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ROSEMAR SILVA
EDIÇÃO
JORNAL
MENTE
ATIVA
Fevereiro de 2022
16º edição
Jeane Bordignon
voos.e.palavras
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Editorial
Bem-vindos a mais um ano com nossas mentes
ativas!
Voltamos com as energias renovadas e cheias
de ideias para deixar nosso jornal ainda
melhor. Sigam com a gente, que nos próximos
meses devemos trazer várias novidades
pensadas com todo o carinho.
Mas é recém fevereiro, mês da senhora das
águas, da grande mãe dos Orixás. E claro que
essa energia, não só materna como de mulher
forte, iria permear essa edição. Das águas
nascemos e nelas nos renovamos a cada dia.
Odoyá!
“Deus é mãe
E todas as ciências femininas
A poesia, as rimas
Querem o seu colo de madona…”
Assim cantou Elza Soares em seu disco Deus é
mulher.
Pois estávamos ainda nos conectando com toda
essa energia para escrever os textos dessa
edição, quando a grande Elza partiu deste
plano, aos 91 anos. Para nós, e muitas outras
mulheres, não era apenas uma cantora.
Elza Soares foi, até o fim, uma referência de
resistência e empoderamento. Cantou sobre a
violência contra as pessoas pretas e contra as
mulheres. Fez da sua arte, da sua voz,
instrumento de luta.
Por isso, a primeira edição de 2022 do Mente
Ativa não poderia ser diferente: essa é a nossa
singela homenagem a essa grande mulher,
cantora, eterna rainha da música brasileira.
Viva Elza Soares!
Simone Mello
Poeta
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Me deixem cantar
“Meu nome é Elza Soares, eu vim do planeta
fome.” Este mesmo planeta, que extermina que
consome com o preto, com o pobre, o favelado.
E neste cenário de fome, negra é o meu nome.
Lata d'água na cabeça, sobe o morro todo dia.
“Sonhando com a vida no asfalto, ser chamada
em programas de rádios e auditórios, mostrar
minha voz, meu repertório.”
“Eu quero cantar até o fim. Me deixem cantar
até o fim.”
Sustentar meus filhos, que ainda são crianças,
na esperança de dias melhores. Vou seguir,
tentar a sorte, cantar para sobreviver.
Sou mulher na labuta da vida, sou melodia.
“Meu choro não é nada além de carnaval. É
lágrimas de samba na ponta dos pés.”
O samba, conta a nossa história, foi feito para
cantar. “Eu nasci no morro, tenho ginga no
corpo e na ponta dos pés. Calço minha sandália,
vou para Mocidade sambar.”
No país do carnaval e do futebol, vou driblando
minha vida, tenho sede de cantar. Em alguns
momentos na vida, soube o que é amar. Em
outros momentos, aprendi a me desprender do
amor. Vou compor, vou escrever.
Vou falar das perdas, das desilusões, das
decepções, que a vida tem.
“As asas de um anjo soltas pelo chão. Na chuva
de confetes deixo a minha dor”.
Cantei e encantei multidões. Deixo o meu
legado, deixo o meu nome, e a minha
existência.
“A pele preta e a minha voz. Mulher do fim do
mundo. Eu sou, eu vou, até o fim, cantar”.
Ju Lopse
@lopselazuli
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Elza Vive
Há quem deseje a canonização do astrólogo por
supostos milagres que ele teria realizado em
vida. Me questiono a motivação em se
canonizar alguém, como se essa chancela
justificasse o valor pessoal.
Elza foi motivo de chacota no programa de Ary
Barroso, e disse que era de outro planeta. Um
planeta de gente faminta, que não quer só
comida. Se a carne mais barata do mercado era
a carne negra, foi a voz de Elza que fez muita
gente enxergar seu valor. O protesto funkeado
foi eternizado por Elza em 2002. Vinte anos
depois, o maior grupo etnico do país ainda tem
seus direitos rifados. Elza vive, na busca de
justiça para Durval e Moïse.
“Se acaso você chegasse”, em um dueto de Elza
com um improvável Lobão, é repleta das
onomatopeias da sonoridade infinita de Elza, o
contorno à canção de Lupi. Em uma versão de
Porter e Gershwin, o dueto com Chico Buarque
“Façamos”, Elza abusa dos vocalizes e das
intenções. Elza vive, quando o canto encontra
a fala, na sensualidade do português brasileiro.
Aliás, Caetano Veloso trouxe Elza a uma nova
geração, roçando as línguas à de Luís de
Camões. “Língua” é uma celebração ao idioma,
agregando mais que o acordo ortográfico
imposto. Elza vive, quando a gente grita o que
quer e o que pode, nessa língua.
Elza virou a icônica mulher do fim do mundo,
ídolo de uma geração, acusada de lacrar, mas
que quer cantar até o fim. E deixem ela
cantar. Se não, você vai se arrepender de
levantar a mão para silenciar. Em uma
cadeira de rodas, mas nunca limitada,
encontrou jovens que consolidaram ela como
base de uma geração de mulheres negras,
empoderadas mas, cheias de fome. Elza vive
no “Gueto” de Iza, na "Vênus em Escorpião” de
Gaby Amarantos, na “Cida” de Agnes Nunes.
Elza se uniu ao rock de Pitty, à MPB de
Liniker e ao funk de Rebecca. Todas são um
pouco Elza.
Em 2019, “Comportamento Geral”, composição
de Gonzaguinha de 1973, faz questionar
tempo e espaço ao falar do Zé bem
comportado, que engole e agradece o osso, que
faltaria nos anos seguintes. Em clipe gravado
no lixão, futurista e atrasado, a canção dói de
tão atual. Elza vive, em mais um ano sem
carnaval.
Os revezes na vida de Elza, e na do Brasil que
cantou até o fim, mostram que, às vezes, os
santos pareciam não a acompanhar. Mas, para
quem anda entre a gente, sem tempo de
pausa, não há milagres que se afastem. Elza
não precisa ser canonizada. Elza vive.
