1. HORIZONTES Aqui, ruínas de uma
fortificação e as paredes
que cercam a cidade
A história
nas ruínas de Akko
Patrimônio Histórico da Humanidade, os labirintos,
túneis e escavações dessa cidade israelense revelam
o passado de uma fortaleza medieval
Texto SUZANA CAMARGO
N ão é à toa que Israel é alvo de disputa
entre povos, e destino de viajantes apaixonados por religiões e pelo passado. O
país consegue concentrar muitas culturas diferentes e preservar suas histórias
milenares escritas em cada parte das cidades. Tel Aviv e Jerusalém podem ser os
roteiros israelenses mais famosos, mas outros destinos também guardam segre-
dos e preciosidades históricas, como Akko, uma fortaleza de pedras na saída para
o Mediterrâneo.
Dirigindo pelas excelentes estradas de Israel, em pouco mais de uma hora e
meia percorre-se o trajeto entre Tel Aviv e Akko. Logo na chegada, apresentam-se
as muralhas da cidade antiga, todas de pedra, preservadas para que continuem
contando a trajetória dos antepassados. Ao lado de Alexandria e Constantinopla,
Akko era um dos portos mais importantes do Oriente Médio. Quando ainda era
parte do Reino de Israel, 300 a.C., Alexandre o Grande a conquistou e a anexou ao
próprio Império. Depois, Akko passou pelas mãos de muitos outros povos, como
os egípcios, romanos, gregos, árabes e turcos.
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2. HORIZONTES
Pequena, mas estratégica, essa cidade que tem as ondas do Mar Medi-
terrâneo batendo em suas muralhas era usada como entrada marítima da Eu-
ropa para o Oriente. Durante séculos, foram os muçulmanos que dominaram
essa terra. Entretanto, na época das grandes Cruzadas, os cristãos tomaram
o poder. Com a chegada deles, a cidade ganhou um novo nome: Saint-Jean
d’Acre (por isso, até hoje muitos a conhecem como Acre).
Com o objetivo de proteger os fiéis em peregrinação à recém-conquis-
tada Jerusalém, manter os reinos cristãos do Oriente e afastar os muçulma-
nos da Terra Santa, as Cruzadas espalharam seus soldados por aquela região,
entre eles, os legendários Cavaleiros Templários. Sob o Império Latino, assim
Acima, túnel de um quartel templário, aberto à visitação. ficou conhecido aquele período, Akko se tornou um importante quartel gene-
No cento, os jardins de Bahai com podas esculpidas.
ral dos cavaleiros.
Abaixo, mulheres muçulmanas pelas ruas de Akko.
No século XIII, Akko foi atacada pelo exército dos Mamelucos, que a des-
truiu completamente e matou todos os cristãos. Em alguns pontos, estão ex-
Acima as muralhas preservadas de um forte. Abaixo, sala de banho
postas algumas tumbas de cavaleiros, datadas de 1.200. Sobre os escombros turco. Ao lado, o relógio da cidade com grafias em hebraico e árabe
da cidade dos cruzados, os conquistadores ergueram uma nova. O que pode-
mos visitar atualmente são as ruínas restauradas, primorosamente recupe-
radas. Os arqueologistas dizem que, originalmente, o complexo todo era três
vezes maior do que o de hoje. Os túneis subterrâneos estreitos, onde somente
uma pessoa passa por vez, formam um labirinto. Era esse o caminho de fuga
dos cavaleiros.
Depois da tomada pelos Mamelucos, Akko viveu quase 500 anos de os-
tracismo. Foi somente quando os Otomanos conquistaram a cidade que ela
reviveu dias de glória, se tornando capital de um novo império. A presença dos
cristãos, turcos e árabes está em todos os lugares dessa terra, como por exem-
plo, a Mesquita de El-Jazzar, de 1781, com seu domo verde e o predominante
estilo turco-otomano.
Uma caminhada pelo passado
Andar pelas ruas e vielas de Akko é voltar no tempo. As escavações ar-
queológicas trazem para o presente impressionantes templos, salões, túneis
e prisões de épocas remotas. A melhor maneira de conhecer a cidade é se per-
der entre as ruas de pedra e, quase por acaso, fazer inesquecíveis descobertas.
