia
orientando,discutindooquevo-
cêachaquedevesermaisrealça-
do numa determinada edição,
nodiaseguintefazendoacrítica
da edição que saiu, para poder
cumprirseupapeldamelhorma-
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demenino.Tinha7anosdeida-
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quitaFilho,eoirmãodele,Fran-
cisco Mesquita, foram presos e
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lias, pois eram dois irmãos (os
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levar Ruy à Itália, onde passou
dois meses em tratamento no
Instituto Rizzoli, na cidade de
Bolonha.Nascidoem16deabril
de1925,eletinhaparalisiainfan-
til desde os 3 anos.
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gavaapernainteira.Meupaime
levouparaaItália,porquealiha-
via o maior, mais moderno e
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pedia,eomédicomaisrenoma-
dodomundo,dr.Putti.Fuiope-
rado por esse médico, que me
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tantedavida.”EnquantoRuyfi-
cava dois meses internado no
hospitalemcompanhiadamãe,
MarinaVieiradeCarvalhoMes-
quita, o pai percorria a Itália fa-
zendoreportagenssobreoregi-
me fascista de Mussolini.
Marina relatou numa carta
bem-humorada ao marido, em
2dejunho de1933,comoo filho
se comportava na clínica: “Va-
mosbem.ORuy,firmenosseus
tratamentos. Sempre com uma
paciência sem limites, ajudan-
dooquantopodeasuacura.Se-
rá o cúmulo que Deus não re-
compense tanto sacrifício da
parte de um coitadinho de 8
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násticaporcausadeseusjácéle-
bres olhos. Ontem havia lá três
moçasencantadascomele.Dis-
se-menavoltaqueissooaborre-
ce, porque de repente ele gosta
de uma e o que será então das
outras coitadas! O convenci-
mento é um fato...”
Ruy guardou boas lembran-
ças dessa primeira passagem
forçada pela Europa.
“Foi um exílio até agradável
para nós, meninos. Logo que
chegamosaPortugal,fomospa-
raocolégio.Euestavacomeçan-
doocursoprimárioeJúlio,meu
irmão, estava no terceiro ano.
Fomos todos juntos – os pri-
mos Luís, Juca e Cecília, e o
meu outro irmão, o Carlão
(Luís Carlos Mesquita). Tinha
um monte de exilados brasilei-
ros lá. Ficamos todos amigos.”
Voltaram todos, menos de
doisanosdepois,quandoGetú-
lioVargasacenoucompromes-
sas de liberalização e nomeou
Armando de Salles Oliveira,
cunhado de Julio de Mesquita
Filho,interventordeSãoPaulo.
Eleito em seguida governador,
Armando Salles encarregou Ju-
liodeMesquitaFilhodecoorde-
nar a criação da Universidade
de São Paulo (USP), um orgu-
lho para a família. A trégua, no
entanto, durou pouco.
Com o golpe e a instituição
do Estado Novo em 1937, Julio
deMesquitaFilhovoltouaoexí-
lio. Depois de ser preso 17 ve-
zes,foiembarcadoparaLisboa,
de onde se mudou para Buenos
Aires.Ruyeseusirmãosperma-
neceram em São Paulo. “Papai
não tinha recursos para nos le-
var. Minha mãe o acompanhou
enosdeixounacasadotioFran-
cisco,queeracomomeupai.Fo-
mos tratados igualzinho a nos-
sosprimos.Estávamosestudan-
do aqui, o Julio quase entrando
na universidade.”
Ruy, que iniciara o primeiro
anoginasialnoColégioSãoLuís
em1935,foiexpulsoesetransfe-
riu para o Rio Branco em 1938.
Motivo da expulsão: a insatisfa-
ção dos padres jesuítas do São
LuíscomafamíliaMesquita,por
causadaoposição do Estado ao
general Franco, quando tropas
franquistas atacaram o governo
republicanonaEspanha.
Apósocolegial,Ruysematri-
culou na Faculdade de Direito
doLargodeSãoFrancisco.Estu-
dou até o terceiro ano, mas não
concluiuocurso.EstudouCiên-
ciasSociais naFaculdadedeFi-
losofia da USP, mas sua forma-
çãofoimaisadeumautodidata.
