DJs evangélicos Menorah e Lucas Castro mostram que os universos da religião e da música eletrônica podem conviver em harmonia. Eles fazem parte da comunidade evangélica Caverna de Adulão e tocam em festas seculares sem misturar os dois ambientes, buscando aproximar os públicos. A comunidade surgiu em 1992 para acolher pessoas fora do padrão das igrejas tradicionais e atualmente reúne pessoas ligadas à cena eletrônica.
1. ESTADO DE MINAS ● D OM I N G O, 2 D E J U L H O D E 2 0 0 6 ● E D I TO R : J o ã o Pa u l o C u n h a ● E D I TO R A - A S S I ST E N T E : Â n g e l a Fa r i a ● E - M A I L : c u l t u ra . e m @ u a i . co m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6
SOFISTICAÇÃO
EM
EM SAMBA
★
O cantor e
compositor Bena
Lobo lança seu
segundo disco solo,
‘Sábado’.
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ANDRÉ WANDERLEY
DJs evangélicos conquistam cena eletrônica tocando tecno, house e drum’n’bass.
Para eles, a opção religiosa não intervém na qualidade de seu trabalho musical
MARCOS VIEIRA
MARIANA PEIXOTO
os domingos, às 18h, Lucas Castro
Drum’n’ A
e Samuel Parrela, ambos de 26
anos, se encontram num salão no
bairro Funcionários. Aos invés de
falar sobre loops, samples e beats,
assuntos comuns ao universo de-
les, já que são DJs, participam de
um culto evangélico. Cristãos, in-
tegram a comunidade Caverna de Adulão, igre-
ja criada há uma década em Belo Horizonte. Nas
noites da cidade, Samuel é mais conhecido co-
JESUS
mo Menorah – o castiçal de sete braços, símbo-
lo do judaísmo, foi escolhido por ele como no-
me artístico por causa da sonoridade da palavra
– um dos principais DJs e produtores de tecno
de BH. Toca no o circuito de clubes e casas no-
turnas da cidade – Up!, A Obra, Matriz, Mary in
Hell –; criou, com os DJs Tee e Duduart, o Con-
teúdo Records, selo digital de eletrônica que já
lançou cinco álbuns; com eles, produz a festa Co-
de; e tem faixas lançadas por selos internacio-
nais. Acredita que é possível que os dois “mun-
dos” convivam em harmonia.
DJ evangélico? Não. Menorah é um DJ que,
por opção, se tornou evangélico. Seus sets não
têm qualquer elemento que remeta ao universo
da música gospel. Lucas Castro, por seu lado, to-
ca house, que tem uma vertente – o soulfull hou-
se – que utiliza muitos vocais com letras que, ge-
ralmente, têm relação com o gospel. Algumas
faixas do set dele podem trazer alguma mensa-
gem. “Falam de Deus, do cristianismo ou de
uma celebração espiritual. O que aconteceu co-
migo foi que conheci o Menorah na época em
que estava fazendo a minha conversão. Por in-
fluência dele, comecei a tocar”, comenta. Que fi-
que claro: a opção religiosa não intervém no tra-
balho deles. Eles se apresentam em festas secu-
lares – termo que identifica os não-evangélicos –
como todos os outros DJs da cidade. Mas através
de um trabalho feito aos integrantes da comu-
nidade – a Caverna de Adulão conta com 200
membros – buscam aproximar os dois públicos.
A comunidade surgiu em 1992; a igreja foi
constituída três anos mais tarde. Na época, a ce-
na alternativa belo-horizontina era dominada
pelo heavy metal. “Queríamos agregar pessoas
que não se adequavam ao modelo das igrejas
convencionais”, conta o pastor Geraldo Luiz. O
cabelo comprido daquele período acabou-lhe
abrindo portas para ingressar na tribo. Freqüen-
tava a Praça da Estação, o bairro de Santa Teresa,
o Terminal Turístico JK, locais onde os headban-
gers se concentravam. Acabou chamando a
atenção de outras tribos que não se “encaixa-
vam”, como o público hardcore, punk e hippie.
Na virada dessa década, a eletrônica ainda longe
da popularidade que tem hoje, encontrou um
novo público, que acabou abraçando a causa.
Hoje, os cultos da Caverna são freqüentados
por hostess de casas noturnas, DJs e também pe-
lo público que gosta de eletrônica. “Existia o es-
tigma de que o cristão não podia ir a um evento
de música secular. Sempre gostei de música ele-
trônica e hoje sei que posso preservar a minha
essência e estar com a galera”, afirma a estudan-
te Lucimar Rezende, de 22 anos. Com Lucas Cas-
tro e outros amigos, ela formou em 2001 o E.Lob
(a letra e vem de eletrônica e lob é louvor em ale-
mão), grupo que promove uma interação entre
igreja e música. “Começamos, em 2001, a fazer
uma festa anual. Mais tarde, vimos que não ha-
via necessidade de fazer uma festa da igreja pa-
ra fazer a interação, pois o vínculo já existia”, diz
Lucas Castro.
Além do culto dominical, durante a semana
são feitos encontros nas casas dos integrantes
para estudo bíblico e orações. E o que pode e não
pode? “A gente crê que a Bíblia possui preceitos
de Deus para o bem-estar da vida humana”, afir-
ma o pastor Geraldo Luiz. Trocando em miúdos:
drogas, excesso de bebidas e promiscuidade não
são bem vistos. “Mas não somos hipócritas de
dizer que beber é pecado, pois temos na comu-
nidade pessoas com histórico de alcoolismo, por
exemplo. Muita gente que nos procura vem de
uma vida difícil”, acrescenta.
E como os DJs convivem com isso? “Conheci
um cara que chegou a me dizer que não enten-
dia o que um crente estava fazendo com músi-
ca eletrônica. Hoje ele é um dos meus melhores
Os DJs Menorah e Lucas amigos. A verdade é que a maioria das pessoas
se assusta quando digo que sou evangélico. Mas
Castro mostram que os
a minha postura é a de não julgar ninguém.
universos da religião e Agora, quanto a droga, a gente sabe que qual-
da eletrônica podem
conviver em paz
Sempre gostei de música eletrônica quer cena musical tem. E ali há gente que está
pela música e outros pela droga. Às vezes bebo
e hoje sei que posso preservar a minha um pouco, mas não uso drogas, mesmo tendo
amigos que consomem. Há, inclusive, aqueles
essência e estar com a galera que pararam porque começaram a andar comi-
go. Então rola um respeito”, afirma Menorah. Ca-
da um na sua e todo o mundo se entende.
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■ Lucimar Rezende, estudante ELETRÔNICA E RELIGIÃO
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