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Editorial, Edição de texto e
Colunista: Cíntia Colares
Edição Gráfica: Rosemar Silva Niara
JORNAL
MENTE
ATIVA
Julho/Agosto de 2022 -
21º edição
Jeane Bordignon
voos.e.palavras
JORNAL MENTE ATIVA
Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
ABUSOS, INVASÕES, MEDO:
NUNCA TEREMOS PAZ?
Já não bastavam as notícias praticamente
diárias de estupros e feminícidios…
(Lembrando: mexeu com uma, mexeu com
todas!) Faltam palavras para definir o quão
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preocupante pensar que muitas mulheres vão
adiar os cuidados com a saúde, ou até deixar
de procurar atendimento, por medo de uma
violência. O estrago que um monstro desse faz
não é só nas nossas mentes…
É pesado ser mulher nesse mundo tão
machista e misógino! Sim, misógino. Homens
em geral não gostam de mulheres. Não
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por nós. Isso eles sentem por outros homens.
Com as mulheres, querem exercer poder e
fazer sexo.
Esse caso do anestesista me fez lembrar de um
poema que escrevi em 2014:
Jeane Bordignon
voos.e.palavras
JORNAL MENTE ATIVA
Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
INVADIDA
O primeiro rasgo
foi na blusa.
Não era nova,
mas foi à força:
primeira invasão.
O segundo rasgo,
foi entre as pernas
no movimento brusco
da segunda invasão,
enquanto o rosto
arrastava no chão.
Mas o que é um arranhão,
e outro, e mais outro,
quando ardem as entranhas
invadidas sem permissão
por alguém chamado de homem
sem merecer, nem de longe,
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O terceiro rasgo,
nem sabia onde começava ou terminava.
Mulher invadida no corpo,
era toda ela um trapo roto.
Dentre tanta dor e náusea,
o que para tantos uma alegria
chegou como mais um soco
em seu ventre:
um novo ser ali habitava
fruto daquele
de quem nem sabia a face
e somente horror a lembrava.
“Uma chance de recomeçar.”
“Uma criança é sempre bem-vinda.”
“Uma benção ela será, você verá.”
Em todas as bocas a certeza
de que ela deveria agradecer
Por ter alguém que crescia
Em seu canto mais sagrado
Sem que pudesse escolher.
Não havia saída ou medida:
Entrou, tem que nascer.
“Mulher é feita pra isso: gerar filho”.
O grito de NÃO
O grito de NÂO
O grito de NÃO
Não teve forças para sair.
O menor rasgo
Foi o que avisou o parto.
Água saindo, menino vindo.
Chegou até a chegar sorrindo
Na sala de espera
do hospital.
Sentia que faltava pouco:
nasceria tão rápido
quanto foi gerado.
Rápida foi a invasão inesperada,
nem tempo para dizer
que bastava esperar
só mais um pouco...
Uma sala iluminada e fria
Pernas pra cima
“porque é assim que se faz”.
Dedos no colo, agulha na veia,
um homem de branco
tão brusco quanto o outro
do qual nem sabia a cor.
E com pressa ele fez mais um rasgo
No mesmo lugar onde primeiro
Deixara tanta dor.
Mas este, o de branco, depois deu pontos
Como se fizesse a ela um favor.
Disse ainda que lhe salvara o filho
Que ficaria preso no caminho.
(Como se ela não conhecesse seu próprio corpo
Mesmo cada vez mais roto).
A última invasão
Foi de uma decisão:
Fazer daquele menino
Que mamava em seu seio
Um homem de fibra
Perto do qual não haverá
Mais nenhuma mulher invadida
Feita em trapos rasgados;
Um homem que sabe o quanto é bonito
Quando a mulher é um pano colorido
Simone Mello
Poeta
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Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
Tereza de Benguela
Cruzou o oceano, chegou em terras
colonizadas, desconhecidas, resistiu, lutou,
sobreviveu, salvou vidas. Se adaptar ao clima,
a alimentação, a cultura, a religião. Suportar a
opressão, o banzo a solidão.
