Este estudo avaliou a prevalência de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho (DMRT) em 213 fisioterapeutas da rede pública de saúde de Belo Horizonte. 71% relataram já ter sentido dor musculoesquelética constante ou intermitente, sendo a coluna lombar a área mais afetada em 59% dos casos. Tratar grande número de pacientes e levantar pacientes dependentes foram fatores de risco associados à dor lombar. A prática da fisioterapia pode gerar sobrecarga fís
2. 220 Souza d´Ávila, L., Fraga Sousa, G. A. e Sampaio, R. F. Rev. bras. fisioter.
INTRODUÇÃO
A Fisioterapia é uma profissão em crescimento no Brasil.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais, há 344 cursos de fisioterapia no País e 8.201
profissionais ingressaram no mercado de trabalho no ano
de 2001.1
Em Belo Horizonte, a abertura de novos cursos
superiores de fisioterapia aumentará drasticamente o número
de profissionais, chegando a, aproximadamente, 740 fisiotera-
peutas formados anualmente a partir de 2006.
O fisioterapeuta é um profissional que tem como
principal instrumento de trabalho o seu próprio corpo, o qual,
muitas vezes, é utilizado em situações de sobrecarga, seja
pela realização inadequada de um movimento ou durante
o trabalho com um paciente totalmente dependente. Esse
profissional, portanto, está exposto a vários fatores de risco
para o desenvolvimento de desordens musculoesqueléticas
relacionadas ao trabalho (DMRT).2,3
Países como os Estados Unidos e a Austrália demonstram,
por meio de vários estudos, crescente preocupação com a saúde
ocupacional do fisioterapeuta. Molumphy et al.4
foram os
pioneiros nas pesquisas dessa área. O estudo deles mostrou
forte associação entre a ocorrência de dor lombar, o atendimento
de pacientes dependentes e a realização de movimentos de
torção, inclinação e sustentação da coluna sob esforço máximo.4
Cromie et al.3,5,6
analisaram diversos fatores envolvidos na
ocorrência de DMRT entre fisioterapeutas, além de proporem
orientações e alternativas para uma prática mais saudável da
profissão.
No Brasil, apesar do número crescente de fisioterapeutas
ingressando no mercado de trabalho, a produção científica
quanto à saúde ocupacional desse profissional ainda é
limitada. Messias7
analisou a capacidade e o ambiente de
trabalho de 57 fisioterapeutas da cidade de São Paulo,
constatando a necessidade de modificações no posto de
trabalho e maior conscientização dos profissionais quanto
aos problemas de saúde decorrentes de sua profissão. A partir
de um estudo qualitativo com 128 fisioterapeutas de Recife,
Wanderley et al.8
determinaram a prevalência de dor na coluna
vertebral destes profissionais, descrevendo os sintomas
relacionados e a influência de possíveis fatores de risco.
Não há na literatura consenso quanto à definição de
DMRT.5
A maioria dos autores utiliza a queixa de dor como
indicativo de DMRT, diferindo na definição do tempo de
persistência da dor e em sua localização.2,3,4,9
Neste estudo
adotou-se como parâmetro da presença de DMRT a queixa
de dor de origem musculoesquelética percebida pelo
profissional como conseqüência de suas atividades de
trabalho, que não tenha localização predeterminada e com
duração mínima de três dias.9
O objetivo deste estudo foi
estimar a prevalência de DMRT em fisioterapeutas da rede
hospitalar do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte
(SUS-BH) e os possíveis fatores de risco associados.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal sobre as DMRT em
fisioterapeutas da Rede Hospitalar SUS-BH. A amostra usada
consistiu de todos os fisioterapeutas que trabalham na rede
e que assinaram o termo de consentimento. Segundo a Secreta-
ria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, a Rede Hospitalar
SUS-BH consta de 53 hospitais, sendo que 32 deles contam
com serviço de fisioterapia, totalizando aproximadamente 270
profissionais, não havendo precisão em relação a esse número.