“Eufuieducadoprimeironalei-
tura de Tucídides, depois de
Fustel de Coulanges e, depois,
deAlexisdeTocqueville”,disse
RuyMesquita,apontandoosau-
tores que fundamentalmente
contribuíram para o ideário até
hoje mantido, com as necessá-
rias adaptações, pelo Estado.
Em 1944, participou como
ator da peça Heffman, escrita e
dirigida por Alfredo Mesquita e
encenada no Teatro Municipal.
Aoseulado,aescritoraLygiaFa-
gundes Telles, colega no Largo
São Francisco. “Ele se revelou
um ator muito esforçado e teve
boa presença em cena”, relem-
bra a autora, que fazia parte do
GrupodeTeatroExperimental,
dirigido por Alfredo Mesquita.
Com três atos, Heffman era
uma comédia ligeira sobre um
grupo de jovens que, reunidos
em uma casa, recebem a visita
de um refugiado da guerra, que
vaimodificarsuarotina.Ruyvi-
via Antonio Augusto, enquanto
Lygia interpretava Nair. Tam-
bém estudou piano por 2 anos.
Em 1948, aos 23 anos de ida-
de, foi trabalhar no jornal. Co-
meçoupelaEditoriaInternacio-
nal,entãochamadadeSeçãodo
Exterior,sobocomandodoita-
liano Giannino Carta, seu mes-
tre e amigo. Quando Giannino
voltou para a Europa, em 1956,
Ruy assumiu a chefia da seção.
Assumiu também a coluna De
um dia para outro, que assinou
até maio de 1961. Comentava
notícias internacionais.
“De Gaulle é um homem de
opinião e calado”, escreveu na
estreia, em 12 de julho de 1958,
quandotambémfaloudapolíti-
caexternadaentãoUniãoSovié-
tica. “A Rússia não deseja criar
dificuldadesparaomarechalTi-
to nem para seu governo.” So-
bre os rumos da Revolução
Cubana, escreveu já em 9 de ja-
neirode1959:“Seosatuaislíde-
res revolucionários não estive-
remàalturadatarefaqueseim-
puseram, Cuba viverá, num fu-
turopróximo,momentosainda
mais dramáticos que o atual”.
Seis meses após a vitória dos
guerrilheirosdeFidelCastro,foi
conferiremHavana,ondejáesti-
vera em 1956, os primeiros pas-
sos do novo governo. Subiu ao
palanquedasautoridadesnapri-
meiracomemoraçãodo26deJu-
lho.“Eufuiapresentadoàmulti-
dãonaPlazadelaRevoluciónco-
mo o jornalista que mais tinha
defendido a revolução de Sierra
Maestra. A revolução de Sierra
Maestrafoiumabrincadeiraque
deu certo, porque eram 21 ou 22
malucos que desembarcaram
nas costas de Cuba e ficaram lá.
Não houve grandes combates,
não houve tiroteio nem nada. O
Batistaacaboude podre...”
Quase 50 anos depois, quan-
do Fidel renunciou à reeleição,
emfevereirode2008,RuyMes-
quitatraçoudeleumperfilcríti-
co em que deixava clara sua de-
cepção com o que ocorreu de-
pois. Sua avaliação, depois de
confessar que havia acompa-
nhado“asagarevolucionáriade
FidelCastro”comgrandeentu-
siasmo: “O regime castrista,
que já dura 49 anos, é a maior
tragédiapolíticadahistóriamo-
derna, como está sendo de-
monstrado hoje, pois, 49 anos
depois,aeconomiacubanaestá
pior do que no momento em
que Castro assumiu o governo.
Éoquesepodechamardehiber-
nação econômica de um país
que durou quase 50 anos.”
O noticiário internacional
sempre mereceu especial aten-
ção de Ruy Mesquita. Mesmo
quandodirigiaoJornaldaTarde
–umvespertinoágilemoderno
lançadosobsuaresponsabilida-
deemjaneirode1966–elemoni-
torava a antiga Seção do Exte-
riordoEstado,cobrandofalhas
e sugerindo temas.