Fotocolagem com reconstrução de foto
da Elza Soares para simulação dela jovem
Artista Mandi Moreira/ Fev 2022
Mandi Moreira
escritora e artista visual
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Elza da Conceição
O ano era 1945, a guerra havia acabado e
novos ares de esperança tomavam conta das
principais ruas do Rio de Janeiro. Havia
mudanças e o fim da guerra, estampado nos
jornais, dava um certo alívio à população. Já no
bairro de Água Santa, na periferia da cidade, ali
na beirada da Freguesia, o cenário era outro.
Ela acordou em seu barraco em cima daquela
cama improvisada. O choro de seu filho ecoava
naquelas paredes tortas. Também pudera: a
pouca comida fazia o seu leite escasso, raso. E
era assim que ela se sentia. Na borda rasa da
vida, se equilibrando nas tábuas soltas de uma
vida, que mal começara, e já era tão dura.
Há pouco tempo, era ela quem chorava de
fome preocupando a sua mãe. Agora, tão nova,
já embalava seu filho com lágrimas de tristeza e
raiva. Saudades dos pés na terra, das
brincadeiras na vila e, até mesmo, de quando
tinha cinco anos e rezou aos santos para que o
pai a batesse menos.
Qualquer dor era menor que perder mais um
filho de fome nesse mundo cruel.
Elza da Conceição se casou com apenas 12 anos
e nem sabia o que era ser mulher. “Aprendi na
marra”, ela pensava. E, embora a solidão doesse,
era melhor mesmo que o marido não tivesse
voltado para casa, de novo. Assim, ela e suas
crias poderiam ter algum momento de paz,
mesmo que a barriga doesse. “Será que algum
dia eu vou sair dessa vida?”, ela entoou e
algumas notas saíram de sua garganta, em
prantos.
“Canto para não chorar, canto para acalentar
meus filhos. Canto porque a vida me deu
motivos tortos, e tão doloridos, quanto as
surras que deixavam marcas roxas na minha
pele retinta”. A música ainda iria salvá-la,
apesar das muitas dores pelo caminho. Porém,
naquele dia, ela ainda não sabia disso.
Me chamo Lúcia Costa, tenho 58 anos, casada, tenho um
casal de filhos lindos chamados: Diêgo e Denise, Sou avó
de três fofuras:
Oliver, Nicholas e Kaléo.
Adoro escrever peças teatrais, também gosto de encenar,
às vezes dirigir.
Amo Poesias, ler um bom livro.
Dou muita importância ao lado espíritual, Vivo em busca
do auto conhecimento,
Essa busca interior tão importante para nossa
transformação moral.
E assim vou seguindo o meu caminhar
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Apresentação das Colunistas
@devaneioempoesia @meudevaneioempoesia
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Luciana Tibúrcio
Poeta, Escritora e
Advogada Previdenciária
Ela
“Não me lembro quantos anos eu tinha, só sei
que não contava com mais de um metro de
altura. Mas, a altura daquela voz que vinha do
rádio me impressionara. Reverberava no meu
peito uma força que nunca havia ouvido. Um
grave musical que duvidava ser humano. Mas
era. Era ela. Elza.
Minha curiosidade me levou à pesquisa. E as
surpresas não cessavam. Aquela pequena de
voz gigante se fez maior que o estigma de
esposa de jogador de futebol. Eu amava
futebol. O Flamengo de Elza. Mas amava mais
ainda a descoberta de que uma mulher podia ir
além dos rótulos que lhe imputavam. Ela já era
antes. E foi depois. Era só Elza.
Aquela voz potente me apresentou o jazz.
Bailarina, meus gostos musicais se restringiam
ao clássico, ao Balão Mágico, ao Toquinho e à
Bossa Nova, paixão de minha mãe. As
brincadeiras que aquela cantora fazia com a
voz me encantavam. A mim soavam como um
sax humano. Mais tarde, pude testemunhar
que o brincar por entre gêneros musicais era
para poucos. Era para ela.
E ela passeava. Parecia que nada a freava.
Aquilo me seduzia. Sua liberdade de falar e
fazer. Seu cair e renascer. Seu amor pelos
filhos. Nunca quis me enquadrar em nada. Me
acorrentar para caber em quadrados
inventados por homens que não
compreendem meu viver. Ela era irrotulável.
Era só Elza. Única neste planeta.
Não sou ninguém para homenagear alguém.
Por isso, só reflito: em como vozes podem nos
ressoar tão fundo; em como todos podemos
exemplificar com nosso mundo; em como cada
vida que nos esbarra nos sulca profundo; em
como atitudes podem ser um solo tão fecundo
de ideias, ideais, valores e pendores.
A mim, histórias fortes de femininas graves
vozes são um por quê achar meu porquê. Para
existir. Para que minha vida não tenha só
fotos de sei lá o que. Que na minha parede
haja um quê que inspire um quem. Seja o
quem quem for. Mas só terá se eu for. Se tiver
a coragem de ser.
Ela era ela. Tento ser eu. E você, quem é?
Joseane Canova
Terapeuta reiki
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
A mulher do fim do mundo
O nome dela era Elza, mas podia ser Maria, Iara,
Janaína, Simone, Jussara… Tamanha história
de sofrimento e superação que viveu, como
tantas mulheres do nosso Brasil.
Ficou conhecida pela voz forte, potente, rouca e
rasgada.
Vinda diretamente do planeta fome, descobriu
na música o seu alicerce para enfrentar tantas
dores, perdas, desilusões, críticas e suportar dois
casamentos cheios de violências e traições.
Não à toa cantou até o final da vida. Esse era o
seu grande combustível.
Lavou a alma nos versos “Cê vai se arrepender
de levantar a mão pra mim”, levando mulheres
a repensar e denunciar no 180 as violências
domésticas para não passar o que ela passou.
