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AMOR EM QUATRO IDIOMAS




I
Amélia está desenhando novas joias quando Vitor chega e coloca duas
passagens de avião em cima do desenho.
- Pode começar a arrumar as malas, meu amor... partimos daqui a uma
semana.
- Vitor... – murmura Amélia, quase suspirando. Ela olha as passagens e sorri –
Florença?
- Só pra começar. Depois vamos para Veneza, Milão, Amsterdã, Madri,
Barcelona... como combinamos.
- Meu Deus, mas assim vamos passar muito tempo fora... e o frigorífico, a
Rurbana?
- Já está tudo encaminhado – Vitor conta tranquilamente – A Fátima vai cuidar
do frigorífico, e administra também de lá os pedidos da Rurbana. Já combinei
também com a Manu, ela e a Pérola vão cuidar da produção das joias em
Girassol.
- Você pensou em tudo, né? – Amélia sorri.
- Mas claro! Nós vamos viajar em lua-de-mel, sem pensar em mais nada... só
vivendo como se fosse um sonho.
- Você é um sonho! Um homem maravilhoso, que faz de mim uma mulher
imensamente feliz... – Amélia passa os braços em torno do pescoço de Vitor,
fitando-o de um jeito apaixonado.
- É tudo que eu quero... te fazer feliz! – ele devolve o olhar de paixão, e
lentamente aproxima seus lábios dos dela, em um beijo intenso.

Uma semana depois, Vitor espera na sala, impaciente:
- Vamos, Amélia! Assim a gente perde o voo!
- Tô indo, é só fechar a mala – ela responde do quarto.
- Como assim? Sua mala já não estava pronta?
- Estava, mas eu tinha que conferir se não faltava nada – explica Amélia,
entrando na sala.
- Se faltar algo a gente compra lá. Não sei por que mulher é tão complicada,
precisa levar metade da casa na mala... – ele brinca.
Amélia olha fixamente para ele, querendo rir:
- Porque a gente tem que levar tudo que vocês homens não levam e depois
nos pedem! Ah, Vitor, minha mala nem está tão grande assim...
Ele examina a mala de Amélia com um olhar zombeteiro:
- É, pensando que nós vamos ficar bastante tempo fora, até que você não
exagerou...
Ela ri e questiona:
- E então, você não estava com pressa?
- Sim, sim, mas acho que dá tempo de mais uma coisa – ele dá um beijo
apaixonado em Amélia, sorri e só então vai abrir a porta.
Com um sorriso de encantamento nos lábios, ela o segue.

Trilha sonora: Con te partiro – Andrea Bocelli
http://www.youtube.com/watch?v=tcrfvP11Hbo

Chegando ao aeroporto, eles vão direto para a fila do check-in. Enquanto
esperam a sua vez, Vitor passa os braços em torno da cintura de Amélia e a
contempla.
- O que foi? – ela questiona, sorrindo.
- Só estou olhando o quanto minha mulher é linda...
- Ah, Vitor... – ela murmura de um jeito derretido.
A fila anda um pouco, Vitor empurra o carrinho com as malas sem soltar
totalmente Amélia. Quando param, ele a encara novamente:
- Linda! – Vitor sussurra, e se aproxima mais para beijá-la.
Amélia empurra delicadamente o rosto dele, com o dedo nos lábios do amado:
- Aqui não...
- Por quê? – ele reclama com voz me menino manhoso.
- Vitor, nós estamos no meio do aeroporto. Vamos ficar nos comportando como
um casal adolescente, sem noção de limite? – ela repreende com doçura.
Como a fila andou novamente, Vitor dá uns passos à frente antes de
responder, trazendo Amélia junto:
- É que ao seu lado eu me sinto sempre como um adolescente que está
amando pela primeira vez...
- Eu também, meu amor. Mas se controla um pouquinho...
- Tá bem – ele resigna-se, e fica apenas acariciando o rosto dela, até serem
chamados no balcão.

Após despacharem as malas, eles vão tomar um café, para esperar até a hora
do voo. Vitor fica roçando nos dedos de Amélia sobre a mesa e comenta:
- Lembra aquela noite em que jantamos juntos em Juruanã, tendo que disfarçar
o que estávamos sentindo?
- Lembro. Quando o Max estava no hospital?
Vitor faz uma careta ao ouvir o nome do ex-sócio:
- É... – ele respira fundo e fica com a expressão amena novamente – Então,
naquela noite, eu estava louco para fazer assim...
Ele entrelaça seus dedos com os de Amélia, e traz a mão dela para junto de
seus lábios, percorrendo o dorso da mão dela com beijos. Desce até o pulso
beijando, e então olha para Amélia com um sorriso. Ela também está sorrindo,
com os olhos brilhando, encantada.
- Você me deixa sem palavras... – é só o que ela consegue dizer.
- Seu olhar e seu sorriso já dizem tudo que eu preciso.
- Ai, Vitor... como você consegue ser sempre assim, tão romântico?
- Nem eu sei. Foi você quem me deixou assim, culpa sua – ele ri.
Amélia também ri, e fica contemplando Vitor. Ele se levanta:
- Você espera aqui um pouquinho, que eu vou buscar uma encomenda e já
venho?
- Que encomenda?
- Você já vai saber curiosa... – ele brinca, dá um beijinho nos lábios dela e sai.
Amélia fica ansiosa, a cada pequeno gole de café ela olha para a porta,
esperando ver Vitor de volta. Finalmente ele chega, senta-se, e estende uma
caixinha de veludo para Amélia:
- Mandei fazer especialmente para usarmos durante nossa viagem – explica.
Ela abre a caixinha e fica boquiaberta. Há duas medalhas de ouro branco com
uma imagem em relevo, junto a correntes do mesmo material.
- É São Valentim, o protetor dos apaixonados – Vitor diz, pegando uma das
medalhas e olhando na parte de trás – É, essa é a sua.
Ele se levanta e coloca a corrente no pescoço de Amélia, que segura a
medalha entre os dedos e lê o nome gravado no verso:
- Mas aqui está escrito “Vitor”...
- Sim. E na minha está escrito Amélia. Nós somos um do outro, não somos? –
ele esclarece, pegando a outra medalha para colocar também.
Amélia se levanta e o ajuda a fechar a corrente, depois o abraça forte e lhe dá
três beijos nos lábios:
- Vitor... que lindo! Você não existe... – ela murmura, com a voz embargada, os
olhos quase marejados.

Algum tempo depois, eles vão para o avião e se acomodam em seus lugares.
Quando é dado o aviso de que o avião vai decolar, Vitor segura a mão de
Amélia e eles ficam se olhando, e sorrindo, cheios de expectativa.


II
Vitor já havia reservado uma suíte num dos melhores hotéis de Florença. Ao
chegarem, Amélia se arruma para almoçarem e depois irem visitar os pontos
turísticos da cidade.
- Vou tomar um banho antes, está bem? – avisa Vitor.
- Vai lá, eu espero – sorri Amélia.
Enquanto Vitor vai para o banheiro, Amélia caminha até a sacada do quarto.
Observa atentamente a vista por alguns instantes, até que seu olhar vai ficando
perdido. Em sua mente, ela vai revendo tudo que viveu com Vitor até aquele
instante.

Trilha sonora: Eppure Sentire – Elisa
http://www.youtube.com/watch?v=llew0MMIxDo

Lembra-se desde quando sentia o chão fugir de seus pés diante dele, mas
achava que não passaria de um sentimento platônico... o dia em que seus
olhares se encontraram ao experimentar a cama na estalagem... o primeiro
beijo... a angústia quando ele desapareceu... a alegria do reencontro...
E depois disso, tantos beijos e declarações trocados no quarto da estalagem,
às escondidas, o medo da vingança de Max, o começo da sociedade das joias,
a revelação aos filhos e o apoio deles, o atentado na noite do lançamento do
catálogo, as loucuras de Vitor aparecendo de surpresa em seu quarto, mais
beijos e declarações... Ela ri ao recordar do encontro no salão de beleza, onde
chegara disfarçada. Naquele dia, Vitor disse que iriam morar na Europa,
citando as cidades que agora começavam a visitar. Depois continuaram se
encontrando furtivamente até o dia em que Vitor levou o tiro...
Amélia engole em seco e não consegue evitar as lágrimas ao lembrar-se
daquela noite, da dor de vê-lo ferido, quase perdendo a vida... Ela solta um
suspiro, dizendo a si mesma que aquela dor os uniu ainda mais, porque depois
daquele momento jamais se separaram. E sorri, recordando dos dias
maravilhosos no Jalapão... a vida só de alegrias desde então...

Ela estava ainda com o olhar perdido quando Vitor se aproxima e a abraça por
trás. Ele fica preocupado ao perceber o rosto úmido dela:
- Amélia, você está chorando?
- Meu amor... estava lembrando de tudo que vivemos até aqui... nossa, nós
passamos por tanta coisa para hoje podermos estar vivendo essa felicidade...
- É mesmo. Talvez seja justamente por isso que nosso amor é tão forte... já
superou muita coisa – ele responde virando Amélia de frente para ele, e
acariciando os cabelos dela, enquanto com a outra mão enxuga uma lágrima
que ainda estava caindo.
Eles trocam um beijo delicado, e Amélia pergunta:
- Está com fome?
- Estou... doido por uma legítima pasta italiana.
- Andiamo! – ela diz, puxando o pela mão.
Vitor a contém, retrucando:
- Io non parlo italiano, donna...
- Ma... tu stai parlando!
- Que nada... – ele ri – só tem uma coisa que eu realmente sei “parlar” – ele
olha bem nos olhos de Amélia – Io ti voglio bene, amore mio...
Ela solta um suspiro apaixonado e murmura:
- Tu sei l’amore della mia vita...
- Eu sou o amor da sua vida, é isso?
Amélia dá um grande sorriso:
- Isso!
- Ah, essa foi fácil... – Vitor brinca.
- Bobo... ou melhor, “scemo”. Andiamo a mangiare... – ela vai puxando-o pela
mão.
- “Mangiare” eu sei, é comer – ele ri, enquanto deixam o quarto.

Após o almoço, Amélia leva Vitor para conhecer vários museus e igrejas de
Florença, como o Duomo de Santa Maria dei Fiori, a Galleria degli Uffizi,
Palazzo Strozzi e o Palazzo Vechio.
Ao passarem pela Ponte Vecchio, sobre o rio Arno, Amélia chama a atenção de
Vitor para os vários cadeados colocados na estrutura dela:
- Os casais vinham colocar esses cadeados aqui. Existia uma tradição de que
ao trancar o cadeado e lançar a chave ao rio, os amantes tornavam-se
eternamente ligados.
- Onde eu arrumo um cadeado, agora? – diz Vitor, em tom maroto.
Ela ri antes de responder:
- Como tinha muitos turistas colocando cadeados, a remoção estava
estragando a estrutura da ponte. Por isso, hoje há multa para quem é flagrado
fazendo isso...
- Quanto?
- Cinquenta euros.
- Ah, mas o que são cinquenta euros perto de uma vida toda ao lado da mulher
que eu amo? – ele retruca.
Amélia acha graça e devolve:
- Nós dois não precisamos de cadeado nenhum... já estamos eternamente
ligados – ela passa os braços em torno do pescoço dele.
- Estamos – concorda Vitor, aproximando os lábios.
Eles trocam um beijo demorado ali mesmo, no meio da ponte, e seguem o
passeio.

Trilha Sonora: Amare Veramente – Laura Pausini
http://www.youtube.com/watch?v=tOfjDd-nQ9c


Ainda na ponte, Amélia pára e comenta:
- Escuta, essa música...
- O que tem ela?
- Ela diz muito do que sinto por você. Esse trecho, vou traduzir:
“Tudo passa rapidamente ao nosso redor
Você pertence a mim agora e eu sei
Antes eu tinha o coração adormecido para
Amar verdadeiramente”
- Nossa... – Vitor balbucia, impressionado.
- Espera, tem mais:
“Você está em minha vida mais do que nunca
Além do muro dos meus silêncios
Um suspiro de serenidade
O amanhecer de uma nova liberdade”
- Eu represento tudo isso pra você? – ele pergunta, ficando emocionado.
Amélia olha bem nos olhos dele e aponta na direção do som, traduzindo o
trecho final:
“O que eu nunca entendi
Está agora tão claro a meus olhos
Você sabe amar de verdade, e você sabe
Chegar onde nenhum outro jamais esteve.”
Vitor e Amélia se olham, ambos com os olhos marejados, e ao mesmo tempo
se juntam em um abraço bem forte, até que os lábios vão se procurando. E
eles se beijam de um jeito cheio de amor.
- Te amo, te amo... – sussurra Vitor.
- Também te amo... – devolve Amélia, também sussurando.
Vitor respira fundo, tentando voltar ao normal:
- Ai... como você me faz ficar emocionado desse jeito em público? – ele brinca,
enxugando uma lágrima do canto do olho.
- Não se preocupa... nós estamos na Itália, aqui as emoções ficam à flor da
pele. Ninguém vai reparar – ela responde com doçura, sorrindo.
- É verdade... você e eu aqui, juntos e felizes - Vitor sorri também – E o que
mais você vai me mostrar nessa cidade linda?
- Mais palácios e galerias. Ah, e também a Piazzale Michelangelo!
- Então vamos em frente, amore mio... – ele caminha, segurando a mão de
Amélia com os dedos entrelaçados.


III




Logo depois de sair da ponte, eles se deparam com o Palazzo Pitti.
- Olha, Vitor, que bonito! – exclama Amélia.
- É mesmo – ele a abraça por trás, e ficam alguns instantes assim, em silêncio
e abraçados, contemplando o palácio – A gente deveria morar num lugar
assim...
- Um palácio? – ela fica curiosa.
- Sim. Você é uma rainha, merece nada menos do que um palácio.
- Ah, Vitor... – murmura Amélia, achando aquilo muito fofo.
Vitor sorri, lembrando de algo:
- E além disso, eu prometi pro Fred que ia tratar você como uma rainha, sabia?
- Sério?
- Sério. Foi no dia em que ele contou pra Manu sobre nós. Eu disse que não
sabia como retribuir o apoio e a confiança deles. E o seu filho nem hesitou –
ele imita a voz de Fred – “Eu sei como: tratando a dona Amélia como ela
merece, como uma rainha!”
- Que bonitinho! – ela exclama, tentando olhar para Vitor.
- Mas nem precisava ele dizer isso, né? – Vitor vira Amélia para ele e diz
chegando bem perto dos lábios dela – Minha rainha...
Ele nem a deixa responder e já cola seus lábios aos dela.
Depois de um beijo carinhoso, Amélia diz:
- Vamos entrar no palácio? Quero lhe mostrar a Galeria Palatina, cheia de
obras renascentistas. Tem vários museus lá dentro também.
- E eu consigo dizer não pra você? – ele retruca.
Ela ri e puxa Vitor pela mão. Eles passam o restante da tarde vendo as obras
da Galeria Palatina e dos muses da Prata e da Porcelana. Saem do palácio já à
noite.

Trilha sonora: Amo Te – Biagio Antonacci
http://www.youtube.com/watch?v=FuPd01DfeeA&feature=related

Ao chegarem de volta ao quarto do hotel, Vitor se joga na cama:
- Nossa, acho que nunca caminhei tanto!
- Exagerado...
- Amélia, você quis me mostrar Florença toda num dia!
Ela ri:
- Ih, tem muito pra ver ainda... em muitos lugares a gente nem entrou.
- Ainda bem que a gente não vai ficar muitos dias aqui – ele brinca - Logo
vamos para Veneza, depois Milão...
- Vitor, como nós já estamos na Itália, podemos passar em Roma também? No
Vaticano... pedir uma benção do papa.
Vitor senta na cama:
- Se você quer, nós vamos.
- Quero, sim – ela responde, segurando a medalha de São Valentim.
- Então, Roma já está no roteiro.
- Obrigada, amor – Amélia atira um beijo e se afasta.
- Onde você vai?
- Tomar um banho – ela responde já quase na porta do banheiro.
- Hummm – ele murmura, com um olhar malicioso – Será que...
Amélia o chama fazendo um gesto com o dedo indicador. Vitor levanta e vai
depressa até ela:
- Ué, não estava cansado? – ela brinca.
- Foi só pensar em tomar banho juntinho com você que o cansaço sumiu...
Amélia ri, e entra no banheiro. Vitor abre o ziper do vestido dela, fazendo-o cair
no chão. Depois vai cuidadosamente tirando a roupa íntima de Amélia,
contemplando o corpo dela. Enquanto ela entra na banheira, ele tira
rapidamente a própria roupa, e entra também, abraçando-a. Vitor passa as
mãos pelo corpo de Amélia, esfregando a água misturada com sabonete
líquido e sais. Começa massageando o pescoço e vai descendo, até chegar
aos pés. Então Amélia aproveita e pega um dos pés dele, começando uma
massagem.
- Você caminhou muito hoje. Assim vai passar a dor nos pés – ela explica,
trocando de pé e pressionando a sola com as pontas de seus dedos.
Vitor fecha os olhos por alguns instantes, apenas curtindo aquela sensação.
- Humm, isso é bom! Acho que eu vou querer uma massagem dessa todo dia...
– ele brinca.
- Ah, é? – Amélia ri e joga um pouco de água nele.
- Não... eu quero muito mais que a massagem... – Vitor responde, vindo para
cima dela até encaixarem seus corpos e seus lábios.
O beijo vai ficando mais intenso e eles se amam ali na banheira. Depois Amélia
fica aninhada nos braços de Vitor por algum tempo, até que pergunta:
- Vitor, há quanto tempo estamos aqui dentro da água?
- Que importa?
- A gente esqueceu da vida aqui... – ela ri.
- E estava tão bom... – ele retruca, com um sorriso travesso.
- Estava – Amélia também sorri – Mas já é hora de sair.
Ela se levanta e pega uma toalha. Vitor sai da banheira rapidamente e pega o
roupão de Amélia, ajudando-a colocar.
- Meu Deus, até isso você faz? – ela murmura, encantada.
- É, estou tentando ser perfeito – ele brinca.
- Bobo...
Vitor também veste um roupão. Eles se recostam na cama, e de tão cansados
acabam dormindo logo.

No dia seguinte, Amélia leva Vitor até o Palazzo Vechio, do qual só tinham
passado na frente. Desta vez eles entram para visitar os pátios e salas, com
todas as suas obras de arte. Estão contemplando o primeiro pátio quando
ouvem uma voz masculina:
- Amélia?
Os dois se viram e se deparam com um homem alto, de cabelos grisalhos,
sorriso cativante, com aquele típico charme dos italianos.
- Andrea! Há quanto tempo! – exclama Amélia, reconhecendo-o.
- Amélia, é você mesma? Como pode estar ainda mais bonita do que a última
vez que nos vimos?
Vitor engole em seco, esperando pela resposta da esposa.


IV
Amélia segura no braço de Vitor e o apresenta:
- Andrea, esse é meu marido, Vitor Vilar – ela olha para o marido – Vitor, o
Andrea é um velho amigo, aqui de Florença.
- Andrea Antonacci, muito prazer – o italiano estende a mão para Vitor, que
aperta a mão dele, ainda meio inseguro.
- Você mora aqui mesmo, em Florença? – pergunta Vitor, analisando o outro
com o olhar.
- Um pouco em Florença, um pouco em Milão. Tenho uma grife de moda
masculina.
- O Andrea era modelo também, na mesma época que eu. De vez em quando
nos encontrávamos nos bastidores – lembra Amélia, sorrindo para o amigo.
- É mesmo... – Andrea também sorri - você era a mais linda de todas,
exuberante. Pena que logo parou de desfilar porque casou com um fazendeiro,
não foi?
- Foi... – ela fica com uma sombra no olhar - larguei tudo por causa do Max.
Mas ele morreu tem algum tempo e eu refiz minha vida, casei novamente – ela
olha para Vitor, voltando a sorrir – e estou mais feliz do que nunca.
- Que bom, Amélia... Fico feliz por você. Eu já não tive a mesma sorte, já me
separei duas vezes e estou sozinho há uns cinco anos. Às acho que nunca vou
encontrar uma mulher que me deixe perdidamente apaixonado.
- Logo você falando assim... as minhas colegas de passarela brigavam por
causa do Andrea, sabia, Vitor? – revela Amélia.
- Ah, nem tanto... – o italiano ri – Vocês vão ficar quanto tempo em Florença?
Podíamos marcar um jantar.
- Estamos em lua-de-mel pela Europa, daqui há dois dias já vamos para Roma,
não é, amor? – Vitor apressa-se em explicar.
- Sim – ela confirma – Mas isso não inviabiliza um jantar.
- Amanhã, que tal? Vou levá-los para conhecer o melhor restaurante de
Florença – convida Andrea.
Amélia olha para Vitor de um jeito de quem pede para ele aceitar.
- Está bem. Jantaremos amanhã – ele concorda, tenso.
Após trocarem telefones, Andrea se afasta.

Trilha sonora: Vivimi – Laura Pausini
http://www.youtube.com/watch?v=e1VDNwYg990

Vitor fica calado por alguns instantes, como se estivesse digerindo tudo que
ouviu.
- Amor... algum problema? – pergunta Amélia, preocupada.
- Você e esse Andrea... já tiveram alguma coisa além de amizade? – ele
questiona, bastante incomodado.
Amélia começa a rir:
- Vitor, você ficou com ciúme? – ela continua rindo – Nunca tive nada com o
Andrea... e mesmo se tivesse acontecido um namoro, algo assim, teria sido
muito antes de te conhecer.
- Sei lá, o jeito que olhou pra você, que falou da sua beleza... não gostei, ele
parecia que estava cobiçando a minha mulher – Vitor dá enfase ao “minha”.
- Mesmo se estivesse, eu não daria importância. – Amélia olha nos olhos dele –
É você que eu amo, ouviu?
- Eu sei, meu amor, desculpa... – ele a olha com arrependimento – Mas assim
como você às vezes pensa que eu possa querer uma mulher mais jovem, da
minha idade, eu também fico inseguro de vez em quando, pensando que de
repente você pode me achar muito imaturo e querer um homem com mais
maturidade, experiência de vida...
- Nunca mais pense isso... Como eu poderia não te querer mais? Só se eu
fosse muito burra. Eu já tenho o melhor homem do mundo ao meu lado.
- Você pensa isso mesmo? – ele devolve com um sorriso emocionado.
- O que mais eu preciso fazer pra te convencer?
- Nada. Só me beija – ele toma Amélia nos braços e beija seus lábios com
paixão.

Amélia e Vitor passeiam por todas as salas do palácio, depois almoçam num
restaurante ali perto e seguem para outros museus e galerias.
No outro dia, eles visitam o centro histórico e mais obras de arte. Ao
retornarem ao hotel, no final da tarde, recebem da recepcionista um recado
deixado por Andrea, avisando que o jantar teria que ser cancelado, porque ele
precisara ir para Milão às pressas.
- Ah, que pena... – murmura Amélia.
- Eu não acho – retruca Vitor, segurando-se para não rir.
- É, eu imagino que você tenha gostado da notícia – ela devolve com leve
ironia – Mas quem sabe a gente consegue jantar com o Andrea em Milão?
- Tá bem interessada em jantar com esse cara, né? – Vitor não consegue
disfarçar o ciúme.
Amélia ri:
- Não... prefiro jantar com você – ela diz, passando os braços em torno do
pescoço dele – Mas eu adoraria poder conversar mais um pouco com meu
amigo Andrea...
Tenso, Vitor questiona:
- Você acha que ele é mais bonito do que eu?
- Desde quando você ficou tão inseguro? – devolve Amélia, sem perder a
calma.
- Não sei... me responde, por favor... – ele implora.
- No quarto eu respondo. Vamos – ela o conduz pela mão até o elevador. Eles
sobem em silêncio, Vitor bastante ansioso.


V
Após entrarem no quarto, Amélia larga a bolsa num canto e se posiciona bem
em frente a Vitor. Ela percorre o rosto dele com os dedos, enquanto vai
falando:
- Esses olhos profundamente verdes, esse nariz do tamanho exato, esses
lábios tão bem desenhados... – ela passa os dedos em torno dos lábios dele,
que tenta beijar os dedos dela.
Amélia sorri e vai descendo as mãos:
- Esses braços fortes, esse peito onde gosto tanto de repousar... – ela acaricia
os bíceps e o peitoral de Vitor - Você é tão perfeito que me dá até medo.
- Medo de quê?
- De que um dia eu descubra que você não é real... – ela sorri.
Vitor a puxa para seus braços e responde, sorrindo:
- Eu sou real, sim... – ele a beija com intensidade, e vai conduzindo-a até a
cama.
Amélia desabotoa a camisa de Vitor ao mesmo tempo em que ele tira a blusa
dela. Logo se livram das roupas que faltam e sentem seus corpos colados
como se fossem se fundir. Vitor beija o pescoço e o colo de Amélia, enquanto
suas mãos percorrem o corpo dela, que se entrega totalmente aos carinhos
dele. Eles se amam sem pressa, curtindo intensamente cada sensação que
provocam um no outro.

Eles acordam tarde no dia seguinte, e tomam café no quarto, intercalando
morangos e torradas com beijos.
Depois arrumam as malas. À tarde, partem para Roma.