Tereza de Benguela, liderou o quilombo do
Quariterê de 1750 a 1770. Depois da morte do
seu companheiro José Piolho. O quilombo
está localizado hoje no território que
corresponde ao vale do Guaporé no Mato
Grosso.
O quilombo era constituído por cativos de
origem africana e por indígenas. Tereza de
Benguela, inteirou-se das questões políticas,
assumiu a liderança. A comunidade do
quilombo aceitou sua governança. Instituiu,
organizou setores de trabalho, plantação,
artesanato e confeccão de roupas. Era dalí que
tiravam seu sustento, sua alimentação.
Também tinham um sistema de defesa de
armas que eram trocadas por produtos, com
pessoas na redondeza. Resistir com bravura,
criar estratégias, ser fortaleza. Nas ervas
buscavam a cura aliviavam a dor das marcas
feitas pelo opressor.
O quilombo foi atacado, e o sangue de Tereza
de Benguela foi derramado inundou a terra e
fez germinar outros quilombos, outros guetos.
Sua morte foi um sopro de resistência.
Escrever, denunciar, dar voz a mulheres e
homens negros. Durante séculos o algoz nos
calou, nos invisibilisou, nos apagou do mapa
da sociedade, hoje na contemporâneidade,
sou mulher negra, vou reivindicar, ocupar os
espaços que por direito é meu é nosso.
Somos 56% da população, que trabalha,
estuda, se reiventa, gera renda e movimenta a
economia do país. Não queremos continuar
na base da pirâmide social. A luta é diária,
sobretudo a luta pela vida. Vidas negras
importam!
Nossos passos vêm de longe, vem de Dandara
dos Palmares, Anastácia, Luiza Mahin, Tereza
de Benguela, Aqualtune, Zeferina, Maria
Felipa, Adelina Charuteira e Na Agantimé.
Vêm de muitas outra mulheres guerreiras
que lutaram e continuam lutando pela
liberdade e respeito com o povo negro e
indígena. Somos muitos, somos milhares,
somos uma constelação.
Salve ela!
Salve a rainha do quilombo do Quariterê
Salve Tereza de Benguela.
ROSA PEREIRA Natural de Santa Maria (RS). Professora, escritora e
poetisa, pesquisadora independente de Literatura Afro-brasileira.
Graduada em Letras ( PUCRGS); Especialização em EJA, pela UNILASSALE.
Participa de oficinas e coletivos femininos de escrita criativa. Publicações:
Coletânea de contos “Banquete”-Ed. Metamorfose ( 2018); Coletâneas
Mulheres Maravilhosas I e II pelo Canal Sororidade, com selo do FSM21;
Coletânea infantil Ecologia Já! ,I e II, em 2021 e 2022 ); poema na Revista
África e Africanidades, nº 36); poema e crônica na Coletânea Escrituras
Negras II e III, na Coletânea Sinergia; poema na Coletânea O Livro das
Marias III- Uma Força Sublime. Possui contos, crônicas, cartas e poesias
publicados com o selo Fora da Asa, formato e-book.
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Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
Apresentação das Colunistas
JORNAL MENTE ATIVA
Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
Rosa Pereira
Professora, escritora e poeta.
mãe preta, mãe solo
madrugadeira
mulher trabalhadeira,
que ladeira subia e descia
o passo manquejo
carregado de reza pra remediar a dor
da perna quebrada
durante a labuta
sem ser socorrida
pelo empregador
mãe preta, mãe solo
o afeto foi sempre
o maior cobertor
ser “de cor” não é defeito
invadir territórios
avassalar culturas
isso sim, é aberração
Por isso,
respeite
Sou filha de preta
do povo africano
que o colonialismo escravizou
nossa memória
é refratária ao açoite
a resistência é nosso argumento
Mãe preta, mãe-solo?
solo de muito longe
timbrando a marcha de gerações pretas
entoando orikis
na longa senda da liberdade
Filha de preta
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Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
25 de Julho dia internacional da Mulher Negra
latino americana caribenha e dia nacional de
Tereza de Benguela, momento de homenagear
essas guerreiras que não fogem dos embates do
dia a dia. De fazer reflexões, questionar a
situação em que vive a maioria das mulheres
negras nessa sociedade moldada no racismo,
suas lutas e conquistas.