Esperava-se uma taxa de não-participação, como indicado
na literatura, entre 10% e 20% do total da amostra.10
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário
auto-aplicado elaborado a partir da síntese das diversas
variáveis encontradas na literatura, O questionário consiste
de 31 questões divididas em 4 partes, englobando: dados
pessoais do participante (nome, idade, sexo, estatura, peso,
prática de atividade física e lazer), características profissionais
(hospital em que trabalha, faixa etária dos pacientes atendidos,
setor e área de atuação, tempo de profissão, horas diárias
de contato direto com o paciente, nível de satisfação com
o trabalho e existência de outro emprego), percepção das
dores relacionadas ao trabalho (avaliação da presença de
dor, determinação das áreas mais atingidas, fatores de risco
associados e estratégias utilizadas a fim de solucionar o
problema) e prevenção de DMRT.
Antes de iniciar a coleta de dados foi realizado um estudo-
piloto entre fisioterapeutas do Laboratório de Prevenção e
Reabilitação de Lesões Esportivas (LAPREV – UFMG) para
avaliar o conteúdo e a clareza do questionário.
Os questionários foram entregues a um profissional
do setor de fisioterapia de cada hospital, que se responsa-
bilizou pela sua distribuição e recolhimento, sendo estabe-
lecido o prazo de uma semana para o preenchimento. Cada
participante recebeu uma cópia do questionário e duas cópias
do termo de consentimento, com descrição dos objetivos e
dos principais pontos do estudo.
Os dados foram informatizados e analisados no pacote
estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS)
versão 11.0. Foi realizada uma análise descritiva inicial
(medidas de tendência central e dispersão, freqüência e
porcentagem) das variáveis citadas e posteriormente uma
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3. Vol. 9 No. 2, 2005 DMRT em Fisioterapeutas da Rede SUS-BH 221
análise bivariada (x2
para variáveis categóricas e teste t de
Student para variáveis contínuas). O nível de significância
estabelecido foi de α = 0,05.
RESULTADOS
Da amostra prevista inicialmente, 213 profissionais
(79%) responderam ao questionário, estando a taxa de não
participação dentro da faixa esperada. Muitos fisioterapeutas
não foram localizados em decorrência da mudança de turno
de trabalho (plantão) na semana de coleta dos dados, férias
ou licença saúde/maternidade. A maioria dos entrevistados
era do sexo feminino (n = 181), sendo a média de idade de
32 anos (DP = 7,38), com valores mínimo e máximo de 22
e 57 anos. Cabe ressaltar que mais de 80% dos participantes
estavam na faixa etária entre 22 e 39 anos.
A média do Índice de Peso Corporal (IPC) foi 22 kg/
m2
(DP = 2,95) e 66% dos participantes estavam na categoria
considerada de menor risco para a saúde (20 a 25 kg/m2
).
A maioria dos sujeitos afirmou praticar algum tipo de atividade
de lazer (86%) e mais da metade relatou não praticar atividade
física regular (57%).
O tempo de trabalho na profissão variou de um mês
a 33 anos, sendo que grande parte dos fisioterapeutas (62%)
tinha de 2 a 10 anos de exercício profissional. O setor de
trabalho mais citado foi o Centro de Terapia Intensiva (54%)
e a área de atuação que concentrou o maior número de
profissionais foi fisioterapia respiratória (72%). Os
profissionais informaram atender, com maior freqüência,
pacientes adultos (36%), idosos (15%) e crianças (14%), sendo
que 35% não definiram a faixa etária de seus pacientes.
Quanto ao número de horas trabalhadas, 41% (n = 88)
dos respondentes relataram trabalhar mais de 8 horas diárias
em contato direto com o paciente, enquanto 30% (n = 63)
trabalhavam entre 4 e 6 horas, 26% (n = 56) entre 6 e 8
horas, 2% (n = 4) menos de 4 horas e 1% (n = 2) não
respondeu.