Trilha sonora: Abbracciami – Nek
http://www.youtube.com/watch?v=-iUWn05NFlA&feature=related

Já na capital italiana, à caminho do hotel, eles passam em frente à Fontana de
Trevi. Amélia grita para o taxista:
- Pare, per favore!
- Que foi, Amélia? – pergunta Vitor.
- Vamos parar aqui um instante – ela se dirige ao taxista – Aspetta un attimo
(Espera um momento)?
O homem confirma com a cabeça. Amélia desce do carro, seguida por Vitor.
- Essa é a Fontana de Trevi.
- Sei, já ouvi falar – ele fica pensativo, observando a fonte – Acho que já estive
aqui... deve ter sido com meus pais, quando era pequeno. Minha mãe era
bastante religiosa, e uma vez meu pai a presenteou com uma viagem a Roma.
A única coisa que eu me lembro daquela viagem é de minha mãe chorando de
emoção ao ver o papa João Paulo II.
- É? Você nunca me contou isso – comenta Amélia, comovida.
- Minha mãe rezava tanto, e morreu tão cedo... cheguei a me revoltar contra
Deus, na época. Perdi a fé, sabe? Eu procurei esquecer tudo que tivesse a ver
com religião. Com o tempo eu fui me reaproximando de novo da igreja... mas
ainda guardo uma desconfiança, sabe?
- Vitor... – ela o abraça com carinho, e acaricia os cabelos dele.
- Talvez não seja por acaso que você me fez vir a Roma... e vai me levar ao
Vaticano. Será que eu consigo fazer as pazes com Deus? – Vitor questiona
com um sorriso meio triste.
- Eu te ajudo – Amélia garante, acarinhando o rosto dele.
Vitor abraça a esposa com força, e fica abraçado a ela por alguns instantes, em
silêncio, até que ao levantar os olhos vê o táxi parado.
- O taxista está esperando, meu amor.
- Já vamos, só me consegue uma moeda, antes?
Vitor encontra apenas duas moedas na carteira, e mostra para Amélia.
- Só precisamos de duas, mesmo... – ela sorri, pega uma das moedas da mão
dele, e ensina – Agora a gente vira de costas para a fonte, e joga a moeda.
Eles se posicionam e jogam as moedas na fonte.
- Pronto, garantimos nossa volta a Roma – ela sorri, e puxa Vitor pela mão –
Vem aqui, agora...
Amélia o leva até uma parte especial da Fontana di Trevi:
- Essa é a Fontanina degli Innamorati, ou Fontezinha dos Apaixonados. Reza a
lenda que os namorados que beberem juntos dessa fonte se amarão para
sempre.
- Mas eu vou te amar pra sempre de qualquer jeito... – alega Vitor, com um
olhar apaixonado.
- Eu também... – ela retribui o olhar – Mas quero cumprir essa tradição com
você.
Vitor sorri, e os dois se aproximam mais da Fontanina, bebem juntos de sua
água, e selam o amor eterno com um beijo.
- Será que o taxista ainda está nos esperando ou já desistiu? – Amélia ri.
- Espero que não – Vitor também ri.
- Tomara, porque ele está com nossas malas! – ela lembra, e corre para o táxi,
puxando Vitor pela mão.
O taxista continuava à espera, pacientemente.
- Scusa, signore, mi sono distratta nella Fontana. (Desculpa, senhor, nos
distraímos na Fontana) – diz Amélia, enquanto entram no carro.
- Tutto bene. La Fontana é magica per due innamorati.
- É vero – concorda Vitor, se esforçando para falar com a entonação bem
correta, o que provoca risos em Amélia.
- Falei errado? – ele pergunta, preocupa.
- Não, você está aprendendo direitinho.
- Eu tenho uma boa professora – Vitor dá uma piscadinha para ela.
Amélia sorri e acaricia o rosto dele, depois deita a cabeça em seu ombro,
ficando assim até chegarem ao hotel.

Depois de se acomodarem no quarto, Amélia avisa que vai descansar um
pouco.
- Enquanto isso, eu vou resolver umas coisas, tutto bene, amore mio? – ele
devolve, dando um beijo carinhoso nos lábios dela.
Amélia sorri:
- Você fica tão lindo falando em italiano...
- Allora io voglio aprendere a parlare solo per te. Acertei?
- Quase. Não se diz aprendere, se diz imparare – ela explica, recostando-se na
cama – Aprendere não está errado, mas é melhor imparare.
Vitor sorri e dá mais um beijo em Amélia, dizendo:
- Ritorno subito, amore mio, razão della mia vita...
Amélia fica repousando enquanto Vitor sai um pouco.




VI




Quando ele volta, ela está penteando os cabelos diante do espelho. Vitor a
abraça por trás e lhe dá um beijo no rosto.
- Eu consegui – ele avisa.
- O quê? – ela se vira, curiosa.
- Uma audiência com o papa. Amanhã, no começo da tarde, Sua Santidade vai
nos abençoar.
Amélia fica alguns instantes apenas olhando para Vitor, com os olhos
marejados.
- Como você conseguiu isso assim tão fácil? – ela finalmente questiona.
- Você não conhece meu poder de convencimento? – ele retruca, brincando.
- Conheço muito bem – ela ri, depois fica contemplando-o emocionada
novamente – Uma benção do papa... Sabe, uma vez estive em aqui em Roma
com o Max, e queria tanto essa benção... mas ele disse que era frescura, que o
papa era um padre como qualquer outro, acredita?
- Bem típico do Max menosprezar os desejos das outras pessoas... Mas não
vamos mais falar dele, né?
- É, não vamos estragar esse momento tão lindo lembrando daquele... Ah,
Vitor... – ela passa os braços em torno do pescoço dele – Nosso amor será
abençoado pelo papa!
Vitor acaricia o rosto dela, contemplando o brilho nos olhos de Amélia.
- Nosso amor já é abençoado... mas o que é importante pra você, é importante
pra mim também – ele afirma, beijando-a carinhosamente.
Depois de alguns beijos, Vitor pega uma sacola que tinha trazido na rua e
largara no chão ao entrar no quarto:
- Ah, no caminho de volta eu passei diante de uma loja e resolvi comprar um
presente pra você... pra usar hoje à noite.
Amélia tira de dentro da sacola um lindo vestido verde escuro, de tecido fluido,
com decote em v, cavas profundas, e uma faixa de cetim na cintura,
arrematada por um laço.
- Vitor... – ela murmura, impressionada – Pra que isso?
- Vamos sair para um jantar bem romântico, só nós dois – ele enfatiza o “só
nós dois”.
Amélia ri, entendendo a indireta:
- Nós não vamos encontrar o Andrea aqui em Roma.
- Acho bom – devolve Vitor, tentando conter o ciúme.
Amélia se olha no espelho com o vestido diante do corpo, depois o coloca
sobre a cama e avisa que vai tomar um banho. Depois é a vez de Vitor.
Enquanto ele se lava, ela faz a maquiagem, marcando bem os olhos com
delineador. Ajeita os cabelos em um coque meio soltinho, finalizado com uma
delicada presilha de capim-dourado, criação sua. Só então coloca o vestido e
chama Vitor para ajuda-la a fechar o zíper. Ele se aproxima, arrumando a
gravata, num tom parecido com o do vestido de Amélia, mas um pouco mais
claro. Enquanto fecha o zíper, Vitor aproveita para dar um beijo no pescoço
dela.
- Humm, que cheiro bom... Acho que vou abrir esse vestido de novo e...
- Agora não, amor... – ela responde com doçura, se afastando, colocando as
sandálias e finalmente parando diante dele – E então, como estou?
- Ma che bella donna! - ele exclama, maravilhado – Aceita a companhia deste
humilde ragazzo?
Sorrindo, Amélia encaixa seu braço no dele e saem para o jantar.
No restaurante, Vitor pede um bom vinho e eles curtem o clima de romance.

Trilha sonora: Amarti è L'immenso Per Me – Eros Ramazzotti
http://www.youtube.com/watch?v=rSwmnKH9YGc

O casal acorda cedo no dia seguinte. Amélia escolhe um vestido longo, de cor
creme, com um casaquinho leve quase do mesmo tom, e sapatilhas marrons.
Vitor coloca uma calça social quase da cor do vestido de Amélia, e uma camisa
branca com camiseta por baixo. Eles saem cedo para passear pelos museus
da Basílica de São Pedro.
Na Capela Sistina, Vitor fica boquiaberto, contemplando os famosos afrescos
de Michelangelo:
- Como eu demorei tanto para ver isso de perto? – questiona, sem tirar os
olhos do teto.
- Talvez porque você tinha que vir comigo... – responde Amélia, sorrindo.
Vitor olha para ela:
- Com certeza.
Eles ficam por alguns instantes paralisados, apenas trocando um olhar cheio
de amor. Depois seguem observando os demais afrescos da capela.
Quando se aproxima o horário da audiência, Vitor avisa:
- Vamos, amor? Chegou a hora.
- Vamos – ela confirma, soltando um suspiro de ansiedade.
Eles caminham de mãos dadas para o local onde receberão a benção. Vitor
sente um tremor na mão de Amélia.
- Você está tremendo, Amélia?
- Estou nervosa... Bobagem minha, né?
- Não... este é um momento especial pra você, tem todo o direito de ficar
nervosa – ele a tranquiliza.
Com a mão que está solta, Amélia mexe na medalha de São Valentim
pendurada em seu pescoço, e a ajeita bem no centro de seu colo. Depois faz
Vitor parar por um instante e arruma também a medalha dele, que estava
escondida sob a camiseta.
- Vamos pedir para abençoar nossas medalhas também, para que essa
proteção nunca nos falte.
- Sim... – concorda Vitor, tentando não demonstrar, mas ansioso também.

Diante do papa, ao receber a benção, Amélia deixa algumas lágrimas correrem
por seu rosto. Vitor olha para ela e sente os olhos marejados, comovido por vê-
la tão emocionada.
- Vão em paz, e que Deus os acompanhe – conclui o Santo Padre.
- Amém – dizem Amélia e Vitor, ao mesmo tempo.
Eles saem de lá devagarinho, sentindo uma paz inexplicável. Só ao chegarem
de volta ao pátio da Basílica, é que Amélia comenta:
- Acho que foi um dos momentos mais bonitos da minha vida – ela olha nos
olhos de Vitor – Obrigada por me proporcionar isso.
- Eu é que tenho que agradecer muito a Deus por ter colocado você na minha
vida, fazendo de mim um homem melhor. Hoje, aqui nesse lugar, tive certeza
que foi obra divina nossos caminhos terem se cruzados.
- Eu já tinha essa certeza... – Amélia sorri.
Vitor acaricia os cabelos dela antes de continuar:
- Já pensou, Amélia? Se você já não fizesse parte de mim, mesmo sem eu
perceber, talvez eu tivesse sucumbido naquela mata, quando caí com o avião...
Foi por você que eu busquei forças para sair daquela mata, foi você quem
salvou minha vida...
- Você também salvou a minha – ela devolve, deixando Vitor com um olhar
surpreso:
- Como?
- Me devolvendo a alegria de viver. E me mostrando que eu ainda tinha muita
coisa para fazer, para conhecer... – Amélia sorri.
Vitor também sorri, e dá um delicado beijo nos lábios dela, depois conclui:
- Tinha não... tem. Andiamo, amore mio, temos muito ainda que visitar em la
bella Itália.
VII




Depois de mais um dia visitando pontos turísticos e históricos de Roma, como
o Campidoglio e o Coliseu, Amélia e Vitor partem para Veneza.

Eles chegam ainda de manhã, e saem para conhecer a cidade. Logo
encontram a Basilica di San Marco, a mais famosa das igrejas de Veneza,
construída em estilo bizantino, e ficam impressionados.
- Nossa, nós estamos na Itália mesmo? – brinca Vitor.
- Incrível, né? – Amélia ri.
O casal passeia pela Piazza San Marco e visita o Palazzo Ducale.
Na parte da tarde, chegam ao Palazzo Contarini del Bovolo, conhecido por sua
escadaria de caracol no exterior.
- Você quer subir, ver a vista lá de cima? – convida Vitor.
- Vamos! – ela responde, animada, já puxando o amado pela mão e subindo os
primeiros degraus.
Eles sobem aos risos, como crianças desbravando um túnel secreto. Enfim
alcançam a parte mais alta da escadaria. Vitor abraça Amélia por trás, e eles
ficam contemplando a vista por longos minutos, em silêncio, como se o tempo
tivesse parado.
- Nós estamos em Veneza... – murmura Amélia.
- Tá uma vendo uma gôndola, lá adiante? – aponta Vitor.
- Sim! Ah, Vitor, vamos passear de gôndola? – ela pede de um jeito meigo.
- Claro! Você acha mesmo que a gente viria para Veneza e deixaria de fazer
um passeio romântico desses, de novela, de filme? – ele sorri.
- Hum, então você já tinha planejado isso também?
- Nosso passeio de gôndola está até marcado, combinei tudo por telefone e e-
mail antes de virmos pra cá. Amanhã, nesse horário, estaremos no meio do
Grande Canal.
Amélia se vira para Vitor e olha nos olhos dele:
- Você... me deixa sem palavras.
Ele a enlaça pela cintura e responde:
- Já ouviu dizer que o beijo é um artifício que a natureza inventou para quando
as palavras se tornam supérfluas?
Ela sorri, encantada, e Vitor a puxa para mais perto e beija seus lábios com
intensidade. O casal fica namorando no alto da escadaria por algum tempo, até
que outro par de turistas chega lá em cima. Só então Amélia e Vitor descem.

Trilha sonora: Imbranato – Tiziano Ferro
http://www.youtube.com/watch?v=RL8zMj5Xdd4&feature=related

No dia seguinte, Vitor leva Amélia até o ponto de partida da gôndola.
- Mas cadê o gondoleiro? Está atrasado? – ela questiona, ao ver a embarcação
vazia.
- Não, meu amor... depois de muito tentar eu consegui, em segredo, uma
gôndola emprestada para passearmos sozinhos. Eu é que vou remar.
- Mas você sabe controlar essa coisa? – pergunta Amélia, franzindo a testa.
- Quê? Eu piloto avião, meu amor... uma gôndola é muito mais simples – ele
responde, cheio de si.
- Espero que você saiba o que está fazendo... – ela se contém para não rir.
- Você não confia em mim?
- Claro que eu confio, senão nem entraria nessa gôndola...
Vitor ri, e estende a mão para ela:
- Andiamo, bella donna...
Ele ajuda Amélia a entrar na embarcação, depois assume seu lugar. Ele vai
remando tranquilamente, e quando estão bem no meio do grande canal,
comenta:
- Viu? Não há o que temer.
Ela sorri, e olha em volta, maravilhada. Vitor conduz a gôndola para um canal
adjacente.
- Olha, Vitor, a Ponte dos Suspiros! – exclama Amélia, ainda mais encantada.
- Parece que estamos viajando no tempo, né? – ele devolve.
- Ah... é muito bonito tudo isso – ela suspira.
Logo Vitor traz a embarcação de volta para o Grande Canal. Ele troca olhares
apaixonados com Amélia, até que se ergue e inclina um pouco para beijá-la
rapidamente.
- Cuidado, Vitor... – ela alerta.
- Está tudo sob controle – ele garante – Só mais um beijinho...
O beijo acaba ficando mais intenso, e sem perceber Vitor larga o remo. Ele
logo se dá conta e tenta pegá-lo de volta, mas não dá tempo. O remo cai
dentro da água e afunda. Vitor olha para Amélia com um sorriso amarelo, sem
saber o que dizer.
- E agora? Como vamos sair daqui? – ela pergunta, aflita.
- Calma, eu vou ligar para o rapaz que me emprestou a gôndola – ele tenta
parecer tranquilo, enquanto tira o celular do bolso. Ao olhar para o aparelho,
faz uma careta – Sem sinal.
- Ah, meu Deus... – Amélia fica ainda mais angustiada, depois olha para Vitor
com um pouco de raiva, e comenta com ironia – É fácil controlar uma gôndola,
né?
- Foi um acidente... – ele balbucia com cara de cachorro que quebrou o pote.
- Não, senhor, foi distração – ela retruca ainda irritada.
- É, eu me distraí... com você – Vitor admite.
- Ah, agora a culpa é minha?
- Não... Tudo bem, eu fiz uma besteira. Mas não vamos brigar justamente
agora? – ele devolve com olhar de súplica.
Amélia respira fundo, tentando-se acalmar.
- Está certo, não adianta discutir agora. Estamos à deriva, no meio do Grande
Canal... o que vamos fazer?
- Esperar. Daqui a pouco alguém vê que estamos à deriva, ou a gôndola vai
parar junto da margem.
- Ai, Vitor, por que você tinha que se meter a gondoleiro? – ela diz, quase com
voz de choro.
- Porque eu queria proporcionar um passeio único pra você.
- É, e conseguiu – ela devolve meio irônica, e finalmente ri – Será realmente
inesquecível.
Vitor olha para Amélia meio de canto de olho, ainda envergonhado pelo que
fez:
- Já que vamos ter que esperar, não sabemos quanto tempo, melhor
esperamos bem juntinhos, não acha?
- Acho – ela sorri levemente, já quase sem raiva.
Ele senta bem ao lado dela e a envolve em seus braços. Fica acariciando os
cabelos e o rosto de Amélia, enquanto a gôndola desliza pela água.

VIII




Depois de algum tempo, a gôndola se aproxima da margem do canal. Vitor
amarra a embarcação na primeira coisa possível que encontra, e suspira
aliviado.
- Vem, amor – ele estende a mão para ajudar Amélia a descer.
- Tem certeza? – ela brinca, querendo rir.
- E você tem escolha? Prefere ficar aí? – Vitor retruca, levemente irônico.
- É, não tem outro jeito... – Amélia devolve, apertando os lábios, e finalmente
aceita a ajuda de Vitor.
Ela coloca um pé em terra firme, e quando tira o outro da gôndola, seu sapato
cai dentro do canal.
- Ah, não! – ela exclama, ajoelhando-se de na margem e olhando para a água.
- Esquece, Amélia, ele já afundou – avisa Vitor, descendo da gôndola também.
- E agora, vou ter que caminhar até o hotel com um pé só?
Amélia e Vitor se olham e caem na gargalhada, sem conseguir parar de rir até
quase perder o fôlego. Ela respira fundo e comenta:
- Só me faltava mesmo perder um sapato, para coroar esse passeio
atrapalhado... – e cai na risada de novo.
- Atrapalhado sou eu... quis bancar o bonzão, o sabe-tudo, e quase provoco
uma tragédia – ele ri de si mesmo.
- Ah, não exagera... Acabou tudo bem.
- É, acabou. Por falar nisso, preciso ligar para o dono da gôndola – Vitor
confere o celular, vê que voltou o sinal e faz a ligação, explica onde estão.
Depois, conta para Amélia - Ele está aqui perto, já vem.
- Que bom. Estou louca para chegar ao hotel, tomar um bom banho e
descansar. Em que situação você nos colocou, hein, Vitor?
- Minha culpa, minha máxima culpa... já reconheci. Mas pensa por outro lado,
essa história vai virar uma lenda na família – ele dá uma risada.
- É verdade – Amélia recomeça a rir sem conseguir parar.
- Já estou até vendo o quanto que a Mané vai me zoar por causa disso... –
brinca Vitor.
- Vai mesmo, gondoleiro trapalhão!
Eles estão aos risos quando o dono da gôndola chega. Vitor acerta tudo com
ele, dando um valor a mais pela perda do remo. E o próprio gondoleiro, numa
embarcação a motor, os leva para o outro lado do canal, deixando-os próximo
ao hotel.
Amélia sai mancando, com um sapato só.
- Não, meu amor, você não vai ficar andando assim – diz Vitor, pegando-a no
colo.
- Vitor, não precisa... – ela murmura, encantada.
- Eu te levo. Nós estamos pertinho do hotel.
Vitor carrega Amélia até a porta do elevador. Assim que ele a coloca no chão,
ela lhe dá um suave beijo nos lábios.
- Obrigada, você é verdadeiro cavalheiro... – ela comenta sorrindo.
- Eu me esforço – ele ri.
Amélia tira o outro sapato, e sobe descalça para o quarto, ainda rindo junto
com Vitor de toda a situação daquela tarde.

Ao entrarem no quarto, Amélia vai direto começar a encher a banheira. Vitor
espia da porta do banheiro:
- Vai tomar um banho demorado?
- Eu preciso disso – ela responde.
- Hum, então vou descer rapidinho, não demoro.
Amélia se vira para perguntar aonde ele vai, mas Vitor já sumiu da porta. Ela
termina de preparar a banheira e fica algum tempo na água, relaxando.

Trilha sonora: Una Poesia Anche Per Te - Elisa
http://www.youtube.com/watch?v=gKkL_WZ_ePk
Amélia veste um roupão e volta para o quarto. No mesmo momento, Vitor
chega da rua, trazendo um buquê de rosas vermelhas, cor-de-rosa e amarelas.
Amélia fica vendo ele se aproximar, surpresa.
- Para a mulher mais linda do mundo... – diz Vitor, entregando o buquê.




- Que lindo! – ela murmura, contemplando as flores.
- É o mínimo que eu podia fazer depois do que aprontei hoje – ele justifica, com
cara de menino arrependido.
- Você fez tudo com boa intenção, só se atrapalhou um pouquinho – garante
Amélia.
- É, mas nunca mais vou querer bancar o gondoleiro, prometo.
Ela ri e pega o cartão que está no meio das flores. Abre e lê o poema impresso:
- Se avessi la possibilità di nascere e morire di nuovo, lo rifarei solamente per
vivere la mia vita insieme a te, per rimediare ad ogni mio errore, per cucire ogni
tua ferita, e per cancellare ogni tua sofferenza in modo tale che il mondo possa
conoscere solamente il tuo sorriso, che mi ha incendiato il cuore, come dal
primo istante che ti ho visto!
Amélia olha para Vitor, emocionada, e ele repete a mensagem, mas em
português:
- Se tivesse a possibilidade de nascer e morrer de novo, o faria somente pra
viver minha vida junto a você, para remediar cada erro meu, para cicatrizar
cada ferida tua e para apagar todo seu sofrimento, de tal modo que o mundo
possa conhecer somente teu sorriso, que me incendiou o coração, como do
primeiro instante que te vi! – Vitor solta um suspiro e explica – Fiquei tentando
traduzir vários cartões, mas quando encontrei não tive dúvidas de que esse
poema era o que eu queria te dizer.
- Vitor... – murmura Amélia, se jogando nos braços dele e dando-lhe vários
beijos nos lábios.
Ele a beija com ardor. O beijo vai ficando mais intenso, até que Vitor desfaz o
laço do roupão de Amélia e vai fazendo-o deslizar para o chão. Ele conduz
Amélia para a cama ao mesmo tempo em que vai percorrendo o corpo dela
com os lábios. Já deitados, Vitor começa a descer pelo colo dela com beijos,
mas Amélia traz o rosto dele para junto do seu, juntando os lábios de um jeito
ardente. Enquanto o beija, ela pressiona seu corpo contra o dele, desejando se
juntarem como um só. Ele corresponde, e os dois se entregam àquele desejo,
amando-se como se o tempo tivesse parado.

Amélia e Vitor partem para Milão. Ao passarem pela Piazza del Duomo, Amélia
olha em volta e comenta:
- Olha, Vitor, a catedral de Milão... sabia que é a segunda maior igreja da Itália?
Só fica atrás da Basílica de São Pedro.
Mas Vitor não responde, está pensativo, olhando um cartaz que anuncia um
grande show do cantor Andrea Bocelli.



IX




- Vitor? – insiste Amélia.
- Hã? Que foi, amor?
- Você ouviu o que eu falei, sobre a catedral?
Vitor olha para Amélia e segura às mãos dela:
- Desculpa, eu estava distraído...
- Dessa vez eu perdoo – ela sorri de um jeito cúmplice – Mas agora olhe a
catedral...
Ele obedece, e fica boquiaberto:
- Nossa... é incrível...
- É mesmo... Vamos deixar as malas no hotel e depois voltar para conhecê-la
por dentro?
- Vamos, sim.
Eles dão entrada no hotel e arrumam suas coisas no quarto. Amélia avisa:
- Vitor, eu vi que tem um salão de beleza aqui. Preciso fazer minhas unhas,
depois vamos para a catedral... pode ser?
- Pode, claro. Enquanto você trata de ficar ainda mais linda, vou dar uma volta.
- Aonde você vai? – ela pergunta, curiosa.
- Depois você vai saber – ele responde com um sorriso enigmático.
Trilha sonora: Nel Cuore Lei – Andrea Bocelli
http://www.youtube.com/watch?v=d2JHOJH5vkY

Quando Vitor volta, não acha Amélia no salão. Ele sobe ao quarto, e ao entrar
já se depara com a amada penteando os cabelos diante do espelho.
- Voltei, amore mio... – ele diz, abraçando-a por trás e dando-lhe um beijo no
pescoço.
Ela se vira para Vitor, sorrindo:
- O que você foi aprontar agora?
- Isso – ele entrega dois papéis a ela.
Amélia lê quase sem acreditar:
- Ingressos para o show do Andrea Bocelli no Teatro alla Scala?
- Sim, para amanhã à noite.
- Vitor... eu adoro o Bocelli!
- Eu também gosto muito... principalmente de uma música, que parece
inspirada no que sinto por você... chama “Nel Cuore Lei”.
- “No Coração Dela”?
- É... – Vitor se aproxima e canta baixinho no ouvido dela, enquanto dançam
bem juntinhos:
“Ti prenderà il cuore
Ti vincerà
Lei sarà la tua strada
Che non puoi lasciare mai
A lei
Ti legherai finchè vivrai, a lei…”
(Te prenderá ao coração
Te vencerá
Ela será a tua estrada
Que não poderá deixar nunca
A ela
Te prenderá enquanto viver, a ela...)
Amélia solta um suspiro, com os olhos marejados, e vai aproximando seus
lábios dos de Vitor. Eles trocam um beijo demorado, antes de saírem para
passear pela Piazza del Duomo.

No restante da tarde, eles visitam a catedral e também a galeria Vittorio
Emanuele II, do outro lado da praça.
Voltando para o hotel, eles passam diante de uma grande loja de calçados.
- Vamos entrar – avisa Vitor – quero te dar um sapato novo, para compensar
aquele que você perdeu em Veneza.
- Ah, Vitor... não precisa.
- Eu faço questão.
- Está bem – ela concorda, sorrindo.
Eles entram na loja, e Amélia não consegue se decidir, pois havia muitos
modelos lindos. Ela experimenta vários pares enquanto Vitor espera, tentando
ser paciente. Por fim, Amélia fica indecisa entre três modelos.
- Qual você prefere, Vitor?
- Os três ficaram igualmente lindos. Também, né, o que não fica bonito em
você?
- Ah, me ajuda... não sei qual deles escolho.
Vitor olha para os sapatos por um instante e depois diz para a vendedora:
- Vamos levar os três.
- Mas, Vitor... – murmura Amélia.
Ele não a deixa terminar:
- Aproveita que eu tô bonzinho... – ele ri, depois a olha de um jeito apaixonado
– Você merece tudo que eu puder te dar.
A vendedora quase solta um suspiro, comovida com a cena, mas se contém e
pergunta:
- Vão os três pares, mesmo?
- Sim – confirma Vitor.
- Então me acompanhem – ela avisa, conduzindo o casal para fazer o
pagamento.
Depois de acertarem tudo, Amélia vai pegar as sacolas, mas Vitor se antecipa:
- Não, não, deixa que eu levo... Não é essa uma das funções do homem,
carregar as sacolas? – ele brinca.
- Bobo... Obrigada, viu? Mas sabe qual foi o presente mais valioso que já
ganhei até hoje?
- Qual? – ele olha para ela.
Amélia responde olhando nos olhos dele:
- Você.
Vitor sorri, e eles trocam um rápido beijo, antes de saírem da loja, de mãos
dadas.