Transmitia, através da música, as suas
vivências e, assim, as latas de água que
carregava, desde a infância, iam ficando menos
pesadas.
Será que Deus é mulher? Agora Elza poderá
descobrir pessoalmente.
Acesso os registros Akáshicos para escrever
meus textos e transmitir o que vibra no meu
coração.
Sou apaixonada pela escrita e uso essa
ferramenta para expressar o que penso e sinto
para o mundo.
Mariana Delphino
Artista Visual
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
A Aparição
Outro dia, lia um texto em que o autor se
referia à estreia de Elza Soares no cenário
artístico brasileiro como “aparição deplorável”.
Mas, ele se esmerou para explicar que tal
julgamento se baseou na sua aparência, suas
vestes paupérrimas que davam notícias, que
atestam sua origem social. E, claro, antes que
ela abrisse a boca e conduzisse a todos ao seu
mundo musical. Singular, autêntico, quente,
feminino, levando os holofotes para o
reconhecimento das desigualdades sociais
negadas, silenciadas.
Para mim, Elza fez a primeira aparição quando
a vi em um programa de televisão cantando
“Meu Guri”, de Chico Buarque. Havia tanto
clamor, dor, lágrimas e apelo à humanidade,
educação, empatia, fraternidade e equidade no
timbre da sua voz que trazia notas do
sentimento de desamparo e exclusão
vivenciados por ela também, naquela época, e
ainda tão marcantes, compondo, como aponta
Silvio Almeida, atualmente, o racismo
estrutural.
A segunda aparição de Elza foi em um show
beneficente ao ar livre, no Parque Farroupilha
(Redenção) em Porto Alegre, em 2003. Era uma
manhã fria e nublada de domingo, ela estava
no palco vestindo uma malha preta e aquecia o
pescoço com uma singela manta cor de rosa.
O que espantava o frio, certamente, era a
dança, e ela cantava de forma sensual e
provocativa “O Neguinho e a Senhorita”
(1966), composta por Neguinho da Beija-Flor e,
de Lupicínio Rodrigues, grande compositor
gaúcho, ela cantou “Se Acaso Você Chegasse”.
A terceira aparição de Elza para mim foi no
aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro,
em 2015. De repente, ela surge, vestida de
branco, conduzida em uma cadeira de rodas.
Minha reação foi levantar-me e acenar em
reverência. Comentei tal episódio com minha
amiga Sílvia M. Prado que, alguns meses
depois, me chamou para assistirmos ao seu
show em Porto Alegre. “Elza - A Mulher do
Fim do Mundo” (2016) e, nesse dia, da cadeira
ela cantou sua composição “Coração do Mar” e
nos encantou. Havia um clima de
descontração, alguém comentou que ela
costumava receber alguns fãs no camarim
após seus shows e, imediatamente, nos
colocamos na fila e fomos recebidas com
direito a registros fotográficos. Era a nossa
aparição, no mundo de Elza Soares.
Foto: Silvia Maria Prado
Luciasouzacosta7@gmail.com
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
O Dia era 23 de junho
Do ano de 1930
Nascia Elza Gomes da Conceição
No subúrbio do Rio de Janeiro.
Tendo por pai Avelino Gomes
E por mãe Rosária Maria da Conceição
O Pai era operário
E a mãe lavadeira por profissão.
Teve uma infância difícil
Sendo obrigada a se casar
Com 12 anos de idade
Ela subiu ao altar.
E logo com 13 anos
Ganhou seu primeiro filho
Que viveu por pouco tempo
Dilacerando- lhe o peito já sofrido.
Quando tinha 15 anos
Novamente engravidou
Sua alegria durou pouco
A morte o arrebatou.
Passaram-se então 10 anos
Desse fato ocorrido
Elza ficou viúva
Com a morte do marido.
A vida não lhe foi fácil
Dos "limões" fez limonada
Tragédias e reviravoltas
Todas foram superadas.
Famosa pela voz grave e rouca
Flertou com vários gêneros musicais
Como Samba, Jazz, Bossa nova
MPB, Rock e outros mais.
Divina Elza
Lucia Costa
Poetisa
Tornou-se mundialmente conhecida
Como a cantora do milênio
Mas sempre fiel às suas raízes
Ao povo brasileiro agradecendo.
Da infância pobre ao sucesso
Que segue cativando gerações
Elza foi um exemplo de fé
de luta e superações.
Elza em vida viajou
Por boa parte do mundo
Foi do inferno ao céu
Sem desistir um segundo.
Vindo de família negra
Sofreu muito preconceito
Ela dizia que racismo
É coisa de branco para fazer mal ao negro.
É emocionante falar de Elza
Que tanto sofreu e superou
Ela é o grito dos oprimidos
Daqueles que sentem dor.
Que maravilha poder dizer
Que somos contemporâneos
Dessa estrela sem igual
Que brilhou ao longo dos anos.
Em 20 de janeiro de 2022 às 15:45
Uma nota triste chegou
Avisando para o mundo
que a morte a arrebatou.
Deixando um vazio enorme
Uma tristeza sem fim
Foi cantar em outros planos
Elza virou Querubim.
Salve...Salve Elza Soares,
Teu canto sempre ecoará
Nos corações dos Brasileiros
Que irão sempre te admirar.
Elza Soares - Biografia
WEB TV Facha
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Dica de Documentário:
Rosemar Silva
Edição Jornal Mente Ativa
O que nos faz admirar uma pessoa?
O que faz uma pessoa ser reconhecida e
idolatrada?
Talento, carisma, garra, ter consciência de sua
existência, seguir se aperfeiçoando e ser apoio
para as novas gerações.
Elza Gomes da Conceição ou, como ficou
mundialmente conhecida, Elza Soares. Era tudo
isso, uma mulher que não esqueceu suas origens
e aproveitou a ingenuidade de criança e, mesmo
diante das dificuldades financeiras da família,
vivenciou a alegria na simplicidade dos
momentos. Desde lá, já mostrava a que veio: ser
uma das vozes que mais representou o povo
brasileiro. Um ser humano, uma mulher negra
que rompeu barreiras até o fim, pois, como dizia
na canção “era a mulher do fim do mundo”
assim como, são as muitas mulheres negras
brasileiras, base familiar e social e, ao mesmo
tempo, tão invisibilizadas.