“Quem é essa Sônia Cristina
que está escrevendo no Esta-
do?”, perguntou, ao ler um arti-
gosobreos30anosdaOrganiza-
çãodoTratadodoAtlânticoNor-
te (Otan) que não combinava
com a linha do jornal. Não gos-
toudoartigo,masrecebeuareda-
tora,quandoelabateuàsuapor-
taparadefenderotexto.Mante-
vesuaopiniãoerespeitouadiver-
gência. Tanto que aconselhou
Sôniaacontinuarescrevendo.
Ruy Mesquita podia discor-
dar, mas respeitava seus profis-
sionais.QuandoGillesLapouge,
correspondente em Paris, avi-
sou em 1964 que não escreveria
para um jornal que havia apoia-
doogolpemilitar,foielequemo
fezmudardeideia.Garantiaque,
seaRevoluçãode31deMarçose
desviassedeseusobjetivos,oEs-
tado retiraria o apoio – o que,
defato,acabariaacontecendo.
“MeucaroRuy,seutelegrama
comoveu-me e perturbou-me
ao mesmo tempo. Não me sur-
preendi: já sabia que suas deci-
sões são sempre tomadas com
base nos mais nobres motivos”,
respondeu Lapouge numa lon-
gacarta,reproduzidanaíntegra,
emquereviasuaposição.Conti-
nuaram amigos. Divergiam em
questõesimportantes,masnem
porissoojornaldeixavadepubli-
caroqueLapougeescrevia.Mes-
moquetivessedediscordardele
explicitamenteem editorial.
Ruy Mesquita não gostava de
Getúlio Vargas e tinha razões
para isso. Depois de mandar
prender e exilar os proprietá-
riosdoEstado,porcausadare-
sistência deles à ditadura, o go-
vernointerveionojornaleocu-
pou suas instalações durante
mais de cinco anos – de março
de 1940 a dezembro de 1945.
Apolíciadointerventor Ade-
mar de Barros alegou que os
Mesquitas estocavam metra-
lhadorasparaderrubarogover-
no. Mandado para Lisboa, de
onde foi para Buenos Aires, Ju-
lio de Mesquita Filho se arris-
cou a voltar em 1943. Não tinha
como sobreviver. Foi confina-
do na fazenda da família em
Louveira, onde ficou isolado
até a queda de Getúlio.
Quando ocorreu o atentado
da Rua Tonelero contra Carlos
Lacerda e, em consequência de-
le,osuicídiodeGetúlio,em1954,
Ruy Mesquita estava dirigindo
temporariamente a sucursal do
Estado no Rio. Fez a cobertura
da crise que, como diria 50 anos
depois,foi“muitofacciosa”,em-
bora “não deliberadamente fac-
ciosa”, porque a reportagem se
deixou levar “pela atmosfera
quereinou naquelaocasião”.
Adversário, mas não inimigo
deGetúlio,“oEstadorendeuas
1925 2013✝
Uma vida dedicada ao jornalismo,
uma história guiada por princípios
Ao longo de 60 anos de trabalho no ‘Estado’ e no ‘Jornal da Tarde’, manteve-se fiel ao ideal de liberdade que herdou de seu pai e seu avô
Cuba. Ruy (2º à esq.) durante reunião da SIP em Havana, quando castristas foram fuzilados
★
Cronologia
Ruy Mesquita
O pai e o tio foram
presos e enviados ao
exílio em Portugal.