Chegando ao hotel, Amélia marca um horário no salão para o dia seguinte,
para se arrumar para o show.
- Vitor, nós vamos numa das maiores casas de ópera do mundo, assistir ao
Andrea Bocelli, já pensou?
- É, e isso nem estava na nossa programação inicial... Essa viagem tem sido
ainda mais emocionante do que eu imaginei. Sabe, planejei tudo para que
fosse uma lua-de-mel de sonho pra você...
- E está sendo um sonho pra você também, né? – ela completa, passando os
braços em torno do pescoço dele.
- Está... amore mio... – ele confirma, colando seus lábios aos dela.


X
No outro dia, Amélia nem quer passear, de tanta expectativa. Passa a tarde
escolhendo o vestido, os sapatos, as joias, depois vai para o salão arrumar o
cabelo.
Quando ela volta para o quarto, Vitor está no banho. Amélia confere o
penteado e a maquiagem no espelho, satisfeita com o resultado. Coloca o
vestido, longo e estampado discretamente em tons de branco, preto e cinza, e
joga sobre os ombros uma estola leve de cor vermelha bem escura, quase
marrom. Calça as sandálias de salto e põe os brincos, um anel e pulseira. Vitor
sai do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e abre um grande sorriso
ao ver Amélia toda arrumada:
- Nossa, será que eu estou à altura de uma mulher dessas?
- Você ainda está assim? – ela sorri.
- Me apronto num minuto.
Ele põe um terno escuro, com uma camisa cinza claro e gravata. Ajeita os
cabelos com gel, deixando-os bem alinhados.
- Que lindo... – comenta Amélia, admirando-o – Nem vi que você tinha
colocado esse terno na mala. Depois do acidente, você só usa roupas claras...
- Eu trouxe para alguma ocasião especial... como essa.
Ela ajeita a gravata dele:
- Acho que hoje sou eu que vou ficar com ciúme. Você vai ser o homem mais
bonito da plateia, não tenho dúvida.
- Então estamos quites, por que... ai, meu Deus, não queria nem pensar, mas
vai ter muito homem virando o pescoço por sua causa... Precisava ficar tão
linda, hein? – ele brinca.
Amélia chega mais perto e toca no rosto dele:
- Que olhem... porque eu só vou ver você. E o Andrea Bocelli, claro – ela ri.
- Espero que a gente não encontre um outro Andrea por lá... – Vitor pensa alto.
- Vitor... isso é bobagem sua – ela repreende com doçura.
- Eu sei. Não está mais aqui quem falou – ele oferece o braço – Andiamo,
amore mio?
- Andiamo – responde Amélia, encaixando seu braço no dele.

Trilha Sonora: Vivo Per Lei – Andrea Bocelli
http://www.youtube.com/watch?v=DKa0wN31OD4

Eles chegam ao teatro e vão logo tomar seus lugares. O show começa, e
Amélia e Vitor assistem emocionados. Quando Andrea Bocelli começa “Vivo
Per Lei”, Vitor sussurra no ouvido de Amélia:
- Essa também é dedicada a você... – ele canta junto um trecho, no ouvido
dela:
Vivo per lei perché mi da
Pausa e note in libertà
Ci fosse un'altra vita la vivo
La vivo per lei
(Vivo por ela porque me da
Pausas e notas em liberdade
Se tivesse outra vida eu a vivo
Eu vivo por ela)
Amélia aperta a mão dele, ainda mais emocionada.
No intervalo entre uma música e outra, Amélia olha para Vitor, e os dois trocam
um rápido e delicado beijo. Logo Bocelli canta “Nel Cuore Lei”.
- Ah, essa música diz tudo... – Vitor sussurra de novo, cantando junto baixinho:
E non c'è niente come lei
E non c'è niente da capire
E'tutta lì
La sua grandezza
In quella leggerezza
Che solo lei ti dà
(E não há nada como ela
E não há nada para entender
Está tudo ali
A sua grandeza
Naquela leveza
Que só ela te dá).
Amélia, com uma lágrima correndo pelo rosto, deita a cabeça no ombro de
Vitor, e eles ficam assim o restante do show, bem juntinhos.

- Ah, Vitor, foi maravilhoso! – exclama Amélia, quando chegam ao foyer do
teatro.
- Foi mesmo. Parecia que a gente estava em outra dimensão, né? A voz desse
cara não parece desse mundo...
- É... – ela sorri, com o olhar iluminado.
Eles são interrompidos por uma voz:
- Amélia e Vitor! Nos encontramos de novo...
O casal se vira na direção da voz e vê Andrea Antonacci.
- Andrea! – Amélia cumprimenta o amigo com um rápido abraço – Você estava
no show também?
- Claro! Acha que eu ia perder Bocelli no Scala?
- Por que eu fui falar... – murmura Vitor, entredentes.
- Tudo bem, Vitor? – cumprimenta o italiano.
- Tudo. Estávamos comentando que o show foi incrível.
- Foi mesmo – concorda Andrea, que para em silêncio por alguns instantes
contemplando Amélia – Meu Deus... hoje você está especialmente linda. Com
todo o respeito, Vitor.
Vitor passa o braço em torno da cintura dela:
- Está mesmo – ele diz, se esforçando para não ser hostil.
- Assim eu fico sem graça... – comenta Amélia, tentando amenizar o clima
tenso.
- Não tive a intenção de constranger ninguém, me desculpem...
- Tudo bem... né, Vitor? – pergunta Amélia.
- Tudo – ele confirma, apertando os dentes.
- Para me desculpar, convido vocês para um jantar... me acompanham?
Vitor olha para Amélia e percebe que ela quer ir, mas está com receio de deixa-
lo aborrecido. Então pega na mão dela:
- Vamos, sim. Estamos devendo aquele jantar que ficou pendente em Florença,
não é? – ele responde, tentando conter a vontade de ser irônico.
- Que bom. Tem um restaurante ótimo bem aqui perto – devolve o italiano.
Durante o jantar, Amélia e Andrea relembram várias histórias dos tempos de
passarela, entre risos. Vitor sente-se deslocado, quase o tempo todo, mesmo
que a esposa tente a todo o momento incluí-lo na conversa. Mas por
consideração à Amélia, ele tenta ser simpático com o italiano.

Quando retornam ao quarto do hotel, Amélia fica bem diante de Vitor e olha
nos olhos dele:
- Obrigada... por ter tentado ser compreensivo, passado por cima da sua
insegurança... O Andrea é apenas um amigo querido, que eu fiquei anos sem
encontrar, nada mais. Que bom que você entendeu isso.
- Você está feliz, né? É isso que importa – ele afirma, acariciando os cabelos
dela.
Amélia sorri e beija os lábios dele, que corresponde com intensidade e depois a
olha de um jeito malicioso:
- Mas agora eu quero algo em troca... deixa eu tirar seu vestido?
Ela devolve um olhar travesso e se vira de costas, para que Vitor abra o fecho
do vestido. Ele beija a nuca de Amélia várias vezes, a fazendo arrepiar, e vai
descendo até chegar ao vestido. Conforme abre a roupa, vai beijando o corpo
dela. Ao terminar o fecho, faz o vestido deslizar para o chão e vira Amélia de
frente para si, beijando-a com paixão. Enquanto se beijam, ela vai tirando a
gravata dele e desabotoando a camisa. Vitor a pega no colo e leva até a cama,
onde terminam de desfazer das roupas, se entregando completamente ao
desejo. Depois se amarem, dormem abraçados.

Na manhã seguinte, Vitor deixa uma bandeja de café da manhã no quarto e
sai. Quando Amélia acorda e procura por ele, encontra um bilhete na bandeja:
“Fui preparar a surpresa desta tarde. Te amo muito. Vitor.”


XI




Amélia suspira:
- Surpresa da tarde? O que pode ser?
Ansiosa, ela toma o café da manhã e começa a se arrumar. Escolhe um
vestido com delicada estampa floral, longo e leve. Depois, penteia os cabelos,
prendendo-os num rabo baixo com uma presilha de capim dourado. Faz uma
maquiagem leve e coloca brincos e pulseiras também de capim dourado, da
produção da Rurbana.

Vitor chega quase na hora do almoço. Amélia está sentada sobre a cama, e
levanta-se rápido ao vê-lo:
- Vitor!
- Buongiorno, amore... – ele se aproxima calmamente e dá um beijinho nela,
depois a olha de cima a baixo – Está linda... Pronta para sair?
- Não sei aonde a gente vai... – ela retruca.
- Acho que este vestido está ótimo para o passeio que a gente vai fazer. As
sapatilhas também, o ideal é um calçado confortável.
- Ai, Vitor, para de me deixar curiosa!
Ele ri:
- Então, andiamo...

Vitor leva Amélia até o Parque Sempione. Eles passeiam por seus bosques,
lagos e alamedas, até chegarem num recanto meio afastado da área central.
Na grama, à sombra de uma grande árvore, há uma grande toalha xadrez com
pratinhos de diversos petiscos, como biscoitos salgados e doces, mini pão-de-
queijo, pedacinhos de pão italiano, geleias, além de uma jarra de suco de uva e
uma garrafa de vinho. E de um pequeno aparelho de som sai uma bela música.

Trilha sonora: Il Regalo Più Grande – Tiziano Ferro
http://www.youtube.com/watch?v=boK3pjUMNbE&playnext=1&list=PL47166BE
43431FE61

Amélia fica por alguns instantes paralisada, admirando aquilo tudo.
- Vitor... foi você que preparou tudo isso? – ela finalmente balbucia.
- Não fiz sozinho, mas... foi ideia minha.
- Eu amei – ela sorri – Um piquenique no Sempione...
- É. Para encerrar em grande estilo nossa passagem pela Itália – ele completa.
Vitor dispensa o rapaz que havia ficado cuidando do piquenique, e conduz
Amélia para sentar num canto da toalha.
- Tem até bombons, olha – ele mostra, pegando um bombom e levando até a
boca de Amélia. Ela morde um pedaço, e Vitor come o restante, enquanto
ficam com os olhos fixos um no outro.
Depois Amélia analisa os quitutes:
- Nossa, nem sei por onde começar... – ela acaba se decidindo por um pedaço
de pão com geleia de morango.
Vitor ajeita as duas taças à sua frente e abre a garrafa de vinho. Põe um
pouquinho da bebida na própria taça e experimenta:
- Humm... perfeito.
Só então ele serve a ambos, e passa um das taças para a mão de Amélia,
dizendo:
- Vamos fazer um brinde... ao nosso amor, que não precisa de cadeados,
fontes, nada disso, para ser eterno.
- Ao nosso amor – confirma ela, tocando a taça dele com a sua.
Após beberem um gole do vinho, eles trocam um beijo apaixonado.
Amélia pega um pão-de-queijo e leva à boca de Vitor, que retribui. O casal fica
algum tempo assim, dividindo aquele lanche e trocando carinhos.
Depois de satisfeitos, Vitor se recosta no tronco da árvore, com Amélia nos
braços dele. Ela solta um suspiro:
- Tão bom ficar assim com você...
- Vamos ficar assim pra sempre? Abraçadinhos, nesse lugar lindo... – ele ri,
estreitando Amélia em seus braços.
- Dá vontade, né? – ela sorri, se aconchegando no peito de Vitor.
Eles ficam em silêncio, apenas curtindo a sensação daquele momento, até que
Amélia se ergue e olha nos olhos dele:
- Enquanto te esperava, no hotel, fiquei lendo um livro de poemas em italiano
que comprei aquele outro dia, lembra? Teve um poema que li até decorar,
porque parece que escreveram o que sinto por você: “Sei come una colomba
bianca che, volando nel cielo più cupo, porta la luce. Quella stessa luce che ho
trovato, per la prima volta, nei tuoi occhi dello stesso colore dell'oceano. Riempi
il mio cuore sempre.” – Ela sorri e traduz – “Você é como uma pomba branca
voando no céu escuro traz a luz. Essa mesma luz que eu encontrei, pela
primeira vez, em seus olhos da mesma cor do oceano. Enche meu coração
para sempre.”.
- Nossa... – ele murmura, com os olhos marejados – Você também me trouxe
luz, fez de mim um homem melhor...
- E você, faz de mim uma mulher feliz, plenamente feliz, como nunca fui...
Ambos emocionados, eles juntam os lábios em um beijo sem pressa, como se
não existisse mais nada além do amor que os une.




No outro dia, partem para Amsterdã. O primeiro passeio é ao museu Van
Gogh, que reúne obras do pintor holandês. Ao chegarem diante do quadro “Os
Girassóis”, Amélia comenta:
- Como será que estão todos lá em Girassol? Que saudade dos meus filhos...
Vitor a abraça por trás e responde:
- Antes de voltar à vida “normal”, prometo que vamos passar uns dias em
Girassol. Também estou com saudade dos meus enteadinhos... – ele ri – e da
Terê, da Lurdinha... de todo o pessoal. Mas essa tela lembra muito a estância,
né?
- É mesmo. O Solano tinha até uma cópia desse quadro na sala.
- Tinha, é verdade!
- Mas agora vamos voltar para a Holanda? Ainda temos muita coisa para ver.
Depois de Van Gogh, quero ir ao Stedelijk Museum ver Picasso, Monet,
Chagall, Matisse... que acha?
- Você estudou todos os guias turísticos, é? – ela ri.
- Fiz a lição de casa direitinho... – Vitor também dá uma risada.
Enquanto caminham pelos corredores do museu, ele comenta:
- E amanhã, você se prepare... nós vamos num dos lugares mais bonitos da
Holanda.


XII




Vitor acorda Amélia com beijinhos no rosto. Ela abre os olhos e sorri:
- Oi, amor...
- Hora de acordar... – ele dá um beijo nos lábios dela.
- Tão cedo?
- Precisamos sair cedo para aproveitar melhor o passeio.
- Está bem – ela concorda, sentando na cama e se espreguiçando.
Vitor contempla a cena, achando lindo o jeito de Amélia se espreguiçar. Ela
levanta e escolhe um vestido branco longo de malha, com um colete de crochê
por cima, também branco. Ele se troca também, vestindo calça cinza e camisa
gelo. Amélia termina de se arrumar e eles descem para tomar o café-da-manhã
antes de sair.
Depois, Vitor leva Amélia aos campos de tulipas de Keukenhof. Eles andam
entre os canteiros, maravilhados com as flores de diversas cores.

Trilha sonora: Angel of mine – Evanescence
http://www.youtube.com/watch?v=e7fVuAetyBQ&feature=related

De repente, Vitor para e fica observando Amélia, que caminha próximo às
tulipas. Ela logo percebe a ausência dele ao seu lado e vira para trás:
- Vitor? O que houve? – pergunta Amélia, fazendo menção de voltar para junto
dele.
Ele sinaliza com mão para que ela pare onde está:
- Fique aí. Estava te olhando... Você, com este vestido branco, os cabelos
voando com o vento, em meio a essas flores todas... você está parecendo um
anjo – ele se aproxima de Amélia, emocionado – O meu anjo...
Ela sorri, ficando emocionada também. Vitor chega mais perto e toca o rosto
dela, acariciando levemente como se tocasse uma pétala de rosa. Ele olha
para os lábios dela e devagarinho vai aproximando os seus, num beijo
delicado.
Depois Vitor pega Amélia pela mão e eles continuam passeando pelos campos
de tulipas, parando de vez em quando para tirar fotos. Ela posa entre as flores
e Vitor maneja câmera, encantado com a combinação da beleza de Amélia e
das tulipas.

No final da tarde, quando estão caminhando pelas ruas de Amsterdã de volta
ao hotel, eles passam em frente ao Museu do Sexo. Ao ler o nome na fachada,
Vitor se empolga:
- Olha isso, um museu do sexo! Vamos entrar Amélia?
- Ai, Vitor, não... – ela olha para baixo, encabulada.
Ele dá uma gostosa risada:
- Você está com vergonha? Deixa disso, vamos só ver o que tem aí dentro...
- Esse é o problema. Sabe lá o que a gente vai encontrar?
- Nada de mais, ora... Sexo é algo que todo mundo faz. Tá, quase todo mundo.
Vamos lá, quero conhecer! – ele tenta convencê-la.
- Não sei... – Amélia hesita.
- Por favor... – Vitor pede de um jeito que ela não consegue recusar.
Ao entrarem, se deparam com estátuas, objetos e imagens relacionados ao
tema sexo. Algumas peças fazem Amélia tapar os olhos, constrangida:
- Que é isso, Vitor...
- Ah, você não conhece? – ele retruca aos risos.
- Para, seu bobo! – ela se contém para não rir também, mas mais de nervoso
do que por achar engraçado.
Depois de olharem mais alguns corredores, Amélia implora:
- Chega, Vitor... vamos embora.
- Eu achei bem divertido – ele continua rindo do jeito dela.
- Pra mim é estranho ver essas coisas... – ela argumenta.
- Está bem, vamos – Vitor tenta controlar as risadas.

Ao chegarem no quarto, Amélia vai tomar um banho, depois Vitor faz o mesmo.
Ela está sentada cama, de roupão, terminando de passar creme no corpo,
quando ele se aproxima, recém-saído do chuveiro, com o corpo ainda úmido e
uma toalha enrolada na cintura.
- Aquele museu me deixou inspirado... – Vitor comenta, olhando para Amélia
com desejo.
- Até parece que você precisa de alguma coisa para se inspirar... – ela retruca,
devolvendo o olhar.
- Não preciso mesmo... é só olhar para você... – ele se inclina sobre Amélia e
passa os dedos no pescoço dela, descendo até o colo – sentir essa pele
macia... – ele olha nos olhos dela e depois para os lábios, com a respiração já
ofegante – esses lábios...
Vitor cola seus lábios aos de Amélia e vai se debruçando sobre ela, fazendo-a
deitar na cama, onde se amam até, exaustos, pegarem no sono.
Algumas horas depois, já tarde da noite, Vitor acorda com fome. Amélia
continua dormindo, tão tranquila que ele decide não acordá-la. Veste uma
roupa simples e sai, voltando pouco tempo depois com sacolas. Amélia
desperta quando ele fecha a porta, percebe que Vitor não está ao seu lado e
ergue um pouco o corpo, vendo-o se aproximar com as sacolas:
- Vitor? Você saiu?
- Fui comprar alguma coisa para a gente comer aqui na cama mesmo... Já está
muito tarde para pedir um jantar. Mas acordei com fome...
- É, agora que você falou, também senti uma fominha...
- Trouxe sanduíches, frutas secas, e um vinho – ele explica, se ajeitando na
cama e tirando as compras da sacola.
- Vinho?
- Sim... é tão gostoso tomar vinho a dois... Onde estão aquelas taças
personalizadas que a gente comprou em Milão?
- Na minha mala.
Vitor pega as taças e volta para cama, servindo o vinho. Enquanto fazem o
lanche, ele comenta:
- Amanhã, eu sugiro que você use uma daquelas suas calças de montaria.
Você fica linda nelas, realça seu corpo.
- Por quê? O passeio de amanhã não dá pra fazer de vestido?
- Acho que não. Ainda mais com esses seus vestidos compridos... pode ser
perigoso.
- Perigoso por quê?
- Você já está querendo saber demais... espere até amanhã – ele conclui com
um sorriso travesso, e antes que ela pergunte mais alguma coisa, ocupa os
lábios dela com mais um beijo.


XIII
Ao saírem do hotel, no dia seguinte, Vitor sorri ao ver o céu azul e o sol
iluminando tudo:
- O dia está perfeito!
- Pra quê? – questiona Amélia, ansiosa, e vestida como ele recomendara, de
calças.
- Você já vai saber.
Chegando ao Vondelpark, Vitor pede que Amélia espere um instante. Logo
volta trazendo duas bicicletas:
- Olha o que aluguei para nós...
- Então é isso, nós vamos pedalar? – ela diz, sorrindo.
- Você não disse uma vez que gosta de andar de bike? Não tem lugar melhor
para fazer isso do que Amsterdã.
- Pois é, até de bicicleta eu fugi pra te ver... – ela ri.
- Mas valeu a pena, né?
- Valeu. Aquele dia... aquela noite foi tão linda e também tão horrível. Quando
vi você caído no chão, ensanguentado, tive tanto medo de te perder... – lembra
Amélia, franzindo a testa.
Vitor acaricia o rosto dela:
- Não pensa mais nisso. Eu sobrevivi.
- Graças ao Dr. Gabriel...
- E ao seu amor. Foi por você que eu lutei para continuar vivo.
- Que bom... não sei se eu teria suportado ficar sem você, ainda mais sabendo
que teria por culpa daquele... monstro.
Ele olha nos olhos de Amélia:
- Você nunca vai me perder, ouviu? Agora vamos esquecer tudo de ruim que a
gente viveu, e curtir esse dia lindo, sentir o vento no rosto... enquanto
conhecemos as belezas do Vondelpark.
- Vamos lá, então – ela concorda, sentando no selim e se posicionando para
partir.
- Finalmente vou ver você andando de bike! – Vitor ri.
- Você quer ver, é? – Amélia sai pedalando, e Vitor vai atrás.

Trilha sonora: Love's Lookin' Good On You – Lady Antebellum
http://www.youtube.com/watch?v=OMsZVxnSJqA

Eles pedalam curtindo a visão das árvores, lagos e flores. De vez em quando,
param para contemplar as obras de artes espalhadas ao longo do parque,
como uma estátua de autoria de Pablo Picasso chamada em holandês de “De
vis” (o peixe). Param também no coreto, que Amélia acha muito bonito e pede
para tirarem fotos nele.

Seguindo o passeio, Vitor quase se desequilibra da bicicleta ao fazer uma
curva. Amélia ri tanto que precisa parar para recuperar o fôlego. Vitor, que já
estava um pouco à frente, volta para junto dela:
- Está rindo de mim, é?
- Você quase caiu no meio do Voldenpark... desaprendeu a fazer curva, é? –
ela continua rindo.
- Admito, fazia bastante tempo que eu não pedalava, acho que perdi um pouco
a prática. E eu prefiro percorrer outras curvas, se é que você me entende... –
ele olha para Amélia de um jeito malicioso.
- Vitor! Você não sossega nunca?
- Não – ele retruca, ainda olhando para o corpo dela.
- Ai... melhor voltarmos a pedalar. Vamos – ela parte novamente.
Vitor a segue, mas logo diz:
- Vamos descansar um pouco ali, ó – ele sugere, apontando uma árvore diante
de um lindo lago.
Amélia concorda com a cabeça. Eles largam as bicicletas na grama e se
recostam na árvore, abraçados. Ficam em silêncio, ele acariciando os cabelos
dela, até que Amélia aponta para a água:
- Olha lá, os patos! Que bonitinhos...
- Que é isso, parece que nunca viu pato... – ele ri do entusiasmo dela – Você
não morava numa fazenda, não?
- Chato... – ela acaba rindo também – Claro que tinha patos na fazenda, mas
não bonitos, assim, nadando num lago...
- É, lá eles iam pra panela... humm, agora me lembrei do pato ensopado que a
Lurdinha faz... quando formos pra Girassol, vou pedir pra ela fazer pra mim.
Amélia apenas ri, e Vitor continua:
- Por falar em comida, você não está com fome? Já passou da hora do almoço.
- Estou.
- Então vem, tem um restaurante aqui no parque – ele avisa, ajudando-a a
levantar.
Após almoçarem, eles continuam pedalando pelo parque, parando de vez em
quando para descansar, até ficarem exaustos.
De volta ao hotel, tomam banho e se jogam na cama.
- Não consigo mais mexer minhas pernas hoje – comenta Amélia.
- Nem eu. Acho que pedalamos demais – Vitor ri.
Eles se olham e caem na risada juntos. Amélia se aconchega nos braços de
Vitor, e logo os dois estão dormindo, vencidos pelo cansaço.

O casal parte para Madri. No primeiro dia, já visitam o Museo del Prado, vendo
de perto obras como “As Meninas”, de Velásquez, além de telas de Rafael, El
Greco, Rembrant... Ficam horas no museu, contemplando os quadros. Depois,
Vitor deixa Amélia no hotel e avisa que vai sair por alguns instantes,
prometendo voltar logo.
- Só concordo porque meus pés estão doendo, senão ia com você – ela
ressalta.
- Aproveita para ficar quietinha... quero você bem descansada hoje à noite.
- Ah, mais surpresas?
- Claro. Deixa providenciar tudo, logo estou de volta – ele dá um delicado beijo
nos lábios de Amélia, que fecha os olhos para repousar.

Como prometido, Vitor retorna em pouco tempo, trazendo uma sacola. Amélia
ainda está cochilando. Ele senta na beirada da cama e fica observando o sono
dela, achando lindo. Amélia abre os olhos, e sorri ao vê-lo:
- Vitor... – ela senta-se na cama – Dormi muito?
- Não, acho que não demorei mais do que meia hora. Acabei de chegar.
- É? Conseguiu arrumar tudo que você queria?
- Consegui... a começar por isto – ele entrega a sacola para Amélia.
XIV




Ela tira de dentro da sacola um vestido de seda, rosa-chá, levemente plissado,
longo e com decote profundo, com a cintura alta marcada por uma faixa da
mesma cor.
- É lindo! – ela murmura, ainda contemplando o vestido.
- Vamos sair para jantar mais tarde.
- E você comprou esse vestido só para eu usar no jantar?
- Gosto de ver ainda mais linda... como se isso fosse possível, porque você é
linda de todo jeito.
Amélia sorri:
- Vou tomar um banho, então, e começar a me preparar.
Vitor a acompanha com o olhar até que ela entre no banheiro.

Depois do banho, Amélia prende os cabelos em um coque baixo, bem
alinhado, faz uma maquiagem ressaltando os olhos e finalmente coloca o
vestido. Vitor, que havia entrado no banheiro logo que ela saiu, volta
enxugando os cabelos com uma toalha e para ao vê-la já vestida:
- Você está maravilhosa! E agora, como eu me visto para merecer acompanhar
uma mulher tão linda?
- Deixa que eu escolho sua roupa – ela responde sorrindo.
Vitor coloca terno e gravata, e eles partem para o restaurante.