O documental da WEB TV FACHA traz um
pouco da trajetória de Elza por Elza.
Mulher do fim do mundo
Canta conosco nossas lágrimas
e carnavais dançantes
Nossa luta é dura
mas nosso canto é forte
E ecoa, tua música ecoa
naqueles que vieram depois
Te faz leito das nossas dores
Te faz força na nossa voz
Mandi Moreira - Outubro/2020
ODOYÁ
Só reconhece
o prazer do estaleiro
quem entende porque
não é sempre fevereiro...
E dança conforme a maré,
se alimenta da chuva,
e cresce com o vento.
O tempo,
menino-ancião,
não mete medo
em quem é mãe e rainha
da própria imensidão.
(Jeane Bordignon)
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Desenho - Mandi Moreira
Desenho - Mandi Moreira
Jeane Bordignon
voos.e.palavras
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Elza Soares era uma força da natureza.
A menina que veio do planeta fome, a moça que
ousou viver um amor e foi acusada de destruir
um casamento, a esposa que usou de todas as
forças que pôde para tentar salvar um marido
alcoólatra, a mulher que saiu de um casamento
nocivo e foi muito julgada por isso, a mãe que
enterrou quatro filhos… Como pode uma
mulher, depois de tudo isso, ainda ter forças
para empunhar o microfone e cantar com
energia?
Tive o privilégio de ver Elza no palco, em 2016.
Um show da programação das Olimpíadas do
Rio. A atração era Johnny Hooker (que estava
em êxtase, sentindo-se diante de uma deusa) e a
rainha era participação especial. Entrou
carregada, cantou sentada…mas, mesmo com o
corpo debilitado, não dá para explicar a energia
que aquela mulher emanava. Mais de 80 anos,
com dores na coluna, mas estava lá, cantando
“você vai se arrepender de levantar a mão pra
mim” e incentivando o público a ligar para o
180 e a ter atitude diante da violência contra
mulheres.
Reverenciando também as conquistas das
mulheres pretas, como a judoca Rafaela Silva,
que ganhou o ouro nos jogos daquele ano.
Bradando que “a carne mais barata do mercado
é a carne negra”, como nunca nos deixou
esquecer. Fazendo aquela multidão repetir com
ela: “a carne mais barata do mercado é a carne
negra”.
Uma verdade que ela soube muitas vezes nos
seus 91 anos de vida. Ser mulher nunca é fácil.
Mulher preta, muito mais difícil. Uma mãe
preta, então...
Essa era Elza. Podia aproveitar a idade
avançada para ficar em casa descansando, mas
preferia estar no palco, bradando sua voz
potente em letras que tocavam em muitas
feridas da sociedade. Incentivando outras
mulheres a não se calarem. A terem força
para, assim como ela fez um dia, saírem de um
relacionamento onde o respeito já foi embora,
a não aceitarem violência. A serem donas de si.
“A mulher de dentro de cada um não quer
mais silêncio”, cantou no disco de 2018.
Como não se inspirar numa mulher assim?
Acredito que nosso sentimento não deve ser
de tristeza, mas de gratidão, porque pudemos
ter Elza nesse plano por 91 anos. Foi uma vida
intensa e muito rica. Bem vivida. Quando um
ciclo se fecha assim é bonito, não deve ser
motivo de dor. E a gente sabe que, quem
nasceu para estrela, é eterna. Elza encerrou
sua viagem nesse plano como profetizou na
música:
“Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar”
ELZA ETERNA
Cíntia Colares
Jornalista e Poeta
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Não peça a uma mulher negra para ser mansa,
principalmente quando estiveres ultrapassando
os limites
que você deveria saber e respeitar.
Não espere nem ouse me pedir subserviência
travestida de discurso por mais humildade.
Observe e rapidamente me reconhecerás:
Soldada sempre pronta, sempre na luta.
Palavras doces guardo aos que assim caminham
e me abordam.
A quem tenta me colocar uma mordaça
não se iluda:
não ganharás tapinha nas costas.
Nem sorriso.
Sentirás minhas garras e solto somente
quando entender que, na tua frente, está uma
mulher negra.
Entende o significado disso?
Corre, você está atrasado.
Se pisar manso,
terás fala suave,
caminho doce.
Se pisar forte,
tentar impedir minhas pegadas ou voz,
atiçarás minhas garras e, quando te deres conta,
os gritos de liberdade são para você, você
mesmo
e todos estarão ouvindo.
E então não corra.
Se vire.
Se reinvente.
Se guarde
Se recolha
e se apresente
como deve.
Como quem respeita a nós que geramos tod@s.
Temos em nós o dom de gerar, gestar e
sustentar a vida.
Amélia? Não, meu senhor, não. Endereço e
tempo errado.
Teias? Teias temos nós, cuidado, seu moço...
Não deitamos em camas prontas, porque
sequer descansamos.
Estamos erguidas, marchamos na nossa
estrada, não queremos nada dado, não
aceitamos nada imposto, não nos julgue pelos
seus hábitos de surfar em ondas alheias.
Nós provocamos tsunamis.
Somos mulheres negras.
Você já entendeu o que é isso?
Corra, você está atrasado.
Sou Flor de Lótus.
Sou Cíntia Colares
Jornalista e poeta
SUBSERVIÊNCIA NÃO É COMIGO!
Ilustração: Paulo Correa
Grasiela Rodrigues
Profe de História
JORNAL MENTE ATIVA
Fevereiro de 2022 - 16º edição
Dona de meu Ori, dona de mim, presente na
minha vida até quando não sabia. Sentia uma
energia, um poder, que até pouco tempo não
fazia parte do meu vocabulário. Hoje posso
dizer que é axé.