A maioria dos participantes (67%) afirmou ter férias
regulares e 82% julgaram não serem bem remunerados pelo
seu trabalho. Sessenta e dois por cento dos entrevistados
consideraram seu preparo físico adequado às atividades
profissionais e 98% sentiam prazer ao realizar seu trabalho
na maior parte do tempo.
Mais da metade dos fisioterapeutas (72%) respondeu
ter outro emprego ou ocupação, dentre os quais podem ser
citados: atendimento domiciliar, outro hospital, clínicas, sala
de aula ou preceptoria acadêmica e consultórios particulares.
Setenta e um por cento dos respondentes (n = 152)
relataram ter experimentado alguma dor de origem musculoes-
quelética constante ou intermitente por, pelo menos, 3 dias
após o início de suas atividades profissionais. Desse total, 34%
(n = 51) apresentaram queixas em duas regiões do corpo,
26% (n = 40) em quatro ou mais, 22% (n = 33) em três e 18%
(n = 27) em apenas uma. O tempo de persistência do sintoma
variou de 3 a 7 dias para 63% dos sujeitos, 7 a 15 dias para
16%, 15 a 30 dias para 4% e mais de 30 dias para 16%,
podendo ser caracterizado como de evolução aguda na maioria
dos casos. A coluna lombar foi apontada como a região afetada
na maioria dos casos (59%), seguida pela coluna cervical
(55%), ombro (36%) e coluna dorsal (30%). Outras regiões
também foram citadas, tais como punho (27%), mão (19%),
cotovelo (14%), pernas/pés (14%) e joelhos (13%).
Fatores
Freqüência
(Total = 152)
Porcentagem
(%)
Trabalhar em posições encurvadas 95 62,5
Tratar um grande número de pacientes em um dia 85 55,92
Levantar ou transferir pacientes dependentes 80 52,63
Realizar terapia manual (manipulações,
mobilizações e/ou massagens)
78 51,31
Trabalhar na mesma posição por muito tempo 67 44,07
Ajudar os pacientes durante as atividades 63 41,44
Repetir a mesma tarefa 61 40,13
Poucas pausas durante o dia 52 24,4
Trabalhar perto de seus limites físicos 30 19,73
Outros 12 7,89
Estresse/tensão emocional 10 6,57
Tabela 1. Fatores de risco ocupacionais para a ocorrência de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho relatados por fisioterapeutas
da Rede Hospitalar SUS-BH, 2003.
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4. 222 Souza d´Ávila, L., Fraga Sousa, G. A. e Sampaio, R. F. Rev. bras. fisioter.
Entre os fatores de risco ocupacionais associados à
ocorrência de dor, “trabalhar em posições encurvadas”, “tratar
um grande número de pacientes em um dia” e “levantar/
transferir pacientes” foram os mais citados pelos profissionais
com queixa de dor (Tabela 1). Alguns fisioterapeutas (28%)
relacionaram sua dor a outras atividades ou posturas, como
atividades de vida diária (AVD), postura inadequada ao dormir
e ao usar o computador.
Com a finalidade de amenizar ou solucionar a dor, 56%
dos fisioterapeutas com queixa de dor musculoesquelética
mudaram a forma de realizar as técnicas, a mesma proporção
realizou autotratamento, 45% procuraram ajuda de outros
profissionais, 12% ficaram algum dia sem trabalhar, 9%
diminuíram o número de atendimentos e apenas um sujeito
mudou sua área de atuação. Cabe ressaltar que essas medidas
poderiam ser usadas de forma isolada ou complementar.
Medicamentos para dor foram usados por 47% dos indivíduos
sintomáticos. Quinze profissionais (10%), entretanto, nunca
buscaram nenhum tipo de tratamento para sua dor.