Logo que se acomodam numa mesa, Vitor pede um vinho, e eles fazem um
brinde, trocando olhares apaixonados.
- Adorei esse lugar, com música ambiente... – comenta Amélia.
- Tem espaço para dançar também, você viu?
- É mesmo... – ela fica olhando para a pista de dança por alguns instantes.
- Espera um pouco – ele se levanta e vai até o responsável pela aparelhagem
de som, e pede uma música.
Trilha sonora: Adoro – Alejandro Sanz e Chavela Vargas
http://www.youtube.com/watch?v=YaqkIW2qn9M&feature=player_embedd
ed

Vitor retorna até a mesa e estende a mão para Amélia:
- Me concede essa dança?
Ela sorri e vai com ele para a pista, onde dançam de rosto colado, se deixando
levar pelo ritmo da melodia. Vitor sussurra trechos da música no ouvido dela:
“Y me muero por tenerte junto a mí, cerca,
muy cerca de mí, no separarme de ti
Y es que eres mi existencia, mi sentir,
eres mi luna, eres mi sol, eres mi noche de amor
Yo, yo te adoro, vida, vida mía...”
Amélia escuta com os olhos fechados, como se estivesse sonhando.
Quando a música termina, Vitor ainda sussurra, cantando:
- Yo te adoro, vida mía...
E finaliza beijando-a com cuidado, ali mesmo no meio da pista de dança. Eles
se olham como se tivesse acabado de viver um momento mágico, e Amélia
sorri de um jeito apaixonado. Depois Vitor a conduz de volta para a mesa,
puxando a cadeira para que Amélia sente-se. Dá um beijo na mão dela e só
então toma seu lugar de novo.
- Quanto eu sonhei dançar assim com você, sem precisar se preocupar com
nada... – ele comenta, contemplando-a.
- É mesmo? – ela pergunta com doçura.
- Naqueles tempos em Girassol, cada música romântica que eu ouvia, eu
imaginava nós dois dançando de rosto colado, como fizemos agora.
- Eu também imaginava... embora eu tivesse tantos problemas familiares
naquela época que nem me restava muito tempo para sonhar...
Vitor acaricia a mão dela sobre a mesa, e se inclina um pouco para a frente,
baixando o tom de voz:
- Teve uma noite que eu até chorei, sozinho no quarto. Foi quando ouvi essa
música que acabamos de dançar... Você estava presa na fazenda, e eu ali,
precisando tanto de você ao meu lado para continuar vivendo...
Amélia aperta a mão dele:
- Nunca mais nós vamos ficar separados, nunca...
- Nunca mesmo. Eu não vou deixar você sair de perto de mim. “Eres mi luna,
eres mi sol...” – Vitor cantarola novamente.
Amélia olha fixamente para ele:
- Te amo.
- Te amo – ele retribui, beijando a mão dela outra vez – Vamos pedir agora? Já
escolheu seu prato?
- Você escolhe pra mim? – ela pede de um jeito meigo.
- Ah, que responsabilidade...
- Confio em você – assegura Amélia.
Vitor sorri e faz o pedido, com pratos iguais para os dois.

Após o jantar, enquanto voltam para o hotel, Vitor comenta:
- Amanhã quero te levar no Real Jardim Botânico. Você, que gosta tanto de
flores, vai adorar. Tem plantas do mundo todo, cerca de 5000 mil espécies de
árvores, plantas e rosas coloridas.
- Jura? – ela pergunta, boquiaberta – Mas nós vamos conseguir ver tudo num
dia?
- A gente vai duas vezes, então. Tem outro lugar que precisamos visitar, o
Centro de Arte Reina Sofia. É lá que está a famosa “Guernica”, de Picasso. Eu
já estive lá, e acho que fiquei uma meia hora só diante dessa tela, examinando
cada detalhe, quase hipnotizado.
- Ah, quero ver também! Quando eu vinha para a Europa, ficava mais entre a
França e a Itália, quase não conheço nada da Espanha.
- Já comigo era o contrário. Pouco conhecia da Itália, mas de Madri e
Barcelona, modéstia à parte, eu entendo. Quase namorei uma espanhola,
sabia?
- Como assim? – Amélia questiona sem perder o sorriso.
- Ih, faz muito tempo isso, acho que foi na primeira vez que vim pra cá, não
tinha nem 20 anos ainda. Me apaixonei perdidamente por uma moça, aqui de
Madri, inclusive. Mas ficamos juntos uma vez só, e já tive que voltar para o
Brasil. Até trocamos telefones, mas acabamos perdendo totalmente o contato,
nunca mais soube dela.
- Ah... coisa do passado, então?
- É, passado remoto. Meu presente agora é levar a mulher da minha vida aos
lugares mais bonitos dessa cidade que eu adoro.
Eles trocam um rápido beijo e continuam o caminho, abraçados.

Amélia e Vitor passam os dias seguintes nesses passeios. No terceiro dia, eles
estão chegando de volta ao hotel quando são abordados por uma bela moça
de longos cabelos castanho-escuros.
- Vitor e Amélia Vilar?


XV




Os dois se viram para a moça:
- Sim?
- São vocês mesmos? O casal da Rurbana?
- Em carne e osso – brinca Vitor.
- Eu vi vocês no catálogo... Amélia, suas peças são maravilhosas! Mas até hoje
só pude comprar essas pulseiras – a espanhola ergue o braço, mostrando três
pulseiras de capim dourado.
- Obrigada. Logo nós vamos lançar uma nova coleção – agradece Amélia.
A moça olha fixamente para Vitor, e fica por alguns instantes parecendo
hipnotizada. Finalmente, diz, ainda paralisada:
- Você é ainda mais bonito ao vivo do que nas fotos...
Vitor baixa os olhos, constrangido. Amélia o abraça e olha com firmeza para a
moça, esforçando-se para não ser hostil:
- É, eu também acho.
A espanhola se dá conta da gafe:
- Ah, desculpa! Não queria causar nenhum constrangimento... é melhor eu ir
embora. Adorei conhecer vocês pessoalmente – ela dá um sorriso amarelo e
se afasta.
Amélia a acompanha com um olhar nada amigável até que a moça suma da
vista deles. Ao seu lado, Vitor aperta os lábios para não rir.
Eles entram no hotel, e pegam o elevador, apenas os dois. Amélia ainda está
com cara de raiva, e Vitor não se contém mais, cai na risada, quase chora de
tanto rir.
- Qual é a graça? – pergunta Amélia, ainda zangada.
- Você está tão bonitinha, assim, com ciúme... – ele brinca, entre risos.
- Aquela zinha estava te devorando com os olhos! – ela exclama, impaciente.
- E daí? Ela não vai pôr mais do que os olhos em mim...
Amélia se desarma:
- É verdade, desculpa... sou uma boba, né?
- A coitada ficou com medo do seu olhar fuzilante... – comenta Vitor, ainda se
divertindo com a situação.
Ela retruca com altivez:
- Era para ficar mesmo... assim ela aprende a respeitar o meu homem.
Ele muda de expressão, fica com a respiração quase suspensa:
- Como, Amélia? O que eu sou? Repete pra mim...
- O meu homem... só meu.
Vitor puxa Amélia para os braços dele quase bruscamente e a beija com ardor.
- Assim você me deixa louco... – murmura no ouvido dela, voltando em seguida
a beijar-lhe os lábios cada vez com mais intensidade, ao mesmo tempo em que
as mãos percorrem o corpo dela como se quisessem tirar-lhe a roupa ali
mesmo.
Amélia tenta reagir, mas não consegue, o desejo toma conta dela também.

Trilha sonora: Fuego en el fuego – Eros Ramazzoti
http://www.youtube.com/watch?v=V9zb5G5sidc

O elevador para no andar deles, que continuam aos beijos quando a porta
abre. Eles saem para o corredor sem se soltar.
- Calma, Vitor! – ela sussurra, tentando afastá-lo até chegarem ao quarto.
Ofegante, ele a pega nos braços e anda o mais rápido possível para o quarto.
Mal tranca a porta e já a coloca no chão, tirando-lhe a blusa com pressa, e
descendo com beijos pelo colo, enquanto empurra-a até a cama. Amélia
também vai abrindo a camisa de Vitor, que termina de tirá-la sem abrir todos os
botões. Eles vão deitando na cama de qualquer jeito, tomados por um desejo
mais forte do nunca. E se amam intensamente, com urgência, como se
tivessem ficado muito tempo longe do corpo um do outro e não soubessem
quando estariam juntos de novo.

Quando despertam do sono depois do amor, Vitor contempla Amélia ali ao seu
lado e pede:
- Diz de novo?
- O quê? – ela se faz de desentendida, com um olhar travesso.
- Você sabe... - ele retruca – Me chama do que você me chamou antes, vai...
Amélia olha para ele como se estivesse pensando se ele merecia ou não, ainda
com um jeito travesso. Morde o lábio e enfim, diz:
- Meu homem...
- Amélia... – ele murmura, trazendo para o mais perto possível de si e a
beijando com paixão. Depois, olha nos olhos dela – Sou seu, sim... todo seu.
Ela sorri, e ele continua, perguntando com ar de quem já sabe a resposta:
- E você, é minha?
- Você tem alguma dúvida?
- Não... – ele afirma, juntando seus lábios aos dela novamente.
Eles se deixam ficar na cama por mais algum tempo, trocando beijos e carícias,
de um jeito mais ameno do que no início.

Mais tarde, ainda na cama, eles conversam.
- Aonde vamos amanhã? Ainda temos mais um dia em Madri, né? – pergunta
Amélia.
- Estava pensando em te levar no Parque de El Retiro. É o maior parque de
Madri. A gente pode alugar um barco e passear pelo lago que tem lá...
- Barco? Desde que você não queira conduzi-lo... – ela ri.
- Ah, só porque eu deixei cair o remo da gôndola em Veneza? Mas uma coisa
dessa não acontece duas vezes... – ele tenta argumentar.
- Melhor não arriscar – ela continua rindo.
- Está bem, você venceu. Sem barco, então. Se bem que, eu até preferia ter
alguém remando por mim, assim eu posso concentrar toda a minha atenção
em você!
- Devia ter pensado assim em Veneza... – ela provoca.
- Tá, eu sei que fui culpado, que deixei a gente à deriva no meio do canal... não
precisa ficar me lembrando de disso – Vitor reage, um pouco chateado.
- Estou brincando, amor... – Amélia se justifica, mas Vitor continua sério,
parecendo incomodado. Então ela começa a dar beijinho pelo rosto dele, até
que ele sorri e junta seus lábios aos dela.


XVI
Depois de passearem boa parte do dia pelo Parque de el Retiro, eles voltam ao
hotel para arrumarem as malas, pois partem no final da tarde. Enquanto
conferem se nada ficou esquecido no quarto do hotel, Vitor comenta:
- Que pena que já estamos indo embora. Se a gente ficasse mais uns dias,
podia ver as touradas na Plaza de Las Ventas, que começam amanhã.
Amélia olha para ele, surpresa:
- Não acredito que você gosta de touradas... não tem pena dos touros?
- Amélia, eu sou dono de frigorífico... Se eu tivesse pena de boi, já tinha
mudado de ramo, não acha? – ele retruca com calma.
- É mesmo... mas é diferente, você não maltrata os bois por esporte.
- Entendo. Também não gosto daquelas touradas em que espetam o touro por
todo lado, o fazem sangrar... bonito é ver o toureiro manejando a capa
vermelha, fazendo quase uma dança com o touro – Vitor explica com o olhar
meio distante, de quem está relembrando cenas já vistas.
- Acho que eu nunca vou compreender o prazer que algumas pessoas têm com
esse tipo de espetáculo, desculpa – devolve Amélia, sem saber mais o que
dizer.
- Tudo bem, amor... – Vitor a abraça – É a sua forma de pensar, eu respeito.
Além do mais, não vamos ver touradas mesmo... Barcelona nos espera.

Trilha sonora: Por amarte – Enrique Iglesias
http://www.youtube.com/watch?v=Sgs5_4clCpQ&feature=player_embedd
ed

Eles chegam a Barcelona à noite, e ficam descansando no hotel. No dia
seguinte, logo cedo, Vitor leva Amélia para o porto da cidade.
- É por aqui que você vai começar a conhecer Barcelona. Vamos subir na torre
de Cristovão Colombo, tem um mirante lá em cima – ele explica.
Quando alcançam o mirante, Vitor abraça Amélia por trás e diz:
- Olha... daqui a gente tem um vista panorâmica do centro da cidade. Bem-
vinda a Barcelona, meu amor...
- É linda...
Eles ficam algum tempo olhando a vista da cidade, abraçados. Depois vão
descendo as escadas lentamente, enquanto Vitor avisa:
- Saindo daqui, nós vamos subir o monte Montjuic. Lembra da Olimpíada de
92?
- Lembro, sim.
- O Montjuic foi a sede do Parque Olímpico. Lá também fica o Museu de Miró,
você quer conhecer?
Amélia para na escada e contém Vitor, passando os braços em torno do
pescoço dele:
- Quero conhecer tudo que você quiser me mostrar.
- Ah, é? Tudo mesmo? – ele devolve com um sorriso malicioso.
- Tudo – ela garante, aproximando seus lábios dos dele.
Eles trocam um beijo apaixonado ali mesmo, no meio da escada. São
interrompidos por um grupo de turistas que tenta subir ao mirante. Amélia e
Vitor dão passagem e descem os degraus restantes aos risos, como um casal
adolescente flagrado num beijo escondido.
No dia seguinte, eles passam algumas horas no Museu Picasso, admirando as
obras do grande pintor espanhol, dispostas em ordem cronológicas. Depois
almoçam num dos restaurantes do Parc Guell e saem a caminhar pelo parque,
que, como fica no alto de uma colina, proporciona uma bela vista da cidade.
Vitor avista um banco e convida Amélia para sentarem um pouco. Após se
acomodarem no banco, ela olha em volta:
- Quem lugar bonito, né? Esses jardins...
- É, a gente pode vir pra cá um dia fazer um catálogo da Rurbana. Embora eu
ache que se a gente decidir mesmo fazer as fotos em Barcelona, o Parc de la
Ciutadella pode ser um cenário ainda melhor. Diante da Fonte da Cascata!
Vamos para o Ciutadella amanhã?
- Vamos. Fiquei curiosa para conhecer essa fonte...
Vitor fica pensativo por alguns instantes, olhando para Amélia:
- Sabe o que lembrei agora? Daquele dia em que você e as meninas
fotografaram para o primeiro catálogo. Fiquei te olhando de longe... doido para
chegar mais perto.
- Mas tinha um cão de guarda me vigiando... – ela recorda, com o olhar meio
sombrio.
- Não ia ter cão de guarda que me impedisse de ao menos te olhar naquele dia.
Você estava tão linda! Tão linda... que naquela noite até sonhei que você
chegou no meu quarto da estalagem vestida com a mesma roupa do ensaio, a
maquiagem, o cabelo... Mas no sonho não era um aplique, eu desfiz o seu
penteado e admirei os cabelos caindo por seus ombros, mergulhei no meio
deles para beijar sua nuca...
- Nossa... – murmura Amélia – Sabe que também sonhei com você naquela
noite? No sonho, só havia nós dois, eu posando e você me fotografando. A
cada clique você chegava mais perto, até dar um close nos meus lábios...
Vitor a corta:
- E aí larguei a câmera e te beijei, não foi?
- Como você sabe? – ela ri.
- Se você estivesse na minha frente, tão perto, eu não ia ficar só te
fotografando, com certeza! – ele também ri.
Ainda rindo, eles trocam um beijo.

Mais tarde, os dois estão andando em direção à saída do parque quando uma
moça que vem na direção contrária exclama:
- Vitor?!
O casal para, e Vitor olha para a moça, intrigado:
- Desculpa, eu...
- Você não está me reconhecendo? – ela interrompe, achando graça.
Ele analisa atentamente o rosto dela, de traços fortes, adornado por cabelos
castanhos muito lisos, na altura dos ombros. De repente, fica surpreso:
- Penélope? É você?
- Estou tão diferente assim?
- Muito. Eu lembrava de uma menina com cabelos pela cintura, rosto de
boneca...
Amélia escuta a tudo com a respiração quase suspensa.
- É, meus cabelos estão bem mais curtos – responde Penélope, rindo.
- Você está muito bonita – ele devolve com educação.
- Obrigada. Já você não mudou tanto, continua com o mesmo rostinho de anjo.
- Ah, mudei sim, mais do que parece. Deixa eu te apresentar... – ele segura
Amélia pela cintura – essa é Amélia, minha esposa.
- Prazer, Penélope – a moça cumprimenta Amélia.
- Lembra que te contei que quase namorei uma espanhola? Foi a Penélope.
- Ah... – murmura Amélia, discretamente analisando a moça.

XVII
Vitor continua se explicando:
- Você viu, nem a reconheci de cara...
- É, percebi – responde Amélia, ainda meio desconfiada, mas tentando ser
simpática. Ela se dirige à moça – Você está morando aqui em Barcelona?
- Sim, me mudei faz alguns anos. E vocês, passeando?
- Estamos viajando pela Europa em lua-de-mel, não é, Vitor? – ela olha para o
marido.
- Isso mesmo – ele devolve meio sem graça, percebendo que Amélia estava
com um pouco de ciúme de Penélope.
- Achei que vocês tinham vindo divulgar as peças da Rurbana. Elas fazem o
maior sucesso aqui na Espanha, sabiam?
Vitor sorri:
- Está vendo, Amélia... não disse que a gente ia ganhar a Europa? Não é por
ser minha esposa, não, mas você a melhor designer de joias do mundo!
- Ai, Vitor, não exagera... – ela retruca meio encabulada.
- Se posso dar a minha opinião, acho suas peças lindíssimas, Amélia –
comenta Penélope, mostrando o brinco que está usando, da Rurbana – Uso
muito esse brinco, sabia?
- É mesmo? Obrigada... – Amélia fica ao mesmo tempo feliz pelo elogio e sem
graça por ter sido quase hostil com a moça.
Vitor fica olhando para a ex-namorada por alguns instantes, ainda surpreso por
tê-la encontrado:
- Penélope... há quanto tempo, né?
- É, Vitor Vilar... faz anos que a gente perdeu o contato, aliás, que você não me
ligou mais – ela acusa em tom de brincadeira.
- Quando voltei para o Brasil tive que assumir o frigorífico do meu pai, e daí em
diante minha vida foi só trabalho... – ele olha para a esposa - até conhecer a
Amélia.
Enquanto o casal troca um olhar apaixonado, Penélope os observa com
admiração. Depois ela convida:
- Vamos tomar um café e conversar mais um pouco? Tem um café muito bom
aqui pertinho.
- Vamos, sim! – Vitor se empolga – Quero saber mais de você, o que tem feito
esses anos todos...
- Então me acompanhem – Penélope sorri.
Amélia segue Vitor, pensativa. Por mais que soubesse que não havia motivo
para ciúme, sentia-se incomodada.

No café, Vitor e Penélope recordam do curto namoro:
- Lembra, Vitor, que nos conhecemos numa tourada?
- Claro que eu lembro... vi você toda concentrada olhando os movimentos do
toureiro, e não tirei mais os olhos de cima de você, esqueci completamente da
arena.
- Depois você tentou saber de mim através dos amigos que tinha feito em
Madrid, não foi?
- Eu quase subornei o Diego para que ele te levasse ao Real Jardim Botanico –
Vitor dá uma risada.
- Aquele que nós visitamos? – Amélia, sentindo-se deixada de lado, tenta
entrar na conversa.
- Aquele mesmo. Nós passeamos bastante por lá, sabia, Penélope? Achei o
Jardim ainda mais bonito do que eu lembrava.
- Imagino. Mas quando passamos uma tarde lá acho que você nem reparou
muito nas flores... – a moça ri.
- O Jardim eu tinha certeza que veria de novo. Já você... – retruca Vitor, rindo
também.
- Mas foi tudo como tinha de ser, não acha? Tínhamos que viver aquele
momento, apenas aquele – pondera Penélope – É uma lembrança bonita que
carrego da minha adolescência.
- Eu também. Sempre lembrei com muito carinho de você. Se tivéssemos
insistido numa relação à distância, poderíamos ter nos machucado, deixado
marcas não tão boas um no outro – ele concorda.
- É... espero que você seja muito feliz com a Amélia. Vocês formam um casal
muito bonito – afirma a moça.
Vitor olha para a esposa enquanto responde:
- Eu já sou imensamente feliz, muito mais do que imaginei que pudesse ser.
Amélia sorri para ele, lisonjeada.
Penélope observa, achando lindo, e comenta:
- Nossa, Amélia, não é qualquer homem que faz uma declaração dessas...
- É, eu sou uma mulher de sorte – devolve Amélia, sem tirar os olhos de Vitor.
- Bom, está na minha hora – avisa a moça – Felicidades pra vocês. Foi bom te
ver, Vitor.
- Também gostei de te encontrar, Penélope – ele retribui.

Trilha sonora: La Unica - Juanes
http://www.youtube.com/watch?v=8_sUuOx6MJU

Depois que a moça vai embora, Vitor acerta a conta e sai do café com Amélia
também.
Eles caminham pela rua, abraçados, enquanto Vitor vai falando dos locais por
onde passam. Amélia apenas escuta. Ele para e fica de frente para ela.
- O que você tem, Amélia? Está tão calada...
- Ah, Vitor, eu sei que é bobagem minha, mas... você ficou tão feliz em rever
essa sua antiga namorada que eu cheguei a pensar que você tivesse se
sentido balançado por ela – Amélia confessa meio constrangida, sem conseguir
olhar para ele direito.
- Não acredito que você pensou nisso, meu amor... – ele diz com ternura, e
levanta o rosto dela – Olha pra mim... É você que eu amo e que vou amar pelo
resto da minha vida.
- Eu sei, me desculpa. Você me perdoa?
- Perdoo, sim... mas quero um beijo.
- Aqui, no meio da rua?
- Aqui mesmo... vem cá – ele a puxa para seus braços, segura em sua nuca e
a beija com paixão, depois desce os braços para a cintura dela, e ergue Amélia
do chão, rodopiando com ela, que ri, feliz. Quando a coloca no chão de novo,
Vitor a beija novamente e depois diz:
- Sabia que a cada dia te amo mais?
- É? Eu também – ela responde olhando nos olhos dele.
- Então vem, chega de passeio por hoje. Vamos logo pro hotel – ele a puxa
pela mão, fazendo Amélia correr com ele pela rua.


XVIII




Eles chegam ao hotel aos risos, e ofegantes. Ao entrarem no quarto, Amélia
tranca a porta, e Vitor fica logo atrás dela. Quando ela se vira, ele coloca as
duas mãos espalmadas sobre a porta, não deixando Amélia sair dali:
- Você está presa – ele ri.
- Ah, meu Deus... e agora, o que você vai fazer comigo? – ela responde,
entrando na brincadeira.
- Deixa ver... – Vitor chega mais perto, juntando seu corpo ao dela,
pressionando-a contra a porta. Depois roça a barba no pescoço dela, fazendo
Amélia arrepiar. Chega seus lábios perto dos dela, mas quando Amélia tenta
beijá-lo, ele se afasta e sorri de um jeito malicioso – Não... ainda não
- Ah... – ela reclama, devolvendo o olhar.
Vitor se aproxima de novo dos lábios dela, mas em vez de beijá-la desce para
o pescoço, que vai percorrendo com suaves beijos. Desce mais um pouco pelo
colo, depois vai subindo pelo outro lado do pescoço, até chegar perto dos
lábios. Afasta o rosto outra vez e contempla Amélia, sorrindo ao ver os olhos
dela brilhando de desejo. Só então toca os lábios dela com os seus, primeiro
de leve, depois ambos se entregam a um beijo intenso. Vitor vai recuando,
trazendo Amélia junto, sem parar de beijá-la, até caírem sobre a cama. Sem
pressa, vão tirando as roupas um do outro, sem pensar em mais nada além
daquela vontade de terem seus corpos cada vez mais juntos.

No dia seguinte, Amélia acorda com o barulho de uma leve batida na porta.
Quando ela se ergue na cama, Vitor já está indo atender. Ele volta carregando
uma bandeja de café da manhã, que coloca diante de Amélia:
- Pedi para trazerem para nós – explica.
- Humm, estou cheia de fome – ela comenta, analisando a bandeja.
- Então vamos aproveitar – ele diz, colocando um pouco de mel num pedacinho
de pão e levando até a boca de Amélia.

Enquanto saboreiam o café da manhã, Vitor comenta:
- Não visitamos ainda a igreja da Sagrada Família, que é a atração turística
mais popular de Barcelona. Esta catedral está sendo construída há mais de
100 anos, sabia?
- Sério?
- Sim, e ela é uma das obras que Gaudi deixou pela cidade. Você vai ver a
riqueza de detalhes dela, vai ficar impressionada.
- Fiquei curiosa – responde Amélia, servindo-se de mais café com leite.
- Combinado, então: primeira parada, Sagrada Família. Depois vamos para o
Parc de la Ciutadella, namorar diante da cascata...
- Você quer namorar mais? Não vai enjoar de mim desse jeito? – ela brinca.
- Enjoar de você? Não, meu amor... sabe que quanto mais eu te beijo, mais eu
gosto dos seus lábios? – ele devolve, aproximando seu rosto do dela.
- Gosta mesmo? Tanto quanto eu gosto dos seus? – ela rebate, olhando para
os lábios dele.
- Tanto ou até mais... – ele finaliza, beijando Amélia com paixão.

No dia seguinte, quase no final da tarde, eles estão andando pelas Ramblas,
famosas avenidas cheias de lojas, bares, restaurantes e cafés, comprando
lembranças para os amigos de Girassol, quando Vitor olha a hora no celular e
avisa:
- Precisamos ir, amor, senão não chegamos a tempo no aeroporto.
- As malas já estão prontas, é só passar no hotel e fechar a conta.
- Então vamos logo.
Ao saírem do hotel, pegam um pequeno engarrafamento no caminho, mas o
taxista os tranquiliza, garantindo que chegarão à tempo.
Quase em cima da hora, eles correm para fazer o check-in. Quando a
atendente olha as passagens, acha estranho:
- Mas o voo de vocês acabou de sair.
- Como assim? Vamos pegar o voo das 18 horas – contesta Vitor.
- Não, o voo era às 17h, olhem aqui – a moça aponta para o campo do horário
na passagem.
- Não acredito que me enganei no horário – suspira Vitor, levando a mão à
testa.
- E agora? – questiona Amélia, preocupada.
- Vamos comprar outra passagem. Pode me esperar ali com as malas, Amélia
– ele aponta para as cadeiras logo adiante – Eu fiz a confusão, eu resolvo –
afirma, irritado consigo mesmo.
Vitor volta logo depois e senta-se ao lado de Amélia, com cara de quem tem
notícias não muito boas.
- Só consegui passagem para amanhã cedo – ele revela.
- Mas nós já fechamos a conta no hotel... vamos ter que passar a noite aqui no
aeroporto?
- Que jeito... – ele fica pensativo – Que acha de deixarmos as malas num
guarda-volumes e sairmos caminhando pela cidade?
- Melhor do que ficar aqui, parados... – ela devolve.
- Vamos fazer um belo passeio noturno, você vai ver – ele tenta animá-la.