Aprendi a te amar, respeitar os percursos do rio
que foi designado a mim, rios profundos que
mergulho em mim, rios rasos onde o que
importa é olhar a superfície.
Quando o rio estava turvo, revolto, você estava
lá para segurar a minha mão, mostrando a
direção a seguir. Me ensinando que a vida é
feita de rios leves e turbulentos, calmaria e
enxurrada.
Carrego em mim parte da tua essência, amor,
lealdade, diplomacia, doçura e estratégia.
Mãe Oxum é o meu refúgio, a certeza da
orixalidade em minha vida, é a correnteza leve
que me acalma.
Oxum-se!!
CARTA A OXUM

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A eterna rainha Elza Soares

  • 2. Jeane Bordignon voos.e.palavras JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Editorial Bem-vindos a mais um ano com nossas mentes ativas! Voltamos com as energias renovadas e cheias de ideias para deixar nosso jornal ainda melhor. Sigam com a gente, que nos próximos meses devemos trazer várias novidades pensadas com todo o carinho. Mas é recém fevereiro, mês da senhora das águas, da grande mãe dos Orixás. E claro que essa energia, não só materna como de mulher forte, iria permear essa edição. Das águas nascemos e nelas nos renovamos a cada dia. Odoyá! “Deus é mãe E todas as ciências femininas A poesia, as rimas Querem o seu colo de madona…” Assim cantou Elza Soares em seu disco Deus é mulher. Pois estávamos ainda nos conectando com toda essa energia para escrever os textos dessa edição, quando a grande Elza partiu deste plano, aos 91 anos. Para nós, e muitas outras mulheres, não era apenas uma cantora. Elza Soares foi, até o fim, uma referência de resistência e empoderamento. Cantou sobre a violência contra as pessoas pretas e contra as mulheres. Fez da sua arte, da sua voz, instrumento de luta. Por isso, a primeira edição de 2022 do Mente Ativa não poderia ser diferente: essa é a nossa singela homenagem a essa grande mulher, cantora, eterna rainha da música brasileira. Viva Elza Soares!
  • 3. Simone Mello Poeta JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Me deixem cantar “Meu nome é Elza Soares, eu vim do planeta fome.” Este mesmo planeta, que extermina que consome com o preto, com o pobre, o favelado. E neste cenário de fome, negra é o meu nome. Lata d'água na cabeça, sobe o morro todo dia. “Sonhando com a vida no asfalto, ser chamada em programas de rádios e auditórios, mostrar minha voz, meu repertório.” “Eu quero cantar até o fim. Me deixem cantar até o fim.” Sustentar meus filhos, que ainda são crianças, na esperança de dias melhores. Vou seguir, tentar a sorte, cantar para sobreviver. Sou mulher na labuta da vida, sou melodia. “Meu choro não é nada além de carnaval. É lágrimas de samba na ponta dos pés.” O samba, conta a nossa história, foi feito para cantar. “Eu nasci no morro, tenho ginga no corpo e na ponta dos pés. Calço minha sandália, vou para Mocidade sambar.” No país do carnaval e do futebol, vou driblando minha vida, tenho sede de cantar. Em alguns momentos na vida, soube o que é amar. Em outros momentos, aprendi a me desprender do amor. Vou compor, vou escrever. Vou falar das perdas, das desilusões, das decepções, que a vida tem. “As asas de um anjo soltas pelo chão. Na chuva de confetes deixo a minha dor”. Cantei e encantei multidões. Deixo o meu legado, deixo o meu nome, e a minha existência. “A pele preta e a minha voz. Mulher do fim do mundo. Eu sou, eu vou, até o fim, cantar”.
  • 4. Ju Lopse @lopselazuli JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Elza Vive Há quem deseje a canonização do astrólogo por supostos milagres que ele teria realizado em vida. Me questiono a motivação em se canonizar alguém, como se essa chancela justificasse o valor pessoal. Elza foi motivo de chacota no programa de Ary Barroso, e disse que era de outro planeta. Um planeta de gente faminta, que não quer só comida. Se a carne mais barata do mercado era a carne negra, foi a voz de Elza que fez muita gente enxergar seu valor. O protesto funkeado foi eternizado por Elza em 2002. Vinte anos depois, o maior grupo etnico do país ainda tem seus direitos rifados. Elza vive, na busca de justiça para Durval e Moïse. “Se acaso você chegasse”, em um dueto de Elza com um improvável Lobão, é repleta das onomatopeias da sonoridade infinita de Elza, o contorno à canção de Lupi. Em uma versão de Porter e Gershwin, o dueto com Chico Buarque “Façamos”, Elza abusa dos vocalizes e das intenções. Elza vive, quando o canto encontra a fala, na sensualidade do português brasileiro. Aliás, Caetano Veloso trouxe Elza a uma nova geração, roçando as línguas à de Luís de Camões. “Língua” é uma celebração ao idioma, agregando mais que o acordo ortográfico imposto. Elza vive, quando a gente grita o que quer e o que pode, nessa língua. Elza virou a icônica mulher do fim do mundo, ídolo de uma geração, acusada de lacrar, mas que quer cantar até o fim. E deixem ela cantar. Se não, você vai se arrepender de levantar a mão para silenciar. Em uma cadeira de rodas, mas nunca limitada, encontrou jovens que consolidaram ela como base de uma geração de mulheres negras, empoderadas mas, cheias de fome. Elza vive no “Gueto” de Iza, na "Vênus em Escorpião” de Gaby Amarantos, na “Cida” de Agnes Nunes. Elza se uniu ao rock de Pitty, à MPB de Liniker e ao funk de Rebecca. Todas são um pouco Elza. Em 2019, “Comportamento Geral”, composição de Gonzaguinha de 1973, faz questionar tempo e espaço ao falar do Zé bem comportado, que engole e agradece o osso, que faltaria nos anos seguintes. Em clipe gravado no lixão, futurista e atrasado, a canção dói de tão atual. Elza vive, em mais um ano sem carnaval. Os revezes na vida de Elza, e na do Brasil que cantou até o fim, mostram que, às vezes, os santos pareciam não a acompanhar. Mas, para quem anda entre a gente, sem tempo de pausa, não há milagres que se afastem. Elza não precisa ser canonizada. Elza vive.