As famílias foram junto
Foi expulso do São Luís
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do jornal ao general
Franco, da Espanha

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História do jornal O Estado de S. Paulo e de seu diretor Ruy Mesquita

  • 1. %HermesFileInfo:H-2:20130522: H2 Especial QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO ● 16/4/1925 Ruy Mesquita nasce em São Paulo. ● 15/3/1927 Morre seu avô, Julio Mesquita. Seu pai, Julio de Mesquita Fi- lho, e seu tio, Francisco Mes- quita, assumem a direção do Estado, ao lado de Nestor Pes- tana. ● 1928 Aos 3 anos de idade, é acometi- do por paralisia infantil. Vai com a família para Bolonha, Itália, onde é operado no Insti- tuto Rizzoli. Enquanto fica in- ternado por dois meses, seu pai percorre o país fazendo re- portagens sobre o regime fas- cista. ● 1929 Em março, a redação e a admi- nistração são transferidas para a Rua Boa Vista, 32, com a ladei- ra Porto Geral.As oficinas pas- sam a operar na Rua Barão de Duprat, com novas rotativas especialmente construídas. Crack na Bolsa de Nova York causa recessão mundial. ● 1930 O Estado apoia a candidatura de Getúlio Vargas à presidên- cia, em oposição a Júlio Pres- tes, respaldado pelo presiden- te Washington Luís. Prestes ganha as eleições, mais uma vez marcadas por fraudes. Em outubro estoura a Revolução de 30, que depõe Washington Luís e coloca Getúlio Vargas no poder. O jornal alcança a tiragem de 100 mil exemplares e lança aos domingos um suple- mento em rotogravura, com grande destaque para as ilustra- ções fotográficas. AP-29/10/1956 José Maria Mayrink Acordavaàs4horasdamadruga- da,lia os jornaisantes de tomar o café, ligava para dois ou três colaboradores, chegava à reda- ção ao meio-dia e meia, voltava diretoparacasadepoisdotraba- lho. Se houve uma época em que Ruy Mesquita passava pelo clube para tomar um uisqui- nho, era mais para conversar com o irmão, Julio de Mesquita Neto,quemorreuem1996.Con- versavamsobreoEstadoeoJor- nal da Tarde, que eles dirigiam desde 1969, quando morreu o pai, Julio de Mesquita Filho. “Aminhavidaéisso,souqua- se um workaholic”, disse Ruy Mesquita numa entrevista pela Rádio Eldorado, resumindo a ro- tinaquevinharefazendo,dese- gunda a sexta-feira, por quase 60 anos. Os fins de semana eram, para ele, um plantão sem descanso. Conferia a edição do dia, anotava e cobrava even- tuais falhas, telefonava para a redaçãonastardesdesábadose domingos. “O que temos para amanhã?”, perguntava invaria- velmente. Se discordava da manchete prevista, ditava suas instruções,mastambémaceita- va contra-argumentos. Com a morte de Julio Neto, em 1996, aumentou a carga de trabalho. Assumiu a direção do Estado, com o nome no cabe- çalho da primeira página, bem embaixo do nome do avô, Julio Mesquita, o patriarca, que diri- giuojornalde1891a1927.Quan- doeradiretordoJT,costumava fazereditoriais. Deixoua tarefa para os editorialistas dos dois jornais, com os quais se reunia diariamente, porque não tinha mais tempo de escrever. AmesadetrabalhodeRuyera cobertadepilhasdepapéis,que sóeleeracapazdelocalizar.Lia dezenas de artigos, conferia os textos em pauta, anotava com uma caneta o que tinha a reco- mendaroucorrigir. “Se não en- tender,leveparaoMarcoAntô- nio Rocha traduzir”, dizia com um risinho de brincadeira, mas falandosério,porquequasenin- guémconseguiadecifrarsuale- tra. Fazia observações precisas e, se reclamava, geralmente ti- nha razão. Suasala,dejanelasamplaspa- ra o Rio Tietê, tinha também computadores,atelaabertanas informações da Agência Estado, mas Ruy não era afeito às novi- dadesdainternet.