Isabete Fagundes Almeida
Poetisa, escritora
isabete.fagundes
Roseli do Renascer, Maria Eloá dos Santos,
Franquilina Marques Cardoso, Maria Oscarlina,
Irlanda Gomes, Eni Canarim, Terezinha Juraci
Brasil Silva, Mãe Norinha de Oxalá, Vera
Cardoso, Maria Elaine Espíndola, Maria
Cristina Santos, Saraí Soares, Maria Mulher,
Maria da Graça Paiva, Vera Triumpho, Eva
Teresinha de Oliveira, Vera lopes, Irene Santos,
Gladis de Deus Pereira, Jorcelina Ferreira da
Costa.
Candaces
Salve nossas Candaces!
Mulheres, mães, rainhas
Governam, coordenam, lideram
Exercem seus papéis com maestria.
Ancestralidade à flor da pele!
Resilientes, resistem.
Desde Meroé, Egito
até as terras do além mar
Vem forjando suas histórias de gerações em
gerações.
Nesse legado de inquietudes e atitudes...
Luiza Bairros, Luciana Lealdina Araújo,
Zenóbia Lúcia de Deus, Petronilha Beatriz G
Silva, Deise Nunes, Fernanda Carvalho, Maria
Helena Vargas, Nelma Oliveira Soares, Iara
Deodoro, Maria Francisca G. Garcia ( Vó Chica),
Iyá Vera Soares, Marli Medeiros, Maria de
Lurdes S. Silva, Syrlei Amaro,
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Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
Lucia Costa
Poetiza
Não se maltrate
Cuide-se!
Por pior que seja a situação
Cuide -se!
Por maior que seja a provação
Cuide-se!
Cuide os pensamentos,
Os sentimentos,
As horas vazias,
É nos momentos de agonia
Que tendemos a fracassar.
Cultive a Alegria
Ignore a Melancolia,
Cante uma Canção.
Pratique o Bem,
Divida um Pão.
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  • 1. Editorial, Edição de texto e Colunista: Cíntia Colares Edição Gráfica: Rosemar Silva Niara JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição
  • 2. Jeane Bordignon voos.e.palavras JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição ABUSOS, INVASÕES, MEDO: NUNCA TEREMOS PAZ? Já não bastavam as notícias praticamente diárias de estupros e feminícidios… (Lembrando: mexeu com uma, mexeu com todas!) Faltam palavras para definir o quão grotesco é o caso da mulher que foi estuprada pelo anestesista durante uma cirurgia cesariana!!! Diante de um caso tão absurdo, só aumenta nossa sensação de que não estamos seguras nunca. Já não basta termos medo da rua, agora vamos temer também os hospitais. Isso atinge a todas mais do que parece… é preocupante pensar que muitas mulheres vão adiar os cuidados com a saúde, ou até deixar de procurar atendimento, por medo de uma violência. O estrago que um monstro desse faz não é só nas nossas mentes… É pesado ser mulher nesse mundo tão machista e misógino! Sim, misógino. Homens em geral não gostam de mulheres. Não sentem afeto, respeito, compaixão, empatia por nós. Isso eles sentem por outros homens. Com as mulheres, querem exercer poder e fazer sexo. Esse caso do anestesista me fez lembrar de um poema que escrevi em 2014:
  • 3. Jeane Bordignon voos.e.palavras JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição INVADIDA O primeiro rasgo foi na blusa. Não era nova, mas foi à força: primeira invasão. O segundo rasgo, foi entre as pernas no movimento brusco da segunda invasão, enquanto o rosto arrastava no chão. Mas o que é um arranhão, e outro, e mais outro, quando ardem as entranhas invadidas sem permissão por alguém chamado de homem sem merecer, nem de longe, tal nome? O terceiro rasgo, nem sabia onde começava ou terminava. Mulher invadida no corpo, era toda ela um trapo roto. Dentre tanta dor e náusea, o que para tantos uma alegria chegou como mais um soco em seu ventre: um novo ser ali habitava fruto daquele de quem nem sabia a face e somente