Depois de andarem mais de uma hora pelas ruas do centro, contemplando os
prédios iluminados, Amélia se queixa:
- Estou cansada, vamos sentar em algum lugar?
- Vamos... Nós temos bastante tempo ainda. A gente pode até o Ciutadella,
que acha?
- À noite?
- Sim! Vamos, vou comprar um vinho, a gente escolhe um cantinho
aconchegante no parque e fica lá passando o tempo...

Trilha sonora: Experiencia Religiosa – Enrique Iglesias
http://www.youtube.com/watch?v=3DV57Y4tEAM&feature=player_embedd
ed

Chegando ao parque, eles sentam na grama, próximos a uma árvore.
Intercalam goles de vinho com beijos. Vitor acaricia o rosto de Amélia, já meio
quente por causa do vinho. Com cuidado, a faz deitar sobre a grama, e vai
percorrendo o rosto dela com suaves beijos, descendo até o pescoço. Depois
ele sobe até os lábios novamente, num beijo carinhoso que Amélia
corresponde igualmente, enroscando os dedos nos cachos do cabelo dele.
Eles se aconchegam num abraço bem apertado, e ficam algum tempo assim,
apenas sentindo o calor um do outro. Aos poucos vão roçando os rostos, até os
lábios se encontrarem de novo, num beijo demorado, como se o tempo já não
existisse mais. Entorpecidos pelo cansaço e pelo vinho, eles acabam
adormecendo ali mesmo, abraçados.