Foi investigada no protocolo utilizado a história de
afastamento do trabalho decorrente de sintomas musculoes-
queléticos. Somente 13% dos fisioterapeutas sintomáticos
foram afastados em decorrência da dor. O tempo de
afastamento variou de 2 a 90 dias, com freqüência maior
para afastamentos de uma semana.
De todos os respondentes, 62% (n = 132) relataram
realizar alguma medida para prevenir dores de origem
musculoesquelética. A maior parte dessas medidas incluía
alongamentos (55%), atividade física (28%) e cuidados com
a postura e o posicionamento durante o trabalho (15%).
Sessenta e um por cento dos participantes afirmaram
ter aprendido, durante a graduação, a melhor forma de realizar
as técnicas fisioterapêuticas com o objetivo de prevenir dores
de origem musculoesquelética e 97% sugeriram que deveria
haver disciplinas relacionadas ao tema durante a formação
acadêmica.
Foi encontrada associação estatisticamente significativa
entre a queixa de dor musculoesquelética relacionada ao trabalho
e a não realização de atividade física regular (p = 0,04). Além
disso, os resultados mostraram associação entre a queixa
de dor e as horas de contato com os pacientes (p < 0,05),
sendo observado que 48% (n = 72) dos fisioterapeutas com
queixa trabalhavam diretamente com o paciente por mais
de 8 horas diárias (Figura 1).
Quando analisada a relação entre a região afetada e
os fatores de risco associados, foi significativa a ocorrência
de dor lombar relacionada a trabalhar em posições encurvadas,
tratar um grande número de pacientes em um mesmo dia,
levantar ou transferir pacientes dependentes, realizar poucas
pausas diárias, trabalhar por muito tempo em uma mesma
posição e estresse emocional (p < 0,05). Por sua vez, repetir
a mesma tarefa, realizar terapia manual, realizar poucas pausas
diárias e estresse emocional são fatores relacionados à queixa
de dor cervical (p < 0,05).
0
10
20
30
40
50
60
até 2 2-4 4-6 6-8 mais de 8
Horas de contato direto
Presençadedor(%)
Figura 1. Ocorrência de desordens musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho segundo o número de horas de contato direto com o paciente.
080 Souza D'Ávila.p65 03/10/05, 11:26222
5. Vol. 9 No. 2, 2005 DMRT em Fisioterapeutas da Rede SUS-BH 223
Neste estudo, os sintomas de cotovelo, punho e mão
estavam associados à realização de terapia manual e à repetição
de uma mesma tarefa (p < 0,05). Trabalhar em posições
encurvadas mostrou associação com a dor na coluna dorsal
(p = 0,02).
Os sujeitos com queixa na região cervical e na mão
adotaram como medida para solucionar ou amenizar o
problema a modificação na forma de realização das técnicas
fisioterapêuticas, enquanto os que apresentaram dor lombar
e no cotovelo relataram diminuir o número de pacientes
atendidos e realizar autotratamento (p < 0,05).
As variáveis sexo, idade, tempo de exercício da
profissão, faixa etária dos pacientes, realização de medidas
preventivas e existência de outro emprego não mostraram
associação estatisticamente significativa com a queixa de
dor musculoesquelética relacionada ao trabalho.
DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo mostram alta preva-
lência (71%) de DMRT entre fisioterapeutas, concordando
com a literatura internacional sobre o tema.2,3, 4,7,8,9,11,12
West
& Gardner9
encontraram freqüência de 55% de DMRT entre
fisioterapeutas australianos, utilizando um parâmetro de
avaliação similar ao deste estudo. Alguns trabalhos anteriores,
entretanto, não estabeleceram tempo mínimo de duração da
dor musculoesquelética para definição de DMRT, limitando
apenas seu período de ocorrência, o que impossibilita
comparações.2,3
Ao contrário do estudo de Bork et al.,2
neste trabalho
não foi encontrada diferença na prevalência de DMRT entre
homens e mulheres, o que pode ser decorrente do baixo
número de homens na amostra estudada. Uma associação
entre idade e dor não pôde ser estabelecida a partir dos
resultados apresentados, o que pode ser justificado pelo fato
de o protocolo usado não identificar a época de ocorrência
do sintoma. Cromie et al.3
e Bork et al.2
encontraram relação
inversa entre dor lombar e idade e justificaram esses resultados
pela aquisição de estratégias para evitar a dor pelos
fisioterapeutas mais experientes, os quais, muitas vezes,
passam a assumir cargos administrativos em substituição à
clínica.