Uma delas deve ser o Hospital dos Cavaleiros de Saint John, que recebia cris-
tãos que chegavam de navio para visitar as cidades sagradas em Israel.
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3. HORIZONTES
Nesse hotel-albergue, os peregrinos descansavam e eram alimentados
antes de prosseguir a jornada. Dentro da cidadela histórica, também podem
ser contemplados os grandiosos Salão dos Cavaleiros e o Refeitório, onde acre-
dita-se que o navegador italiano Marco Polo tenha feito uma refeição em sua
visita há 800 anos. Muitos dos salões preservados são utilizados atualmente
para concertos, festivais e exposições.
Uma dessas antigas construções foi achada recentemente, em 1994,
acidentalmente, quando uma moradora local teve problemas com o enca-
namento da casa. Uma quebra de alvenaria revelou a passagem subterrânea
que liga o porto ao que um dia foi o Palácio dos Cavaleiros Templários. O local
foi restaurado e está aberto ao público.
Al-Basha Hammam é uma das atrações mais belas da cidade antiga.
Trata-se do espaço onde aconteciam os banhos turcos. Mais do que uma casa
A mesquita otomana Al-Jazzar (esquerda), um barco de passeio no porto da de purificação religiosa, o local era um ponto de encontro dos habitantes. A
cidade (acima) e o interior do Castelo dos Cavaleiros Templários (abaixo)
luz que passa através dos vitrais coloridos no domo de Al-Basha Hammam dá
mais vida às reproduções das cenas do cotidiano dos banhos turcos da época
otomana de Akko e que, estiveram em uso até 1940.
A mesquita Al-Jazzar também pede uma visita. De acordo com o texto
Acima, Kebab, hummus, falafel e pão pita: delícias tradicionais
gravado no seu interior, foi construída em 1781, durante o governo otomano da culinária árabe. Abaixo, as famosas especiarias do
do turco Ahmed Al-Jazzar. A construção bem característica da arquitetura oto- Oriente Médio podem ser encontradas no Mercado Turco
mana apresenta suas cúpulas, abóbadas e colunas Ao lado da mesquita há
um mausoléu e um pequeno cemitério onde está a tumba do monarca, seu
sucessor e parentes.
De volta ao presente, tentação irresistível é o Mercado Turco. Porcelanas
coloridas, souvenirs religiosos, tecidos, temperos – muitos temperos – estão
entre os produtos comercializados. Por todo país é possível provar especiarias
do Oriente Médio. No bairro de Souq, sacas de todas as cores e perfumes re-
velam os sabores dos pratos locais. Vendedores ávidos sempre oferecem bar-
ganhas, nem sempre confiáveis, aos turistas. Nos bares de mesa simples com
toalhas e cadeiras de plástico, servem-se os tradicionais falafel, hummus, pão
pita e kebab, feito com carne de carneiro ou frango.
Atualmente, pelas ruas de Akko encontram-se mulheres usando véus
e homens fumando narguile, povo de maioria muçulmana. A cidade vive de
uma atividade industrial de aço, da pesca e do turismo, e segue seus dias ain-
da sonhando em alcançar a paz sem temer novos conflitos.
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4. HORIZONTES
As ruínas de uma das fortificações
que protegia a cidade dos inimigos
que chegavam pelo Mediterrâneo
Serviço:
Onde ficar: Akkotel (akkotel.com) a 50 m do mar, o hotel de pedras tem vista privilegiada da cidade. O restaurante serve comida
mediterrânea e café-da-manhã israelense • Acco Beach Hotel (accobeachhotel.co.il) o hotel com arquitetura característica do Orien-
te Médio fica a 500 metros da Mesquita Al-Jazzar, em praia privativa do Mediterrâneo • Palm Beach Club (palmbeach.co.il) mais
moderno, possui duas piscinas, quadra de tênis e praia particular. Todos os quartos têm vista para o mar.
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