1. ESTADO DE MINAS ● Q U A R TA - F E I R A , 2 D E A G O S T O D E 2 0 0 6 ● E D I T O R : J o ã o P a u l o C u n h a ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : Â n g e l a F a r i a ● E - M A I L : c u l t u r a . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6
COMÉDIA
EM
INTELIGENTE
★
Espetáculo
‘O palhaço do
Terceiro Mundo’ parte
do humor popular
para fazer pensar.
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JAVIER FLORES/DIVULGAÇÃO
KLAUS VOORMANN/REPRODUÇÃO ROBERT WHITAKER/REPRODUÇÃO
DANIEL CAMARGOS
Moças portentosas dançando forró, duplas de sertanejos acima do peso e funkeiros cariocas di-
videm espaço com quatro garotos de Liverpool nos encartes dos discos esparramados em uma
loja de CDs pirateados do Shopping Oiapoque, o popular Shopping Oi, no Centro de Belo Hori-
zonte. Com R$ 3 é possível comprar The Beatles: As 20 mais, obra híbrida – e de certa forma iné-
dita – que se vale da arte feita para a capa do último disco da banda, Let it be, e elege 20 canções
para saciar o desejo dos freqüentadores do Oi. O sucesso no garimpo de um CD do “fab four”é a
prova de que a banda continua popular décadas após os rapazes avisarem que o sonho acabou.
QUARENTÃO
IRRESISTÍVEL
‘REVOLVER’, SÉTIMO DISCO DOS BEATLES, FAZ 40 ANOS E PERMANECE INOVADOR. MARCOU
O ROMPIMENTO COM O IÊ-IÊ-IÊ E ABRIU PORTAS PARA A PERCEPÇÃO DE NOVOS TEMPOS
HO
L
eandro Silva, vende- O professor Fábio Adour
dor da loja que comer- explica que em Revolver fica
cializa o disco pirata evidente a orquestração, sin-
dos Beatles, diz que to- gular em Here, there and
do os tipos de pessoa everywhere. Ele destaca o uso
procuram por obras da música modal, resgatada
da banda. Não é raro das canções medievais e que
alguém levar junto produz melodia envolvente,
um dos “sucessos do momen- como em Eleanor Rigby. Tom
to” e, assim, aproveitar a pro- Tavares, professor de música
moção dois-por-R$ 5. Além de popular brasileira da Escola de
unir rock e axé na sacola dos Música da Universidade Fede-
consumidores do shopping ral da Bahia, considera Eleanor
popular, a banda inglesa é res- “a mais arrojada, pois carrega
ponsável por diluir o precon- em emoção na parte melódi-
ceito da academia em relação ca”. Tavares é suspeito para fa-
ao popular. O professor de lar sobre Beatles. Na década de
violão da Faculdade de Músi- 1960, morou em Belo Horizon-
ca da UFMG Fábio Adour cita te e foi guitarrista e vocalista da
uma frase do compositor eru- banda Analfabitles, que canta-
dito e teórico Ned Rorem: va os sucessos dos rapazes de
“Perto dos Beatles, Schumann Liverpool e se exibia semanal-
e Schubert são um lixo”. Radi- mente em dois programas da
calismos à parte, Adour con- televisão local: Brasa quatro, da
corda com Rorem, destacando TV Itacolomi, e Esses jovens
que a boa música precisa ficar maravilhosos e suas músicas
na memória. “Não adianta ter malucas, da TV Alterosa.
sofisticação e a pessoa que a O que fazia a cabeça dos
escuta andar dois quarteirões “jovens maravilhosos” eram
e esquecê-la”, afirma. as lisérgicas canções que re-
Os Beatles foram mestres metiam a efeitos dos aditivos
da arte de penetrar o incons- psicotrópicos. Em She said
ciente coletivo. O disco que she said, John Lennon conta a
uniu os dois universos – po- alucinação provocada pelo
pular e erudito – foi gerado há uso de LSD. Baseou-se em co-
40 anos: Revolver, gravado en- mentário do ator Peter Fonda
tre 6 de abril e 21 de junho de – “Eu sei como é estar morto”.
1966 no estúdio de Abbey Em Doctor Robert, a referên-
Road, em Londres, e lançado cia é direta a um médico que
na Inglaterra em 5 de agosto. distribuía coquetéis de anfe-
Freqüentador assíduo das lis- taminas para pacientes. Em
tas dos 10 maiores discos dos Got to get you into my life, o
últimos 100 anos, Revolver es- compositor Paul McCartney
tá entre Rubber soul (1965) e faz ode à maconha.
Sargent Pepper’s Lonely A celebração de toda a li-
Hearts Club Band (1967). Re- sergia surge em forma de hi-
presenta a ruptura definitiva no, para ser cantado nos fun-
com o iê-iê-iê dos primeiros dos dos ônibus de excursões
anos e o ensaio de gala para a escolares: Yellow Submarine,
psicodelia que a banda abra- escrita por Paul e cantada por
çou em Sgt. Pepper’s, além de Ringo. Os submarino amarelo
inaugurar a segunda fase do foi tema de desenho animado
grupo – a partir dali, ele não se e de outro disco, com músicas
apresentou mais ao vivo. A ca- regidas pelo quinto beatle, o
pa, com desenhos dos inte- produtor George Martin. Os
grantes e colagens de fotos terninhos bem-cortados, as
em preto e branco, foi criada franjas e o frenesi entravam
por Klaus Voormann. Tam- definitivamente, como prevê
bém é inovadora, pois até en- a canção, na terra dos alucina-
tão as capas dos discos dos dos submarinos amarelos:
Beatles eram produzidas a “Então nós navegamos até o
partir de fotos posadas. sol / Até que descobrimos um
mar verde / E nós vivemos
sob as ondas / Em nosso sub-
marino amarelo”.
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