“Eusoucom- pletamenteincapazdeadquirir astecnologiasmodernas,estou muitovelhoparaisso,masrece- bodiariamenteprintsfeitoses- pecialmentepara mimsobreos assuntos que me interessam.” Queria saber o que a imprensa, especialmente a americana e a europeia, estava publicando. “Eusei que issoestá meio fo- ra da moda”, reconhecia com sinceridade,masnão alterava a rotina.“Nofimdesemana,pas- so o dia inteiro em casa lendo livros.Hámuitotemponãoleio um romance. Procuro ler os li- vros que discutem os proble- mas políticos e econômicos da atualidade.Nãoentendojorna- lismoanãoserassim.”Gostava de discutir sobre política e so- bre economia, matéria-prima preferencial do jornal de seus sonhos. Acreditava ser essa a sua fun- ção.“Ojornaléaobramaispere- cívelqueohomemfaz:começae secompletaacada24horas.En- tão, você tem de estar todo dia orientando,discutindooquevo- cêachaquedevesermaisrealça- do numa determinada edição, nodiaseguintefazendoacrítica da edição que saiu, para poder cumprirseupapeldamelhorma- neira possível”, disse em entre- vista àrevista Imprensa. Foiumaliçãoqueveiodober- ço. Ruy Mesquita acompanhou a vida atribulada do jornal des- demenino.Tinha7anosdeida- de, quando o pai, Julio de Mes- quitaFilho,eoirmãodele,Fran- cisco Mesquita, foram presos e enviados ao exílio em Portugal porque o jornal apoiou a Revo- lução Constitucionalista de 1932. A família foi junto. Aliás, asfamílias.“Éramosduasfamí- lias, pois eram dois irmãos (os Mesquitas) casados com duas irmãs Vieira de Carvalho.” Fo- ram morar num chalé na Praia do Estoril, perto de Lisboa. Opaiaproveitouoexíliopara levar Ruy à Itália, onde passou dois meses em tratamento no Instituto Rizzoli, na cidade de Bolonha.Nascidoem16deabril de1925,eletinhaparalisiainfan- til desde os 3 anos. “Eutinhaumaparelhoquepe- gavaapernainteira.Meupaime levouparaaItália,porquealiha- via o maior, mais moderno e mais adiantado centro de orto- pedia,eomédicomaisrenoma- dodomundo,dr.Putti.Fuiope- rado por esse médico, que me fez andar sem aparelhos o res- tantedavida.”EnquantoRuyfi- cava dois meses internado no hospitalemcompanhiadamãe, MarinaVieiradeCarvalhoMes- quita, o pai percorria a Itália fa- zendoreportagenssobreoregi- me fascista de Mussolini. Marina relatou numa carta bem-humorada ao marido, em 2dejunho de1933,comoo filho se comportava na clínica: “Va- mosbem.ORuy,firmenosseus tratamentos. Sempre com uma paciência sem limites, ajudan- dooquantopodeasuacura.Se- rá o cúmulo que Deus não re- compense tanto sacrifício da parte de um coitadinho de 8 anos. Tem feito sucesso na gi- násticaporcausadeseusjácéle- bres olhos. Ontem havia lá três moçasencantadascomele.Dis- se-menavoltaqueissooaborre- ce, porque de repente ele gosta de uma e o que será então das outras coitadas! O convenci- mento é um fato...” Ruy guardou boas lembran- ças dessa primeira passagem forçada pela Europa. “Foi um exílio até agradável para nós, meninos. Logo que chegamosaPortugal,fomospa- raocolégio.Euestavacomeçan- doocursoprimárioeJúlio,meu irmão, estava no terceiro ano. Fomos todos juntos – os pri- mos Luís, Juca e Cecília, e o meu outro irmão, o Carlão (Luís Carlos Mesquita). Tinha um monte de exilados brasilei- ros lá. Ficamos todos amigos.” Voltaram todos, menos de doisanosdepois,quandoGetú- lioVargasacenoucompromes- sas de liberalização e nomeou Armando de Salles Oliveira, cunhado de Julio de Mesquita Filho,interventordeSãoPaulo. Eleito em seguida governador, Armando Salles encarregou