XIX
Amor em quatro idiomas
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  • 1. AMOR EM QUATRO IDIOMAS I Amélia está desenhando novas joias quando Vitor chega e coloca duas passagens de avião em cima do desenho. - Pode começar a arrumar as malas, meu amor... partimos daqui a uma semana. - Vitor... – murmura Amélia, quase suspirando. Ela olha as passagens e sorri – Florença? - Só pra começar. Depois vamos para Veneza, Milão, Amsterdã, Madri, Barcelona... como combinamos. - Meu Deus, mas assim vamos passar muito tempo fora... e o frigorífico, a Rurbana? - Já está tudo encaminhado – Vitor conta tranquilamente – A Fátima vai cuidar do frigorífico, e administra também de lá os pedidos da Rurbana. Já combinei também com a Manu, ela e a Pérola vão cuidar da produção das joias em Girassol. - Você pensou em tudo, né? – Amélia sorri. - Mas claro! Nós vamos viajar em lua-de-mel, sem pensar em mais nada... só vivendo como se fosse um sonho. - Você é um sonho! Um homem maravilhoso, que faz de mim uma mulher imensamente feliz... – Amélia passa os braços em torno do pescoço de Vitor, fitando-o de um jeito apaixonado. - É tudo que eu quero... te fazer feliz! – ele devolve o olhar de paixão, e lentamente aproxima seus lábios dos dela, em um beijo intenso. Uma semana depois, Vitor espera na sala, impaciente: - Vamos, Amélia! Assim a gente perde o voo! - Tô indo, é só fechar a mala – ela responde do quarto. - Como assim? Sua mala já não estava pronta?
  • 2. - Estava, mas eu tinha que conferir se não faltava nada – explica Amélia, entrando na sala. - Se faltar algo a gente compra lá. Não sei por que mulher é tão complicada, precisa levar metade da casa na mala... – ele brinca. Amélia olha fixamente para ele, querendo rir: - Porque a gente tem que levar tudo que vocês homens não levam e depois nos pedem! Ah, Vitor, minha mala nem está tão grande assim... Ele examina a mala de Amélia com um olhar zombeteiro: - É, pensando que nós vamos ficar bastante tempo fora, até que você não exagerou... Ela ri e questiona: - E então, você não estava com pressa? - Sim, sim, mas acho que dá tempo de mais uma coisa – ele dá um beijo apaixonado em Amélia, sorri e só então vai abrir a porta. Com um sorriso de encantamento nos lábios, ela o segue. Trilha sonora: Con te partiro – Andrea Bocelli http://www.youtube.com/watch?v=tcrfvP11Hbo Chegando ao aeroporto, eles vão direto para a fila do check-in. Enquanto esperam a sua vez, Vitor passa os braços em torno da cintura de Amélia e a contempla. - O que foi? – ela questiona, sorrindo. - Só estou olhando o quanto minha mulher é linda... - Ah, Vitor... – ela murmura de um jeito derretido. A fila anda um pouco, Vitor empurra o carrinho com as malas sem soltar totalmente Amélia. Quando param, ele a encara novamente: - Linda! – Vitor sussurra, e se aproxima mais para beijá-la. Amélia empurra delicadamente o rosto dele, com o dedo nos lábios do amado: - Aqui não... - Por quê? – ele reclama com voz me menino manhoso. - Vitor, nós estamos no meio do aeroporto. Vamos ficar nos comportando como um casal adolescente, sem noção de limite? – ela repreende com doçura. Como a fila andou novamente, Vitor dá uns passos à frente antes de responder, trazendo Amélia junto: - É que ao seu lado eu me sinto sempre como um adolescente que está amando pela primeira vez... - Eu também, meu amor. Mas se controla um pouquinho... - Tá bem – ele resigna-se, e fica apenas acariciando o rosto dela, até serem chamados no balcão. Após despacharem as malas, eles vão tomar um café, para esperar até a hora do voo. Vitor fica roçando nos dedos de Amélia sobre a mesa e comenta: - Lembra aquela noite em que jantamos juntos em Juruanã, tendo que disfarçar o que estávamos sentindo? - Lembro. Quando o Max estava no hospital? Vitor faz uma careta ao ouvir o nome do ex-sócio: - É... – ele respira fundo e fica com a expressão amena novamente – Então, naquela noite, eu estava louco para fazer assim...
  • 3. Ele entrelaça seus dedos com os de Amélia, e traz a mão dela para junto de seus lábios, percorrendo o dorso da mão dela com beijos. Desce até o pulso beijando, e então olha para Amélia com um sorriso. Ela também está sorrindo, com os olhos brilhando, encantada. - Você me deixa sem palavras... – é só o que ela consegue dizer. - Seu olhar e seu sorriso já dizem tudo que eu preciso. - Ai, Vitor... como você consegue ser sempre assim, tão romântico? - Nem eu sei. Foi você quem me deixou assim, culpa sua – ele ri. Amélia também ri, e fica contemplando Vitor. Ele se levanta: - Você espera aqui um pouquinho, que eu vou buscar uma encomenda e já venho? - Que encomenda? - Você já vai saber curiosa... – ele brinca, dá um beijinho nos lábios dela e sai. Amélia fica ansiosa, a cada pequeno gole de café ela olha para a porta, esperando ver Vitor de volta. Finalmente ele chega, senta-se, e estende uma caixinha de veludo para Amélia: - Mandei fazer especialmente para usarmos durante nossa viagem – explica. Ela abre a caixinha e fica boquiaberta. Há duas medalhas de ouro branco com uma imagem em relevo, junto a correntes do mesmo material. - É São Valentim, o protetor dos apaixonados – Vitor diz, pegando uma das medalhas e olhando na parte de trás – É, essa é a sua. Ele se levanta e coloca a corrente no pescoço de Amélia, que segura a medalha entre os dedos e lê o nome gravado no verso: - Mas aqui está escrito “Vitor”... - Sim. E na minha está escrito Amélia. Nós somos um do outro, não somos? – ele esclarece, pegando a outra medalha para colocar também. Amélia se levanta e o ajuda a fechar a corrente, depois o abraça forte e lhe dá três beijos nos lábios: - Vitor... que lindo! Você não existe... – ela murmura, com a voz embargada, os olhos quase marejados. Algum tempo depois, eles vão para o avião e se acomodam em seus lugares. Quando é dado o aviso de que o avião vai decolar, Vitor segura a mão de Amélia e eles ficam se olhando, e sorrindo, cheios de expectativa. II
  • 4. Vitor já havia reservado uma suíte num dos melhores hotéis de Florença. Ao chegarem, Amélia se arruma para almoçarem e depois irem visitar os pontos turísticos da cidade. - Vou tomar um banho antes, está bem? – avisa Vitor. - Vai lá, eu espero – sorri Amélia. Enquanto Vitor vai para o banheiro, Amélia caminha até a sacada do quarto. Observa atentamente a vista por alguns instantes, até que seu olhar vai ficando perdido. Em sua mente, ela vai revendo tudo que viveu com Vitor até aquele instante. Trilha sonora: Eppure Sentire – Elisa http://www.youtube.com/watch?v=llew0MMIxDo Lembra-se desde quando sentia o chão fugir de seus pés diante dele, mas achava que não passaria de um sentimento platônico... o dia em que seus olhares se encontraram ao experimentar a cama na estalagem... o primeiro beijo... a angústia quando ele desapareceu... a alegria do reencontro... E depois disso, tantos beijos e declarações trocados no quarto da estalagem, às escondidas, o medo da vingança de Max, o começo da sociedade das joias, a revelação aos filhos e o apoio deles, o atentado na noite do lançamento do catálogo, as loucuras de Vitor aparecendo de surpresa em seu quarto, mais beijos e declarações... Ela ri ao recordar do encontro no salão de beleza, onde chegara disfarçada. Naquele dia, Vitor disse que iriam morar na Europa, citando as cidades que agora começavam a visitar. Depois continuaram se encontrando furtivamente até o dia em que Vitor levou o tiro... Amélia engole em seco e não consegue evitar as lágrimas ao lembrar-se daquela noite, da dor de vê-lo ferido, quase perdendo a vida... Ela solta um suspiro, dizendo a si mesma que aquela dor os uniu ainda mais, porque depois daquele momento jamais se separaram. E sorri, recordando dos dias maravilhosos no Jalapão... a vida só de alegrias desde então... Ela estava ainda com o olhar perdido quando Vitor se aproxima e a abraça por trás. Ele fica preocupado ao perceber o rosto úmido dela: - Amélia, você está chorando? - Meu amor... estava lembrando de tudo que vivemos até aqui... nossa, nós passamos por tanta coisa para hoje podermos estar vivendo essa felicidade... - É mesmo. Talvez seja justamente por isso que nosso amor é tão forte... já superou muita coisa – ele responde virando Amélia de frente para ele, e acariciando os cabelos dela, enquanto com a outra mão enxuga uma lágrima que ainda estava caindo. Eles trocam um beijo delicado, e Amélia pergunta: - Está com fome? - Estou... doido por uma legítima pasta italiana. - Andiamo! – ela diz, puxando o pela mão. Vitor a contém, retrucando: - Io non parlo italiano, donna... - Ma... tu stai parlando! - Que nada... – ele ri – só tem uma coisa que eu realmente sei “parlar” – ele olha bem nos olhos de Amélia – Io ti voglio bene, amore mio... Ela solta um suspiro apaixonado e murmura:
  • 5. - Tu sei l’amore della mia vita... - Eu sou o amor da sua vida, é isso? Amélia dá um grande sorriso: - Isso! - Ah, essa foi fácil... – Vitor brinca. - Bobo... ou melhor, “scemo”. Andiamo a mangiare... – ela vai puxando-o pela mão. - “Mangiare” eu sei, é comer – ele ri, enquanto deixam o quarto. Após o almoço, Amélia leva Vitor para conhecer vários museus e igrejas de Florença, como o Duomo de Santa Maria dei Fiori, a Galleria degli Uffizi, Palazzo Strozzi e o Palazzo Vechio. Ao passarem pela Ponte Vecchio, sobre o rio Arno, Amélia chama a atenção de Vitor para os vários cadeados colocados na estrutura dela: - Os casais vinham colocar esses cadeados aqui. Existia uma tradição de que ao trancar o cadeado e lançar a chave ao rio, os amantes tornavam-se eternamente ligados. - Onde eu arrumo um cadeado, agora? – diz Vitor, em tom maroto. Ela ri antes de responder: - Como tinha muitos turistas colocando cadeados, a remoção estava estragando a estrutura da ponte. Por isso, hoje há multa para quem é flagrado fazendo isso... - Quanto? - Cinquenta euros. - Ah, mas o que são cinquenta euros perto de uma vida toda ao lado da mulher que eu amo? – ele retruca. Amélia acha graça e devolve: - Nós dois não precisamos de cadeado nenhum... já estamos eternamente ligados – ela passa os braços em torno do pescoço dele. - Estamos – concorda Vitor, aproximando os lábios. Eles trocam um beijo demorado ali mesmo, no meio da ponte, e seguem o passeio. Trilha Sonora: Amare Veramente – Laura Pausini http://www.youtube.com/watch?v=tOfjDd-nQ9c Ainda na ponte, Amélia pára e comenta: - Escuta, essa música... - O que tem ela? - Ela diz muito do que sinto por você. Esse trecho, vou traduzir: “Tudo passa rapidamente ao nosso redor Você pertence a mim agora e eu sei Antes eu tinha o coração adormecido para Amar verdadeiramente” - Nossa... – Vitor balbucia, impressionado. - Espera, tem mais: “Você está em minha vida mais do que nunca Além do muro dos meus silêncios Um suspiro de serenidade
  • 6. O amanhecer de uma nova liberdade” - Eu represento tudo isso pra você? – ele pergunta, ficando emocionado. Amélia olha bem nos olhos dele e aponta na direção do som, traduzindo o trecho final: “O que eu nunca entendi Está agora tão claro a meus olhos Você sabe amar de verdade, e você sabe Chegar onde nenhum outro jamais esteve.” Vitor e Amélia se olham, ambos com os olhos marejados, e ao mesmo tempo se juntam em um abraço bem forte, até que os lábios vão se procurando. E eles se beijam de um jeito cheio de amor. - Te amo, te amo... – sussurra Vitor. - Também te amo... – devolve Amélia, também sussurando. Vitor respira fundo, tentando voltar ao normal: - Ai... como você me faz ficar emocionado desse jeito em público? – ele brinca, enxugando uma lágrima do canto do olho. - Não se preocupa... nós estamos na Itália, aqui as emoções ficam à flor da pele. Ninguém vai reparar – ela responde com doçura, sorrindo. - É verdade... você e eu aqui, juntos e felizes - Vitor sorri também – E o que mais você vai me mostrar nessa cidade linda? - Mais palácios e galerias. Ah, e também a Piazzale Michelangelo! - Então vamos em frente, amore mio... – ele caminha, segurando a mão de Amélia com os dedos entrelaçados. III Logo depois de sair da ponte, eles se deparam com o Palazzo Pitti. - Olha, Vitor, que bonito! – exclama Amélia.
  • 7. - É mesmo – ele a abraça por trás, e ficam alguns instantes assim, em silêncio e abraçados, contemplando o palácio – A gente deveria morar num lugar assim... - Um palácio? – ela fica curiosa. - Sim. Você é uma rainha, merece nada menos do que um palácio. - Ah, Vitor... – murmura Amélia, achando aquilo muito fofo. Vitor sorri, lembrando de algo: - E além disso, eu prometi pro Fred que ia tratar você como uma rainha, sabia? - Sério? - Sério. Foi no dia em que ele contou pra Manu sobre nós. Eu disse que não sabia como retribuir o apoio e a confiança deles. E o seu filho nem hesitou – ele imita a voz de Fred – “Eu sei como: tratando a dona Amélia como ela merece, como uma rainha!” - Que bonitinho! – ela exclama, tentando olhar para Vitor. - Mas nem precisava ele dizer isso, né? – Vitor vira Amélia para ele e diz chegando bem perto dos lábios dela – Minha rainha... Ele nem a deixa responder e já cola seus lábios aos dela. Depois de um beijo carinhoso, Amélia diz: - Vamos entrar no palácio? Quero lhe mostrar a Galeria Palatina, cheia de obras renascentistas. Tem vários museus lá dentro também. - E eu consigo dizer não pra você? – ele retruca. Ela ri e puxa Vitor pela mão. Eles passam o restante da tarde vendo as obras da Galeria Palatina e dos muses da Prata e da Porcelana. Saem do palácio já à noite. Trilha sonora: Amo Te – Biagio Antonacci http://www.youtube.com/watch?v=FuPd01DfeeA&feature=related Ao chegarem de volta ao quarto do hotel, Vitor se joga na cama: - Nossa, acho que nunca caminhei tanto! - Exagerado... - Amélia, você quis me mostrar Florença toda num dia! Ela ri: - Ih, tem muito pra ver ainda... em muitos lugares a gente nem entrou. - Ainda bem que a gente não vai ficar muitos dias aqui – ele brinca - Logo vamos para Veneza, depois Milão... - Vitor, como nós já estamos na Itália, podemos passar em Roma também? No Vaticano... pedir uma benção do papa. Vitor senta na cama: - Se você quer, nós vamos. - Quero, sim – ela responde, segurando a medalha de São Valentim. - Então, Roma já está no roteiro. - Obrigada, amor – Amélia atira um beijo e se afasta. - Onde você vai? - Tomar um banho – ela responde já quase na porta do banheiro. - Hummm – ele murmura, com um olhar malicioso – Será que... Amélia o chama fazendo um gesto com o dedo indicador. Vitor levanta e vai depressa até ela: - Ué, não estava cansado? – ela brinca. - Foi só pensar em tomar banho juntinho com você que o cansaço sumiu...
  • 8. Amélia ri, e entra no banheiro. Vitor abre o ziper do vestido dela, fazendo-o cair no chão. Depois vai cuidadosamente tirando a roupa íntima de Amélia, contemplando o corpo dela. Enquanto ela entra na banheira, ele tira rapidamente a própria roupa, e entra também, abraçando-a. Vitor passa as mãos pelo corpo de Amélia, esfregando a água misturada com sabonete líquido e sais. Começa massageando o pescoço e vai descendo, até chegar aos pés. Então Amélia aproveita e pega um dos pés dele, começando uma massagem. - Você caminhou muito hoje. Assim vai passar a dor nos pés – ela explica, trocando de pé e pressionando a sola com as pontas de seus dedos. Vitor fecha os olhos por alguns instantes, apenas curtindo aquela sensação. - Humm, isso é bom! Acho que eu vou querer uma massagem dessa todo dia... – ele brinca. - Ah, é? – Amélia ri e joga um pouco de água nele. - Não... eu quero muito mais que a massagem... – Vitor responde, vindo para cima dela até encaixarem seus corpos e seus lábios. O beijo vai ficando mais intenso e eles se amam ali na banheira. Depois Amélia fica aninhada nos braços de Vitor por algum tempo, até que pergunta: - Vitor, há quanto tempo estamos aqui dentro da água? - Que importa? - A gente esqueceu da vida aqui... – ela ri. - E estava tão bom... – ele retruca, com um sorriso travesso. - Estava – Amélia também sorri – Mas já é hora de sair. Ela se levanta e pega uma toalha. Vitor sai da banheira rapidamente e pega o roupão de Amélia, ajudando-a colocar. - Meu Deus, até isso você faz? – ela murmura, encantada. - É, estou tentando ser perfeito – ele brinca. - Bobo... Vitor também veste um roupão. Eles se recostam na cama, e de tão cansados acabam dormindo logo. No dia seguinte, Amélia leva Vitor até o Palazzo Vechio, do qual só tinham passado na frente. Desta vez eles entram para visitar os pátios e salas, com todas as suas obras de arte. Estão contemplando o primeiro pátio quando ouvem uma voz masculina: - Amélia? Os dois se viram e se deparam com um homem alto, de cabelos grisalhos, sorriso cativante, com aquele típico charme dos italianos. - Andrea! Há quanto tempo! – exclama Amélia, reconhecendo-o. - Amélia, é você mesma? Como pode estar ainda mais bonita do que a última vez que nos vimos? Vitor engole em seco, esperando pela resposta da esposa. IV Amélia segura no braço de Vitor e o apresenta: - Andrea, esse é meu marido, Vitor Vilar – ela olha para o marido – Vitor, o Andrea é um velho amigo, aqui de Florença. - Andrea Antonacci, muito prazer – o italiano estende a mão para Vitor, que aperta a mão dele, ainda meio inseguro.
  • 9. - Você mora aqui mesmo, em Florença? – pergunta Vitor, analisando o outro com o olhar. - Um pouco em Florença, um pouco em Milão. Tenho uma grife de moda masculina. - O Andrea era modelo também, na mesma época que eu. De vez em quando nos encontrávamos nos bastidores – lembra Amélia, sorrindo para o amigo. - É mesmo... – Andrea também sorri - você era a mais linda de todas, exuberante. Pena que logo parou de desfilar porque casou com um fazendeiro, não foi? - Foi... – ela fica com uma sombra no olhar - larguei tudo por causa do Max. Mas ele morreu tem algum tempo e eu refiz minha vida, casei novamente – ela olha para Vitor, voltando a sorrir – e estou mais feliz do que nunca. - Que bom, Amélia... Fico feliz por você. Eu já não tive a mesma sorte, já me separei duas vezes e estou sozinho há uns cinco anos. Às acho que nunca vou encontrar uma mulher que me deixe perdidamente apaixonado. - Logo você falando assim... as minhas colegas de passarela brigavam por causa do Andrea, sabia, Vitor? – revela Amélia. - Ah, nem tanto... – o italiano ri – Vocês vão ficar quanto tempo em Florença? Podíamos marcar um jantar. - Estamos em lua-de-mel pela Europa, daqui há dois dias já vamos para Roma, não é, amor? – Vitor apressa-se em explicar. - Sim – ela confirma – Mas isso não inviabiliza um jantar. - Amanhã, que tal? Vou levá-los para conhecer o melhor restaurante de Florença – convida Andrea. Amélia olha para Vitor de um jeito de quem pede para ele aceitar. - Está bem. Jantaremos amanhã – ele concorda, tenso. Após trocarem telefones, Andrea se afasta. Trilha sonora: Vivimi – Laura Pausini http://www.youtube.com/watch?v=e1VDNwYg990 Vitor fica calado por alguns instantes, como se estivesse digerindo tudo que ouviu. - Amor... algum problema? – pergunta Amélia, preocupada. - Você e esse Andrea... já tiveram alguma coisa além de amizade? – ele questiona, bastante incomodado. Amélia começa a rir: - Vitor, você ficou com ciúme? – ela continua rindo – Nunca tive nada com o Andrea... e mesmo se tivesse acontecido um namoro, algo assim, teria sido muito antes de te conhecer. - Sei lá, o jeito que olhou pra você, que falou da sua beleza... não gostei, ele parecia que estava cobiçando a minha mulher – Vitor dá enfase ao “minha”. - Mesmo se estivesse, eu não daria importância. – Amélia olha nos olhos dele – É você que eu amo, ouviu? - Eu sei, meu amor, desculpa... – ele a olha com arrependimento – Mas assim como você às vezes pensa que eu possa querer uma mulher mais jovem, da minha idade, eu também fico inseguro de vez em quando, pensando que de repente você pode me achar muito imaturo e querer um homem com mais maturidade, experiência de vida...
  • 10. - Nunca mais pense isso... Como eu poderia não te querer mais? Só se eu fosse muito burra. Eu já tenho o melhor homem do mundo ao meu lado. - Você pensa isso mesmo? – ele devolve com um sorriso emocionado. - O que mais eu preciso fazer pra te convencer? - Nada. Só me beija – ele toma Amélia nos braços e beija seus lábios com paixão. Amélia e Vitor passeiam por todas as salas do palácio, depois almoçam num restaurante ali perto e seguem para outros museus e galerias. No outro dia, eles visitam o centro histórico e mais obras de arte. Ao retornarem ao hotel, no final da tarde, recebem da recepcionista um recado deixado por Andrea, avisando que o jantar teria que ser cancelado, porque ele precisara ir para Milão às pressas. - Ah, que pena... – murmura Amélia. - Eu não acho – retruca Vitor, segurando-se para não rir. - É, eu imagino que você tenha gostado da notícia – ela devolve com leve ironia – Mas quem sabe a gente consegue jantar com o Andrea em Milão? - Tá bem interessada em jantar com esse cara, né? – Vitor não consegue disfarçar o ciúme. Amélia ri: - Não... prefiro jantar com você – ela diz, passando os braços em torno do pescoço dele – Mas eu adoraria poder conversar mais um pouco com meu amigo Andrea... Tenso, Vitor questiona: - Você acha que ele é mais bonito do que eu? - Desde quando você ficou tão inseguro? – devolve Amélia, sem perder a calma. - Não sei... me responde, por favor... – ele implora. - No quarto eu respondo. Vamos – ela o conduz pela mão até o elevador. Eles sobem em silêncio, Vitor bastante ansioso. V
  • 11. Após entrarem no quarto, Amélia larga a bolsa num canto e se posiciona bem em frente a Vitor. Ela percorre o rosto dele com os dedos, enquanto vai falando: - Esses olhos profundamente verdes, esse nariz do tamanho exato, esses lábios tão bem desenhados... – ela passa os dedos em torno dos lábios dele, que tenta beijar os dedos dela. Amélia sorri e vai descendo as mãos: - Esses braços fortes, esse peito onde gosto tanto de repousar... – ela acaricia os bíceps e o peitoral de Vitor - Você é tão perfeito que me dá até medo. - Medo de quê? - De que um dia eu descubra que você não é real... – ela sorri. Vitor a puxa para seus braços e responde, sorrindo: - Eu sou real, sim... – ele a beija com intensidade, e vai conduzindo-a até a cama. Amélia desabotoa a camisa de Vitor ao mesmo tempo em que ele tira a blusa dela. Logo se livram das roupas que faltam e sentem seus corpos colados como se fossem se fundir. Vitor beija o pescoço e o colo de Amélia, enquanto suas mãos percorrem o corpo dela, que se entrega totalmente aos carinhos dele. Eles se amam sem pressa, curtindo intensamente cada sensação que provocam um no outro. Eles acordam tarde no dia seguinte, e tomam café no quarto, intercalando morangos e torradas com beijos. Depois arrumam as malas. À tarde, partem para Roma. Trilha sonora: Abbracciami – Nek http://www.youtube.com/watch?v=-iUWn05NFlA&feature=related Já na capital italiana, à caminho do hotel, eles passam em frente à Fontana de Trevi. Amélia grita para o taxista: - Pare, per favore! - Que foi, Amélia? – pergunta Vitor. - Vamos parar aqui um instante – ela se dirige ao taxista – Aspetta un attimo (Espera um momento)? O homem confirma com a cabeça. Amélia desce do carro, seguida por Vitor. - Essa é a Fontana de Trevi. - Sei, já ouvi falar – ele fica pensativo, observando a fonte – Acho que já estive aqui... deve ter sido com meus pais, quando era pequeno. Minha mãe era bastante religiosa, e uma vez meu pai a presenteou com uma viagem a Roma. A única coisa que eu me lembro daquela viagem é de minha mãe chorando de emoção ao ver o papa João Paulo II. - É? Você nunca me contou isso – comenta Amélia, comovida. - Minha mãe rezava tanto, e morreu tão cedo... cheguei a me revoltar contra Deus, na época. Perdi a fé, sabe? Eu procurei esquecer tudo que tivesse a ver com religião. Com o tempo eu fui me reaproximando de novo da igreja... mas ainda guardo uma desconfiança, sabe? - Vitor... – ela o abraça com carinho, e acaricia os cabelos dele.
  • 12. - Talvez não seja por acaso que você me fez vir a Roma... e vai me levar ao Vaticano. Será que eu consigo fazer as pazes com Deus? – Vitor questiona com um sorriso meio triste. - Eu te ajudo – Amélia garante, acarinhando o rosto dele. Vitor abraça a esposa com força, e fica abraçado a ela por alguns instantes, em silêncio, até que ao levantar os olhos vê o táxi parado. - O taxista está esperando, meu amor. - Já vamos, só me consegue uma moeda, antes? Vitor encontra apenas duas moedas na carteira, e mostra para Amélia. - Só precisamos de duas, mesmo... – ela sorri, pega uma das moedas da mão dele, e ensina – Agora a gente vira de costas para a fonte, e joga a moeda. Eles se posicionam e jogam as moedas na fonte. - Pronto, garantimos nossa volta a Roma – ela sorri, e puxa Vitor pela mão – Vem aqui, agora... Amélia o leva até uma parte especial da Fontana di Trevi: - Essa é a Fontanina degli Innamorati, ou Fontezinha dos Apaixonados. Reza a lenda que os namorados que beberem juntos dessa fonte se amarão para sempre. - Mas eu vou te amar pra sempre de qualquer jeito... – alega Vitor, com um olhar apaixonado. - Eu também... – ela retribui o olhar – Mas quero cumprir essa tradição com você. Vitor sorri, e os dois se aproximam mais da Fontanina, bebem juntos de sua água, e selam o amor eterno com um beijo. - Será que o taxista ainda está nos esperando ou já desistiu? – Amélia ri. - Espero que não – Vitor também ri. - Tomara, porque ele está com nossas malas! – ela lembra, e corre para o táxi, puxando Vitor pela mão. O taxista continuava à espera, pacientemente. - Scusa, signore, mi sono distratta nella Fontana. (Desculpa, senhor, nos distraímos na Fontana) – diz Amélia, enquanto entram no carro. - Tutto bene. La Fontana é magica per due innamorati. - É vero – concorda Vitor, se esforçando para falar com a entonação bem correta, o que provoca risos em Amélia. - Falei errado? – ele pergunta, preocupa. - Não, você está aprendendo direitinho. - Eu tenho uma boa professora – Vitor dá uma piscadinha para ela. Amélia sorri e acaricia o rosto dele, depois deita a cabeça em seu ombro, ficando assim até chegarem ao hotel. Depois de se acomodarem no quarto, Amélia avisa que vai descansar um pouco. - Enquanto isso, eu vou resolver umas coisas, tutto bene, amore mio? – ele devolve, dando um beijo carinhoso nos lábios dela. Amélia sorri: - Você fica tão lindo falando em italiano... - Allora io voglio aprendere a parlare solo per te. Acertei? - Quase. Não se diz aprendere, se diz imparare – ela explica, recostando-se na cama – Aprendere não está errado, mas é melhor imparare. Vitor sorri e dá mais um beijo em Amélia, dizendo:
  • 13. - Ritorno subito, amore mio, razão della mia vita... Amélia fica repousando enquanto Vitor sai um pouco. VI Quando ele volta, ela está penteando os cabelos diante do espelho. Vitor a abraça por trás e lhe dá um beijo no rosto. - Eu consegui – ele avisa. - O quê? – ela se vira, curiosa. - Uma audiência com o papa. Amanhã, no começo da tarde, Sua Santidade vai nos abençoar. Amélia fica alguns instantes apenas olhando para Vitor, com os olhos marejados. - Como você conseguiu isso assim tão fácil? – ela finalmente questiona. - Você não conhece meu poder de convencimento? – ele retruca, brincando. - Conheço muito bem – ela ri, depois fica contemplando-o emocionada novamente – Uma benção do papa... Sabe, uma vez estive em aqui em Roma com o Max, e queria tanto essa benção... mas ele disse que era frescura, que o papa era um padre como qualquer outro, acredita? - Bem típico do Max menosprezar os desejos das outras pessoas... Mas não vamos mais falar dele, né? - É, não vamos estragar esse momento tão lindo lembrando daquele... Ah, Vitor... – ela passa os braços em torno do pescoço dele – Nosso amor será abençoado pelo papa! Vitor acaricia o rosto dela, contemplando o brilho nos olhos de Amélia.
  • 14. - Nosso amor já é abençoado... mas o que é importante pra você, é importante pra mim também – ele afirma, beijando-a carinhosamente. Depois de alguns beijos, Vitor pega uma sacola que tinha trazido na rua e largara no chão ao entrar no quarto: - Ah, no caminho de volta eu passei diante de uma loja e resolvi comprar um presente pra você... pra usar hoje à noite. Amélia tira de dentro da sacola um lindo vestido verde escuro, de tecido fluido, com decote em v, cavas profundas, e uma faixa de cetim na cintura, arrematada por um laço. - Vitor... – ela murmura, impressionada – Pra que isso? - Vamos sair para um jantar bem romântico, só nós dois – ele enfatiza o “só nós dois”. Amélia ri, entendendo a indireta: - Nós não vamos encontrar o Andrea aqui em Roma. - Acho bom – devolve Vitor, tentando conter o ciúme. Amélia se olha no espelho com o vestido diante do corpo, depois o coloca sobre a cama e avisa que vai tomar um banho. Depois é a vez de Vitor. Enquanto ele se lava, ela faz a maquiagem, marcando bem os olhos com delineador. Ajeita os cabelos em um coque meio soltinho, finalizado com uma delicada presilha de capim-dourado, criação sua. Só então coloca o vestido e chama Vitor para ajuda-la a fechar o zíper. Ele se aproxima, arrumando a gravata, num tom parecido com o do vestido de Amélia, mas um pouco mais claro. Enquanto fecha o zíper, Vitor aproveita para dar um beijo no pescoço dela. - Humm, que cheiro bom... Acho que vou abrir esse vestido de novo e... - Agora não, amor... – ela responde com doçura, se afastando, colocando as sandálias e finalmente parando diante dele – E então, como estou? - Ma che bella donna! - ele exclama, maravilhado – Aceita a companhia deste humilde ragazzo? Sorrindo, Amélia encaixa seu braço no dele e saem para o jantar. No restaurante, Vitor pede um bom vinho e eles curtem o clima de romance. Trilha sonora: Amarti è L'immenso Per Me – Eros Ramazzotti http://www.youtube.com/watch?v=rSwmnKH9YGc O casal acorda cedo no dia seguinte. Amélia escolhe um vestido longo, de cor creme, com um casaquinho leve quase do mesmo tom, e sapatilhas marrons. Vitor coloca uma calça social quase da cor do vestido de Amélia, e uma camisa branca com camiseta por baixo. Eles saem cedo para passear pelos museus da Basílica de São Pedro. Na Capela Sistina, Vitor fica boquiaberto, contemplando os famosos afrescos de Michelangelo: - Como eu demorei tanto para ver isso de perto? – questiona, sem tirar os olhos do teto. - Talvez porque você tinha que vir comigo... – responde Amélia, sorrindo. Vitor olha para ela: - Com certeza. Eles ficam por alguns instantes paralisados, apenas trocando um olhar cheio de amor. Depois seguem observando os demais afrescos da capela.
  • 15. Quando se aproxima o horário da audiência, Vitor avisa: - Vamos, amor? Chegou a hora. - Vamos – ela confirma, soltando um suspiro de ansiedade. Eles caminham de mãos dadas para o local onde receberão a benção. Vitor sente um tremor na mão de Amélia. - Você está tremendo, Amélia? - Estou nervosa... Bobagem minha, né? - Não... este é um momento especial pra você, tem todo o direito de ficar nervosa – ele a tranquiliza. Com a mão que está solta, Amélia mexe na medalha de São Valentim pendurada em seu pescoço, e a ajeita bem no centro de seu colo. Depois faz Vitor parar por um instante e arruma também a medalha dele, que estava escondida sob a camiseta. - Vamos pedir para abençoar nossas medalhas também, para que essa proteção nunca nos falte. - Sim... – concorda Vitor, tentando não demonstrar, mas ansioso também. Diante do papa, ao receber a benção, Amélia deixa algumas lágrimas correrem por seu rosto. Vitor olha para ela e sente os olhos marejados, comovido por vê- la tão emocionada. - Vão em paz, e que Deus os acompanhe – conclui o Santo Padre. - Amém – dizem Amélia e Vitor, ao mesmo tempo. Eles saem de lá devagarinho, sentindo uma paz inexplicável. Só ao chegarem de volta ao pátio da Basílica, é que Amélia comenta: - Acho que foi um dos momentos mais bonitos da minha vida – ela olha nos olhos de Vitor – Obrigada por me proporcionar isso. - Eu é que tenho que agradecer muito a Deus por ter colocado você na minha vida, fazendo de mim um homem melhor. Hoje, aqui nesse lugar, tive certeza que foi obra divina nossos caminhos terem se cruzados. - Eu já tinha essa certeza... – Amélia sorri. Vitor acaricia os cabelos dela antes de continuar: - Já pensou, Amélia? Se você já não fizesse parte de mim, mesmo sem eu perceber, talvez eu tivesse sucumbido naquela mata, quando caí com o avião... Foi por você que eu busquei forças para sair daquela mata, foi você quem salvou minha vida... - Você também salvou a minha – ela devolve, deixando Vitor com um olhar surpreso: - Como? - Me devolvendo a alegria de viver. E me mostrando que eu ainda tinha muita coisa para fazer, para conhecer... – Amélia sorri. Vitor também sorri, e dá um delicado beijo nos lábios dela, depois conclui: - Tinha não... tem. Andiamo, amore mio, temos muito ainda que visitar em la bella Itália.