  • 5. Fotocolagem com reconstrução de foto da Elza Soares para simulação dela jovem Artista Mandi Moreira/ Fev 2022 Mandi Moreira escritora e artista visual JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Elza da Conceição O ano era 1945, a guerra havia acabado e novos ares de esperança tomavam conta das principais ruas do Rio de Janeiro. Havia mudanças e o fim da guerra, estampado nos jornais, dava um certo alívio à população. Já no bairro de Água Santa, na periferia da cidade, ali na beirada da Freguesia, o cenário era outro. Ela acordou em seu barraco em cima daquela cama improvisada. O choro de seu filho ecoava naquelas paredes tortas. Também pudera: a pouca comida fazia o seu leite escasso, raso. E era assim que ela se sentia. Na borda rasa da vida, se equilibrando nas tábuas soltas de uma vida, que mal começara, e já era tão dura. Há pouco tempo, era ela quem chorava de fome preocupando a sua mãe. Agora, tão nova, já embalava seu filho com lágrimas de tristeza e raiva. Saudades dos pés na terra, das brincadeiras na vila e, até mesmo, de quando tinha cinco anos e rezou aos santos para que o pai a batesse menos. Qualquer dor era menor que perder mais um filho de fome nesse mundo cruel. Elza da Conceição se casou com apenas 12 anos e nem sabia o que era ser mulher. “Aprendi na marra”, ela pensava. E, embora a solidão doesse, era melhor mesmo que o marido não tivesse voltado para casa, de novo. Assim, ela e suas crias poderiam ter algum momento de paz, mesmo que a barriga doesse. “Será que algum dia eu vou sair dessa vida?”, ela entoou e algumas notas saíram de sua garganta, em prantos. “Canto para não chorar, canto para acalentar meus filhos. Canto porque a vida me deu motivos tortos, e tão doloridos, quanto as surras que deixavam marcas roxas na minha pele retinta”. A música ainda iria salvá-la, apesar das muitas dores pelo caminho. Porém, naquele dia, ela ainda não sabia disso.
  • 6. Me chamo Lúcia Costa, tenho 58 anos, casada, tenho um casal de filhos lindos chamados: Diêgo e Denise, Sou avó de três fofuras: Oliver, Nicholas e Kaléo. Adoro escrever peças teatrais, também gosto de encenar, às vezes dirigir. Amo Poesias, ler um bom livro. Dou muita importância ao lado espíritual, Vivo em busca do auto conhecimento, Essa busca interior tão importante para nossa transformação moral. E assim vou seguindo o meu caminhar JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Apresentação das Colunistas
  • 7. @devaneioempoesia @meudevaneioempoesia JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Luciana Tibúrcio Poeta, Escritora e Advogada Previdenciária Ela “Não me lembro quantos anos eu tinha, só sei que não contava com mais de um metro de altura. Mas, a altura daquela voz que vinha do rádio me impressionara. Reverberava no meu peito uma força que nunca havia ouvido. Um grave musical que duvidava ser humano. Mas era. Era ela. Elza. Minha curiosidade me levou à pesquisa. E as surpresas não cessavam. Aquela pequena de voz gigante se fez maior que o estigma de esposa de jogador de futebol. Eu amava futebol. O Flamengo de Elza. Mas amava mais ainda a descoberta de que uma mulher podia ir além dos rótulos que lhe imputavam. Ela já era antes. E foi depois. Era só Elza. Aquela voz potente me apresentou o jazz. Bailarina, meus gostos musicais se restringiam ao clássico, ao Balão Mágico, ao Toquinho e à Bossa Nova, paixão de minha mãe. As brincadeiras que aquela cantora fazia com a voz me encantavam. A mim soavam como um sax humano. Mais tarde, pude testemunhar que o brincar por entre gêneros musicais era para poucos. Era para ela. E ela passeava. Parecia que nada a freava. Aquilo me seduzia. Sua liberdade de falar e fazer. Seu cair e renascer. Seu amor pelos filhos. Nunca quis me enquadrar em nada. Me acorrentar para caber em quadrados inventados por homens que não compreendem meu viver. Ela era irrotulável. Era só Elza. Única neste planeta. Não sou ninguém para homenagear alguém. Por isso, só reflito: em como vozes podem nos ressoar tão fundo; em como todos podemos exemplificar com nosso mundo; em como cada vida que nos esbarra nos sulca profundo; em como atitudes podem ser um solo tão fecundo de ideias, ideais, valores e pendores. A mim, histórias fortes de femininas graves vozes são um por quê achar meu porquê. Para existir. Para que minha vida não tenha só fotos de sei lá o que. Que na minha parede haja um quê que inspire um quem. Seja o quem quem for. Mas só terá se eu for. Se tiver a coragem de ser. Ela era ela. Tento ser eu. E você, quem é?
  • 8. Joseane Canova Terapeuta reiki JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição A mulher do fim do mundo O nome dela era Elza, mas podia ser Maria, Iara, Janaína, Simone, Jussara… Tamanha história de sofrimento e superação que viveu, como tantas mulheres do nosso Brasil. Ficou conhecida pela voz forte, potente, rouca e rasgada. Vinda diretamente do planeta fome, descobriu na música o seu alicerce para enfrentar tantas dores, perdas, desilusões, críticas e suportar dois casamentos cheios de violências e traições. Não à toa cantou até o final da vida. Esse era o seu grande combustível. Lavou a alma nos versos “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, levando mulheres a repensar e denunciar no 180 as violências domésticas para não passar o que ela passou. Transmitia, através da música, as suas vivências e, assim, as latas de água que carregava, desde a infância, iam ficando menos pesadas. Será que Deus é mulher? Agora Elza poderá descobrir pessoalmente. Acesso os registros Akáshicos para escrever meus textos e transmitir o que vibra no meu coração. Sou apaixonada pela escrita e uso essa ferramenta para expressar o que penso e sinto para o mundo.