Ju- liodeMesquitaFilhodecoorde- nar a criação da Universidade de São Paulo (USP), um orgu- lho para a família. A trégua, no entanto, durou pouco. Com o golpe e a instituição do Estado Novo em 1937, Julio deMesquitaFilhovoltouaoexí- lio. Depois de ser preso 17 ve- zes,foiembarcadoparaLisboa, de onde se mudou para Buenos Aires.Ruyeseusirmãosperma- neceram em São Paulo. “Papai não tinha recursos para nos le- var. Minha mãe o acompanhou enosdeixounacasadotioFran- cisco,queeracomomeupai.Fo- mos tratados igualzinho a nos- sosprimos.Estávamosestudan- do aqui, o Julio quase entrando na universidade.” Ruy, que iniciara o primeiro anoginasialnoColégioSãoLuís em1935,foiexpulsoesetransfe- riu para o Rio Branco em 1938. Motivo da expulsão: a insatisfa- ção dos padres jesuítas do São LuíscomafamíliaMesquita,por causadaoposição do Estado ao general Franco, quando tropas franquistas atacaram o governo republicanonaEspanha. Apósocolegial,Ruysematri- culou na Faculdade de Direito doLargodeSãoFrancisco.Estu- dou até o terceiro ano, mas não concluiuocurso.EstudouCiên- ciasSociais naFaculdadedeFi- losofia da USP, mas sua forma- çãofoimaisadeumautodidata. “Eufuieducadoprimeironalei- tura de Tucídides, depois de Fustel de Coulanges e, depois, deAlexisdeTocqueville”,disse RuyMesquita,apontandoosau- tores que fundamentalmente contribuíram para o ideário até hoje mantido, com as necessá- rias adaptações, pelo Estado. Em 1944, participou como ator da peça Heffman, escrita e dirigida por Alfredo Mesquita e encenada no Teatro Municipal. Aoseulado,aescritoraLygiaFa- gundes Telles, colega no Largo São Francisco. “Ele se revelou um ator muito esforçado e teve boa presença em cena”, relem- bra a autora, que fazia parte do GrupodeTeatroExperimental, dirigido por Alfredo Mesquita. Com três atos, Heffman era uma comédia ligeira sobre um grupo de jovens que, reunidos em uma casa, recebem a visita de um refugiado da guerra, que vaimodificarsuarotina.Ruyvi- via Antonio Augusto, enquanto Lygia interpretava Nair. Tam- bém estudou piano por 2 anos. Em 1948, aos 23 anos de ida- de, foi trabalhar no jornal. Co- meçoupelaEditoriaInternacio- nal,entãochamadadeSeçãodo Exterior,sobocomandodoita- liano Giannino Carta, seu mes- tre e amigo. Quando Giannino voltou para a Europa, em 1956, Ruy assumiu a chefia da seção. Assumiu também a coluna De um dia para outro, que assinou até maio de 1961. Comentava notícias internacionais. “De Gaulle é um homem de opinião e calado”, escreveu na estreia, em 12 de julho de 1958, quandotambémfaloudapolíti- caexternadaentãoUniãoSovié- tica. “A Rússia não deseja criar dificuldadesparaomarechalTi- to nem para seu governo.” So- bre os rumos da Revolução Cubana, escreveu já em 9 de ja- neirode1959:“Seosatuaislíde- res revolucionários não estive- remàalturadatarefaqueseim- puseram, Cuba viverá, num fu- turopróximo,momentosainda mais dramáticos que o atual”. Seis meses após a vitória dos guerrilheirosdeFidelCastro,foi conferiremHavana,ondejáesti- vera em 1956, os primeiros pas- sos do novo governo. Subiu ao palanquedasautoridadesnapri- meiracomemoraçãodo26deJu- lho.