Embora Caragianis,11
Cromie et al.3
e West & Gardner9
não tenham encontrado uma relação entre a presença de dor
e as horas de trabalho, este estudo evidenciou que fisiotera-
peutas que trabalham mais de 8 horas diárias em contato direto
com o paciente apresentam maior probabilidade de desenvol-
ver DMRT. Tal fato pode ser explicado pela maior exposição
aos fatores de risco, associada a poucos períodos de descanso,
levando à fadiga do sistema musculoesquelético.13
Como na literatura, este estudo evidenciou maior
acometimento da coluna lombar em relação a outras regiões
do corpo.2,3,8,9
“Trabalhar em uma mesma posição durante
muito tempo”, “trabalhar em posições encurvadas” e “levantar
ou transferir pacientes” são fatores de risco comumente
relacionados à dor lombar entre fisioterapeutas.3,9
Neste
estudo, além dos fatores descritos, foi observada associação
entre fatores de sobrecarga física e emocional (poucas pausas
diárias, tratar um grande número de pacientes por dia, ajudar
os pacientes durante suas atividades e estresse emocional)
e dor lombar. Davis & Heaney14
demonstraram que o estresse
e o nível de satisfação com o trabalho são os fatores
psicossociais mais associados ao desenvolvimento de DMRT
na região lombar.
Segundo Bork et al.2
e Molumphy et al.,4
o ambiente
hospitalar é determinante de dor lombar relacionada ao traba-
lho em razão da dependência dos pacientes encontrados nesse
local e das cargas de trabalho impostas por essa condição.
Com os resultados desta pesquisa não se pode afirmar que
a alta freqüência de dor lombar encontrada esteja relacionada
ao grau de dependência dos pacientes, considerando a
diversidade dos serviços oferecidos, assim como o porte de
cada hospital.
Muitos estudos estimaram a incidência de dor relacio-
nada ao trabalho apenas na região lombar, impossibilitando
uma análise dos fatores e das conseqüências ligados às dores
em outras áreas corporais.4,12
A prevalência de dor lombar
relacionada ao trabalho é muito estudada também em outras
profissões da saúde.15,16
Cromie et al.3
observaram que repetir a mesma tarefa,
realizar terapia manual e poucas pausas durante o dia são
fatores associados à dor cervical, o que confirma os resultados
encontrados. Esse fato pode ser explicado pela sobrecarga
muscular que esses fatores determinam, principalmente no
trapézio superior.17
Além disso, foi observada relação entre
sintoma cervical e presença de estresse emocional,
concordando com os achados de Santos Filho & Barreto15
em sua recente pesquisa com dentistas de Belo Horizonte.
Caragianis11
encontrou alta incidência de dor relacionada
ao trabalho na extremidade superior entre terapeutas
especializados na reabilitação de membros superiores, os quais
utilizam técnicas de terapia manual (mobilizações,
manipulações e massagens) repetidamente e em tempo
prolongado. Os sintomas em cotovelo, punho ou mão estão
associados à realização de terapia manual em estudos que
não observaram fisioterapeutas.2,3,9
Os resultados encontrados
neste trabalho concordam com essas evidências e também
associam as DMRT de seguimentos superiores à repetição
de uma mesma tarefa.