  • 9. Mariana Delphino Artista Visual JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição A Aparição Outro dia, lia um texto em que o autor se referia à estreia de Elza Soares no cenário artístico brasileiro como “aparição deplorável”. Mas, ele se esmerou para explicar que tal julgamento se baseou na sua aparência, suas vestes paupérrimas que davam notícias, que atestam sua origem social. E, claro, antes que ela abrisse a boca e conduzisse a todos ao seu mundo musical. Singular, autêntico, quente, feminino, levando os holofotes para o reconhecimento das desigualdades sociais negadas, silenciadas. Para mim, Elza fez a primeira aparição quando a vi em um programa de televisão cantando “Meu Guri”, de Chico Buarque. Havia tanto clamor, dor, lágrimas e apelo à humanidade, educação, empatia, fraternidade e equidade no timbre da sua voz que trazia notas do sentimento de desamparo e exclusão vivenciados por ela também, naquela época, e ainda tão marcantes, compondo, como aponta Silvio Almeida, atualmente, o racismo estrutural. A segunda aparição de Elza foi em um show beneficente ao ar livre, no Parque Farroupilha (Redenção) em Porto Alegre, em 2003. Era uma manhã fria e nublada de domingo, ela estava no palco vestindo uma malha preta e aquecia o pescoço com uma singela manta cor de rosa. O que espantava o frio, certamente, era a dança, e ela cantava de forma sensual e provocativa “O Neguinho e a Senhorita” (1966), composta por Neguinho da Beija-Flor e, de Lupicínio Rodrigues, grande compositor gaúcho, ela cantou “Se Acaso Você Chegasse”. A terceira aparição de Elza para mim foi no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em 2015. De repente, ela surge, vestida de branco, conduzida em uma cadeira de rodas. Minha reação foi levantar-me e acenar em reverência. Comentei tal episódio com minha amiga Sílvia M. Prado que, alguns meses depois, me chamou para assistirmos ao seu show em Porto Alegre. “Elza - A Mulher do Fim do Mundo” (2016) e, nesse dia, da cadeira ela cantou sua composição “Coração do Mar” e nos encantou. Havia um clima de descontração, alguém comentou que ela costumava receber alguns fãs no camarim após seus shows e, imediatamente, nos colocamos na fila e fomos recebidas com direito a registros fotográficos. Era a nossa aparição, no mundo de Elza Soares. Foto: Silvia Maria Prado
  • 10. Luciasouzacosta7@gmail.com JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição O Dia era 23 de junho Do ano de 1930 Nascia Elza Gomes da Conceição No subúrbio do Rio de Janeiro. Tendo por pai Avelino Gomes E por mãe Rosária Maria da Conceição O Pai era operário E a mãe lavadeira por profissão. Teve uma infância difícil Sendo obrigada a se casar Com 12 anos de idade Ela subiu ao altar. E logo com 13 anos Ganhou seu primeiro filho Que viveu por pouco tempo Dilacerando- lhe o peito já sofrido. Quando tinha 15 anos Novamente engravidou Sua alegria durou pouco A morte o arrebatou. Passaram-se então 10 anos Desse fato ocorrido Elza ficou viúva Com a morte do marido. A vida não lhe foi fácil Dos "limões" fez limonada Tragédias e reviravoltas Todas foram superadas. Famosa pela voz grave e rouca Flertou com vários gêneros musicais Como Samba, Jazz, Bossa nova MPB, Rock e outros mais. Divina Elza Lucia Costa Poetisa Tornou-se mundialmente conhecida Como a cantora do milênio Mas sempre fiel às suas raízes Ao povo brasileiro agradecendo. Da infância pobre ao sucesso Que segue cativando gerações Elza foi um exemplo de fé de luta e superações. Elza em vida viajou Por boa parte do mundo Foi do inferno ao céu Sem desistir um segundo. Vindo de família negra Sofreu muito preconceito Ela dizia que racismo É coisa de branco para fazer mal ao negro. É emocionante falar de Elza Que tanto sofreu e superou Ela é o grito dos oprimidos Daqueles que sentem dor. Que maravilha poder dizer Que somos contemporâneos Dessa estrela sem igual Que brilhou ao longo dos anos. Em 20 de janeiro de 2022 às 15:45 Uma nota triste chegou Avisando para o mundo que a morte a arrebatou. Deixando um vazio enorme Uma tristeza sem fim Foi cantar em outros planos Elza virou Querubim. Salve...Salve Elza Soares, Teu canto sempre ecoará Nos corações dos Brasileiros Que irão sempre te admirar.
  • 11. Elza Soares - Biografia WEB TV Facha JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Dica de Documentário: Rosemar Silva Edição Jornal Mente Ativa O que nos faz admirar uma pessoa? O que faz uma pessoa ser reconhecida e idolatrada? Talento, carisma, garra, ter consciência de sua existência, seguir se aperfeiçoando e ser apoio para as novas gerações. Elza Gomes da Conceição ou, como ficou mundialmente conhecida, Elza Soares. Era tudo isso, uma mulher que não esqueceu suas origens e aproveitou a ingenuidade de criança e, mesmo diante das dificuldades financeiras da família, vivenciou a alegria na simplicidade dos momentos. Desde lá, já mostrava a que veio: ser uma das vozes que mais representou o povo brasileiro. Um ser humano, uma mulher negra que rompeu barreiras até o fim, pois, como dizia na canção “era a mulher do fim do mundo” assim como, são as muitas mulheres negras brasileiras, base familiar e social e, ao mesmo tempo, tão invisibilizadas. O documental da WEB TV FACHA traz um pouco da trajetória de Elza por Elza.