“Eufuiapresentadoàmulti- dãonaPlazadelaRevoluciónco- mo o jornalista que mais tinha defendido a revolução de Sierra Maestra. A revolução de Sierra Maestrafoiumabrincadeiraque deu certo, porque eram 21 ou 22 malucos que desembarcaram nas costas de Cuba e ficaram lá. Não houve grandes combates, não houve tiroteio nem nada. O Batistaacaboude podre...” Quase 50 anos depois, quan- do Fidel renunciou à reeleição, emfevereirode2008,RuyMes- quitatraçoudeleumperfilcríti- co em que deixava clara sua de- cepção com o que ocorreu de- pois. Sua avaliação, depois de confessar que havia acompa- nhado“asagarevolucionáriade FidelCastro”comgrandeentu- siasmo: “O regime castrista, que já dura 49 anos, é a maior tragédiapolíticadahistóriamo- derna, como está sendo de- monstrado hoje, pois, 49 anos depois,aeconomiacubanaestá pior do que no momento em que Castro assumiu o governo. Éoquesepodechamardehiber- nação econômica de um país que durou quase 50 anos.” O noticiário internacional sempre mereceu especial aten- ção de Ruy Mesquita. Mesmo quandodirigiaoJornaldaTarde –umvespertinoágilemoderno lançadosobsuaresponsabilida- deemjaneirode1966–elemoni- torava a antiga Seção do Exte- riordoEstado,cobrandofalhas e sugerindo temas. “Quem é essa Sônia Cristina que está escrevendo no Esta- do?”, perguntou, ao ler um arti- gosobreos30anosdaOrganiza- çãodoTratadodoAtlânticoNor- te (Otan) que não combinava com a linha do jornal. Não gos- toudoartigo,masrecebeuareda- tora,quandoelabateuàsuapor- taparadefenderotexto.Mante- vesuaopiniãoerespeitouadiver- gência. Tanto que aconselhou Sôniaacontinuarescrevendo. Ruy Mesquita podia discor- dar, mas respeitava seus profis- sionais.QuandoGillesLapouge, correspondente em Paris, avi- sou em 1964 que não escreveria para um jornal que havia apoia- doogolpemilitar,foielequemo fezmudardeideia.Garantiaque, seaRevoluçãode31deMarçose desviassedeseusobjetivos,oEs- tado retiraria o apoio – o que, defato,acabariaacontecendo. “MeucaroRuy,seutelegrama comoveu-me e perturbou-me ao mesmo tempo. Não me sur- preendi: já sabia que suas deci- sões são sempre tomadas com base nos mais nobres motivos”, respondeu Lapouge numa lon- gacarta,reproduzidanaíntegra, emquereviasuaposição.Conti- nuaram amigos. Divergiam em questõesimportantes,masnem porissoojornaldeixavadepubli- caroqueLapougeescrevia.Mes- moquetivessedediscordardele explicitamenteem editorial. Ruy Mesquita não gostava de Getúlio Vargas e tinha razões para isso. Depois de mandar prender e exilar os proprietá- riosdoEstado,porcausadare- sistência deles à ditadura, o go- vernointerveionojornaleocu- pou suas instalações durante mais de cinco anos – de março de 1940 a dezembro de 1945. Apolíciadointerventor Ade- mar de Barros alegou que os Mesquitas estocavam metra- lhadorasparaderrubarogover- no. Mandado para Lisboa, de onde foi para Buenos Aires, Ju- lio de Mesquita Filho se arris- cou a voltar em 1943. Não tinha como sobreviver. Foi confina- do na fazenda da família em Louveira, onde ficou isolado até a queda de Getúlio. Quando ocorreu o atentado da Rua Tonelero contra Carlos Lacerda e, em consequência de- le,osuicídiodeGetúlio,em1954, Ruy Mesquita estava dirigindo temporariamente a sucursal do Estado no Rio. Fez a cobertura da crise que, como diria 50 anos depois,foi“muitofacciosa”,em- bora “não deliberadamente fac- ciosa”, porque a reportagem se deixou levar “pela atmosfera quereinou naquelaocasião”. Adversário, mas não inimigo deGetúlio,“oEstadorendeuas 1925 2013✝ Uma vida dedicada ao jornalismo, uma história guiada por princípios Ao longo de 60 anos de trabalho no ‘Estado’ e no ‘Jornal da Tarde’, manteve-se fiel ao ideal de liberdade que herdou de seu pai e seu avô Cuba. Ruy (2º à esq.) durante reunião da SIP em Havana, quando castristas foram fuzilados ★ Cronologia Ruy Mesquita O pai e o tio foram presos e enviados ao exílio em Portugal. As famílias foram junto Foi expulso do São Luís por causa da oposição do jornal ao general Franco, da Espanha