Assim como neste estudo, mudar a forma de realização
das técnicas é a estratégia mais apontada na literatura como
tentativa de amenizar ou solucionar as DMRT entre
fisioterapeutas.2,3,9,11
Reyes et al.18
verificaram, em trabalha-
dores de uma indústria, que DMRT levam ao desenvolvimento
de mecanismos compensatórios na realização de tarefas
ocupacionais, sendo que tais mecanismos podem trazer
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6. 224 Souza d´Ávila, L., Fraga Sousa, G. A. e Sampaio, R. F. Rev. bras. fisioter.
conseqüências desfavoráveis a outras regiões do corpo. Neste
estudo, a ocorrência de queixas em mais de uma região
corporal em 81% dos afetados por DMRT pode indicar que
as mudanças nas técnicas fisioterapêuticas ocorreram de forma
inadequada, levando à sobrecarga compensatória de outras
áreas corporais. Outra possível explicação para o relato de
dor em mais de uma área corporal seria a variabilidade de
tarefas profissionais realizadas pelos entrevistados.
Apesar da alta prevalência de DMRT, os resultados
mostraram que poucos fisioterapeutas relataram ter faltado
ao trabalho em decorrência de sua dor. Afastamento do
trabalho em decorrência DMRT também foi pouco observado
no estudo de Bork et al. Provavelmente, os fisioterapeutas
optaram pela continuidade do trabalho em consideração aos
pacientes.2
Outra possível justificativa seria que a baixa
freqüência de afastamentos das atividades ocupacionais estaria
relacionada ao número de fisioterapeutas que realizam
autotratamento ou à instabilidade no emprego, que os obriga
a continuar trabalhando mesmo com dor.
A prática de atividade física mostrou estar relacionada
à diminuição dos casos de DMRT. Alguns autores sugerem
que exercícios físicos ajustam o nível de condicionamento
e força muscular às demandas das atividades ocupacionais
dos fisioterapeutas.6,19
Não foi observado, porém, que realizar prevenção altera
a freqüência de dores musculoesqueléticas relacionadas ao
trabalho. De forma geral, as medidas preventivas apontadas
pelos sujeitos desta pesquisa possivelmente não eram as mais
indicadas para obtenção de resultados efetivos. Embora
Cromie et al.5
relatem que alguns fisioterapeutas consideram
que suas competências terapêuticas os previnem de DMRT,
outros autores demonstraram que essas competências não
os tornam imunes à ocorrência desse tipo de desordens.2,3,4,12
Uma prevenção mais eficiente deveria se basear na aplicação
dos conhecimentos ergonômicos, biomecânicos e clínicos
que os fisioterapeutas utilizam para a saúde de outros
trabalhadores em prol de sua própria segurança laboral.
Os entrevistados acreditam ser importante estudar
durante a graduação as melhores formas de realização das
técnicas fisioterapêuticas com o objetivo de prevenir DMRT.
A literatura vem apresentando diretrizes e recomendações
para uma prática mais segura da profissão.6,11,20
Apesar de a maioria dos fisioterapeutas relatar ter
aprendido estratégias preventivas, não foi estabelecida relação
entre este fato e a diminuição da freqüência de DMRT,
sugerindo uma não aplicação do conhecimento adquirido.
Este estudo mostra alta freqüência de dores musculoes-
queléticas relacionadas ao trabalho em fisioterapeutas,
demonstrando que a fisioterapia apresenta um componente
de grande sobrecarga física e emocional. Tais sobrecargas
podem gerar prejuízos à saúde dos profissionais, podendo
ainda comprometer a qualidade dos atendimentos.
Pesquisas precisam ser realizadas com o objetivo de
fomentar novas discussões ligadas aos fatores de risco de
DMRT e outras desordens ligadas ao trabalho em fisiotera-
peutas, visando à análise da eficácia das estratégias
preventivas existentes e propondo medidas alternativas.
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