  • 12. Mulher do fim do mundo Canta conosco nossas lágrimas e carnavais dançantes Nossa luta é dura mas nosso canto é forte E ecoa, tua música ecoa naqueles que vieram depois Te faz leito das nossas dores Te faz força na nossa voz Mandi Moreira - Outubro/2020 ODOYÁ Só reconhece o prazer do estaleiro quem entende porque não é sempre fevereiro... E dança conforme a maré, se alimenta da chuva, e cresce com o vento. O tempo, menino-ancião, não mete medo em quem é mãe e rainha da própria imensidão. (Jeane Bordignon) JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Desenho - Mandi Moreira Desenho - Mandi Moreira
  • 13. Jeane Bordignon voos.e.palavras JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Elza Soares era uma força da natureza. A menina que veio do planeta fome, a moça que ousou viver um amor e foi acusada de destruir um casamento, a esposa que usou de todas as forças que pôde para tentar salvar um marido alcoólatra, a mulher que saiu de um casamento nocivo e foi muito julgada por isso, a mãe que enterrou quatro filhos… Como pode uma mulher, depois de tudo isso, ainda ter forças para empunhar o microfone e cantar com energia? Tive o privilégio de ver Elza no palco, em 2016. Um show da programação das Olimpíadas do Rio. A atração era Johnny Hooker (que estava em êxtase, sentindo-se diante de uma deusa) e a rainha era participação especial. Entrou carregada, cantou sentada…mas, mesmo com o corpo debilitado, não dá para explicar a energia que aquela mulher emanava. Mais de 80 anos, com dores na coluna, mas estava lá, cantando “você vai se arrepender de levantar a mão pra mim” e incentivando o público a ligar para o 180 e a ter atitude diante da violência contra mulheres. Reverenciando também as conquistas das mulheres pretas, como a judoca Rafaela Silva, que ganhou o ouro nos jogos daquele ano. Bradando que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, como nunca nos deixou esquecer. Fazendo aquela multidão repetir com ela: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Uma verdade que ela soube muitas vezes nos seus 91 anos de vida. Ser mulher nunca é fácil. Mulher preta, muito mais difícil. Uma mãe preta, então... Essa era Elza. Podia aproveitar a idade avançada para ficar em casa descansando, mas preferia estar no palco, bradando sua voz potente em letras que tocavam em muitas feridas da sociedade. Incentivando outras mulheres a não se calarem. A terem força para, assim como ela fez um dia, saírem de um relacionamento onde o respeito já foi embora, a não aceitarem violência. A serem donas de si. “A mulher de dentro de cada um não quer mais silêncio”, cantou no disco de 2018. Como não se inspirar numa mulher assim? Acredito que nosso sentimento não deve ser de tristeza, mas de gratidão, porque pudemos ter Elza nesse plano por 91 anos. Foi uma vida intensa e muito rica. Bem vivida. Quando um ciclo se fecha assim é bonito, não deve ser motivo de dor. E a gente sabe que, quem nasceu para estrela, é eterna. Elza encerrou sua viagem nesse plano como profetizou na música: “Mulher do fim do mundo Eu sou e vou até o fim cantar” ELZA ETERNA
  • 14. Cíntia Colares Jornalista e Poeta JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Não peça a uma mulher negra para ser mansa, principalmente quando estiveres ultrapassando os limites que você deveria saber e respeitar. Não espere nem ouse me pedir subserviência travestida de discurso por mais humildade. Observe e rapidamente me reconhecerás: Soldada sempre pronta, sempre na luta. Palavras doces guardo aos que assim caminham e me abordam. A quem tenta me colocar uma mordaça não se iluda: não ganharás tapinha nas costas. Nem sorriso. Sentirás minhas garras e solto somente quando entender que, na tua frente, está uma mulher negra. Entende o significado disso? Corre, você está atrasado. Se pisar manso, terás fala suave, caminho doce. Se pisar forte, tentar impedir minhas pegadas ou voz, atiçarás minhas garras e, quando te deres conta, os gritos de liberdade são para você, você mesmo e todos estarão ouvindo. E então não corra. Se vire. Se reinvente. Se guarde Se recolha e se apresente como deve. Como quem respeita a nós que geramos tod@s. Temos em nós o dom de gerar, gestar e sustentar a vida. Amélia? Não, meu senhor, não. Endereço e tempo errado. Teias? Teias temos nós, cuidado, seu moço... Não deitamos em camas prontas, porque sequer descansamos. Estamos erguidas, marchamos na nossa estrada, não queremos nada dado, não aceitamos nada imposto, não nos julgue pelos seus hábitos de surfar em ondas alheias. Nós provocamos tsunamis. Somos mulheres negras. Você já entendeu o que é isso? Corra, você está atrasado. Sou Flor de Lótus. Sou Cíntia Colares Jornalista e poeta SUBSERVIÊNCIA NÃO É COMIGO! Ilustração: Paulo Correa
  • 15. Grasiela Rodrigues Profe de História JORNAL MENTE ATIVA Fevereiro de 2022 - 16º edição Dona de meu Ori, dona de mim, presente na minha vida até quando não sabia. Sentia uma energia, um poder, que até pouco tempo não fazia parte do meu vocabulário. Hoje posso dizer que é axé. Aprendi a te amar, respeitar os percursos do rio que foi designado a mim, rios profundos que mergulho em mim, rios rasos onde o que importa é olhar a superfície. Quando o rio estava turvo, revolto, você estava lá para segurar a minha mão, mostrando a direção a seguir. Me ensinando que a vida é feita de rios leves e turbulentos, calmaria e enxurrada. Carrego em mim parte da tua essência, amor, lealdade, diplomacia, doçura e estratégia. Mãe Oxum é o meu refúgio, a certeza da orixalidade em minha vida, é a correnteza leve que me acalma. Oxum-se!! CARTA A OXUM