horror a lembrava. “Uma chance de recomeçar.” “Uma criança é sempre bem-vinda.” “Uma benção ela será, você verá.” Em todas as bocas a certeza de que ela deveria agradecer Por ter alguém que crescia Em seu canto mais sagrado Sem que pudesse escolher. Não havia saída ou medida: Entrou, tem que nascer. “Mulher é feita pra isso: gerar filho”. O grito de NÃO O grito de NÂO O grito de NÃO Não teve forças para sair. O menor rasgo Foi o que avisou o parto. Água saindo, menino vindo. Chegou até a chegar sorrindo Na sala de espera do hospital. Sentia que faltava pouco: nasceria tão rápido quanto foi gerado. Rápida foi a invasão inesperada, nem tempo para dizer que bastava esperar só mais um pouco... Uma sala iluminada e fria Pernas pra cima “porque é assim que se faz”. Dedos no colo, agulha na veia, um homem de branco tão brusco quanto o outro do qual nem sabia a cor. E com pressa ele fez mais um rasgo No mesmo lugar onde primeiro Deixara tanta dor. Mas este, o de branco, depois deu pontos Como se fizesse a ela um favor. Disse ainda que lhe salvara o filho Que ficaria preso no caminho. (Como se ela não conhecesse seu próprio corpo Mesmo cada vez mais roto). A última invasão Foi de uma decisão: Fazer daquele menino Que mamava em seu seio Um homem de fibra Perto do qual não haverá Mais nenhuma mulher invadida Feita em trapos rasgados; Um homem que sabe o quanto é bonito Quando a mulher é um pano colorido
  • 4. Simone Mello Poeta JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição Tereza de Benguela Cruzou o oceano, chegou em terras colonizadas, desconhecidas, resistiu, lutou, sobreviveu, salvou vidas. Se adaptar ao clima, a alimentação, a cultura, a religião. Suportar a opressão, o banzo a solidão. Tereza de Benguela, liderou o quilombo do Quariterê de 1750 a 1770. Depois da morte do seu companheiro José Piolho. O quilombo está localizado hoje no território que corresponde ao vale do Guaporé no Mato Grosso. O quilombo era constituído por cativos de origem africana e por indígenas. Tereza de Benguela, inteirou-se das questões políticas, assumiu a liderança. A comunidade do quilombo aceitou sua governança. Instituiu, organizou setores de trabalho, plantação, artesanato e confeccão de roupas. Era dalí que tiravam seu sustento, sua alimentação. Também tinham um sistema de defesa de armas que eram trocadas por produtos, com pessoas na redondeza. Resistir com bravura, criar estratégias, ser fortaleza. Nas ervas buscavam a cura aliviavam a dor das marcas feitas pelo opressor. O quilombo foi atacado, e o sangue de Tereza de Benguela foi derramado inundou a terra e fez germinar outros quilombos, outros guetos. Sua morte foi um sopro de resistência. Escrever, denunciar, dar voz a mulheres e homens negros. Durante séculos o algoz nos calou, nos invisibilisou, nos apagou do mapa da sociedade, hoje na contemporâneidade, sou mulher negra, vou reivindicar, ocupar os espaços que por direito é meu é nosso. Somos 56% da população, que trabalha, estuda, se reiventa, gera renda e movimenta a economia do país. Não queremos continuar na base da pirâmide social. A luta é diária, sobretudo a luta pela vida. Vidas negras importam! Nossos passos vêm de longe, vem de Dandara dos Palmares, Anastácia, Luiza Mahin, Tereza de Benguela, Aqualtune, Zeferina, Maria Felipa, Adelina Charuteira e Na Agantimé. Vêm de muitas outra mulheres guerreiras que lutaram e continuam lutando pela liberdade e respeito com o povo negro e indígena. Somos muitos, somos milhares, somos uma constelação. Salve ela! Salve a rainha do quilombo do Quariterê Salve Tereza de Benguela.