  • 16. VII Depois de mais um dia visitando pontos turísticos e históricos de Roma, como o Campidoglio e o Coliseu, Amélia e Vitor partem para Veneza. Eles chegam ainda de manhã, e saem para conhecer a cidade. Logo encontram a Basilica di San Marco, a mais famosa das igrejas de Veneza, construída em estilo bizantino, e ficam impressionados. - Nossa, nós estamos na Itália mesmo? – brinca Vitor. - Incrível, né? – Amélia ri. O casal passeia pela Piazza San Marco e visita o Palazzo Ducale. Na parte da tarde, chegam ao Palazzo Contarini del Bovolo, conhecido por sua escadaria de caracol no exterior. - Você quer subir, ver a vista lá de cima? – convida Vitor. - Vamos! – ela responde, animada, já puxando o amado pela mão e subindo os primeiros degraus. Eles sobem aos risos, como crianças desbravando um túnel secreto. Enfim alcançam a parte mais alta da escadaria. Vitor abraça Amélia por trás, e eles ficam contemplando a vista por longos minutos, em silêncio, como se o tempo tivesse parado. - Nós estamos em Veneza... – murmura Amélia. - Tá uma vendo uma gôndola, lá adiante? – aponta Vitor. - Sim! Ah, Vitor, vamos passear de gôndola? – ela pede de um jeito meigo. - Claro! Você acha mesmo que a gente viria para Veneza e deixaria de fazer um passeio romântico desses, de novela, de filme? – ele sorri. - Hum, então você já tinha planejado isso também? - Nosso passeio de gôndola está até marcado, combinei tudo por telefone e e- mail antes de virmos pra cá. Amanhã, nesse horário, estaremos no meio do Grande Canal. Amélia se vira para Vitor e olha nos olhos dele: - Você... me deixa sem palavras.
  • 17. Ele a enlaça pela cintura e responde: - Já ouviu dizer que o beijo é um artifício que a natureza inventou para quando as palavras se tornam supérfluas? Ela sorri, encantada, e Vitor a puxa para mais perto e beija seus lábios com intensidade. O casal fica namorando no alto da escadaria por algum tempo, até que outro par de turistas chega lá em cima. Só então Amélia e Vitor descem. Trilha sonora: Imbranato – Tiziano Ferro http://www.youtube.com/watch?v=RL8zMj5Xdd4&feature=related No dia seguinte, Vitor leva Amélia até o ponto de partida da gôndola. - Mas cadê o gondoleiro? Está atrasado? – ela questiona, ao ver a embarcação vazia. - Não, meu amor... depois de muito tentar eu consegui, em segredo, uma gôndola emprestada para passearmos sozinhos. Eu é que vou remar. - Mas você sabe controlar essa coisa? – pergunta Amélia, franzindo a testa. - Quê? Eu piloto avião, meu amor... uma gôndola é muito mais simples – ele responde, cheio de si. - Espero que você saiba o que está fazendo... – ela se contém para não rir. - Você não confia em mim? - Claro que eu confio, senão nem entraria nessa gôndola... Vitor ri, e estende a mão para ela: - Andiamo, bella donna... Ele ajuda Amélia a entrar na embarcação, depois assume seu lugar. Ele vai remando tranquilamente, e quando estão bem no meio do grande canal, comenta: - Viu? Não há o que temer. Ela sorri, e olha em volta, maravilhada. Vitor conduz a gôndola para um canal adjacente. - Olha, Vitor, a Ponte dos Suspiros! – exclama Amélia, ainda mais encantada. - Parece que estamos viajando no tempo, né? – ele devolve. - Ah... é muito bonito tudo isso – ela suspira. Logo Vitor traz a embarcação de volta para o Grande Canal. Ele troca olhares apaixonados com Amélia, até que se ergue e inclina um pouco para beijá-la rapidamente. - Cuidado, Vitor... – ela alerta. - Está tudo sob controle – ele garante – Só mais um beijinho... O beijo acaba ficando mais intenso, e sem perceber Vitor larga o remo. Ele logo se dá conta e tenta pegá-lo de volta, mas não dá tempo. O remo cai dentro da água e afunda. Vitor olha para Amélia com um sorriso amarelo, sem saber o que dizer. - E agora? Como vamos sair daqui? – ela pergunta, aflita. - Calma, eu vou ligar para o rapaz que me emprestou a gôndola – ele tenta parecer tranquilo, enquanto tira o celular do bolso. Ao olhar para o aparelho, faz uma careta – Sem sinal. - Ah, meu Deus... – Amélia fica ainda mais angustiada, depois olha para Vitor com um pouco de raiva, e comenta com ironia – É fácil controlar uma gôndola, né? - Foi um acidente... – ele balbucia com cara de cachorro que quebrou o pote. - Não, senhor, foi distração – ela retruca ainda irritada.
  • 18. - É, eu me distraí... com você – Vitor admite. - Ah, agora a culpa é minha? - Não... Tudo bem, eu fiz uma besteira. Mas não vamos brigar justamente agora? – ele devolve com olhar de súplica. Amélia respira fundo, tentando-se acalmar. - Está certo, não adianta discutir agora. Estamos à deriva, no meio do Grande Canal... o que vamos fazer? - Esperar. Daqui a pouco alguém vê que estamos à deriva, ou a gôndola vai parar junto da margem. - Ai, Vitor, por que você tinha que se meter a gondoleiro? – ela diz, quase com voz de choro. - Porque eu queria proporcionar um passeio único pra você. - É, e conseguiu – ela devolve meio irônica, e finalmente ri – Será realmente inesquecível. Vitor olha para Amélia meio de canto de olho, ainda envergonhado pelo que fez: - Já que vamos ter que esperar, não sabemos quanto tempo, melhor esperamos bem juntinhos, não acha? - Acho – ela sorri levemente, já quase sem raiva. Ele senta bem ao lado dela e a envolve em seus braços. Fica acariciando os cabelos e o rosto de Amélia, enquanto a gôndola desliza pela água. VIII Depois de algum tempo, a gôndola se aproxima da margem do canal. Vitor amarra a embarcação na primeira coisa possível que encontra, e suspira aliviado. - Vem, amor – ele estende a mão para ajudar Amélia a descer. - Tem certeza? – ela brinca, querendo rir. - E você tem escolha? Prefere ficar aí? – Vitor retruca, levemente irônico. - É, não tem outro jeito... – Amélia devolve, apertando os lábios, e finalmente aceita a ajuda de Vitor. Ela coloca um pé em terra firme, e quando tira o outro da gôndola, seu sapato cai dentro do canal.
  • 19. - Ah, não! – ela exclama, ajoelhando-se de na margem e olhando para a água. - Esquece, Amélia, ele já afundou – avisa Vitor, descendo da gôndola também. - E agora, vou ter que caminhar até o hotel com um pé só? Amélia e Vitor se olham e caem na gargalhada, sem conseguir parar de rir até quase perder o fôlego. Ela respira fundo e comenta: - Só me faltava mesmo perder um sapato, para coroar esse passeio atrapalhado... – e cai na risada de novo. - Atrapalhado sou eu... quis bancar o bonzão, o sabe-tudo, e quase provoco uma tragédia – ele ri de si mesmo. - Ah, não exagera... Acabou tudo bem. - É, acabou. Por falar nisso, preciso ligar para o dono da gôndola – Vitor confere o celular, vê que voltou o sinal e faz a ligação, explica onde estão. Depois, conta para Amélia - Ele está aqui perto, já vem. - Que bom. Estou louca para chegar ao hotel, tomar um bom banho e descansar. Em que situação você nos colocou, hein, Vitor? - Minha culpa, minha máxima culpa... já reconheci. Mas pensa por outro lado, essa história vai virar uma lenda na família – ele dá uma risada. - É verdade – Amélia recomeça a rir sem conseguir parar. - Já estou até vendo o quanto que a Mané vai me zoar por causa disso... – brinca Vitor. - Vai mesmo, gondoleiro trapalhão! Eles estão aos risos quando o dono da gôndola chega. Vitor acerta tudo com ele, dando um valor a mais pela perda do remo. E o próprio gondoleiro, numa embarcação a motor, os leva para o outro lado do canal, deixando-os próximo ao hotel. Amélia sai mancando, com um sapato só. - Não, meu amor, você não vai ficar andando assim – diz Vitor, pegando-a no colo. - Vitor, não precisa... – ela murmura, encantada. - Eu te levo. Nós estamos pertinho do hotel. Vitor carrega Amélia até a porta do elevador. Assim que ele a coloca no chão, ela lhe dá um suave beijo nos lábios. - Obrigada, você é verdadeiro cavalheiro... – ela comenta sorrindo. - Eu me esforço – ele ri. Amélia tira o outro sapato, e sobe descalça para o quarto, ainda rindo junto com Vitor de toda a situação daquela tarde. Ao entrarem no quarto, Amélia vai direto começar a encher a banheira. Vitor espia da porta do banheiro: - Vai tomar um banho demorado? - Eu preciso disso – ela responde. - Hum, então vou descer rapidinho, não demoro. Amélia se vira para perguntar aonde ele vai, mas Vitor já sumiu da porta. Ela termina de preparar a banheira e fica algum tempo na água, relaxando. Trilha sonora: Una Poesia Anche Per Te - Elisa http://www.youtube.com/watch?v=gKkL_WZ_ePk
  • 20. Amélia veste um roupão e volta para o quarto. No mesmo momento, Vitor chega da rua, trazendo um buquê de rosas vermelhas, cor-de-rosa e amarelas. Amélia fica vendo ele se aproximar, surpresa. - Para a mulher mais linda do mundo... – diz Vitor, entregando o buquê. - Que lindo! – ela murmura, contemplando as flores. - É o mínimo que eu podia fazer depois do que aprontei hoje – ele justifica, com cara de menino arrependido. - Você fez tudo com boa intenção, só se atrapalhou um pouquinho – garante Amélia. - É, mas nunca mais vou querer bancar o gondoleiro, prometo. Ela ri e pega o cartão que está no meio das flores. Abre e lê o poema impresso: - Se avessi la possibilità di nascere e morire di nuovo, lo rifarei solamente per vivere la mia vita insieme a te, per rimediare ad ogni mio errore, per cucire ogni tua ferita, e per cancellare ogni tua sofferenza in modo tale che il mondo possa conoscere solamente il tuo sorriso, che mi ha incendiato il cuore, come dal primo istante che ti ho visto! Amélia olha para Vitor, emocionada, e ele repete a mensagem, mas em português: - Se tivesse a possibilidade de nascer e morrer de novo, o faria somente pra viver minha vida junto a você, para remediar cada erro meu, para cicatrizar cada ferida tua e para apagar todo seu sofrimento, de tal modo que o mundo possa conhecer somente teu sorriso, que me incendiou o coração, como do primeiro instante que te vi! – Vitor solta um suspiro e explica – Fiquei tentando traduzir vários cartões, mas quando encontrei não tive dúvidas de que esse poema era o que eu queria te dizer. - Vitor... – murmura Amélia, se jogando nos braços dele e dando-lhe vários beijos nos lábios. Ele a beija com ardor. O beijo vai ficando mais intenso, até que Vitor desfaz o laço do roupão de Amélia e vai fazendo-o deslizar para o chão. Ele conduz Amélia para a cama ao mesmo tempo em que vai percorrendo o corpo dela com os lábios. Já deitados, Vitor começa a descer pelo colo dela com beijos, mas Amélia traz o rosto dele para junto do seu, juntando os lábios de um jeito
  • 21. ardente. Enquanto o beija, ela pressiona seu corpo contra o dele, desejando se juntarem como um só. Ele corresponde, e os dois se entregam àquele desejo, amando-se como se o tempo tivesse parado. Amélia e Vitor partem para Milão. Ao passarem pela Piazza del Duomo, Amélia olha em volta e comenta: - Olha, Vitor, a catedral de Milão... sabia que é a segunda maior igreja da Itália? Só fica atrás da Basílica de São Pedro. Mas Vitor não responde, está pensativo, olhando um cartaz que anuncia um grande show do cantor Andrea Bocelli. IX - Vitor? – insiste Amélia. - Hã? Que foi, amor? - Você ouviu o que eu falei, sobre a catedral? Vitor olha para Amélia e segura às mãos dela: - Desculpa, eu estava distraído... - Dessa vez eu perdoo – ela sorri de um jeito cúmplice – Mas agora olhe a catedral... Ele obedece, e fica boquiaberto: - Nossa... é incrível... - É mesmo... Vamos deixar as malas no hotel e depois voltar para conhecê-la por dentro? - Vamos, sim. Eles dão entrada no hotel e arrumam suas coisas no quarto. Amélia avisa: - Vitor, eu vi que tem um salão de beleza aqui. Preciso fazer minhas unhas, depois vamos para a catedral... pode ser? - Pode, claro. Enquanto você trata de ficar ainda mais linda, vou dar uma volta. - Aonde você vai? – ela pergunta, curiosa. - Depois você vai saber – ele responde com um sorriso enigmático.
  • 22. Trilha sonora: Nel Cuore Lei – Andrea Bocelli http://www.youtube.com/watch?v=d2JHOJH5vkY Quando Vitor volta, não acha Amélia no salão. Ele sobe ao quarto, e ao entrar já se depara com a amada penteando os cabelos diante do espelho. - Voltei, amore mio... – ele diz, abraçando-a por trás e dando-lhe um beijo no pescoço. Ela se vira para Vitor, sorrindo: - O que você foi aprontar agora? - Isso – ele entrega dois papéis a ela. Amélia lê quase sem acreditar: - Ingressos para o show do Andrea Bocelli no Teatro alla Scala? - Sim, para amanhã à noite. - Vitor... eu adoro o Bocelli! - Eu também gosto muito... principalmente de uma música, que parece inspirada no que sinto por você... chama “Nel Cuore Lei”. - “No Coração Dela”? - É... – Vitor se aproxima e canta baixinho no ouvido dela, enquanto dançam bem juntinhos: “Ti prenderà il cuore Ti vincerà Lei sarà la tua strada Che non puoi lasciare mai A lei Ti legherai finchè vivrai, a lei…” (Te prenderá ao coração Te vencerá Ela será a tua estrada Que não poderá deixar nunca A ela Te prenderá enquanto viver, a ela...) Amélia solta um suspiro, com os olhos marejados, e vai aproximando seus lábios dos de Vitor. Eles trocam um beijo demorado, antes de saírem para passear pela Piazza del Duomo. No restante da tarde, eles visitam a catedral e também a galeria Vittorio Emanuele II, do outro lado da praça. Voltando para o hotel, eles passam diante de uma grande loja de calçados. - Vamos entrar – avisa Vitor – quero te dar um sapato novo, para compensar aquele que você perdeu em Veneza. - Ah, Vitor... não precisa. - Eu faço questão. - Está bem – ela concorda, sorrindo. Eles entram na loja, e Amélia não consegue se decidir, pois havia muitos modelos lindos. Ela experimenta vários pares enquanto Vitor espera, tentando ser paciente. Por fim, Amélia fica indecisa entre três modelos. - Qual você prefere, Vitor? - Os três ficaram igualmente lindos. Também, né, o que não fica bonito em você? - Ah, me ajuda... não sei qual deles escolho.
  • 23. Vitor olha para os sapatos por um instante e depois diz para a vendedora: - Vamos levar os três. - Mas, Vitor... – murmura Amélia. Ele não a deixa terminar: - Aproveita que eu tô bonzinho... – ele ri, depois a olha de um jeito apaixonado – Você merece tudo que eu puder te dar. A vendedora quase solta um suspiro, comovida com a cena, mas se contém e pergunta: - Vão os três pares, mesmo? - Sim – confirma Vitor. - Então me acompanhem – ela avisa, conduzindo o casal para fazer o pagamento. Depois de acertarem tudo, Amélia vai pegar as sacolas, mas Vitor se antecipa: - Não, não, deixa que eu levo... Não é essa uma das funções do homem, carregar as sacolas? – ele brinca. - Bobo... Obrigada, viu? Mas sabe qual foi o presente mais valioso que já ganhei até hoje? - Qual? – ele olha para ela. Amélia responde olhando nos olhos dele: - Você. Vitor sorri, e eles trocam um rápido beijo, antes de saírem da loja, de mãos dadas. Chegando ao hotel, Amélia marca um horário no salão para o dia seguinte, para se arrumar para o show. - Vitor, nós vamos numa das maiores casas de ópera do mundo, assistir ao Andrea Bocelli, já pensou? - É, e isso nem estava na nossa programação inicial... Essa viagem tem sido ainda mais emocionante do que eu imaginei. Sabe, planejei tudo para que fosse uma lua-de-mel de sonho pra você... - E está sendo um sonho pra você também, né? – ela completa, passando os braços em torno do pescoço dele. - Está... amore mio... – ele confirma, colando seus lábios aos dela. X
  • 24. No outro dia, Amélia nem quer passear, de tanta expectativa. Passa a tarde escolhendo o vestido, os sapatos, as joias, depois vai para o salão arrumar o cabelo. Quando ela volta para o quarto, Vitor está no banho. Amélia confere o penteado e a maquiagem no espelho, satisfeita com o resultado. Coloca o vestido, longo e estampado discretamente em tons de branco, preto e cinza, e joga sobre os ombros uma estola leve de cor vermelha bem escura, quase marrom. Calça as sandálias de salto e põe os brincos, um anel e pulseira. Vitor sai do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e abre um grande sorriso ao ver Amélia toda arrumada: - Nossa, será que eu estou à altura de uma mulher dessas? - Você ainda está assim? – ela sorri. - Me apronto num minuto. Ele põe um terno escuro, com uma camisa cinza claro e gravata. Ajeita os cabelos com gel, deixando-os bem alinhados. - Que lindo... – comenta Amélia, admirando-o – Nem vi que você tinha colocado esse terno na mala. Depois do acidente, você só usa roupas claras... - Eu trouxe para alguma ocasião especial... como essa. Ela ajeita a gravata dele: - Acho que hoje sou eu que vou ficar com ciúme. Você vai ser o homem mais bonito da plateia, não tenho dúvida. - Então estamos quites, por que... ai, meu Deus, não queria nem pensar, mas vai ter muito homem virando o pescoço por sua causa... Precisava ficar tão linda, hein? – ele brinca. Amélia chega mais perto e toca no rosto dele: - Que olhem... porque eu só vou ver você. E o Andrea Bocelli, claro – ela ri. - Espero que a gente não encontre um outro Andrea por lá... – Vitor pensa alto. - Vitor... isso é bobagem sua – ela repreende com doçura. - Eu sei. Não está mais aqui quem falou – ele oferece o braço – Andiamo, amore mio? - Andiamo – responde Amélia, encaixando seu braço no dele. Trilha Sonora: Vivo Per Lei – Andrea Bocelli http://www.youtube.com/watch?v=DKa0wN31OD4 Eles chegam ao teatro e vão logo tomar seus lugares. O show começa, e Amélia e Vitor assistem emocionados. Quando Andrea Bocelli começa “Vivo Per Lei”, Vitor sussurra no ouvido de Amélia: - Essa também é dedicada a você... – ele canta junto um trecho, no ouvido dela: Vivo per lei perché mi da Pausa e note in libertà Ci fosse un'altra vita la vivo La vivo per lei (Vivo por ela porque me da Pausas e notas em liberdade Se tivesse outra vida eu a vivo Eu vivo por ela) Amélia aperta a mão dele, ainda mais emocionada.
  • 25. No intervalo entre uma música e outra, Amélia olha para Vitor, e os dois trocam um rápido e delicado beijo. Logo Bocelli canta “Nel Cuore Lei”. - Ah, essa música diz tudo... – Vitor sussurra de novo, cantando junto baixinho: E non c'è niente come lei E non c'è niente da capire E'tutta lì La sua grandezza In quella leggerezza Che solo lei ti dà (E não há nada como ela E não há nada para entender Está tudo ali A sua grandeza Naquela leveza Que só ela te dá). Amélia, com uma lágrima correndo pelo rosto, deita a cabeça no ombro de Vitor, e eles ficam assim o restante do show, bem juntinhos. - Ah, Vitor, foi maravilhoso! – exclama Amélia, quando chegam ao foyer do teatro. - Foi mesmo. Parecia que a gente estava em outra dimensão, né? A voz desse cara não parece desse mundo... - É... – ela sorri, com o olhar iluminado. Eles são interrompidos por uma voz: - Amélia e Vitor! Nos encontramos de novo... O casal se vira na direção da voz e vê Andrea Antonacci. - Andrea! – Amélia cumprimenta o amigo com um rápido abraço – Você estava no show também? - Claro! Acha que eu ia perder Bocelli no Scala? - Por que eu fui falar... – murmura Vitor, entredentes. - Tudo bem, Vitor? – cumprimenta o italiano. - Tudo. Estávamos comentando que o show foi incrível. - Foi mesmo – concorda Andrea, que para em silêncio por alguns instantes contemplando Amélia – Meu Deus... hoje você está especialmente linda. Com todo o respeito, Vitor. Vitor passa o braço em torno da cintura dela: - Está mesmo – ele diz, se esforçando para não ser hostil. - Assim eu fico sem graça... – comenta Amélia, tentando amenizar o clima tenso. - Não tive a intenção de constranger ninguém, me desculpem... - Tudo bem... né, Vitor? – pergunta Amélia. - Tudo – ele confirma, apertando os dentes. - Para me desculpar, convido vocês para um jantar... me acompanham? Vitor olha para Amélia e percebe que ela quer ir, mas está com receio de deixa- lo aborrecido. Então pega na mão dela: - Vamos, sim. Estamos devendo aquele jantar que ficou pendente em Florença, não é? – ele responde, tentando conter a vontade de ser irônico. - Que bom. Tem um restaurante ótimo bem aqui perto – devolve o italiano.
  • 26. Durante o jantar, Amélia e Andrea relembram várias histórias dos tempos de passarela, entre risos. Vitor sente-se deslocado, quase o tempo todo, mesmo que a esposa tente a todo o momento incluí-lo na conversa. Mas por consideração à Amélia, ele tenta ser simpático com o italiano. Quando retornam ao quarto do hotel, Amélia fica bem diante de Vitor e olha nos olhos dele: - Obrigada... por ter tentado ser compreensivo, passado por cima da sua insegurança... O Andrea é apenas um amigo querido, que eu fiquei anos sem encontrar, nada mais. Que bom que você entendeu isso. - Você está feliz, né? É isso que importa – ele afirma, acariciando os cabelos dela. Amélia sorri e beija os lábios dele, que corresponde com intensidade e depois a olha de um jeito malicioso: - Mas agora eu quero algo em troca... deixa eu tirar seu vestido? Ela devolve um olhar travesso e se vira de costas, para que Vitor abra o fecho do vestido. Ele beija a nuca de Amélia várias vezes, a fazendo arrepiar, e vai descendo até chegar ao vestido. Conforme abre a roupa, vai beijando o corpo dela. Ao terminar o fecho, faz o vestido deslizar para o chão e vira Amélia de frente para si, beijando-a com paixão. Enquanto se beijam, ela vai tirando a gravata dele e desabotoando a camisa. Vitor a pega no colo e leva até a cama, onde terminam de desfazer das roupas, se entregando completamente ao desejo. Depois se amarem, dormem abraçados. Na manhã seguinte, Vitor deixa uma bandeja de café da manhã no quarto e sai. Quando Amélia acorda e procura por ele, encontra um bilhete na bandeja: “Fui preparar a surpresa desta tarde. Te amo muito. Vitor.” XI Amélia suspira: - Surpresa da tarde? O que pode ser?
  • 27. Ansiosa, ela toma o café da manhã e começa a se arrumar. Escolhe um vestido com delicada estampa floral, longo e leve. Depois, penteia os cabelos, prendendo-os num rabo baixo com uma presilha de capim dourado. Faz uma maquiagem leve e coloca brincos e pulseiras também de capim dourado, da produção da Rurbana. Vitor chega quase na hora do almoço. Amélia está sentada sobre a cama, e levanta-se rápido ao vê-lo: - Vitor! - Buongiorno, amore... – ele se aproxima calmamente e dá um beijinho nela, depois a olha de cima a baixo – Está linda... Pronta para sair? - Não sei aonde a gente vai... – ela retruca. - Acho que este vestido está ótimo para o passeio que a gente vai fazer. As sapatilhas também, o ideal é um calçado confortável. - Ai, Vitor, para de me deixar curiosa! Ele ri: - Então, andiamo... Vitor leva Amélia até o Parque Sempione. Eles passeiam por seus bosques, lagos e alamedas, até chegarem num recanto meio afastado da área central. Na grama, à sombra de uma grande árvore, há uma grande toalha xadrez com pratinhos de diversos petiscos, como biscoitos salgados e doces, mini pão-de- queijo, pedacinhos de pão italiano, geleias, além de uma jarra de suco de uva e uma garrafa de vinho. E de um pequeno aparelho de som sai uma bela música. Trilha sonora: Il Regalo Più Grande – Tiziano Ferro http://www.youtube.com/watch?v=boK3pjUMNbE&playnext=1&list=PL47166BE 43431FE61 Amélia fica por alguns instantes paralisada, admirando aquilo tudo. - Vitor... foi você que preparou tudo isso? – ela finalmente balbucia. - Não fiz sozinho, mas... foi ideia minha. - Eu amei – ela sorri – Um piquenique no Sempione... - É. Para encerrar em grande estilo nossa passagem pela Itália – ele completa. Vitor dispensa o rapaz que havia ficado cuidando do piquenique, e conduz Amélia para sentar num canto da toalha. - Tem até bombons, olha – ele mostra, pegando um bombom e levando até a boca de Amélia. Ela morde um pedaço, e Vitor come o restante, enquanto ficam com os olhos fixos um no outro. Depois Amélia analisa os quitutes: - Nossa, nem sei por onde começar... – ela acaba se decidindo por um pedaço de pão com geleia de morango. Vitor ajeita as duas taças à sua frente e abre a garrafa de vinho. Põe um pouquinho da bebida na própria taça e experimenta: - Humm... perfeito. Só então ele serve a ambos, e passa um das taças para a mão de Amélia, dizendo: - Vamos fazer um brinde... ao nosso amor, que não precisa de cadeados, fontes, nada disso, para ser eterno. - Ao nosso amor – confirma ela, tocando a taça dele com a sua.
  • 28. Após beberem um gole do vinho, eles trocam um beijo apaixonado. Amélia pega um pão-de-queijo e leva à boca de Vitor, que retribui. O casal fica algum tempo assim, dividindo aquele lanche e trocando carinhos. Depois de satisfeitos, Vitor se recosta no tronco da árvore, com Amélia nos braços dele. Ela solta um suspiro: - Tão bom ficar assim com você... - Vamos ficar assim pra sempre? Abraçadinhos, nesse lugar lindo... – ele ri, estreitando Amélia em seus braços. - Dá vontade, né? – ela sorri, se aconchegando no peito de Vitor. Eles ficam em silêncio, apenas curtindo a sensação daquele momento, até que Amélia se ergue e olha nos olhos dele: - Enquanto te esperava, no hotel, fiquei lendo um livro de poemas em italiano que comprei aquele outro dia, lembra? Teve um poema que li até decorar, porque parece que escreveram o que sinto por você: “Sei come una colomba bianca che, volando nel cielo più cupo, porta la luce. Quella stessa luce che ho trovato, per la prima volta, nei tuoi occhi dello stesso colore dell'oceano. Riempi il mio cuore sempre.” – Ela sorri e traduz – “Você é como uma pomba branca voando no céu escuro traz a luz. Essa mesma luz que eu encontrei, pela primeira vez, em seus olhos da mesma cor do oceano. Enche meu coração para sempre.”. - Nossa... – ele murmura, com os olhos marejados – Você também me trouxe luz, fez de mim um homem melhor... - E você, faz de mim uma mulher feliz, plenamente feliz, como nunca fui... Ambos emocionados, eles juntam os lábios em um beijo sem pressa, como se não existisse mais nada além do amor que os une. No outro dia, partem para Amsterdã. O primeiro passeio é ao museu Van Gogh, que reúne obras do pintor holandês. Ao chegarem diante do quadro “Os Girassóis”, Amélia comenta: - Como será que estão todos lá em Girassol? Que saudade dos meus filhos... Vitor a abraça por trás e responde: - Antes de voltar à vida “normal”, prometo que vamos passar uns dias em Girassol. Também estou com saudade dos meus enteadinhos... – ele ri – e da
  • 29. Terê, da Lurdinha... de todo o pessoal. Mas essa tela lembra muito a estância, né? - É mesmo. O Solano tinha até uma cópia desse quadro na sala. - Tinha, é verdade! - Mas agora vamos voltar para a Holanda? Ainda temos muita coisa para ver. Depois de Van Gogh, quero ir ao Stedelijk Museum ver Picasso, Monet, Chagall, Matisse... que acha? - Você estudou todos os guias turísticos, é? – ela ri. - Fiz a lição de casa direitinho... – Vitor também dá uma risada. Enquanto caminham pelos corredores do museu, ele comenta: - E amanhã, você se prepare... nós vamos num dos lugares mais bonitos da Holanda. XII Vitor acorda Amélia com beijinhos no rosto. Ela abre os olhos e sorri: - Oi, amor... - Hora de acordar... – ele dá um beijo nos lábios dela. - Tão cedo? - Precisamos sair cedo para aproveitar melhor o passeio. - Está bem – ela concorda, sentando na cama e se espreguiçando. Vitor contempla a cena, achando lindo o jeito de Amélia se espreguiçar. Ela levanta e escolhe um vestido branco longo de malha, com um colete de crochê por cima, também branco. Ele se troca também, vestindo calça cinza e camisa gelo. Amélia termina de se arrumar e eles descem para tomar o café-da-manhã antes de sair.
  • 30. Depois, Vitor leva Amélia aos campos de tulipas de Keukenhof. Eles andam entre os canteiros, maravilhados com as flores de diversas cores. Trilha sonora: Angel of mine – Evanescence http://www.youtube.com/watch?v=e7fVuAetyBQ&feature=related De repente, Vitor para e fica observando Amélia, que caminha próximo às tulipas. Ela logo percebe a ausência dele ao seu lado e vira para trás: - Vitor? O que houve? – pergunta Amélia, fazendo menção de voltar para junto dele. Ele sinaliza com mão para que ela pare onde está: - Fique aí. Estava te olhando... Você, com este vestido branco, os cabelos voando com o vento, em meio a essas flores todas... você está parecendo um anjo – ele se aproxima de Amélia, emocionado – O meu anjo... Ela sorri, ficando emocionada também. Vitor chega mais perto e toca o rosto dela, acariciando levemente como se tocasse uma pétala de rosa. Ele olha para os lábios dela e devagarinho vai aproximando os seus, num beijo delicado. Depois Vitor pega Amélia pela mão e eles continuam passeando pelos campos de tulipas, parando de vez em quando para tirar fotos. Ela posa entre as flores e Vitor maneja câmera, encantado com a combinação da beleza de Amélia e das tulipas. No final da tarde, quando estão caminhando pelas ruas de Amsterdã de volta ao hotel, eles passam em frente ao Museu do Sexo. Ao ler o nome na fachada, Vitor se empolga: - Olha isso, um museu do sexo! Vamos entrar Amélia? - Ai, Vitor, não... – ela olha para baixo, encabulada. Ele dá uma gostosa risada: - Você está com vergonha? Deixa disso, vamos só ver o que tem aí dentro... - Esse é o problema. Sabe lá o que a gente vai encontrar? - Nada de mais, ora... Sexo é algo que todo mundo faz. Tá, quase todo mundo. Vamos lá, quero conhecer! – ele tenta convencê-la. - Não sei... – Amélia hesita. - Por favor... – Vitor pede de um jeito que ela não consegue recusar. Ao entrarem, se deparam com estátuas, objetos e imagens relacionados ao tema sexo. Algumas peças fazem Amélia tapar os olhos, constrangida: - Que é isso, Vitor... - Ah, você não conhece? – ele retruca aos risos. - Para, seu bobo! – ela se contém para não rir também, mas mais de nervoso do que por achar engraçado. Depois de olharem mais alguns corredores, Amélia implora: - Chega, Vitor... vamos embora. - Eu achei bem divertido – ele continua rindo do jeito dela. - Pra mim é estranho ver essas coisas... – ela argumenta. - Está bem, vamos – Vitor tenta controlar as risadas. Ao chegarem no quarto, Amélia vai tomar um banho, depois Vitor faz o mesmo. Ela está sentada cama, de roupão, terminando de passar creme no corpo,
  • 31. quando ele se aproxima, recém-saído do chuveiro, com o corpo ainda úmido e uma toalha enrolada na cintura. - Aquele museu me deixou inspirado... – Vitor comenta, olhando para Amélia com desejo. - Até parece que você precisa de alguma coisa para se inspirar... – ela retruca, devolvendo o olhar. - Não preciso mesmo... é só olhar para você... – ele se inclina sobre Amélia e passa os dedos no pescoço dela, descendo até o colo – sentir essa pele macia... – ele olha nos olhos dela e depois para os lábios, com a respiração já ofegante – esses lábios... Vitor cola seus lábios aos de Amélia e vai se debruçando sobre ela, fazendo-a deitar na cama, onde se amam até, exaustos, pegarem no sono. Algumas horas depois, já tarde da noite, Vitor acorda com fome. Amélia continua dormindo, tão tranquila que ele decide não acordá-la. Veste uma roupa simples e sai, voltando pouco tempo depois com sacolas. Amélia desperta quando ele fecha a porta, percebe que Vitor não está ao seu lado e ergue um pouco o corpo, vendo-o se aproximar com as sacolas: - Vitor? Você saiu? - Fui comprar alguma coisa para a gente comer aqui na cama mesmo... Já está muito tarde para pedir um jantar. Mas acordei com fome... - É, agora que você falou, também senti uma fominha... - Trouxe sanduíches, frutas secas, e um vinho – ele explica, se ajeitando na cama e tirando as compras da sacola. - Vinho? - Sim... é tão gostoso tomar vinho a dois... Onde estão aquelas taças personalizadas que a gente comprou em Milão? - Na minha mala. Vitor pega as taças e volta para cama, servindo o vinho. Enquanto fazem o lanche, ele comenta: - Amanhã, eu sugiro que você use uma daquelas suas calças de montaria. Você fica linda nelas, realça seu corpo. - Por quê? O passeio de amanhã não dá pra fazer de vestido? - Acho que não. Ainda mais com esses seus vestidos compridos... pode ser perigoso. - Perigoso por quê? - Você já está querendo saber demais... espere até amanhã – ele conclui com um sorriso travesso, e antes que ela pergunte mais alguma coisa, ocupa os lábios dela com mais um beijo. XIII