  • 5. ROSA PEREIRA Natural de Santa Maria (RS). Professora, escritora e poetisa, pesquisadora independente de Literatura Afro-brasileira. Graduada em Letras ( PUCRGS); Especialização em EJA, pela UNILASSALE. Participa de oficinas e coletivos femininos de escrita criativa. Publicações: Coletânea de contos “Banquete”-Ed. Metamorfose ( 2018); Coletâneas Mulheres Maravilhosas I e II pelo Canal Sororidade, com selo do FSM21; Coletânea infantil Ecologia Já! ,I e II, em 2021 e 2022 ); poema na Revista África e Africanidades, nº 36); poema e crônica na Coletânea Escrituras Negras II e III, na Coletânea Sinergia; poema na Coletânea O Livro das Marias III- Uma Força Sublime. Possui contos, crônicas, cartas e poesias publicados com o selo Fora da Asa, formato e-book. JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição Apresentação das Colunistas
  • 6. JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição Rosa Pereira Professora, escritora e poeta. mãe preta, mãe solo madrugadeira mulher trabalhadeira, que ladeira subia e descia o passo manquejo carregado de reza pra remediar a dor da perna quebrada durante a labuta sem ser socorrida pelo empregador mãe preta, mãe solo o afeto foi sempre o maior cobertor ser “de cor” não é defeito invadir territórios avassalar culturas isso sim, é aberração Por isso, respeite Sou filha de preta do povo africano que o colonialismo escravizou nossa memória é refratária ao açoite a resistência é nosso argumento Mãe preta, mãe-solo? solo de muito longe timbrando a marcha de gerações pretas entoando orikis na longa senda da liberdade Filha de preta
  • 7. JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição 25 de Julho dia internacional da Mulher Negra latino americana caribenha e dia nacional de Tereza de Benguela, momento de homenagear essas guerreiras que não fogem dos embates do dia a dia. De fazer reflexões, questionar a situação em que vive a maioria das mulheres negras nessa sociedade moldada no racismo, suas lutas e conquistas. Isabete Fagundes Almeida Poetisa, escritora isabete.fagundes Roseli do Renascer, Maria Eloá dos Santos, Franquilina Marques Cardoso, Maria Oscarlina, Irlanda Gomes, Eni Canarim, Terezinha Juraci Brasil Silva, Mãe Norinha de Oxalá, Vera Cardoso, Maria Elaine Espíndola, Maria Cristina Santos, Saraí Soares, Maria Mulher, Maria da Graça Paiva, Vera Triumpho, Eva Teresinha de Oliveira, Vera lopes, Irene Santos, Gladis de Deus Pereira, Jorcelina Ferreira da Costa. Candaces Salve nossas Candaces! Mulheres, mães, rainhas Governam, coordenam, lideram Exercem seus papéis com maestria. Ancestralidade à flor da pele! Resilientes, resistem. Desde Meroé, Egito até as terras do além mar Vem forjando suas histórias de gerações em gerações. Nesse legado de inquietudes e atitudes... Luiza Bairros, Luciana Lealdina Araújo, Zenóbia Lúcia de Deus, Petronilha Beatriz G Silva, Deise Nunes, Fernanda Carvalho, Maria Helena Vargas, Nelma Oliveira Soares, Iara Deodoro, Maria Francisca G. Garcia ( Vó Chica), Iyá Vera Soares, Marli Medeiros, Maria de Lurdes S. Silva, Syrlei Amaro,
  • 8. JORNAL MENTE ATIVA Julho/Agosto de 2022 - 21º edição Lucia Costa Poetiza Não se maltrate Cuide-se! Por pior que seja a situação Cuide -se! Por maior que seja a provação Cuide-se! Cuide os pensamentos, Os sentimentos, As horas vazias, É nos momentos de agonia Que tendemos a fracassar. Cultive a Alegria Ignore a Melancolia, Cante uma Canção. Pratique o Bem, Divida um Pão. Se cair, Levante... Caminhe em outra Direção Busque Força lá de dentro Só nao entre em Depressão. Lute com todas as forças, Busque a Deus em oração.