  • 32. Ao saírem do hotel, no dia seguinte, Vitor sorri ao ver o céu azul e o sol iluminando tudo: - O dia está perfeito! - Pra quê? – questiona Amélia, ansiosa, e vestida como ele recomendara, de calças. - Você já vai saber. Chegando ao Vondelpark, Vitor pede que Amélia espere um instante. Logo volta trazendo duas bicicletas: - Olha o que aluguei para nós... - Então é isso, nós vamos pedalar? – ela diz, sorrindo. - Você não disse uma vez que gosta de andar de bike? Não tem lugar melhor para fazer isso do que Amsterdã. - Pois é, até de bicicleta eu fugi pra te ver... – ela ri. - Mas valeu a pena, né? - Valeu. Aquele dia... aquela noite foi tão linda e também tão horrível. Quando vi você caído no chão, ensanguentado, tive tanto medo de te perder... – lembra Amélia, franzindo a testa. Vitor acaricia o rosto dela: - Não pensa mais nisso. Eu sobrevivi. - Graças ao Dr. Gabriel... - E ao seu amor. Foi por você que eu lutei para continuar vivo. - Que bom... não sei se eu teria suportado ficar sem você, ainda mais sabendo que teria por culpa daquele... monstro. Ele olha nos olhos de Amélia: - Você nunca vai me perder, ouviu? Agora vamos esquecer tudo de ruim que a gente viveu, e curtir esse dia lindo, sentir o vento no rosto... enquanto conhecemos as belezas do Vondelpark. - Vamos lá, então – ela concorda, sentando no selim e se posicionando para partir. - Finalmente vou ver você andando de bike! – Vitor ri. - Você quer ver, é? – Amélia sai pedalando, e Vitor vai atrás. Trilha sonora: Love's Lookin' Good On You – Lady Antebellum http://www.youtube.com/watch?v=OMsZVxnSJqA Eles pedalam curtindo a visão das árvores, lagos e flores. De vez em quando, param para contemplar as obras de artes espalhadas ao longo do parque, como uma estátua de autoria de Pablo Picasso chamada em holandês de “De vis” (o peixe). Param também no coreto, que Amélia acha muito bonito e pede para tirarem fotos nele. Seguindo o passeio, Vitor quase se desequilibra da bicicleta ao fazer uma curva. Amélia ri tanto que precisa parar para recuperar o fôlego. Vitor, que já estava um pouco à frente, volta para junto dela: - Está rindo de mim, é? - Você quase caiu no meio do Voldenpark... desaprendeu a fazer curva, é? – ela continua rindo. - Admito, fazia bastante tempo que eu não pedalava, acho que perdi um pouco a prática. E eu prefiro percorrer outras curvas, se é que você me entende... – ele olha para Amélia de um jeito malicioso.
  • 33. - Vitor! Você não sossega nunca? - Não – ele retruca, ainda olhando para o corpo dela. - Ai... melhor voltarmos a pedalar. Vamos – ela parte novamente. Vitor a segue, mas logo diz: - Vamos descansar um pouco ali, ó – ele sugere, apontando uma árvore diante de um lindo lago. Amélia concorda com a cabeça. Eles largam as bicicletas na grama e se recostam na árvore, abraçados. Ficam em silêncio, ele acariciando os cabelos dela, até que Amélia aponta para a água: - Olha lá, os patos! Que bonitinhos... - Que é isso, parece que nunca viu pato... – ele ri do entusiasmo dela – Você não morava numa fazenda, não? - Chato... – ela acaba rindo também – Claro que tinha patos na fazenda, mas não bonitos, assim, nadando num lago... - É, lá eles iam pra panela... humm, agora me lembrei do pato ensopado que a Lurdinha faz... quando formos pra Girassol, vou pedir pra ela fazer pra mim. Amélia apenas ri, e Vitor continua: - Por falar em comida, você não está com fome? Já passou da hora do almoço. - Estou. - Então vem, tem um restaurante aqui no parque – ele avisa, ajudando-a a levantar. Após almoçarem, eles continuam pedalando pelo parque, parando de vez em quando para descansar, até ficarem exaustos. De volta ao hotel, tomam banho e se jogam na cama. - Não consigo mais mexer minhas pernas hoje – comenta Amélia. - Nem eu. Acho que pedalamos demais – Vitor ri. Eles se olham e caem na risada juntos. Amélia se aconchega nos braços de Vitor, e logo os dois estão dormindo, vencidos pelo cansaço. O casal parte para Madri. No primeiro dia, já visitam o Museo del Prado, vendo de perto obras como “As Meninas”, de Velásquez, além de telas de Rafael, El Greco, Rembrant... Ficam horas no museu, contemplando os quadros. Depois, Vitor deixa Amélia no hotel e avisa que vai sair por alguns instantes, prometendo voltar logo. - Só concordo porque meus pés estão doendo, senão ia com você – ela ressalta. - Aproveita para ficar quietinha... quero você bem descansada hoje à noite. - Ah, mais surpresas? - Claro. Deixa providenciar tudo, logo estou de volta – ele dá um delicado beijo nos lábios de Amélia, que fecha os olhos para repousar. Como prometido, Vitor retorna em pouco tempo, trazendo uma sacola. Amélia ainda está cochilando. Ele senta na beirada da cama e fica observando o sono dela, achando lindo. Amélia abre os olhos, e sorri ao vê-lo: - Vitor... – ela senta-se na cama – Dormi muito? - Não, acho que não demorei mais do que meia hora. Acabei de chegar. - É? Conseguiu arrumar tudo que você queria? - Consegui... a começar por isto – ele entrega a sacola para Amélia.
  • 34. XIV Ela tira de dentro da sacola um vestido de seda, rosa-chá, levemente plissado, longo e com decote profundo, com a cintura alta marcada por uma faixa da mesma cor. - É lindo! – ela murmura, ainda contemplando o vestido. - Vamos sair para jantar mais tarde. - E você comprou esse vestido só para eu usar no jantar? - Gosto de ver ainda mais linda... como se isso fosse possível, porque você é linda de todo jeito. Amélia sorri: - Vou tomar um banho, então, e começar a me preparar. Vitor a acompanha com o olhar até que ela entre no banheiro. Depois do banho, Amélia prende os cabelos em um coque baixo, bem alinhado, faz uma maquiagem ressaltando os olhos e finalmente coloca o vestido. Vitor, que havia entrado no banheiro logo que ela saiu, volta enxugando os cabelos com uma toalha e para ao vê-la já vestida: - Você está maravilhosa! E agora, como eu me visto para merecer acompanhar uma mulher tão linda? - Deixa que eu escolho sua roupa – ela responde sorrindo. Vitor coloca terno e gravata, e eles partem para o restaurante. Logo que se acomodam numa mesa, Vitor pede um vinho, e eles fazem um brinde, trocando olhares apaixonados. - Adorei esse lugar, com música ambiente... – comenta Amélia. - Tem espaço para dançar também, você viu? - É mesmo... – ela fica olhando para a pista de dança por alguns instantes. - Espera um pouco – ele se levanta e vai até o responsável pela aparelhagem de som, e pede uma música.
  • 35. Trilha sonora: Adoro – Alejandro Sanz e Chavela Vargas http://www.youtube.com/watch?v=YaqkIW2qn9M&feature=player_embedd ed Vitor retorna até a mesa e estende a mão para Amélia: - Me concede essa dança? Ela sorri e vai com ele para a pista, onde dançam de rosto colado, se deixando levar pelo ritmo da melodia. Vitor sussurra trechos da música no ouvido dela: “Y me muero por tenerte junto a mí, cerca, muy cerca de mí, no separarme de ti Y es que eres mi existencia, mi sentir, eres mi luna, eres mi sol, eres mi noche de amor Yo, yo te adoro, vida, vida mía...” Amélia escuta com os olhos fechados, como se estivesse sonhando. Quando a música termina, Vitor ainda sussurra, cantando: - Yo te adoro, vida mía... E finaliza beijando-a com cuidado, ali mesmo no meio da pista de dança. Eles se olham como se tivesse acabado de viver um momento mágico, e Amélia sorri de um jeito apaixonado. Depois Vitor a conduz de volta para a mesa, puxando a cadeira para que Amélia sente-se. Dá um beijo na mão dela e só então toma seu lugar de novo. - Quanto eu sonhei dançar assim com você, sem precisar se preocupar com nada... – ele comenta, contemplando-a. - É mesmo? – ela pergunta com doçura. - Naqueles tempos em Girassol, cada música romântica que eu ouvia, eu imaginava nós dois dançando de rosto colado, como fizemos agora. - Eu também imaginava... embora eu tivesse tantos problemas familiares naquela época que nem me restava muito tempo para sonhar... Vitor acaricia a mão dela sobre a mesa, e se inclina um pouco para a frente, baixando o tom de voz: - Teve uma noite que eu até chorei, sozinho no quarto. Foi quando ouvi essa música que acabamos de dançar... Você estava presa na fazenda, e eu ali, precisando tanto de você ao meu lado para continuar vivendo... Amélia aperta a mão dele: - Nunca mais nós vamos ficar separados, nunca... - Nunca mesmo. Eu não vou deixar você sair de perto de mim. “Eres mi luna, eres mi sol...” – Vitor cantarola novamente. Amélia olha fixamente para ele: - Te amo. - Te amo – ele retribui, beijando a mão dela outra vez – Vamos pedir agora? Já escolheu seu prato? - Você escolhe pra mim? – ela pede de um jeito meigo. - Ah, que responsabilidade... - Confio em você – assegura Amélia. Vitor sorri e faz o pedido, com pratos iguais para os dois. Após o jantar, enquanto voltam para o hotel, Vitor comenta: - Amanhã quero te levar no Real Jardim Botânico. Você, que gosta tanto de flores, vai adorar. Tem plantas do mundo todo, cerca de 5000 mil espécies de árvores, plantas e rosas coloridas.
  • 36. - Jura? – ela pergunta, boquiaberta – Mas nós vamos conseguir ver tudo num dia? - A gente vai duas vezes, então. Tem outro lugar que precisamos visitar, o Centro de Arte Reina Sofia. É lá que está a famosa “Guernica”, de Picasso. Eu já estive lá, e acho que fiquei uma meia hora só diante dessa tela, examinando cada detalhe, quase hipnotizado. - Ah, quero ver também! Quando eu vinha para a Europa, ficava mais entre a França e a Itália, quase não conheço nada da Espanha. - Já comigo era o contrário. Pouco conhecia da Itália, mas de Madri e Barcelona, modéstia à parte, eu entendo. Quase namorei uma espanhola, sabia? - Como assim? – Amélia questiona sem perder o sorriso. - Ih, faz muito tempo isso, acho que foi na primeira vez que vim pra cá, não tinha nem 20 anos ainda. Me apaixonei perdidamente por uma moça, aqui de Madri, inclusive. Mas ficamos juntos uma vez só, e já tive que voltar para o Brasil. Até trocamos telefones, mas acabamos perdendo totalmente o contato, nunca mais soube dela. - Ah... coisa do passado, então? - É, passado remoto. Meu presente agora é levar a mulher da minha vida aos lugares mais bonitos dessa cidade que eu adoro. Eles trocam um rápido beijo e continuam o caminho, abraçados. Amélia e Vitor passam os dias seguintes nesses passeios. No terceiro dia, eles estão chegando de volta ao hotel quando são abordados por uma bela moça de longos cabelos castanho-escuros. - Vitor e Amélia Vilar? XV Os dois se viram para a moça: - Sim? - São vocês mesmos? O casal da Rurbana? - Em carne e osso – brinca Vitor.
  • 37. - Eu vi vocês no catálogo... Amélia, suas peças são maravilhosas! Mas até hoje só pude comprar essas pulseiras – a espanhola ergue o braço, mostrando três pulseiras de capim dourado. - Obrigada. Logo nós vamos lançar uma nova coleção – agradece Amélia. A moça olha fixamente para Vitor, e fica por alguns instantes parecendo hipnotizada. Finalmente, diz, ainda paralisada: - Você é ainda mais bonito ao vivo do que nas fotos... Vitor baixa os olhos, constrangido. Amélia o abraça e olha com firmeza para a moça, esforçando-se para não ser hostil: - É, eu também acho. A espanhola se dá conta da gafe: - Ah, desculpa! Não queria causar nenhum constrangimento... é melhor eu ir embora. Adorei conhecer vocês pessoalmente – ela dá um sorriso amarelo e se afasta. Amélia a acompanha com um olhar nada amigável até que a moça suma da vista deles. Ao seu lado, Vitor aperta os lábios para não rir. Eles entram no hotel, e pegam o elevador, apenas os dois. Amélia ainda está com cara de raiva, e Vitor não se contém mais, cai na risada, quase chora de tanto rir. - Qual é a graça? – pergunta Amélia, ainda zangada. - Você está tão bonitinha, assim, com ciúme... – ele brinca, entre risos. - Aquela zinha estava te devorando com os olhos! – ela exclama, impaciente. - E daí? Ela não vai pôr mais do que os olhos em mim... Amélia se desarma: - É verdade, desculpa... sou uma boba, né? - A coitada ficou com medo do seu olhar fuzilante... – comenta Vitor, ainda se divertindo com a situação. Ela retruca com altivez: - Era para ficar mesmo... assim ela aprende a respeitar o meu homem. Ele muda de expressão, fica com a respiração quase suspensa: - Como, Amélia? O que eu sou? Repete pra mim... - O meu homem... só meu. Vitor puxa Amélia para os braços dele quase bruscamente e a beija com ardor. - Assim você me deixa louco... – murmura no ouvido dela, voltando em seguida a beijar-lhe os lábios cada vez com mais intensidade, ao mesmo tempo em que as mãos percorrem o corpo dela como se quisessem tirar-lhe a roupa ali mesmo. Amélia tenta reagir, mas não consegue, o desejo toma conta dela também. Trilha sonora: Fuego en el fuego – Eros Ramazzoti http://www.youtube.com/watch?v=V9zb5G5sidc O elevador para no andar deles, que continuam aos beijos quando a porta abre. Eles saem para o corredor sem se soltar. - Calma, Vitor! – ela sussurra, tentando afastá-lo até chegarem ao quarto. Ofegante, ele a pega nos braços e anda o mais rápido possível para o quarto. Mal tranca a porta e já a coloca no chão, tirando-lhe a blusa com pressa, e descendo com beijos pelo colo, enquanto empurra-a até a cama. Amélia também vai abrindo a camisa de Vitor, que termina de tirá-la sem abrir todos os botões. Eles vão deitando na cama de qualquer jeito, tomados por um desejo
  • 38. mais forte do nunca. E se amam intensamente, com urgência, como se tivessem ficado muito tempo longe do corpo um do outro e não soubessem quando estariam juntos de novo. Quando despertam do sono depois do amor, Vitor contempla Amélia ali ao seu lado e pede: - Diz de novo? - O quê? – ela se faz de desentendida, com um olhar travesso. - Você sabe... - ele retruca – Me chama do que você me chamou antes, vai... Amélia olha para ele como se estivesse pensando se ele merecia ou não, ainda com um jeito travesso. Morde o lábio e enfim, diz: - Meu homem... - Amélia... – ele murmura, trazendo para o mais perto possível de si e a beijando com paixão. Depois, olha nos olhos dela – Sou seu, sim... todo seu. Ela sorri, e ele continua, perguntando com ar de quem já sabe a resposta: - E você, é minha? - Você tem alguma dúvida? - Não... – ele afirma, juntando seus lábios aos dela novamente. Eles se deixam ficar na cama por mais algum tempo, trocando beijos e carícias, de um jeito mais ameno do que no início. Mais tarde, ainda na cama, eles conversam. - Aonde vamos amanhã? Ainda temos mais um dia em Madri, né? – pergunta Amélia. - Estava pensando em te levar no Parque de El Retiro. É o maior parque de Madri. A gente pode alugar um barco e passear pelo lago que tem lá... - Barco? Desde que você não queira conduzi-lo... – ela ri. - Ah, só porque eu deixei cair o remo da gôndola em Veneza? Mas uma coisa dessa não acontece duas vezes... – ele tenta argumentar. - Melhor não arriscar – ela continua rindo. - Está bem, você venceu. Sem barco, então. Se bem que, eu até preferia ter alguém remando por mim, assim eu posso concentrar toda a minha atenção em você! - Devia ter pensado assim em Veneza... – ela provoca. - Tá, eu sei que fui culpado, que deixei a gente à deriva no meio do canal... não precisa ficar me lembrando de disso – Vitor reage, um pouco chateado. - Estou brincando, amor... – Amélia se justifica, mas Vitor continua sério, parecendo incomodado. Então ela começa a dar beijinho pelo rosto dele, até que ele sorri e junta seus lábios aos dela. XVI
  • 39. Depois de passearem boa parte do dia pelo Parque de el Retiro, eles voltam ao hotel para arrumarem as malas, pois partem no final da tarde. Enquanto conferem se nada ficou esquecido no quarto do hotel, Vitor comenta: - Que pena que já estamos indo embora. Se a gente ficasse mais uns dias, podia ver as touradas na Plaza de Las Ventas, que começam amanhã. Amélia olha para ele, surpresa: - Não acredito que você gosta de touradas... não tem pena dos touros? - Amélia, eu sou dono de frigorífico... Se eu tivesse pena de boi, já tinha mudado de ramo, não acha? – ele retruca com calma. - É mesmo... mas é diferente, você não maltrata os bois por esporte. - Entendo. Também não gosto daquelas touradas em que espetam o touro por todo lado, o fazem sangrar... bonito é ver o toureiro manejando a capa vermelha, fazendo quase uma dança com o touro – Vitor explica com o olhar meio distante, de quem está relembrando cenas já vistas. - Acho que eu nunca vou compreender o prazer que algumas pessoas têm com esse tipo de espetáculo, desculpa – devolve Amélia, sem saber mais o que dizer. - Tudo bem, amor... – Vitor a abraça – É a sua forma de pensar, eu respeito. Além do mais, não vamos ver touradas mesmo... Barcelona nos espera. Trilha sonora: Por amarte – Enrique Iglesias http://www.youtube.com/watch?v=Sgs5_4clCpQ&feature=player_embedd ed Eles chegam a Barcelona à noite, e ficam descansando no hotel. No dia seguinte, logo cedo, Vitor leva Amélia para o porto da cidade. - É por aqui que você vai começar a conhecer Barcelona. Vamos subir na torre de Cristovão Colombo, tem um mirante lá em cima – ele explica. Quando alcançam o mirante, Vitor abraça Amélia por trás e diz: - Olha... daqui a gente tem um vista panorâmica do centro da cidade. Bem- vinda a Barcelona, meu amor... - É linda... Eles ficam algum tempo olhando a vista da cidade, abraçados. Depois vão descendo as escadas lentamente, enquanto Vitor avisa: - Saindo daqui, nós vamos subir o monte Montjuic. Lembra da Olimpíada de 92? - Lembro, sim. - O Montjuic foi a sede do Parque Olímpico. Lá também fica o Museu de Miró, você quer conhecer? Amélia para na escada e contém Vitor, passando os braços em torno do pescoço dele: - Quero conhecer tudo que você quiser me mostrar. - Ah, é? Tudo mesmo? – ele devolve com um sorriso malicioso. - Tudo – ela garante, aproximando seus lábios dos dele. Eles trocam um beijo apaixonado ali mesmo, no meio da escada. São interrompidos por um grupo de turistas que tenta subir ao mirante. Amélia e Vitor dão passagem e descem os degraus restantes aos risos, como um casal adolescente flagrado num beijo escondido.
  • 40. No dia seguinte, eles passam algumas horas no Museu Picasso, admirando as obras do grande pintor espanhol, dispostas em ordem cronológicas. Depois almoçam num dos restaurantes do Parc Guell e saem a caminhar pelo parque, que, como fica no alto de uma colina, proporciona uma bela vista da cidade. Vitor avista um banco e convida Amélia para sentarem um pouco. Após se acomodarem no banco, ela olha em volta: - Quem lugar bonito, né? Esses jardins... - É, a gente pode vir pra cá um dia fazer um catálogo da Rurbana. Embora eu ache que se a gente decidir mesmo fazer as fotos em Barcelona, o Parc de la Ciutadella pode ser um cenário ainda melhor. Diante da Fonte da Cascata! Vamos para o Ciutadella amanhã? - Vamos. Fiquei curiosa para conhecer essa fonte... Vitor fica pensativo por alguns instantes, olhando para Amélia: - Sabe o que lembrei agora? Daquele dia em que você e as meninas fotografaram para o primeiro catálogo. Fiquei te olhando de longe... doido para chegar mais perto. - Mas tinha um cão de guarda me vigiando... – ela recorda, com o olhar meio sombrio. - Não ia ter cão de guarda que me impedisse de ao menos te olhar naquele dia. Você estava tão linda! Tão linda... que naquela noite até sonhei que você chegou no meu quarto da estalagem vestida com a mesma roupa do ensaio, a maquiagem, o cabelo... Mas no sonho não era um aplique, eu desfiz o seu penteado e admirei os cabelos caindo por seus ombros, mergulhei no meio deles para beijar sua nuca... - Nossa... – murmura Amélia – Sabe que também sonhei com você naquela noite? No sonho, só havia nós dois, eu posando e você me fotografando. A cada clique você chegava mais perto, até dar um close nos meus lábios... Vitor a corta: - E aí larguei a câmera e te beijei, não foi? - Como você sabe? – ela ri. - Se você estivesse na minha frente, tão perto, eu não ia ficar só te fotografando, com certeza! – ele também ri. Ainda rindo, eles trocam um beijo. Mais tarde, os dois estão andando em direção à saída do parque quando uma moça que vem na direção contrária exclama: - Vitor?! O casal para, e Vitor olha para a moça, intrigado: - Desculpa, eu... - Você não está me reconhecendo? – ela interrompe, achando graça. Ele analisa atentamente o rosto dela, de traços fortes, adornado por cabelos castanhos muito lisos, na altura dos ombros. De repente, fica surpreso: - Penélope? É você? - Estou tão diferente assim? - Muito. Eu lembrava de uma menina com cabelos pela cintura, rosto de boneca... Amélia escuta a tudo com a respiração quase suspensa. - É, meus cabelos estão bem mais curtos – responde Penélope, rindo. - Você está muito bonita – ele devolve com educação. - Obrigada. Já você não mudou tanto, continua com o mesmo rostinho de anjo.
  • 41. - Ah, mudei sim, mais do que parece. Deixa eu te apresentar... – ele segura Amélia pela cintura – essa é Amélia, minha esposa. - Prazer, Penélope – a moça cumprimenta Amélia. - Lembra que te contei que quase namorei uma espanhola? Foi a Penélope. - Ah... – murmura Amélia, discretamente analisando a moça. XVII Vitor continua se explicando: - Você viu, nem a reconheci de cara... - É, percebi – responde Amélia, ainda meio desconfiada, mas tentando ser simpática. Ela se dirige à moça – Você está morando aqui em Barcelona? - Sim, me mudei faz alguns anos. E vocês, passeando? - Estamos viajando pela Europa em lua-de-mel, não é, Vitor? – ela olha para o marido. - Isso mesmo – ele devolve meio sem graça, percebendo que Amélia estava com um pouco de ciúme de Penélope. - Achei que vocês tinham vindo divulgar as peças da Rurbana. Elas fazem o maior sucesso aqui na Espanha, sabiam? Vitor sorri: - Está vendo, Amélia... não disse que a gente ia ganhar a Europa? Não é por ser minha esposa, não, mas você a melhor designer de joias do mundo! - Ai, Vitor, não exagera... – ela retruca meio encabulada. - Se posso dar a minha opinião, acho suas peças lindíssimas, Amélia – comenta Penélope, mostrando o brinco que está usando, da Rurbana – Uso muito esse brinco, sabia? - É mesmo? Obrigada... – Amélia fica ao mesmo tempo feliz pelo elogio e sem graça por ter sido quase hostil com a moça. Vitor fica olhando para a ex-namorada por alguns instantes, ainda surpreso por tê-la encontrado: - Penélope... há quanto tempo, né? - É, Vitor Vilar... faz anos que a gente perdeu o contato, aliás, que você não me ligou mais – ela acusa em tom de brincadeira. - Quando voltei para o Brasil tive que assumir o frigorífico do meu pai, e daí em diante minha vida foi só trabalho... – ele olha para a esposa - até conhecer a Amélia. Enquanto o casal troca um olhar apaixonado, Penélope os observa com admiração. Depois ela convida: - Vamos tomar um café e conversar mais um pouco? Tem um café muito bom aqui pertinho. - Vamos, sim! – Vitor se empolga – Quero saber mais de você, o que tem feito esses anos todos... - Então me acompanhem – Penélope sorri. Amélia segue Vitor, pensativa. Por mais que soubesse que não havia motivo para ciúme, sentia-se incomodada. No café, Vitor e Penélope recordam do curto namoro: - Lembra, Vitor, que nos conhecemos numa tourada? - Claro que eu lembro... vi você toda concentrada olhando os movimentos do toureiro, e não tirei mais os olhos de cima de você, esqueci completamente da arena.
  • 42. - Depois você tentou saber de mim através dos amigos que tinha feito em Madrid, não foi? - Eu quase subornei o Diego para que ele te levasse ao Real Jardim Botanico – Vitor dá uma risada. - Aquele que nós visitamos? – Amélia, sentindo-se deixada de lado, tenta entrar na conversa. - Aquele mesmo. Nós passeamos bastante por lá, sabia, Penélope? Achei o Jardim ainda mais bonito do que eu lembrava. - Imagino. Mas quando passamos uma tarde lá acho que você nem reparou muito nas flores... – a moça ri. - O Jardim eu tinha certeza que veria de novo. Já você... – retruca Vitor, rindo também. - Mas foi tudo como tinha de ser, não acha? Tínhamos que viver aquele momento, apenas aquele – pondera Penélope – É uma lembrança bonita que carrego da minha adolescência. - Eu também. Sempre lembrei com muito carinho de você. Se tivéssemos insistido numa relação à distância, poderíamos ter nos machucado, deixado marcas não tão boas um no outro – ele concorda. - É... espero que você seja muito feliz com a Amélia. Vocês formam um casal muito bonito – afirma a moça. Vitor olha para a esposa enquanto responde: - Eu já sou imensamente feliz, muito mais do que imaginei que pudesse ser. Amélia sorri para ele, lisonjeada. Penélope observa, achando lindo, e comenta: - Nossa, Amélia, não é qualquer homem que faz uma declaração dessas... - É, eu sou uma mulher de sorte – devolve Amélia, sem tirar os olhos de Vitor. - Bom, está na minha hora – avisa a moça – Felicidades pra vocês. Foi bom te ver, Vitor. - Também gostei de te encontrar, Penélope – ele retribui. Trilha sonora: La Unica - Juanes http://www.youtube.com/watch?v=8_sUuOx6MJU Depois que a moça vai embora, Vitor acerta a conta e sai do café com Amélia também. Eles caminham pela rua, abraçados, enquanto Vitor vai falando dos locais por onde passam. Amélia apenas escuta. Ele para e fica de frente para ela. - O que você tem, Amélia? Está tão calada... - Ah, Vitor, eu sei que é bobagem minha, mas... você ficou tão feliz em rever essa sua antiga namorada que eu cheguei a pensar que você tivesse se sentido balançado por ela – Amélia confessa meio constrangida, sem conseguir olhar para ele direito. - Não acredito que você pensou nisso, meu amor... – ele diz com ternura, e levanta o rosto dela – Olha pra mim... É você que eu amo e que vou amar pelo resto da minha vida. - Eu sei, me desculpa. Você me perdoa? - Perdoo, sim... mas quero um beijo. - Aqui, no meio da rua? - Aqui mesmo... vem cá – ele a puxa para seus braços, segura em sua nuca e a beija com paixão, depois desce os braços para a cintura dela, e ergue Amélia
  • 43. do chão, rodopiando com ela, que ri, feliz. Quando a coloca no chão de novo, Vitor a beija novamente e depois diz: - Sabia que a cada dia te amo mais? - É? Eu também – ela responde olhando nos olhos dele. - Então vem, chega de passeio por hoje. Vamos logo pro hotel – ele a puxa pela mão, fazendo Amélia correr com ele pela rua. XVIII Eles chegam ao hotel aos risos, e ofegantes. Ao entrarem no quarto, Amélia tranca a porta, e Vitor fica logo atrás dela. Quando ela se vira, ele coloca as duas mãos espalmadas sobre a porta, não deixando Amélia sair dali: - Você está presa – ele ri. - Ah, meu Deus... e agora, o que você vai fazer comigo? – ela responde, entrando na brincadeira. - Deixa ver... – Vitor chega mais perto, juntando seu corpo ao dela, pressionando-a contra a porta. Depois roça a barba no pescoço dela, fazendo Amélia arrepiar. Chega seus lábios perto dos dela, mas quando Amélia tenta beijá-lo, ele se afasta e sorri de um jeito malicioso – Não... ainda não - Ah... – ela reclama, devolvendo o olhar. Vitor se aproxima de novo dos lábios dela, mas em vez de beijá-la desce para o pescoço, que vai percorrendo com suaves beijos. Desce mais um pouco pelo colo, depois vai subindo pelo outro lado do pescoço, até chegar perto dos lábios. Afasta o rosto outra vez e contempla Amélia, sorrindo ao ver os olhos dela brilhando de desejo. Só então toca os lábios dela com os seus, primeiro de leve, depois ambos se entregam a um beijo intenso. Vitor vai recuando,
  • 44. trazendo Amélia junto, sem parar de beijá-la, até caírem sobre a cama. Sem pressa, vão tirando as roupas um do outro, sem pensar em mais nada além daquela vontade de terem seus corpos cada vez mais juntos. No dia seguinte, Amélia acorda com o barulho de uma leve batida na porta. Quando ela se ergue na cama, Vitor já está indo atender. Ele volta carregando uma bandeja de café da manhã, que coloca diante de Amélia: - Pedi para trazerem para nós – explica. - Humm, estou cheia de fome – ela comenta, analisando a bandeja. - Então vamos aproveitar – ele diz, colocando um pouco de mel num pedacinho de pão e levando até a boca de Amélia. Enquanto saboreiam o café da manhã, Vitor comenta: - Não visitamos ainda a igreja da Sagrada Família, que é a atração turística mais popular de Barcelona. Esta catedral está sendo construída há mais de 100 anos, sabia? - Sério? - Sim, e ela é uma das obras que Gaudi deixou pela cidade. Você vai ver a riqueza de detalhes dela, vai ficar impressionada. - Fiquei curiosa – responde Amélia, servindo-se de mais café com leite. - Combinado, então: primeira parada, Sagrada Família. Depois vamos para o Parc de la Ciutadella, namorar diante da cascata... - Você quer namorar mais? Não vai enjoar de mim desse jeito? – ela brinca. - Enjoar de você? Não, meu amor... sabe que quanto mais eu te beijo, mais eu gosto dos seus lábios? – ele devolve, aproximando seu rosto do dela. - Gosta mesmo? Tanto quanto eu gosto dos seus? – ela rebate, olhando para os lábios dele. - Tanto ou até mais... – ele finaliza, beijando Amélia com paixão. No dia seguinte, quase no final da tarde, eles estão andando pelas Ramblas, famosas avenidas cheias de lojas, bares, restaurantes e cafés, comprando lembranças para os amigos de Girassol, quando Vitor olha a hora no celular e avisa: - Precisamos ir, amor, senão não chegamos a tempo no aeroporto. - As malas já estão prontas, é só passar no hotel e fechar a conta. - Então vamos logo. Ao saírem do hotel, pegam um pequeno engarrafamento no caminho, mas o taxista os tranquiliza, garantindo que chegarão à tempo. Quase em cima da hora, eles correm para fazer o check-in. Quando a atendente olha as passagens, acha estranho: - Mas o voo de vocês acabou de sair. - Como assim? Vamos pegar o voo das 18 horas – contesta Vitor. - Não, o voo era às 17h, olhem aqui – a moça aponta para o campo do horário na passagem. - Não acredito que me enganei no horário – suspira Vitor, levando a mão à testa. - E agora? – questiona Amélia, preocupada. - Vamos comprar outra passagem. Pode me esperar ali com as malas, Amélia – ele aponta para as cadeiras logo adiante – Eu fiz a confusão, eu resolvo – afirma, irritado consigo mesmo.
  • 45. Vitor volta logo depois e senta-se ao lado de Amélia, com cara de quem tem notícias não muito boas. - Só consegui passagem para amanhã cedo – ele revela. - Mas nós já fechamos a conta no hotel... vamos ter que passar a noite aqui no aeroporto? - Que jeito... – ele fica pensativo – Que acha de deixarmos as malas num guarda-volumes e sairmos caminhando pela cidade? - Melhor do que ficar aqui, parados... – ela devolve. - Vamos fazer um belo passeio noturno, você vai ver – ele tenta animá-la. Depois de andarem mais de uma hora pelas ruas do centro, contemplando os prédios iluminados, Amélia se queixa: - Estou cansada, vamos sentar em algum lugar? - Vamos... Nós temos bastante tempo ainda. A gente pode até o Ciutadella, que acha? - À noite? - Sim! Vamos, vou comprar um vinho, a gente escolhe um cantinho aconchegante no parque e fica lá passando o tempo... Trilha sonora: Experiencia Religiosa – Enrique Iglesias http://www.youtube.com/watch?v=3DV57Y4tEAM&feature=player_embedd ed Chegando ao parque, eles sentam na grama, próximos a uma árvore. Intercalam goles de vinho com beijos. Vitor acaricia o rosto de Amélia, já meio quente por causa do vinho. Com cuidado, a faz deitar sobre a grama, e vai percorrendo o rosto dela com suaves beijos, descendo até o pescoço. Depois ele sobe até os lábios novamente, num beijo carinhoso que Amélia corresponde igualmente, enroscando os dedos nos cachos do cabelo dele. Eles se aconchegam num abraço bem apertado, e ficam algum tempo assim, apenas sentindo o calor um do outro. Aos poucos vão roçando os rostos, até os lábios se encontrarem de novo, num beijo demorado, como se o tempo já não existisse mais. Entorpecidos pelo cansaço e pelo vinho, eles acabam adormecendo ali mesmo, abraçados. XIX